quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Relatório Stroop, Treblinka e Gueto de Varsóvia

Os "revisionistas" do Holocausto dizem que o campo de concentração de Treblinka foi na verdade apenas um campo de trânsito, onde os judeus eram mantidos por pouco tempo antes de serem enviados para trabalharem outros lugares. [1] É estranho que nenhum deles comenta as descrições explícitas mostrando o contrário, no conhecido Relatório Stroop.

Treblinka foi um dos três campos "Aktion Reinhard". Junto com Belzec e Sobibor, serviu de destino para mais de um milhão de pessoas - quase exclusivamente judeus - que foram mortas imediatamente ao chegar. Exceto por um pequeno número de prisioneiros e SS que executaram as ações de extermínio, nenhum dos internos sobreviveu à sua estada no campo.

Treblinka foi o último dos três campos a ser construído. A construção começou em Maio/Junho de 1942 e as primeiras execuções começaram em Julho. Nas primeiras cinco semanas, cerca de 250 mil pessoas foram mortas somente neste campo. Câmaras de gás maiores foram construídas em Setembro e as execuções continuaram. Antes de o campo ser fechado,800 mil pessoas perderam suas vidas dentro deste terreno de sessenta acres.[2]

O desmantelamento de Treblinka começou depois da visita de Himmler ao quartel general da Operação Reinhard e aos campos de concentração no final de fevereiro e início de março de 1943. Antes que o campo pudesse ser fechado, os corpos de oitocentas vítimas ainda tiveram que ser exumados e incinerados e outros trabalhos tiveram que ser feitos para destruir toda a evidência incriminatória. Em março e abril de 1943, alguns comboios chegaram do gueto de Varsóvia, recém-destruído, da Iugoslávia e da Grécia, mas isso não atrasou muito o fechamento do campo.[3]

Como o sargento SS Franz Suchomel descreveu:
"Treblinka foi uma linha de produção de morte primitiva, mas eficiente. Entendeu? Primitiva, sim. Mas funcionou bem, como linha de produção de morte." [4]
Em janeiro de 1943, Heinrich Himmler visitou o Gueto de Varsóvia,onde dezenas de milhares de judeus ainda restavam após terem sido concentrados lá pelos últimos três anos. Ele ordenou sua limpeza. O SS-Brigadeführer (Major-General) Jürgen Stroop foi designado para esta tarefa e levou suas tropas militares para lutar contra os judeus. A operação começou em abril de 1943.

Esta operação foi diferente da maioria das outras executadas contra os judeus por várias razões. Aqueles que restaram no Gueto sabiam que seu destino era desesperador, porque eles testemunharam centenas de milhares sendo enviados para a morte desde julho de 1942. Eles lutaram com grande determinação. Na falta de armamento militar, mas, principalmente com explosivos improvisados e alguns rifles que possuíam, eles conseguiram atrasar a operação de Stroop por quatro semanas e matar muitos nazistas nesse período.[5]

Stroop comemorou esta bem-sucedida "expedição assassina" [6] produzindo um livro de 75 páginas mais 50 páginas de fotografias sobre o evento. Com grande conteúdo de telegramas sobre a operação, este livro é um registro histórico muito importante. O chamado "Relatório Stroop" nunca teve sua autenticidade contestada, mesmo por revisionistas do Holocausto que quase sempre rejeitam documentos incriminadores.

Os telegramas sobre quatro dias em particular revelam fatos sobre Treblinka, entretanto os revisionistas do Holocausto preferem ignorar. O campo T-II (Treblinka-II), [7] onde as execuções ocorreram, é explicitamente identificado como o destino para a "liquidação" e "destruição" dos judeus capturados.

As últimas execuções em massa em Treblinka ocorreram depois de um levante dos prisioneiros judeus em agosto de 1943, e o último equipamento foi desmantelado pelos judeus restantes (que foram então fuzilados) em novembro.

