quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Testemunho de Otto Ohlendorf no IMT

CORONEL JOHN HARLAN AMEN (Advogado Associado de Julgamento para os Estados Unidos):
Permita-me o Tribunal, eu desejo chamar como testemunha para a Acusação, Sr. Otto Ohlendorf ...
[Testemunha Otto Ohlendorf ocupou a posto de testemunhas]
O PRESIDENTE: Otto Ohlendorf, repita este juramento depois de mim "Eu juro por Deus Todo-Poderoso e Onisciente que eu falarei a pura verdade e não omitirei e não acrescentarei nada."
[A testemunha repete o juramento]
CEL. AMEN: Tente falar devagar e pausadamente entre cada pergunta e resposta.
OTTO OHLENDORF: Sim.
CEL. AMEN: Onde você nasceu?
OHLENDORF: Em Hohen-Egelsen.
CEL. AMEN: Quantos anos você tem?
OHLENDORF: Trinta e oito anos.
CEL. AMEN: Quando, se alguma vez, você se tornou um membro do Partido Nacional-Socialista? OHLENDORF: 1925.
CEL. AMEN: Quando, se alguma vez, você se tornou um membro da SA?
OHLENDORF: Pela primeira vez em 1926.
CEL. AMEN: Quando, se alguma vez, você se tornou um membro da SS?
OHLENDORF: Eu devo corrigir minha resposta à questão anterior. Eu pensei que você estava falando sobre minha associação à SS.
CEL. AMEN: Quando você se tornou um membro da SA?
OHLENDORF: No ano de 1925.
CEL. AMEN: Quando, se alguma vez, você se juntou à SD?
OHLENDORF: Em 1936.
CEL. AMEN: Qual foi sua última posição na SD?
OHLENDORF: Chefe do Amt III na RSHA....
CEL. AMEN: Você nos contou por qual período de tempo você continuou como chefe da Amt III?
OHLENDORF: Eu era chefe por meio período da Amt III de 1939 a 1945.
CEL. AMEN: Voltando agora à designação "Unidades Móveis" com o exército mostrado no canto inferior direito do diagrama, por favor explique ao Tribunal a significância dos termos "Einsatzgruppe" e "Einsatzkommando."
OHLENDORF: O conceito "Einsatzgruppe" foi estabelecido depois de um acordo entre os chefes da RSHA, OKW e OKH, sobre o uso separado das unidades Sipo nas áreas operacionais. O conceito de "Einsatzgruppe" primeiro apareceu durante a campanha polonesa. Entretanto, só se chegou ao acordo com o OKH e OKW antes do início da campanha russa. Este acordo especificava que um representante do chefe da Sipo e da SD seria designado para os grupos de exército, ou exércitos, e que este oficial teria à sua disposição unidades móveis da Sipo e do SD na forma de um Einsatzgruppe, subdividida em Einsatzkommandos. Os Einsatzkommandos, sob ordens do grupo de exércitos ou exército, seriam atribuídos às unidades individuais do exército conforme preciso.
CEL. AMEN: Declare, se você souber, se antes da campanha contra a Rússia Soviética, algum acordo foi iniciado entre a OKW, OKH e RHSA?
OHLENDORF: Sim, os Einsatzgruppen e Einsatzkommandos, como acabei de descrevê-los, foram usados em razão de um acordo escrito entre o OKW, OKH e RSHA.
CEL. AMEN: Como você sabe que existiu tal acordo escrito?
OHLENDORF: Eu estive presente várias vezes durante as negociações com Albrecht e Schellenberg conduzidas com o OKH e OKW; e eu também tinha uma cópia escrita deste acordo, que era o resultado destas negociações, em minhas próprias mãos quando eu assumi o Einsatzgruppe.
CEL. AMEN: Explique ao Tribunal quem era Schellenberg. Que posição ele ocupava, se ocupava alguma posição?
OHLENDORF: Schellenberg era, no final, chefe do Amt VI na RHSA; na época em que ele estava liderando como um representante de Heydrich, ele pertencia à Amt VI.
CEL. AMEN: Em aproximadamente que data estas negociações aconteceram?
OHLENDORF: As negociações duraram várias semanas. Deve ter-se chegado ao acordo uma ou duas semanas antes do início da campanha.
CEL. AMEN: Você mesmo já viu uma cópia deste acordo escrito?
OHLENDORF: Sim!
CEL. AMEN: Você já teve motivo para trabalhar com este acordo escrito?
OHLENDORF: Sim!
CEL. AMEN: Em mais de uma ocasião?
OHLENDORF: Sim; Em todas as questões resultantes do relacionamento entre os Einsatzgruppen e o exército.
CEL. AMEN: Você sabe onde se encontram o original ou quaisquer cópias daquele acordo hoje?
OHLENDORF: Não.
CEL. AMEN: Do máximo que você sabe e se recorda, por favor explique ao Tribunal toda a substância deste acordo escrito.
OHLENDORF: Em primeiro lugar, o acordo declarava que as Einsatzgruppen e os Einsatzkommandos seriam criados nas áreas operacionais. Isto criou um precedente, porque até àquela época o exército tinha, sob sua própria responsabilidade, cumprido as tarefas que agora passariam a ser somente da Sipo. Em segundo lugar, estavam os regulamentos com relação à competência.
CEL. AMEN: Você está indo rápido demais. O que você é isso que você diz que os Einsatzkommandos fizeram sob o acordo?
OHLENDORF: Eu disse que esse era o relacionamento entre o exército e o Einsatzgruppen e os Einsatzkommandos. O acordo especificava que os grupos do exército ou exércitos seriam responsáveis pelo movimento e abastecimento das Einsatzgruppen, mas que as instruções para as atividades delas viriam do chefe da Sipo e do SD.
CEL. AMEN: Deixe-nos entender. É correto que um grupo Einsatz deveria ser ligado a cada grupo de exército ou exército?
