quarta-feira, 25 de julho de 2012

Judeus e bolcheviques (A mentira sobre o bolchevismo e os judeus)

Um ensaio de Richard J. Green
Web Version 1.3.

Negadores do Holocausto e apologistas do nazismo frequentemente fazem muitas reivindicações reveladoras sobre os judeus, o bolchevismo e o stalinismo. Eles frequentemente afirmam que o bolchevismo foi um movimento judaico que resultou em assassinato em massa de cristãos em uma escala muito maior do que a Solução Final. A implicação disso é que mesmo que o Holocausto não houvesse ocorrido, os judeus o mereceram e/ou o fato do assassinato em massa cometido pelos stalinistas, de alguma forma, diminuiria o fato dos nazistas e seus cúmplices terem cometido um assassinato em massa. Mesmo se os negadores do Holocausto e nazi-apologistas tivesses seus fatos corretos, alguém perguntaria qual a lógica do seu raciocínio. Como o suposto fato de alguns judeus terem participado de um assassinato em massa justificaria o assassinato em massa de todos os judeus? Não obstante, essa implicação absurda e desumana devemos, como de costume, analisar os supostos fatos.

Os crimes do Stalinismo

Os crimes do stalinismo não devem ser subestimados. Que o regime stalinista cometeu crimes de magnitude sem precedentes e desumanidade vai além de qualquer debate razoável. As coletivizações forçadas no Cazaquistão, Ásia Central Soviética, e, é claro na Ucrânia[1] teve um custo terrível:
A Grande Fome de 1932-33 na qual 5-10 milhões de vidas foram perdidas, foi causada em grande parte pelo caos da coletivização. Embora a produção agrícola tenha declinado na década de 1930, a exportação de grãos aumentou. Robert Tucker chama de coletivização forçada a uma revolução de "iniciada pelo Estado, dirigida pelo Estado, e imposta de cima pelo Estado." [2],[3]
A brutalidade do regime stalinista é incontestável. A origem judaica dessa brutalidade, por outro lado, é uma afirmação mentirosa.

O Bolchevismo era um movimento judaico?

Em uma publicação no grupo alt.revisionism da Usenet, Jacob Minsky [4] demonstra, em termos inequívocos, o absurdo de tal posição. Primeiro, ele cita Pipes:
O censo do Partido Comunista realizado em 1922 mostra que apenas 959 membros judeus participavam antes de 1917.[5]
Minsky, em seguida, coloca a seguinte pergunta para o seu interlocutor apologista-nazi:
Por que o Bund (União Judaica Trabalhista) [link1] [link2] foi um dos dois únicos partidos políticos (o outro foi o pequeno e judaico PSR, um partido socialista democrático) inequivocamente condenaram no Congresso dos Deputados a tomada bolchevique do poder? [6]
A típica resposta dos antissemitas é escolher bolcheviques pouco proeminentes e afirmar, sem provar, que todos eram judeus. Que Trotsky era judeu é verdade, mas antissemitas esquecem de citar que ele era um dos maiores e primeiros críticos de Stalin e que este criticismo custou-lhe a própria vida. Talvez, pouco menos que 1000 judeus que foram membros de início do Partido foram para posições de liderança, mas como Aristóteles assegura: "Uma andorinha só não faz verão".

Claro, é ridículo culpar uma etnia pelos crimes dos bolcheviques. O fato de Stalin era georgiano não torna todos os georgianos responsáveis ​​pelos crimes do stalinismo. Alguns podem argumentar que isso é tão injusto quanto culpar todos os alemães pelos crimes dos nazistas. Este ponto é válido: a culpa deve ser atribuída, individualmente, não coletivamente. Somente aqueles alemães que sabiam, ou que deviam saber sobre a Solução Final, participaram de sua execução, ou nada fizeram para impedi-la quando eles poderiam ter feito isso, torna culpado por esses crimes. Não sendo ncessário reafirmar que os jovens alemães nascidos após a guerra são inocentes.

Antissemitas culpam os judeus pelo por usar de algumas meias-verdades. Por este método, poderia ser demonstrado que foi na verdade os alemães, os responsáveis pelo bolchevismo. É tão sem propósito culpar os alemães pela ascensão do bolchevismo como é culpar os judeus. Marx, afinal, era um ateu alemão. Além disso, o líder político da Alemanha na época da Revolução Bolchevique foi um dos maiores patrocinadores bolcheviques.

Kaiser alemão patrocina o bolchevismo

Martin Gilbert afirma o seguinte sobre o apoio do governo alemão ao bolchevismo:
Os bolcheviques não esperavam que os Governos alemão e austríaco fossem ser simpáticos à sua causa revolucionária, mas os caciques políticos em Berlim e Viena estavam ansiosos para apoiar o avanço do bolchevismo na esperança, não tão improvável, de que os bolcheviques minassem o governo estável na Rússia e destruisse os poder de guerra do czar. Em 7 de janeiro [1915-RJG] um grupo bolchevique em Petrogrado distribuiu folhetos aos soldados, trabalhadores e camponeses, convidando-os a não pagar as suas rendas mensais em impostos. No mesmo dia em Constantinopla, um rico bolchevique, Alexander Helphand, aproximou-se do embaixador da Alemanha na Turquia com as seguintes palavras: 'Os interesses do Governo alemão são idênticos aos dos revolucionários russos. "... A conversa de Helphand marcou o início de um interesse crescente alemão para estimular a revolução na Rússia: um interesse que foi se intensificando pelo impasse no campo de batalha, e que encontra seu ponto culminante na facilitação do retorno de Lênin à Rússia, atravessando solo alemão. Dentro de três meses, o governo alemão deu dinheiro a um intermediário da Estônia para dar a Lenin, para encorajá-lo a exercer suas atividades antiguerra. Na verdade, ele não precisou de nenhum encorajamento.
Gilbert adiciona a nota de rodapé:
O montante pago a Lenin foi entre 200.000 e 250.000 marcos, algo que na época equivaleria a algo entre US $ 50.000 e 62.000 dólares. Quando os bolcheviques chegaram para pagar o empréstimo em 1923, a inflação do marco era tal que ele valia menos de US $ 1. [07]
Será que nossos "amigos" antissemitas culparão os alemães pelas origens do bolchevismo tão prontamente quanto culpam os judeus? Culpar um ou outro grupo , na minha opinião, é algo ridículo. Quero apenas apontar a hipocrisia de nossos "amigos" que, sem dúvida, continuam a culpar os judeus pela Revolução Bolchevique, bem como a exploração capitalista, o buraco de ozônio e a morte térmica do universo.

Stalin atinge os judeus

Examinar a questão de saber se Stalin era um judeu exterminador de cristãos, é bastante relevante para examinar como ele tratava os judeus.
Em nosso contexto, a evolução da União Soviética, especialmente depois de 1948 - o ano da morte misteriosa de Jdanov e o "caso de Leningrado" - são de maior importância. Pela primeira vez depois do Grande Expurgo, Stalin teve um grande número de altos funcionários executados, e sabemos com certeza que isso foi planejado como o início de outro expurgo nacional. Isto teria sido levado a cabo pela história do "complô dos médicos" se a morte de Stalin não tivesse intervido. Um grupo de maioria de médicos judeus foi acusado de ter planejado "acabar com os quadros dirigentes da URSS." [30] ... Além disso, o conteúdo absurdo da acusação contra os médicos, de que "eles matam as pessoas em posições de liderança em todo país", deve ter enchido de maus pressentimentos todos os que estavam familiarizados com o método de Stalin de acusar um inimigo fictício do crime que ele mesmo estava prestes a cometer. (O exemplo mais conhecido é, naturalmente, a acusação de que Tukhachevski conspirou com a Alemanha no momento em que Stalin estava contemplando uma aliança com os nazistas)...

O mais dramático novo elemento neste último expurgo, que Stalin planejou nos últimos anos de sua vida, foi uma mudança decisiva na ideologia, a introdução de uma conspiração judaica mundial. Durante anos, o terreno para esta mudança fora cuidadosamente colocado em uma série de julgamentos nos países satélites - o julgamento de Rajk na Hungria, o caso Ana Pauker na Romênia, e, em 1952, o julgamento de Slansky na Tchecoslováquia. Nessas medidas preparatórias, altos funcionários do partido foram escolhidos em virtude de suas "origens judaicas burguesas" e acusados de sionismo; essa acusação foi gradualmente alterada para implicar agências notoriamente não-sionistas (especialmente o Comitê Judaico Americano de Articulação de Distribuição), a fim de indicar que todos os judeus eram sionistas, e que todos os grupos sionistas eram "mercenários do imperialismo americano" 32. Não havia nada de novo no "crime" de sionismo, além da campanha que evoluiu e começou a mirar os judeus da União Soviética, outra mudança significativa aconteceu: os judeus agora eram acusados de "cosmopolitismo" ao invés de sionismo, e o padrão de acusações que se desenvolveram com este slogan estavam cada vez mais próximos do padrão nazista da conspiração judaica mundial oriunda do livro antissemita Os Protocolos dos Sábios de Sião. Agora ficava assustadoramente claro a impressão profunda que este pilar da ideologia nazista teve sobre Stalin - as primeiras indicações disto tinham ficado claras desde o pacto Hitler-Stalin - em parte, com certeza, devido ao valor como propaganda na Rússia como em todos os países satélites, onde o sentimento antijudaico foi generalizado e a propaganda antijudaica sempre gozava de grande popularidade, mas em parte também porque este tipo de conspiração mundial fictícia fornecia um fundo ideologicamente mais adequado para afirmações dos governo totalitários controlando o mundo do que Wall Street, o capitalismo, o imperialismo. A adoção aberta, sem vergonha do que tinha se tornado para o mundo inteiro o sinal mais importante do nazismo foi o último cumprimento que Stalin prestou ao seu falecido colega e rival no domínio total com quem, para sua decepção, ele não tinha sido capaz de chegar a um acordo duradouro. [08]
Assim, está claro que não apenas a alegação de que o bolchevismo foi uma conspiração judaica para cometer genocídio contra os cristãos é uma mentira, como o número de soviéticos culpados por assassinato em massa era em sua maioria antissemita e que poderiam ter tentado exterminar o que é dito sobre nosso "herói" dos nazi-apologistas, a aniquilação total do povo judeu na Europa.

