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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Depoimento de August Becker, Ph.D, inspetor das vans de gaseamento

Até cerca de 1941 eu estava envolvido com o programa de eutanásia em Oberdienstleiter no departamento de Viktor Brack na Chancelaria do Führer. Eu estive trabalhando como um especialista em processos de gaseamento para extermínio de gente mentalmente doente nos asilos e sanatórios. Desde que esta ação foi suspensa por um curto tempo - não sei porque - antes que eu fosse transferido para a RSHA em Berlim como resultado de uma conversa privada entre o Reichsführer SS Himmler e o Oberdienstleiter Brack.*

Himmler queria empregar pessoas que fossem habilitadas, como resultado da suspensão do programa de eutanásia e que, como eu, fossem especialistas em extermínio por gaseamento para operações de gaseamento em larga escala no Leste da Europa, onde isto estava tendo início. A razão para esta decisão é que os homens encarregados dos Einsatzgruppen no Leste europeu estavam reclamando cada vez mais que os pelotões de fuzilamento não poderiam lidar com o estresse psicológico e moral do assassínio em massa indefinidamente. Eu sei que um número de membros desses esquadrões foram enviados a asilos de doentes mentais e por esta razão um novo e melhor método de extermínio teria que ser encontrado. Então em dezembro de 1941 eu comecei a trabalhar na RSHA, Amt H, no departamento de Rauff… o vice de Rauff na época era então Hauptmann Pradel, que mais tarde se tornou major. Embora Pradel também tivesse uma qualificação equivalente na SS que ele mesmo chamava de major. Eu não tive inicialmente qualquer contato pessoal com Rauff.

Quando em Dezembro de 1941 fui transferido para o departamento de Rauff, ele me explicou a situação dizendo que o estresse psicológico e moral sobre os pelotões de fuzilamento não era mais suportável e que, portanto, o programa de gaseamento tinha que ser iniciado. Ele disse que as vans de gás com motoristas já estavam a caminho ou de fato já tinham alcançado dos Einsatzgruppen. Minha breve profissional era inspecionar o trabalho dos indivíduos do Einsatzgruppen no Leste europeu em conexão com as vans de gás. Isso queria dizer que eu tinha de garantir que os assassinatos em massa realizados nos caminhões procediam corretamente. Eu tinha de prestar atenção especial ao funcionamento mecânico dessas vans. Eu gostaria de mencionar que havia dois tipos de furgões de gás em operação: a Blitz Opel, pesando 3-5 toneladas, e a grande Saurerwagen, que, tanto quanto sei pesava 7 toneladas. No meio de dezembro de 1941, por instruções de Rauff, eu parti para o Leste europeu para pegar o Einsatzgruppe A (Riga) .. para inspecionar seus Einsatzwagen [veículos especiais] ou vans de gás.

Em 14 de dezembro de 1941, no entando, sofri um acidente de carro em Deutsch-Eylau. Como consequência deste acidente, fui enviado para Hospital Católico em Deutsch-Eylau e em virtude minha recuperação recebi alta hospitalar em 23 ou 24 de dezembro de 1941. Tenho certeza disso porque passei o Natal com minha família em Berlim.

Em 4 ou 5 de janeiro de 1942, recebi uma mensagem de Rauff me pedindo para me dirigir a ele. Ao me dirigir a ele fui instruído a partir imediatamente. Desta vez eu viajava diretamente para o Einsatzgruppe D no sul (Otto Ohlendorf) em Simferopol. Inicialmente era para eu ter viajado de avião, mas isso não deu certo por causa das condições climáticas de frio. Eu, portanto, parti de trem em 5 ou 6 de janeiro viajando através de Cracóvia e Fastov para Nikolayev. De lá eu voei no avisão do Reichsführer para Simferopol na Criméia. A viagem durou cerca de três semanas e eu relatei ao chefe do Einsatzgruppe D, Otto Ohlendorf, em algum dia de janeiro. Fiquei com este grupo até o início de abril de 1942 e, em seguida, visitei cada Einsatzgruppe até chegar ao Grupo A, em Riga.

Em Riga eu aprendi com o Standartenführer Potzelt, vice-comandante da Polícia de Segurança e SD em Riga, que a operação Einsatzkommando em Minsk precisava de algumas vans de gás adicionais já que não consegui operar as três vans existentes que tinha. Ao mesmo tempo, eu também aprendi com Potzelt que havia um campo de extermínio judeu em Minsk. Eu voei para Minsk de helicóptero, correção, num Storch Fieseler pertencente ao Einsatzgruppe. Viajando comigo estava o Hauptsturmführer Rühl, o chefe do campo de extermínio em Minsk, com quem eu tinha discutido negócios em Riga. Durante a viagem, Rühl me propôs que eu fornecesse vans adicionais, uma vez que não poderia prosseguir com os extermínios. Como eu não era responsável pela ordenação de vans de gás, sugeri a Rühl que se dirigisse ao escritório de Rauff.

Quando vi o que estava acontecendo em Minsk - que as pessoas de ambos os sexos estavam sendo exterminados em massa - eu não agüentava mais ver isso e três dias depois, talvez em setembro de 1942, viajei de volta por caminhão via Varsóvia à Berlim.

Eu tinha a intenção de informar a Rauff em seu escritório em Berlim. No entanto, ele não estava lá. Em vez disso, fui recebido por seu vice, Pradel, que tinha sido neste período promovido a Major. ... Em uma conversa privada com duração de cerca de uma hora na qual eu descrevi para Pradel o método de trabalho das vans de gás e críticas sobre o fato de que os criminosos não tinham sido gaseados, mas haviam sido sufocados porque os operadores tinham ajustado o motor de forma incorreta. Eu disse a ele que as pessoas tinham vomitado e defecavam. Pradel me escutou sem dizer uma palavra. No final da entrevista ele simplesmente me disse para escrever um relatório detalhado sobre o assunto. Por fim, ele me disse para ir ao escritório do caixa para liquidar as despesas que haviam incorridas durante minha viagem.

Fonte: Ernst Klee, Willi Dressen e Volker Riess (editores), The Good Old Days, tradução (para o inglês) de Deborah Burnstone, 1991 Konecky & Konecky, Old Saybrook, CT, pág. 68-71, da afirmação de Becker em 26.3.60 (9 AR Z 220/59, vol. I, pág. 194 ff.)

Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.yuku.com/topic/1646/Statement-by-August-Becker-Ph-D-Gas-Van-Inspector
Material de: Roberto Muehlenkamp
Tradução: Roberto Lucena

*Observação: no texto em inglês os primeiros três parágrafos deste texto são um só parágrafo. Dividi o parágrafo em três no intuito de tornar a leitura mais fácil.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Porque é negação e não revisionismo. Parte VIII: Os Massacres de Simferopol

Nas páginas 210 e seguintes do livro Treblinka. Extermination Camp or Transit Camp? ("Treblinka. Campo de Extermínio ou Campo de Passagem?"), escrito pelos nossos clientes regulares Carlo Mattogno e Jürgen Graf, lê-se o seguinte (minha tradução):
d. Simferopol e o julgamento de Manstein
O General Marechal de Campo Erich von Manstein era Comandante do Décimo – Primeiro Exército e combatia no Mar Negro e na Crimeia. Em 1949, foi levado perante um tribunal militar britânico em Hamburgo sob acusação de cumplicidade com os massacres cometidos pelo Einsatzgruppe D. Seu advogado de defesa era o inglês Reginald T. Paget, quem escreveu um livro – traduzido para alemão no ano seguinte – sobre o julgamento em 1951. Nesse livro, reporta o seguinte a respeito das actividades do Einsatzgruppe D na Crimeia:
"A mim, os números declarados pelo SD pareciam-me completamente impossíveis. Companhias individuais de cerca de 100 homens com cerca de 8 veículos eram declarados como tendo morto 10.000 a 12.000 judeus em dois ou três dias. Uma vez que, como se recordará, os judeus acreditavam no seu realojamento e consequentemente levavam as suas pertenças consigo, o SD não pode ter transportado mais do que vinte ou trinta judeus respectivamente num camião. Por cada veículo, considerando o carregamento, 10 quilómetros de percurso, descarregamento e retorno, deve ter passado um tempo estimado de duas horas. O dia de Inverno na Rússia é curto e não se podia conduzir à noite. A fim de matar 10.000 judeus, teriam sido necessárias pelo menos três semanas.
Em um dos casos fomos capazes de verificar os números. O SD afirmava ter morto 10.000 judeus em Simferopol em Novembro e declarou a cidade livre de judeus em Dezembro. Através de uma séria de verificações, formos capazes de provar que o fuzilamento de judeus em Simferopol tinha ocorrido num único dia, especificamente em 16 de Novembro. Havia apenas uma única companhia do SD em Simferopol. O local de execução situava-se a 15 quilómetros da cidade. O número de vítimas não pode ter sido superior a 300, e esses 300 provavelmente não eram apenas judeus, mas uma colecção de diversos elementos que estavam sob suspeita de pertencer ao movimento de resistência. O caso de Simferopol foi amplamente difundido pelo público aquando do julgamento, uma vez que tinha sido mencionado pela única testemunha viva para esta acusação, um soldado austríaco com o nome de Gaffal. Este alegou que tinha ouvido a operação contra os judeus ser mencionada na cantina dos sapadores, onde era o homem da ordenança, e que tinha passado pelo local da execução perto de Simferopol. Depois de este depoimento recebemos uma quantidade de cartas e fomos capazes de apresentar várias testemunhas que tinham ficado junto de famílias judias no quarteirão e reportaram sobre os serviços religiosos na sinagoga bem como o mercado judeu, onde tinham comprado ícones e velharias – até à altura em que Manstein partiu da Crimeia e mesmo depois. Não havia qualquer dúvida de que a comunidade judaica em Simferopol tinha continuado a existir abertamente, e embora alguns dos nossos opositores tivessem ouvido rumores de violência contra os judeus em Simferopol, parecia mesmo assim que a comunidade judaica não estava consciente de nenhum perigo em particular."

Mattogno & Graf citam o advogado de defesa de Manstein, Reginald T. Paget, no contexto da sua tentativa de demonstrar que os "Relatórios de Situação Operacional URSS" dos Einsatzgruppen, esquadrões da morte do Sicherheitsdienst(Serviço de Segurança) de Reinhard Heydrich, que se contam entre a evidência mais directa e condenatória das chacinas em massa nazis e podem ser parcialmente lidas em tradução inglesa sob este link, foram muito exagerados pelos seus autores e que o número real de execuções levado a cabo por estes esquadrões da morte era muito inferior do que aquele que resulta dos referidos relatórios. Os superiores dos comandantes dos Einsatzgruppen, até ao nível dos próprios Heydrich e Himmler, devem ter sido fulanos muito ingénuos e confiantes que não consideraram necessário implementar qualquer mecanismo de controlo para verificar a exactidão daquilo que lhes era reportado sobre a execução das suas ordens, ou então não se importavam com a medida em que as suas ordens eram de facto executadas, enquanto os comandantes das Einsatzgruppen, por outro lado, supostamente não levavam o seu trabalho muito a sério e rotineiramente enganavam os seus superiores alegando logros muita para além do que tinham realmente conseguido.

