terça-feira, 28 de junho de 2011

Massacre de judeus em 1941 assinalado na cidade romena de Iasi

Centenas de pessoas assinalaram hoje o massacre de Iasi, uma cidade do leste da Romênia onde 13.000 a 15.000 judeus foram mortos em junho de 1941, pelo regime pró-nazi romeno.

"Estamos junto à sinagoga de Iasi, a mais antiga da Romênia. O obelisco que inauguramos hoje é em memória dos milhares de judeus que foram massacrados aqui no fim do mês de junho de 1941", declarou o presidente da comunidade judaica local, Abraham Ghiltan, segundo a agência France-Press.

O monumento, frisou, "deve lembrar a todos onde é que pode levar o ódio e a intolerância", independentemente da "origem, etnia ou religião".

Assistiram à cerimónia diversos sobreviventes, israelitas descendentes de judeus mortos durante o massacre, dirigentes do Museu do Holocausto de Washington e responsáveis romenos, bem como o embaixador dos Estados Unidos em Bucareste, Mark Gitenstein.

Na segunda-feira, os participantes na homenagem deslocaram-se aos cemitérios próximos de Targu Frumos e de Podu Iloaiei, onde estão enterrados em valas comuns os judeus que morreram nos "comboios da morte" que saíram de Iasi após a ofensiva das forças de segurança romenas.

O diretor do Instituto Elie Wiesel sobre o Holocausto na Roménia, Alexandru Florian, salientou que nas valas comuns estão enterradas "vítimas sem nome", que "durante décadas estiveram sem identidade", porque no país apenas se falava "a meia voz sobre os acontecimentos trágicos de Iasi".

O massacre de Iasi, a segunda maior cidade romena depois da capital Bucareste, foi levado a cabo pelas forças de segurança romenas, com o apoio de populares, após rumores de que os judeus locais apoiavam as forças soviéticas. Entre 1939 e 1944, a Roménia foi aliada do regime nazi.

A perseguição foi lançada na noite de 28 para 29 de junho de 1941, tendo sido inicialmente mortos mais de 8.000 judeus. Outros 5.000 foram presos e embarcados posteriormente em comboios, mas apenas pouco mais de um milhar chegaram ao destino, tendo os restantes sucumbido à fome e à sede dentro das composições sobrelotadas.

Segundo um relatório de uma comissão de historiadores presidida pelo Nobel da Paz Elie Wiesel, entre 280.000 e 380.000 judeus romenos e ucranianos foram mortos durante o holocausto na Romênia e nos territórios então sob o controlo do país.

Fonte: Lusa/SIC Notícias(Portugal)
http://sicnoticias.sapo.pt/mundo/2011/06/28/massacre-de-judeus-em-1941-assinalado-na-cidade-romena-de-iasi-

Ver mais:
Romênia enterra judeus encontrados em vala comum do Holocausto
Holocausto na Romênia
Holocausto por Robert Jan Van Pelt e Deborah Dwork - Parte 1 - Preparativos

terça-feira, 21 de junho de 2011

Misterioso álbum com fotografias inéditas de Hitler é encontrado em Nova York

Um misterioso álbum que contém dezenas de fotografias inéditas da Segunda Guerra Mundial, nas quais aparecem desde Adolf Hitler a prisioneiros de um campo de concentração na Bielorrúsia, foi descoberto em Nova York.
O jornal "The New York Times" teve acesso ao livro fotográfico, do qual se desconhece tanto o autor das imagens como seu proprietário - sabe-se apenas que este último é um "homem da indústria da moda que trabalha em Manhattan" e que preferiu ficar no anonimato, segundo matéria publicada nesta terça-feira pelo jornal nova-iorquino.

As fotos em preto e branco não apresentam nenhuma referência de quando ou onde foram tiradas, o que levou o jornal a pedir a seus leitores que ajudem a resolver o mistério de quem estava por trás da câmera.

A particularidade deste álbum não é apenas o fato de ter permanecido em segredo durante vários anos, mas por reunir tanto soldados nazistas como as vítimas do extermínio em massa, todas elas registradas de perto, o que demonstra que o fotógrafo tinha acesso tanto às tropas de Hitler como aos campos de concentração.

Em uma das páginas do álbum pode ser visto um prisioneiro do que parece ser um campo em Minsk (Bielorrúsia) por volta de 1941, muito magro e coberto por uma manta enegrecida, ao lado de outra imagem na qual aparece um grupo de prisioneiros com a Estrela de Davi pintada sobre a roupa.

Adolf Hitler aparece em quatro páginas do livro, rodeado de militares, esperando em uma estação de trem a chegada do então regente da Hungria, Miklós Horthy, segundo as averiguações do "The New York Times".

O autor das imagens também documentou o trajeto pelo Leste Europeu de um ônibus do Partido Nazista, um grupo de enfermeiras saudando Hitler em uma estação de trem, uma família com seis filhos imersa na pobreza e as ruínas de uma cidade destruída após bombardeios.

"Este álbum se diferença da maioria dos demais pela qualidade de suas fotografias", disse ao jornal a diretora da coleção de fotografia do Museu do Holocausto dos Estados Unidos, Judith Cohen.

A especialista garantiu também que o autor das imagens "era claramente um profissional e sabia o que fazia", por isso "provavelmente" integrava o comitê de propaganda do Partido Nazista.

"Eu sabia que tinha um pedaço de História", reconheceu o proprietário do álbum, que agora quer vendê-lo para sair de uma situação econômica desfavorável.

"Estava muito preocupado que caísse nas mãos erradas. Mas agora minha necessidade é grande demais", disse o misterioso proprietário ao jornal.

Fonte: EFE
http://noticias.terra.com.br/noticias/0,,OI5198524-EI188,00-Misterioso+album+com+fotografias+ineditas+de+Hitler+e+encontrado+em+Nova+York.html

domingo, 19 de junho de 2011

O NSDAP no México: história e percepções, 1931-1940 - parte 2

A tarefa mais importante dos grupos regionais da AO era a Gleichschaltung (unificação forçada) dos alemães no exterior[15], quer dizer, assumir a direção das organizações da comunidade alemã que tinham reputação e dinheiro, e que podiam servir para propagar as ideias nacional-socialistas. Através do controle de escolas, jornais e asssociações, a AO tentava impedir a assimilação dos alemães à cultura dos países que os recebia e instrumentalizá-los para a difusão da ideologia nacional-socialista. No México, a AO não conseguiu seu objetivo sem problemas, pois surgiu um conflito de gerações, de classes e de poder. Os representantes estabelecidos da comunidade alemã, empresários exitosos, de classe alta, mais ou menos duas décadas mais velhos que os nazis, criticavam a juventude dos militantes, seu baixo status social e os poucos anos de residência no país, tudo com o qual, nos seus modos de ver, descalificava-lhes de assumir a liderança da comunidade. Ainda que acertados, estes argumentos eram mais um bom pretexto para não se subordinar às reivindicações do partido e não ceder seus postos em organizações que davam a essa elite um alto prestígio social e vantagens econômicas.

