sexta-feira, 29 de maio de 2009

São confiáveis as memórias de Hoess? - Parte 4 - Hoess e demografia

Hoess escreveu que em 1944 (166) dezenas de milhares de judeus foram transferidos de Auschwitz para serem usados na indústria de fabricação de armas alemã. Ele não especifica o período de 1944, mas aparentemente deve ser quando os húngaros deportados começaram a chegar, em maio. Os registros do campo de Auschwitz mostram que, de 29 de maio a 13 de agosto, cerca de 20.000 foram transportados para fora do campo.[45] Um total de 437.000 foram deportados da Hungria, de meados de maio a meados de julho.[46] No entanto, Hoess observou (166-167) que os trabalhadores eram inúteis para o esforço de guerra alemão porque eram inaptos para o trabalho. “Eu sempre pensei que os judeus mais fortes e saudáveis deveriam ser escolidos.” A observação de Hoess é confirmada pelas atas das reuniões do Ministério dos Armamentos. Em 26 de maio, o Gerente do Departamento Central para o Ministério, Fritz Scmelter, queixou-se: “Para a construção de caças foram oferecidos apenas crianças, mulheres e homens idosos com os quais muito pouco pode ser feito...”[47] Duas semanas depois Schmelter anunciou que ele poderia ter de 10.000 a 20.000 trabalhadoras judaicas. No entanto, apenas 520 foram selecionadas, que eram, em última análise não consideradas aptas para o trabalho.[48]

A mais importante observação demográfica de Hoess diz respeito ao número total de vítimas que foram assassinadas em Auschwitz. Ele deu o total (39) de 1.130.000. Até recentemente. Muitos disputaram o tamanho desta estimativa. A maioria dos estudos de Auschwitz deu um número pelo menos duas vezes mais elevado ou superior. Mesmo a capa da edição destas memórias utilizadas para este estudo utiliza o número de 2 milhões de assassinados. No entanto, em 1991 o Historiador polonês e uma autoridade em Auschwitz, Dr. Franciszek Piper, fez o mais completo estudo demográfico do número de deportados para o campo já realizado. Ele começou o seu estudo em 1980. Ele descobriu que 1,3 milhões haviam sido deportados para Auschwitz em seus 4 anos e meo de existência, mas que apenas 400.000 receberam um número de registro. Desses 400.000 apenas 200.000 não foram mortos. Todos os deportados que não foram registrados, não podem ser contabilizados, foram mortos. Isso significa que 1,1 milhões foram mortos.[49] O USHMM em Washington D.C. agora está aceitando este número.[50]

Hoess foi incorreto em alguns detalhes. Por exemplo, ele exagerou o número de judeus franceses e holandeses que morreram em Auschwitz e sub-avaliou outros. No entanto, isso não é incomum. Ele não tinha os dados subjacentes à sua frente, uma vez que tinham sio destruídos. Mas ele sabia o total. Isto é algo que seria provável de se lembrar.

O aspecto mais significativo para a colocação de Hoess do número de 1,1 milhões é que isso constitui a prova definitiva de que Hoess não poderia ter sido obrigado a mentir nas suas memórias. No momento em que Hoess escreveu suas memórias o valor já fixado sobre o número de assassinados era de 4 milhões. Os soviéticos, que libertaram Auschwitz em janeiro de 1945, emitiram um relatório em 6 de maio de 1945, informando o número de 4 milhões. Este relatório foi apresentado posteriormente no Tribunal Militar Internacional em Nuremberg como documento USSR-0008. Muitos dos antigos prisioneiros afirmaram que 4 milhões foram mortos em Auschwitz. Esse número também foi aceito pelas autoridades polonesas que julgaram Hoess.[51] Mas ao mesmo tempo, sobre estes relatórios que foram listados 4 milhões de assassinados, Hoess repudiou seu antigo testemunho que deu no Tribunal Militar Internacional, antes ele entregou aos poloneses que eram 2,5 milhões de mortos. Ele escreveu (39): “Considero o número total de 2,5 milhões um numero demasiado alto. Mesmo Auschwitz tinha limites para sua capacidade destrutiva. Números dados por antigos prisioneiros são fragmentos da imaginação deles e não tem qualquer base de fato.”

Hoess desafiou diretamente a credibilidade de seus captores. Ele simplesmente não poderia ter escrito isso sob coação. Pelo contrário, se ele estava sendo forçado a escrever estas memórias o número de 4 milhões deveria aparecer certamente. Além disso, isto mostra que suas memórias não foram adulteradas pelos poloneses ou pelas autoridades soviéticas. Isso poderia explicar a razão – embora o autor não tenha nenhuma informação nesse sentido – as memórias de Hoess não foram liberadas pelos poloneses até 1958, mais de onze anos depois que foram escritas.

