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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Morre o último sobrevivente do campo de Treblinka. Samuel Willenberg

Samuel Willenberg faleceu aos 93 anos. Esteve no campo de concentração onde morreram cerca de 875.000 pessoas.

Sobrevivente do Holocausto, Samuel Willenberg mostra
um mapa do campo de extermínio de Treblinka.
Foto do ano de 2010. (Foto: AP)
Samuel Willenberg, o último sobrevivente do campo de concentração de Treblinka (Polônia), faleceu. Informaram allegados. Tinha 93 anos.

Cerca de 875 mil pessoas pereceram nesse campo da morte durante o genocídio nazi.

Willenberg foi membro de um grupo de prisioneiros judeus que em 1943 atearam fogo ao campo e fugiram para os bosques próximos. Centenas deles conseguiram fugir, mas a maioria foi abatida por soldados nazis ou capturados por aldeões poloneses.

Os nazis e seus colaboradores mataram cerca de 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

Willenberg, numa entrevista com a AP em 2010, narrou como lhe dispararam na perna enquanto montava por cima de companheiros mortos até saltar a mureta do campo de concentração. depois da guerra conseguiu se estabelecer em Israel.

Fonte: AP/El Comercio (Peru)
http://elcomercio.pe/mundo/europa/murio-ultimo-sobreviviente-campo-nazi-treblinka-noticia-1880599
Título original: Murió el último sobreviviente del campo nazi Treblinka
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

O horror de Auschwitz e do holocausto por quem o escreveu na primeira pessoa: Primo Levi

O mais sangrento dos campos de concentração foi libertado há 71 anos. É hoje o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto. E poucos como Primo Levi escreveram sobre ele. Viveu-o. Sobreviveu-lhe.
Rene Burri/Magnum
"Isto é o inferno. Hoje, nos nossos dias, o inferno deve ser assim: uma sala grande e vazia, e nós, cansados, de pé, diante de uma torneira gotejante mas que não tem água potável, esperando algo certamente terrível , e nada acontece, e continua a não acontecer nada. Como é possível pensar? Não é mais possível; é como se estivéssemos mortos. Alguns sentam-se no chão. O tempo passa, gota a gota." Primo Levi, “Se Isto é um Homem” (1947)
11 de abril de 1987. Na manhã em que Primo Levi morreu – o relatório da polícia italiana aponta para uma tese de suicídio, relatando que Levi se atirou mortalmente do terceiro andar de casa, em Turim –, Elie Wiesel, autor de “A Noite” (também sobre a experiência de horrores vivida num campo de concentração nazi) e prêmio Nobel da Paz em 1986, escreveu: “Primo Levi não morreu hoje. Morreu há quarenta anos, em Auschwitz.” Levi tinha 67 anos à data do suicido.

Não é (nem nunca foi) uma teoria da conspiração por parte de Wiesel dizê-lo. É antes a constatação de que o homem-Levi, químico, resistente antifascista na frente de guerra, não voltou de Auschwitz homem, mas apenas um corpo, com memória e uma mão com que escrever.

Aos 24 anos foi transportado para Auschwitz. Ele e outros seiscentos e cinquenta judeus italianos. Estávamos em fevereiro de 1944. Deles, só vinte sobreviveram — Levi incluído. Quando se viu, enfim, libertado pelo exército soviético, a 27 de janeiro de 1945, ao fim de 11 meses de privação e indignidade humana, Levi havia envelhecido, não 11 meses, mas décadas. Não só fisicamente. Mas serviu-lhe a experiência, de morte, não a sua mas a que testemunhou dia-a-dia à sua frente, todos os dias, a experiência de sobreviver quase miraculosamente — a resiliência fez o resto –, essa experiência-limite permitiu-lhe escrever, por exemplo, “Se Isto é Um Homem” (a trilogia de Auschwitz completa-se com “A Trégua” e “Os que Sucumbem e os que se Salvam”).

Nem só sobre o holocausto escreveu Primo Levi, mas quando o fez, mais do que procurar culpados ou explicações, narrou. Simplesmente isso: narrou o horror, sem artifícios, com crueza, a vida no mais sangrento dos campos de concentração do Terceiro Reich. O campo foi libertado há 71 anos. E também por isso se assinalada, nesta data e desde 2005, o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto.

Mais do que ler a não-ficção de autores como Levi, Wiesel ou Imre Kertèsz, mais do que ver no cinema ou em casa “A Lista de Schindler” e, mais recente, “Filho de Saul”, de Laszlo Nemes (o filme recebeu o Grande Prêmio de Cannes e o Globo de Ouro para Melhor Filme Estrangeiro), mais importante que isso é ler os relatos, sem polimentos literários ou de realização, como os que Levi (a par com Leonardo de Benedetti) escreveu em “Assim foi Auschwitz”. Em 1945, no rescaldo do fim da Guerra e da libertação dos campos de concentração pelos aliados, o exército soviético pediu a Primo Levi e a Benedetti, seu companheiro de campo, que redigissem, em detalhe, como eram as condições de vida lá. O resultado foi um dos primeiros relatórios alguma vez realizados sobre os campos de extermínio. Os textos de Levi, inéditos, finalmente trazidos à estampa no último ano, têm um valor histórico e humano tão importante hoje, 71 anos volvidos sobre o fim da Segunda Guerra, como quando este os escreveu.

Lá, Levi escreveu — o mesmo Levi que, em “Se Isto é Um Homem”, sentia mais culpa por ter sobrevivo (e os outros não) do que culpava os nazis pelo extermino — que “a responsabilidade repousa coletivamente sobre todos os soldados, sargentos e oficiais da SS destacados em Auschwitz”. O livro “Assim foi Auschwitz” serviu também para, ao longo das décadas — e ainda nos nossos dias –, trazer ex-carrascos aos tribunais. Julgá-los. Para que a história os recorde como isso: carrascos. Por outro lado, é também importante perceber que Primo Levi considera que, mais do que o mero extermino de judeus, os campos de concentração serviam para impulsionar a própria economia da Alemanha.
Escrevia Levi: "Os campos não eram um fenômeno marginal: a indústria alemã baseava-se neles; eram uma instituição fundamental do fascismo na Europa e os nazis não o escondiam: mais do que mantê-los, alargavam-nos e aperfeiçoavam-nos."
Num sábado, dia 11 de Abril, em 1987, por volta das 10 horas da manhã, a porteira de um prédio na avenida Corso Rei Umberto, em Turim, tocou à porta do 3.º andar para, como em todos os dias, entregar o correio. Primo Levi abriu-lhe a porta, sorriu-lhe e recebeu-o. Voltou a entrar em casa. Poucos minutos depois o seu corpo estatelava-se no fundo da escada, ao lado do elevador. Morreu instantaneamente. Primo Levi sobreviveu ao holocausto no pior dos campos de concentração. Não sobreviveu aos dias fora dele — mas com ele por dentro, vivo, a remoer-lhe.

Autor: Tiago Palma
27/1/2016, 16:48

Fonte: Observador (Portugal)
http://observador.pt/2016/01/27/horror-auschwitz-do-holocausto-escreveu-na-primeira-pessoa-primo-levi/

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Sai Ahmadinejad, entra Netanyahu. "Revisionistas" ganham um "apoiador" inusitado

Por negacionismo ou "revisionismo" se enquadra não só a negação do fato em si (todo ou parcial), como a distorção do episódio e trivialização. Então o Netanyahu se enquadraria fácil no rótulo negacionista ou "revisionista" (caso alguém queira pegar mais leve usando o termo "revisionista" em vez de negacionista, por não suportar a crítica à postura cretina dele) pelas asneiras que disse hoje, embora ele sempre diz asneiras.

A quem não entendeu o que se passou pelo título do post, leiam a matéria da RTP abaixo que foi feita em cima da matéria do Haaretz (jornal de Israel). O título do Haaretz é até mais pesado:
"Netanyahu: Hitler Didn't Want to Exterminate the Jews"

Traduzindo:

"Netanyahu: Hitler não queria exterminar os judeus"

Isso dito da boca do Primeiro-ministro de Israel, primeiro-ministro de um país que não preciso ressaltar a ligação com o genocídio da segunda guerra.

Esse é o tipo de asneira que você espera que saia de algum "revisionista" ou coisa parecida, não de um primeiro-ministro, principalmente do país mencionado. Mas saiu.

É uma cretinice por dia no mundo, em termos de notícia. No Brasil a bancada "religiosa" executa seu arsenal de idiotices ridicularizando o Congresso com coisas como essa (já podem trocar o nome da bancada pra "bancada do estupro"), projeto do "fundamentalista" presidente da Câmara, Eduardo Cunha, o do Porsche "em nome" do domínio Jesus.com, o mesmo pego com conta nos EUA na casa dos 61 milhões de reais, não foi a da Suíça.

Voltando ao assunto do post, as asneiras dele (Netanyahu) estão repercutindo pesado (mal) em Israel e entre os palestinos, houve uma rejeição total à cretinice dele naquela região do conflito.

Afirmar que Hitler foi incitado por um árabe pra executar a Solução Final e extermínio é como negar a origem do antissemitismo e genocídio da segunda guerra. Não foi uma declaração simplesmente idiota, ultrapassa a idiotice.

É impressionante o nível de ódio que ele nutre a palestinos ao ponto de chegar a fazer uma afirmação desse tipo, trivializar a culpa do maior algoz de judeus por ódio a palestinos. Esse cara não bate bem da cabeça.

Ele apresenta o mesmo tipo de mentalidade turva de gente que levou à morte o Rabin (assassinado por um fanático judeu de extrema-direita em Israel).

