domingo, 4 de novembro de 2012

Quem foi Joseph Mengele?

Algumas das imagens mais marcantes de Auschwitz são as terríveis cenas da chegada de transportes de judeus para aquele campo de concentração. Em meio ao caos e o desespero estava uma figura solitária em imaculados uniformes e luvas brancas impecáveis,  inspecionando os presos e acenando um de cada vez para um lado ou para o outro com o seu chicote. De um lado estava a fome, a brutalidade e a privação, mas também uma chance de sobrevivência. Do outro lado, a morte instantânea nas câmaras de gás. A figura assustadora que frequentemente tomava esta decisão, era Josef Mengele, um dos médicos designados para Auschwitz. Ele passou a simbolizar a maneira que a medicina tornou como uma ferramenta para o genocídio.

Mengele nasceu na Baviera, pouco antes da Primeira Guerra Mundial em uma família de classe média alta que tinha um negócio de máquinas e ferramentas. Foi um estudante promissor, foi enviado a Munique em 1920, onde ele foi atraído pelas teorias raciais de Alfred Rosenberg, o "filósofo" do nacional-socialismo. Como Mengele tornou-se um adepto da ideologia nacional-socialista, ele mudou-se para Frankfurt-am-Main, onde recebeu seu diploma de medicina estudando com Otmar von Verschuer, o diretor do Instituto de Higiene Racial na Universidade de Frankfurt. A ênfase principal de sua pesquisa foi a importância da hereditariedade no contexto de "ciência racial" nazista. No momento em que terminou seus estudos, Mengele era tanto membro do Partido Nacional-Socialista como das SS. Ele era um fanático anti-semita e odiava os Roma e Sinti (ciganos), muito além do que ele odiava os judeus.

No início da Segunda Guerra Mundial, Mengele estava engajado com a Waffen-SS. Ele serviu como médico em várias unidades na invasão da União Soviética, recebendo quatro medalhas por sua ação. Depois de ser ferido e declarado impróprio para o serviço ativo, Mengele foi nomeado para servir como médico em Auschwitz, em maio de 1943. Mengele não era o médico-chefe de Auschwitz - que foi Eduard Wirths - mas Mengele tinha seu próprio laboratório em um bloco, financiamento independente e uma equipe de médicos presos que ele supervisionava.

Mais do que qualquer outro médico da SS designado para Auschwitz, Mengele parecia confortável com o regime cruel e com o processo de assassinato no campo. Mengele foi designado - como foram os outros médicos de Auschwitz – para supervisionar as "escolhas" na chegada dos transportes. Essas seleções determinavam quais seriam enviados imediatamente para as câmaras de gás, e quem iria se tornar prisioneiro do campo. Ao contrário de vários dos outros médicos, no entanto, ele parecia glorificado com o poder que lhe deram. Mengele carregava um chicote com que ele indicava vida ou morte para os presos que chegavam. Ele sempre usou a cultura sobre os prisioneiros e há relatos de uso de sua pistola para matar prisioneiros desobedientes. Ao contrário dos outros médicos, Mengele frequentemente estava presente nas rampas de chegada, quando ele não estava programado, ele certificava que suas ordens sobre os gêmeos que seriam enviados para o seu "laboratório" fossem realizadas.

Mengele, de acordo com outros médicos que serviram em Auschwitz, estava totalmente de acordo com a brutal administração de Auschwitz. Ele acreditava claramente que os prisioneiros eram menos humanos e colocou em prática essa crença. Há vários casos conhecidos onde Mengele pessoalmente assassinou presos com sua pistola ou com injeções fatais de fenol. A medida em que ele desviou dos padrões éticos da medicina é ilustrada por seu tratamento às 600 mulheres doentes que encontrou no "hospital" em sua chegada à Auschwitz. Ele ordenou que todas elas fossem imediatamente enviadas para as câmaras de gás. Mas não foi apenas a sua administração do departamento médico de Auschwitz que mereceu sua inclusão como um dos piores criminosos de Auschwitz. Foram as experiências que ele realizou em infelizes presos indefesos.

A paixão que atraiu Mengele para as rampas de chegada era a sua "coleção" de gêmeos. Tal como o seu mentor, o Dr. Verschuer, Mengele acreditava que se pares de gêmeos sem defeitos hereditários fossem cuidadosamente analisados, ​​um pesquisador poderia sintetizar uma determinação completa e confiável da hereditariedade e da relação "entre a doença, tipos raciais, e miscigenação." Esta pesquisa foi entusiasticamente apoiada pelo Dr. Verschuer que arranjou ajuda financeira para Mengele receber por seu trabalho. Mengele continuou sua cuidadosa medição nos gêmeos mesmo depois da interrupção de outros experimentos em Auschwitz.