OHLENDORF: Cada grupo de exército tinha que ter uma Einsatzgruppe ligada a ele. O grupo de exército, por sua vez, então ligaria os Einsatzkommandos aos exércitos do grupo de exército.
CEL. AMEN: E o comando do exército determinaria a área dentro da qual o grupo Einsatz iria operar?
OHLENDORF: A área operacional da Einsatzgruppe já era determinada pelo fato de que ela era ligada a um grupo de exército específico e portanto movia-se com ele, enquanto as áreas operacionais dos Einsatzkommandos eram fixadas pelo grupo de exército ou exército.
CEL. AMEN: O acordo também estipulou que o comando de exército iria controlar o tempo durante o qual elas iriam operar?
OHLENDORF: Isso estava incluso sob o título "movimento".
CEL. AMEN: E, também, para controlar quaisquer tarefas adicionais que eles iriam operar?
OHLENDORF: Sim. Muito embora os chefes da Sipo e SD tivessem o direito de emitir instruções a eles sobre seu trabalho, havia um acordo geral de que o exército também tinha o direito de emitir ordens às Einsatzgruppen se a situação operacional assim fizesse necessário.
CEL. AMEN: O que o acordo estipulava com respeito à ligação do comando do grupo Einsatz a esse comando do exército?
OHLENDORF: Eu não consigo me lembrar se qualquer coisa específica sobre isso estava contida no acordo. Para ser mais preciso, um homem de ligação entre o comando do exército e a SD era escolhido.
CEL. AMEN: Você se recorda de quaisquer outras provisões deste acordo escrito?
OHLENDORF: Acredito que eu possa declarar o conteúdo principal daquele acordo.
CEL. AMEN: Que posição você ocupava com respeito a esse acordo?
OHLENDORF: De junho de 1941 até a morte de Heydrich em junho de 1942, eu liderei a Einsatzgruppe D, e era o representante do chefe da Sipo e da SD com o 11º Exército.
CEL. AMEN: E quando foi a morte de Heydrich?
OHLENDORF: Heydrich foi ferido no final de maio de 1942, e morreu em 4 de junho de 1942.
CEL. AMEN: Quanto tempo você foi previamente avisado da campanha contra a Rússia Soviética?
OHLENDORF: Cerca de quatro semanas.
CEL. AMEN: Quantos grupos Einsatz havia, e quem eram seus respectivos líderes?
OHLENDORF: Havia quatro Einsatzgruppen, Grupos A, B, C e D. O chefe da Einsatzgruppe A era Stahlecker; o chefe da Einsatzgruppe B era Nebe; o chefe da Einsatzgruppe C, Dr. Rasche, e depois, Dr. Thomas; o chefe da Einsatzgruppe D era eu mesmo, e depois Bierkamp.
CEL. AMEN: A qual exército o Grupo D estava ligado?
OHLENDORF: O Grupo D não estava ligada a nenhum grupo, mas estava ligado diretamente ao 11º Exército.
CEL. AMEN: Onde operava o Grupo D?
OHLENDORF: O Grupo D operava no sul da Ucrânia.
CEL. AMEN: Descreva em mais detalhes a natureza e extensão da área na qual operava o Grupo D, nomeando as cidades e territórios.
OHLENDORF: A cidade mais ao norte era Cernauti; então indo ao sul através de Mohilev-Podolsk, Yampol, então na direção leste Zuvalje, Czervind, Melitopol, Mariopol, Taganrog, Rostov, e a Criméia.
CEL. AMEN: Qual era o objetivo mais importante do Grupo D?
OHLENDORF: O Grupo D foi mantido em reserva para o Cáucaso, para um grupo de exército que iria operar no Cáucaso.
CEL. AMEN: Quando o Grupo D começou a mover-se para dentro da Rússia Soviética?
OHLENDORF: O Grupo D deixou Duegen em 21 de junho e alcançou Pietra Namsk na Romênia em três dias. Lá, os primeiros Einsatzkommandos já estavam sendo convocados pelo exército, e eles imediatamente começaram a jornada para os destinos determinados pelo exército. A Einsatzgruppe inteira foi colocada em operação no início de julho.
CEL. AMEN: Você está se referindo ao 11º Exército?
OHLENDORF: Sim.
CEL. AMEN: Em que aspectos, se em algum aspecto, as tarefas oficiais dos grupos Einsatz eram relacionadas aos judeus e comissários comunistas?
OHLENDORF: As instruções eram que nas áreas operacionais russas das Einsatzgruppen os judeus, assim como os comissários políticos soviéticos, tinham que ser liquidados.
CEL. AMEN: E quando você diz "liquidados" você quer dizer "mortos"?
OHLENDORF: Sim, eu quero dizer "mortos".
CEL. AMEN: Antes da abertura da campanha soviética, você esteve presente em uma conferência em Pretz?
OHLENDORF: Sim, foi uma conferência na qual as Einsatzgruppen e os Einsatzkommandos foram informados de suas tarefas e receberam as ordens necessárias.
CEL. AMEN: Quem estava presente à conferência?
OHLENDORF: Os chefes das Einsatzgruppen e os comandantes dos Einsatzkommandos e Streckenbach da RHSA, que transmitia as ordens de Heydrich e Himmler.
CEL. AMEN: Quais eram essas ordens?
OHLENDORF: Essas eram as ordens gerais do trabalho normal da Sipo e da SD, e além disso a ordem de liquidação a qual eu já mencionei.
CEL. AMEN: E essa conferência aconteceu em aproximadamente que data?
OHLENDORF: Cerca de três ou quatro dias antes da missão.
CEL. AMEN: Para que antes que vocês começassem a marchar Rússia Soviética adentro vocês recebessem ordens nesta conferência para exterminar os judeus e funcionários comunistas, além dos trabalhos profissionais regulares da Polícia de Segurança e SD, isto é correto?
