quarta-feira, 23 de abril de 2014

Dos perigos de se divulgar imagens sem contextualizar o problema - caso do poster de Hitler em Itajaí-SC

Pros leitores do blog de fora do país, a sigla SC é a sigla do estado de Santa Catarina, a cidade de Itajaí fica neste estado.

Feitas as considerações acima, vamos lá.

Primeira vez que eu vi a divulgação dessa foto foi através da página de uma revista, segue o link: link1. (Foto ao lado com o cartaz).

Até aí nada de novo no front, mas...

Como já vi outras tosquices nessas revistas nem quis ler o resto na ocasião pois já sabia que vinha bobagem (e veio), mas acabei lendo depois o "conteúdo".

Eu acho um desserviço ficarem divulgando de forma sensacionalista essas coisas sem comentarem detalhadamente sobre o problema do extremismo de direita no Brasil e como e porque isso se manifesta. Essa revista não fez isso em nenhuma das vezes que tocou no assunto.

Antes de prosseguir vou fazer uma aparte já que se você criticar uma publicação no país que é odiada por determinado grupo (de direita), com a mentalidade binária que se proliferou no país, vai chegar um "radicalzinho" ou outro querendo te empurrar pra direita ou esquerda sem nem saber qual tua posição política sobre isso e eu não ando com saco de discutir moderadamente com esse tipo de troll. Eu sou de esquerda, não sou sectário mas também não tolero muito gente que vem me "doutrinar" achando que me fará seguir cartilha/agenda política contrária ao que penso. Dispenso também os reducionismos em torno da esquerda querendo rotular todo mundo de autoritário, ditador etc, esse tipo de papo furado pode "emocionar" gente que acredita nesse tipo de idiotice mas discutir comigo nesses termos é o mesmo que pedir pra tomar toco (como os "revis" tomam).

Eu não gosto desse tipo de publicação, não só essa CC, como também de uma concorrente dela que não vou nem citar o nome daquele detrito que parece panfleto do PSDB (acho que dá pra fazer a associação e descobrir qual é a revista que se enquadra nessa descrição), exceto talvez a revista IstoÉ que ainda prima em fazer reportagem jornalística investigava vez ou outra, mas não é o tipo de publicação que me "comova". Eu já coloquei aqui textos da IstoÉ sobre lançamento de livros sobre segunda guerra, gostei do texto, não descambaram pro sensacionalismo 'desinformativo' dessas outras publicações.

Mas voltando ao assunto, lendo os comentários (tristes por sinal embora a maioria rechace a ideia em torno do nazismo, mas rechaçam sem uma leitura ou ideia precisa do que seja) a gente fica com uma pulga atrás da orelha com esse tipo de divulgação desses micro-episódios sem comentar detalhadamente o problema que citei acima, o extremismo de direita de cunho fascista.

Sinceramente, qual a relevância de uma porcaria de um cartaz pregado num poste, que poderia ter sido colocado em qualquer canto do país até como pilha, provocação? Fazerem divulgação disso dessa forma é sem propósito, é falta de reflexão mesmo. "Ah, mas eu fiquei chocado", caramba, e adianta ficar chocado? Isso vai resolver problema? A não ser ficarem "indignados" num determinado momento e 1 hora depois esquecerem de tudo. Francamente. Dá raiva ver um troço desses divulgado dessa forma.

A publicação deveria comentar "que grupos são esses", "quais os grupos de extrema-direita de cunho fascista atuantes no Brasil", etc, detalhar a extrema-direita brasileira, mas não, ficam simplesmente no senso comum rasteiro, no superficial, cultuando a imagem e o "aspecto simbólico" da coisa sem tocar em questões mais importantes como informar à população a origem do problema.

Eu já discuti (e até detalhei) isso aqui, na verdade é só um resumo pra orientar o povo sobre quais grupos atuam no país em torno disso: A extrema-direita brasileira. Mapeamento do fascismo no Brasil - Parte 01

E espero um dia fazer a sequência do post do link acima sobre a extrema-direita no Brasil. Pois estão criando um sensacionalismo escroto em torno de suásticas e simplesmente omitindo (por ignorância ou cinismo) os grupos que de fato são problemáticos no país (os mais organizados, numerosos, fascistas como o integralismo).