The Bolshevik Canard
Web Version 1.2

Notas

[01] Green, Barbara B. The Dynamics of Russian Politics: A Brief History, Westport: Greenwood Press, 1994, pp. 39-40.

[02] Ibid., p. 38.

[03]Tucker, Robert C., "Stalinism as Revolution from Above," in Stalinism: Essays in Historical Interpretation, ed. Robert C. Tucker, New York: W. W. Norton, 1977, p. 83 as cited in Green Ibid.

[04] Minsky, Jacob, Article: 191161 of alt.revisionism,Subject: Re: I AM PROUD TO BE ON THE NIZKOR ENEMIES LIST,Message-ID: , Date: Mon, 14 Jul 1997 03:36:26 GMT

[05] Pipes, Richard, Russia Under the Bolshevik Regime, New York: Vintage Books, 1995, p. 113. ISBN 0-679-76184-5 as cited in Minsky, Ibid.

[06] Minsky, op. cit. Minsky also cites: Dmitri Volkogonov, Stalin: A Political Portrait, Volume 1, Moscow: Novosti, 1996, ISBN 4-7020-0025-0.

[07] Gilbert, Martin, The First World War: A Complete History, New York: Henry Holt and Company, 1994, p. 125.

[08] Arendt, Hannah, The Origins of Totalitarianism, New York: Harcourt & Brace, 1979 pp. xxxviii-xl. Her notes are as follows:
[30] Armstrong, op. cit., pp. 235 ff.
[32] Armstrong, op. cit., p. 236
[op. cit. refers to: Armstrong, John A. , The Politics of Totalitarianism: The Communist Party of the Soviet Union from 1934 to the Present, New York, 1961-my note-RJG]

Fonte: The Holocaust History Project
http://www.holocaust-history.org/bolshevik-canard/
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Hollande admite responsabilidade da França na deportação de judeus

François Hollande é o primeiro presidente socialista francês a quebrar o tabu da chamada “rafle du Vel d’Hiv”. O primeiro chefe de Estado francês a admitir a responsabilidade da França na deportação de judeus, durante a Segunda Guerra Mundial, foi o conservador Jacques Chirac, ao qual o socialista Hollande prestou homenagem.

A verdade é que este crime foi cometido em França, pela França. O grande mérito do presidente Chirac foi ter reconhecido, aqui, a 16 de julho de 1995, esta verdade”, afirmou François Hollande, que prosseguiu: “A República perseguirá, com a maior determinação, todos os atos, todas as palavras antissemitas que possam provocar nos judeus de França uma sensação de inquietação no seu próprio país.” Uma referência ao assassinato de três crianças judias e de um professor judeu por Mohamed Merah em março último, na cidade de Toulouse.

O presidente francês participava na cerimónia, em Paris, que relembra os 13.152 judeus deportados pela França há 70 anos.

A “rafle du Vel D’Hiv” ocorreu nos dias 16 e 17 de julho de 1942. Durante esses dois dias, as autoridades francesas perseguiram e detiveram 13.152 judeus, os quais, na sua maioria, ficaram retidos no Velódromo de Inverno (“Vel d’Hiv”) – posteriormente demolido, em 1959 – antes de serem enviados aos campos de extermínio nazistas. “Nenhum soldado alemão foi mobilizado” para essa operação realizada por policiais franceses, lembrou o presidente.

Fonte: Euronews
http://pt.euronews.com/2012/07/22/hollande-admite-responsabilidade-da-franca-na-deportacao-de-judeus/

Ver mais:
Presidente da França honrou memória de milhares de judeus parisinos reprimidos (Voz da Rússia)
Hollande lembra participação francesa na deportação de judeus (RFI, Portugal)
Hollande assume responsabilidades francesas no Holocausto (Publico.pt, Portugal)
François Hollande admite responsabilidade de França no Holocausto (RTP, Portugal)

sexta-feira, 20 de julho de 2012

A direita e os imigrantes

NORUEGA
A direita e os imigrantes

O julgamento de Anders Behring Breivik, acusado de matar 73 pessoas por razões políticas, terminou em 22 de junho. Como a Noruega, país rico e famoso pela tranquilidade, foi cenário de tal violência? A militância de extrema direita de Breivik, contudo, reflete uma visão de mundo predominante na Europa
por Rémi Nilsen

Foto: Anders Behring Breivik, em 3 de maio, durante seu julgamento. Analistas acreditavam que massacre havia sido um ataque islâmico.

Na sexta-feira, 22 de julho de 2011, quando uma bomba devastou o bairro administrativo de Oslo, onde se situam a maior parte dos ministérios e a sede do governo, os analistas imediatamente pensaram que o terrorismo islamita internacional tinha atacado; na rua, imigrantes foram maltratados.1 Mas, quando se soube do massacre na ilha de Utøya, situada a uns 50 quilômetros dali, as opiniões começaram a ficar confusas: por que o terrorismo islamita internacional teria decidido exterminar dezenas de adolescentes do acampamento de verão da Liga dos Jovens Trabalhistas (AUF)? O assassino que a polícia prendeu no mesmo dia era um grande loiro de olhos azuis vindo dos belos bairros de Oslo: Anders Behring Breivik, antigo filiado ao Partido do Progresso (Fremskrittspartiet), agremiação populista de tendência de extrema direita. A Noruega ficou chocada.

Um ser humano capaz de matar crianças a sangue frio é por definição um psicopata. Aparentemente, Breivik tinha trabalhado sozinho – poderíamos ver nessa matança apenas uma grande notícia sensacionalista se ele não tivesse reivindicado um ato político, destinado a fazer entender que os “marxistas culturais” – quer dizer, toda a esquerda – estavam entregando a Europa aos muçulmanos. Seu “manifesto” de 1.500 páginas publicado na internet oferece ao corajoso leitor uma antologia de temas que estão longe de ser inéditos nos debates políticos noruegueses.

Conservadorismo cultural, defesa de valores cristãos, medo do desaparecimento da cultura e da identidade europeias por culpa de uma política migratória muito frouxa, islamofobia embalada em um discurso que ousa evocar os direitos humanos: muitas posições parecidas com as do Partido do Progresso.

“Uma nova cruzada”

Carl Ivar Hagen, antigo responsável por esse partido, declarou em 2004 que “os muçulmanos há muito tempo já indicaram claramente, assim como Hitler o fez, que seu objetivo a longo prazo era dominar o mundo”.

Durante a campanha para as eleições legislativas de 2009 – vencidas pela coalizão “vermelho-verde”,2 mas que viram o Partido do Progresso se tornar a segunda maior força política do país, com 22,9% dos votos −,3 sua atual presidente, Siv Jensen, lançou a teoria de uma “islamização insidiosa” do país. Em agosto de 2010, uma figura crescente do mesmo partido, Christian Tybring-Gjedde, acusou o Partido Trabalhista de “apunhalar a cultura norueguesa pelas costas”, enquanto o responsável pelas questões de imigração postava a seguinte mensagem no Twitter: “Temo que uma nova cruzada seja necessária”.

Três sites servem para o essencial das discussões desse movimento – um deles, o Right.no, recebe subsídios do Ministério das Relações Internacionais. Apresentam-se como “críticos” do Islã e se mostram abertamente pró-Israel, denunciando fortemente o antissemitismo. Um de seus principais colaboradores, que foi durante um tempo, segundo Breivik, seu inspirador, é o blogueiro Fjordman; por muito tempo anônimo, ele preferiu revelar sua identidade para não ser associado ao assassino.