Incrível a neurose desse cidadão em citar genocídio da segunda guerra em todo evento envolvendo Israel. A Deborah Lipstadt (historiadora dos EUA) já havia criticado essa postura de políticos de Israel. Deborah Lipstadt é autora deste livro sobre o negacionismo, "Denying the Holocaust: The Growing Assault on Truth and Memory" (Link2), sem tradução pro português, mas que você pode ler a tradução do capítulo VI (feita pelo Leo) em três partes:
Negação [do Holocausto]: Uma ferramenta da Direita Radical (Parte 1)
Negação [do Holocausto]: Uma ferramenta da Direita Radical (Parte 2)
Negação [do Holocausto]: Uma ferramenta da Direita Radical (Parte 3)

A quem quiser ler a matéria (está em inglês, usem o tradutor do Google) sobre a declaração dela do abuso do uso do Holocausto por políticos israelenses (e dos EUA), segue abaixo o texto:
Top Holocaust Scholar Blasts 'Holocaust-abuse' by U.S., Israeli Politicians (Haaretz)

Matéria da RTP sobre as declarações de Netanyahu:
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Netanyahu inocenta Hitler e culpa um árabe pelo Holocausto


O primeiro-ministro israelita disse no Congresso Mundial Sionista ao afirmar que foi o Grande Mufti de Jerusalém o responsável pelo Holocausto, ao convencer Hitler a exterminar os judeus.

Ao discursar hoje, quarta feira, perante o Congresso Mundial Sionista, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, relatou o que diz ter sido uma conversa entre Hitler e o Grande Mufti de Jerusalém, Haj Amin al-Husseini, numa reunião que mantiveram em Novembro de 1941.

Segundo o diário israelita Haaretz, no discurso de hoje Netanyahu reproduziu a conversa nestes termos: "Hitler na altura não queria exterminar os judeus e disse: 'Se os expulsarmos, eles virão todos para aqui [para a Palestina]'". Ainda segundo Netanyahu, Hitler pediu orientação ao Grande Mufti: "O que é que hei-de fazer com eles?". Ao que o Mufti terá replicado: "Queime-os".

Para Netanyahu, a decisão da cúpula nazi, no sentido de exterminar os judeus foi, assim, decisivamente influenciada pelas instruções que o Mufti deu a Hitler, a pedido deste.

Apesar do abalo sísmico que o discurso de Netanyahu está a causar nas redes sociais, o que ele contém não é inteiramente novo. Segundo recorda o Haaretz, o primeiro-ministro tem vindo de forma consistente a transmitir esta versão e já antes, num discurso pronunciado há três anos perante o Knesset (parlamento israelita), apresentara o Mufti de Jerusalém como "um dos principais arquitetos da Solução Final".

Na comunidade académica israelita, as palavras de Netanyahu estão, aliás, a ser tão ou mais criticadas do que noutros pontos do mundo. Segundo o diário britânico The Guardian, o mais conhecido investigador israelita vivo sobre o tema do Holocausto, Dan Michman, disse que, embora a reunião entre Hitler e Husseini tenha efectivamente sucedido, sucedeu num momento em que o Holocausto já estava em curso.

Dina Porat, do Instituto de Yad Vashem, afirmou, segundo citação do diário israelita Yeditoh Aaronot: "Não se pode dizer que o Mufti deu a Hitler a ideia de matar ou queimar os judeus. Não é verdade. A reunião deles teve lugar depois de uma série de fatos que apontam para isto [a decisão já tomada de exterminar os judeus]".

Meir Litvak, professor na Universidade de Tel Aviv, foi mais específico, explicando que a ideia nazi do extermínio dos judeus data já de 1939, quando se concebeu na cúpula do Terceiro Reich o plano de deportá-los para lá dos Montes Urais, após invasão e derrota da URSS, para que morressem de doença.

Ainda segundo Litvak, o plano alternativo, das câmaras de gás, surgiu quando a invasão da URSS fracassou e a guerra a Leste se mostrou impossível de ganhar com os métodos da Blitzkrieg. Como o objetivo do extermínio dos judeus se mantinha, a fantasia da deportação para lá dos Urais foi substituída pela realidade de Auschwitz e de outros campos de extermínio.

A isto acrescenta Litvak: "Husseini apoiou o extermínio do judeus, ele tentou impedir que fossem salvos judeus, ele era uma pessoa abominável. Mas isto não diminui a escala da culpa de Hitler".

A OLP (Organização de Libertação da Palestina) comentou o discurso no Twitter, dizendo "Netanyahu odeia de tal modo os palestinos, que está disposto a absolver Hitler pelo assassínio de seis milhões de judeus".

O líder da oposição israelita, Isaac Herzog, classificou o discurso de Netanyahu como "uma falsificação da História". E lembrou o histórico da sua família: "Ninguém precisa de ensinar-me como o mufti odiava Israel. Ele deu ordem para assassinar o meu avô, Rabbi Herzog, e apoiou Hitler ativamente. Mas só houve um Hitler. Hitler não precisava de Husseini para ordenar o extermínio dos judeus só por serem judeus".

Mesmo o ministro da Defesa Moshe Ya'alon, considerado um dos "falcões" do Governo de Netanyahu, achou necessário demarcar-se das afirmações do primeiro-ministro: "Claro que Haj Amin al-Husseini não inventou a 'Solução Final para a questão judaica'. A História mostra claramente que foi Hitler a iniciá-la. Haj Amin al-Husseini juntou-se a ele". Ya'alon acrescentou, contudo, que "os atuais movimentos jihadistas estão a encorajar o antissemitismo e apoiam-se na conhecida herança nazi".

Fonte: RTP (Portugal)
http://www.rtp.pt/noticias/mundo/netanyahu-inocenta-hitler-e-culpa-um-arabe-pelo-holocausto_n867583

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Filmes e fotos de crimes nazistas no Youtube

Semana passada topei com este trailer de um documentário do History Channel chamado "O Holocausto nunca visto" (tradução livre), que anuncia "uma sequência de imagens recém-descobertas" mostrando assassinatos em massa nazistas "no Front Oriental", ou seja, nas áreas da antiga União Soviética ocupada pela Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

O documentário completo em inglês não está disponível no Youtube, mas existe uma versão, que parece estar em húngaro, que permite a visualização de algumas dessas "sequências recém-descobertas".

A maioria das imagens visualizáveis dificilmente merece a designação de "recém-descobertas", pois são obviamente sequências que foram incluídas no documentário "As atrocidades cometidas pelos Fascistas alemães na URSS" (The Atrocities committed by German Fascists in the USSR), que foi exibido no Julgamento de Nuremberg dos criminosos de guerra ante o Tribunal Militar Internacional em 19 de fevereiro de 1946 e é assunto de uma série anterior neste blog (parte 1, parte 2, parte 3).

Subi para o Youtube um slideshow (sequência de slides) correspondente à cada parte da série do blog acima mencionada (ver aqui, aqui e aqui).

Também subi uma apresentação de slides com as imagens vinculadas no blog do post "June 22, 1941 ("Nazi Crimes in the USSR (Graphic images!)")" [22 de Junho de 1941, Crimes Nazistas na URSS]* (Atenção: imagens com conteúdo chocante/violento!).

Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2015/09/films-and-photos-of-nazi-crimes-on.html
Texto e fotos: Roberto Muehlenkamp
Título original: Films and photos of Nazi crimes on Youtube
Tradução: Roberto Lucena
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Observação 1:

*O post traduzido de "June 22, 1941" se encontra dividido em três partes em português, clique abaixo:
22 de junho de 1941(fotos do genocídio nazi na União Soviética) - parte 1
22 de junho de 1941(fotos do genocídio nazi na União Soviética) - parte 2
22 de junho de 1941(fotos do genocídio nazi na União Soviética) - parte 3

Resolvi dividir em três partes pois o público brasileiro (e muitas vezes até o de fora) prefere ver as imagens e textos divididos em posts menores, como "sequências", do que um post longo único. Mas isto é opcional (uma escolha), não modifica em nada o conteúdo do post original. Se a pessoa quiser ver logo tudo de uma vez pode ver a versão em inglês pois consta o link original nas sequências.

O público anglófono e de outros países vai até o fim em posts longos (mas pode ser uma impressão equivocada minha) e o público lusófono corre de textos longos como o "diabo foge da cruz" (sobre a postura desse último público eu tenho certeza absoluta sobre isso, só lê até o fim os textos quem tem interesse de fato e gosta do tema), então, quando dá, eu sempre faço este tipo de modificação (adaptação) criando uma sequência, na expectativa que acabem vendo tudo.

Observação 2:

Eu achei que os posts do Holocaust Controversies com o título de "The Atrocities committed by German-Fascists in the USSR", post de fotos (mais de um post), já haviam sido publicados no blog, só que não encontrei qualquer um deles.

Vou dar uma olhada com calma depois pra ver se não se encontram com outro título pois tem posts similares como este aqui, até pra não se fazer uma duplicata de posts e organizar melhor os marcadores (tags) de fotos. Eu tinha certeza que isso já havia sido publicado aqui só que não encontrei nada por isto constam os links originais do Holocaust Controversies no texto principal deste post.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A mente de Rosenberg, ideólogo do Holocausto, exposta. "Alfred Rosenberg. Diarios (1934-1944)" [livro]

Madrid, 7 set (EFE).- Pela primeira vez serão publicados mais de 400 páginas do diário de cabeceira do nazista Alfred Rosenberg com o título de "Alfred Rosenberg. Diarios (1934-1944)", o testemunho inédito em primeira pessoa de uma dos ideólogos do Holocausto, a quem foi apelidado por Hitler como "o pai da Igreja nacional-socialista".

Assim, esses diários, que saem amanhã em castelhano, num volume publicado pela Crítica (editora), completam-se com um amplo prólogo e 23 documentos com os discursos e artigos do nazi e os comentários dos editores do livro, os alemães Jürgen Matthäus e Frank Bajohr.

Além disso, o volume, que ocupa mais de 700 páginas, inclui também outros arquivos que ajudam a completar esta radiografia de uma das mentes mais influentes do Partido Nacional-Socialista da Alemanha.

