segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O NSDAP no México: história e percepções, 1931-1940 - parte 5

Este reajuste da política externa mexicana também teve consequências para um membro destacado do grupo regional da AO. Já nos primeiros meses da guerra aumentou a atenção em relação aos alemães e circularam rumores acerca de atividades subversivas alemãs. Os acontecimentos da guerra europeia, sobretudo os rápidos sucessos alemães que para muitos observadores resultavam como inexplicáveis, levaram à convicção de que a AO era uma Quinta Coluna que planejava golpes de estado e ajudava o exército alemão em suas campanhas. Desse modo, cada alemão aparecia como um soldado e espião do Terceiro Reich[50]. Em princípios de 1940, começou nos EUA uma sistemática campanha de imprensa. Na respeitada revista Foreign Affairs, por exemplo, leia-se que: "There are numerous indications that German agents are active in the capital [México, D.F.]"(Tradução: "Há numerosas indicações de que agentes alemães são ativos na capital")[51]. Mais claro - e aparentemente com mais fundamento - foi o que foi dito por Hal Burton no Daily News alguns meses depois:

"German espionage in Mexico, in South America, and indirectly in the US, is under the direction of Arthur Dietrich, press attache [sic] of the German legation. From his office flows a constant stream of money and propaganda. Newspapers or magazines are subsidized. Writers are paid for obligue attacks on the US"[52]

Tradução: "A espionagem alemã no México, na América do Sul, e indiretamente nos EUA, está sobre direção de Arthur Dietrich [sic] da German legation. De seu escritório flows a constant stream de dinheiro e propaganda. Jornais ou magazines são subsidiados. Escritores são pagos para obligue attacks sobre os EUA"
Aparentemente, o presidente Cárdenas não se mostrou impressionado por este e outros reproches na imprensa norteamericana. Numa declaração pública em 22 de maio, dirigiu-se contra estas afirmações e sublinhou, ao contrário, a tendência antimexicana de certas potências estrangeiras, ou seja, os EUA:

"O fato de que se venha falando da existência no México de uma chamada Quinta Coluna, devemos considerar que obedece a fins políticos não só internos, senão ao interesse externo. A imprensa nacional deve ser muito cuidadosa em suas notícias para que elas não siram aos inimigos do México, que estão fazendo campanha no exterior contra o país, pretendendo fazer crer que aqui é um campo de atividades subversivas. O governo do México manifestou e declara novamente que não consentirá a elementos estrangeiros que pretendam comprometer a política de estrita neutralidade que vem sendo mantida pelo Governo da República, e que procederá com toda energia em casos de violação das leis do país[53].

Poucos dias mais tarde, numa entrevista com o New York Times, o subsecretário Ramón Beteta repetiu a posição de seu país contra as repreensões da imprensa americana. Por disposição explícita do presidente, tinha que tentar contra-arrestar os esforços antimexicanos nos EUA[54]. Beteta ampliou os argumentos do presidente, referindo-se ao tamanho da comunidade alemã:

"Dr. Beteta also did not see any danger from fifth column activities in the country. Emphasizing that this fiad been grossly exaggerated, he said that such reports that there were 15,000 German tourists and hidden airports in the country are notoriously false. `Of course, there must be in Mexico Nazi elements among the small German colony, which amounts to 6,000 people out of a foreign population of 150,000 and of 20,000,000 Mexicans for the whole Republic. I am sure, however, that this small group has found neither support nor sympathy in the government or among the liberal progressive groups in Mexico'."[55]