Peder Jensen, seu verdadeiro nome, é um antigo estudante de árabe atualmente empregado como enfermeiro em um estabelecimento para deficientes mentais. Apoia Israel desde 2002, quando foi observador em Hebron de uma organização de direitos humanos que defendia os palestinos. Ele se baseia em teorias da conspiração difundidas por Bat Ye’or – nome artístico de Gisèle Littman Orebi, britânica de origem egípcia – em seu livro Eurabia:4 os dirigentes europeus teriam escolhido se aliar aos muçulmanos para trair a população branca em troca de garantias na aquisição de petróleo – uma velha fantasia que existe desde a crise petroleira de 1973.5

Classe média

A imigração “maciça” de populações cujas taxas de natalidade são supostamente muito elevadas seria o sinal desse acordo secreto. A Europa estaria, assim, em guerra, num sentido mais ou menos literal. É com essa ideologia que Fjordman e seus acólitos incitam à “resistência ativa”, fazendo abertamente referência à ocupação da Noruega pelos nazistas. “Não são, claramente, neonazistas clássicas essas pessoas que espancam muçulmanos nas ruas”, nota Thomas Hylland Eriksen, professor de Antropologia Social especialista em multiculturalismo. “Não se trata de desempregados do sexo masculino deixados na mão devido ao fechamento das fábricas. São pessoas de classe média inferior, que leram muito, mesmo que suas leituras tenham sido muito seletivas.”6

Há realmente um “problema de imigração” na Noruega? A política de abertura à mão de obra estrangeira foi encerrada em 1975. Eram os paquistaneses que acabavam de chegar, então, ao mercado de trabalho. Essa comunidade, primeira e segunda gerações, representa hoje o grupo mais importante vindo de um país fora da Europa, e a maioria das 90 mil pessoas de confissão muçulmana – lembremos que a Noruega é um Estado confessional, onde 86% dos 5 milhões de habitantes se definem como protestantes luteranos. Os que chegaram depois de 1975 são essencialmente cidadãos da União Europeia – Suécia, Polônia, França, Alemanha – empregados pela indústria ou refugiados e exilados submetidos a critérios de aceitação muito estritos.

Ainda que o desemprego seja mais elevado na população oriunda da imigração (7,7%, enquanto a média nacional é de 3,3%; na segunda geração, o desemprego é apenas 1% mais elevado do que para o conjunto dos jovens),7 esta é relativamente bem integrada. Segundo uma sondagem de 2010, 70% dos noruegueses “apreciavam a cultura dos imigrantes e sua participação na vida ativa, e pensavam que os trabalhadores imigrantes vindos de um país de fora da Escandinávia contribuíam positivamente para a economia norueguesa”.8

A Noruega parece então ter conseguido criar uma sociedade multicultural onde a integração não é um problema maior. Então, como explicar que a islamofobia tenha se tornado um elemento cada vez mais frequente no debate político?

O país – riquíssimo, principalmente graças ao petróleo e aos recursos marítimos – foi muito pouco atingido pela crise financeira e a crise da dívida. O Estado de bem-estar social continua reinando: não houve cortes drásticos nos gastos públicos (apesar de uma reorganização que conduziu ao fechamento de alguns estabelecimentos), e o país mantém sem dúvida a política social mais generosa do mundo. Há anos, a Noruega está em primeiro lugar na classificação estabelecida pelas Nações Unidas dos países onde as condições de vida são as melhores.

Neoliberalismo

No entanto, ela não foi poupada pelo neoliberalismo, conduzido pelo Partido Trabalhista: as desigualdades sociais e as diferenças salariais aumentaram muito ao longo dos últimos vinte anos. “Depois de 1990, a diferença salarial entre o 1% que ganha mais e a remuneração média aumentou muito mais rápido na Noruega do que no Reino Unido ou nos Estados Unidos”,9 segundo um relatório da empresa de marketing à esquerda Manifest. A parte de ativos financeiros brutos (depósitos bancários, ações etc.) detida pela classe média foi dividida por dois entre 1984 e 2008. Os salários dos mais ricos aumentaram muito, enquanto os dos assalariados caíram.

É nesse contexto que a imigração se tornou uma questão política central. Os neoliberais, sob a influência da empresa de marketing Civita, financiada por organizações patronais, se esforçaram para provar que o modelo nórdico de Estado de bem-estar social não era mais viável, a despeito de uma realidade cotidiana que mostrava que o sistema fiscal e o crescimento da produtividade sustentavam amplamente o modelo atual.

A prosperidade crescente do país, cujo PIB progrediu de forma ininterrupta desde 1998 – com exceção de um recuo em 2009 – e se classifica, por habitante, como o terceiro da Europa,10 permitiu ocultar o agravamento das desigualdades sociais. Isso deixa à direita populista o campo livre para recuperar as frustrações de um eleitorado que se sente maltratado – essencialmente a classe média, que, desde o começo dos anos 1990, está perdendo em relação aos mais ricos.

Segundo Eriksen, a direita radical islamofóbica norueguesa se compõe “de pessoas que têm a impressão de ter sido desclassificadas. Elas consideram que seu nível de vida estagnou; sentem-se marginalizadas e excluídas pela sociedade. Veem-se como uma força essencial da nação, mas não conseguem mais se identificar com esta, porque outra concepção da comunidade nacional se impôs: mais cosmopolita e igualitária, baseada antes na cidadania do que na aparência etnonacional”.

Além das fronteiras


A direita populista pretende precisamente se apropriar da “vontade popular”; para citar Ali Esbati, “dos que pertencem a uma elite em certos meios e não podem suportar ver que os que eles desprezam ocupam o terreno para se tornarem mais visíveis na sociedade. Eles odeiam o movimento operário, as organizações para a libertação das mulheres ou ainda as personalidades de meios culturais ou acadêmicos que se expressam em favor de outra ordem social”. Helge Luras, “especialista em terrorismo” do muito reputado Instituto Norueguês de Relações Internacionais (Nupi), confirmou isso numa rede de televisão russa (Russian Today, 22 de julho), afirmando que “os multiculturalistas carregam a responsabilidade do atentado, pois eles abafaram a vontade popular com sua política de imigração”.

No entanto, mesmo que uma violência excepcional como essa tenha acontecido na Noruega, a onda direitista não se limita à Escandinávia. Se acreditarmos em Esbati, é inclusive fora do contexto escandinavo que é preciso procurar a origem disso. “Em todo o mundo ocidental, ao longo dessas últimas décadas, as forças muito organizadas do capitalismo trabalharam contra a estagnação econômica através de uma exploração ainda mais dura e da recuperação de antigos bastiões do movimento operário, atacando de passagem os regimes de previdência, os serviços de saúde pública e o direito trabalhista. Essa situação degradada cria um ambiente social dividido segundo linhas étnicas e religiosas. Esses temas são recorrentes e transnacionais.”

Rémi Nilsen

Jornalista, é o responsável pela edição norueguesa do Le Monde Diplomatique

Ilustração: Pool News / Reuters

1 Dagsavisen, Oslo, 25 jul. 2011.
2 Partido Trabalhista, Partido Socialista de Esquerda – fundado nos anos 1970, contra a política pró-norte-americana dos trabalhistas – e Partido do Centro.
3 Nas últimas eleições, em setembro de 2011, ele teve apenas 11,5% dos votos.
4 Bat Ye’or, Eurabia. L’axe euro-arabe [Eurábia, o eixo euro-árabe], Edições Jean-Cyrille Godefroy, Paris, 2006.
5 Andreas Malm, Hatet mot muslimer [O ódio contra os muçulmanos], Atlas, Estocolmo, 2011.
6 Aftenposten, Oslo, 1º ago. 2011.
7 Dados do Escritório Nacional de Estatísticas (www.ssb.no).
8 “A imigração e os imigrantes 2010”, Escritório Nacional de Estatísticas.
9 “A nova Noruega. A concentração do poder econômico do período pós-1990”, Manifest, Oslo, 2011.
10 Atrás de Liechtenstein e Luxemburgo.

Fonte: Le Monde Diplomatique Brasil
http://diplomatique.org.br/artigo.php?id=1207

Observação: apesar do viés da publicação, isto não comprometeu o conteúdo da matéria. A matéria é relevante pois descreve como a visão do assassino da Noruega é bem compartilhada na Europa e fora dela. Não se trata de um "louco" e sim de um extremista que pôs em prática o que muita gente em vários países europeus (e não-europeus) pensam sobre imigrantes, racismo etc.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Hungria vê renascer um antissemitismo soterrado durante ditadura comunista

Budapeste - Entre antigas lideranças do regime nazista perdoadas, criminosos de guerra nazistas em liberdade e outros incidentes que refletem uma tolerância do governo conservador com a extrema direita, a Hungria ainda enfrenta um de seus velhos fantasmas, o antissemitismo.

Em Budapeste há 17 anos, Laszlo Csatary, chefe da polícia do gueto judeu da cidade eslovaca de Kosice (Kassa em húngaro, Kaschau em alemão) durante a Segunda Guerra Mundial, não havia sido perturbado até agora pelas autoridades, apesar das informações sobre seu passado apresentadas há dez meses pelo Centro Simon Wiesenthal, com sede em Jerusalém.

O Centro denuncia o papel de Laszlo Csatary, de 97 anos, na morte ou deportação de 15.700 judeus de Kosice.

A justiça húngara indicou em 16 de julho "problemas" na investigação iniciada em setembro de 2011, baseando-se em informações do Centro, principalmente por causa da distância temporal e geográfica dos fatos, assim como pela localização no exterior das testemunhas sobreviventes.

