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terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Neonazismo - Os Soldados de Odin aterrrorizam a Finlândia

Patrulhas urbanas neonazis vigiam as ruas ante a onda de refugiados.

Membros do grupo neonazi "Soldados de Odin",
durante uma manifestação em Joensuu (Finlândia)
no passado 8 de janeiro. Reuters
Há um ano, nada é igual em Kemi, uma pequena cidade da Lapônia finlandesa com apenas 20.000 habitantes. A avalanche de refugiados que chegaram através da fronteira com a Suécia transbordou as autoridades locais e aumentou a inquietação entre os vizinhos. Um mal-estar que alentado o nascimento dos "Soldados de Odin", uma patrulha urbana de jovens neonazis que pretende proteger os finlandeses dos "intrusos islâmicos", os quais lhes culpam pelo aumento da criminalidade e da insegurança no país nórdico. A imagem do movimento alemão Pegida (Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente), descrevem-se como "uma organização patriótica que luta por uma Finlândia branca" e em suas manifestações hasteavam faixas com o lema "os refugiados não são bem-vindos".

Com suas jaquetas negras decoradas com uma bandeira finlandesa e um viking nas costas, os Soldados de Odin (o principal deus da mitologia nórdica) converteu-se da noite para o dia numa preocupação de primeira ordem para o governo, que teme enfrentamentos violentos entre radicais e refugiados.

Mika Ranta, o organizador das patrulhas em Kemi, define-se a si mesmo como nacional-socialista (nazi), mas argumenta que os Soldados de Odin são um grupo ao qual pertence "todo tipo de gente". O certo é que os serviços secretos finlandeses vinculam a muitos deles com grupos extremistas. Ainda que digam contar com organização em 23 cidades, a Polícia reduz sua presença a cinco. Em declarações à Imprensa local no outubro passado, Ranta explicou que "despertamos numa situação onde mal viviam diferentes culturas, o que provocou medo e preocupação na comunidade". "O maior problema - acrescenta - foi quando nos inteiramos através do Facebook de que solicitantes de asilo se posicionaram em colégios de primário fazendo fotos de garotas".

Como ocorreu em Colônia e outras cidades alemãs e em Estocolmo, as denúncias de agressões sexuais duplicaram durante o último ano na Finlândia, passando de 75 para 147, se bem que não se conhece a identidade dos autores. De fato, na virada de ano passada, uma "caguetagem" e a hábil atuação policial impediram que se reproduzissem os tristes ocorridos da capital renana.

O clima de inquietação obrigou ao primeiro-ministro finlandês, o centrista Juha Sipila, a assegurar que o Governo não permitisse que essas patrulhas neonazistas suplantem as Forças de Segurança nas ruas. "A polícia é a responsável da lei e da ordem no país. As patrulhas civis não podem assumir a autoridade da Polícia", assegurou na televisão pública YLE. Na mesma linha, o ministro do Interior, o conservador Petteri Orpo, insistiu de que os Soldados de Odin "não fortalecem a segurança, senão que, pelo contrário, reforçam o estado de ânimo hostil". "Este tipo de patrulhas têm claramente uns atributos racistas e xenófobos e sua ação não melhora a segurança. Agora a Polícia deve utilizar seus escassos recursos ao seguimento de sua ação", lamentou Orpi. O ministro quis desautorizar assim o chefe da Polícia Nacional, Seppo Kolehmainen, que previamente havia sugerido que os Soldados de Odin poderiam ser úteis para alertar os agentes de possíveis delitos.

A contundência da tripartite de direitas que governa a Finlândia desde maio não é tão unânime como se poderia pensar. Enquanto que o ministro das Finanças e líder conservador, Alexander Stubb, aposta claramente pela ilegalização de "todas as patrulhas de rua racistas", os populistas "Verdadeiros Finlandeses" defendem a liberdade dos cidadãos para se organizar. Assim, o ministro da Justiça, Jari Lindström, assegura que "o fato de que detrás desse movimento se encontram pessoas que cometeram delitos e cumpriram penas de prisão certamente desperta interesse, mas o grande problema é que os cidadãos sentem que falta segurança". Contudo, a classe política, não oculta que a possível ilegalização do movimento poderia ser um beco sem saída se torna vulnerável os princípios constitucionais.