OHLENDORF: Sim.
CEL. AMEN: Você teve alguma conversa pessoal com Himmler, relacionando alguma comunicação de Himmler para os chefes dos grupos de exército ou exércitos referente a esta missão?
OHLENDORF: Sim. Himmler contou-me que, antes do início da campanha russa, Hitler havia falado desta missão a uma conferência dos grupos de exército e dos chefes de exército - não, não os chefes de exército mas os generais no comando - e havia instruído os generais no comando a providenciar o apoio necessário.
CEL. AMEN: Para que vocês pudessem testemunhar que os chefes dos grupos de exército e dos exércitos tinham sido similarmente informados dessas ordens para a liquidação de judeus e funcionários soviéticos?
OHLENDORF: Eu não acho que é bem correto colocar dessa forma. Eles não tinham ordens para liquidação; a ordem para a liquidação foi dada a Himmler para que ele a executasse, mas como essa liquidação aconteceu na área operacional do grupo de exército e dos exércitos, eles tinham que receber ordens para fornecer apoio. Além disso, sem tais instruções ao exército, as atividades das Einsatzgruppen não teriam sido possíveis.
CEL. AMEN: Você teve alguma outra conversa com Himmler a respeito desta ordem?
OHLENDORF: Sim, no final do verão de 1941, Himmler estava em Nikolaiev. Ele reuniu os líderes e homens dos Einsatzkommandos, repetiu a eles a ordem de liquidação, e mostrou que os líderes e homens que estavam tomando parte na liquidação não arcavam com nenhuma responsabilidade pessoal pela execução desta ordem. A responsabilidade era dele, sozinho, e do Führer.
CEL. AMEN: E você mesmo ouviu esse discurso?
OHLENDORF: Sim.
CEL. AMEN: Você sabe se esta missão do grupo Einsatz era conhecida pelos comandantes do grupo de exércitos?
OHLENDORF: Esta ordem e a execução dessas ordens eram conhecidas pelo general do exército no comando.
CEL. AMEN: Como você sabe disso?
OHLENDORF: Pelas conferências com o exércitos e pelas instruções que eram dadas pelo exército sobre a execução da ordem.
CEL. AMEN: Essa missão dos grupos Einsatz e o acordo entre OKW, OKH e RHSA eram conhecidas pelos outros líderes da RSHA?
OHLENDORF: Pelo menos alguns deles sabiam disso, já que alguns dos líderes eram mais ativos nas Einsatzgruppen e nos Einsatzkommandos no curso do tempo. Além disso, os líderes que estavam lidando com os aspectos legais e de organização das Einsatzgruppen também sabiam disso.
CEL. AMEN: A maioria dos líderes vinham da RSHA, não vinham?
OHLENDORF: Que líderes?
CEL. AMEN: Dos grupos Einsatz?
OHLENDORF: Não, não se pode afirmar isso. Os líderes das Einsatzgruppen e dos Einsatzkommandos vinham de todo o Reich.
CEL. AMEN: Você sabe se a missão e o acordo eram conhecidos por Kaltenbrunner?
OHLENDORF: Depois da sua posse no escritório, Kaltenbrunner tinha que lidar com estas questões e conseqüentemente deve ter conhecido detalhes das Einsatzgruppen que eram de seu ofício.
CEL. AMEN: Quem era o oficial no comandando do 11º Exército?
OHLENDORF: No início, Riter von Schober; depois, Von Manstein.
CEL. AMEN: Conte ao Tribunal de que maneira ou maneiras o oficial no comando do 11º Exército dirigia ou supervisionava o Grupo Einsatz D na execução de suas atividades de liquidação.
OHLENDORF: Uma ordem do 11° Exército foi enviada a Nikolaiev de que as liquidações iriam acontecer somente a uma distância de não menos de duzentos quilômetros do quartel-general do general em comando.
CEL. AMEN: Você se recorda de quaisquer outras ocasiões?
OHLENDORF: Em Simferopol, o comando do exército solicitou aos Einsatzkommandos na sua área que apressassem as liquidações, porque a fome estava era uma ameaça e havia uma grande carência de moradia.
CEL. AMEN: Você sabe quantas pessoas foram liquidadas pelo Grupo Einsatz D sob seu comando?
OHLENDORF: No ano entre junho de 1941 e junho de 1942, os Einsatzkommandos reportaram noventa mil pessoas liquidadas.
CEL. AMEN: Isso incluía homens, mulheres e crianças?
OHLENDORF: Sim.
CEL. AMEN: Em que você baseia esses números?
OHLENDORF: Em relatórios enviados pelos Einsatzkommandos às Einsatzgruppen.
CEL. AMEN: Esses relatórios eram enviados a você?
OHLENDORF: Sim.
CEL. AMEN: E você os via e os lia?
OHLENDORF: Perdão?
CEL. AMEN: E você via e lia aqueles relatórios pessoalmente?
OHLENDORF: Sim.
CEL. AMEN: E é nesses relatórios que você baseia os números que você deu ao Tribunal?
OHLENDORF: Sim.
CEL. AMEN: Você sabe como são esses números comparados com os números de pessoas liquidadas por outras Einsatzgruppen?
OHLENDORF: Os números que eu vi de outras Einsatzgruppen são consideravelmente maiores.
CEL. AMEN: Isso se devia a que fator?
OHLENDORF: Eu acredito que em grande parte os números enviados pelas outras Einsatgruppen eram exagerados.
CEL. AMEN: Você via relatórios de liquidações de outras unidades Einsatz de tempos em tempos?
OHLENDORF: Sim.
CEL. AMEN: E esses relatórios mostravam liquidações que superavam aquelas do Grupo D; isso está correto?
OHLENDORF: Sim.
CEL. AMEN: Você supervisionou pessoalmente execuções em massa desses indivíduos?