E é um desses documentos, precisamente, onde se recolhe a proposta de Rosenberg (Talim, 1893 - Nuremberg, 1946) de levar a cabo o "extermínio biológico de todo o povo judeu na Europa".

Contudo, chama a atenção a sutileza desses "Diários" na hora de se referir ao Holocausto por parte de Rosenberg, a quem se cuidou de não incluir em suas memórias comentários explícitos sobre o extermínio judeu.

Mas isto não é algo novo nas memórias que se conhecem dos dirigentes nazistas, pois o mesmo cuidado se pode observar nos diários de Josef Goebbels, competidor, de fato, de Rosenberg, a quem mostra sua aversão pelo ministro da Propaganda de Adolf Hitler, referindo-se a ele, por exemplo, como "foco de pus".

Para a publicação desses "Diários", seus editores elaboraram uma primeira parte de moto que a introdução aporta pequenas pinceladas sobre a vida de Rosenberg e de seu papel num dos episódios mais terríveis da História do século XX.

Neste sentido, também abarca a história do paradeiro dos diários, que foram encontrados em 2003 depois de ter estado até 1993 em poder de Robert M.W. Kempner, um dos assessores legais estadunidenses durante os julgamentos no Tribunal Militar de Nuremberg e promotor no procedimento conhecido como "o caso dos ministérios".

Depois da morte de Kempner, em 93, o Museu do Holocausto estive mais de uma década buscando os documentos que faltavam, entre eles este diário, que o promotor havia retido ilegalmente, foi encontrado completo em 2013 e passou a fazer parte do Museu do Holocausto.

Depois desta introdução, as páginas dão passo ao conteúdo "reproduzido" dos diários de Rosenberg. Inclusive conservam seus "erros de ortografia, abreviaturas, rasuras, sublinhados e incoerências", segundo indicam os editores.

As anotações daquele que foi ministro para Assuntos do Leste do Führer se interrompem em 3 de dezembro de 1944, última data na qual Rosenberg escreve, a partir de seu refúgio em Berlim.

Alfred Rosenberg nasceu em Talim (Estônia) no seio de uma família germano-báltica e posteriormente cursou Arquitetura em Riga e Moscou e chegou à Alemanha em 1918, onde não tardou para se introduzir nos círculos nacionalistas alcançando certo renome como autor de textos políticos de orientação antissemita e anticomunista, antes de se unir ao regime nazista.

Ao fim de seus dias, foi acusado em Nuremberg de crimes contra a humanidade, crimes de guerra, participação na preparação de uma guerra de agressão e crimes contra a paz, acusações das quais foi declarado culpado e condenado à pena de morte. Foi executado na forca, em 16 de outubro de 1946.

Os editores do livro foram Frank Bajohr, desde 2013 diretor de pesquisa do Centro de Estudos do Holocausto no Institut für Zeitgeschichte em Munique, e Jürgen Matthäus, que desenvolve seu trabalho profissional no Museu Memorial do Holocausto em Washington DC.

eca/crs/ram
Cultura | 07/09/2015 - 16:38h
Elena Cortés.

Fonte: La Vanguardia (Espanha)
http://www.lavanguardia.com/cultura/20150907/54436319188/la-mente-de-rosenberg-ideologo-del-holocausto-al-descubierto.html
Título original: La mente de Rosenberg, ideólogo del Holocausto, al descubierto
Tradução: Roberto Lucena

Observação: este diário havia sido divulgado, online, pelo USHMM, anos atrás. Só que pelo tamanho do livro o material exibido pelo museu na época não foi integral (suponho).

Esta edição em espanhol saiu primeiro que a edição em inglês do livro, pelo menos no site de uma loja de vendas grande dos EUA o título em inglês ainda está em reserva. Tanto que já saíram algumas matérias do lançamento do livro todas em jornais da Espanha. Redundante dizer, mas... (tem gente que só entende com a menção), não saiu o título traduzido no Brasil e nem indicação de que irá sair.

sábado, 5 de setembro de 2015

Mais de 1 milhão de visitas, agradecendo a todos visitantes

Post atrasado pois era pra ter saído no mês de agosto ainda, mas paciência, antes tarde que nunca.

Gostaria de, em nome de todos do blog, e até do pessoal que não faz parte diretamente do blog mas participa do blog Holocaust Controversies (Nick, Jonathan, Hans, Jason, Sergey, e o próprio Roberto Muehlenkamp que participa aqui também, a quem quiser ler mais material sobre o Holocausto, acessem o Holocaust Controversies nos links e traduções, em inglês o blog) de agradecer às mais de 1 milhão de visitas que este blog recebeu.

Acho que chegou à marca no mês de agosto ou fim de julho (registrei isso em um post anterior mas sem ser exclusivo sobre isso), mas só vasculhando posts antigos pra ver, se alguém achar e quiser colar aí nos comentários eu agradeço. Já são cerca de 1.014.727 (um milhão, catorze mil, setecentas e vinte e sete) visitas e subindo.



O contador mostrado no print foi o do Blogger/Google pois é o que marca corretamente. Tem um contador na página do blog que não está correto porque foi colocado após a abertura do blog deduzindo quando haviam lido até então pois foi esquecido de colocar contador desde o começo apesar do Google marcar. Só dá pra usá-lo pra avaliar o acesso por países.

Agradeço as visitas pois, ao contrário dos delírios dos revimanés ("revisionistas"/negacionistas), este blog não recebe apoio de praticamente ninguém no país, nem de entidades ligadas a Direitos Humanos (pra mostrar o grau de descaso com o assunto no país, pois rola mais politicagem em torno disso do que educação), tampouco de entidades judaicas e afins.

Apoio, mesmo moral e até comentando, geralmente vem do pessoal do próprio blog e de gente amiga em outros blogs sobre segunda guerra, que sofrem do mesmo problema de falta de apoio, que são sites formidáveis.

Friso esse último ponto pois vez por outra chega um "revi" sem noção aqui com esse tipo de acusação (e em algumas discussões dispersas) de "agentes de Israel" etc, e isso não passa de canalhice ou delírio dessa manada, pois inclusive já declarei meu ponto de vista sobre o conflito do Oriente Médio (ler todos os posts na tag Oriente Médio) e é bem distante do que entidades ligadas a Israel no Brasil pregam sobre isso. Só não venham querer direcionar minha opinião, não admito isso como já quiseram fazer no Orkut (tinha muita gente autoritária se sentindo mais importante que o Presidente dos EUA lá e se achando na condição de dizer a gente o que a gente deve pensar ou dizer, obviamente o intento não deu certo). Cada um tem sua opinião e é muita pretensão e falta de noção alguém achar que o povo aqui formou opinião por conta de Israel ou Oriente Médio. Falta de noção só não, obsessão mesmo.

Eu duvido que meu ponto de vista siga em concordância com o que essas entidades defendem sobre a política de Israel e Oriente Médio. Mas não digo isso pra essa manada "revi" poupar agressões, até porque se "baterem" tomam de volta, mas ao menos pra terem um pingo de dignidade e coerência mesmo sendo fascistas e não vir comentarem esse tipo de asneira aqui.

Mas uma vez, obrigado a todos pela visita ao blog, até aos que não gostam mas que pelo visto costumam ler porque o conteúdo do site é bom, se não fosse não leriam.

Tinha que fazer registro da marca pois mesmo sem quase apoio algum mostra que há uma parcela da população do país (e de fora, pois o blog é lido em vários países) que se interessa pelo tema segunda guerra e política (estão entrelaçados os temas), mesmo sem destaque algum da TV etc que quando toca no assunto segunda guerra costuma direcionar praquelas interpretações batidas e datadas de sempre, sem atualização de material novo de fora.

Sobre os países que visitam o blog, não dá pra listar todos aqui, mas se alguém tiver curiosidade, vejam a lista aqui neste contador, 160 países visitaram o blog:
Contador por países

Só destacarei os 20 primeiros países que visitam o blog do quadro, em números, quem quiser ver por percentagem checar o quadro "Overview" no contador do link acima. São eles:

1. Brasil 343.115
2. Portugal 33.755
3. Estados Unidos 24.323
4. Alemanha 4.838
5. Reino Unido 1.738
6. França 1.722
7. Espanha 1.445
8. Angola 1.040
9. Polônia 1.008
10. Itália 938
11. Canadá 936
12. Holanda 856
13. Japão 709
14. Argentina 708
15. Suíça 661
16. Bélgica 585
17. Moçambique 545
18. Israel 494
19. Rússia 481
20. México 426

O número de visitas do Brasil é disparado o maior, não teria como não ser. É o maior país de falantes do português no mundo (204 milhões de habitantes, dados divulgados pelo IBGE recentemente) e maior mercado editorial de publicações em português, audiovisual etc nesse idioma. Só que o número de acessos está na casa dos 80% do total (arredondando), e há 20% que acessam o blog que vêm de outros países que é um número razoável, levando em conta que não há uma divulgação do idioma como deveria apesar do português ser o quinto idioma mais falado do mundo*, apesar do piti xenófobo de fascistas em Portugal com o novo Acordo Ortográfico.

*Teoricamente o quinto idioma mais falado do mundo pois essas listas de maior número de falantes variam. Tem uma em que ele se encontra em quarto (achei a contagem pertinente, mas pode divergir) e noutras colocam em sétimo (mas "forçaram a amizade" em algumas dessas, aumentar número de falantes do árabe com uma desculpa teológica é cômico).

O fato é que é um dos idiomas mais falados do mundo e pela proximidade linguística com as línguas neolatinas, quem quiser aprender espanhol (castelhano), italiano, francês, catalão e o resto das neolatinas, o português é um bom ponto de partida pra todas esses idiomas, é mais fácil aprendê-las a partir do português que o inverso (em alguns casos). Além de ser um idioma falado em 5 continentes: América (Brasil principalmente), Europa (Portugal e Galiza, na Galiza ou Galícia se fala o galego mas são um mesmo idioma praticamente), África (Cabo Verde, Moçambique, Angola), Ásia (Macau, na China, e Goa na Índia) e Oceania (Timor-Leste, que também faz parte da Ásia).