Convém, no entanto, salientar a imparcialidade dos antigos prisioneiros e entidades que investigativas que relataram que 4 milhões era um número que eles não conheciam. Só sabiam que o número era muito elevado. A contagem dos mortos foi baseada no número de corpos que as autoridades pensavam que poderiam ter sido cremados nos fornos. Os números apresentados pelos soviéticos no documento USSR-008 eram demasiados elevados, em parte porque foram baseados no pressuposto de que todos os fornos crematórios funcionaram a toda velocidade em torno de 2 anos e meio. A hipótese estava errada e será examinada em maior profundidade por este site em um próximo estudo. Tal como muitos acontecimentos históricos, todos os fatos só se tornaram conhecidos com o passar do tempo.

(todos os grifos do tradutor)

Notas para esta parte:

[45] Czech, Auschwitz Chronicle, pp. 633, 636, 641, 642, 643, 647, 648, 650, 655, 661, 666, 671, 673, 686.
[46] Letter dated July 11, 1944 from Edmund Veesenmayer, Germany's Plenipotentiary to Hungary, NG 5615 in Randolph Braham, The Destruction of Hungarian Jewry: A Documentary Account (NY:1963), Vol. 2, p. 443.
[47] NOKW 266, in Nuremberg Military Tribunal, Trials of War Criminals (Washington D.C. 1947), Vol. 2, p. 557.
[48] Raul Hilberg, The Destruction of the European Jews (NY: 1985), Vol. 3, p. 935.
[49] Franciszek Piper, "Estimating the Number of Deportees to and Victims of the Auschwitz-Birkenau Camp", 21 Yad Vashem Studies (1991), pp. 97-99 for a summary of the data appearing earlier in the study. Piper has done a more comprehensive work on this subject in German. See his Die Zahl Der Opfer von Auschwitz: Aufgrund der Quellen der Etrage der Forschung, 1945-1990 (Oswiecim:1993).
[50] United States Holocaust Memorial Museum, Atlas of the Holocaust (NY:1996), p. 97.
[51] Piper, "Estimating the Number of Victims", pp. 53, 54, 58, 59. Text of USSR-008 in German appears in International Military Tribunal, Trials of Major War Criminals (Washington D.C., 1947), Vol. 39, pp. 241-261. Four million reference on p. 260.

Fonte: The Holocaust History Project
http://www.holocaust-history.org/auschwitz/hoess-memoirs/; Link 2
Autor: Prof. John Zimmermann
Tradução: Leo Gott

Sequência:
São confiáveis as memórias de Hoess? - Parte 3 - Hoess e a eliminação de corpos
São confiáveis as memórias de Hoess? - Parte 5 - Hoess e o sigilo

5 comentários:

Diogo disse...

«em 1991 o Historiador polonês e uma autoridade em Auschwitz, Dr. Franciszek Piper, fez o mais completo estudo demográfico do número de deportados para o campo já realizado»

Ahahahahah!


«Muitos dos antigos prisioneiros afirmaram que 4 milhões foram mortos em Auschwitz»

Aí estão os testemunhos credíveis!


Höss reviu os números por ordem dos seus captores porque os primeiros números eram completamente surrealistas.

Abraço

Leo Gott disse...

Diogo,

Ahahahahah!

Brilhante argumento, palmas caros leitores.rsrsrsrs Esses nazistas não levam nada a sério mesmo. Que pena, deve ser falta de células cinzentas quegastam ao gritar Sieg Heil. rsrsrs

Höss reviu os números por ordem dos seus captores porque os primeiros números eram completamente surrealistas.

Aqui neste blog gostamos de fontes, e provavelmente você deve ter as fontes para a sandice que expôs ridiculamente aos milhares de leitores deste blog.

Roberto Muehlenkamp disse...

Höss reviu os números por ordem dos seus captores porque os primeiros números eram completamente surrealistas.Deve ter sido por considerarem os primeiros números completamente surrealistas que os polacos continuaram a afirma-los no julgamento de Höss e na respectiva sentença, bem como em publicações sobre o tema e no discurso político até ao fim do regime comunista. Até mandaram colocar uma placa com esses números que consideravam completamente surrealistas.

Diogo disse...

Boa questão Roberto,

Mas, então, porque é que Höss reviu os números, que foram publicados, e os polacos mantiveram as placas?

Há aqui mentirosos em qualquer lado.

Roberto Muehlenkamp disse...

Mas, então, porque é que Höss reviu os números, que foram publicados, e os polacos mantiveram as placas?

Há aqui mentirosos em qualquer lado.
Não necessariamente. Os polacos podem simplesmente ter achado que Höss estava tentando diminuir o tamanho do seu crime.

A razão que impeliu Höss a rever o número de vítimas de Auschwitz-Birkenau não se sabe, mas o facto é que o número revisto é realista.

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