No ano passado, um tribunal de Budapeste absolveu "por falta de provas" o húngaro Sandor Kepiro, suspeito de crimes de guerra em 1942 na Sérvia, então anexada pela Hungria, aliada da Alemanha nazista. Kepiro morreu alguns meses depois, aos 97 anos de idade.

Renascimento de um "culto Horthy"

Nos últimos anos, a Hungria viu renascer um antissemitismo soterrado durante muito tempo sob a ditadura comunista, oculto por razões ideológicas para explorar a fibra do combate antifascista da Segunda Guerra Mundial.

Prova disso é o ressurgimento do "culto" a certas lideranças nazistas, principalmente ao aliado de Adolf Hitler, Miklos Horthy, regente que ficou no poder de 1920 a 1944, cujo nome foi recentemente atribuído a um parque e que tem sua imagem exibida em bustos e estátuas em localidades húngaras.

O escritor Joszef Nyirö, membro da direção do Partido Nazista da Cruz Flechada, foi homenageado durante uma recente cerimônia na presença do presidente do Parlamento, Laszlo Kövér, membro do partido no poder (Fidesz), e do primeiro-ministro conservador, Viktor Orban.

O renascer de um "culto Horthy", iniciado pelo partido de extrema direita Jobbik (16,71% nas eleições legislativas de 2010), mas apoiado por lideranças do Fidesz, coincide com uma multiplicação dos incidentes de caráter antissemita.

Em janeiro, o pianista húngaro Andras Schiff, que vive nos Estados Unidos, cancelou seus concertos na Hungria, depois de ter sido chamado de "judeu desgraçado" na internet.

Em março, o escritor húngaro de origem judaica Akos Kertész, de 80 anos, deixou a Hungria, pediu asilo político no Canadá e se queixou de ter sido ameaçado por simpatizantes da extrema direita e do governo conservador.

No início de maio, a Federação de Comunidades Judaicas da Hungria (Mazsihisz) denunciou a discriminação racial contra um ator húngaro, Joszef Szekhelyi, que havia sido marginalizado em um festival cultural por suas origens.

No início de junho, o Grã-Rabino Jozsef Schweitzer, de 90 anos, foi insultado na rua: "Ódio a todos os judeus", disse uma pessoa. O governo húngaro denunciou essa agressão verbal.

Fonte: FP (France Presse)
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/mundo/2012/07/17/interna_mundo,312501/hungria-ve-renascer-um-antissemitismo-soterrado-durante-ditadura-comunista.shtml

terça-feira, 17 de julho de 2012

França - Arquivos sobre o holocausto são exibidos pela 1º vez

Os perturbadores arquivos policiais sobre a maior deportação de judeus franceses durante Segunda Guerra Mundial estão sendo abertos ao público pela primeira vez, um raro retrato dos dias mais sombrios da colaboração da França com os nazistas.

A mostra, que começa nesta terça-feira, coincide com o 70º aniversário da batida policial em Paris que mandou mais de 13 mil judeus para o campo de extermínio de Auschwitz. Fotos, assinaturas e registros de bens pessoais de muitas vítimas entregues em 16 e 17 de julho de 1942 estão em exibição na prefeitura de Paris.

O presidente François Hollande vai fazer um discurso em memória à deportação no antigo velódromo de inverno, no domingo, o primeiro evento em lembrança do acontecimento em 17 anos. As informações são da Associated Press.

Fonte: AP
http://www.dgabc.com.br/News/5969375/arquivos-sobre-o-holocausto-sao-exibidos-pela-1-vez.aspx

Homenaje al holocausto de judíos franceses cerca de Paris (Televisa, México)

sábado, 14 de julho de 2012

Aparece degolado um juiz tcheco que condenou neonazis

O falecido enviou à prisão quatro extremistas que atacaram a casa de uma família cigana com bombas incendiárias
11.07.12 - 02:29 - PACO SOTO | VARSÓVIA.

A extrema-direita hostiliza
os ciganos tchecos. :: EFE
A Policía da República de Tcheca investiga a morte do juiz Miloslav Studnicka, que há dois anos condenou a penas de 20 e 22 anos de prisão a quatro neonazis que haviam atacado uma família cigana. O magistrado, de 64 anos, foi encontrado degolado em sua casa de campo na segunda-feira. Os investigadores não descartam nenhuma hipótese e buscam alguma relação direta entre aquela condenação, ou julgamentos contra o crime organizado dos quais participou o falecido, e sua morte.

Os quatro neonazis condenados por Studnicka foram acusados de haver atacado a casa de uma família cigana com bombas incendiárias, o que fez com que uma criança de dois anos ficassem gravemente ferida, com queimaduras em 80% do corpo e sequelas para toda a vida. Em declarações à emissora Rádio Praga, o ministro da Justiça, Pavel Blazek, ressaltou que "caso seja demonstrado que a morte do juiz está vinculada com o trabalho realizado e as sentenças ditadas, devo dizer que isto representaria uma tragédia para a justiça tcheca".

Alertados pelos companheiros de Miloslav Studnicka, porque este não retornou ao seu lugar de trabalho no Tribunal Provincial de Ostrava, a polícia e um grupo de socorristas se dirigiram à casa de campo do magistrado e o encontraram morto em seu interior, com o pescoço cortado e várias feridas visíveis em outras partes do corpo. A notícia do assassinato do juiz comoveu à sociedade tcheca, que vê com preocupação a ascensão da extrema-direita, sobretudo de grupos neonazis violentos.

No ano passado estouraram no norte da Boêmia violentos enfrentamentos entre grupos de cidadãos partidários da extrema-direita e membros da comunidade cigana. A polícia avisou há alguns meses que a extrema-direita tcheca, que está se fortalecendo através das redes sociais, participa de mobilizações contra os ciganos.

Homenagem boicotada

Por outra parte, uma homenagem oficial aos ciganos tchecos exterminados pelos nazis durante à Segunda Guerra Mundial, que ocorreu na segunda-feira na localidade onde fora levantado o campo de concentração de Lety (Boêmia do Sul), foi boicotado por várias associações defensoras desta coletividade. O protesto desencadeou a negativa do governo de centro-direita de Petr Necas a desmantelar uma pocilga industrial para cerdos que ocupa agora o lugar onde os nazis construíram a sinistra instalação.

A justificativa da falta de meios manifestada por Necas não convence o presidente do Comitê para Indenização do Holocausto Cigano e vice-presidente do Partido Cigano para a Igualdade de Oportunidades, Cenek Ruzicka. "Se o governo assegura que quer honrar à memória das vítimas, o primeiro que teria que ser feito é desmantelar a pocilga", resume.

As instalações industriais foram construídas nos anos 70 do século XX, durante o regime comunista tchecoslovaco, e desde então vários governos prometeram desmantelá-las. Em 2010 abriram no antigo emplazamiento do campo de concentração um lugar de oração e uma exposição permanente sobre o Holocausto. Em Lety morreram 90% dos 5.000 ciganos pegos pelos nazis.

Fonte: elcorreo.com (Espanha)
http://www.elcorreo.com/vizcaya/v/20120711/mundo/aparece-degollado-juez-checo-20120711.html
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
Encuentran degollado al juez checo que condenó a neonazis por atacar a una familia gitana (20minutos.es, Espanha)

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Campo de detenção para imigrantes marca ascensão de direita radical na Grécia

De socialistas à extrema direita, partidos gregos instrumentalizam xenofobia para vencer próximas eleições. Centro de detenção na periferia de Atenas comporta mil estrangeiros sem documentos.

A Grécia abriu nesta segunda-feira (30/04), na periferia da capital, seu primeiro campo de detenção especialmente construído para imigrantes sem permissão de residência. A inauguração transcorreu a uma semana das eleições nacionais, em cuja campanha a imigração tem emergido como fator central, em meio a recessão e endividamento crônicos.

Pesquisas de intenção de voto mostram que os extremistas de direita contam com o apoio de 5% do eleitorado grego. Isso lhes garantiria assentos no parlamento pela primeira vez. Os imigrantes têm sido alvo da campanha eleitoral dos radicais.

Como recurso para conquistar votos, o partido socialista PASOK, atualmente no poder, e seu rival conservador Nova Democracia também prometem combater a imigração. Numa manifestação em Atenas, nesta segunda-feira, o ministro da Proteção Civil, Miahlis Chrysohoidis, declarou: "Estamos enviando uma mensagem em todas as direções: o país não está mais desguarnecido".

Na semana anterior, o líder oposicionista conservador Antonis Samaras declarara que deteria o que chamou de "invasão desarmada" por parte de imigrantes sem permissão.

Moradores protestam: medo da criminalidade

Polícia grega torna dfícil
a vida dos estrangeiros
Segundo um porta-voz da polícia, o campo de detenção comporta até mil presos. Até o momento, várias dezenas de pessoas foram transferidas para o local e alojadas em contêineres originalmente destinados a abrigar vítimas de desastres naturais, como terremotos.

A unidade se situa em Amygdaleza, no limite norte de Atenas. Seus moradores realizaram uma série de protestos contra a inauguração, alegando que o campo contribuirá para aumentar a criminalidade no local. Segundo Panayiotis Anagnostopoulos, vice-prefeito de Acharnes, a 25 quilômetros da capital, as autoridades locais já apelaram para a Justiça, numa tentativa de sustar a inauguração do campo. "Espero que os tribunais ajam rapidamente", declarou.