Seguem algumas listas do número de falantes:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_l%C3%ADnguas_por_total_de_falantes
https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_languages_by_number_of_native_speakers
https://es.wikipedia.org/wiki/Anexo:Idiomas_por_el_total_de_hablantes

O que chama atenção no quadro é que o número de visitas dos EUA em valores absolutos está muito próximo ao de Portugal (apesar da disparidade populacional entre um e outro), o que me causa espanto por motivos óbvios (idioma).

Os acessos da Alemanha também são altos, Reino Unido, França e Espanha também (primeiro país que fala espanhol da lista, o próximo só aparece na 14a posição, a Argentina). Israel só aparece na 18a posição e já chegou a estar atrás da Rússia no quadro (tá vendo "revis"? rs).

Países de língua portuguesa como Angola e Moçambique também se encontram atrás de países que não falam português (creio que se deva também ao assunto).

Obviamente que há muito acesso de brasileiros (comunidades) e lusófonos (de países que falam português) dispersos nesses outros países, mas há também gente que aprendeu o idioma (ou está aprendendo) e que gosta do assunto e lê, e que também se interessa pelos posts sobre política no Brasil e História do Brasil.

Temas como "ideologia do branqueamento no Brasil" mal são abordados em escolas brasileira (mal abordado é forma de dizer, duvido que sejam, se alguém tiver novidades sobre isso, comente na caixa de comentários) e é um dos posts mais lidos/vistos do blog há meses, desde a publicação, pois pra muita gente é um choque o quanto os governos brasileiros escondem/esconderam essa questão da eugenia no Brasil (racismo e branqueamento) que põe abaixo o mito disseminado da "democracia racial" do país, assunto tabu que deixa muito pseudo-patriota "irritadinho" (a turma que sai pra "protestar", ops, relinchar com camisa da CBF).

A todos essas pessoas que visitam o blog, muito obrigado, e voltem sempre. E deem sugestões de temas. Se não for publicado na ocasião poderá sair depois.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

O fotógrafo do horror. A história de Francisco Boix e as fotos roubadas das SS em Mauthausen

O fotógrafo do horror. A história de Francisco Boix e as fotos roubadas das SS em Mauthausen
Benito Bermejo

Prólogo de Javier Cercas. RBA. Barcelona, 2015. 267 páginas.

RAFAEL NUÑEZ FLORENCIO | 22/05/2015 | Edição impressa


As relações entre memória e história deram lugar nos últimos tempos a inflamados debates em muitos países. Se a controvérsia toma centro da chamada "memória histórica" - um oximoro, segundo reputados historiadores - as posições se fazem mais irredutíveis. Na Espanha a polêmica se concentra na repressão da guerra civil e no pós-guerra, mas não tem sido só uma discussão teórica ou acadêmica como mostram as disposições políticas adotadas sob o governo Zapatero e os diversos movimentos cidadãos que reivindicam a exumação de fossas comuns. Nesse ambiente pode se entender o impacto - não isento de ressentimentos e desaprovações - de uma obra inclassificável como "O impostor" (El impostor)), de Javier Cercas, que só de uma perspectiva modesta pode qualificá-la como novela.

Os leitores que conhecem o livro de Cercas sabem que de certo modo o personagem principal é o próprio autor, que se planta um desafio que, envolto em formas literárias, nada tem a ver com a ficção e sim muito com a maneira de recuperar o passado, real e conflitivo, que ainda gravita sobre nosso presente e nosso futuro. Do ponto de vista narrativo o protagonista do livro de Cercas é Enric Marco, mas este não tinha importância alguma nesse contexto senão fora porque foi desmascarado como impostor por alguém que toma a iniciativa de encaixar as peças do passado buscando algo tão sensível mas tão desacreditado nesses "tempos líquidos" como a verdade. Esse alguém é um modesto historiador chamado Benito Bermejo (Salamanca, 1963) que, paradoxo do mundo que vivemos e das promoções publicitárias, adquire por ele uma inesperada relevância. Até tal ponto que se reedita agora - com prólogo de Cercas - um velho livro seu de 2002, que havia passado inadvertido em seu momento, sobre um dos espanhóis de Mauthausen, Francisco Boix (1920-1951).

Se bem é verdade que a editora aposta agora no livro de Bermejo e os meios lhe prestam a atenção que antes negaram, não é menos certo - u deve ficar claro num exame crítico - que o volume que nos ocupa é um trabalho excelente que mostra sem veladuras o horror do campo de concentração no qual foram parar (e, numa porcentagem elevadíssima, a morrer) a maioria dos espanhóis que haviam atravessado os Pirineus depois da guerra civil. Para dissecar este aterrador panorama o autor põe seu foco de atenção nas andanças de Boix, de maneira que o volume pode ser lido ao mesmo tempo como uma biografia da curta trajetória deste fotógrafo catalão, um testemunho das personalidades que sofreram os reclusos (não só os espanhóis) e uma denúncia detalhada da crueldade da maquinária nazi.

Ainda que a fotografia pareça ser mero completo documental, neste caso e por tudo o que foi dito não deve se deixar num segundo plano, pois constitui o material mesmo que está na origem e no núcleo do testemunho histórico. Além disso, frente a outras fontes documentais, a fotografia (sobretudo quando falamos de milhares de fotos, como aqui sucede) nos mostra uma realidade que dificilmente se presta a interpretações interessadas e muito menos a banalizações. O horror em estado puro que se mostra nestas páginas está desnudo, como os esqueletos viventes, os olhos aterrorizados, os corpos exânimes empilhados para a incineração. Ainda que pareça incrível, a totalidade dos testemunhos da vida (o conceito é aqui um sarcasmo) no campo procede dos próprios guardas nazistas. Os carrascos, longe de esconder as serviçais realizaram milhares de instantâneas dos prisioneiros, das atrocidades e das mortes. O que fez Boix, pondo em risco seu status de privilegiado em Mauthausen, foi subtrair parte dessas fotografias (cerca de 20.000, ainda que se conservam muito menos) para que servissem de acusação. De fato, em Foix declarou nos processos contra os criminosos nazis de Nuremberg e Dachau por esses testemunhos. Parte dessas manifestações aparecem no livro.

Quando chegou a derrota alemã, Boix passou de ladrão de fotografias alheias a repórter gráfico da libertação. Com as fotos salvas clandestinamente da destruição e as tomadas por ele mesmo, documenta-se este magnífico volume, exemplo palpável de como é possível conjugar harmonicamente a recuperação da memória com o rigor historiográfico.

Fonte: El Cultural (Espanha)
http://www.elcultural.com/revista/letras/El-fotografo-del-horror-La-historia-de-Francisco-Boix-y-las-fotos-robadas-a-las-SS-en-Mauthausen/36502
Título original: El fotógrafo del horror. La historia de Francisco Boix y las fotos robadas a las SS en Mauthausen
Tradução: Roberto Lucena

domingo, 12 de julho de 2015

Recriando campos de concentração nazistas em 3D

Recriar virtualmente os espaços do horror para que a memória não se perca

A recém-criada Future Memory Foundation quer reconstituir virtualmente 100 espaços marcados pelo terror nazi, para que as gerações futuras não esqueçam o passado.

Filhos de sobreviventes do Holocausto na instalação virtual do Memorial Bergen-Belsen, em 2012 DR
O polonês Felix Flicker, sobrevivente do Holocausto, está sentado num sofá e conta-nos como foi. Descreve aquele dia, em 1944, em que o campo de concentração onde se encontrava, em Majdanek, na Polônia, foi libertado. “O que vivemos lá é indescritível. A memória desse tempo faz-me sentir que não quero voltar lá. Até na memória”.

Felix revive os acontecimentos ao detalhe – os cheiros, os cadáveres, as pilhas de sapatos e ossos, os crematórios. É um dos mais de 50 mil sobreviventes que o realizador Steven Spielberg ouviu e gravou nos últimos 20 anos, num projeto que olha para a memória como um patrimônio valioso a deixar as gerações vindouras. É do mesmo princípio que partem dois investigadores que querem agora dar um passo definitivo para levar esta ideia mais longe. E se para além de ouvirmos relatos desses espaços, presos nos testemunhos dos sobreviventes, pudéssemos ir até lá?

“Sei que a memória precisa de lugares”, diz ao El País o investigador e psicólogo Paul Verschure. É diretor do laboratório SPECS (Synthetic Perceptive, Emotive and Cognitive Systems) que se dedica, desde 2005, ao estudo da percepção e da emoção dos seres humanos - entre elas a memória- na Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona.

Paul Verschure e Habbo Knoch, historiador da Universidade de Colônia e antigo diretor da Fundação de Memoriais da Baixa Saxônia, fundaram recentemente a Future Memory Foundation, uma iniciativa para preservar, apresentar e projetar a história dos crimes do regime Nazi e do Holocausto através dos lugares europeus do terror.

“Estamos a enfrentar o fim da idade das testemunhas”, escrevem no site da Fundação. “No decorrer dos últimos 70 anos, testemunhas e sobreviventes foram fundamentais na reconstituição dos crimes do Holocausto. Passaram às gerações seguintes um passado de terror e foram cruciais na formação de uma memória coletiva. Mas agora essas testemunhas estão a desaparecer.”

Recolhas como as de Spielberg ou de outras fundações são importantes, reconhecem os investigadores, mas não suficientes. É preciso, defendem, relacionar espacialmente os campos de concentração que existiam por toda a Europa com fontes históricas (fotografias, mapas, planos de construção, documentos oficiais, artefatos) e com descrições pessoais (testemunhos e diários). E para isso há que reconstituir a estrutura especial do terror nazi através da realidade virtual.