OHLENDORF: Eu estive presente em duas execuções em massa para fins de inspeção.
CEL. AMEN: Você explicaria em detalhes ao Tribunal como uma execução em massa de indivíduos era executada?
OHLENDORF: Um Einsatzkommando local tentava agrupar todos os judeus em sua área para registrá-los. Esse registro era feito pelos próprios judeus.
CEL. AMEN: Sob que pretexto, se sob algum pretexto, eles eram agrupados?
OHLENDORF: Sob o pretexto de que eles seriam reassentados.
CEL. AMEN: Continue.
OHLENDORF: Depois do registro, os judeus eram agrupados em um local; e de lá eles eram mais tarde transportados ara o local de execução, que eram como regra, uma vala anti-tanque ou uma escavação natural. As execuções eram efetuadas de uma maneira militar, por pelotões de fuzilamento sob comando.
CEL. AMEN: De que maneira eles eram transportados ao local de execução?
OHLENDORF: Eles eram transportados para o local de execução em caminhões, sempre só a quantidade que poderia ser executada imediatamente. Desse jeito, tentou-se manter o mais curto possível o período de tempo entre o momento em que as vítimas sabiam o que estava para acontecer a elas até o hora real da sua execução.
CEL. AMEN: Essa idéia foi sua?
OHLENDORF: Sim.
CEL. AMEN: E depois que eles eram fuzilados, o que era feito com seus corpos?
OHLENDORF: Os campos eram enterrados na vala anti-tanque ou escavação.
CEL. AMEN: Que determinação, se alguma, era feita sobre se as pessoas estavam realmente mortas?
OHLENDORF: Os líderes de unidades ou os comandantes do pelotão de fuzilamento tinham ordens para observar isso e, se necessário, acabar com elas eles mesmos.
CEL. AMEN: E quem faria isso?
OHLENDORF: Ou o próprio líder de unidade ou alguém designado por ele.
CEL. AMEN: Em que posições as vítimas eram fuziladas?
OHLENDORF: De pé ou ajoelhadas.
CEL. AMEN: O que era feito com os pertences pessoais das pessoas executadas?
OHLENDORF: Todos os objetos de valor eram confiscados na hora do registro ou do agrupamento, e dados ao Ministério das Finanças, ou através da RSHA ou diretamente. No início, as roupas eram dadas à população, mas no inverno de 1941-42, elas foram coletadas e dispensadas pelo NSV.
CEL. AMEN: Todos os pertences pessoais deles eram registrados naquela época?
OHLENDORF: Não, não todos, somente os objetos de valor eram registrados.
CEL. AMEN: O que acontecia com as roupas que as vítimas usavam no momento em que elas iam para o local de execução?
OHLENDORF: Elas eram obrigadas a tirar suas roupas de cima imediatamente antes da execução.
CEL. AMEN: Todas elas?
OHLENDORF: As roupas de cima, sim.
CEL. AMEN: E quanto ao resto das roupas que elas estavam usando?
OHLENDORF: As outras roupas continuavam nos corpos.
CEL. AMEN: Isso era verdade não só para o seu grupo mas também para os outros grupos Einsatz?
OHLENDORF: Essa era a ordem na minha Einsatzgruppe. Eu não sei como era feito nas outras Einsatzgruppen.
CEL. AMEN: De que maneira eles lidavam com isso?
OHLENDORF: Alguns dos líderes de unidade não executavam liquidações à maneira militar, mas matavam as vítimas individualmente, atirando na nuca delas.
CEL. AMEN: E você se opunha a esse procedimento?
OHLENDORF: Eu era contra esse procedimento, sim.
CEL. AMEN: Por que razão?
OHLENDORF: Porque, tanto para as vítimas quanto para aqueles que faziam as execuções, psicologicamente, era um fardo imenso para carregar.
CEL. AMEN: Agora, o que era feito com a propriedade coletada pelos Einsatzkommandos de suas vítimas?
OHLENDORF: Todos os objetos de valor eram enviados para Berlim, para a RSHA ou para o Ministério de Finanças do Reich. Os artigos que não podiam ser usados na área operacional eram dispensados.
CEL. AMEN: Por exemplo, o que acontecia com o ouro e prata tirados das vítimas?
OHLENDORF: Esses eram, como eu acabei de dizer, entregues a Berlim, para o Ministério das Finanças do Reich.
CEL. AMEN: Como você sabe disso?
OHLENDORF: Eu posso me lembrar que foi realmente tratado dessa forma em Simferopol.
CEL. AMEN: E quanto a relógios, por exemplo, tirados das vítimas?
OHLENDORF: Por solicitação do exército, relógios eram colocados à disposição das forças no front.
CEL. AMEN: Eram todas as vítimas, incluindo homens, mulheres e crianças, executadas da mesma maneira?
OHLENDORF: Até a primavera de 1942, sim. Então veio uma ordem de Himmler de que no futuro as mulheres e crianças iriam ser mortas somente em caminhonetes [N.do T:vans] de gaseamento.
CEL. AMEN: Como as mulheres e crianças tinham sido mortas anteriormente?
OHLENDORF: Da mesma maneira que os homens - por fuzilamento.
CEL. AMEN: O que era feito, se era feito, com relação ao enterro das vítimas depois de elas terem sido executadas?
OHLENDORF: Os kommandos preenchiam as sepulturas para remover os sinais da execução, e então unidades de trabalho da população as aplainavam.
CEL. AMEN: Com relação às caminhonetes de gás que você disse que recebeu na primavera de 1942, que ordem você recebeu a respeito ao uso dessas caminhonetes?
OHLENDORF: Essas caminhonetes eram para ser usadas no futuro para a matança de mulheres e crianças.
CEL. AMEN: Você explicaria ao Tribunal a construção dessas caminhonetes e sua aparência?