Paget, o advogado de Manstein, parece ter acreditado neste cenário bastante improvável, ou então foi o que contou aos seus leitores no livro que escreveu sobre o julgamento de Manstein. Seguidamente vamos examinar a consistência e exactidão das alegações de Paget.

Começamos pelas dúvidas gerais de Paget sobre a possibilidade logística de executar massacres do tamanho e dentro do tempo reportados.

Paget alega que existem relatórios em que « cerca de 100 homens com cerca de 8 veículos eram declarados como tendo morto 10.000 a 12.000 judeus em dois ou três dias». Isto é impossível, afirma Paget, porque o transporte das vítimas para o local de execução era uma estreiteza que não podia ser ultrapassada já que os destacamentos especiais do SD tinham demasiado poucos veículos e não podiam enche-los até ao limite da sua capacidade com pessoas porque os judeus destinados a serem executados levavam consigo as suas pertenças, acreditando que iriam ser realojados.

O pressuposto subjacente a esta alegação de Paget é que as vítimas eram levadas com veículos motorizados das cidades ou aldeias onde viviam para locais de execução isolados a alguma distância daí. Isto não era necessariamente o caso. No massacre de Babi Yar em 29/30 de Setembro de 1941, por exemplo, as mais de 30.000 vítimas tiveram que caminhar em longas filas para uma ravina perto da cidade de Kiev, onde foram abatidas a tiro. Em Kharkov, em meados de Dezembro de 1941, cerca de 15.000 judeus tiveram que marchar a pé até uma fábrica de tractores fora da cidade, na qual foram concentrados e perto da qual foram posteriormente abatidos a tiro, nos primeiros dias de Janeiro de 1942. No meu artigo Neither the Soviets nor the Poles have found any mass graves with even only a few thousand bodies ... [versão em português], é apresentada alguma evidência relativa a este massacre.

No entanto, mesmo quando as vítimas eram levadas em veículos motorizados para um local de matança fora da sua cidade ou vila e abatidos assim que chegavam àquele local, as limitações invocadas por Paget não se aplicavam necessariamente.

Por um lado, os Einsatzgruppen, como veremos no que respeita ao massacre que será descrito mais detalhadamente neste artigo, podiam contar com veículos disponibilizados pela Wehrmacht alemã, incluindo camiões inimigos capturados e autocarros civis requisitados, a fim de ter uma capacidade de transporte adequada ao tamanho e duração pretendidos da respectiva operação de matança.

O espaço de transporte disponível podia ainda ser alargado estipulando uma limitação ao montante de pertences que era permitido aos judeus levar consigo para a alegada deportação, ou ordenando-lhes que deixassem atrás todos os seus pertences, que alegadamente lhes seriam enviados mais tarde. Este procedimento foi aplicado nas matanças com camiões de gaseamento, vide Kogon, Langbein, Rückerl e outros, Nationalsozialistische Massentötungen durch Giftgas ("Matanças em massa nacional-socialistas mediante gás tóxico"), página 91 (citação do depoimento de Ramasan Sabitovich Chugunov, comandante de pelotão de um batalhão da polícia auxiliar local, relativamente à liquidação do gueto de Minsk em Outubro de 1943) e página 121 (depoimento do trabalhador ferroviário polaco Vladyslav Dabrovski relativamente a transportes para o campo de extermínio de Chelmno). Como veremos mais adiante neste artigo, este procedimento também foi aplicado em pelo menos uma ocasião em que os judeus foram conduzidos para um local de matança fora da localidade e lá abatidos a tiro.

As versões maiores dos camiões de gaseamento utilizados pelos Einsatzgruppen foram descritas por várias testemunhas como podendo levar 50, 60 ou até mais pessoas de cada vez (Kogon e outros, conforme supra, página 87, citação do depoimento do condutor de camião de gaseamento Erich Gnewuch; págima 91, citação do depoimento de Chugunov, acima mencionado; página 98, referência ao depoimento do condutor de camião de gaseamento Pauly; página 105, referência ao depoimento de Schiewer, membro do Einsatzkommando 11a; página 128, citação do depoimento do condutor de camião de gaseamento Gustav Laabs, Chelmno; página 141, citação de relatório escrito pelo condutor de camião de gaseamento Walter Piller). As medidas do compartimento de gaseamento de um destes camiões foram descritas como tendo sido as seguintes, pelo condutor de camião de gaseamento Burmeister, Chelmno (citação do depoimento em Kogon e outros, página 125): 4 a 5 metros de comprimento, 2,2 metros de largura e 2 metros de altura – uma área de carga de pelo menos 8,8 metros quadrados, suficiente para acomodar pelo menos 70 pessoas. Portanto, podemos partir do princípio de que, se os camiões utilizados para transportar judeus aos locais de fuzilamento eram tão grandes como as versões maiores dos camiões de gaseamento aplicados em fase posterior do processo de extermínio, cada um destes camiões podia levar no mínimo 50 judeus para o respectivo local de fuzilamento.

No que respeita ao tempo de transporte necessário, é difícil entender por que razão um percurso de 10 quilómetros incluindo carregamento e descarregamento demoraria o «tempo estimado de duas horas» que Paget considera. Sendo aplicada a pressão necessária, quinze minutos para cada uma das tarefas de carregamento no local de concentração, condução (a uma velocidade de apenas 40 quilómetros/hora), descarregamento e retorno parecem ser tempo suficiente. Portanto, os oito camiões que Paget menciona podiam, sob os meus pressupostos acima descritos, transportar 400 judeus para o local de matança cada hora e 2.800 num dia de trabalho de Inverno que se presume ter durado das 9:00 às 16:00 horas. Aumentando o número de veículos por recurso ao parque da Wehrmacht e/ou a requisições, este número podia ser facilmente duplicado ou triplicado.

No que respeita às tarefas de isolar o local da matança, ordenar às vítimas a despir-se, leva-las à vala em massa ou ravina em que seriam abatidos e abate-los a tiro lá, os destacamentos especiais das Einsatzgruppen não estavam sós, mas contavam com a assistência de outras forças, tais como a polícia de ordem e as unidades de Feldgendarmerie (polícia militar) e Geheime Feldpolizei (Polícia Secreta de Campo) da Wehrmacht. Assim, por exemplo, o massacre de Babi Yar foi executado pelo Sonderkommando 4a da Einsatzgruppe C em cooperação «com o quartel-geral da EGC e dois comandos do regimento de polícia Sul» (minha tradução). Segundo o historiador alemão Wolfram Wette ("Babij Yar 1941", em: Wolfram Wette / Gerd R. Ueberschär (editores), Kriegsverbrechen im 20. Jahrhundert ("Crimes de Guerra no Século 20"), páginas 152-164), o Sonderkommando 4a era composto por membros do Sicherheitsdienst e da Sicherheitspolizei (Polícia de Segurança), uma companhia de um batalhão da Waffen-SS e um pelotão de um batalhão de polícia, e reforçado por outros dois batalhões de polícia e unidades da polícia auxiliar ucraniana. A tarefa de supervisionar e vigiar a marcha dos judeus de Kiev para a ravina em que teve lugar a matança foi executada por tropas da Wehrmacht às ordens de Eberhard, comandante da cidade. O massacre dos judeus de Kharkov no início de Janeiro de 1942 foi efectuado conjuntamente pelo Sonderkommando 4a e o Batalhão de Polícia 314, que estava a cargo de isolar o local da matança. No massacre que será descrito em mais detalhe neste artigo, o destacamento especial do Einsatzgruppe D era reforçado por dois batalhões de reserva da polícia bem como membros do Feldgendarmerieabteilung(FGA) 683 e a unidade 647 da Geheime Feldpolizei (GFP).

Resumindo, se « cerca de 100 homens com cerca de 8 veículos» (Paget) não eram suficientes para matar o número necessário de judeus dentro do tempo necessário, era possível obter recursos humanos e materiais adicionais na medida necessária para obter o resultado desejado.

Expostas assim as falácias das objecções logísticas de Paget, vamos ver a operação particular em relação à qual Paget alega ter sido capaz de «verificar os números», a matança dos judeus de Simferopol.

Paget alega ter conseguido « provar que o fuzilamento de judeus em Simferopol tinha ocorrido num único dia, especificamente em 16 de Novembro », que «o número de vítimas não pode ter sido superior a 300», e que «esses 300 provavelmente não eram apenas judeus, mas uma colecção de diversos elementos que estavam sob suspeita de pertencer ao movimento de resistência».

Uma reconstrução detalhada dos acontecimentos em Simferopol em Novembro e Dezembro de 1941, baseada em evidência documental e em numerosos depoimentos de testemunhas oculares recolhidos no decurso de várias investigações por autoridades de justiça penal da Alemanha Federal, encontra-se nas páginas 323 e seguintes do livro Besatzungspolitk und Massenmord. Die Einsatzgruppe D in der südlichen Sowjetunion 1941-1943 ("Política de Ocupação e Assassínio em Massa. O Einsatzgruppe D no sul da União Soviética, 1941 – 1943"), do historiador Andrej Angrick. Esta reconstrução, da qual fornecerei um resumo a seguir, mostra que são falsas as alegações de Paget, acima referidas.

No início de Novembro de 1941, Otto Ohlendorf, o comandante do EinsatzgruppeD, transferiu o estado-maior da sua unidade de Nikolajev para Simferopol, a capital da Crimeia. Simferopol era uma importante base de tropas e mantimentos alemães, tendo lá os seus quartéis-gerais os estados maiores dos corpos do exército XXX e LIV e da 72ª e 22ª divisões de infantaria, o Encarregado de Logística Chefe, o Comandante da Força Aérea junto do 11º Exército e o Comando Económico competente. A administração da cidade estava a cargo do Posto de Comando Local (Ortskommandantur) I/853 sob o mando do Capitão Kleiner, que efectuou um censo da população local segundo a sua etnia e constatou que, dos 156.000 habitantes originais, 120.000 de vários grupos populacionais tinham ficado em Simferopol, entre eles 11.000 de originalmente 20.000 judeus. Relativamente aos judeus, o relatório do posto de comando local, datado de 14 de Novembro de 1941 e guardado nos Arquivos Federais/Arquivos Militares da República Federal Alemã (Bundesarchiv/Militärarchiv), indicou que seriam "executados pelo SD".

Embora este documento torne claro que havia a intenção de exterminar os judeus de Simferopol e que a Wehrmacht estava consciente deste facto, dois problemas impediram que a matança fosse efectuada em Novembro de 1941. Um desses problemas era ideológico, o outro de natureza prática.