Até meados de 2013, está planejada a construção no país de um total de 50 campos de detenção para imigrantes não legalizados.

Cercas e batidas

As autoridades gregas estão também erguendo uma cerca de arame ao longo de parte do Rio Evros, que faz fronteira com a Turquia e configura um importante ponto de ingresso dos imigrantes ilegais.

Nos últimos anos – desde a adoção de medidas de controle mais severas nas outras fronteiras no Mar Mediterrâneo – a Grécia se tornou o principal ponto de acesso à União Europeia para imigrantes sem papéis. A cada ano, cerca de 130 mil deles – 90% do volume total do bloco de 27 países – entram na UE através da Grécia.

Numa batida no início de abril, a polícia deteve milhares de chamados "imigrantes ilegais" que ocupavam prédios vazios em Atenas. As autoridades calculam que haja cerca de 1 milhão de imigrantes em meio à população da capital, de 11 milhões de pessoas. Atualmente estão sendo processados 30 mil requerimentos de asilo.

Extremistas em ascensão

Dezenas de pessoas já foram
transferidas para campos de detenção
Até pouco tempo atrás, o partido Aurora Dourada era relativamente obscuro. Nas eleições de 2009 ele conseguiu ínfimo 0,23% dos votos. Seus membros fazem saudações fascistas e preconizam responsabilizar os políticos pela crise econômica nacional, deportar os imigrantes e selar as fronteiras nacionais com minas terrestres.

Recentemente, Ilias Nicolacopoulos, professor de Ciência Política na Universidade de Atenas, advertiu para um avanço do Aurora Dourada nas pesquisas de opinião. Ele classifica o grupo como "a forma mais extrema da extrema direita".

Ketty Kehagioglou, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) em Atenas, confirmou existir na Grécia "uma tendência alarmante de ataques racistas contra estrangeiros não pertencentes à UE". "Em épocas de instabilidade é sempre fácil procurar bodes expiatórios", declarou.

AV/afp/rtr/dapd/dpa
Revisão: Francis França

NOTÍCIAS / Política
União Europeia

Fonte: Deutsche Welle (Alemanha)
http://www.dw.de/dw/article/0,,15920422,00.html

quarta-feira, 11 de julho de 2012

O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939 - parte 03

As igrejas alemãs ante Hitler

A igreja alemã na Argentina, Brasil e Chile, junto com as escolas, foi um foco de vida e cultura nas comunidades alemãs. Como na velha pátria, dois terços dos alemães praticavam o protestantismo e um terço o catolicismo. Os sacerdotes católicos estavam subordinados ao bispado local, independentes da igreja do Reich. Mas ao contrário, os pastores luteranos estavam incorporados às igrejas alemãs, e muitos deles foram enviados da Alemanha. Com a alienação da igreja luterana ao Terceiro Reich, as paróquias se subordinaram à central alemã, cujo representante na América Latina foi o Primeiro Pastor Marczynski, em Buenos Aires [58]. Existiam vários sínodos, entre eles o sínodo do Chile com 8 pastores, o de La Plata com 20 pastores, e 3 sínodos no Brasil com 145 pastores no total. Além disso havia comunidades eclesiásticas independentes, como os batistas, e também o sínodo luterano do Missouri (EUA).

Não só se pode falar de uma alienação das igrejas luteranas no Chile, sendo que é necessário explicar que os pastores de fato desempenharam um papel ativo nela. Estes predicaron contra a crítica antinazi na cátedra com argumentos quase religiosos, e elogiaram a reorganização da vida social e nacional da Alemanha [59]. Seis dos oito pastores do sínodo cheleno eram membros do partido; por outro lado, o NSDAP participou das celebrações da igreja luterana com uniforme e bandeiras com suástica [60].

A alienação das igrejas alemãs na Argentina se desenvolveu da mesma maneira que no Chile [61], ainda que os pastores solían ser mais reservados em suas prédicas que seus colegas chilenos. Somente uns poucos foram membros do NSDAP [62], e só depois das pressões da igreja central em Berlim estes se mostraram dispostos a içar a bandeira nazi nos dias festivos [63].

Também no Brasil teve lugar uma alienação organizacional. O partido usou a ajuda financeira do Reich para eliminar pastores politicamente inseguros [64]. Existia, além disso, uma organiazação dos pastores nacional-socialistas que queriam introduzir um fundamento ideologico nazi na igreja alemã do Brasil [65]. Seus críticos recorriam à consabida argumentação segundo a qual surgiriam dificuldades com o governo brasileiro se a igreja estabelecesse vínculos demasiados estreitos com o NSDAP [66].

No começo, os católicos alemães na América Latina saudaram o governo de Hitler. Em fins de 1935, sobretudo depois das perseguições de curas na Alemanha, tomaram uma posição mais crítica frente ao Terceiro Reich. A primeira publicação católica em língua alemã que rechaçou o racismo, o antissemitismo e as agressões políticas e militares do Terceiro Reich foi o Deutscher Sonntagsbote no Chile. No Brasil, o Deutsches Volksblatt seguiu o exemplo do Sonntagsbote a partir de 1938 e não deixou lugar a dúvidas quanto a sua posição antinazi [67].

As associações alemãs e o nazismo

Apesar de que o NSDAP havia assegurado mais de uma vez que não queria conquistar para si a direção das associações, sua política deixou claro que esse era precisamente seu objetivo, o qual provocou diversos conflitos por cargos influentes e de prestígio [68]. O partido no Chile conseguiu concentrar as distintas associações em um 'comitê de colônia', dominado por ele [69]. Sem que isto supusesse ainda a dependência das diferentes associações do NSDAP> Por isso o partido tratou de obter a maioria nas instituições, ordenando a seus membros que se incorporassem a estas [70]. Normalmente o NSDAP não se via obrigado a usar esses métodos. Na maioria dos casos, as associações se alienavam por si mesmas [71]. O partido solicitou as associações que participaram nas festividades nazis e que oferessiam conferência sobre o nacional-socialismo, esperando, assim, difundir a ideologia nazi entre os chilenos de origem alemã.

Na Argentina, a maioria das associações aceitou a ideologia nacional-socialista sem que tivesse que exercer pressões visíveis. Em princípios de 1935, o NSDAP em Buenos Aires organizou protestos contra a obra do teatro antinazista As Raças (Las Razas), de Ferdinand Bruckner. O jornal La Plata Post informou que mais de "160 associações e comunidades alemães" haviam apoiado os protestos [72]. Inclusive o Argentinisches Tageblatt se viu forçado a reconhecer o sucesso absoluto do NSDAP [73]. Só um pequeno número de associações, menos de 10, conseguiram manter sua independência.

Diferentemente do Chile e Argentina, a maioria dos alemães no Brasil viviam dispersos, preferentemente em regiões rurais do sul do país. Este fato complicou consideravelmente o processo de alienação. Muitas associações não estavam ligadas à Alemanha. Enquanto que o NSDAP tinha sucesso em grandes cidades, muitas vezes lhe parecia que as colônias alemães mais isoladas do sul as declarações de lealdade da nova Alemanha cumpriam um falso ritual [74]. Alguns intentos de manipular as eleições de juntas diretivas através do ingresso massivo de membros do NSDAP terminaram em derrota [75]. Os esforços em afiliar várias associações às centrais na Alemanha fracassaram, já que aquelas não queriam se alienar totalmente com a central na Alemanha; para muitos brasileiros de descendência alemã, estes intentos pareciam uma "traição à pátria brasileira" [76].

Conclusões

Antes de 1933, os grupos do NSDAP na América Latina atuaram de acordo com uma tática política inapropriada frente às comunidades alemães, as quais resistiam a que traslandassem para a América Latina as duras lutas políticas da República de Weimar, porque isto ameaçaria a pretendida unidade dos alemães. O Chile foi o único país onde o partido foi aceito, devido a sua hábio e cautelosa propaganda.

Até o ano de 1937, o partido conseguiu alinhar a maioria das instituições alemães na Argentina, Brasil e Chile. Além das associações principais, o NSDAP preocupou-se com as escolas, porque lhe parecia importantes para a instrução ideológica. Neste campo, a alienação conseguida foi quase completa, pois a maioria destas instituições dependia da ajuda pecuniária e de pessoal docente do Reich. Somente em Buenos Aires se fundou uma escola que não aceitava o ensino nazista. No Brasil fracassou o intento de influir diretamente nas escolas, e não por rechaço da ideologia e política nazi, senão pela necessidade de aclamar as tendências nacionalistas das autoridades brasileiras [77].

A igreja alemã havia influído sempre no pensamento das comunidades, sobretudo nas regiões rurais. Os pastores luteranos, pertencentes à central na Alemanha não se limitaram à condução espiritual, senão que, desde o púlpito, justificaram e glorificaram a ideologia e política do Terceiro Reich. Por outro lado, a Igreja Católica não se pôs a serviço do nacional-socialismo, ainda que tenha saudado a renovação da Alemanha, nunca adotou ou propago a ideologia nazi [78]. Em meados dos anos trinta, a igreja católica alemã no Brasil começou a se distanciar de forma crescente do nazismo e se uniu aos poucos críticos dentro das comunidades alemães.

