quarta-feira, 30 de julho de 2008

Pesquisadores apontam proximidade inegável de Wagner com Hitler

(Foto)Richard Wagner: panfletos anti-semitas abriram caminho para o nazismo

Tema inesgotável para historiadores, cientistas políticos e musicólogos, a intensidade da ligação entre o compositor Richard Wagner e Adolf Hitler vem sendo esmiuçada há décadas.

Não são poucos os pesquisadores e cientistas na Alemanha e fora dela que dedicam trabalhos às ligações nem sempre claras entre política e cultura, que questionam os conceitos de poder e moral e apontam, dentro da obra do compositor Richard Wagner, preconceitos anti-semitas. "O jovem Hitler sempre esteve bem à frente em toda apresentação de Wagner que havia", diz a historiadora Brigitte Hamann, autora do livro Winifred Wagner e a Bayreuth de Hitler.

Fato é que as composições de Wagner estiveram presentes mais que quaisquer outras nos eventos organizados pelo governo de Hitler, que fazia, à vontade, uso das mesmas para os fins políticos que interessavam à propagação da ideologia nazista. A ópera Os Mestres Cantores de Nurembergue (Die Meistersinger von Nürnberg), por exemplo, foi executada com todas as pompas durante a Segunda Guerra Mundial na Festspielhaus de Bayreuth.

Panfleto incitando o anti-semitismo

(Foto)Hitler no Festival de Bayreuther, em 1938

Em 1850 e posteriormente mais uma vez em 1869, Wagner publicou o panfleto O Judaísmo na Música (Das Judentum in der Musik), no qual desprezava a produção musical de compositores judeus contemporâneos seus, como Felix Mendelssohn-Bartholdy ou Giacomo Meyerbeer, e defendia um combate à influência dos judeus na vida musical.

Tais declarações não eram, no contexto da época, raras. Ou seja, Wagner pertencia ao quadro de conservadores de direita intitulados "nacionalistas alemães" (Deutschnationaler). Dez anos depois da publicação destes panfletos, surgia um texto do historiador Heinrich von Treitschke, que, entre outros, continha os dizeres: "Os judeus são nosso azar". Tal frase desencadeou um enorme debate sobre a questão do anti-semitismo no século 19, tendo sido, décadas mais tarde, usada pelos nazistas em campanhas populares.

Contato estreito com Hitler

(Foto)Saul Friedländer: Wagner como precursor do anti-semitismo, mas não do genocídio

Hoje, boa parte dos especialistas acredita que Wagner defendia posições anti-semitas, tendo incluído em sua obra a idéia de um "germanismo ariano", embora, pessoalmente, nunca tenha demonstrado predileção pela exclusão ou extermínio dos judeus.

"O mestre de Bayreuth abriu, em parte, o caminho para o nazismo", escreveu o historiador Saul Friedländer. Segundo ele, o primeiro panfleto de teor anti-semita escrito por Wagner não pode, no entanto, ser interpretado como uma conclamação ao extermínio violento dos judeus, mas sim como um "apelo" contra a influência judaica na vida cultural da época.

Há de se notar, porém, que a família Wagner manteve, já desde 1923, um estreito contato com Adolf Hitler. "Eles convidavam Hitler para visitá-los e chegaram até a levá-lo ao túmulo de Richard. Mostraram tudo a ele. Assim, foi sendo construída uma relação íntima entre a família e o então futuro ditador nazista. A tradição nacionalista alemã já vinha de Richard. Quando Hitler visitou Bayreuth e os Wagner em 1923, todos entraram para seu partido. Eles se tornaram todos adeptos dos nazistas desde muito cedo", observa a historiadora Hamann.

"Winnie e Wolf"

(Foto)Winifred Wagner e Adolf Hitler a 6 de março de 1934 no Memorial a Wagner em Leipzig

Figura simbólica neste contexto é a de Winifred Wagner, nora de Richard, que, viúva precocemente, assumiu a direção do Festival de Bayreuth em 1930. Em 1923, ela já enviava ao jovem Hitler pelo correio presentes como meias e alimentos, tendo recebido, como agradecimento, um exemplar autografado de Minha Luta.

Eles não mantinham qualquer formalidade na comunicação, tratando-se mutuamente de você (du) e usando coloquialmente os apelidos de Winnie e Wolf. Depois do fim da Segunda Guerra, Winifred foi obrigada a abdicar da direção do Festival de Bayreuth, mas manteria suas reverências a Hitler até a morte, décadas mais tarde, em 1980.

Em 2007, Katharina, bisneta de Wagner, escolheria propositalmente a ópera Os Mestres Cantores de Nurembergue para sua estréia como diretora. "Claro que este local é carregado", afirmou Katharina na época.

Para a historiadora Hamann, "há tanto peso em função dessa herança nazista em Bayreuth, ainda hoje, que Katharina não tem mesmo outra saída exceto viver repetindo que se distancia [das posturas da família no passado]".

Cornelia Rabitz (sv)
Fonte: Deutsche Welle(28.07.2008, Alemanha)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,3512777,00.html

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