O problema ideológico consistia em que, na península de Crimeia, havia três grupos populacionais diferentes que estavam potencialmente sujeitos às políticas nazis relativas aos judeus. Eram estes:

1. Os caraítas, um povo turco que aderia ao judaísmo;

2. Os krimchaks ou krymchaks: segundo Angrick, estes eram descendentes de judeus sefarditas espanhóis que já não aderiam à religião judaica (outra informação sobre os krimchaks pode ser encontrada aqui);

3. Judeus ashkenazi emigrados da Europa Central e os seus descendentes.

Enquanto não havia dúvida de que o terceiro destes grupos seria aniquilado, havia incerteza entre os feitores das políticas nazis sobre como tratar os outros dois. Depois de consultar os seus especialistas "científicos" sobre "assuntos judaicos", o próprio Himmler – que mantinha ser o único a quem cabia decidir quem era judeu e quem não – finalmente decidiu que os caraítas seriam poupados, uma vez que não eram judeus de "raça". Os krimchaks, pelo outro lado, seriam mortos, porque em termos "raciais" eram judeus. A decisão de Himmler deve ter sido tomada entre os dias 5 de Dezembro de 1941 (a data do Relatório de Situação 142, que ainda menciona a "questão dos krimchaks") e 9 de Dezembro de 1941, a data em que, como veremos a seguir, os Krimchaks de Simferopol foram exterminados.

O problema prático que obstava ao extermínio dos judeus de Simferopol em Novembro de 1941 era que a actividade guerrilheira naquela área, grandemente exagerada em relatórios do exército alemão, fez com que o Comando Supremo do 11º Exército mandasse cada homem que tinha à sua disposição a combater os guerrilheiros, sendo o Einsatzgruppe D utilizado em missões de reconhecimento sobre movimentos guerrilheiros.

No início de Dezembro de 1941, contudo, a ameaça tinha diminuído depois de terem sido mortos ou capturados cerca de mil guerrilheiros, e com a chegada de uma brigada de tropas de montanha romenas como reforço, Ohlendorf já não tinha que utilizar os seus homens em missões de reconhecimento contra a guerrilha. Ao mesmo tempo, a transferência de Odessa para Simferopol do Sonderkommando 11b sob o comando de Werner Braune trouxe-lhe recursos adicionais para executar a sua principal tarefa, a de aniquilar os judeus. Os Quartel – Mestre Chefe da Wehrmacht, Hauck, favoreceu esta medida e até insistiu nela, uma vez que via a "acção relativa aos judeus" (Judenaktion) como forma de aliviar a dramática situação de alimentos em Simferopol, livrando-se de bocas para alimentar. O próprio comandante do 11º Exército, von Manstein, tinha dado o seu consentimento às matanças numa ordem que emitiu em 20 de Novembro de 1941, a qual continha a seguinte indicação (minha tradução de Angrick, como supra, página 338):
O soldado deverá mostrar compreensão perante a necessidade de submeter a uma dura retribuição o judaísmo, o portador espiritual do bolchevismo. Esta também é necessária para estrangular à nascença quaisquer revoltas, que são maioritariamente incitadas por judeus.

A "dura retribuição" começou em Simferopol em 9 de Dezembro de 1941, quando o Sonderkommando 11b e o estado-maior da Einsatzgruppe D exterminaram os krimchaks da cidade, provavelmente 1.500 pessoas no mínimo. Logo a matança parou durante dois dias porque Ohlendorf teve que resolver um problema de pessoal: os polícias da 4ª Companhia do Batalhão de Reserva da Polícia 9, que tinham assistido ao Einsatzgruppe D nos seus massacres desde o início da campanha da Rússia, estavam cansados de matar e tinham solicitado que lhes fosse dada outra missão. O seu pedido foi atendido, e Ohlendorf teve que esperar até que a unidade de substituição, a 3ª Companhia do Batalhão de Reserva da Polícia 3, chegasse a Simferopol.

Quando a 3ª Companhia do Batalhão de Reserva da Polícia 3 chegou a Simferopol, não houve tempo para habituar os seus homens à matança de uma forma gradual. Com a ajuda de todos os homens disponíveis de outros destacamentos da Einsatzgruppe D, os polícias e ambos batalhões de polícia e os membros destacados da FGA 683 e da GFP 647, o Sonderkommando 11b de Braune e o estado maior da Einsatzgruppe D de Ohlendorf continuaram a execução em 11 de Dezembro de 1941. Braune tinha dito aos seus homens que tinham um "grande dia de combate" (Grosskampftag) pela frente e que até os médicos teriam que participar. A matança dos judeus durou três dias. Ordenou-se aos judeus que se reunissem na área do antigo edifício do partido comunista no centro da cidade e entregassem as suas bagagens e objectos de valor, uma vez que – assim os carrascos lhes disseram – caso contrário estes poderiam ser roubados durante o transporte que os levaria ao serviço de trabalho, e os receberiam posteriormente. Camiões do Einsatzgruppe e o exército, autocarros e também veículos capturados menores foram utilizados para transportar a pessoas rapidamente para uma vala contra tanques fora de Simferopol. Os membros do Batalhão de Reserva da Polícia 3 tiveram que participar logo na chacina. Alguns tinham notado que colegas do Batalhão de Reserva da Polícia 9 estavam "pirados"; agora perceberam porque. Uma e outra vez, na presença de Ohlendorf e Braune, soou a ordem "Preparados, apontem, fogo!". 50 homens em linha disparavam em salvas. Os membros experientes da Einsatzgruppe administravam chamados golpes de misericórdia. Soldados da Wehrmacht também participaram no fuzilamento, não sendo possível estabelecer se estes eram exclusivamente polícias militares e membros da Geheime Feldpolizei. No frio gelado prisioneiros escolhidos tinham que empilhar os corpos na vala de modo a que não fosse desperdiçado espaço, enquanto outros arrastavam cadáveres deitados fora da vala e atiravam-nos para dentro desta. Quem tentava escapar ou fingia estar morto era abatido por homens da Einsatzgruppe com pistolas metralhadoras. O cinismo dos carrascos estava sempre presente, como quando foi dada instrução para não gastar outra bala numa judia ainda viva dentro da vala uma vez que um montão de terra seria atirado para cima dos cadáveres e ela então sufocaria de qualquer forma. Um judeu jovem tentou resistir, pelo que o comandante da acção ordenou que não fosse abatido a tiro mas espancado até à morte. Assim a chacina continuou nos próximos dias. Finalmente a Einsatzgruppe também estendeu a sua acção aos ciganos, tendo um pedido do exército presumivelmente sido um dos factores que conduziram à decisão de eliminar também este grupo da população.

No Relatório de Situação Operacional URSS Nº 150 de 02.01.1942, Ohlendorf reportou que, com o fim a acção em 15 de Dezembro de 1941, Simferopol, junto com outras partes da Crimeia, tinha sido livrado de judeus. Esta afirmação revelou-se como errada, uma vez que muitos judeus ainda estavam escondidos. Massacres menores em toda a Crimeia continuaram até ao fim do ano.

Termina assim o meu resumo da reconstrução por Angrick dos acontecimentos em Simferopol em Novembro de Dezembro de 1941. Como disse antes, esta reconstrução baseia-se em evidência documental e em numerosos depoimentos de testemunhas oculares. A descrição supra do massacre que começou em 11 de Dezembro de 1941, por exemplo, é baseada nos depoimentos de testemunhas oculares registados em ficheiros de investigação de autoridades de justiça penal da Alemanha Federal, referidos nas páginas 340 a 342 do livro de Angrick: Paul Zapp, Sergej Myshekov, Georg Glück, Hermann Frenser, Georg Mandt, Hans Günther, Hans Kurz, Hans Fibiger, Walter Güsfeldt, Fritz Urbach, Kurt Wehrbein, Karl Jonas, Heinz Hoffmann, Harry Pilawski, Wilhelm Ickerott, Paul Lohmann, e outros. Estas testemunhas oculares, excepto provavelmente pela testemunha soviética Myshekov, tinham participado na matança como membros de uma ou outra unidade envolvida na mesma.

Passo a traduzir uma parte da Relatório de Situação Operacional URSS Nº 150, cuja tradução para inglês pode ser lida aqui:
Simferopol, Yevpatoria, Alushta, Krasubasar, Kerch, Feodosia e outros distritos da Crimeia ocidental se encontram livres de judeus. Entre 16 de Novembro e 15 de Dezembro de 1941, 17.645 judeus, 2.504 Krimchaks, 824 ciganos, e 212 comunistas e guerrilheiros foram abatidos a tiro. Em total têm sido executadas 75.881 pessoas.

A última destas cifras refere-se ao número total de execuções pelo Einsatzgruppe D desde o início da campanha da Rússia. A maior parte dos números relativos a Crimeia correspondem provavelmente aos massacres de Simferopol, seguidos pelos massacres de Kerch nos primeiros dias de Dezembro (cerca de 2.500 Jews) e em Feodosia por volta de 10 de Dezembro de 1941 (mais de 1.000 judeus e Krimchaks), também descritos em detalhe por Angrick.

Resulta claro, portanto, que a alegação de Paget sobre uma única massacre menor em Simferopol em 16 de Novembro de 1941 não tem nada a ver com o registo histórico do destino dos judeus e krimchaks de Simferopol, a maioria dos quais foram mortos nos massacres em 9 de Dezembro e a partir de 11 de Dezembro de 1941.

Ora, o que é que isto significa no que respeita à alegação de Paget de que houve «várias testemunhas que tinham ficado junto de famílias judias no quarteirão e reportaram sobre os serviços religiosos na sinagoga bem como o mercado judeu, onde compraram ícones e velharias – até à altura em que Manstein partiu da Crimeia e depois»? Trata-se de uma alegação deliberadamente falsa, ou será que as testemunhas eram falsas testemunhas ansiosas por tirar Manstein do seu apuro?

Não necessariamente. Como vimos acima, Himmler decidiu poupar os caraítas porque não eram considerados judeus em termos "raciais". Os caraítas praticam o caraísmo, e portanto o contacto com a população caraíta de Simferopol pode ter levado as testemunhas de Paget a descreve-los como judeus e a acreditar que os judeus de Simferopol não tinham sido aniquilados.

As alegações erróneas de Paget podem ser perdoadas a um advogado de defesa no fim da década de 1940, com acesso limitado a informação sobre os acontecimentos em questão e preocupado unicamente em defender o seu cliente tão bem quanto possível.

Mas pode também ser perdoado a Mattogno & Graf, que pretendem ser historiadores ou pesquisadores de história, o terem aceite como verídicas as alegações de Paget, sem verifica-las com base em outras fontes, e transcrito estas alegações no seu livro como se da narração de factos indisputáveis se tratasse?

Vejamos o que fez Angrick: recolheu toda a informação documental e de testemunhas oculares que conseguiu encontrar em vários arquivos e juntou as peças que encontrou numa descrição dos acontecimentos tão exacta quanto possível.