O primeiro passo foi dado no Memorial Bergen-Belsen em 2012. Pela primeira vez, foi criado um modelo tridimensional de um antigo campo de concentração, que foi totalmente destruído após a sua libertação. Alguns sobreviventes conseguiram identificar nas imagens o local onde viveram. Filhos e netos dos sobreviventes entraram em pequenos contentores transformados em espaços da memória: lá dentro, os relatos ganharam forma. Através de uma apresentação interativa e imersiva, com recurso a um tablet, foi possível visitar fisicamente o campo e experienciar o espaço, os edifícios. Os detalhes, por exemplo, das vedações. “O espaço como portal para a informação”, defendem os investigadores, incentivando a reflexão e a memória para as futuras gerações.

Para já, a Future Memory Foundation procura financiamento para recriar virtualmete 100 espaços. Cada um terá um custo de aproximadamente 50 mil euros e levará três a quatro meses a estar concluído. A ideia mais ambiciosa é, no entanto, conseguir "criar" virtualmente os 45 mil locais já identificados como estando ao serviço do regime Nazi em toda a Europa, incluindo, para além dos campos de concentração, outros centros de tortura, guetos e quartéis da Gestapo.

Na corrida contra uma memória que se vai apagando, há muito que dificilmente será reconstituído. “De muitos locais temos muito pouca informação”, explicou Verschure ao El País. “Sobibor – um dos seis campos de extermínio que os nazis construíram na Polônia – foi totalmente destruído e só agora é que os arqueólogos polacos e britânicos conseguiram localizar o local onde estavam as câmaras de gás e os crematórios”.

Fonte: Público (Portugal)
http://www.publico.pt/tecnologia/noticia/recriar-virtualmente-os-espacos-do-horror-para-que-a-memoria-nao-se-perca-1701725

sábado, 13 de junho de 2015

Robert Sussman - "O mito da raça": antropólogo dos EUA delimita o racismo

"As raças biológicas não existem e nunca existiram", sustenta em seu livro "O Mito da Raça" (The Myth of Race: The Troubling Persistence of an Unscientific Idea) o antropólogo estadunidense Robert Sussman, para ele que a ideia de raça não se baseia numa realidade científica.

Sussman explora em seu livro como surgiu a ideia de raça, venenosa e falsa segundo o próprio, e como se converteu numa construção social das justificações bíblicas e dos estudos pseudocientíficos.

Em seu livro o antropólogo rastreia as origens da ideologia racista moderna até a Inquisição espanhola, chegando à conclusão de que as teorias de degeneração racial do século XVI se converteram numa justificativa crucial para o imperialismo ocidental e da escravidão. No século XIX, estas teorias se fundiram com o darwinismo para derivar num influente movimento eugênico. Crendo que os traços da forma craniana e que a inteligência eram imutáveis, os eugenistas desenvolveram hierarquias que classificam certas raças, especialmente as de pele clara dos "arianos" (brancos), como uma raça superior às demais, explica no seu livro.

Esses ideólogos propunham programas para provar a inteligência, a cria seletiva ou a esterilização, que alimentaram diretamente o genocídio nazista. Apesar de que a eugenia esteja atualmente amplamente desacreditada, alguns grupos e pessoas a usam hoje como base científica de velhas suposições racistas.

"Durante os últimos 500 anos, as pessoas aprenderam como interpretar e entender o racismo. O racismo está em nossa vida cotidiana. Disseram-nos que há coisas muito específicas que se relacionam com a raça, como a inteligência, a conduta sexual, as taxas de natalidade, a agressão, o altruísmo e inclusive o tamanho do cérebro. Temos aprendido que as carreiras estão estruturadas numa ordem hierárquica e que algumas raças são melhores que outras", sustenta Sussman em seu artigo sobre o livro na Newsweek.

"Inclusive se você não é um racista, sua vida se vê afetada por esta estrutura ordenada. Nascemos numa sociedade racista. O que muitas pessoas não se dão conta é que esta estrutura racial não se baseia na realidade. Os antropólogos demonstraram há muitos anos que não existe uma realidade biológica da raça humana", conclui.

Fonte: Urgente24.com (Argentina)
http://www.urgente24.com/232891-el-mito-de-la-raza-antropologo-de-usa-delimita-al-racismo
Tradução: Roberto Lucena

Observação: há textos (críticas) melhores sobre o livro, mas por praticidade segue essa tradução da matéria em espanhol mesmo (que dá totalmente pro gasto). O texto é só pra apresentar o livro.

Sempre ao lado do dito negacionismo ("revisionismo") do Holocausto, os grupos que defendem isso (a maioria) também defendem o resgate das teoria pseudocientíficas que justificaram o racismo no passado pro presente, por isso essa questão sobre racismo será sempre pertinente pro entendimento da segunda guerra, do racismo no Brasil e no mundo de vários genocídios praticados por questões étnicas.

Muita gente chega perguntando coisas obtusas como "Por que Hitler odiava os judeus" sem ter uma compreensão nem do que seja racismo. Por isso que é estranho que livros como esse não tenham sido ainda traduzidos pro português, e bizarrices como esta (atenção, o texto do link analisa o livro e o critica, não critiquem só lendo o título do texto) são lançadas sem maiores problemas.

Uma falácia que surge da questão da demonstração de que raças humanas não existem é a de que "já que raças não existem então pra quê cotas raciais?". Eu não vou entrar na discussão se as cotas servem ou não (se prestam ou não), mas esta é uma afirmação falsa que os grupos que contestam isso utilizam.

Raças não existem mas a crença no racismo (de que grupos humanos são divididos por "raças" e de que vários grupos são discriminados por origem e principalmente cor da pele) é uma realidade.

Existe no Brasil uma negação cínica ou ignorante do passado colonial e escravocrata do país, além do uso da mitologia da "democracia racial" do Varguismo pra mascarar o racismo cultural colonial do país. Pra quem pergunta com ares de "espanto" a famosa exclamação "como pode haver nazistas no Brasil", pelo visto esse pessoal deve achar que precisa haver uma crença racista importada do fascismo alemão pra haver racismo num país que manteve escravidão por mais de três séculos como política de Estado, quer seja por Portugal como na fase pós-"Independência" do país (período monárquico de D. Pedro II). Independência entre aspas pois eu considero a continuação dessa Monarquia como parte da Monarquia portuguesa mandando no país sob nova "roupagem".

A desconstrução do mito da raça serve justamente pra mostrar e desmontar as ideias de discriminação e preconceito de grupos racistas e não pra negar que haja racismo.

sábado, 23 de maio de 2015

O espanhol que se dizia sobrevivente do Holocausto, mas foi desmascarado

Enric Marco nunca lutou contra o fascismo; pelo contrário, ele se inscreveu
como trabalhador voluntário na Alemanha nazista
Dos 7.532 espanhóis mantidos no campo de concentração nazista de Mauthausen (Áustria), só 2.335 sobreviveram.

Nesta terça-feira, completam-se 70 anos da liberação desses sobreviventes, uma data particularmente especial para a Espanha. Foi ali que terminaram a maioria dos 9 mil espanhóis deportados.

No entanto, a memória deles correu o risco de ser distorcida. Tudo devido a um impostor, Enric Marco, que até dez anos atrás foi presidente da principal associação de vítimas do nazismo na Espanha, a Amical Mauthausen.
Discurso de impacto

O historiador madrilenho Benito Bermejo, especialista em deportados da Espanha, interessou-se por Marco depois de conhecê-lo em uma conferência em 2002 – e achou a história dele muito intrigante.

Enric Marco contava que havia sido preso em Flossenbuerg, um campo de concentração na Baviera (Alemanha) e um destino atípico para um deportado espanhol.

Bermejo leu tudo o que pôde encontrar sobre o passado de Marco, a partir da versão deste - de que havia sido um anarquista obrigado a fugir de Barcelona, sua cidade natal, para a França no fim da Guerra Civil Espanhola (1936-39).

"Eu estava curioso, interessado em descobrir mais, mas logo fiquei perplexo", conta Bermejo à BBC.

"A versão de Marco para os acontecimentos mudava a cada vez que ele contava. Tanto sobre o campo de concentração quanto sobre como havia chegado ali."

Benito Bermejo também achou misterioso que nas poucas ocasiões que conseguiu falar com Marco cara a cara, ele se recusou a contar suas experiências na Alemanha nazista.

Enric Marco tem 94 anos e não se arrepende de ter mentido sobre sua presença no campo de concentração
Como presidente da Amical Mauthausen, Marco mostrou uma predileção por discursos de grande impacto, cheios de detalhes horríveis de sua suposta vida em Flossenbuerg.

Deixou vários deputados chorando ao se dirigir a eles no Dia Internacional da Comemoração em Memória das Vítimas do Holocausto, em janeiro de 2005.

Desmascarado

Buscando no arquivo do Ministério das Relações Exteriores, o historiador encontrou uma solicitação oficial do comando do Exército na Catalunha para obter informações sobre o paradeiro de Marco, já que ele não havia se apresentado para o serviço militar obrigatório em 1943.

O ministério respondeu que Marco era empregado de um estaleiro naval de Deutsche Werke, em Kiel, no norte da Alemanha.

Longe da luta contra o fascismo, Marco na verdade fez parte dos 20 mil espanhóis que trabalhavam para o Terceiro Reich sob um acordo de 1941 entre o general espanhol Francisco Franco e Adolf Hitler.

"Quando soube que Marco não foi deportado, e sim que foi à Alemanha voluntariamente, vi que algo muito estranho estava acontecendo", disse Bermejo.

Mas ele ainda tinha dúvidas quanto um possível engano de Marco, já que alguns trabalhadores voluntários que tiveram problemas com o regime nazista terminaram em campos de concentração.

Durante meses, o historiador buscou uma explicação de Marco.

Descobriu que Marco fora preso brevemente em Kiel, mas nunca foi condenado, e muito menos enviado a um campo de concentração.

