domingo, 28 de abril de 2013

Delírios mitológicos geográficos "revisionistas" no Brasil - O Nordeste mitológico revimané

Acabei assistindo novamente a primeira parte desse documentário Cultura do Ódio quando fui trocar o link que estava morto, e uma coisa me chamou atenção dessa vez pois como considerava burrice ao extremo (e ainda considero) as declarações dos vários cabeças-ocas do vídeo, tinha passado desapercebido que essa ideia regional deles professada em várias declarações no primeiro vídeo, que é uma ideia adquirida no dia-a-dia e no senso comum da cidade, não é uma criação deles pois esses grupos em geral não possuem capacidade pra criar uma ideologia própria e preconceito, tanto que importam uma ideologia ultranacionalista usando-a pra extravasar esses "ressentimentos".

Aos que pegaram o "bonde andando", eu comentei antes (aqui) que iria comentar estes assuntos no blog.

Mas como dizia... o cara no vídeo de 1992 diz que "nordestino" é "mestiço de negro", o que é claro para mim que isso é o uso do preconceito regional ou de expressões regionais como uma máscara/camuflagem pra preconceito racial, como se o estado em que ele nasceu fosse algo à parte, algo "idealizado" que só existe na mente distorcida e cheia de porcaria dessas figuras. Em parte é curioso o delírio desses fascistas de São Paulo achando que são parte de uma suposta "raça pura", "arianos" (falando português), quando todos os estados, de uma forma geral, são miscigenados e possuem a mesma formação histórica colonial portuguesa, africana e indígena, uns com mais miscigenação com índios (a presença indígena se dá em todo território do país) e alguns com maior integração com população negra. É certo que o impacto da imigração do século XIX em alguns estados se reflete até hoje, mas a maioria foi assimilada à cultura brasileira que em sua matriz é portuguesa, indígena e africana ficando esse caldo (ou recalque) étnico manifestado por esses bandos. A formação histórica do país tem pelo menos meio milênio e não "cinco semanas" de existência como alguns elementos desses creem piamente, como se houvesse uma ideia de descontinuidade dos processos históricos do país.

O termo "nordestino" é referente a quem nasce numa região, é um termo geográfico basicamente, não oriundo da região a qual ele faz referência, e não é nem nunca foi termo "étnico" (a não ser na cabeça de estrume dos "neonazis" curupiras brasileiros e em quem pensa como eles já que o problema não fica restrito a esses idólatras do cabo austríaco), e acaba sendo deturpado pra outros fins ideológicos, e usado de forma aleatória como preconceito em alguns estados da federação.

Fico imaginando um Fernando Collor sendo chamado de "subraça" por um indivíduo desses (o sobrenome Collor é alemão), não entra aqui o julgamento da ideologia política do político citado, a citação da pessoa (por ser conhecida) é apenas pra ilustrar a profunda estupidez, burrice e ignorância desses bandos.

São Paulo tem nome indígena em várias ruas, monumentos etc (Butantã, Morumbi, Anhangabaú, Anhembi), a cultura indígena é parte formadora desse estado, por isso fica o questionamento de onde esse bando de "nazis" curupiras tiram essas ideias esdrúxulas e provincianas sobre regiões a não ser de um senso comum deturpado, arrogante, complexado, compartilhado por um coletivo e norteado por uma profunda estupidez e culto a esse tipo de "ganguerismo".

Eu ainda farei um post sobre o livro A Invenção do Nordeste pra justamente detonar um dos mitos esdrúxulos que esse pessoal cultiva que é a questão regional. O livro em questão fala sobre a questão regional e da criação da região Nordeste (e das demais) pelo Estado Novo varguista, sendo que essas regiões nunca existiram antes do século XX, por isso que sempre tive dificuldade em aceitar o termo "Nordeste" por ser um termo criado artificialmente, impositivo, sem ser formado historicamente (que surgiu no local atribuído a sua "origem"), apesar de ser difundido por intelectuais locais que reproduzem esse discurso vitimista e segregador achando que estão fazendo uma "rendenção" da região, e que vai de encontro (ataca) a identidade de vários estados com forte formação identitária como Bahia e Pernambuco, que possuem identidades com quase meio milênio de existência e não são fruto de modelitos fabricados no século XX pra serem simplesmente varridas do mapa por imposição do poder político, ideológico e econômico da União ou de alguns estados da Federação.