O Partido dos Finlandeses, antes conhecido como "Verdadeiros Finlandeses", recorre a esta equidistância para frear a queda de intenção de votos que lhes concedem as sondagens para entrar no Governo. Sua marca, entretanto, foi feita sentir nesses meses com o endurecimento das leis de imigração. Os refugiados maiores de idade, por exemplo, são obrigados a trabalhar para sufragar os custos de sua estada no país nórdico. Finlândia, como o resto dos países europeus, viu-se superada pela onda de imigrantes procedentes do Oriente Médio e África. Durante o ano passado, recebeu 32.500 solicitações de asilo frente a 4.000 em 2014, o que a situa como o quarto país da UE que mais refugiados recebeu em relação à sua população. Depois de três anos de recessão, o país nórdico, que conta com uma população imigrante substancialmente baixa que a de seus vizinhos nórdicos (6% frente a 15% da Suécia), afronta um duro reto para a integração de asilados.

Com Facebook como plataforma, a sociedade civil tem respondido a ameaças extremistas dos Soldados de Odin com as "Irmãs de Kyllikki", que faz referência a um personagem do poema épico "Kalevala". "Nosso objetivo é ajudar a pessoas e construir um diálogo com todos os finlandeses e também com os imigrantes", assegura uma das fundadoras do grupo, Niina Ruuska. Seria revelador saber se Odin, deus da guerra, mas também da sabedoria, que segundo a lenda pode ver todo desde seu trono em Asgard, está satisfeito com a usurpação de seu nome por uns poucos.

14 de janeiro de 2016. 03:54h Pedro. G. Poyatos.
Colônia Dinamarca Distúrbios Sociedade

Fonte: La Razón (Espanha)
http://www.larazon.es/internacional/los-soldados-de-odin-aterrorizan-finlandia-IO11681889
Título original: Los Soldados de Odín aterrorizan Finlandia
Tradução: Roberto Lucena
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Observações em um post extra (link será colocado aqui). Observação sobre a "confusão" entre os termos refugiados e imigrantes.

A quem se virar com o espanhol (idioma), vale a pena também ler esta matéria do El Mundo sobre o problema. É até mais completa que a matéria traduzida acima (mais extensa, por isso não deu pra traduzir, mas fica a sugestão):
'Soldados de Odín' para velar por Escandinavia (El Mundo)
http://www.elmundo.es/internacional/2016/01/28/56a90f3e268e3e79498b46e4.html

segunda-feira, 14 de abril de 2014

O Bund norte-americano. O fracasso do nazismo norte-americano (a quinta coluna)

O Bund (União) Norte-americano. O fracasso do nazismo norte-americano: a tentativa do Bund teuto-norte-americano de criar uma quinta coluna" estadunidense

Por Jim Bredemus

Muitos norte-americanos temiam a presença de uma "Quinta Colina" alemã antes da Segunda Guerra Mundial. No caso do desorganizado e mal conduzido Bund norte-americano, mas a maioria desses medos acabaram por se mostrar injustificados.

Após a ascensão de Hitler ao poder em 1933, alguns norte-americanos descendentes de alemães formaram grupos de apoio ao partido nazista na Alemanha, na tentativa de influenciar a política norte-americana. O mais famoso desses grupos foi o "Bund teuto-norte-americano", que tentou se modelar como um braço norte-americano do Terceiro Reich de Hitler. Embora estes grupos usassem uniformes e ostentassem suásticas, na realidade, eles tinham poucos laços com a Alemanha nazista e o apoio recebido entre a grande comunidade teuto-norte-americana foi mínimo. No entanto, o grupo promoveu fortemente o ódio aos judeus e se esforçou para trazer o fascismo de estilo nazista para os Estados Unidos.