Logo, durante o evento para comemorar o 60º aniversário da liberação do campo de Mauthausen, ele enviou um relatório sobre o caso ao escritório do governo espanhol e à associação Amical. E esperou.

"O que mais eu poderia fazer? Decidi que ir a público com o que eu sabia seria uma espécie de declaração de guerra e algo muito controverso naquele momento."

A caminho da Áustria, um dia antes da cerimônia de Mauthausen, Bermejo leu na imprensa que Marco havia tido que voltar à Barcelona por estar "indisposto". A farsa havia acabado.

O livro O Impostor, do escritor Javier Cercas, escrito com a colaboração de Marco, sugere que o próprio Marco foi confrontado por seus colegas da Amical a respeito das conclusões de Bermejo e confessou ter sido um voluntário do Terceiro Reich.

Perto do desastre

Marco finalmente admitiu abertamente que nunca havia estado em um campo de concentração. Passou a argumentar que foi preso brevemente "sob acusação de conspiração contra o Terceiro Reich" mas nunca foi liberado pelas tropas aliadas - como contava anteriormente - em 1945, no fim da Segunda Guerra Mundial.

Aos 94 anos, não se arrependeu publicamente da mentira que contou por três décadas, alegando que o objetivo era manter viva a memória das vítimas espanholas de Hitler.

Marco ia participar de Comemoração oficial com o então premiê Zapatero (à dir.), mas acabou desmascarado
"Quem teria me escutado se eu não tivesse encarnado esse personagem?", disse recentemente.

"É assustador pensar que se eu não o tivesse conhecido, as coisas poderiam ter sido muito diferentes", afirmou Bermejo.

Para José Marfil, também de 94 anos e um dos poucos sobreviventes espanhós reais do campo de Mauthausen, a luta para manter as memórias do local vivas deve continuar.

"Temos que fazer tudo o que for possível para manter a memória da existência desses campos de concentração viva para as pessoas, já que nós sobreviventes vamos desaparecer."

James Badcock, De Madri para a BBC
5 maio 2015

Fonte: BBC Brasil
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/05/150505_espanhol_nazista_rm
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Observação: curioso que nos sites "revisionistas" (ao menos os lusófonos) esta matéria não tenha sido citada como "prova" da "não existência" do Holocausto (como eles costumam alegar) com o alarde de costume. Matéria recente, do mês de maio.

Críticas à parte ao já habitual 'mantra' "revi", a matéria destaca a importância dos pesquisadores que desbancaram essa fraude antes que os ditos negacionistas usassem o caso pra fazer o alarde habitual deles ignorando que, num evento deste porte, com a quantidade de pessoas envolvidas, pode haver impostores como o da matéria e outros casos recentes, por exemplo:
Caso Misha Defonseca. Mulher que inventou memórias do Holocausto condenada a devolver mais de 22 milhões de dólares
Livro que conta história falsa sobre o Holocausto causa polêmica nos EUA (Caso Herman Rosenblat)

Só que casos como este têm sido coisas pontuais, mas na narrativa negacionista o que é pontual vira "regra" em vez de exceção, pois a agenda política deles está acima do evento em si. Todos os três casos citados foram descobertos e denunciados.

Por essas e outras que vale a repetição do dito popular de que "de boas intenções o inferno está cheio", pois pessoas com supostas boas intenções (pelo menos alguns alegam) podem agir de má fé e provocar prejuízos.

Esses casos acima sempre me faz lembrar daquele pessoal "bem intencionado" (na visão deles, que ignoram totalmente o que os outros comentam ou criticam), misturando a questão de Israel com essa questão da segunda guerra, causam ao irem provocar "revisionistas" com discurso moralista achando, tolamente, que irão mudar a visão de mundo dos negacionistas sem entender o quão são arraigadas essas crenças obscuras nos "revis", ignorando a agenda fascista (na acepção do termo) por detrás do discurso.

domingo, 14 de dezembro de 2014

Foi o Holocausto um fenômeno marginal nos países neutros?

O Holocausto não foi, de forma alguma, um mero capítulo da II Guerra Mundial. Foi, na verdade, um acontecimento determinante na história europeia.

Entre os dias 24 e 26 de Novembro teve lugar, em Madrid, o Colóquio Internacional “Bystanders, Recuers or Perpetrators. The Neutral Countries and the Shoah”. Organizado pelo Centro Sefarad, pelo Centro de Estudos do Holocausto e Genocídio (Universidade do Minnesota), pelo Memorial da Shoah (Paris), pelo Departamento Federal dos Negócios Estrangeiros da Suíça, pela Fundação da Topografia do Terror (Berlim), foi o primeiro encontro em que se debateu o papel dos países neutros relativamente ao tema, numa perspectiva comparada. A par de investigadores da Suécia, Suíça, Turquia e Espanha, estiveram presentes três historiadores que se têm debruçado sobre a problemática dos refugiados judeus em Portugal e do relacionamento do Estado Novo com o III Reich.

Portugal esteve representado, pela primeira vez, num fórum acadêmico internacional que debateu um dos episódios mais trágicos da história contemporânea – a atitude dos países europeus neutros face ao massacre dos judeus pelos nazis. Este encontro refletiu, na verdade, uma mudança ocorrida nas últimas décadas na própria historiografia, cujo paradigma se estendeu do “epicentro” do Holocausto para a “periferia”, isto é, para aqueles países que durante muito tempo foram vistos como meros “espectadores”. Um dos oradores questionou mesmo se foi possível ser-se neutro perante um genocídio (Paul Levine).

As palavras “similaridade”, apesar das diferenças, e “ambiguidade” foram, talvez, as mais utilizadas ao longo dos três dias. Uma das principais conclusões a que se chegou foi o facto de a resposta à perseguição movida pelo regime Nacional-Socialista ter sido similar em todos estes países. Todos optaram por adotar medidas restritivas, fechando as fronteiras aos que tentavam salvar-se, sob o pretexto de que os refugiados poderiam perturbar o mercado de trabalho interno ou, até, pôr em perigo a homogeneidade nacional. E até os documentos oficiais refletem esta semelhança ao utilizarem termos como “indesejáveis” para classificar os judeus. Análoga foi, ainda, a resposta ao ultimato alemão de repatriamento dos judeus, em 1943/1944, e o ajustamento da política fronteiriça de acordo com a evolução da guerra.

Terá sido o grau de conhecimento e de compreensão dos fatos fatores que condicionaram a resposta e posição dos países neutros? De fato, não era possível prever o que iria acontecer depois da invasão da União Soviética, em Junho de 1941, dado que o chamado Holocausto – ou Shoah – se tratou, como o historiador Yehuda Bauer demonstrou, de um genocídio não planeado, que evoluiu por etapas e teve a sua expressão máxima, no Leste europeu, a partir de final de 1941. Se até então a discriminação, emigração/expulsão dos judeus (e “arianização” da sua propriedade) eram centrais na política nazi, e era uma solução possível, embora cada vez mais difícil devido aos entraves colocados pelos nazis e à própria guerra, a partir de final de 1942 e ao longo de 1943, tornou-se cada vez mais claro o que estava a acontecer no Leste da Europa. No entanto, o mesmo Yehuda Bauer chamou a atenção para o facto de o genocídio nazi dos judeus não ter tido precedente e de que, apesar de os países aliados e neutros terem obtido algumas informações sobre o que se passava na Europa de Leste ocupada, se tem de fazer uma distinção entre informação e conhecimento, sendo este último fundamental para a tomada de uma ação.

Outros fatores equacionados pelo investigadores presentes foram o regime político (democracia/ditadura) dos países neutros, a proximidade/distanciamento ideológico face ao Nacional-Socialismo, o peso da opinião pública, a existência de antissemitismo individual e/ou estatal, a questão da soberania nacional ou, entre outros, o desfecho da guerra.

Ficou claro que o Holocausto não foi, de forma alguma, um mero capítulo da II Guerra Mundial. Foi, na verdade, um acontecimento determinante na história europeia. Para alguns países, como a Suécia, tornou-se numa memória essencial para a própria integração na Europa. Mas, além de ser um facto da história europeia, foi ainda um facto da história da Humanidade e uma questão ética da humanidade. Isto explica a necessidade de apostar no seu ensino, que é tanto mais premente quando se assiste na Europa à ascensão de uma nova extrema-direita, ao recrudescimento da xenofobia e do antissemitismo, bem como à banalização do Holocausto devido ao conflito israelo-palestiniano. A abordagem do tema no ensino básico e secundário ajudará – como foi sublinhado num dos últimos painéis sobre a sua memória e educação nos países neutros – a uma reflexão mais ampla sobre racismo, democracia – tão frágil –, direitos humanos ou sobre o papel da história e da memória na construção de uma educação para a cidadania.

Que obstáculos enfrentam os professores nos países neutros? Um dos desafios consiste no fato de se estar a ensinar sobre algo que não teve lugar no interior das suas fronteiras, não existindo mesmo “lugares de memória”, como os campos. Outros países, onde a transição pacífica para a democracia – como foi o caso de Espanha – não conduziu a uma confrontação com a memória, é ainda necessário lidar com o legado da ditadura e enfrentar, com honestidade, o passado (Marta Simó). Este é o caso da Espanha, onde o regime Franquista apostou na construção da sua própria memória histórica em torno do envolvimento do país na II Guerra Mundial.

No final da conferência houve ainda oportunidade para refletir sobre o futuro da investigação sobre o Holocausto, realçando-se a necessidade de incorporar na agenda historiográfica destes países uma abordagem comparativa, promovendo-se projetos conjuntos, bilaterais, especialmente entre Portugal e Espanha. Esta necessidade traduz-se, no caso português, num continuado esforço por parte da historiografia nacional em trilhar o seu caminho, contando com o apoio das instituições científicas nacionais e da própria sociedade civil. Finalmente, observou-se que, se a Historiografia sobre o tema em Portugal já é assinalável, o País ainda só tem um estatuto de observador, a par da Bulgária, Macedônia e Turquia, na Aliança Internacional de Memória do Holocausto (International Holocaust Remembrance Alliance- IHRA), que teve o seu segundo plenário semi-anual, entre 1 e 4 de Dezembro de 2014, em Manchester.