É isto o que fazem os historiadores.

Mattogno & Graf, por outro lado, basearam as suas conclusões relativamente aos massacres de Simferopol numa única fonte – e nem sequer uma fonte primária – que por acaso encaixava nas suas noções preconcebidas.

Isto não é o que fazem os historiadores. Isto é o que fazem charlatães desleixados com uma agenda ideológica. Mattogno & Graf não estão revisando noções aceites sobre um acontecimento histórico ou um conjunto de acontecimentos com base em evidência anteriormente desconhecida. O que fazem é ignorar ou rejeitar toda a evidência que contradiz as suas noções preconcebidas – e que, no caso das massacres de Simferopol, é bastante abundante – e basear as suas conclusões numa fonte secundária conveniente que está tão afastada da evidência quanto as noções preconcebidas de quem nela se baseia.

E esta, mais uma vez, é a razão pela qual o "revisionismo", conforme representado por Mattogno & Graf entre outros "estudiosos", não tem nada a ver com revisionismo no sentido estrito da palavra, o de um método que faz parte da historiografia. É apenas a negação de acontecimentos inconvenientes a certas noções preconcebidas e artigos de fé, propaganda com motivação ideológica.

[Tradução adaptada do meu artigo The Simferopol Massacres no blog Holocaust Controversies]

Próximo >> Parte IX(1): "Os relatórios dos Einsatzgruppen ...

Outros artigos da série That's why it is denial, not revisionism, já traduzidos para português:

Porque é negação e não revisionismo. Parte I: negadores e o Sonderkommando 1005

Porque é negação e não revisionismo. Parte II: negadores e as valas de Marijampole

Porque é negação e não revisionismo. Parte III: negadores e o massacre de Babiy Yar (1)

Porque é negação e não revisionismo. Parte IV: negadores e o massacre de Babiy Yar (2)

Porque é negação e não revisionismo. Parte V: negadores e o massacre de Babiy Yar (3)

Porque é negação e não revisionismo. Parte VI: negadores e o massacre de Babiy Yar (4)

Porque é negação e não revisionismo. Parte VII: outras patéticas objeções aos relatórios dos Einsatzgruppen

Ver também: Técnicas dos negadores do Holocausto

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Testemunho de Otto Ohlendorf no IMT