Assim, uma primeira tentativa do Gleichschaltung em 1933 fracassou. O partido pretendia tomar a Verband Deutscher Reichsangehdriger (Associação de Cidadãos do Reich) como base institucional para transformá-la numa organização que integraria toda a comunidade alemã, ou seja, também os mexicanos de origem alemã. Só a intervenção do representante diplomático, o ministro Rüdt v. Collenberg, ajudou o Landesgruppe a ter sucesso em seu objetivo. Rüdt esclareceu que um estreito vínculo com a pátria significava também a cooperação da AO. Com essa frase RÜdt deixou al descubierto un ponto central da ideologia nacional-socialista: ser alemão somente era possível como nazi. Apresentando a AO como representante oficial do Reich, o ministro implicitamente advertiu contra as consequências de insubordinação ao partido: a privação dos recursos do Reich para as associações, a interrupção da intervenção da Representação nos contatos com oficiais mexicanos, o boicote econômico e o isolamento social. Em janeiro de 1935, finalmente, fundou-se a Comunidade do Povo Alemão no México (Deutsche Volksgemeinschaft, DVM). Sob o controle de Wilhelm Wirtz e Artur Dietrich, que assumiram funções centrais, a DVM se converteu na maior organização alemã do México, com filiais em todo o país. A alusão de RÜdt venceu a resistência da comunidade alemã, de modo que muitos, e também alguns dos velhos adversários, uniram-se à DVM. Outros, sobretudo a direção anterior, abandonaram a DVM, protestando assim contra aa subversión nazista. Em 1936, a DVM já tinha 1665 membros, 798 dos quais viviam no interior. A alta porcentagem de membros no interior explica a fundação de filiais em povos onde até então não existiam associações alemãs: por exemplo em Chihuahua, onde 26 dos 30 alemães se tornaram membros. A esfera de ação mais importante da DVM, contudo, fez-se sentir na capital, onde, por exemplo, operava um serviço para alemães sem empleo ou necessitados, e se impartían cursos de alemão para mexicanos. Sua sede social era o lugar central para as festividades da comunidade alemã[16].

Além da DVM, outras associações estavam sob o controle do partido nazi. O respeitado Colégio Alemão na capital foi dirigido por um membro a partir de 1933. Friedrich W. Schróter descartou a orientação elitista predominante até esse momento e abriu a escola a crianças alemãs de todas as classes sociais. Com ele, propagaram-se ideias nacional-socialistas na enseñanza, e os judeus tiveram que abandonar a escola. Schróter teve muito êxito com esse programa dentro da comunidade alemã: o número de alunos duplicou entre 1936 e 1940, de 620 a 1259[17].

Outras instituições sob o controle do partido, ou com orientação nazista, eram a Juventude Hitlerista, com 245 membros, e a Associação de Professores Alemães Nacional-socialistas, que reuniam a 20 pessoas[18]. Estas cifras mostram que para uma valorização da AO no México não basta contar o número de militantes. Somando só os membros das associações aqui mencionadas, contam-se muito mais de 2000 pessoas. Ainda que nem todos seus membros tenham sido nazis empedernidos e alguns talvez tenham ingressado por oportunismo ou pela pressão da adaptação, isso indica que uma parte considerável da comunidade alemã no México, sobretudo na capital, foi exposta à propaganda e aos rituais do nacional-socialismo.

Um simples membro do NSDAP no México se movia no reduzido microcosmos da comunidade alemã, e seu contato com o povo mexicano se limitava ao imprescindível; as relações com os representantes do governo se reservavam para a Representação Alemã. A propagação de ideias nacional-socialistas no México, frequentemente, era tarefa de Artur Dietrich. Este, por exemplo, transmitiu material sobre judeus e sobre o comunismo à Ação Revolucionária Mexicanista, aos fascistas mexicanos, e convidou seu líder, Nicolás Rodríguez Carrasco, a intensificar a propaganda anticomunista e antissemita. Esta era a única ajda de que dispunha a ARM. Dietrich também aconselhou Rodríguez Carrasco a nomear um representante pessoal ante o Reich. Contudo, o governo alemão não prestou atenção ao representante durante uma visita que este efetuou à Alemanha, porque temia problemas com o governo mexicano, que nesse momento já havia proscrito a ARM.

Dietrich cultivou o contato com os fascistas sem intenção de lhes ajudar nem a organização do partido e nem a tomada do poder. Mas Más bien, a ARM era uma de tantos possíveis multiplicadores nacional-socialistas. Também jornais, como a 'La Prensa', receberam propaganda alemã. Dietrich inclusive fundou um diário - La Noticia -, no qual, contudo, só foi publicado por pouco tempo[19].

Uma olhada em outros países confirmará esta interpretação das relações entre nacional-socialistas alemães e fascistas. Somente no sul do Brasil existiram contatos cotidianos entre simples partidários do NSDAP e os fascistas brasileiros, a Ação Integralista Brasileira, devido ao fato de que ali descendentes de alemães, impressionados por Hitler haviam fundado as primeiras células fascistas, ou fascistas e nacional-socialistas, pertenciam aos mesmos grupos e tinham os mesmos inimigos: a elite política e econômica. Normalmente, contudo, os membros do partido solían ser de um nível alto ou médio, ou a quem, além de seu cargo dentro do partido, desempenharam uma função para o Ministério de Propaganda de Goebbels ou tuveram contato com os fascistas latinoamericanos[20]. Assim, seu interesse nos fascistas não era decisiva para a qualidade do membro da AO, senão a função local que desempenhavam para Goebbels.