Cláudia Ninhos e Irene Flunser Pimentel
Historiadoras e autoras de Portugal, Salazar e o Holocausto, 2013

Fonte: Público (Portugal)
http://www.publico.pt/mundo/noticia/foi-o-holocausto-um-fenomeno-marginal-nos-paises-neutros-1678689?page=-1

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Svenja Leiber: “Culturalmente, a Alemanha ainda não se recuperou do Holocausto”

A escritora alemã publica 'Los tres violines de Ruven Preuk' (Malpaso) (Os três violinos de Ruven Preuk, tradução livre).

Svenja Leiber
Literatura como seguimento, literatura que se toma o garoto e deixa o homem, e levanta ata de sua formação: é assim que funciona 'Los tres violines de Ruven Preuk' (Malpaso) [Os três violinos de Ruven Preuk, tradução livre], a segunda novela da escritora alemã Svenja Leiber (Hamburgo, 1975), que conta a peripécia de um músico alemão através do campo minado do século vinte. O jovem Preuk, um superdotado do violino, não só assiste - primeiro como espectador, e como soldado depois - a duas guerras mundiais e seus seguintes pós-guerras, como emigra do campo para a cidade, converte-se em músico, namora e se casa, triunfa e fracassa, e presencia, por fim, o vago despertar do fim do século.

O estilo de Leiber, um presente deliberadamente frio, elíptico nas zonas de sombra, se abraça ao fato visto por uma lupa. Com detalhe. Sua intenção é contar a outra guerra: o pós-guerra, o grande através do pequeno, o que ocorreu não só na retaguarda, senão no lar, ainda mais ao fundo de quem se livrou do front, mas que ao invés teve que esperar, entre ruínas e entulhos, a vitória ou a devastação. Por isso Hitler não é citado nominalmente - se faz referência ao Führer só uma vez - e não se mencionam fatos, nem batalhas, nem campos de concentração. "A política não se pode ficcionar - disse Leiber, uma alemã considerável, alta e elegante -, mas ao mesmo tempo toda novela é política, pois a política começa na vida dos homens e disso se ocupa a literatura. Eludir a cita direta não é difícil: cada coisa que ocorreu teve sua consequência direta na gente".

-De onde vem a história de Ruven e seus três violinos?

-Eu cresci em um povoado próximo de Hamburgo, e ali um dos granjeiros tinha três violinos, um dos quais, tinha um valor incalculável. O problema é que nunca soube qual de todos eles era o violino valioso. Partindo daí quis fazer uma analogia com a história de Orfeu a partir da relação do mito com a morte. Era essa, em resumo, a história que eu queria contar, uma história que, devido às andanças dos violinos, tinha que estar atravessada pelo século XX alemão. Alegro-me de ter escrito um livro que fala da história de meu país justo num momento em que percebo certa saturação dos alemães com respeito a isso.

-A que se credita este cansaço?

-É como se muitos alemãs tivessem chegado a uma espécie de limite. Não desejam seguir escutando o que ocorreu. Por outro lado, hoje há certa tendência a dizer: "Bem, fizemos o que fizemos, nosso país fez o que fez, mas eu estou orgulhoso de ser alemão. Já sei: nós alemães somos os melhores". Mas, no meu modo de ver, isso é incompatível com uma visão crítica da história. Continuamente, os meios nos dizem que somos melhores jogando o futebol, que a nível político lideramos a Europa e que somos uma potência econômica. Muito bem, mas vamos aonde nos levou a retórica dos vencedores? A vitória gera derrotados e Alemanha, tendo em conta seu passado, não se pode permitir essa mentalidade.

-Disse que os alemães estão cansados de sua história, mas no ano assado uma série de televisão, Filhos do Terceiro Reich (Unsere Mütter, unsere Väter), foi o maior sucesso de audiência na Alemanha nos últimos anos.

-É interessante que menciones essa série, porque para muitos foi a última gota que encheu o vaso. Minha opinião é que ela é horrível. É uma série cheia de clichês, tópica, sentimental no pior sentido, com essa música que que te falam quando tens que rir, quando tens que se emocionar etc. É uma visão romântica, e portanto, adulterada, do período mais duro do século XX. Por aí não pode ir nossa forma de afrontar o passado.

-Você também se refere, ao final do livro, ao chamado milagre alemão depois da devastação da Segunda Guerra Mundial. Ao lê-lo dá a sensação de que se fez de algum modo a luz.

-A verdade é que não estou muito convencida de que se fez a luz. Na realidade, o milagre alemão não foi tal. É certo que em pouco tempo se levantou um país novo, e no plano econômico pode parecer que as coisas vão bem, mas isso não quer dizer que se levantara um país melhor.

-Por onde há margem de melhorar a Alemanha? A que se refere quando diz que não é um país melhor?

-Refiro-me ao que ficou da guerra. Desde então, há um vazio gigantesco na Alemanha que no dia de hoje se chegou: não nos recuperamos em absoluto a nível cultural. O extermínio de toda a elite judaica foi trágico para a história cultural da Alemanha. é certo que se melhorou, mas ainda se te muito caminho. É curioso, porque hoje são precisamente emigrantes do leste, de procedência em sua maioria judaica, quem está fazendo a Alemanha se recuperar, pouco a pouco, parte do brilho do passado.

Fonte: El Cultural (Espanha)
http://www.elcultural.es/noticias/letras/Svenja-Leiber-Culturalmente-Alemania-aun-no-se-ha-recuperado-del-holocausto/6868
Título original: Svenja Leiber: “Culturalmente, Alemania aún no se ha recuperado del holocausto”
Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

E se o Holocausto foi pior do que pensamos? (Enciclopédia USHMM)

Auschwitz, Treblinka e o gueto de Varsóvia simbolizam o Holocausto na memória coletiva. Mas estes lugares não contam toda a história da perseguição nazi aos judeus. Por mais brutais que tenham sido, eles representam apenas uma fração minúscula do sistema de detenção, tortura e morte

Roupas e sapatos de campos de concentração no Museu do Holocausto em Washington, cujo projecto
de investigação ainda vai a meio. Nem todos os 42.500 locais tinham como objectivo o extermínio
de pessoas: o projecto contabilizou mais de 30 mil campos de trabalhos forçados, 1150 guetos judeus,
980 campos de concentração, mil campos de prisioneiros de guerra, 500 bordéis
Jim Young / Reuters
Há 13 anos, quando investigadores do Museu do Holocausto em Washington iniciaram o projeto de documentar exaustivamente todos os campos de concentração, prisões, guetos e centros de trabalhos forçados estabelecidos pelos nazis entre 1933 e 1945, foi-lhes dado uma estimativa de que teriam existido entre cinco e sete mil desses lugares. Os números não pararam de aumentar ao longo dos anos, à medida que avançaram a sua pesquisa. Até agora, os investigadores conseguiram identificar 42.500 desses lugares, um número que chocou até académicos ligados ao estudo do Holocausto quando foi anunciado no Instituto Histórico Alemão em Washington, em Janeiro.

"Se alguém me perguntasse quantos destes lugares existiram, eu teria dito 7000, 8000, 10 mil - 15 mil, no máximo. 42.500 é um número que nunca me teria passado pela cabeça", diz ao PÚBLICO Deborah Lipstadt, historiadora do Holocausto e professora na Emory University em Atlanta.

Geoffrey Megargee, o coordenador da investigação do Museu do Holocausto, admite que o número possa vir a aumentar porque o projeto ainda vai a meio. A data prevista de conclusão é 2025.

A descoberta mostra até que ponto a história do Holocausto ainda está a ser escrita, 68 anos depois do fim da II Guerra, que revelou ao resto do mundo a existência dos campos de concentração. O novo número oferece um retrato mais complexo e disseminado do horror nazi, um sistema por onde terão passado entre 15 e 20 milhões de pessoas, segundo as estimativas dos investigadores, e não apenas judeus, mas também outros grupos étnicos, homossexuais e prisioneiros de guerra. E, sublinha Megargee, o número de vítimas - seis milhões de judeus mortos - permanece inalterado.

"O Holocausto acaba de tornar-se mais chocante", escreveu o New York Times no início deste mês, quando publicou uma notícia sobre a nova contagem dos investigadores do Museu do Holocausto. "Quando uma pessoa lê isso, pensa: "O quê??? Isso é impossível!", diz Deborah Lipstadt. "Isto não muda as coisas, mas vem reforçar o que nós, que trabalhamos nesta área, já tínhamos constatado: que quando existem 42.500 diferentes campos, instalações, o que lhes quiser chamar, é virtualmente impossível que as pessoas na Alemanha e nos países alinhados não soubessem o que se estava a passar."

Essa também é a conclusão de Geoffrey Megargee. "Quando chegamos a um número como este, as pessoas podiam não saber os detalhes do que estava a acontecer nalguns destes lugares, podiam não estar cientes da sua escala, podiam não saber quantos judeus é que estavam a ser mortos na Europa de Leste, mas literalmente era impossível dobrar uma esquina na Alemanha sem encontrar centros de detenção de prisioneiros de guerra ou campos de concentração com trabalhadores forçados. As pessoas sabiam que os direitos humanos estavam a ser violados, se quisessem pensar no assunto. Podem ter preferido não ver os piores aspectos do sistema. Mas até certo ponto, o sistema estava à frente dos olhos de toda a gente."