CORONEL JOHN HARLAN AMEN (Advogado Associado de Julgamento para os Estados Unidos):
Permita-me o Tribunal, eu desejo chamar como testemunha para a Acusação, Sr. Otto Ohlendorf ...
[Testemunha Otto Ohlendorf ocupou a posto de testemunhas]
O PRESIDENTE: Otto Ohlendorf, repita este juramento depois de mim "Eu juro por Deus Todo-Poderoso e Onisciente que eu falarei a pura verdade e não omitirei e não acrescentarei nada."
[A testemunha repete o juramento]
CEL. AMEN: Tente falar devagar e pausadamente entre cada pergunta e resposta.
OTTO OHLENDORF: Sim.
CEL. AMEN: Onde você nasceu?
OHLENDORF: Em Hohen-Egelsen.
CEL. AMEN: Quantos anos você tem?
OHLENDORF: Trinta e oito anos.
CEL. AMEN: Quando, se alguma vez, você se tornou um membro do Partido Nacional-Socialista? OHLENDORF: 1925.
CEL. AMEN: Quando, se alguma vez, você se tornou um membro da SA?
OHLENDORF: Pela primeira vez em 1926.
CEL. AMEN: Quando, se alguma vez, você se tornou um membro da SS?
OHLENDORF: Eu devo corrigir minha resposta à questão anterior. Eu pensei que você estava falando sobre minha associação à SS.
CEL. AMEN: Quando você se tornou um membro da SA?
OHLENDORF: No ano de 1925.
CEL. AMEN: Quando, se alguma vez, você se juntou à SD?
OHLENDORF: Em 1936.
CEL. AMEN: Qual foi sua última posição na SD?
OHLENDORF: Chefe do Amt III na RSHA....
CEL. AMEN: Você nos contou por qual período de tempo você continuou como chefe da Amt III?
OHLENDORF: Eu era chefe por meio período da Amt III de 1939 a 1945.
CEL. AMEN: Voltando agora à designação "Unidades Móveis" com o exército mostrado no canto inferior direito do diagrama, por favor explique ao Tribunal a significância dos termos "Einsatzgruppe" e "Einsatzkommando."
OHLENDORF: O conceito "Einsatzgruppe" foi estabelecido depois de um acordo entre os chefes da RSHA, OKW e OKH, sobre o uso separado das unidades Sipo nas áreas operacionais. O conceito de "Einsatzgruppe" primeiro apareceu durante a campanha polonesa. Entretanto, só se chegou ao acordo com o OKH e OKW antes do início da campanha russa. Este acordo especificava que um representante do chefe da Sipo e da SD seria designado para os grupos de exército, ou exércitos, e que este oficial teria à sua disposição unidades móveis da Sipo e do SD na forma de um Einsatzgruppe, subdividida em Einsatzkommandos. Os Einsatzkommandos, sob ordens do grupo de exércitos ou exército, seriam atribuídos às unidades individuais do exército conforme preciso.
CEL. AMEN: Declare, se você souber, se antes da campanha contra a Rússia Soviética, algum acordo foi iniciado entre a OKW, OKH e RHSA?
OHLENDORF: Sim, os Einsatzgruppen e Einsatzkommandos, como acabei de descrevê-los, foram usados em razão de um acordo escrito entre o OKW, OKH e RSHA.
CEL. AMEN: Como você sabe que existiu tal acordo escrito?
OHLENDORF: Eu estive presente várias vezes durante as negociações com Albrecht e Schellenberg conduzidas com o OKH e OKW; e eu também tinha uma cópia escrita deste acordo, que era o resultado destas negociações, em minhas próprias mãos quando eu assumi o Einsatzgruppe.
CEL. AMEN: Explique ao Tribunal quem era Schellenberg. Que posição ele ocupava, se ocupava alguma posição?
OHLENDORF: Schellenberg era, no final, chefe do Amt VI na RHSA; na época em que ele estava liderando como um representante de Heydrich, ele pertencia à Amt VI.
CEL. AMEN: Em aproximadamente que data estas negociações aconteceram?
OHLENDORF: As negociações duraram várias semanas. Deve ter-se chegado ao acordo uma ou duas semanas antes do início da campanha.
CEL. AMEN: Você mesmo já viu uma cópia deste acordo escrito?
OHLENDORF: Sim!
CEL. AMEN: Você já teve motivo para trabalhar com este acordo escrito?
OHLENDORF: Sim!
CEL. AMEN: Em mais de uma ocasião?
OHLENDORF: Sim; Em todas as questões resultantes do relacionamento entre os Einsatzgruppen e o exército.
CEL. AMEN: Você sabe onde se encontram o original ou quaisquer cópias daquele acordo hoje?
OHLENDORF: Não.
CEL. AMEN: Do máximo que você sabe e se recorda, por favor explique ao Tribunal toda a substância deste acordo escrito.
OHLENDORF: Em primeiro lugar, o acordo declarava que as Einsatzgruppen e os Einsatzkommandos seriam criados nas áreas operacionais. Isto criou um precedente, porque até àquela época o exército tinha, sob sua própria responsabilidade, cumprido as tarefas que agora passariam a ser somente da Sipo. Em segundo lugar, estavam os regulamentos com relação à competência.
CEL. AMEN: Você está indo rápido demais. O que você é isso que você diz que os Einsatzkommandos fizeram sob o acordo?
OHLENDORF: Eu disse que esse era o relacionamento entre o exército e o Einsatzgruppen e os Einsatzkommandos. O acordo especificava que os grupos do exército ou exércitos seriam responsáveis pelo movimento e abastecimento das Einsatzgruppen, mas que as instruções para as atividades delas viriam do chefe da Sipo e do SD.
CEL. AMEN: Deixe-nos entender. É correto que um grupo Einsatz deveria ser ligado a cada grupo de exército ou exército?
OHLENDORF: Cada grupo de exército tinha que ter uma Einsatzgruppe ligada a ele. O grupo de exército, por sua vez, então ligaria os Einsatzkommandos aos exércitos do grupo de exército.
CEL. AMEN: E o comando do exército determinaria a área dentro da qual o grupo Einsatz iria operar?
OHLENDORF: A área operacional da Einsatzgruppe já era determinada pelo fato de que ela era ligada a um grupo de exército específico e portanto movia-se com ele, enquanto as áreas operacionais dos Einsatzkommandos eram fixadas pelo grupo de exército ou exército.
CEL. AMEN: O acordo também estipulou que o comando de exército iria controlar o tempo durante o qual elas iriam operar?
OHLENDORF: Isso estava incluso sob o título "movimento".
CEL. AMEN: E, também, para controlar quaisquer tarefas adicionais que eles iriam operar?
OHLENDORF: Sim. Muito embora os chefes da Sipo e SD tivessem o direito de emitir instruções a eles sobre seu trabalho, havia um acordo geral de que o exército também tinha o direito de emitir ordens às Einsatzgruppen se a situação operacional assim fizesse necessário.
CEL. AMEN: O que o acordo estipulava com respeito à ligação do comando do grupo Einsatz a esse comando do exército?
OHLENDORF: Eu não consigo me lembrar se qualquer coisa específica sobre isso estava contida no acordo. Para ser mais preciso, um homem de ligação entre o comando do exército e a SD era escolhido.
CEL. AMEN: Você se recorda de quaisquer outras provisões deste acordo escrito?
OHLENDORF: Acredito que eu possa declarar o conteúdo principal daquele acordo.
CEL. AMEN: Que posição você ocupava com respeito a esse acordo?
OHLENDORF: De junho de 1941 até a morte de Heydrich em junho de 1942, eu liderei a Einsatzgruppe D, e era o representante do chefe da Sipo e da SD com o 11º Exército.
CEL. AMEN: E quando foi a morte de Heydrich?
OHLENDORF: Heydrich foi ferido no final de maio de 1942, e morreu em 4 de junho de 1942.
CEL. AMEN: Quanto tempo você foi previamente avisado da campanha contra a Rússia Soviética?
OHLENDORF: Cerca de quatro semanas.
CEL. AMEN: Quantos grupos Einsatz havia, e quem eram seus respectivos líderes?
OHLENDORF: Havia quatro Einsatzgruppen, Grupos A, B, C e D. O chefe da Einsatzgruppe A era Stahlecker; o chefe da Einsatzgruppe B era Nebe; o chefe da Einsatzgruppe C, Dr. Rasche, e depois, Dr. Thomas; o chefe da Einsatzgruppe D era eu mesmo, e depois Bierkamp.
CEL. AMEN: A qual exército o Grupo D estava ligado?
OHLENDORF: O Grupo D não estava ligada a nenhum grupo, mas estava ligado diretamente ao 11º Exército.
CEL. AMEN: Onde operava o Grupo D?
OHLENDORF: O Grupo D operava no sul da Ucrânia.
CEL. AMEN: Descreva em mais detalhes a natureza e extensão da área na qual operava o Grupo D, nomeando as cidades e territórios.
OHLENDORF: A cidade mais ao norte era Cernauti; então indo ao sul através de Mohilev-Podolsk, Yampol, então na direção leste Zuvalje, Czervind, Melitopol, Mariopol, Taganrog, Rostov, e a Criméia.
CEL. AMEN: Qual era o objetivo mais importante do Grupo D?
OHLENDORF: O Grupo D foi mantido em reserva para o Cáucaso, para um grupo de exército que iria operar no Cáucaso.
CEL. AMEN: Quando o Grupo D começou a mover-se para dentro da Rússia Soviética?
OHLENDORF: O Grupo D deixou Duegen em 21 de junho e alcançou Pietra Namsk na Romênia em três dias. Lá, os primeiros Einsatzkommandos já estavam sendo convocados pelo exército, e eles imediatamente começaram a jornada para os destinos determinados pelo exército. A Einsatzgruppe inteira foi colocada em operação no início de julho.
CEL. AMEN: Você está se referindo ao 11º Exército?
OHLENDORF: Sim.
CEL. AMEN: Em que aspectos, se em algum aspecto, as tarefas oficiais dos grupos Einsatz eram relacionadas aos judeus e comissários comunistas?
OHLENDORF: As instruções eram que nas áreas operacionais russas das Einsatzgruppen os judeus, assim como os comissários políticos soviéticos, tinham que ser liquidados.
CEL. AMEN: E quando você diz "liquidados" você quer dizer "mortos"?
OHLENDORF: Sim, eu quero dizer "mortos".
CEL. AMEN: Antes da abertura da campanha soviética, você esteve presente em uma conferência em Pretz?
OHLENDORF: Sim, foi uma conferência na qual as Einsatzgruppen e os Einsatzkommandos foram informados de suas tarefas e receberam as ordens necessárias.
CEL. AMEN: Quem estava presente à conferência?
OHLENDORF: Os chefes das Einsatzgruppen e os comandantes dos Einsatzkommandos e Streckenbach da RHSA, que transmitia as ordens de Heydrich e Himmler.
CEL. AMEN: Quais eram essas ordens?
OHLENDORF: Essas eram as ordens gerais do trabalho normal da Sipo e da SD, e além disso a ordem de liquidação a qual eu já mencionei.
CEL. AMEN: E essa conferência aconteceu em aproximadamente que data?
OHLENDORF: Cerca de três ou quatro dias antes da missão.
CEL. AMEN: Para que antes que vocês começassem a marchar Rússia Soviética adentro vocês recebessem ordens nesta conferência para exterminar os judeus e funcionários comunistas, além dos trabalhos profissionais regulares da Polícia de Segurança e SD, isto é correto?
OHLENDORF: Sim.
CEL. AMEN: Você teve alguma conversa pessoal com Himmler, relacionando alguma comunicação de Himmler para os chefes dos grupos de exército ou exércitos referente a esta missão?
OHLENDORF: Sim. Himmler contou-me que, antes do início da campanha russa, Hitler havia falado desta missão a uma conferência dos grupos de exército e dos chefes de exército - não, não os chefes de exército mas os generais no comando - e havia instruído os generais no comando a providenciar o apoio necessário.
CEL. AMEN: Para que vocês pudessem testemunhar que os chefes dos grupos de exército e dos exércitos tinham sido similarmente informados dessas ordens para a liquidação de judeus e funcionários soviéticos?
OHLENDORF: Eu não acho que é bem correto colocar dessa forma. Eles não tinham ordens para liquidação; a ordem para a liquidação foi dada a Himmler para que ele a executasse, mas como essa liquidação aconteceu na área operacional do grupo de exército e dos exércitos, eles tinham que receber ordens para fornecer apoio. Além disso, sem tais instruções ao exército, as atividades das Einsatzgruppen não teriam sido possíveis.
CEL. AMEN: Você teve alguma outra conversa com Himmler a respeito desta ordem?
OHLENDORF: Sim, no final do verão de 1941, Himmler estava em Nikolaiev. Ele reuniu os líderes e homens dos Einsatzkommandos, repetiu a eles a ordem de liquidação, e mostrou que os líderes e homens que estavam tomando parte na liquidação não arcavam com nenhuma responsabilidade pessoal pela execução desta ordem. A responsabilidade era dele, sozinho, e do Führer.
CEL. AMEN: E você mesmo ouviu esse discurso?
OHLENDORF: Sim.
CEL. AMEN: Você sabe se esta missão do grupo Einsatz era conhecida pelos comandantes do grupo de exércitos?
OHLENDORF: Esta ordem e a execução dessas ordens eram conhecidas pelo general do exército no comando.
CEL. AMEN: Como você sabe disso?
OHLENDORF: Pelas conferências com o exércitos e pelas instruções que eram dadas pelo exército sobre a execução da ordem.
CEL. AMEN: Essa missão dos grupos Einsatz e o acordo entre OKW, OKH e RHSA eram conhecidas pelos outros líderes da RSHA?
OHLENDORF: Pelo menos alguns deles sabiam disso, já que alguns dos líderes eram mais ativos nas Einsatzgruppen e nos Einsatzkommandos no curso do tempo. Além disso, os líderes que estavam lidando com os aspectos legais e de organização das Einsatzgruppen também sabiam disso.
CEL. AMEN: A maioria dos líderes vinham da RSHA, não vinham?
OHLENDORF: Que líderes?
CEL. AMEN: Dos grupos Einsatz?
OHLENDORF: Não, não se pode afirmar isso. Os líderes das Einsatzgruppen e dos Einsatzkommandos vinham de todo o Reich.
CEL. AMEN: Você sabe se a missão e o acordo eram conhecidos por Kaltenbrunner?
OHLENDORF: Depois da sua posse no escritório, Kaltenbrunner tinha que lidar com estas questões e conseqüentemente deve ter conhecido detalhes das Einsatzgruppen que eram de seu ofício.
CEL. AMEN: Quem era o oficial no comandando do 11º Exército?
OHLENDORF: No início, Riter von Schober; depois, Von Manstein.
CEL. AMEN: Conte ao Tribunal de que maneira ou maneiras o oficial no comando do 11º Exército dirigia ou supervisionava o Grupo Einsatz D na execução de suas atividades de liquidação.
OHLENDORF: Uma ordem do 11° Exército foi enviada a Nikolaiev de que as liquidações iriam acontecer somente a uma distância de não menos de duzentos quilômetros do quartel-general do general em comando.
CEL. AMEN: Você se recorda de quaisquer outras ocasiões?
OHLENDORF: Em Simferopol, o comando do exército solicitou aos Einsatzkommandos na sua área que apressassem as liquidações, porque a fome estava era uma ameaça e havia uma grande carência de moradia.
CEL. AMEN: Você sabe quantas pessoas foram liquidadas pelo Grupo Einsatz D sob seu comando?
OHLENDORF: No ano entre junho de 1941 e junho de 1942, os Einsatzkommandos reportaram noventa mil pessoas liquidadas.
CEL. AMEN: Isso incluía homens, mulheres e crianças?
OHLENDORF: Sim.
CEL. AMEN: Em que você baseia esses números?
OHLENDORF: Em relatórios enviados pelos Einsatzkommandos às Einsatzgruppen.
CEL. AMEN: Esses relatórios eram enviados a você?