Adiantando o post que eu gostaria de fazer como sequência daquele primeiro do link acima, há duas extrema-direita no Brasil: uma tradicional alinhada com grupos de ideologia fascista (integralismo e afins, o integralismo é o mais relevante deles pois é um movimento nacional enquanto esses neonazis e imitadores de grupos White Power de fora não passam de caricatura política, são um bando de racistas que imitam o racismo de países como os EUA e do continente europeu). E há uma outra extrema-direita neoliberal ou liberal alinhada a revistas de tiragem nacional, à grande mídia em geral cuja a agenda política gira em torno de privatizações, entrega de patrimônio nacional (empresas nacionais relevantes), ataques à esquerda (demonização midiática) requentando propaganda da guerra fria, apologia da ditadura militar ou banalização disso etc. Esta última extrema-direita fomenta um público altamente alienado e agressivo discutindo, com um complexo de vira-latas (de inferioridade) atroz.

Mas voltando novamente ao assunto do post, há um problema visível de desvio de foco pra região Sul. Eu nunca vi estamparem com estardalhaço as agressões antissemitas e racistas em outros estados do país, há até um vídeo famoso de 1992 (isso mesmo, é antigo pra caramba) mostrando o cenário da extrema-direita em São Paulo (por sinal o documentário é formidável, o melhor já feito no Brasil sobre o problema), mas só miram numa direção.

Eu não estou negando nem pormenorizando que hajam fascistas e racistas nos estados da região Sul ou algo parecido, pra ser preciso, há racistas no país inteiro, de Norte a Sul, o que ocorre é que a manifestação do racismo varia de cidade pra cidade, adapta-se a uma realidade local etc, de região pra região. Negar isso seria cair na esparrela de criar outro tipo de negacionismo que cria mais desinformação em torno desses assuntos.

Só que pelo que eu noto, essa questão desses grupos no Sul (região) costuma ser supervalorizada ao extremo (principalmente na mídia) e nunca vejo esses mesmos sites de notícias (Carta Capital e afins) mencionarem os grupos políticos organizados de extrema-direita do Rio e de São Paulo. Omitem isso por quê? Qual a razão afinal disso?

Quem vê uma matéria dessas e não conhece nada sobre esse tipo de tema, pode achar que esses grupos que citei não existem, pois é nesses dois Estados que o grosso da coisa se concentra, por serem mais organizados e em maior número, ironicamente. Então por que esse sensacionalismo com um cartaz? Por que não fazem a droga de uma matéria citando o problema na sua totalidade?

Parece que essa questão da região Sul virou uma espécie de bode expiatório pra não citarem nunca (e eu toco nessa questão no post que fiz sobre isso) os grupos que atuam em outros estados (inclusive no estado onde essa revista fica sediada).

Eu não estou fazendo ataques a estados pois essas questões não podem ser tratadas na base do bairrismo, eu não tenho essa visão tosca de uma parte dos brasileiros residentes em outras regiões de criarem mitologias (por ignorância, pois a bem da verdade é que esse povo não lê nada que preste, ou quando leem só leem besteira) de superioridade em torno de Estados sem entender os processos políticos e econômicos que formaram o Brasil atual. Só que não sou trouxa de ignorar que muita gente neste país TEM esse comportamento espírito de porco.

Mas como eu dizia, eu avalio o Brasil num todo, estruturalmente, se você é adepto de mitologias, sinto te dizer mas se for discutir comigo com base em preconceitos e crenças eu irei triturar esse tipo de discurso em dois tempos e sem pena alguma. Faço inclusive questão de fazer isso pois considero uma afronta esses brasileiros ou pseudo-brasileiros repetindo essas asneiras supremacistas por algum complexo e/ou também por ignorância, alguns aliam isso à malícia (algo maldoso, sadismo, vontade de querer humilhar quem eles acham que são "inferiores" etc).