Só em Berlim, os investigadores identificaram três mil campos de concentração e casas de reclusão para judeus. Nem todos os 42.500 lugares tinham como objetivo o extermínio de pessoas. Eles variavam em termos de função, organização e tamanho, conforme as necessidades dos nazis. Megargee e o seu colega Martin Dean contabilizaram mais de 30 mil campos de trabalhos forçados, 1150 guetos judeus, 980 campos de concentração, mil campos de prisioneiros de guerra, 500 bordéis onde as mulheres eram obrigadas a ter relações sexuais com militares alemães. Megargee nota que havia campos "especiais" de trabalhos forçados para judeus e campos de trabalhos forçados especificamente para não-judeus destinados a ajudar a economia alemã durante a guerra. As experiências podiam variar imenso. "Um prisioneiro de guerra americano ou um britânico tinha condições relativamente aceitáveis - e quero sublinhar a palavra "relativamente"", diz Megargee, porque, por regra, os campos onde se encontravam eram fiscalizadas pela Cruz Vermelha Internacional que, entre outras coisas, fazia chegar remessas alimentares.

"Mas no outro extremo dos prisioneiros de guerra estavam os soviéticos: 60% dos soldados soviéticos capturados pelos alemães morreram ou de fome, ou devido a abusos ou porque foram mortos."

Os investigadores também identificaram 100 clínicas, dirigidas por pessoal médico: quando uma trabalhadora forçada engravidava, era enviada para um destes estabelecimentos, onde era obrigada a abortar. Nos casos em que as mulheres davam à luz, os bebês eram mortos, normalmente por um lento processo de subnutrição. Em qualquer dos casos, a mulher regressava para o campo de trabalhos forçados.

"As pessoas perguntam-me: "Por que é que os alemães estavam a fazer isto quando tinham uma guerra para combater?" E a resposta é que isto fazia parte da guerra que estavam a combater. Eliminar os judeus era um objetivo de guerra para eles, não era uma distração", diz Geoffrey Megargee.

Levantamento exaustivo

Muitos dos lugares documentados pelos investigadores eram previamente conhecidos, mas apenas a nível local. Mas este é o primeiro levantamento exaustivo, que procura reunir toda essa informação num mesmo projeto.

O objetivo é catalogar tudo numa enciclopédia de sete volumes, dois dos quais já foram publicados e contêm cerca de duas mil páginas cada. O segundo volume, sobre guetos na Europa de Leste, contém cerca de 320 lugares cuja existência nunca tinha sido documentada em nenhuma publicação.

Sam Dubbin, um advogado da Florida que representa a maior organização de sobreviventes do Holocausto nos Estados Unidos, a Holocaust Survivors Foundation USA, nota ao PÚBLICO que há casos de sobreviventes a quem foram negadas compensações por não haver qualquer registro do lugar onde dizem ter sido encarcerados ou sujeitos a trabalhos forçados. Dubbin acredita que o trabalho dos investigadores do Museu do Holocausto pode ajudar a reparar essa lacuna. Segundo este advogado, muitos destes lugares permaneceram longe do conhecimento público durante tanto tempo porque havia entidades interessadas em manter essa informação secreta - companhias de seguros que protegiam os bens e propriedades que foram confiscados aos judeus, os Governos alemão e de países colaboracionistas - para não terem de pagar indenizações às vítimas do nazismo.

É uma tese que Deborah Lipstadt não rejeita inteiramente, mas considera algo exagerada. "Detesto teorias da conspiração. Passei grande parte da minha vida a lutar contra pessoas que difundem teorias da conspiração", diz, referindo-se aos revisionistas que negam o Holocausto. "Eu diria que é muito provável que tenha havido instituições, organizações, até mesmo organismos governamentais que não viram qualquer benefício em ter essa informação cá fora. Agora, quer isso dizer que havia pessoas sentadas sobre essa informação, a tentar escondê-la? Não me parece."

Geoffrey Megargee diz que começou por pensar no projeto como qualquer acadêmico pensaria. "Achei que a enciclopédia seria muito valiosa enquanto obra de referência, ponto. Mas quando saiu o primeiro volume, fiz uma apresentação no museu a um grupo de sobreviventes e houve um deles que se levantou, pôs a mão sobre o livro e disse: "Este é um livro sagrado." Para os sobreviventes, é muito importante que alguém esteja finalmente a documentar todos estes milhares de lugares que, de outra forma, estariam condenados ao esquecimento."

Kathleen Gomes, Washington
17/03/2013 - 00:00

Fonte: Público (Portugal)
http://www.publico.pt/culturaipsilon/jornal/e-se-o-holocausto-foi-pior-do-que-pensamos-26233035#/0

Ver mais:
O Holocausto ainda mais chocante: catalogaram 42.500 campos nazis na Europa (Matéria do New York Times)

sábado, 20 de setembro de 2014

Descobrem câmaras de gás no campo de extermínio de Sobibor numa escavação arqueológica

Escavações no local em 2009.
Foto: Yad Vashem
AJN.- "Este descobrimento tem uma grande importância na investigação do Holocausto", disse o Dr. David Silberklang, investigador do Yad Vashem.

Aproximadamente 250.000 judeus foram assassinados nesse lugar, o qual os nazis demoliram e cobriram com árvores para encobrir seus crimes. Também se encontraram bens pessoais das vítimas.

Uma escavação arqueológica na Polônia descobriu a localização das câmaras de gás no campo de extermínio de Sobibor, anunciou hoje o Yad Vashem, segundo o jornal israelense The Jerusalem Post.

Cerca de 250.000 judeus foram assassinados em Sobibor, mas em 14 de outubro de 1943, uns 600 presos se rebelaram e escaparam brevemente. Entre 100 e 120 prisioneiros sobreviveram à revolta e 60 deles à guerra. Depois do levante do campo, os nazis arrasaram a zona e plantaram pinheiros para ocultar seus crimes.

A escavação arqueológica no lugar, que é conduzida por uma equipe internacional de especialistas desde 2007, descobriu milhares de pertences pessoais dos presos, incluindo joias, perfumes, medicamentos e utensílios.

Esta semana foi descoberto um poço que foi utilizado pelos prisioneiros do Campo 1, onde ocorreu a revolta. Esses também continham objetos pessoais que pertenciam a prisioneiros judeus já que os guardas alemães haviam arrojado basura nele quando o lugar estava sendo destruído.

O Dr. David Silberklang, investigador do Instituto Internacional para Investigação do Holocausto, do Yad Vashem, disse: "O descobrimento da localização exata das câmaras de gás no Campo de Sobibor tem uma grande importância para a pesquisa do Holocausto".

Além disso, acrescentou que era importante entender que "não há restos de nenhum judeu que trabalhou na área das câmaras de gás, e portanto, esses resultados são os únicos que restaram dos que foram assassinados".

Fonte: AJN (espanhol)
http://www.prensajudia.com/shop/detallenot.asp?notid=39513
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
Escavações revelam câmara de gás em campo de concentração na Polônia (blog A Vida no Front)

Mais detalhes em:
Archaeologists unearth hidden death chambers used to kill a quarter-million Jews at notorious camp (Washington Post, EUA)
Archeological Digs Reveal Sobibór Gas Chambers (Yad Vashem)
Archaeological Excavations at Sobibór Extermination Site


terça-feira, 9 de setembro de 2014

Exposição conta história de muçulmanos que salvaram judeus durante Holocausto

Realizada em Cardiff, no País de Gales, mostra quer resgatar outros casos de colaboração entre as duas comunidades religiosas

Uma exposição dedicada à história de muçulmanos que salvaram a vida de judeus no Holocausto foi inaugurada em Cardiff, no País de Gales.

Segundo Stanley Soffa, presidente do Conselho Representativo Judaico nacional e responsável por levar a mostra para o país, trata-se de uma "história heroica".

A exposição é parte do projeto Portas Abertas 2014, evento anual gratuito com diversas atrações, realizado em setembro.

The Righteous Muslim (ou "O Muçulmano Justo", em tradução livre) documenta a história dos bósnios muçulmanos que fizeram um grande esforço para preservar a tradição judaica durante a Segunda Guerra Mundial, por meio da proteção do Hagadá de Sarajevo, um manuscrito de 600 anos, que narra o êxodo do Egito e é lido na noite da Páscoa judaica.

Quando um oficial nazista veio para roubar o Hagadá, dois homens conseguiram levar os manuscritos para uma cidadezinha montanhosa acima de Sarajevo, escapando dos postos de controle nazistas.

Um religioso muçulmano manteve a peça escondida debaixo do piso de uma mesquita, até que a guerra acabasse.

"A exposição foi muito bem recebida em Londres no ano passado. Por isso, estamos muito satisfeitos por ter a oportunidade de compartilhar esta história com o povo de Gales", explicou Soffa.

"Para nós, é uma história de heroísmo, a de muçulmanos salvando vidas judaicas, o que proporciona uma ligação única entre as comunidades. Espero que possamos comemorar juntos e lembrar juntos", analisou.

Judeus iugoslavos foram alvos das forças da Alemanha nazista
A exposição tem como objetivo estimular novas pesquisas sobre os casos de colaboração entre comunidades muçulmanas e judaicas.

"O Holocausto é, provavelmente, o evento mais documentado da história moderna, mas até hoje poucas pessoas sabiam sobre esse evento factual durante a Segunda Guerra Mundial, quando dois universos religiosos se uniram para salvar um deles", explica Saleem Kidwai, secretário-geral do conselho islâmico do País de Gales.

"Essas comunidades desapareceram no fim da Segunda Guerra Mundial. Como as pessoas das antigas gerações já morreram, há o medo de se perder estas histórias", diz Kidwai.

O programa é a maior celebração anual gratuita de arquitetura e patrimônio realizada no País de Gales e no Reino Unido. É, também, o maior evento de voluntariado no setor.

"O Portas Abertas oferece aos visitantes locais e estrangeiros a oportunidade de explorar o fascinante patrimônio construído no País de Gales, com eventos que conectam a história", afirma John Griffiths, ministro da Cultura do País de Gales.

Atualizado em 7 de setembro, 2014 - 21:02 (Brasília) 00:02 GMT

Fonte: BBC Brasil
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140907_exposicao_judeus_muculmanos_lgb.shtml

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