Ao alinhar as inumeráveis associações, o NSDAP teve grande sucesso no Chile, enquanto que na Argentina e no Brasil não foi capaz de organizar a comunidade alemã no mesmo nível, apesar de que contava com a benevolência das associações. A disposição cultural e ideológica da população alemã na América Latina facilitou a penetração nazista: todavia se sentiam parte do povo alemão por questões culturais, 'raciais' e de língua, o que havia provocado seu isolamento da população de origem hispânica e portuguesa. Em um terreno fértil como esse, a ideologia nazi podia prosperar. A ideia de manter puro o sangue alemão, que existia desde muito tempo, manifestou-se - por exemplo no Chile e no Brasil - em numerosas exigências de não se casar com não-alemães. O nacional-socialismo fez uso deste pensamento endogámico e o converteu em uma finalidade em si.

O antissemitismo nazi foi aceito até certo ponto, menos em um sentido estritamente 'racial', que como um 'argumento político' que se podia usar contra as supostas intenções dos judeus de 'dominar o mundo'. Em meados dos anos trinta, esta propaganda nazista tornou possível a colaboração dos nazis alemães com grupos de extrema-direita na América Latina contra a imigração de judeus para Argentina, Brasil e Chile [79].

Até meador dos trinta, as manifestações do NSDAP, sua atuação e seu desempenho político nos países referidos não eram de interesse das autoridades nacionais, nem equer quando a influência nazi se extendia aos chilenos, argentinos e brasileiros de origem alemã. No Chile, o governo de Alessandri mantinha as tradicionais boas relações com a Alemanha. O NSDAP podia atuar sem restrições das autoridades chilenas. Somente havia conflitos com a DJC, que francamente pretendia impedir a assimilação da juventude de origem alemã na pátria chilena [80]. Com o aumento do Movimento Nacional-Socialista do Chile (MNS) em meados dos anos trinta, despertou-se a suspeita de que este recebia ajuda do Terceiro Reich, o qual nunca se pode comprovar [81]. Nem sequer a ascensão ao poder da Frente Popular piorou as relações com a Alemanha, pois, entre seus dirigentes, havia velhos amigos desse país, como Carlos Ibáñez del Campo.

Também na Argentina houve uma certa indiferença quanto à atuação do NSDAP. A partir de 1934 o Terceiro Reich desenvolveu um intercâmbio comercial intensivo, tomando dos EUA do segundo lugar na balança comercial argentina. Contrariamente, grupos democráticos e de esquerda argentinos começaram a criticar as atividades do NSDAP. A Câmara de Deputados constituiu diversas 'comissões investigadoras das atividades antiargentinas'. A polícia vigiava o partido desde 1937 [82] e, apesar de uma comissão ter absolvido o partido do cargo de que a Alemanha tentou anexar o sul do país, o NSDAP teve que se dissolver em 1939 [83].

Ainda que o Brasil tivesse o mesmo interesse em manter boas relações econômicas, sua política frente a atuação do NSDAP foi mais restritiva. Devido à política de unidade nacional brasileira iniciada em 1930, a independência cultural dos brasileiros de origem estrangeira foi reprimida quase que por completo, e por conseguinte também o trabalho do NSDAP. O governo limitou as atividades das associações e exigiu uma adesão manifesta à pátria brasileira [84].

Com a proibição do partido no Brasil, em abril de 1938, mudaram também as condições na Argentina e no Chile. Os membros do NSDAP deviam se retirar das direções das instituições alemãs, e suas ações foram vigiadas pelas autoridades.

Ao começar a Segunda Guerra Mundial, os alemães se solidarizaram com o Terceiro Reich. Publicaram jornais em espanhol e português em defesa da propaganda hostil e buscaram a colaboração com grupos de direita, sobretudo militares da reserva e da ativa que conheciam e admiravam o sistema militar alemão [85]. Com a entrada na guerra dos Estados Unidos, e pouco depois do Brasil, a situação piorou. Os Aliados exigiram ações contra a chamada 'Quinta Coluna', quer dizer, uma vigilância mais forte dos alemães em geral. O NSDAP no Chile se dissolveu em fevereiro de 1942 e, em início de 1943 o Chile rompeu relações diplomáticas com a Alemanha.

Com o golpe de estado em 1943, a situação dos alemães na Argentina melhorou. Contugo, a Argentina teve de romper relações com o Terceiro Reich em janeiro de 1944 devido a pressões norte-americanas e britâncias.

Só um punhado de instituições alemãs sobreviveu ao fim da guerra sem maior dano. O NSDAP e seu Führer - que havia pretendido dominar a tudo e a todos - desacreditaram o nome alemão de tal modo que nunca mais se podia reestabelecer uma vida comum, social e cultural tão variada como a que havia existido durante mais de um século. Mas tampouco se pode absolver os alemães da Argentina, Brasil e Chile - tanto cúmplices como vítimas do sistema hitlerista - de uma certa culpa em seu próprio destino.

NOTAS

[58] Marczynski entrou no partido em maio de 1934. US War Department 1946, Nazi Party Membership Records Argentina.

[59] Der Missionsbote, 9/33, p. 12, 10/33, p. 6; Deutsch- Evangelisch in Chile, 3/34, p. 42, 3/37, pp. 39 e ss.

[60] WestkÜsten-Beobachter, 5.9.35, pp. 72 y ss.; Deutsche Monatshefte für Chile, 10/36, p. 1489.

[61] Evangelisches Gemeindeblatt, 15.5.34, p. 115, 1.10.34, p. 235.

[62] US War Department 1946, Nazi Party Membership Records Argentina; trata-se de seis dos vinte pastores do sínodo.

[63] MRE, Actas de la embajada alemana en Buenos Aires, punto 24, Flaggenfragen, embajada alemana en Buenos Aires al MRE, 4.12.35; ídem., Marczynski, Reglas para embanderar las iglesias de las parroquias protestantes en Argentina, 30.3.36.

[64] Evangelisches Zentralarchiv, Berlin (archivoquivo central da igreja protestante, daqui em diante EZA), 5/2487, direção da AO a Kirchliches Au6enamt, 22.9.37.

[65] Idem., 5/2264, Relatório sobre a situação atual do sínodo riograndense alemão, 9/34; Deutsche Evangelische BlÜtter für Brasilien, 3-5/34, p. 53; Hans-JÜrgen Prien, "Die 'Deutsch- Evangelische' Kirche in Brasilien im Spannungsbogen van nationaler Wende (1933) und Kirchenkampf", Jahrbuch für Geschichte von Staat, Wirtschaft und Gesel1schaft Lateinamer- ikas, 25 (1988), pp. 511-534.

[66] EZA, 5/2055, Relatório sobre a conferência dos dirigentes da igreja alemã na América Latina, Santos, 11-14 julio 1935.

[67] Ver Gaudig/Veit, op. cit., pp. 464 e ss.

[68] EZA, 7/2759, Suplemento ao relatório anual da paróquia de Valparaíso, março 1934; idem., 5/2730, Pastor Otto Brien à igreja alemã no Reich, 31.12.33.

[69] MRE, Pol. Abt. III, Legación alemã em Santiago ao MRE, 7.2.35.

[70] Por exemplo, 70 membros do NSDAP ingressaram na Deutscher Verein, a associação mais importante de Santiago. Mitteilungsblatt der NSDAP - Landesgruppe Chile, 31.5.34, p. 23.

[71] Deutsche Zeitung fÜr Chile, 27.4.33, p. 5, 26.5.33, p. 5.

[72] La Plata Post, 10.1.35, pp. 12 e ss.

[73] Argentinisches Tageblatt, 30.1.35, p. 3.

[74] Deutscher Margen, 27.4.32, pp. 9 e ss.; Der Nationalsozialist, 8/33, pp. 8 e ss.

[75] Aktion, 17.7.35, p. 2.

[76] Die Serra-Post, 14.9.37, p. 1; Der Turnerbote, 8/37, p. 3; Alarm, 15.2.37, p. 15.

[77] A este respeito, ver César Augusto de Paiva, Die deutschsprachigen Schulen in Rio Grande do Sul und die Nationalisierungspolitik, Hamburg 1984.

[78] De Curitiba, o consul alemão informou que o Terceiro Reich não podia esperar um trabalho nazista dos padres alemães no Brasil, mas que sempre se podia contar com sua participação nas festividades nacionais e nacional-socialistas. A oposição dos franciscanos ao nazismo não excedia à crítica 'normal' do campo católico. MRE, R 62194, consulado alemão em Curitiba ao MRE, 9.5.35.

[79] Ver Olaf Gaudig/Peter Veit, op. cit., pp. 257 y ss.

[80] No Chile, a DJC foi proibida por três meses na região de Valdivia, em setembro de 1937, por haver feito propaganda política. MRE, Pol IX, Pol Chile 2, consulado alemão em Valdivia à embaixada alemã em Santiago, 15.9.37; idem., 4.12.37.