OHLENDORF: Sim.
CEL. AMEN: E você os via e os lia?
OHLENDORF: Perdão?
CEL. AMEN: E você via e lia aqueles relatórios pessoalmente?
OHLENDORF: Sim.
CEL. AMEN: E é nesses relatórios que você baseia os números que você deu ao Tribunal?
OHLENDORF: Sim.
CEL. AMEN: Você sabe como são esses números comparados com os números de pessoas liquidadas por outras Einsatzgruppen?
OHLENDORF: Os números que eu vi de outras Einsatzgruppen são consideravelmente maiores.
CEL. AMEN: Isso se devia a que fator?
OHLENDORF: Eu acredito que em grande parte os números enviados pelas outras Einsatgruppen eram exagerados.
CEL. AMEN: Você via relatórios de liquidações de outras unidades Einsatz de tempos em tempos?
OHLENDORF: Sim.
CEL. AMEN: E esses relatórios mostravam liquidações que superavam aquelas do Grupo D; isso está correto?
OHLENDORF: Sim.
CEL. AMEN: Você supervisionou pessoalmente execuções em massa desses indivíduos?
OHLENDORF: Eu estive presente em duas execuções em massa para fins de inspeção.
CEL. AMEN: Você explicaria em detalhes ao Tribunal como uma execução em massa de indivíduos era executada?
OHLENDORF: Um Einsatzkommando local tentava agrupar todos os judeus em sua área para registrá-los. Esse registro era feito pelos próprios judeus.
CEL. AMEN: Sob que pretexto, se sob algum pretexto, eles eram agrupados?
OHLENDORF: Sob o pretexto de que eles seriam reassentados.
CEL. AMEN: Continue.
OHLENDORF: Depois do registro, os judeus eram agrupados em um local; e de lá eles eram mais tarde transportados ara o local de execução, que eram como regra, uma vala anti-tanque ou uma escavação natural. As execuções eram efetuadas de uma maneira militar, por pelotões de fuzilamento sob comando.
CEL. AMEN: De que maneira eles eram transportados ao local de execução?
OHLENDORF: Eles eram transportados para o local de execução em caminhões, sempre só a quantidade que poderia ser executada imediatamente. Desse jeito, tentou-se manter o mais curto possível o período de tempo entre o momento em que as vítimas sabiam o que estava para acontecer a elas até o hora real da sua execução.
CEL. AMEN: Essa idéia foi sua?
OHLENDORF: Sim.
CEL. AMEN: E depois que eles eram fuzilados, o que era feito com seus corpos?
OHLENDORF: Os campos eram enterrados na vala anti-tanque ou escavação.
CEL. AMEN: Que determinação, se alguma, era feita sobre se as pessoas estavam realmente mortas?
OHLENDORF: Os líderes de unidades ou os comandantes do pelotão de fuzilamento tinham ordens para observar isso e, se necessário, acabar com elas eles mesmos.
CEL. AMEN: E quem faria isso?
OHLENDORF: Ou o próprio líder de unidade ou alguém designado por ele.
CEL. AMEN: Em que posições as vítimas eram fuziladas?
OHLENDORF: De pé ou ajoelhadas.
CEL. AMEN: O que era feito com os pertences pessoais das pessoas executadas?
OHLENDORF: Todos os objetos de valor eram confiscados na hora do registro ou do agrupamento, e dados ao Ministério das Finanças, ou através da RSHA ou diretamente. No início, as roupas eram dadas à população, mas no inverno de 1941-42, elas foram coletadas e dispensadas pelo NSV.
CEL. AMEN: Todos os pertences pessoais deles eram registrados naquela época?
OHLENDORF: Não, não todos, somente os objetos de valor eram registrados.
CEL. AMEN: O que acontecia com as roupas que as vítimas usavam no momento em que elas iam para o local de execução?
OHLENDORF: Elas eram obrigadas a tirar suas roupas de cima imediatamente antes da execução.
CEL. AMEN: Todas elas?
OHLENDORF: As roupas de cima, sim.
CEL. AMEN: E quanto ao resto das roupas que elas estavam usando?
OHLENDORF: As outras roupas continuavam nos corpos.
CEL. AMEN: Isso era verdade não só para o seu grupo mas também para os outros grupos Einsatz?
OHLENDORF: Essa era a ordem na minha Einsatzgruppe. Eu não sei como era feito nas outras Einsatzgruppen.
CEL. AMEN: De que maneira eles lidavam com isso?
OHLENDORF: Alguns dos líderes de unidade não executavam liquidações à maneira militar, mas matavam as vítimas individualmente, atirando na nuca delas.
CEL. AMEN: E você se opunha a esse procedimento?
OHLENDORF: Eu era contra esse procedimento, sim.
CEL. AMEN: Por que razão?
OHLENDORF: Porque, tanto para as vítimas quanto para aqueles que faziam as execuções, psicologicamente, era um fardo imenso para carregar.
CEL. AMEN: Agora, o que era feito com a propriedade coletada pelos Einsatzkommandos de suas vítimas?
OHLENDORF: Todos os objetos de valor eram enviados para Berlim, para a RSHA ou para o Ministério de Finanças do Reich. Os artigos que não podiam ser usados na área operacional eram dispensados.
CEL. AMEN: Por exemplo, o que acontecia com o ouro e prata tirados das vítimas?
OHLENDORF: Esses eram, como eu acabei de dizer, entregues a Berlim, para o Ministério das Finanças do Reich.
CEL. AMEN: Como você sabe disso?
OHLENDORF: Eu posso me lembrar que foi realmente tratado dessa forma em Simferopol.
CEL. AMEN: E quanto a relógios, por exemplo, tirados das vítimas?
OHLENDORF: Por solicitação do exército, relógios eram colocados à disposição das forças no front.
CEL. AMEN: Eram todas as vítimas, incluindo homens, mulheres e crianças, executadas da mesma maneira?
OHLENDORF: Até a primavera de 1942, sim. Então veio uma ordem de Himmler de que no futuro as mulheres e crianças iriam ser mortas somente em caminhonetes [N.do T:vans] de gaseamento.
CEL. AMEN: Como as mulheres e crianças tinham sido mortas anteriormente?
OHLENDORF: Da mesma maneira que os homens - por fuzilamento.
CEL. AMEN: O que era feito, se era feito, com relação ao enterro das vítimas depois de elas terem sido executadas?
OHLENDORF: Os kommandos preenchiam as sepulturas para remover os sinais da execução, e então unidades de trabalho da população as aplainavam.
CEL. AMEN: Com relação às caminhonetes de gás que você disse que recebeu na primavera de 1942, que ordem você recebeu a respeito ao uso dessas caminhonetes?
OHLENDORF: Essas caminhonetes eram para ser usadas no futuro para a matança de mulheres e crianças.
CEL. AMEN: Você explicaria ao Tribunal a construção dessas caminhonetes e sua aparência?
OHLENDORF: O propósito real dessas caminhonetes não podia ser visto do lado de fora. Elas se pareciam com caminhões fechados, e eram assim construídas para que na partida do motor, gás fosse conduzido para dentro da caminhonete, causando morte em dez a quinze minutos.
CEL. AMEN: Explique em detalhes apenas como uma dessas caminhonetes eram usadas para uma execução.
OHLENDORF: As caminhonetes eram carregadas com as vítimas e guiadas para o local do sepultamento, que era normalmente o mesmo usado para execuções em massa. O tempo necessário para o transporte era suficiente para garantir a morte das vítimas.
CEL. AMEN: Como as vítimas eram induzidas a entrar nas caminhonetes?
OHLENDORF: Elas ouviam dizer que elas tinham que ser transportadas para uma outra localidade.
CEL. AMEN: Como o gás era ligado?
OHLENDORF: Eu não sou familiarizado com detalhes técnicos.
CEL. AMEN: Quanto tempo levava normalmente para matar as vítimas?
OHLENDORF: Cerca de dez a quinze minutos; as vítimas não tinham consciência do que estava acontecendo a elas.
CEL. AMEN: Quantas pessoas podiam ser mortas simultaneamente?
OHLENDORF: De quinze a vinte e cinco pessoas. As caminhonetes variavam em tamanho.
CEL. AMEN: Você recebia relatórios dessas pessoas que operavam as caminhonetes de tempos em tempos?
OHLENDORF: Eu não entendi a pergunta.
CEL. AMEN: Você recebia relatórios daqueles que estavam trabalhando nas caminhonetes?
OHLENDORF: Eu recebia o relatório que os Einsatzkommandos não usariam voluntariamente as caminhonetes.
CEL. AMEN: Por que não?
OHLENDORF: Porque o enterro das vítimas era muito desagradável para os membros dos Einsatzkommandos.
CEL. AMEN: Agora, você contaria ao Tribunal quem fornecia essas caminhonetes para os grupos Einsatz?
OHLENDORF: As caminhonetes de gaseamento não pertenciam à frota das Einsatzgruppen, mas eram designadas para a Einsatzgruppe como uma unidade especial, liderada pelo homem que havia construído as caminhonetes. As caminhonetes eram designadas às Einsatzgruppen pela RSHA.
CEL. AMEN: As caminhonetes eram fornecidas a todos os diferentes grupos Einsatz?
OHLENDORF: Eu não tenho certeza. Eu sei apenas no caso da Einsatzgruppe D, e indiretamente que a Einsatzgruppe C também fez uso dessas caminhonetes...
CEL. AMEN: ...Referente ao seu testemunho anterior, você explicaria ao Tribunal por que você acredita que o tipo de execução ordenada por você, isto é, militar, era preferível ao procedimento tiro-na-nuca adotado pelos outros grupos Einsatz?
OHLENDORF: Por um lado, o objetivo era que os líderes e homens devessem poder fazer as execuções numa maneira militar, agindo sob ordens e que não tivessem que tomar uma decisão por si; essa era, para todas as intenções e propósitos, uma ordem que eles deveriam executar. Por outro lado, eu sabia que, através da excitação emocional das execuções, tratamento de doenças não poderia ser evitado, já que as vítimas descobriam muito cedo que elas iam ser executadas e não poderiam portanto suportar ansiedade prolongada. E parecia intolerável para mim que líderes individuais e homens devessem como conseqüência ser forçados a matar um grande número de pessoas pos sua própria decisão.
CEL. AMEN: De que maneira você determinava que os judeus iam ser executados?
OHLENDORF: Essa não era parte do meu trabalho; mas a identificação dos judeus era executada pelos próprios judeus, já que o registro era manuseado por um Conselho Judaico de Anciãos.
CEL. AMEN: A quantidade de sangue judeu tinha alguma coisa a ver com isso?
OHLENDORF: Eu não posso me lembrar dos detalhes, mas acredito que os meio-judeus eram também considerados judeus.
CEL. AMEN: Que organização forneceu a maioria dos oficiais dos grupos Einsatz e dos Einsatzkommandos?
OHLENDORF: Eu não entendi a questão.
CEL. AMEN: Que organização forneceu a maioria dos oficiais dos grupos Einsatz?
OHLENDORF: Os oficiais eram fornecidos pela Polícia do Estado, pela Kripo e, em menor grau, pela SD.
CEL. AMEN: Kripo?
OHLENDORF: Sim, a Polícia do Estado, a Polícia Criminal e, em menor grau, a SD.
CEL. AMEN: Havia outras fontes de pessoal?
OHLENDORF: Sim, a maioria dos homens das Waffen-SS e Odnungspolizei. A Polícia do Estado e Kripo forneciam a maioria dos peritos e as tropas eram fornecidas pelas Waffen SS e as Ordnungspolizei.
CEL. AMEN: E quanto à Waffen SS?
OHLENDORF: A Waffen-SS e a Ordnungspolizei deviam cada uma fornecer uma companhia às Einsatzgruppen.
CEL. AMEN: E quanto à Polícia de Ordem?
OHLENDORF: A Ordnungspolizei também fornecia uma companhia às Einsatzgruppen.
CEL. AMEN: Qual era o tamanho do Grupo Einsatz D e sua área operacional, comparada com outros grupos Einsatz?
OHLENDORF: Eu estimava que a Einsatzgruppe D era metade ou dois terços o tamanho das outras Einsatzgruppen. Isso mudou no decurso do tempo, já que algumas das Einsatzgruppen foram muito expandidas.
CEL. AMEN: Permita-me o Tribunal, com relação às questões organizacionais que eu acho que esclareceriam algumas das evidências que em parte já foram recebidas pelo Tribunal. Mas eu não quero tomar o tempo do Tribunal a menos que ele queira mais tais testemunhos. Eu achei talvez que se alguns membros do Tribunal tivessem alguma pergunta, eles perguntariam diretamente à testemunha porque ela está melhor informada sobre essas questões organizacionais do que qualquer um que estará presente na corte...
O PRESIDENTE: Coronel Amen, o Tribunal não acha que é necessário ir além nessas questões organizacionais nesta etapa, mas é uma questão que precisa ser realmente decidida por você porque você sabe de que natureza é a evidência na qual está pensando. Na opinião do Tribunal, eles estão satisfeitos na presente etapa por deixar a questão onde ela está, mas há um aspecto da evidência da testemunha que o Tribunal gostaria que você investigasse, que é se as ações das quais ele está falando continuaram depois de 1942, e por quanto tempo.
CEL. AMEN: [Para a testemunha] Você pode afirmar se as ações de liquidação que você descreveu continuaram depois de 1942 e, em caso positivo, por quanto tempo depois?
OHLENDORF: Eu não acho que a ordem básica foi revogada alguma vez. Mas eu não posso me lembrar dos detalhes - pelo menos não em relação à Rússia - que me permitiriam fazer afirmações concretas sobre esse assunto. A retirada começou bem pouco tempo depois, de forma que a região operacional dos Einsatzgruppen tornaram-se cada vez menores. Eu sei, entretanto, que outras Einsatzgruppen com ordens similares tinham sido previstas para outras áreas.
CEL. AMEN: Seu conhecimento pessoal estende-se até que data?
OHLENDORF: Eu sei que a liquidação de judeus foi proibida cerca de seis meses antes do fim da guerra. Eu também vi um documento acabando com a liquidação de comissários soviéticos mas eu não posso recordar uma data específica.
CEL. AMEN: Você sabe se, de fato, acabou assim?
OHLENDORF: Sim, eu acredito que sim.
O PRESIDENTE: O Tribunal gostaria de saber o número de homens no seu grupo Einsatz.
OHLENDORF: Havia cerca de quinhentos homens na minha Einsatzgruppe, excluindo-se aqueles que foram acrescentados ao grupo como assistentes do próprio país...
CEL. AMEN: Permita-me o Tribunal. A testemunha está agora disponível para outro advogado. Eu entendo que o Coronel Pokrovsky tem algumas questões que ele gostaria de perguntar como representante dos soviéticos.
CORONEL Y. V. POKROVSKY (Vice-Promotor Chefe para a URSS): O depoimento da testemunha é importa para o esclarecimento das questões num relatório no qual a delegação soviética está trabalhando no momento. Portanto, com a permissão do Tribunal, eu gostaria de colocar algumas questões para a testemunha.
[Virando-se para a testemunha]
Testemunha, você disse que esteve presente duas vezes em execuções em massa. Sob ordens de quem você foi um inspetor das execuções?
OHLENDORF: Eu estive presente às execuções por iniciativa própria.
CEL. POKROVSKY: Mas você disse que esteve presente como inspetor.
OHLENDORF: Eu disse que estive presente por motivo de inspeção.
CEL. POKROVSKY: Por iniciativa própria?
OHLENDORF: Sim.