Tampouco em outros países os representantes da AO/Goebbels apoiaram revoluções ou golpes de estado dos fascistas vernáculos. Ao contrário, empenhados em impedir a assimilação dos alemães, a AO contrastou com a política nacionalista dos fascistas que, por sua parte, queriam integrar os alemães na nação[21]. Por exemplo, quando o líder do Movimento Nacional-Socialista do Chile descobriu que membros de origem alemã rechaçavam a mistura de raças e exigiam aos alemães conservar seu sangue puro, expulsou-lhes do partido e publicamente criticou esta atitude que - segundo disse - desintegrava o país[22]. No Brasil, o fato de que muitos alemães pertenciam à Ação Integralista Brasileira não impediu de seus líderes atacar a resistência dos alemães em se assimilar[23]. Para a AO, frequentemente, um contato demasiado estreito com estes grupos, que no geral lutavam contra seus respectivos governos, podia pôr em perigo sua existência, fato que era muito presente aos líderes da AO na Alemanha[24].

Fonte: El NSDAP en México: historia y percepciones, 1931-1940
Autor: Jürgen Müller; Universitdt Kóln
Tradução: Roberto Lucena

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Observação: a princípio, o texto seria dividido em apenas duas partes, mas sendo muito extenso(poucas pessoas leem textos muito grandes) poderá ficar em quatro partes, podendo(ou não)futuramente ser fundido em apenas duas(como dito de início).

sexta-feira, 17 de junho de 2011

O NSDAP no México: história e percepções, 1931-1940 - parte 1

O presente artigo se propõe a oferecer, baseando-se em documentação diplomática alemã inédita, uma análise histórica da função que cumpriu o Partido Nacional-Socialista alemão (NSDAP) no México, através de sua Organização para o Extrangeiro (AO), de 1934 até 1941. Abordaram-se algumas questões pouco estudadas, tais como em que medida o NSDAP teve êxito em conquistar ideologicamente as instituições culturais e sociais da comunidade alemã no México e a alinhá-las com o regime nazi do Terceiro Reich, e qual foi seu verdadeiro peso político em termos de afiliados e influência em todo o país. O trabalho também se propõe a indagar a verdadeira dimensão do perigo nazi no México e a estratégia do NSDAP no marco das conflitivas relações diplomáticas do México com a Alemanha nazi durante a presidência de Lázaro Cárdenas, do momento que eclodiu a Guerra Civil espanhola. O autor examina as medidas anti-nazis adotadas pelo governo mexicano antes do estouro da guerra mundial em relação a outros países latinoamericanos, e a atitude da Representação da Alemanha no México. Finalmente, apresenta-se uma descrição da atividade do NSDAP durante os primeiros anos da guerra e a reação do governo de Cárdenas, tomando em conta suas difíceis relações com os Estados Unidos até seu ingresso na conflagração mundial.

O partido

Em 1931 se fundou, sob o nome de Auslandsabteilung (Departamento para o Exterior), um departamento no Partido Alemão Nacional-Socialista (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei, NSDAP) que reunia e gerenciava os membros do partido, cidadãos alemães em geral, que viviam fora da Alemanha. Até março de 1933 foi dirigido pelo deputado do Reichstag Hans Nieland, e depois por Ernst Wilhelm Bohle, nascido na Inglaterra e filho de um professor de universidade. A partir de fevereiro de 1934, o Auslandsabteilung passa a se chamar Auslandsorganisation (A0/Organização para o Extranjero). Em abril de 1935, a AO deixou de ser um departamento do NSDAP e se converteu em uma Gau (comarca) independente. Bohle ascendeu à posição de Gauleiter (chefe da comarca). No começo de 1937, Bohle deu outro passo adiante em sua carreira quando Hitler lhe nomeou Chefe da AO no Ministério de Assuntos Exteriores, com o status de StaatssekretÜr[1]. Tanto na hierarquia do partido como na do Estado, Bohle chegou a ocupar um segundo lugar[2].

Até 1930, só uns poucos alemães que se falavam no exterior entraram no partido nazi: 486 em todo o mundo, sete deles no México[3]. Os primeiros grupos foram fundados no início de 1931. O sucesso do NSDAP nas eleições de setembro de 1930 animou a muitos cidadãos alemães em todo mundo a se reunirem com simpatizantes e trabalhar para o partido[4]. No México, por falta de um líder apropiado - segundo lamentava a AO -, ninguém tomou a iniciativa e por isso se demorou na fundação de um grupo do partido[5]. Os membros do partido viviam isolados e sem contato entre si. A pedido da AO, os sete membros na capital fundaram o Ortsgruppe (grupo local) do México, D.F. em 10 de novembro de 1931, mas só uns meses mais tarde, com a nomeação do hábio e vivaz Wilhelm Wirtz como Ortsgruppenleiter (líder do grupo local), começou-se a desenvolver o partido no México. Em 1 de setembro, o Ortsgruppe contava com 52 membros, e em janeiro de 1933 já eram 68. A ascensão ao poder do partido Nacional-Socialista na Alemanha acelerou seu crescimento. Não obstante, diferentemente da Alemanha, onde a partir de maio de 1933 se impediu o ingresso de novos membros ao NSDAP, no exterior era quase sempre possível se tornar membro. Em janeiro de 1934 havia no México 191 membros, e em julho de 1935 eram 264. Nos anos seguintes o partido cresceu mais devagar; em junho de 1937 o número de membros ascendeu a 310, um ano mais tarde a 325, e no ano seguinte somavam 366[6]. Isso significava que aproximadamente 5% dos 6875 cidadãos alemães no México[7] pertencia ao NSDAP - um resultado promédio na AO.

O partido já não estava limitado à capital, e se extendeu por todo o país. Fundaram-se novos grupos, por exemplo em Mazatlán (20 membros), Veracruz (16), Monterrey (16) e Puebla (5)8, mas uma alta porcentagem dos membros, cerca de 40%, vivia na capital. Por seus méritos ao haver promovido o grupo local da capital, Wilhelm Wirtz se converteu em líder do Landesgruppe (grupo regional) do NSDAP do México e ocupou esta posição até início de 1940. Estando na Alemanha, o começo da guerra tornou impossível seu regresso ao México. Wirtz foi um dos poucos líderes da AO que permaneceu em seu cargo sem ser deposto. Nisto, o grupo regional do México mostrou uma rara estabilidade na história da AO, já que, em muitos casos, os grupos no exterior não cumpriam os requisitos da AO. Enquanto que outros líderes não tinham autoridade sobre os militantes, ou simplesmente não eram capazes de dirigir uma organização nacional, Wirtz conseguiu a unidade do partido e impediu querelas internas[9].