[...] 25 de abril de 1943:

No total, 1690 judeus foram capturados vivos. De acordo com as histórias dos judeus, houve certamente paraquedistas que caíram aqui e bandidos que forneceram armas de origem desconhecida. 274 judeus foram baleados, e como nos outros dias, inúmeros judeus foram sepultados vivos nos bunkers destroçados e, pelo que se sabe, queimados. Com as recompensas de hoje pelos judeus, uma grande parte dos bandidos e elementos inferiores do Gueto foram, na minha opinião, capturados. A liquidação imediata não foi feita devido à escuridão. Eu tentarei obter um trem para T II (Treblinka II) para amanhã, senão as liquidações terão que ser feitas amanhã.

26 de abril de 1943:

Neste momento não há mais judeus capturados em Varsóvia. O transporte para T II (Treblinka II) mencionado anteriormente foi bem-sucedido.

13 de maio de 1943:

Os poucos judeus e criminosos ainda restantes no Gueto usaram por 2 dias os abrigos disponíveis nas ruínas para voltar aos seus bunkers à noite, e lá comer e se abastecerem para o próximo dia. Nenhuma evidência sobre outros bunkers conhecidos deles pode ser obtida pelos judeus capturados. Onde houve incêndio, o resto dos habitantes foram destruídos pelas maiores cargas explosivas. Por uma operação da Wehrmacht, 327 judeus foram capturados hoje. Estes judeus capturados serão enviados somente para o T II (Treblinka II)

24 de maio de 1943:

De um total de 56.065 judeus capturados, cerca de 7.000 foram destruídos no curso da ação de grande escala no ex-gueto judeu. 6.929 judeus foram destruídos pelo transporte para o T II (Treblinka II), assim, no total, 13.929 judeus foram destruídos. Estima-se que, além do número de 56.065, de 5 mil a 6 mil judeus tenham sido destruídos pelas explosões e pelo fogo.[...]

A última entrada, mais explícita, foi traduzida do alemão "vernichtet" como "destruído". É a mesma palavra usada quando se refere à destruição dos bunkers. Outras traduções aceitáveis seriam "exterminado" ou "aniquilado". Não há dúvidas quanto ao seu significado.

Inspirado pela pesquisa do Dr. Daniel Keren.

Notas:

[1]. Por exemplo, veja Weber, Mark e Andrew Allen, "Treblinka," Journal of Historical Review, Vol. 12, p. 133, disponível em http://ihr.org/jhr/v12/v12p133_Allen.html. Apesar de saber que cinzas humanas foram encontradas enterradas em Treblinka numa profundidade de vinte pés, os autores revisionistas concluem: "... não há forte evidência de que Treblinka foi um centro de extermínio em massa onde centenas de milhares de judeus foram sistematicamente mortos. Pelo contrário, relatórios confiáveis de transferências de judeus de Treblinka para o Leste, para os territórios ocupados da União Soviética, a relativa falta de sigilo e segurança no campo, e o tamanho pequeno da área onde os corpos foram supostamente enterrados, tudo sugere que tenha sido um centro de triagem."

[2]. Kogon, Eugen, Hermann Langbein and Adalbert Rückerl, Nazi Mass Murder, 1993, pp. 124ff, 131ff. Área do campo é uma estimativa.

[3]. Ibid, p. 136.4.

[4]. SS Unterscharführer Franz Suchomel, entrevistado na câmera oculta para o filme Shoah. Transcrito do livro de mesmo nome, Claude Lanzmann, 1985, p. 54.5.

[5]. Snyder, Louis, Encyclopedia of the Third Reich, 1976, p. 374.6.

[6]. Este foi o termo cunhado pelo Coronel-General Alfred Jodl: "O porco sujo SS! Imagine escrever um relatório de 75 páginas sobre uma pequena expedição assassina, quando a grande campanha combatida pelos soldados contra um exército bem armado tem somente algumas páginas!" Reitlinger, Gerald, The Final Solution, 1953, p. 276, citing G.M.Gilbert, Nuremberg Diary, 1947, p. 69.7.

[7]. "T II" não é mencionado com freqüência, mas é o nome da área de extermínio do campo de Treblinka.

Fonte: The Holocaust History Project
Autor: Jamie McCarthy
Link: http://www.holocaust-history.org/works/stroop-report/
Tradução: Leo Gott

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