OHLENDORF: O propósito real dessas caminhonetes não podia ser visto do lado de fora. Elas se pareciam com caminhões fechados, e eram assim construídas para que na partida do motor, gás fosse conduzido para dentro da caminhonete, causando morte em dez a quinze minutos.
CEL. AMEN: Explique em detalhes apenas como uma dessas caminhonetes eram usadas para uma execução.
OHLENDORF: As caminhonetes eram carregadas com as vítimas e guiadas para o local do sepultamento, que era normalmente o mesmo usado para execuções em massa. O tempo necessário para o transporte era suficiente para garantir a morte das vítimas.
CEL. AMEN: Como as vítimas eram induzidas a entrar nas caminhonetes?
OHLENDORF: Elas ouviam dizer que elas tinham que ser transportadas para uma outra localidade.
CEL. AMEN: Como o gás era ligado?
OHLENDORF: Eu não sou familiarizado com detalhes técnicos.
CEL. AMEN: Quanto tempo levava normalmente para matar as vítimas?
OHLENDORF: Cerca de dez a quinze minutos; as vítimas não tinham consciência do que estava acontecendo a elas.
CEL. AMEN: Quantas pessoas podiam ser mortas simultaneamente?
OHLENDORF: De quinze a vinte e cinco pessoas. As caminhonetes variavam em tamanho.
CEL. AMEN: Você recebia relatórios dessas pessoas que operavam as caminhonetes de tempos em tempos?
OHLENDORF: Eu não entendi a pergunta.
CEL. AMEN: Você recebia relatórios daqueles que estavam trabalhando nas caminhonetes?
OHLENDORF: Eu recebia o relatório que os Einsatzkommandos não usariam voluntariamente as caminhonetes.
CEL. AMEN: Por que não?
OHLENDORF: Porque o enterro das vítimas era muito desagradável para os membros dos Einsatzkommandos.
CEL. AMEN: Agora, você contaria ao Tribunal quem fornecia essas caminhonetes para os grupos Einsatz?
OHLENDORF: As caminhonetes de gaseamento não pertenciam à frota das Einsatzgruppen, mas eram designadas para a Einsatzgruppe como uma unidade especial, liderada pelo homem que havia construído as caminhonetes. As caminhonetes eram designadas às Einsatzgruppen pela RSHA.
CEL. AMEN: As caminhonetes eram fornecidas a todos os diferentes grupos Einsatz?
OHLENDORF: Eu não tenho certeza. Eu sei apenas no caso da Einsatzgruppe D, e indiretamente que a Einsatzgruppe C também fez uso dessas caminhonetes...
CEL. AMEN: ...Referente ao seu testemunho anterior, você explicaria ao Tribunal por que você acredita que o tipo de execução ordenada por você, isto é, militar, era preferível ao procedimento tiro-na-nuca adotado pelos outros grupos Einsatz?
OHLENDORF: Por um lado, o objetivo era que os líderes e homens devessem poder fazer as execuções numa maneira militar, agindo sob ordens e que não tivessem que tomar uma decisão por si; essa era, para todas as intenções e propósitos, uma ordem que eles deveriam executar. Por outro lado, eu sabia que, através da excitação emocional das execuções, tratamento de doenças não poderia ser evitado, já que as vítimas descobriam muito cedo que elas iam ser executadas e não poderiam portanto suportar ansiedade prolongada. E parecia intolerável para mim que líderes individuais e homens devessem como conseqüência ser forçados a matar um grande número de pessoas pos sua própria decisão.
CEL. AMEN: De que maneira você determinava que os judeus iam ser executados?
OHLENDORF: Essa não era parte do meu trabalho; mas a identificação dos judeus era executada pelos próprios judeus, já que o registro era manuseado por um Conselho Judaico de Anciãos.
CEL. AMEN: A quantidade de sangue judeu tinha alguma coisa a ver com isso?
OHLENDORF: Eu não posso me lembrar dos detalhes, mas acredito que os meio-judeus eram também considerados judeus.
CEL. AMEN: Que organização forneceu a maioria dos oficiais dos grupos Einsatz e dos Einsatzkommandos?
OHLENDORF: Eu não entendi a questão.
CEL. AMEN: Que organização forneceu a maioria dos oficiais dos grupos Einsatz?
OHLENDORF: Os oficiais eram fornecidos pela Polícia do Estado, pela Kripo e, em menor grau, pela SD.
CEL. AMEN: Kripo?
OHLENDORF: Sim, a Polícia do Estado, a Polícia Criminal e, em menor grau, a SD.
CEL. AMEN: Havia outras fontes de pessoal?
OHLENDORF: Sim, a maioria dos homens das Waffen-SS e Odnungspolizei. A Polícia do Estado e Kripo forneciam a maioria dos peritos e as tropas eram fornecidas pelas Waffen SS e as Ordnungspolizei.
CEL. AMEN: E quanto à Waffen SS?
OHLENDORF: A Waffen-SS e a Ordnungspolizei deviam cada uma fornecer uma companhia às Einsatzgruppen.
CEL. AMEN: E quanto à Polícia de Ordem?
OHLENDORF: A Ordnungspolizei também fornecia uma companhia às Einsatzgruppen.
CEL. AMEN: Qual era o tamanho do Grupo Einsatz D e sua área operacional, comparada com outros grupos Einsatz?
OHLENDORF: Eu estimava que a Einsatzgruppe D era metade ou dois terços o tamanho das outras Einsatzgruppen. Isso mudou no decurso do tempo, já que algumas das Einsatzgruppen foram muito expandidas.
CEL. AMEN: Permita-me o Tribunal, com relação às questões organizacionais que eu acho que esclareceriam algumas das evidências que em parte já foram recebidas pelo Tribunal. Mas eu não quero tomar o tempo do Tribunal a menos que ele queira mais tais testemunhos. Eu achei talvez que se alguns membros do Tribunal tivessem alguma pergunta, eles perguntariam diretamente à testemunha porque ela está melhor informada sobre essas questões organizacionais do que qualquer um que estará presente na corte...