[81] Ver Olaf Gaudig/Peter Veit, op. cit. (1994).

[82] Em Missões, Argentina, a polícia prendeu no mesmo ano uma casa do partido, porque argentinos de origem alemã haviam participado de reuniões políticas. MRE, R 104923, chefe do ponto de apoio em Eldorado ao chefe do NSDAP, 15.9.37; idem., embaixada alemã em Buenos Aires ao MRE, 13.10.37.

[83] Leslie B. Rout/John F. Bratzel, "Heinrich JÜrges and the Cult of Disinformation", The International History Review, 4 (nov. 1984), pp. 611-623.

[84] No Estado Novo do presidente Getúlio Vargas não havia lugar para partidos políticos. O NSDAP no Brasil foi proibido cinco meses depois de todos os partidos brasileiros. A partir de 1935, no Rio Grande do Sul e mais tarde em Santa Catarina e Paraná, as associações, escolas e publicações alemãs tinham que provar seu 'caráter brasileiro', quer dizer, seus diretores deviam ser cidadãos brasileiros nascidos no país. Nas escolas, o uso do português era obrigatório, e os diários em língua alemã tinham que publicar o editorial no idioma português. Ver Káte Harms-Baltzer, Die Nationalisierung der deutschen Einwanderer und ihrer Nachkommen in Brasilien als Problem der deutsch-brasilianischen Beziehungen 1930-1938, Berlin 1970, pp. 42 e ss.; René Ernaíni Gertz, Politische Auswirkungen der deutschen Einwanderung in SÜdbrasilien. Die Deutschstdmmigen und die Jaschistischen Stdmungen in den 30er Jahren, Berlim 1980, pp. 85 e ss. Em agosto de 1941, a imprensa de língua alemã morreu. O orgão do NSDAP em São Paulo, o Deutscher Morgen - agora sob o título de Aurora Allemd, escrito completamente en português - foi suspenso em dezembro de 1941, o último dos jornais de origem alemã. Ver Olaf Gaudig/Peter Veit, op. cit., p. 396.

[85] Ver, a este respeito, Juergen Schaefer, Deutsche Militdrhilfe an Sildamerika. Militdr - und Rüstungsinteressen in Argentinien, Bolivien und Chile vor 1914, Düsseldorf 1974; Robert A. Potash, The Army and Politics in Argentina 1928-1945. Yrigoyen to Perón, Stanford 1969; Patricio Quiroga Zamora/Carlos Maldonado Prieto, El Prusianismo en las Fuerzas Armadas chilenas. Un estudio histórico 1885-1945, Santiago de Chile 1988.

Fonte: Instituto de História e Cultura de América Latina
Autores: Olaf Gaudig e Peter Veit (Freie Universität Berlin)
http://www.tau.ac.il/eial/VI_2/gaudig_veit.htm
Tradução: Roberto Lucena

Ver Parte 01 e Parte 02.

sábado, 7 de julho de 2012

U-507: O submarino que afundou o Brasil na Segunda Guerra

Livro-reportagem detalha episódio que jogou o Brasil na Segunda Guerra

A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial completa 70 anos em agosto próximo. A decisão foi tomada pelo então presidente Getúlio Vargas depois que o submarino alemão U-507 torpedeou cinco navios nacionais, no litoral de Sergipe e da Bahia, entre os dias 15 e 17 de agosto de1942, causando a morte de 607 brasileiros. Uma semana depois, Vargas decretou estado de beligerância à Alemanha e à Itália e, no dia 31 de agosto, declarou guerra.

O episódio, ainda pouco conhecido dos brasileiros, é o tema do livro-reportagem “U-507 – O submarino que afundou o Brasil na Segunda Guerra”, que marca a estréia no mercado editorial do jornalista gaúcho Marcelo Monteiro, pela Editora Schoba, com prefácio de Luis Fernando Verissimo. A obra, que será lançada oficialmente em 20 de junho, às 19h30, na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi, em Brasília, é resultado de três anos e meio de pesquisas e entrevistas. Com cerca de 350 páginas, o livro-reportagem revela em detalhes os afundamentos dos mercantes Baependy, Araraquara, Aníbal Benévolo, Itagiba e Arará, mostrando o sofrimento das vítimas da carnificina nazista. A narrativa conta o drama de náufragos devorados por tubarões, de sobreviventes vagando por mais de dois dias sem água ou comida e da menininha que sobreviveu ao afundamento do Itagiba boiando por horas dentro de uma caixa de madeira vazia.

Até então, o Brasil procurava manter-se neutro no conflito. Mas, depois de romper relações diplomáticas com o Eixo – em função do ataque à base americana de Pearl Harbor, em dezembro anterior –, o País colaborava com o esforço de guerra ianque, exportando borracha e outros itens essenciais à indústria bélica dos Estados Unidos. Após o ataque aos navios brasileiros e diante da revolta da população, que saiu às ruas em protesto, depredando estabelecimentos comerciais pertencentes a imigrantes alemães, italianos e japoneses, Vargas viu-se obrigado a abandonar a condição de não beligerante.

Além de entrevistar sobreviventes dos naufrágios, Monteiro teve acesso ao diário de bordo de Harro Schacht, comandante do submarino alemão. Assim, além da rotina nos navios afundados, o livro também detalha, com base nos documentos nazistas, o cotidiano do próprio submersível, corrigindo alguns equívocos históricos, como o de que todos os vapores brasileiros teriam sido afundados com dois torpedos (somente o Baependy recebeu dois disparos) e trazendo uma nova – e talvez definitiva – versão para o episódio.

História viva

Entre os personagens localizados pelo autor está a alagoana Walderez Cavalcante, de 74 anos. Em 1942, com apenas quatro anos de idade, ela foi resgatada do naufrágio do Itagiba depois de permanecer cerca de quatro horas boiando dentro de uma caixa de transporte de Leite Moça. “O pessoal da baleeira me botou numa caixa de leite condensado da Nestlé, vazia, e me disse: ‘segure, não solte’”, lembra a psicóloga aposentada.

Outra náufraga entrevistada para o livro é Vera Beatriz do Canto, hoje com 74 anos, filha do capitão do Exército José Tito do Canto. Dias antes do ataque do U-507,a mãe de Vera, Noêmia, tivera um pesadelo: vira um navio preto, com centenas de pessoas vestindo preto e com um número 13 estampado no casco. No dia 13 de agosto de 1942, às 13 horas, o Itagiba partiu do armazém 13 do cais do porto do Rio de Janeiro em direção a Salvador. Essa seria a sua última viagem. No dia17, duas horas antes da chegada a Salvador, o vapor foi alvejado pelo submarino nazista, próximo ao Morro de São Paulo.

O soldado Dálvaro José de Oliveira era um dos soldados da tropa comandada pelo pai de Vera, que estava sendo transferida do Rio para Olinda (PE), onde seria formado o 7º Grupo de Artilharia de Dorso. Outro contingente de soldados do mesmo pelotão seguia no Baependy, que partira dois dias antes do Itagiba. No dia 15, o Baependy foi torpedeado. O Itagiba teria o mesmo destino no dia 17.Centenas de militares perderam a vida nos dois ataques alemães.

Às margens do Rio Una, em Valença, cidade para onde foram levados os náufragos e feridos dos naufrágios de Itagiba e Arará, o soldado Oliveira e seus colegas sobreviventes juraram vingança. Assim, em 1944, Oliveira embarcou para a Itália, onde ajudou a eliminar o nazifascismo. “Nossa vitória na guerra foi uma homenagem àqueles que morreram, inocentemente, nos navios mercantes brasileiros”,diz Oliveira, hoje com 92 anos, que até 2011 ocupava a presidência da Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira (ANVFEB).

Fonte: Portal FEB
http://www.portalfeb.com.br/u-507-o-submarino-que-afundou-o-brasil-na-segunda-guerra/

Ver mais:
Livro-reportagem relata como o Brasil participou da Segunda Guerra Mundial

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Hitler tentou "nazificar" alemães no Brasil

Nacionalismo brasileiro era incompatível com a agressiva política nazista. Guerra acelerou queda de Vargas, bem como a industrialização e americanização do país, diz professor.

Seitenfus: 'Minoria alemã foi alvo da propaganda nazista'

Em entrevista à DW-WORLD, o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (RS) Ricardo Seitenfus fala sobre o significado para o Brasil do final da Segunda Guerra Mundial. Autor do livro O Brasil vai à Guerra, ele aborda também a incompatibilidade entre o nacionalismo brasileiro e a política agressiva do nazismo, bem como as perspectivas de Brasil e Alemanha obterem mandatos no Conselho de Segurança da ONU, cuja reforma considera um ponto final do conflito ocorrido entre 1939 e 1945.

DW-WORLD: O que significou e/ou ainda significa o dia 8 de maio de 1945 para o Brasil?