Dado o número de membros, o Landesgruppe do México era um dos menores grupos regionais da AO. Por exemplo, em 1939 tinha 1569 membros na Argentina, 2990 no Brasil - sendo ambos dois dos maiores grupos da AO - e 921 no Chile. Por isso, o grupo no México não tinha a mesma importância para a AO que tinham outros grupos: enquanto que em 1932 um enviado da AO visitou os grupos na Argentina, Brasil e Chile para inspecioná-los e apoiá-los em sua propaganda, ninguém foi ao México[10]. Do mesmo modo, nos primeiros meses de 1933, quando a AO intensificou o contato com os grupos na América Latina, os partidários no México se sentiram abandonados[11]. Finalmente, quando políticos e periódicos atacaram os grandes grupos nazis na América Latina, a AO defendeu com afindo os direitos dos alemães no exterior, até provocar atritos diplomáticos inclusive no México, e por conta disso, cedeu ante as pressões[12].

Os fundadores dos partidos nazis no exterior eram, em geral, homens nascidos em fins de século ou poucos anos depois. Experimentaram sua socialização política nos últimos anos da época do Kaiser e, quando lhes foi possível, participaram da Primeira Guerra Mundial. Rechaçaram a República de Weimar e, em mais de uma ocasião, uniram-se a tropas irregulares (Freikorps) e/ou entraram em grupos ou partidos de extrema-direita. Emigraram nos anos vinte por motivos econômicos, porque não conseguiram se integrar na vida civil da Alemanha e consolidar sua existência ali. O país de destino dependia mais da casualidade que de projetos concretos. Poucos emigrantes conseguiram se estabelecer rapidamente. Costumavam mudar muitas vezes de trabalho, para finalmente encontrar, depois de vários anos, um posto que lhes permitisse viver sem problemas de subsistência[13]. Um exemplo deste tipo de pessoas é Artur Dietrich[14]. Nascido em 1900, por sua juventude não pode combater na guerra até finais de 1917. Em 1921 esteve numa tropa irregular na Silésia. Seu diploma em agricultura, obtido em 1922, possibilitou-lhe aceitar uma oferta para ir ao México em 1924. Depois de uma série de falidos intentos na administração fazendária, em 1930 começou a trabalhar como empregado de um comerciante de artigos dentais, emprego que desempenhou nos anos seguintes. Dietrich ingressou no partido em novembro de 1931, quando se fundou o grupo local na capital. Em 1933 foi nomeado líder do Ortsgruppe e, pouco mais tarde, aceitou substituir a Wirtz e - para o Ministério de Propaganda de Goebbels, que também tinha sob seu encargo a propaganda no exterior - foi conselheiro de imprensa da Representação da Alemanha no México.

Fonte: El NSDAP en México: historia y percepciones, 1931-1940
Autor: Jürgen Müller; Universitdt Kóln
Tradução: Roberto Lucena

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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Americanos esterilizados em programa de eugenia lutam por indenização do Estado

Mais de 60 mil americanos foram esterilizados, muitos contra a vontade, como parte de um programa que terminou em 1979

Em 1968, nos Estados Unidos, foi violentada por um vizinho que ameaçou matá-la se ela relatasse o que havia acontecido a alguém. Criada em ambiente cercado de abusos, filha de pais violentos, na empobrecida cidadezinha de Winfall, na Carolina do Norte, a adolescente tinha 13 anos.

A americana Elaine Riddick, que foi submetida
a uma esterilização forçada aos 13 anos
Nove meses mais tarde, quando estava no hospital, dando à luz uma criança - fruto do crime de que tinha sido vítima - Riddick foi violentada pela segunda vez, agora pelo Estado - ela diz. Uma assistente social que a tinha declarado "mentalmente fraca" pediu ao Eugenics Board - órgão americano encarregado de implementar no país as ideologias da Eugenia - que esterilizasse a adolescente.

Hoje tida como uma falsa ciência, a Eugenia foi um dos pilares do Nazismo na Alemanha e chegou a ser considerada um ramo respeitável das Ciências Sociais. O termo quer dizer "bom nascimento" e foi criado em 1883 pelo britânico Francis Galton. A ideologia propunha o estudo de agentes capazes de melhorar ou suavizar as características raciais de gerações futuras, física ou mentalmente.

Mais de 60 mil americanos foram esterilizados, muitos contra a vontade, como parte de um programa que terminou em 1979. Seu objetivo, na prática, era impedir que pobres e deficientes mentais procriassem. Décadas mais tarde, um Estado americano - a Carolina do Norte - está considerando indenizar as vítimas.

Coerção

As autoridades da Carolina do Norte forçaram a avó de Riddick a escrever um "x" no formulário de autorização. Após fazer o parto do bebê por cesariana, os médicos esterilizaram Riddick. "Mataram meus filhos", diz. "Mataram os meus antes de chegarem", diz Riddick, que sofreu décadas de depressão e outras doenças, e hoje tem 57 anos.

Quase 40 anos após a última pessoa ter sido esterilizada como parte do programa de Eugenia da Carolina do Norte, o Estado criou um grupo de trabalho para tentar localizar as 2,9 mil vítimas que, estima-se, ainda estariam vivas.

O grupo espera reunir as histórias pessoais das vítimas e recomendar ao Estado que lhes ofereça alguma forma de indenização. Entretanto, com as finanças públicas sob pressão, não está claro se o Legislativo vai concordar.

"Sei que não posso corrigir (a injustiça) mas ao menos posso reconhecê-la", disse o deputado estadual Larry Womble. Ele espera "contar ao mundo que coisa horrenda o governo fez com jovens meninos e meninas". O movimento de esterilização nos Estados Unidos foi parte de um amplo esforço para "limpar" a população do país de características considerados indesejadas.

Entre as políticas adotadas estavam evitar a mistura de raças e o estabelecimento de cotas de imigração rigorosas para europeus do leste, judeus e italianos. Um total de 32 Estados americanos aprovaram leis permitindo que as autoridades esterilizassem pessoas consideradas não aptas a procriar, começando com a Indiana, em 1907.

O último programa terminou em 1979. As vítimas foram criminosos e jovens delinquentes, homossexuais, mulheres de tendências sexuais tidas como "anormais", pobres recebendo ajuda do Estado, epiléticos ou pessoas com problemas mentais. Em alguns Estados, as grandes vítimas do programa foram populações de origem africana e hispânica.

Puritanismo

Segundo historiadores, as esterilizações, aparentemente feitas com o "consentimento" de vítimas e familiares, aconteciam, na prática, à base de coerção. Camponeses analfabetos recebiam formulários para assinar, detentos eram advertidos de que não seriam libertados com seus corpos intactos, pais pobres eram ameaçados de perder assistência pública se não aprovassem a esterilização de filhas "depravadas".

