A política do esquecimento está a ter consequências assustadoras
Sarkozy |
Hoje, preferimos ignorar que boa parte da Europa era anti-semita e que o nazismo não foi obra de “um louco isolado”. A invasão da Noruega foi muito fácil e os noruegueses não precisaram da ocupação alemã para criarem um estado nazi: eles próprios meteram mãos à obra e o ocupante não precisou de enviar um grande contingente. Mesmo na Inglaterra combatente, o sentimento anti-semita era enorme. As sondagens da época (as avaliações do “Mass Observation”) revelam um povo ferozmente anti-judeu. Quando uma parte do governo inglês (Chamberlain e outros) defendia a contemporização com Hitler, sabia que não estava a ir muito contra a vontade popular. É horrível, mas aconteceu.
O esforço de catarse foi notável durante 40 anos, ao ponto de nos discursos oficiais os dirigentes europeus recorrerem muitas vezes a uma espécie de “superioridade moral” da civilização europeia, como se ela existisse ou tivesse sido notória há 50 anos. É um mito reconfortante, mas falso, como grande parte dos mitos. Os pais fundadores da Europa tinham vivido a Segunda Guerra e sabiam as responsabilidades da sua ínclita geração – promover a catarse e criar uma situação para que fosse possível fazer poemas depois do Holocausto. Reconheça-se que foram muito bem sucedidos durante décadas. E se a Europa unida não conseguiu evitar a guerra dos Balcãs, cumpriu parcialmente o sonho de Jean Monnet. Nunca mais houve nenhuma guerra que envolvesse as grandes potências.
A geração seguinte sentiu-se desobrigada do imperativo moral. Nicolas Sarkozy nasceu a 28 de Janeiro de 1955, dez anos depois do fim da guerra. Terá muito mais memórias da brincadeira do Maio de 68 que, genuinamente, não foi uma coisa séria, do que da França ocupada. Podia ter estudado, se quisesse. Mas cedeu à voragem do esquecimento, um dos outros vértices da catarse, como bem explica Tony Judt no seu “Pós-Guerra”. Se para continuar foi preciso esquecer até à ignorância, desconhecemos agora onde a ignorância nos vai levar, ou regredir a um ponto inicial.
Quando Sarkozy faz o discurso que faz sobre os imigrantes está a regredir para a história nazi inscrita no tenebroso ADN da Europa. A política do esquecimento (como também se vê na crise do euro) está a ter consequências assustadoras.
Fonte: IOnline (Portugal)
http://www.ionline.pt/opiniao/nascidos-depois-1945
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