CEL. POKROVSKY: Algum de seus chefes já esteve presente em execuções com propósito de inspeção?
OHLENDORF: Sempre que possível eu enviava um membro do quadro das Einsatzgruppen para testemunhar as execuções, mas isso não era sempre possível, já que as Einsatzgruppen tinham que operar sobre grandes distâncias.
CEL. POKROVSKY: Por que alguma pessoa era enviada com propósito de inspeção?
OHLENDORF: Você poderia por favor repetir a pergunta?
CEL. POKROVSKY: Com que propósito era enviado um inspetor?
OHLENDORF: Para determinar se as minhas instruções sobre a forma da execução eram realmente cumpridas ou não.
CEL. POKROVSKY: Devo entender que o inspetor tinha que certificar-se de que a execução tinha realmente sido cumprida?
OHLENDORF: Não, não seria correto disser isso. Ele tinha que averigüar se as condições que eu havia colocado para a execução estavam realmente sendo cumpridas.
CEL. POKROVSKY: Que forma de condições você tinha em mente?
OHLENDORF: Um: exclusão do público; dois: execução militar por pelotão de fuzilamento; três: chegada de transportes e execução da liquidação sem sobressaltos, para evitar excitação desnecessária; quatro: supervisão da propriedade para prevenir pilhagem. Pode haver outros detalhes de que não lembro mais. Para falar a verdade, todos os maus-tratos, tanto físicos como mentais, tinham que ser prevenidos através dessas medidas.
CEL. POKROVSKY: Você queria ter certeza que o que você considerava ser uma distribuição justa dessa propriedade fosse efetuada, ou você aspirava à completa aquisição dos objetos de valor?
OHLENDORF: Sim.
CEL. POKROVSKY: Você falou de maus-tratos. O que você quer dizer com maus-tratos nas execuções?
OHLENDORF: Se, por exemplo, a maneira na qual as execuções eram feitas causassem excitação e desobediências entre as vítimas, de forma que os kommandos fossem obrigados a restaurar a ordem por meio de violência.
CEL. POKROVSKY: O que você quer dizer com "restaurar a ordem por meio de violência"? O que você quer dizer por supressão da excitação entre as vítimas por meio de violência?
OHLENDORF: Se, como eu já disse, a fim de executar a liquidação numa maneira ordenada, fosse necessário, por exemplo, recorrer a espancamentos.
CEL. POKROVSKY: Era absolutamente necessário bater nas vítimas?
OHLENDORF: Eu mesmo nunca testemunhei isso, mas ouvi falar.
CEL. POKROVSKY: De quem?
OHLENDORF: Em conversas com membros e outros kommandos.
CEL. POKROVSKY: Você disse que carros, caminhonetes, eram usados para as execuções?
OHLENDORF: Sim.
CEL. POKROVSKY: Você sabe onde, e com a assistência de quem, o inventor, Becker, conseguiu colocar seu intento em prática?
OHLENDORF: Eu me lembro somente que foi feito através da Amt II da RSHA; mas não posso mais dizer com certeza.
CEL. POKROVSKY: Quantas pessoas foram executadas nesses carros?
OHLENDORF: Eu não entendi a pergunta.
CEL. POKROVSKY: Quantas pessoas foram executadas através desses carros?
OHLENDORF: Eu não posso dar números exatos, mas o número era comparativamente pequeno - talvez algumas centenas.
CEL. POKROVSKY: Você disse que, na maior parte, mulheres e crianças eram executadas nessas caminhonetes. Por qual motivo?
OHLENDORF: Essa era uma ordem especial de Himmler que, em resumo, mulheres e crianças não deveriam ser expostas ao desgaste mental das execuções; e assim os homens dos kommandos, a maioria homens casados, não deveriam ser forçados a mirar em mulheres e crianças.
CEL. POKROVSKY: Alguém observou o comportamento das pessoas executadas nessas caminhonetes?
OHLENDORF: Sim, o médico.
CEL. POKROVSKY: Você sabe que Becker havia reportado que a morte nessas caminhonetes era particularmente agonizante?
OHLENDORF: Não. Eu fiquei sabendo dos relatórios de Becker pela primeira vez através de uma carta para Rauff, que me foi mostrada aqui. Do contrário, eu sei pelos relatórios dos do médico que as vítimas não estavam conscientes de sua morte iminente.
CEL. POKROVSKY: Alguma unidade militar - quero dizer, unidade do exército - tomava parte nessas execuções em massa?
OHLENDORF: Como regra, não.
CEL. POKROVSKY: E como exceção?
OHLENDORF: Eu acho que me lembro que em Nikolaiev e em Simferopol um expectador do Alto Comando do Exército esteve presente por um curto período.
CEL. POKROVSKY: Com qual propósito?
OHLENDORF: Eu não sei, provavelmente para obter informações pessoalmente.
CEL. POKROVSKY: As unidades militares eram designadas para levar a efeito as execuções nestas cidades?
OHLENDORF: Oficialmente, o exército não designava nenhuma unidade para este propósito; o exército como tal era na verdade contra as liquidações.
CEL. POKROVSKY: Mas e na prática?
OHLENDORF: Unidades individuais ocasionalmente se ofereciam. Entretanto, no momento eu não sei de nenhum caso assim entre o próprio exército, mas só entre unidades ligadas ao exército (Heeresgefolge).
CEL. POKROVSKY: Você era o homem por cujas ordens pessoas eram mandadas para a morte. Só os judeus eram entregues para execução pela Einsatzgruppe ou os comunistas - "autoridades comunistas" você os chama em suas instruções - eram entregues para execução junto com os judeus?
OHLENDORF: Sim, ativistas e comissários políticos. A mera afiliação no Partido Comunista não era suficiente para perseguir ou matar um homem.
CEL. POKROVSKY: Era feita alguma investigação especial com relação ao papel desempenhado pelas pessoas no Partido Comunista?
OHLENDORF: Não, eu disse que pelo contrário, a simples afiliação ao Partido Comunista não era, por si mesma, uma fator determinante na perseguição e execução de um homem; ele tinha que ter uma função política especial.
CEL. POKROVSKY: Você teve alguma conversa sobre as caminhonetes de extermínio enviada por Berlim e sobre seu uso?
OHLENDORF: Eu não entendi a pergunta.
CEL. POKROVSKY: Você teve oportunidade de discutir, com seus chefes e colegas, o fato de que as caminhonetes tinham sido enviadas para sua própria Einsatzgruppe particular a partir de Berlim para fazer as execuções? Você se lembra de alguma conversa assim?
OHLENDORF: Eu não me lembro de nenhuma conversa específica.
CEL. POKROVSKY: Você teve alguma informação a respeito do fato de que membros do esquadrão de execução responsável pelas execuções não estavam dispostos a usar as caminhonetes?
OHLENDORF: Eu soube que os Einsatzkommandos estavam usando as caminhonetes.
CEL. POKROVSKY: Não, eu estava pensando em outra coisa. Eu queria saber se você recebeu relatórios de que membros dos esquadrões de execução não estavam dispostos a usar as caminhonetes e preferiam outros meios de execução?
OHLENDORF: De que eles preferiam matar por meio das caminhonetes de gaseamento, em vez de por fuzilamento?
CEL. POKROVSKY: Ao contrário, que eles preferiam execução por fuzilamento, em vez de por caminhonetes de gaseamento.
OHLENDORF: Eu já disse que as caminhonetes de gás...
CEL. POKROVSKY: E por que eles preferiam execução por fuzilamento à morte nas caminhonetes de gaseamento?
OHLENDORF: Porque, como eu já havia dito, na opinião do líder dos Einsatzkommandos, o descarregamento dos corpos era um desgaste mental desnecessário.
CEL. POKROVSKY: O que você quer dizer por "um desgaste mental desnecessário"?
OHLENDORF: Pelo que me lembro, as condições da época - a imagem apresentada pelos corpos e provavelmente porque certas funções do corpo haviam sido acionadas, deixando os corpos deitados em sujeira.
CEL. POKROVSKY: Você quer dizer que o sofrimento suportado antes da morte era claramente visível nas vítimas? Eu entendi você corretamente?
OHLENDORF: Eu não entendi a pergunta; você quer dizer, durante a morte na caminhonete?
CEL. POKROVSKY: Sim.
OHLENDORF: Eu só posso repetir o que o médico me disse, que as vítimas não estavam conscientes da sua morte na caminhonete.
CEL. POKROVSKY: Nesse caso, sua resposta à minha questão anterior, de que o descarregamento dos corpos dava uma impressão terrível aos membros do esquadrão de execução, torna-se totalmente incompreensível.
OHLENDORF: E, como eu disse, a terrível impressão criada pela posição dos próprios corpos, e provavalmente pelo estado das vans que tinham sido sujas e assim por diante.
CEL. POKROVSKY: Eu não tenho mais perguntas a fazer a esta testemunha na presente etapa do julgamento... O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): No seu testemunho, você disse que o grupo Einsatz tinha como alvo a aniquilação dos judeus e dos comissários, isso está correto?
OHLENDORF: Sim. O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): E em qual categoria você considerava as crianças? Por qual razão as crianças eram massacradas?
OHLENDORF: A ordem era que a população judaica deveria ser totalmente exterminada.
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): Inclusive as crianças?
OHLENDORF: Sim.
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): Todas as crianças foram assassinadas?
OHLENDORF: Sim.
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): Mas as crianças daqueles que você considerava pertencerem à categoria de comissários, elas também foram mortas?
OHLENDORF: Eu não estou ciente de que alguma vez investigações foram feitas atrás de famílias de comissários soviéticos.
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): Você enviou para algum lugar relatórios sobre as execuções que o grupo efetuou?
OHLENDORF: Relatórios sobre as execuções eram regularmente enviados à RSHA.
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): Não, você mandou pessoalmente algum relatório sobre a aniquilação de milhares de pessoas que vocês efetuaram? Você pessoalmente enviou algum relatório?
OHLENDORF: Os relatórios vinham dos Einsatzkommandos que executavam as ações, para a Einsatzgruppe e a Einsatzgruppe informava a RSHA.
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): Para quem?
OHLENDORF: Os relatórios iam para o chefe da Sipo pessoalmente.
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): Pessoalmente?
OHLENDORF: Sim, pessoalmente.
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): Qual era o nome deste oficial de polícia? Você pode dar o nome dele?
OHLENDORF: Naquela época, Heydrich.
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): E depois de Heydrich?
OHLENDORF: Eu não estava mais lá, mas aquela era a ordem estabelecida.
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): Eu estou perguntando a você se você continuou a enviar relatórios depois da morte de Heydrich ou não?
OHLENDORF: Depois da morte de Heydrich, eu não estava mais no Einsatz, mas os relatórios continuaram, claro.
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): Você sabe se os relatórios continuaram a ser enviados após a morte de Heydrich ou não?
OHLENDORF: Sim.
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): Sim?
OHLENDORF: Não, os relatórios...
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): A ordem referente à aniquilação do povo soviético estava em conformidade com a política do governo alemão ou do Partido Nazista ou ela era contra ele? Você entende a questão?
OHLENDORF: Sim. Deve-se distinguir aqui: a ordem para a liquidação veio do Führer do Reich, e ela tinha que ser executada pelo Reichsführer SS Himmler.
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): Mas ela estava em conformidade com a política conduzida pelo Partido Nazista e pelo governo alemão, ou estava em contradição com ele?
OHLENDORF: Uma política complementa uma prática de forma que nesse aspecto ela foi ordenada pelo Führer. Se você fosse perguntar se esta atividade estava em conformidade com a idéia do Nacional-Socialismo, eu diria "não".
O TRIBUNAL (Gen. Niktchenko): Eu estou falando da prática.
O PRESIDENTE: Eu entendi você dizer que os objetos de valor eram tirados das vítimas judaicas pelo Conselho Judaico de Anciãos?
OHLENDORF: Sim.
O PRESIDENTE: O Conselho Judaico de Anciãos decidia quem iria ser morto?
OHLENDORF: Isso era feito de várias formas. Pelo que me lembro, o Conselho de Anciãos recebia a ordem de coletar objetos de valor ao mesmo tempo.
O PRESIDENTE: De forma que o Conselho Judaico de Anciãos não soubesse se eles iriam ser mortos ou não?
OHLENDORF: Sim...
O PRESIDENTE: Agora, uma questão com relação a você pessoalmente. De quem você recebeu suas ordens para a liquidação dos judeus e assim por diante? E de que forma?
OHLENDORF: Meu trabalho não era a tarefa de liquidação, mas eu liderei o pessoal que dirigia os Einsatzkommandos no campo, e os próprios Einsatzkommandos já tinham recebido esta ordem de Berlim nas instruções de Streckenbach, Himmler e Heydrich. Esta ordem foi renovada por Himmler em Nikolaiev.
HERR BABEL: Você pessoalmente não estava relacionado com a execução dessas ordens?
OHLENDORF: Eu dirigi a Einsatzgruppe, e portanto eu tinha a tarefa de ver como os Einsatzkommandos executavam as ordens recebidas.
HERR BABEL: Mas você não teve escrúpulos com respeito à execução dessas ordens?
OHLENDORF: Sim, claro.
HERR BABEL: E como é que elas foram executadas apesar desses escrúpulos?
OHLENDORF: Porque para mim, é inconcebível que um líder subordinado não devesse executar ordens dadas pelos líderes do Estado.
HERR BABEL: Esta é a sua opinião. Mas isto deve ter sido não só o seu ponto de vista, mas também o ponto de vista da maioria das pessoas envolvidas. Alguns dos homens indicados para executar essas ordens não pediram a você para serem liberados de tais tarefas?
OHLENDORF: Eu não me lembro de nenhum caso concreto. Eu exclui alguns que eu não considerava emocionalmente apropriados para executar essas tarefas e eu enviei alguns deles para casa.
HERR BABEL: A legalidade das ordens era explicada para essas pessoas com fingimento?
OHLENDORF: Eu não entendo sua pergunta; como a ordem era emitida pelas autoridades, a questão da legalidade não poderia surgir nas cabeças daqueles indivíduos, porque eles tinham jurado obediência às pessoas que haviam emitido as ordens.
HERR BABEL: Algum indivíduo poderia esperar sucesso ao escapar da execução dessas ordens?
OHLENDORF: Não, o resultado teria sido uma corte marcial com uma sentença correspondente.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Após 60 anos, legado do Tribunal de Nuremberg permanece