Entre alguns dos pedidos de esterilização recebidos pelo Eugenics Board em outubro de 1950 estavam: uma jovem de 18 anos, separada do marido, que tinha "comportamento antissocial"; uma vítima de estupro, negra, com 25 anos, que apresentava "tendências sexuais anormais"; uma menina de 16 anos que tinha sido enviada para uma instituição do Estado por "delinquência sexual" e cuja tia havia dado "assinatura de consentimento"; uma mulher branca, casada, com três filhos, cuja família havia dependido do Estado por muitos anos e tinha um "histórico de casamentos com índios e negros".

Segundo o historiador e especialista em leis Paul Lombardo, da Georgia State University, a motivação por trás das medidas era a indignação com a ideia de que pessoas que haviam desrespeitado códigos de conduta sexual acabariam precisando de assistência pública.

"Nesse país, sempre fomos muito sensíveis a noções de histórias públicas de sexualidade inapropriada", disse. "É nossa formação puritana entrando em conflito com nosso senso de individualismo."

Os programas de esterilização também se baseavam em critérios raciais. Segundo Lombardo, o discurso era: "Quanto menos bebês negros tivermos, melhor. Vão todos acabar dependendo de ajuda do Estado."

Carolina do Norte

Embora os especialistas calculem que milhares em vários Estados americanos tenham sido esterilizados como parte do programa no século 20, a Carolina do Norte se destacou por sua eficiência em implementar as medidas.

A maioria dos Estados promoveu esterilizações de detentos e pacientes em prisões e outras instituições. Na Carolina do Norte, no entanto, assistentes sociais atuando na comunidade podiam fazer petições ao Estado para que indivíduos fossem incluídos no programa.

As autoridades de saúde calculam que dos 1.110 homens e 6.418 mulheres esterilizados na Carolina do Norte entre 1929 e 1974, cerca de 2,9 mil estejam vivos. Hoje, vários Estados examinaram seu passado e fizeram pedidos oficiais de desculpas. No caso da Carolina do Norte, isso ocorreu em 2003.

Mas alguns no Estado querem que o processo vá mais além. O deputado estadual Larry Womble continua a fazer campanha por indenização monetária para as vítimas. Com a crise nas finanças públicas, no entanto, há poucas chances de que legisladores aprovem um pedido de US$ 58 milhões em indenizações - US$ 20 mil para cada vítima.

Uma das pessoas envolvidas na campanha é Charmaine Cooper, diretora-executiva do grupo de trabalho Justice for Sterilization Victims Task Force, criado pelo Estado. "Minha esperança é de que o Estado reconheça que nunca haverá um bom momento para indenizações".

Entre as vítimas que deverão prestar depoimento está Riddick, que hoje vive em Atlanta. Para ela, a perspectiva de uma indenização de US$ 20 mil é um insulto. "Deus disse, sejam fecundos, multipliquem-se. Eles não pecaram apenas contra mim, pecaram contra Deus."

Fonte: BBC Brasil
http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/bbc/americanos+esterilizados+em+programa+de+eugenia+lutam+por+indenizacao+do+estado/n1597029810792.html

terça-feira, 14 de junho de 2011

Gerald Fredrick Töben - Biografia - "revisionistas" 06


Gerald Fredrick Töben

O Dr. Fredrick Töben é um proeminente revisionista australiano, fundador e Diretor do Adelaide Institute, e autor de pelo menos oito livros sobre educação, ciência política e história.

Ele completou doutorado em filosofia na Universidade de Stuttgart em 1977. Em seguida, ministrou aulas em várias escolas secundaristas e faculdades da Nova Zelândia, Alemanha, Nigéria e Rodésia. Em 1984 ele esteve envolvido em uma caso 10 anos de litigância com o Victorian Department of Education e ganhou. Depois disso, em 1994 ele estabeleceu a gestão privada do Adelaide Institute.

Considerado por muitos como um negador do Holocausto, Töben regularmente nega a afirmação, embora tenha indicado em várias ocasiões que ele considera o Holocausto uma “mentira”, perpetuando ostensivamente “os gangsters do Holocausto, vendedores de cadáveres do Shoah Business Merchants”, ele também afirmou que “o atual governo dos EUA é influenciado pelo mundo Sionista para manter a sobrevivência das colônias européias, apartheid, Sionismo e o Estado racista de Israel”. Enquanto da mesma ele nega ser um anti-semita ou um supremacista branco, tem como umas de suas organizações favoritas o StormFront e o seu Adelaide Institute tem uma predileção incomum constante com suásticas, muitas vezes em várias páginas de seu site.

Em 1999, ele ficou preso por 9 meses em Mannheim pela violação da Lei do Holocausto na Alemanha, Seção 130, que proíbe qualquer pessoa de “difamar os mortos”. Töben ainda de recusa a admitir que o Holocausto como afirmado pela maioria dos historiadores nunca ocorreu, e afirmando que os assassinatos em massa ocorrem em uma escala muito menor. Em 2002, um juiz da Corte Federal da Austrália encontrou no website de Töben [uma página] “vilipendiando o povo Judeu”, e ordenou a Töben que removesse o material ofensivo de seu site. O tribunal não cumpriu a uma ordem dada anteriormente por um comissário de Direitos Humanos e Comissão de Oportunidades e Igualdades para “emitir um pedido de desculpas escrito pelo presidente do Conselho Executivo dos Judeus Australianos”.

Enquanto Töben e seus associados do Adelaide Institute, ocasionalmente negando “serem negadores do Holocausto”, em entrevistas realizadas pela mídia australiana, em 2005 em entrevista à televisão estatal Iraniana, indicou que era sua crença que “Israel foi fundado sob a mentira do Holocausto”.

Fonte: The Coordination Forum for Countering Antisemitism

Link: http://www.antisemitism.org.il/eng/Gerald%20Fredrick%20T%C3%B6ben

Tradução: Leo Gott

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Extrema-direita é mais forte no Leste mas é um problema nacional

Partido extremista NPD presente no Parlamento de dois estados-federados da ex-RDA
Extrema-direita é mais forte no Leste mas é um problema nacional
13.06.2011 Por Maria João Guimarães

É voz corrente dizer que o problema da extrema-direita na Alemanha é mais forte na antiga República Democrática Alemã (RDA). Jamel, a pequena aldeia dominada pelos neonazis onde vivem Birgit e Horst Lohmeyer, parece ser a confirmação disso mesmo: fica no estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, um dos dois estados federados onde o Partido Nacional Democrático (NDP) tem representação no parlamento local. O outro é a Saxônia, onde o NPD fez a sua estreia num parlamento de um Land em 2004. O partido nunca conseguiu, no entanto, chegar perto da marca dos cinco por cento, necessário para obter representação parlamentar a nível federal.