Tradução: "Dr. Beteta também não via qualquer perigo nas atividades da Quinta Coluna no país. Enfatizando que este relato foi grosseiramente exagerado, ele disse que tais relatórios afirmando que havia 15.000 turistas alemães e aeroportos escondidos no país são infamemente falsos. `Claro, deve haver no México elementos nazistas na pequena colônia alemã, que conta com 6.000 pessoas de uma população estrangeira de 150.000 pessoas entre 20.000.000 de mexicanos no total na República. Mas estou certo de que, entretanto, este pequeno grupo não encontrou nenhum apoio ou simpatia dentro do governo e entre os grupos progressistas liberais no Mexico'."
Apesar de que em diversas ocasiões oficiais mexicanos sublinharam publicamente a inocuidade dos nacional-socialistas no México, o presidente Cárdenas estava preocupado, não obstante, e já em maio de 1940 encarregou que o Ministério do Interior levasse a cabo um estudo acerca do nacional-socialismo[56]. Cárdenas dispôs do extenso documento a partir de 23 de maio[57]. Neste, apresentava-se a Arthur Dietrich como a pessoa decisiva da comunidade alemã e o responsável das relações com os círculos mexicanos. Dizia-se que Dietrich, "indivíduo sem educação e nem escrúpulos, mas sumamente astuto", vigiava os membros da comunidade alemã a respeito de sua lealdade ao Terceiro Reich e dispusera que se boicotasse a quem atuasse de uma maneira antinacional-socialista. Como chefe de propaganda da Representação alemã, cultivava contatos com a imprensa mexicana. Todavia antes da guerra, administrava e distribuía o orçamento para anúncios em empresas alemãs. Tinha tanto sucesso que toda a imprensa independente mexicana (quer dizer, alheia ao governo e aos sindicatos) estava a disposição da propaganda alemã. Além disso, financiava partidos e deputados. Os agentes do ministério escreveram que eles mesmos uma vez tiveram a oportunidade de observar a entrega de um bolo de notas. Comparados com Dietrich, outros alemães, mas também o grupo regional do NSDAP, com efeito pareciam inócuos. O ministro alemão, por exemplo, prosseguia o relatório, não se intrometia em interesses alheis às suas funções diplomáticas. O NSDAP só admitia a cidadãos alemães e propagava as ideias nacional-socialistas unicamente entre seus membros. Na Comunidade do Povo Alemão, controlada pelo partido, também havia cidadãos mexicanos, mas estes se mantinham afastados entre si e não tratavam de fazer propaganda. O único que, segundo as informações do ministério, saiu deste círculo fechado, foi Arthur Dietrich.

Os resultados da investigação pareciam confirmar as repreensões da imprensa americana, pelo menos com respeito a Dietrich. As últimas dúvidas que Cárdenas podia distrair, talvez, sobre o relatório de seu serviço secreto desapareceram durante uma discussão com um representante da embaixada norteamericana. Provavelmente esta já dispunha da informação que a Polícia Federal dos Estados Unidos transmitiu ao presidente Roosevelt em 26 de maio[58], segundo a qual, Dietrich era o homem mais importante da Alemanha no México em tudo o que concerne a propaganda, espionagem e sabotagem, e portanto era uma pessoa non grata para as autoridades americanas.

As indagações e a discussão com o norteamericano alcançaram seu efeito. Em 11 de junho, o Secretário de Relações Exteriores exigiu ao Ministro alemão que Dietrich fosse suspenso, e que este cessasse suas atividades de propaganda e abandonasse o país[59]. Esta decisão foi justificada por Eduardo Hay ante o representante diplomático alemão alegando que, numa situação difícil, o México devia ceder ante uma demanda norteamericana[60]. Ainda que o secretário tenha exagerado aqui ante as pressões americanas a fim de reduzir a responsabilidade de seu governo, no essencial sua argumentação era acertada: a expulsão de Dietrich representou um primeiro passo visível do reajuste da política externa mexicana; depois das declarações do embaixador Castillo Nájera a oficiais americanos, foi um sinal para o governo e os meios de publicidade americanos de que o México cooperasse com os Estados Unidos na defesa hemisférica do continente americano. Apesar de sua orientação ante os EUA, o governo mexicano não proscreveu nem molestou o Landesgruppe, porque aparentemente só era Dietrich o que se intrometia na política interna do país e perturbou as relações com o colosso vizinho. O governo obviamente não via um perigo na existência de uma organização que constava de um punhado de nacional-socialistas.

Rüdt von Collenberg se enteró imediatamente da nova orientação da política externa mexicana, mas constatou que, apesar da pouca simpatia que manifestava o governo mexicano pela Alemanha, ele havia se comportado de acordo com os critérios da neutralidade. Para Rüdt, a expulsão de Dietrich significou uma mudança fundamental nesta atitude[61]. Como Rüdt não viu um melhoramento desta posição tampouco sob o novo presidente Avila Camacho, que assumiu seu cargo em 1 de dezembro de 1940, dissolveu o partido em abril de 1941, a fim de evitar que o governo mexicano proscrevesse o partido e detivesse seus membros[62].

*Notas no texto original.

Fonte: El NSDAP en México: historia y percepciones, 1931-1940
Autor: Jürgen Müller; Universitdt Kóln
http://www.tau.ac.il/eial/VI_2/muller.htm
Tradução: Roberto Lucena

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