O PRESIDENTE: Coronel Amen, o Tribunal não acha que é necessário ir além nessas questões organizacionais nesta etapa, mas é uma questão que precisa ser realmente decidida por você porque você sabe de que natureza é a evidência na qual está pensando. Na opinião do Tribunal, eles estão satisfeitos na presente etapa por deixar a questão onde ela está, mas há um aspecto da evidência da testemunha que o Tribunal gostaria que você investigasse, que é se as ações das quais ele está falando continuaram depois de 1942, e por quanto tempo.
CEL. AMEN: [Para a testemunha] Você pode afirmar se as ações de liquidação que você descreveu continuaram depois de 1942 e, em caso positivo, por quanto tempo depois?
OHLENDORF: Eu não acho que a ordem básica foi revogada alguma vez. Mas eu não posso me lembrar dos detalhes - pelo menos não em relação à Rússia - que me permitiriam fazer afirmações concretas sobre esse assunto. A retirada começou bem pouco tempo depois, de forma que a região operacional dos Einsatzgruppen tornaram-se cada vez menores. Eu sei, entretanto, que outras Einsatzgruppen com ordens similares tinham sido previstas para outras áreas.
CEL. AMEN: Seu conhecimento pessoal estende-se até que data?
OHLENDORF: Eu sei que a liquidação de judeus foi proibida cerca de seis meses antes do fim da guerra. Eu também vi um documento acabando com a liquidação de comissários soviéticos mas eu não posso recordar uma data específica.
CEL. AMEN: Você sabe se, de fato, acabou assim?
OHLENDORF: Sim, eu acredito que sim.
O PRESIDENTE: O Tribunal gostaria de saber o número de homens no seu grupo Einsatz.
OHLENDORF: Havia cerca de quinhentos homens na minha Einsatzgruppe, excluindo-se aqueles que foram acrescentados ao grupo como assistentes do próprio país...
CEL. AMEN: Permita-me o Tribunal. A testemunha está agora disponível para outro advogado. Eu entendo que o Coronel Pokrovsky tem algumas questões que ele gostaria de perguntar como representante dos soviéticos.
CORONEL Y. V. POKROVSKY (Vice-Promotor Chefe para a URSS): O depoimento da testemunha é importa para o esclarecimento das questões num relatório no qual a delegação soviética está trabalhando no momento. Portanto, com a permissão do Tribunal, eu gostaria de colocar algumas questões para a testemunha.
[Virando-se para a testemunha]
Testemunha, você disse que esteve presente duas vezes em execuções em massa. Sob ordens de quem você foi um inspetor das execuções?
OHLENDORF: Eu estive presente às execuções por iniciativa própria.
CEL. POKROVSKY: Mas você disse que esteve presente como inspetor.
OHLENDORF: Eu disse que estive presente por motivo de inspeção.
CEL. POKROVSKY: Por iniciativa própria?
OHLENDORF: Sim.
CEL. POKROVSKY: Algum de seus chefes já esteve presente em execuções com propósito de inspeção?
OHLENDORF: Sempre que possível eu enviava um membro do quadro das Einsatzgruppen para testemunhar as execuções, mas isso não era sempre possível, já que as Einsatzgruppen tinham que operar sobre grandes distâncias.
CEL. POKROVSKY: Por que alguma pessoa era enviada com propósito de inspeção?
OHLENDORF: Você poderia por favor repetir a pergunta?
CEL. POKROVSKY: Com que propósito era enviado um inspetor?
OHLENDORF: Para determinar se as minhas instruções sobre a forma da execução eram realmente cumpridas ou não.
CEL. POKROVSKY: Devo entender que o inspetor tinha que certificar-se de que a execução tinha realmente sido cumprida?
OHLENDORF: Não, não seria correto disser isso. Ele tinha que averigüar se as condições que eu havia colocado para a execução estavam realmente sendo cumpridas.
CEL. POKROVSKY: Que forma de condições você tinha em mente?
OHLENDORF: Um: exclusão do público; dois: execução militar por pelotão de fuzilamento; três: chegada de transportes e execução da liquidação sem sobressaltos, para evitar excitação desnecessária; quatro: supervisão da propriedade para prevenir pilhagem. Pode haver outros detalhes de que não lembro mais. Para falar a verdade, todos os maus-tratos, tanto físicos como mentais, tinham que ser prevenidos através dessas medidas.
CEL. POKROVSKY: Você queria ter certeza que o que você considerava ser uma distribuição justa dessa propriedade fosse efetuada, ou você aspirava à completa aquisição dos objetos de valor?
OHLENDORF: Sim.
CEL. POKROVSKY: Você falou de maus-tratos. O que você quer dizer com maus-tratos nas execuções?
OHLENDORF: Se, por exemplo, a maneira na qual as execuções eram feitas causassem excitação e desobediências entre as vítimas, de forma que os kommandos fossem obrigados a restaurar a ordem por meio de violência.
CEL. POKROVSKY: O que você quer dizer com "restaurar a ordem por meio de violência"? O que você quer dizer por supressão da excitação entre as vítimas por meio de violência?
OHLENDORF: Se, como eu já disse, a fim de executar a liquidação numa maneira ordenada, fosse necessário, por exemplo, recorrer a espancamentos.
CEL. POKROVSKY: Era absolutamente necessário bater nas vítimas?
OHLENDORF: Eu mesmo nunca testemunhei isso, mas ouvi falar.
CEL. POKROVSKY: De quem?
OHLENDORF: Em conversas com membros e outros kommandos.
CEL. POKROVSKY: Você disse que carros, caminhonetes, eram usados para as execuções?
OHLENDORF: Sim.
CEL. POKROVSKY: Você sabe onde, e com a assistência de quem, o inventor, Becker, conseguiu colocar seu intento em prática?