A explicação da maior presença da extrema-direita na Alemanha de Leste parece estar em vários factores: primeiro, no modo como a RDA lidava com o seu passado nazi, apresentando o fenómeno como ligado à parte ocidental do país e negando a sua participação no regime de Hitler; segundo, pelas maiores dificuldades econômicas e desemprego na antiga parte comunista; e por último, ironicamente, por haver menos estrangeiros e judeus no lado oriental do país, o que faz com que haja mais xenofobia e antissemitismo.

No entanto, para os Lohmeyer, enquadrar a questão assim é redutor. "A extrema-direita é um problema da Alemanha - de toda a Alemanha", dizem. Pode ser pior no Leste, mas o que é preciso é uma forte ação nacional, defendem. Por exemplo? "Proibir o Partido Nacional Democrático."

Os políticos do NPD têm tentado distanciar-se da glorificação do Terceiro Reich e focar-se em questões como imigração ou desemprego; uma tentativa anterior de proibir o partido esbarrou com o fato de que muitas declarações de responsáveis que seriam usadas no processo serem de membros do partido que eram, na verdade, agentes da polícia infiltrados.

Não é fácil fazer um retrato da extrema-direita na Alemanha. Há várias organizações que discordam umas das outras, há muitas diferenças ideológicas. Por exemplo, em relação aos estrangeiros: "Há correntes que não toleram estrangeiros, há correntes que dizem que os estrangeiros são bem-vindos desde que venham como turistas... e depois se vão embora", conta Birgit Lohmeyer. Há os que negam certos acontecimentos históricos como o Holocausto e os que os elogiam. Há os que defendem participar no sistema democrático e os que defendem a sua destruição.

A agência de segurança interna da Alemanha avisou recentemente para o crescimento de membros dos Nacionalistas Autônomos, um grupo que recusa a participação em eleições e que é conhecido pela violência. Este grupo terá cerca de 5600 membros, segundo o presidente do Gabinete Federal para a Protecção da Constituição Heinz Fromm (mais 600 do que no ano anterior).

Por outro lado, os números mais recentes do NPD baixaram: o partido contava com 6600 membros no final do ano passado (menos 300 do que em 2009), e a extrema-direita, no seu conjunto, contava com 25 mil pessoas, tendo as organizações desta tendência perdido 1600 membros no último ano.

Fonte: Público (Portugal)
http://www.publico.pt/Mundo/extremadireita-e-mais-forte-no-leste-mas-e-um-problema-nacional_1498555

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Morre Jorge Semprún - O preso 44.904 de Buchenwald

A cultura e a política se despidem de Jorge Semprún elogiando sua lucidez e compromiso.

O grande memorialista do século XX necessitou de duas décadas de amnésia deliberada para escriver suas recordações.


Ao centro, Jorge Semprún.
Todo o espectro político louvou seu compromisso intelectual e sua lucidez para denunciar os totalitarismos e a barbárie do século XX que sentiu na própria carne e que deu início a uma das grandes obras memorialísticas contemporâneas. Tanto na França como na Espanha políticos e intelectuais comentaram sua incorruptível independência e seus sucessos literários que sobreviverão em seu legado. Tanto o presidente espanhol José Luis Rodríguez Zapatero como seu colega Nicolas Sarkozy elogiaram a figura e a obra da testemunha privilegiada de um século terrível. Um resistente que sobreviveu à barbárie para nos vacinar contra ela numa obra de singular estatura.

Com vinte anos Jorge Semprún (Madrid 1923) foi preso pela Gestapo e enviado ao campo de extermínio de Buchenwald. Foi marcado com o número 44.904, uma marca indelével e princípio de uma experiencia terrível que marcaria sua vida e sua obra. Sobreviveu àquele inferno e foi libertado em 1945. Necessitou de duas décadas de «amnésia deliberada» para abordar aquela pavorosa experiência. Nunca deixou de se perguntar como poderia explicar a si e explicar aquele intenso «cheiro de carne queimada» que emanava dos crematórios.

A enfermidade o dobrou nesta terça-feira, com 87 anos, a lúcida testemunha de um século terrível. Ao sobrevivente e resistente antinazi, ao desconforme militante comunista, ao clandestino e múltiplo Federico Sánchez, ao rebelde que abominou o stalinismo, ao roteirista que construiu o armazém do cinema político e comprometido, ao intelectual modesto, ao europeísta de primeira fornada, ao político que reclamou pela democracia com Felipe González e que marchou decepcionado e aos pontapés, ao republicano que quis se despedir do rei, e ao escritor que brilhou nas línguas de Molière e Cervantes. Um Semprún que teve como pátria primeiro o horror e depois a linguagem, «a necessidade de comunicação que está na natureza humana».

Resistente nato, guardou «mais lembranças do que se tivesse mil anos» segundo afirmou ele mesmo em 'Adiós, luz de veranos'(Adeus, luz de verões) apropriando-se de um verso de Baudelaire. Umas recordações que repassamos através de sua palavra e que para conseguir emergir necessitaram daquela «amnésia» autoimposta enquanto trabalhou como tradutor para a UNESCO. Com eles reconstruiu na literatura uma vida de compromisso, resistência e militância contada em 'Adiós, luz de veranos'(Adeus, luz de verões), 'Viviré con su nombre, morirá con el mío'(Viverei com seu nome, morrerei com o meu), 'Aquel domingo'(Aquele domingo), 'La escritura o la vida'(A escritura ou a vida), 'Autobiografía de Federico Sánchez'(Autobiografia de Frederico Sánchez) ou 'Federico Sánchez se despide de ustedes'(Frederico Sánchez se despede de vocês).

Buchenwald: «Sabe o que é mais importante em ter passado por um campo? Sabe o que é isso, o que é o mais importante e o mais terrível, e a única coisa que não se pode explicar? O cheiro da carne queimada. Que fazes com a recordação do odor da carne queimada? Para essas circunstâncias há a literatura. Mas como falas disso? Como comparas? A obscenidade da comparação? Dizes, por exemplo, que cheira como frango queimado?...Eu tenho dentro de minha cabeça, vivo, o odor mais importante de um campo de concentração. E não posso explicá-lo. E esse cheiro irá comigo como já não se foi com outros», dizia.