Mas voltando ao assunto (peço desculpas por sair do tema mas é que uma coisa sempre puxa outras questões em torno disso), embora a parte discutida acima faça parte dessa discussão (no fundo a discussão desse problema do "neonazismo" no Brasil se resume a problemas identitários brasileiros, gerados por algum problema de formação histórico ideológico, educacional e/ou econômico), é necessário apontar os focos do problema e as origens de cada grupo desse, a matriz dos grupos, como se formam, o que há por trás disso.

Mostrar cartaz de Hitler num poste pregado provavelmente por dois ou três gatos pingados racistas imbecis que pregam isso num país de maioria de descendentes indígenas, negros e com o maior grupo étnico europeu sendo do grupo ibérico (português), soa como asneira e piada involuntária. Curioso o fato de que quando eu leio esse tipo de assunto nessas publicações não vejo comentarem esses pontos que estou citando aqui. "Ah, mas você está sendo pedante", sem querer ser chato, mas o pessoal aqui do blog de fato não é o que se pode chamar de ignorante na questão do fascismo e segunda guerra, então cobrar informação correta, exata, é o mínimo que se espera de uma publicação, não é qualquer bobagem publicada que eu vou sair aplaudindo e elogiando. Eu uso as publicações de fora (que são boas) como referência, se publicarem bobagem, se for o caso, não pensarei duas vezes em criticar (apontando as falhas) a bobagem.

Em suma, pra não alongar a coisa, a Carta Capital fez um estardalhaço com essa foto, a meu ver desnecessário, que teria sido bom se houvesse uma matéria que detalhasse e comentasse 'o que são esses bandos', a origem do fenômeno etc, sem aquelas matérias caricatas dos "150 mil neonazis no Brasil" (pra quem não sabe da pendenga, leia esta matéria aqui com o hist. gaúcho René Gertz sobre essa questão) e coisas desse tipo. Eu já comentei em outro post o que penso disso, por essa razão fiz questão de publicar o texto com a entrevista do historiador gaúcho R. Gertz que vai direto ao ponto, penso e concordo bastante com ele com a crítica acerca do estardalhaço que estão fazendo em torno desse assunto.

E a questão mais importante: por que os integralistas são poupados quando se fala em extrema-direita no Brasil? Alguém vê esse grupos ser citado quando se fala em extremismo de direita no país nessas publicações? Esse "poupar" se dá por ignorância apenas ou pra não tocar no assunto já que iriam ter que falar da manifestação deles em outros centros?

Como disse acima, eu sei que rola um bairrismo pesado nessas redações em prol dos estados de origem das mesmas, esse papinho furado de "somos brasileiros" e bla bla bla é lindo mas é um refúgio pro bairrista mala sem alça se abrigar. Essas redações ao invés de denunciar o problema fica querendo "proteger a imagem" de determinada cidade e Estado. Já vi esse comportamento no Orkut. Tinha um cara de SP, bem tosco e sem noção (conhecimento histórico zero), que se metia nas comunas de discussão de negacionismo e toda vez que se tocava no assunto abordando algum grupo de SP o cara começava com o discurso vitimista, defensivo, negando ou diminuindo o problema porque achava que quando alguém discutia o assunto, a própria discussão seria um "ataque ao estado dele", o que beira o delírio e imbecilidade pois denunciar isso é uma defesa ao cidadão comum que vive nesses centros. Quem toma esse tipo de atitude histérica negando o problema no fundo está contribuindo com os extremistas e não os combatendo.

Uma das distorções da grande mídia que mais percebo (e considero isso coisa de gente burra mesmo, uma pessoa que não sabe geografia básica vai escrever matéria de jornal como?), é sobre a região Nordeste, que é só nome de região (ou ponto colateral, noroeste, sudoeste, rs) já virou "Estado da federação" em vários desses textos de jornais pretensamente "informativos".

Falam, com petulância e ignorância como se uma região fosse um Estado do país, ignorando as divisões históricas e os nomes dos Estados de fato, comportamento altamente babaca. Querem saber o que fomenta esse tipo de extremismo de direita racista? Essa questão que acabei de abordar, a própria mídia fomenta o monstrinho.

