quarta-feira, 2 de setembro de 2009

LTI: a Linguagem do Terceiro Reich, de Victor Klemperer (livro)

Chegou por e-mail a divulgação ou indicação de um livro e resolvi repassar aqui pois é um livro pertinente sobre o nazismo(pro entendimento do fenômeno) e da apropriação da linguagem pelos nazistas na difusão do antissemitismo e da ideologia fascista. Pertinente também pois livros de peso traduzidos pro português sobre o nazismo e o Holocausto não são tantos, William Shirer(Ascensão e Queda do III Reich), Joachim Fest(Hitler vol. 1 e 2), Deborah Dwork e Van Pelt(Holocausto, Uma História), entre outros poucos de peso. Há livros como os do Hilberg(o de maior relevância dele, o "The Destruction of the European Jews"), os do Saul Friedlander e do Yehuda Bauer("Anatomy of the Auchwitz Death Camp") que se encontram sem tradução pro português.

LTI: a Linguagem do Terceiro Reich, de Victor Klemperer.

"Victor Klemperer, catedrático de filologia na Universidade de Berlim no início da década de 1930, foi uma testemunha ocular da ascensão, glória e derrota do nazismo. Vivendo na Alemanha, escreveu um diário que cobre todo o período. Depois da guerra, transformou o diário na mais importante análise, até hoje, do discurso nazista: LTI, a Linguagem do Terceiro Reich. Best seller na Alemanha, traduzido no mundo inteiro, o livro acaba de chegar por aqui (Editora Contraponto). É uma obra-prima. Imperdível."

Sinopse do site da Editora: "Conhecemos análises sobre o nazismo. Lemos livros de história. Temos relatos de sobreviventes de campos de concentração. Vemos filmes sobre episódios da Segunda Guerra Mundial. Mas não sabemos como era o cotidiano nas cidades alemãs nessa época: a atmosfera que a sociedade respirava, o teor das conversas entre pessoas comuns, os tipos humanos, as esperanças e medos, os heroísmos anônimos, as pequenas covardias.

O filólogo Victor Klemperer registrou tudo isso. Judeu alemão assimilado, convertido ao protestantismo, sem militância política, assistiu com perplexidade ao que lhe parecia inverossímil: a ascensão da barbárie no coração da Europa. Perdeu a cidadania do país que amava, quando a doutrina racial tornou-se lei. Foi afastado da cátedra, das bibliotecas e do convívio normal com os demais. Teve a casa confiscada. Viu amigos e conhecidos – e até o próprio filho adotivo – aderirem ao regime que o discriminava.

Forçado a usar a estrela de Davi sobre a roupa, como forma de identificação, conheceu todas as humilhações. Escapou dos campos de concentração graças à mulher, Eva Klemperer, uma “ariana” – para usarmos o termo da época – que se recusou a abandoná-lo, acompanhando-o nas Judenhauser [casas de judeus] como fiadora da sua sobrevivência. Durante a guerra, Victor foi enviado como trabalhador manual para as fábricas carentes de mão de obra.

O desespero e a morte rondaram, durante anos, a vida dos dois. A vingança foi escrever um diário. Victor acordava às 3:30h da manhã para registrar tudo, clandestinamente. Eva contrabandeava as observações para a casa de uma amiga fiel. Elas descrevem, vistas de dentro, a ascensão do nazismo, a glória do regime, a adesão das massas, a onipresença de um poder totalitário, as perseguições, a guerra e, finalmente, a derrota. Mostram muitos aspectos desse processo, mas têm um fio condutor, o estudo da linguagem: “O nazismo se embrenhou na carne e no sangue das massas por meio de palavras, expressões ou frases, impostas pela repetição, milhares de vezes, e aceitas mecanicamente. [...] Palavras podem ser como minúsculas doses de arsênico: são engolidas de maneira despercebida e aparentam ser inofensivas; passado um tempo, o efeito do veneno se faz notar.”

O nazismo se consolidou quando dominou a linguagem, eis a tese do livro. O filólogo mostra como as palavras aparecem e desaparecem, mudam de sentido e de ênfase, se encadeiam de diversas formas, emitem mensagens diferentes ao longo do tempo. Vê, estarrecido, que até mesmo as vítimas usam a linguagem do Terceiro Reich. Percebe que o poder se exerce, em larga medida, por meio de mecanismos inconscientes: quem controla as maneiras como nos expressamos também controla as maneiras como pensamos.

Depois da guerra, Victor usou os diários para escrever este livro com um objetivo educacional, pois a linguagem nazista ainda predominava na Alemanha que tentava se afastar desse passado. Mas não é de um passado alemão que estamos falando, é de nós mesmos."

César Benjamin

"O homem que marchava à frente apertava os dedos da mão esquerda bem espalmada no quadril e inclinava o corpo para o mesmo lado, em busca de equilíbrio, apoiando-se nessa mão, enquanto o braço direito golpeava o ar com o bastão e a perna lançava a ponta da bota para o alto, como se tentasse alcançar o bastão. Pairava oblíquo no vazio, como um monumento sem pedestal, misteriosamente mantido ereto por uma convulsão que o esticava dos pés à cabeça. Não era um mero exercício, mas uma dança arcaica e uma marcha militar. O homem era, ao mesmo tempo, faquir e granadeiro. Na época, essa crispação e desarticulação convulsiva podia ser vista em esculturas expressionistas, mas na vida nua e crua, como ela é, no realismo da cidade, seu impacto me atingiu com a força de uma novidade absoluta. [...] Foi a primeira vez que me defrontei com o fanatismo em formato especificamente nacional-socialista. Essa figura muda provocou meu primeiro embate com a linguagem do Terceiro Reich."

Victor Klemperer

5 comentários:

Roberto disse...

Como eu não sei se quem indicou o livro gostaria(ou não) do nome citado no post, a indicação foi feita pelo Júlio Valente. É um livro realmente de peso(importante).

Júlio Valente disse...

Roberto, estou lendo o livro e fiz a indicação. Realmente uma obra-prima! Parabéns pelo post e pelo blog!

Helena Artes disse...

Segui a indicação e estou lendo o livro, estou gostando e de fato é muito interessante. Recomendo a aquisição.
Consegui comprá-lo no site da própria Editora.

Roberto disse...

Júlio, parabéns pela indicação, taí um livro que dá gosto em divulgar, é um 'peso pesado', junto com o relançamento do "Ascensão e Queda do Terceiro Reich"(do Shirer) e os livros do Fest(os que traduziram pro português).

Helena, ainda vou atualizar e aproveitarei pra retirar as fotos das capas dos livros pois deixa a página pesada e dificulta a carregar, mas tem uma lista boa de livros da 2aGM(bibliografia)só que falta pôr alguns sobre a Guerra Civil Espanhola também. A bibliografia foi posta aqui(fica no canto esquerdo do blog os links):
bibliografia

E a do Yad Vashem(que é só relativa ao Holocausto):
Yad Vashem, bibliografia do Holocausto

Se alguém tiver sugestões de outros livros é só deixar um recado nas caixas de comentários do blog ou mandar pro e-mail.

Júlio Valente disse...

Roberto, ótima esta página de bibliografia. Já sei onde ir quando terminar de ler o LTI, que estou gostando mais a cada página. Parabéns novamente. Vou virar frequentador do blog!

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