OHLENDORF: Eu me lembro somente que foi feito através da Amt II da RSHA; mas não posso mais dizer com certeza.
CEL. POKROVSKY: Quantas pessoas foram executadas nesses carros?
OHLENDORF: Eu não entendi a pergunta.
CEL. POKROVSKY: Quantas pessoas foram executadas através desses carros?
OHLENDORF: Eu não posso dar números exatos, mas o número era comparativamente pequeno - talvez algumas centenas.
CEL. POKROVSKY: Você disse que, na maior parte, mulheres e crianças eram executadas nessas caminhonetes. Por qual motivo?
OHLENDORF: Essa era uma ordem especial de Himmler que, em resumo, mulheres e crianças não deveriam ser expostas ao desgaste mental das execuções; e assim os homens dos kommandos, a maioria homens casados, não deveriam ser forçados a mirar em mulheres e crianças.
CEL. POKROVSKY: Alguém observou o comportamento das pessoas executadas nessas caminhonetes?
OHLENDORF: Sim, o médico.
CEL. POKROVSKY: Você sabe que Becker havia reportado que a morte nessas caminhonetes era particularmente agonizante?
OHLENDORF: Não. Eu fiquei sabendo dos relatórios de Becker pela primeira vez através de uma carta para Rauff, que me foi mostrada aqui. Do contrário, eu sei pelos relatórios dos do médico que as vítimas não estavam conscientes de sua morte iminente.
CEL. POKROVSKY: Alguma unidade militar - quero dizer, unidade do exército - tomava parte nessas execuções em massa?
OHLENDORF: Como regra, não.
CEL. POKROVSKY: E como exceção?
OHLENDORF: Eu acho que me lembro que em Nikolaiev e em Simferopol um expectador do Alto Comando do Exército esteve presente por um curto período.
CEL. POKROVSKY: Com qual propósito?
OHLENDORF: Eu não sei, provavelmente para obter informações pessoalmente.
CEL. POKROVSKY: As unidades militares eram designadas para levar a efeito as execuções nestas cidades?
OHLENDORF: Oficialmente, o exército não designava nenhuma unidade para este propósito; o exército como tal era na verdade contra as liquidações.
CEL. POKROVSKY: Mas e na prática?
OHLENDORF: Unidades individuais ocasionalmente se ofereciam. Entretanto, no momento eu não sei de nenhum caso assim entre o próprio exército, mas só entre unidades ligadas ao exército (Heeresgefolge).
CEL. POKROVSKY: Você era o homem por cujas ordens pessoas eram mandadas para a morte. Só os judeus eram entregues para execução pela Einsatzgruppe ou os comunistas - "autoridades comunistas" você os chama em suas instruções - eram entregues para execução junto com os judeus?
OHLENDORF: Sim, ativistas e comissários políticos. A mera afiliação no Partido Comunista não era suficiente para perseguir ou matar um homem.
CEL. POKROVSKY: Era feita alguma investigação especial com relação ao papel desempenhado pelas pessoas no Partido Comunista?
OHLENDORF: Não, eu disse que pelo contrário, a simples afiliação ao Partido Comunista não era, por si mesma, uma fator determinante na perseguição e execução de um homem; ele tinha que ter uma função política especial.
CEL. POKROVSKY: Você teve alguma conversa sobre as caminhonetes de extermínio enviada por Berlim e sobre seu uso?
OHLENDORF: Eu não entendi a pergunta.
CEL. POKROVSKY: Você teve oportunidade de discutir, com seus chefes e colegas, o fato de que as caminhonetes tinham sido enviadas para sua própria Einsatzgruppe particular a partir de Berlim para fazer as execuções? Você se lembra de alguma conversa assim?
OHLENDORF: Eu não me lembro de nenhuma conversa específica.
CEL. POKROVSKY: Você teve alguma informação a respeito do fato de que membros do esquadrão de execução responsável pelas execuções não estavam dispostos a usar as caminhonetes?
OHLENDORF: Eu soube que os Einsatzkommandos estavam usando as caminhonetes.
CEL. POKROVSKY: Não, eu estava pensando em outra coisa. Eu queria saber se você recebeu relatórios de que membros dos esquadrões de execução não estavam dispostos a usar as caminhonetes e preferiam outros meios de execução?
OHLENDORF: De que eles preferiam matar por meio das caminhonetes de gaseamento, em vez de por fuzilamento?
CEL. POKROVSKY: Ao contrário, que eles preferiam execução por fuzilamento, em vez de por caminhonetes de gaseamento.
OHLENDORF: Eu já disse que as caminhonetes de gás...
CEL. POKROVSKY: E por que eles preferiam execução por fuzilamento à morte nas caminhonetes de gaseamento?
OHLENDORF: Porque, como eu já havia dito, na opinião do líder dos Einsatzkommandos, o descarregamento dos corpos era um desgaste mental desnecessário.
CEL. POKROVSKY: O que você quer dizer por "um desgaste mental desnecessário"?
OHLENDORF: Pelo que me lembro, as condições da época - a imagem apresentada pelos corpos e provavelmente porque certas funções do corpo haviam sido acionadas, deixando os corpos deitados em sujeira.
CEL. POKROVSKY: Você quer dizer que o sofrimento suportado antes da morte era claramente visível nas vítimas? Eu entendi você corretamente?
OHLENDORF: Eu não entendi a pergunta; você quer dizer, durante a morte na caminhonete?
CEL. POKROVSKY: Sim.
OHLENDORF: Eu só posso repetir o que o médico me disse, que as vítimas não estavam conscientes da sua morte na caminhonete.
CEL. POKROVSKY: Nesse caso, sua resposta à minha questão anterior, de que o descarregamento dos corpos dava uma impressão terrível aos membros do esquadrão de execução, torna-se totalmente incompreensível.