Mas se você pensa que para por aí o festival de besteiras que assola o país (FEBEAPA), até "etnia" a região "virou" no imaginário dessas pessoas. É algo tão ridículo e estúpido que chega dar nojo comentar isso.

Esses grupos extremistas se alimentam dessas informações toscas, distorcidas e enviesadas publicadas pela grande mídia do país, seriados toscos com estereótipos etc, ao longo de décadas formaram esses "monstrinhos" metidos a "White Power" país afora, por isso que toco nesse assunto já que isso não será abordado nessas publicações. Eu nunca vejo publicação falar de problema identitário no Brasil e regional, é como se isso não existisse e é o que mais tem desde a redemocratização do país. Curioso que já vi pilhas de textos estrangeiros abordando esse tipo de questões e no Brasil, quase nada.

Acho que já detalhei o que penso sobre o caso acima. O espaço dos comentários serve pra discussão, se o povo lê e evita discutir não posso fazer nada. Digo isso porque pode haver gente que discorda e ao invés de comentar, discutir, fica remoendo raiva com idiotice.

Acho um erro o estardalhaço em torno desse cartaz num poste sem esclarecer as pessoas do que se trata, se for tratar "neonazismo" (que na verdade no Brasil é neofascismo) e racismo como tabu, dá nisso.

O povo ao invés de discutir e explicar racionalmente, sem pitis emocionais, o que se passa, quem são os bandos etc, fazem um estardalhaço puro e simples aumentando o "poder" de fato dessa meia dúzia de Zé Roelas querendo chocar. Não é por aí, essa postura defensiva e de "estou chocado" não resolve porcaria alguma.

O racismo no Brasil é muito, mas muito anterior a essas manifestações atuais de racismo repaginadas com uma suástica no meio pra chamar atenção (e conseguiram o que queriam). Esse tipo de manifestação tem ligação direta com o racismo histórico brasileiro e não com o cabo austríaco propriamente, coisa que não foi abordada pela revista.

Observação: a última, espero. O fato deu criticar o conteúdo dessa publicação (Carta Capital) não quer dizer que eu goste das outras publicações do tipo como já comentei lá no começo.

Digo isso pois há umas "inteligências raras" que acham (de forma oportunista e escrota) que quando a gente critica uma publicação que é odiada por certo seguimento (de direita/extrema-direita), acham (erroneamente, por presunção) que a gente "gosta" do seguimento oposto "automaticamente" que publica coisas "divergentes" desse tipo de publicação que citei, pensamento binário total dessas pessoas.

O curioso é que a Carta Capital tem a The Economist como parceira (link) e tem muita gente que se diz de esquerda no país que nem "repara" nesses detalhes. Pra quem não está entendendo a crítica, a The Economist é uma bíblia neoliberal britânica (link), chega a ser hilário ver o grau de demência e extremismo/polarização no país como por exemplo a outra extrema-direita liberalóide chiar chamando essa revista de comunista, e uma penca de gente que se diz de esquerda achando que a publicação é socialista ou coisa do tipo.

É por isso que eu fico uma arara quando leio essas coisas. O povo não fala por falar, fala cheio de "certezas" que adquiriram sabe-se lá onde já que não leem, pelo visto. E ainda vem gente me mostrar link dessas revistas sem nem ter ideia dos erros (e bobagens) que elas publicam, como se só existisse esse tipo de fonte de informação disponível. De besteira já chega o "revisionismo", me poupem de ficar lendo mais bobagens além disso.

Não quero mudar opinião de ninguém sobre isso, cada um lê o que quer etc, só fiz esses comentários porque infelizmente a gente é obrigado a explicitar a opinião/posição porque sempre chega gente repassando essas coisas querendo uma espécie de "bênção" da gente concordando com esses textos que A, B ou C segue a risca por alguma crendice ou sectarismo ideológico. Há pilhas de textos, em inglês principalmente, infinitamente melhores pra se entender nazismo e fascismo que essas publicações do país, infelizmente. Tanto que há pilhas de traduções no blog justamente POR essa razão.

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