A bem da verdade é que fica difícil até de rotular esses "lunáticos" como neonazis, o termo extrema-direita fascista é mais apropriado e exato pra definir o problema. Muita gente já colocou apelido nesse tipo de manifestação mas segue mais, o "nazismo curupira", que nem eles sabem ao certo o que é e não passa de uma cópia mal feita do lixo fascista produzido na Alemanha na primeira metade do século XX. Nazista sem ser alemão? Falando português? Separatista? Falando em Reich num país onde isso nunca fez parte da formação histórica do mesmo (o Império Português não se chamava "Reich")? Haja cretinice, não bastasse a cretinice habitual negacionista que é tema de vários posts do blog sobre a outra "bandeira" que esses bandos carregam e propagam.

Não existe bandeira do Nordeste porque Nordeste é meramente uma divisão regional e geográfica artificial, algo que geralmente é idealizado e estereotipado pela mídia/imprensa. O Brasil é o país do bairrismo, formado no bairrismo (disputas entre estados), sem desmerecer os demais estados, mas com estados históricos antigos como Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Sul, Pará, Minas Gerais com forte participação na formação do país. Até parte do começo do século XX o país ainda era dividido em Norte e Sul, classificação do Império Português. Você assiste um vídeo desses e vê a falência do ensino público e do ensino de história nas escolas (particulares ou públicas) do país. O que esses elementos aprenderam no colégio? Nada.

Esse documentário foi gravado em 1992, há 21 anos atrás. Destaco a data pra quem acha que o 'problema' é "novo", que surgiu "um dia desses".

Obviamente que o que foi citado no post é só uma parte citada no documentário e que não chega a ser o ponto central do mesmo (quem quiser saber do resto que assista os vídeos), como por exemplo quando falam abertamente que deveriam exterminar judeus ou que, "caso (o Holocausto) fosse verdade que Hitler deveria ter exterminado mais judeus", o que é uma declaração explícita do que pensa esses bandos sobre minorias, independente de sua própria deformação intelectual e moral.

Esse documentário é chave pra entender a questão do negacionismo no Brasil e dessa extrema-direita de cunho fascista, um dos documentários mais bem elaborados no país pois evita fazer rodeios sobre o problema e vai direto ao ponto.

9 comentários:

Guefiltefish disse...

São os filhotes hermfriditas (não se vê mulheres entre eles) do "revisionismo".

Guefiltefish disse...

correção: hermafroditsa.

E aproveitando:

http://oglobo.globo.com/rio/neonazistas-sao-presos-apos-agredirem-homem-em-niteroi-8230598

Roberto disse...

Eu vi a matéria e as fotos, "arianos puros", fico imaginando a cena desses caras num tribunal processados por apologia do nazismo e agressão, a cara do juiz olhando os "arianos", vergonha alheia total.

Além de que devem, provavelmente, ter virado menininhas no presídio. Surreal.

Roberto disse...

Isso é a "rebaba" do "movimento", são grupos aleatórios, sem muito conhecimento, dispersos e sem ligação aparente com grupos mais organizados (que ficam em outros estados). Eles identificam os pontos conhecidos do nazismo/fascismo e adaptam pra algum preconceito local ou mesmo se metem em alguma briga estúpida na rua pra mostrar que são "violentos" e "fortes" e dá nisso, além do comportamento característico de gangue delinquente.

Guefiltefish disse...

"Se os membros latinos e miscigenados dessas gangues tropicais aportassem nos territórios dos neonazistas na Alemanha, começariam a apanhar antes mesmo de abrir a boca”.
Antes de abraçar qualquer movimento estúpido e radical é preciso saber bem a que ele se propõe!

Roberto disse...

Eu cheguei a ver a página da revista e vai ao encontro do que já havia me manifestado, há uma judicialização do assunto e livre debate não existe.

Por isso que honestamente não tenho a menor paciência de "discussão" com esse pessoal pois já sei que o discurso de "liberdade de expressão" é retórica, além de ser desgastante a discussão que em geral acaba em troca de farpas. Nem com o Marcelo Silveira (integralista) eu vi isso, e discordo ideologicamente do Silveira em praticamente tudo.

Guefiltefish disse...

Também não tenho peciência. Minha referência foi com relação aos autos do processo linkado na página.

Roberto disse...

"Também não tenho peciência. Minha referência foi com relação aos autos do processo linkado na página."

Eu dei uma lida em várias páginas, mas segue o problema, a mesma justiça que agora rejeitou a acusação de um lado (o deles), também já defendeu esse lado rechaçando uma denúncia de um perfil contra esse site.

Não há lei contra negação do Holocausto no país, mesmo que o Castan tenha sido condenado por negação do Holocausto e afins, a justiça em geral não leva isso em conta pra casos semelhantes.

A intenção da revista pode ter sido boa, mas acho que acabou dando publicidade ao site através da disputa criada.

Guefiltefish disse...

Não tenho foco no negacionismo. A negação é a ponte entre a loucura ideológica e o crime de intolerânia. E isso eu combato.

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