OHLENDORF: E, como eu disse, a terrível impressão criada pela posição dos próprios corpos, e provavalmente pelo estado das vans que tinham sido sujas e assim por diante.
CEL. POKROVSKY: Eu não tenho mais perguntas a fazer a esta testemunha na presente etapa do julgamento... O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): No seu testemunho, você disse que o grupo Einsatz tinha como alvo a aniquilação dos judeus e dos comissários, isso está correto?
OHLENDORF: Sim. O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): E em qual categoria você considerava as crianças? Por qual razão as crianças eram massacradas?
OHLENDORF: A ordem era que a população judaica deveria ser totalmente exterminada.
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): Inclusive as crianças?
OHLENDORF: Sim.
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): Todas as crianças foram assassinadas?
OHLENDORF: Sim.
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): Mas as crianças daqueles que você considerava pertencerem à categoria de comissários, elas também foram mortas?
OHLENDORF: Eu não estou ciente de que alguma vez investigações foram feitas atrás de famílias de comissários soviéticos.
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): Você enviou para algum lugar relatórios sobre as execuções que o grupo efetuou?
OHLENDORF: Relatórios sobre as execuções eram regularmente enviados à RSHA.
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): Não, você mandou pessoalmente algum relatório sobre a aniquilação de milhares de pessoas que vocês efetuaram? Você pessoalmente enviou algum relatório?
OHLENDORF: Os relatórios vinham dos Einsatzkommandos que executavam as ações, para a Einsatzgruppe e a Einsatzgruppe informava a RSHA.
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): Para quem?
OHLENDORF: Os relatórios iam para o chefe da Sipo pessoalmente.
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): Pessoalmente?
OHLENDORF: Sim, pessoalmente.
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): Qual era o nome deste oficial de polícia? Você pode dar o nome dele?
OHLENDORF: Naquela época, Heydrich.
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): E depois de Heydrich?
OHLENDORF: Eu não estava mais lá, mas aquela era a ordem estabelecida.
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): Eu estou perguntando a você se você continuou a enviar relatórios depois da morte de Heydrich ou não?
OHLENDORF: Depois da morte de Heydrich, eu não estava mais no Einsatz, mas os relatórios continuaram, claro.
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): Você sabe se os relatórios continuaram a ser enviados após a morte de Heydrich ou não?
OHLENDORF: Sim.
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): Sim?
OHLENDORF: Não, os relatórios...
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): A ordem referente à aniquilação do povo soviético estava em conformidade com a política do governo alemão ou do Partido Nazista ou ela era contra ele? Você entende a questão?
OHLENDORF: Sim. Deve-se distinguir aqui: a ordem para a liquidação veio do Führer do Reich, e ela tinha que ser executada pelo Reichsführer SS Himmler.
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): Mas ela estava em conformidade com a política conduzida pelo Partido Nazista e pelo governo alemão, ou estava em contradição com ele?
OHLENDORF: Uma política complementa uma prática de forma que nesse aspecto ela foi ordenada pelo Führer. Se você fosse perguntar se esta atividade estava em conformidade com a idéia do Nacional-Socialismo, eu diria "não".
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): Eu estou falando da prática.
O PRESIDENTE: Eu entendi você dizer que os objetos de valor eram tirados das vítimas judaicas pelo Conselho Judaico de Anciãos?
OHLENDORF: Sim.
O PRESIDENTE: O Conselho Judaico de Anciãos decidia quem iria ser morto?
OHLENDORF: Isso era feito de várias formas. Pelo que me lembro, o Conselho de Anciãos recebia a ordem de coletar objetos de valor ao mesmo tempo.
O PRESIDENTE: De forma que o Conselho Judaico de Anciãos não soubesse se eles iriam ser mortos ou não?
OHLENDORF: Sim...
O PRESIDENTE: Agora, uma questão com relação a você pessoalmente. De quem você recebeu suas ordens para a liquidação dos judeus e assim por diante? E de que forma?
OHLENDORF: Meu trabalho não era a tarefa de liquidação, mas eu liderei o pessoal que dirigia os Einsatzkommandos no campo, e os próprios Einsatzkommandos já tinham recebido esta ordem de Berlim nas instruções de Streckenbach, Himmler e Heydrich. Esta ordem foi renovada por Himmler em Nikolaiev.
HERR BABEL: Você pessoalmente não estava relacionado com a execução dessas ordens?
OHLENDORF: Eu dirigi a Einsatzgruppe, e portanto eu tinha a tarefa de ver como os Einsatzkommandos executavam as ordens recebidas.
HERR BABEL: Mas você não teve escrúpulos com respeito à execução dessas ordens?
OHLENDORF: Sim, claro.
HERR BABEL: E como é que elas foram executadas apesar desses escrúpulos?
OHLENDORF: Porque para mim, é inconcebível que um líder subordinado não devesse executar ordens dadas pelos líderes do Estado.
HERR BABEL: Esta é a sua opinião. Mas isto deve ter sido não só o seu ponto de vista, mas também o ponto de vista da maioria das pessoas envolvidas. Alguns dos homens indicados para executar essas ordens não pediram a você para serem liberados de tais tarefas?
OHLENDORF: Eu não me lembro de nenhum caso concreto. Eu exclui alguns que eu não considerava emocionalmente apropriados para executar essas tarefas e eu enviei alguns deles para casa.
HERR BABEL: A legalidade das ordens era explicada para essas pessoas com fingimento?
OHLENDORF: Eu não entendo sua pergunta; como a ordem era emitida pelas autoridades, a questão da legalidade não poderia surgir nas cabeças daqueles indivíduos, porque eles tinham jurado obediência às pessoas que haviam emitido as ordens.
HERR BABEL: Algum indivíduo poderia esperar sucesso ao escapar da execução dessas ordens?
OHLENDORF: Não, o resultado teria sido uma corte marcial com uma sentença correspondente.

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