Por Alan Elsner

WASHINGTON (Reuters) - Transcorridos 60 anos do início dos julgamentos de nazistas pelo Tribunal de Nuremberg, seu legado ainda reverbera em alto e bom som no direito internacional e no julgamento do ex-presidente iraquiano Saddam Hussein.

O primeiro julgamento envolveu 22 nazistas -- entre eles Hermann Goering, Rudolf Hesse e Joachim von Ribbentrop -- a partir de 20 de novembro de 1945. Três dos réus foram totalmente absolvidos e 11 outros foram absolvidos de algumas das acusações. Houve 12 condenados à morte e algumas condenações a longas penas de prisão. Goering foi condenado, mas cometeu suicídio.

"Nuremberg introduziu o conceito de que indivíduos e Estados estão sujeitos à lei internacional, inclusive com limites à soberania", disse Henry King, um dos promotores de Nuremberg. Aos 86 anos, ele continua ativo como professor de Direito na Universidade Case Western Reserve, em Cleveland (EUA).

"Em certo sentido, marcou a chegada do direito internacional como uma força a ser reconhecida no nosso planeta", afirmou.

Um recente seminário na Universidade Georgetown (Washington) explorou outros legados duradouros de Nuremberg. O tribunal rejeitou de uma vez por todas os argumentos de que os réus estavam "apenas cumprindo ordens".

Estabeleceu o genocídio como um crime organizado e também definiu como crime o planejamento, preparação, início e desenrolar das guerras de agressão -- embora sem definir agressão.

"Nuremberg modernizou as leis da guerra e criou um denominador sob o qual todos os cidadãos do mundo deveriam viver e serem julgados. Ao fazê-lo, Nuremberg lançou o movimento internacional de direitos humanos", disse King.

Ben Ferencz, 85, que foi o chefe da promotoria no julgamento seguinte, em 1947, de 24 líderes dos "Einstatzgruppen" (unidades móveis de extermínio nazistas), lembra-se de ter perguntado ao réu Otto Ohlendorf, que comandou uma operação de extermínio na Criméia, como ele justificava a morte de 90 mil civis desarmados.

"Ohlendorf disse que foi em legítima defesa. Ele disse: 'Nós sabíamos que eles planejavam nos atacar e, portanto, era prudente para nós prevenir e atacá-los"', disse Ferencz, usando palavras que têm uma estranha ressonância nos dias de hoje.

E como Ohlendorf justificava a morte de bebês? "Ele disse que, um dia, eles iriam crescer e se tornariam uma ameaça. Era portanto necessário matá-los antes que o fizessem. Mas esta idéia de matar as pessoas em legítima defesa antecipada -- os juízes disseram que isso não era defesa", afirmou Ferencz.

O CASO SADDAM

Acadêmicos vêem no tribunal de Nuremberg o embrião de todos os demais julgamentos de direitos humanos, como o do ex-presidente sérvio Slobodan Milosevic, dos acusados de atrocidades em Serra Leoa, Ruanda e Timor Leste ou do ex-ditador iraquiano Saddam Hussein, iniciado formalmente em outubro.

Na verdade, Saddam foi a primeira pessoa desde Nuremberg a ser indiciada pelo crime de agressão, segundo Michael Scharf, também da Case Western Reserve, que participou do treinamento dos juízes no caso Saddam.

"Saddam terá direitos que nenhuma das suas vítimas teve, graças ao precedente de Nuremberg", disse Scharf. Ainda assim, esse julgamento continua sendo altamente problemático, pois dois advogados que defendiam outros réus do processo foram assassinados nas últimas semanas.

Saddam, a exemplo do que fizeram os réus de Nuremberg, contestou a legitimidade do tribunal, por se tratar de uma "justiça dos vencedores". A maioria dos alemães levou décadas para se convencer da legitimidade e imparcialidade do tribunal de Nuremberg. Segundo pesquisas anuais realizadas a partir da década de 1950 pelo governo, mas só divulgadas em 2002, até 1958 cerca de 90 por cento dos alemães achavam que os julgamentos tinham sido injustos. Foi apenas na década de 1970 a opinião popular mudou de maneira decisiva.

David Crane, ex-promotor-chefe do tribunal especial para Serra Leoa, onde nove indivíduos estão sendo julgados por atrocidades na guerra civil daquele país africano na década passada, disse que estava bastante ciente do legado de Nuremberg ao iniciar seu trabalho em Freetown, a capital, em 2002.

"Como Nuremberg e Freetown eram parecidas quando cheguei", disse ele, referindo-se à destruição física das duas cidades. "O cheiro da morte estava literalmente no ar, e foi assim nos três anos em que estive lá."

O julgamento de Serra Leoa incorporou ao léxico mais dois crimes contra a humanidade: o recrutamento obrigatório de crianças menores de 13 anos no conflito e o casamento forçado de mulheres.

Talvez a consequência mais importante de Nuremberg tenha sido a criação, em 1998, do Tribunal Penal Internacional, destinado a promover a justiça internacional e punir os responsáveis pelos crimes mais graves do mundo.

"Nuremberg criou o tribunal da Iugoslávia, que criou o tribunal de Ruanda, que criou a corte especial para Serra Leoa e Timor Leste, e agora o Tribunal Penal Internacional permanente", disse Scharf.

Ironicamente, os Estados Unidos, que insistiram na criação de Nuremberg, se opuseram veementemente ao Tribunal Penal Internacional, por verem nele uma afronta à sua soberania e independência.

Apesar da oposição norte-americana, o México tornou-se em 28 de outubro a centésima nação a ratificar o tratado que criou o tribunal.

"Essa corte não vai embora. Veio para ficar", disse David Scheffer, ex-embaixador especial dos EUA para questões de crimes de guerra. Seu conselho ao governo Bush: "Acostume-se ao tratado, supere isso e conviva com ele."

Fonte: Reuters/UOL(16.11.2005)
http://noticias.uol.com.br/ultnot/reuters/2005/11/16/ult729u52025.jhtm

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