Literatura e vida: «A escritura e os escritores são os únicos capazes de manter vivo a recordação da morte. Se não, se os escritores não se apoderarem dessa memória dos campos de concentração, se não a fazem reviver e sobreviver mediante sua imaginação criadora, será apagada com as últimas testemunhas, deixará de ser uma recordação em carne e osso da experiência da morte».

Holocausto: «Estão desaparecendo as testemunhas do extermínio. Cada geração tem um crepúsculo dessas características. As testemunhas desaparecem. Mas agora me está tocando viver para mim. Ainda há mais velhos que eu que passaram pela experiência nos campos. Mas nem todos são escritores, claro. No crepúsculo a memória se faz mais tensa, mas também está mais sujeita às deformações».

Detenção, tortura e resistência: «Mentalizei para mim: tinha que resistir, não devia falar. Optei por um conto que não pusesse em perigo a nenhum dos companheiros. Uma novelinha leve que nesses dias era possível se ler na própria imprensa dos colaboracionistas: eu era o pobre estudante que não tinha dinheiro, que ouvia uma conversa e que é encarregado de levar umas maletas cujo conteúdo desconhecia. Acredito que estavam metidas com o mercado negro e um dia descubri que estava metida com o transporte de armas, que não pude deixar porque te ameaçam».

Militância e expulsão do PC: «Fui o bode expiatório. Talvez fui imprudente; quando começou tudo, tinha que ter cortado para sarar. Em todo caso, isso acelerou meu desgosto, minha náusea e minha disposição em ir à Espanha clandestinamente», disse sobre seu abandono do PC francês. «Grande parte da minha vida consistiu em destruir tudo isso. Não em trai-lo, senão em destrui-lo no sentido de deixar de ser um bom comunista para ser um bom democrata. Disto meu interesse pela Europa, porque é uma das coisas que me ajudou a me distanciar do comunismo e do leninismo e a compreender as virtudes da razão democrática. Quando fui comunista de verdade durante 20 anos não é de se gabar haver estado nos salões com Louis Aragon».

Stalinismo: «arrependo-me ou renego de haver sido militante do comunismo stalinista? Não. Creio que naquele momento havia uma justificativa para isto. Arrependo-me de não haver saído do PC em 1956, o ano dos movimentos antissoviéticos na Polônia e Hungria? Não. Porque sou espanhol; se fosse francês, haveria sido o momento de romper. Mas na Espanha, quaisquer que fossem os crimes de Stalin, lutar com o PC contra Franco valia a pena».

Ministro: «Não sei o que pinto nesta fotografia, mas tentarei pintar algo» disse ao assumir a pasta da Cultura e topar com Alfonso Guerra «uma pessoa que crê ter opiniões culturais».

Memória e identidade: «Minhas memórias são um pouco vitorianas. Não há nada íntimo. São tão pouco íntimas que não falo jamais de Colette (sua esposa), por exemplo, e passei 55 anos com ela de companheirismo e matrimônio».

Os restos mortais de Semprún serão sepultados neste domingo numa cerimônia laica, em Garentreville, onde a família de sua esposa possui um sepulcro. Ao enterro comparecerá como representante do governo espanhol a ministra da Cultura, Ángeles González-Sinde.

09.06.2011

Fonte: elnortedecastilla.es(Espanha)
http://www.elnortedecastilla.es/v/20110609/cultura/preso-buchenwald-20110609.html
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
Jorge Semprun: la sociedad no puede cambiarse, pero el hombre, sí.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Primeiros comentários antissemitas de Hitler serão expostos

Carta escrita por Adolf Hitler, e datada de 1919, dez anos antes do Holocausto, é fotografada em Nova York
Foto: AP

O fundador de uma associação em defesa dos direitos humanos dos judeus anunciou nesta terça-feira que a instituição adquiriu o documento real com os primeiros comentários anti-semitas realizados por Adolf Hitler, informou a imprensa local. O rabino Marvin Hier, do Centro Simon Wiesenthal, de Los Angeles, explicou que a entidade pagou US$ 150 mil a um comerciante no mês passado para obter o documento, que data de 1919 e é conhecida como "a carta Gemlich".

"São seus primeiros comentários escritos sobre os judeus (...)Demonstra que este tema era o núcleo da paixão política de Hitler ", disse o historiador Saul Friedlander, vencedor do Prêmio Pulitzer em 2009 por seu estudo sobre o Holocausto publicado no jornal The New York Times. Hier afirmou que a carta de quatro páginas foi escrita por Hitler quando era apenas um soldado. Naquele momento, o alemão se destacava por sua oratória e suas mensagens anti-semitas, algo que não passou despercebido para um de seus superiores, que o encorajou a escrever suas ideias.

O rabino declarou que o centro não tem nenhuma dúvida sobre a autoria do documento, encontrado originalmente por um soldado americano nos meses finais da Segunda Guerra Mundial. Hier lembrou que a carta foi certificada como autêntica em 1988 pelo especialista em caligrafia Charles Hamilton.

Em um trecho da carta, Hitler escreveu que um governo poderoso poderia reduzir "a ameaça judia" se lhe fossem negados seus direitos, mas "seu objetivo final, no entanto, deve ser a eliminação sem dificuldades de todos os judeus juntos". O centro planeja mostrar o documento ao público pela primeira vez a partir de julho no Museu da Tolerância, de Los Angeles, como peça principal de uma exibição sobre o Holocausto.

Fonte: EFE
http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI5174549-EI8141,00-Primeiros+comentarios+antisemitas+de+Hitler+serao+expostos.html

domingo, 5 de junho de 2011

Richard Evans - A chegada do Terceiro Reich

O fenômeno nazi, essa explosão de barbárie em pleno coração da Europa, desafia nossa capacidade de compreensão e ao mesmo tempo resulta ineludível. Richard Evans se propõe a analizá-lo em 3 volumes.

Chega às nossas livrarias o primeiro deles, que trata das circunstância que favoreceram a ascensão do nazismo e segue sua história até a consolidação da ditadura na primavera de 1933. Dirigido a um público amplo, o livro se articula numa narração cronológica na qual se intercalam referências a indivíduos concretos, com frequência tomadas de diários pessoais. A estrutura da narrativa não exclui o esforço interpretativo. O autor se enfrenta frequentemente com a grande questão de como o agressivo e simplista movimento nazi, que apenas oferecia mais solução aos problemas que exaltação nacionalista, conseguiu fazer perante o poder a uma das nações mais desenvolvidas e cultas da Europa.