A “coleção” de gêmeos de Mengele ficava alojada em um bloco especial onde os outros médicos da prisão o ajudavam - incluía um radiologista, um antropólogo, e um patologista – que cuidadosamente mediam e analisavam ​​os gêmeos. Os arquivos foram cuidadosamente dispostos e o último documento, o relatório da dissecção da vítima, sempre no topo. Principalmente porque Mengele considerava sua "base de dados" de grande valor científico, os gêmeos foram muitas vezes mais bem tratados do que outros prisioneiros em Auschwitz. Mengele os protegia das atribuições de trabalho duras e garantia que eles tivessem refeições adequadas, mas não importa o quão bem eles foram tratados, nunca Mengele pensava neles como pessoas. Eles sempre foram apenas sujeitos de sua pesquisa. E o passo final era de que a investigação sempre era um exame post-mortem. Mengele não teve pudores sobre tudo pessoalmente matando gêmeos como a etapa final de sua pesquisa. Ele é conhecido por ter matado gêmeos apenas para resolver uma discussão sobre o diagnóstico com outro médico.

O interesse experimental de Mengele não se limitou aos gêmeos. Além de sua pesquisa sobre os gêmeos, Mengele mantinha uma "coleção" de anões e pessoas (especialmente os judeus) com anormalidades genéticas que ele encontrava nas rampas de chegada. Ele estava especialmente interessado em uma condição chamada "noma", que é uma condição gangrenosa do rosto e boca, devido à debilitação extrema. Embora seja claro que esta doença rara foi causada, em Auschwitz, pelas condições do campo, Mengele tentou encontrar causas raciais e genética para a doença.

A última área de experimentação que Mengele atuou foi sua tentativa de mudar a cor dos olhos. Estes experimentos foram inteiramente de natureza racial. Começando com um interesse em prisioneiros com olhos de cores diferentes e presos com cabelo loiro e olhos castanhos, Mengele começou a injetar vários produtos químicos nos olhos de seus súditos experimentais. Cientificamente, é claro, não existe possibilidade de que a injeção de azul de metileno, pode alterar a cor dos olhos. O resultado foi só dor e infecções. Muitas das crianças eventualmente recuperavam da injeção, mas conduziam à morte num caso e, em outro na cegueira.

Além de suas experiências, Mengele assiduamente recolhia "espécimes" para o Dr. Verschuer. Sete pares de gêmeos com cores de olhos diferentes, por exemplo, foram mortos com injeções de fenol e, após a dissecção, os olhos enviados para seu mentor. Em 1944, Verschuer, enviou para o Instituto de Antropologia Kaiser Wilhelm uma proposta de nova pesquisa no qual ele afirmou:

Meu assistente, o Dr. Mengele juntou-me nesse ramo de pesquisa. Ele atualmente é Hauptsturmführer e médico do campo de concentração de Auschwitz. Investigações antropológicas sobre os mais diversos grupos raciais deste campo de concentração estão sendo realizadas com a permissão do Reichsführer SS [Himmler], as amostras de sangue são enviadas para análise no meu laboratório.

Na verdade, houve um fluxo constante de tais espécimes com os olhos acima mencionados para o Dr. Verschuer.

Com o fim da guerra Mengele se tornou um fugitivo. Ele nunca trabalhou como médico de novo. Ele eventualmente fugiu para a América do Sul - provavelmente com a ajuda de sua família - onde viveu como um homem caçado. Em 1985, quando morava no Brasil, ele sofreu um acidente vascular cerebral ao nadar e se afogou. Sua obra, como os outros "experimentos" realizados por outros médicos em Auschwitz, morreu com ele. Suas anotações e arquivos sobre os gêmeos nunca foram encontrados e o que se sabe é que eram cientificamente e clinicamente inútil.

Por onde começar sua pesquisa

O livro mais completo sobre como Josef Mengele e outros médicos foram afetados pela filosofia nazista é:

Robert Jay Lifton, The Nazi Doctors, Basic Books (1986)

Narrativas pessoais por gêmeos que sobreviveram experimentos de Mengele estão em:

Benno Muller-Hill, Murderous Science, Oxford University Press (1988)

Disputas contemporâneas de bioética nas áreas de genética médica, experimentação humana e eutanásia são explicados em:

Arthur L. Caplan (Ed.), When Medicine Went Mad, Humana Press (1992)

Relatos pessoais de experiências médicas realizadas em Auschwitz:

Lore Shelley (Ed.), Criminal Experiments on Human Beings in Auschwitz & War Research Lab, Mellen Research (1991)
Lucette Lagnado, Children of the Flames, William Morrow (1991).
Duas memórias de prisioneiros que fisicamente trabalharam com o Dr. Mengele:

Miklos Nyisli, Auschwitz: A Doctor's Eyewitness Account, Arcade Paperbacks (1960)
Gisella Perl, I Was a Doctor in Auschwitz, I.U.P. (1948)

Um site mantido por vítimas de experimentos médicos em Auschwitz:



Fonte: The Holocaust History Project
Tradução: Leo Gott

Um comentário:

Fael disse...

muito bom o texto o/ que cara doente.

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