Ricardo Seitenfus: O Brasil foi o único país latino-americano a participar efetivamente dos combates da Segunda Guerra Mundial ao enviar, em 1944, 26 mil soldados para o front italiano. Além disso, foi o primeiro país da região a romper as relações diplomáticas e comerciais com o Eixo (janeiro de 1942) e muito cedo lhe declarou guerra (agosto de 1942). Tal evolução colocou o Brasil no campo dos vencedores da guerra – o que levou o país a aspirar, sem sucesso em razão da oposição soviética, a integrar como membro permanente o Conselho de Segurança da ONU –, e o epílogo da guerra provocou profundas mudanças internas e externas para o país. Eis as principais:
- Tendo conquistado junto aos Estados Unidos apoio técnico e financeiro para o lançamento da indústria pesada – caso de Volta Redonda –, a economia do Brasil ingressa num ciclo de extraordinária industrialização que contrasta com o país agrário e atrasado que o caracterizava até então. Um pólo industrial se estabelece no triângulo São Paulo/Rio de Janeiro/Minas Gerais, que muda a face do país. Moderniza-o, provoca uma dupla migração campo/cidade – com elevados índices de urbanização – e Nordeste/Sul, provocando um desequilíbrio de desenvolvimento entre as regiões brasileiras. Surge uma classe média urbana que ditará os valores culturais e decidirá os rumos da política nacional. O desenvolvimento econômico brasileiro será estreitamente vinculado ao capitalismo internacional, sendo o país – pela primeira vez em sua história – integrado ao sistema internacional. A Alemanha Ocidental será, nessa fase, um dos principais parceiros do país.

- A mais imediata conseqüência política interna do final da guerra consiste no escancaramento da insustentável situação do presidente Getúlio Vargas – ditador desde o autogolpe de novembro de 1937 –, que é expulso do poder em 1945 e substituído, por meio de eleições, pelo general Eurico Gaspar Dutra. Tem início, então, um ciclo de aprendizado da democracia que é interrompido com o golpe militar de março de 1964 e retomado em 1990.

- A vitória aliada significa igualmente o fortalecimento e o aprofundamento do papel dos militares na política brasileira. Apesar das hesitações manifestadas pelos militares até dezembro de 1941, a partir de então eles desfrutam de um sentimento nacional que percebe as Forças Armadas como depositárias fiéis da Nação.

- As relações exteriores brasileiras conhecem uma profunda "americanização", tal como ocorreu na segunda metade do século 19. Washington encontra no Brasil um aliado confiável e o Brasil, por sua vez, não consegue perceber seus interesses no plano internacional sem referir-se aos Estados Unidos. Sai fortalecida do episódio, portanto, a influência – cultural, financeira, comercial, política, tecnológica – dos Estados Unidos no Brasil, a qual não encontra – como sucedeu na década de 1930 – nenhum obstáculo ou concorrente.
No livro O Brasil vai à Guerra, o Sr. analisa o envolvimento brasileiro no segundo conflito mundial, mostrando como os países periféricos penam para se enquadrar, quando os grandes resolvem brigar. Qual foi o custo/benefício do Brasil ao praticar, no período da guerra, uma política externa mais parecida com um jogo de pôquer? O Brasil foi obrigado a entrar no conflito ou foi porque assim o desejou?

Capa do livro 'O Brasil vai
à Guerra', de Ricardo Seitenfus
O Brasil foi um ator marginal ao drama da Segunda Guerra Mundial. Ele não possuía nenhum interesse aparente no conflito. Contudo, quando a guerra deixa de ser somente européia e se transforma em hecatombe mundial, nenhum país, por mais marginal que fosse, deixa de ser afetado. Neste sentido, o Brasil é conduzido à guerra muito mais pelas circunstâncias do que por um desejo belicoso. Em razão de sua extensão territorial (8,5 milhões de km²), de suas riquezas naturais, em particular os produtos fundamentais em tempos de guerra, sua localização estratégica que domina uma larga face do Atlântico Sul e a localização em seu solo de importantes núcleos de colonização oriunda dos países do Eixo – mormente alemães –, o Brasil logo se vê confrontado com os dilemas dos anos 1930 e da luta entre democracia e totalitarismo.

Em seu estudo, o Sr. confirma algumas interpretações da historiografia oficial sobre o vai-e-vem do Brasil na Segunda Guerra (a questão da Usina Siderúrgica de Volta Redonda, o oportunismo de Vargas, a simpatia de alguns integrantes de seu governo pela Alemanha etc). Que outros aspectos ainda pouco conhecidos influenciaram as posições assumidas pelo Brasil durante o conflito?

A principal contribuição inovadora de meu estudo à historiografia da Segunda Guerra Mundial consiste na afirmação consolidada de que o Brasil rompe com a Alemanha no início de 1938 em razão da incompatibilidade entre o nacionalismo brasileiro e a política agressiva do NSDAP (Partido Nacional-Socialista Alemão dos Trabalhadores) no Brasil junto à oposição a Vargas e sobretudo sua tentativa de manipular e "nazificar" a minoria alemã localizada essencialmente no Sul do país. A estratégia alemã de submissão da minoria alemã à ideologia nazista e a participação de Berlim na tentativa de putsch da Ação Integralista Brasileira contra Vargas, em maio de 1938, conduz o ditador a romper com a Alemanha. Certamente muitas peripécias ocorrerão a partir do início da guerra em setembro de 1939. Contudo, há uma consciência progressivamente majoritária dentro do governo brasileiro sobre a contradição em fortalecer o nacionalismo – força indispensável para a criação da nação brasileira – e os esforços feitos pela Alemanha para supostamente "proteger" a colônia alemã e seus descendentes. Essa mudança de perspectiva da atuação brasileira frente à Alemanha em particular e ao Eixo torna relativo o oportunismo de certos membros do governo brasileiro – em particular do próprio Vargas – quando da vitória do Eixo de maio de 1940.

No artigo O tardio final da Segunda Guerra (de 07/10/2004), o Sr. classifica a planejada reforma do Conselho de Segurança da ONU como "verdadeiro epílogo da Segunda Guerra Mundial". O Brasil pleiteia no G4 (junto com a Alemanha e o Japão – dois países do Eixo Berlim-Roma-Tóquio – e a Índia) um assento no CS e já participa de missões da ONU. Se conseguir a vaga, o Brasil será uma espécie de representante da América Latina no CS? Isso enfraqueceria a hegemonia que os EUA exercem sobre a América Latina desde a Segunda Guerra?

Manmohan Singh (primeiro-ministro da Índia), Junichiro Koizumi (premier japonês), Luiz Inácio Lula da Silva (presidente do Brasil) e Joschka Fischer (vice-chanceler da Alemanha) querem vagas para seus países no Conselho de Segurança da ONU

Parece-me evidente que o possível ingresso no Conselho de Segurança da ONU da Alemanha e do Japão (a Itália também reivindica tal ascensão) colocará um ponto final à Segunda Guerra Mundial. No caso brasileiro, trata-se de uma antiga reivindicação. Com efeito, em 1926, o Brasil – então membro do Conselho da Liga das Nações (LDN) – utilizou de forma dramática e contraproducente o seu poder de veto ao ingresso da Alemanha no Conselho da LDN após os Acordos de Locarno. Quando da definição dos membros permanentes da ONU em 1945, a candidatura brasileira foi novamente apresentada. Ora, o único país que a apoiava abertamente na ocasião – os Estados Unidos – atualmente conserva um cauteloso silêncio. Caso o Brasil ingresse no CS da ONU, ele não o fará como "representante da América Latina" mas sim em razão de sua "representatividade". Ou seja, o país reúne atributos e uma vontade de servir à paz que pode ser útil ao enfraquecido multilateralismo dos tempos atuais. Certos Estados latino-americanos, como a Argentina e o México, já deram demonstrações de desconforto e de oposição velada à candidatura brasileira. O tema divide a América Latina e, portanto, o Brasil não deve cometer o mesmo erro de 1926, quando imaginou representar a América Latina e essa, finalmente, o desautorizou.

O eventual ingresso brasileiro no CS da ONU somente se tornará realidade – por óbvias razões políticas e jurídicas – caso os Estados Unidos concordem. Nestas condições, não vejo uma oposição entre os dois países, mas sim um complemento. Há muitos sinais emitidos pelo Brasil de sua disposição a um maior protagonismo na cena internacional, em especial no entorno sul-americano. Não creio que tal estratégia objetive criar um movimento contra Washington na região. O que está em jogo é algo mais sutil e profundo. Ou seja, se trata de encontrar mecanismos no sistema internacional que ofereçam aos países do Sul outra perspectiva distinta, que complemente a luta contra o terrorismo, buscando combater suas raízes que se encontram na xenofobia, no racismo, na intolerância, no subdesenvolvimento e nas incontáveis injustiças que sofre grande parcela das populações do Sul do planeta.

Ricardo Antônio Silva Seitenfus é doutor em Relações Internacionais pelo Institut Universitaire des Hautes Etudes Internationales de Genebra (Suíça), autor de várias obras sobre política externa brasileira e relações internacionais, especialmente a obra O Brasil vai à Guerra (Editora Manole, São Paulo, 2003, 3ª edição, 365 p.). Atualmente, é professor titular na Universidade Federal de Santa Maria e diretor da Faculdade de Direito de Santa Maria (Fadisma), RS, Brasil.

Fonte: Deutsche Welle (Alemanha)
http://www.dw.de/dw/article/0,,1450461,00.html

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