Um fator foi o terror. Os nazis se serviram das liberdades democráticas para sua propaganda, ao mesmo tempo em que utilizavam a violência ilegal para amedrontar seus adeversários. O terror aumentou quando Hitler se converteu em chanceler e os camisas pardas puderam atuar com total impunidade, mas apesar disso, nas eleições que aconteceram num clima de violência, os nazis e seus aliados nacionalistas só obtiveram 51,9 % dos votos. Dito de outra maneira, quase a metade dos alemãe se opuseram à ascensão do nazismo ao poder.

O mais difícil de entender é poorque tantos outros se deixaram seduzir por Hitler. Evans não crê que a história alemã conduzira necessariamente a ele. A ascensão nazi se viu favorecida por diversas circunstâncias, entre as que destaca a escassa firmeza que a República de Weimar conseguiu na sociedade alemã e o destrutivo impacto da depressão econômica que se iniciou em 1929. Muitos alemães, incluindo boa parte da elite que regia o país, só aceitaram a democracia como um mal menor frente à revolução, mas sentiam nostalgia da disciplina conservadora dos tempos do kaiser. Em outro extremo os comunistas, desejosos de seguir o exemplo russo e com numerosos seguidores sobretudo entre os desempregados, eram hostis à República. A violência política se converteu desde 1918 em um fenômeno comum, com altos e baixos em sua intensidade. O espectro da revolução social assustava as classes médias. E a economia alemã sofreu duas gravíssimas crises, a hiperinflação do começo dos anos 20, da qual conseguiu se recuperar, e a grande depressão do começo dos anos 30, que serviu de caldo de cultura ao nazismo. Mas apesar de tal conjução de circunstâncias desfavoráveis, fica difícil entender como tantos alemães depositaram sua confiança no histriônico Hitler e seus capangas de camisa parda.

A magnitude da tragédia que provocaram os nazis com frequência faz esquecer sua própria mediocridade. Seu obsessivo antissemitismo, que culpava os judeus de todos os males da Alemanha, era um caso extremo da comum tendência humana em evitar o esforço de enfrentar os problemas reais. E sua atitude ante a alta cultura era reveladora. Hitler e os seus viram com satisfação a partida para o exílio de boa parte dos mais destacados cientistas, escritores e artistas da Alemanha. Entre eles se encontrava Einstein.

A chegada do Tercer Reich
Autor: Richard J. Evans
Trad. de J. M. álvarez. Península, 2005. 672 páginas
JUAN AVILÉS | Publicado em 07/07/2005

Fonte: El Cultura.es (Espanha)
http://www.elcultural.es/version_papel/LETRAS/12423/La_llegada_del_Tercer_Reich
Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Mark Weber - Biografias - "revisionistas" 05


Mark Weber

Mais do que qualquer propagandista, Mark Weber, 45 anos, personifica o movimento de negação do Holocausto. Um articulador, porta voz, com um mestrado em História pela Universidade de Indiana, Weber começou sua carreira como um radical de direita em 1978, quando assumiu i cargo de editor de notícias para a National Vanguard, uma publicação neonazista da National Alliance. Em 1979 Weber também começou a contribuir regularmente para o The Spotlight uma revista semanal produzida por Willis Carto da organização Liberty Lobby. Seu envolvimento com o IHR também intensificou progressivamente ao longo dos anos, trabalhando inicialmente como contribuinte no hoje extinto IHR Newsletter, em 1984 começou a servir como mestre de cerimônias das conferências anuais do grupo. Em 1985 se tornou membro do Comitê Consultivo do IHR e em 1992 tornou-se o editor do Journal of Historical Review. Após o rompimento de Carto com o IHR e a saída subseqüente da maioria dos membros do staff em 1993, Weber tornou-se diretor da organização e com um staff pessoal e profissional para serví-lo.

O compromisso de Weber com extremistas, mais abertamente à supremacia branca não diminuiu durante a sua ascensão de hierarquia no IHR. Ao longo da década de 80, ele menteve contato com a National Alliance, servindo, segundo documentos oficiais como tesoureira da organização “Cosmotheist Church”.

Da mesma forma em 1987, os graduados de quatro colégios privados em Atlanta receberam cópias de um livro racista e anti-semita de 584 páginas, The Dispossessed Majority, com uma cara assinada por Weber que afirmava, “você e seus colegas podem esperar para enfrentar graves problemas políticos, econômicos e sociais. Não haverá discriminação aberta contra você, como você competir para a admissão às melhores faculdades. Não-Brancos menos qualificados e com menor nota acadêmica serão empurrados à sua frente por meio das cotas raciais e bolsas de estudo de 4 anos.” Em 1989, os cadetes da Universidade de Auburn receberam correspondência idêntica de Weber. No mesmo ano, Weber foi entrevistado por The Sower, um estudante de jornalismo da Universidade de Nebraska, Na entrevista Weber afirmou, “Estou preocupado com o futuro da (branca) raça e estou preocupado com o futuro do nosso país.” Ele também advertiu contra a América que está se tornando, “uma espécie Mexicanizada, país Porto Ricanizado...Eu não acredito que é possível para os negros americanos serem assimilados pela sociedade branca.”

No entanto, é como um negador do Holocausto que Weber tem encontrado seu nicho na direita radical, e através do IHR ele encontrado a plataforma para prosseguir cada vez mais solitário, mas na persistente missão de propagando de ódio.

Fonte: The Coordination Forum for Countering Antisemitism

Link: http://www.antisemitism.org.il/eng/Mark%20Weber

Tradução: Leo Gott

Negacionistas do Holocausto ("revisionistas"), quem são

Segue abaixo uma lista(com links) com as biografias dos principais negacionistas(vulgo "revisionistas") do Holocausto, que já foram publicadas no blog.

Este texto é fixo, sem atualização em outro post. À medida que forem sendo traduzidas mais biografias, este post será atualizado. O intuito disto é de não dispersar as biografias no meio de outras centenas de posts, organizando-as num só canto. E mostrar quem são os "gurus" do movimento pró-nazi e/ou racista/antissemita conhecido como negacionismo do Holocausto.

Biografias - Negacionistas ("revisionistas")

1. Roger Garaudy (França)
2. Roeland Raes (Bélgica)
3. Carlo Mattogno (Itália)
4. Germar Rudolf (Alemanha)
5. Mark Weber (Estados Unidos)
6. Fredrick Töben (Austrália)

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