O suporte inicial para as organizações fascistas norte-americanos veio da Alemanha. Em maio de 1933 o Vice-Führer nazista Rudolf Hess deu autoridade ao imigrante alemão Heinz Spanknobel para criar uma organização nazista norte-americana. Pouco tempo depois, os "Friends of New Germany" (Amigos da Nova Alemanha) foi criada com a ajuda do cônsul alemão em Nova York. A organização tinha sede em Nova York, mas teve uma forte presença em Chicago.

A organização liderada por Spanknobel era abertamente pró-nazista, e engajada em atividades como atacar o jornal em idioma alemão New Yorker Staats-Zeitung com a demanda de que artigos simpáticos aos nazistas fossem publicados, e também na infiltração de outras organizações teuto-norte-americanas não-políticas. Spanknobel foi deposto como líder e posteriormente deportado em outubro de 1933, quando se descobriu que ele não tinha conseguido se registrar como um agente estrangeiro.

(Foto) Supostamente 22.000 apoiadores nazistas participaram de um comício do Bund norte-americano no Madison Square Garden, em Nova York, em fevereiro de 1939, sob a guarda da polícia. Manifestantes protestaram em frente (acima, à direita). Um desfile do Bund norte-americano pelo distrito de Yorkville, em Nova York, no Upper East Side de Manhattan (abaixo) atraiu ambos, os partidários e os manifestantes - e a imprensa.

A organização existiu em meados dos anos de 1930, embora sempre se manteve pequena, com uma adesão entre 5.000-10.000. Principalmente os cidadãos alemães vivendo nos EUA e emigrantes alemães que só recentemente haviam se tornado cidadãos compunham suas fileiras. A própria organização ocupava-se com ataques verbais contra judeus, comunistas e ao Tratado de Versalhes. Até 1935, a organização foi abertamente apoiada pelo Terceiro Reich, embora as autoridades nazistas logo perceberam que a organização estava fazendo mais mal do que bem a imagem dos nazistas nos Estados Unidos e em dezembro de 1935 Hess ordenou que todos os cidadãos alemães deixassem a "Friends of New Germany" (Amigos da Nova Alemanha); além disso, todos os líderes do grupo foram chamados para a Alemanha.

Não muito tempo depois dos "Friends of New Germany" (Amigos da Nova Alemanha) caírem em desgraçado por conta dos nazis e ser desmontada, uma nova organização com objetivos semelhantes surgiu no seu lugar. Formada em março de 1936 em Buffalo/Nova York e se autodenominando "German-American Bund" (Bund teuto-norte-americano) ou Amerikadeutscher Volksbund, esta organização escolheu Fritz Kuhn como seu Bundesleiter.

Como nativo de Munique, Kuhn lutou no exército alemão durante a Primeira Guerra Mundial. Depois de receber uma educação em engenharia química, Kuhn brevemente trabalhou no México antes de vir para os Estados Unidos e, em 1934, adquiriu a cidadania norte-americana. Kuhn foi inicialmente eficaz como líder e foi capaz de unir a organização e expandir seus membros.

Kuhn era a figura perfeita para a organização. A fachada de suásticas e "Sieg Heil" prevaleceu, mas na realidade Kuhn viria a se tornar visto simplesmente como um vigarista incompetente e mentiroso que dominava pobremente o inglês; até mesmo os nazistas tinham vergonha dele. O embaixador alemão Hans Dieckhoff o chamou de "estúpido, barulhento e grotesco".

A organização foi logo preenchida com aqueles que se autodenominaram de "Germans in America" (Alemães nos EUA) e sonhavam com o dia que o nazismo governasse os Estados Unidos. Apesar de terem sido instruídos a não aceitar cidadãos alemães em sua organização, eles não quiseram desligar todos os interessados e muitos imigrantes que haviam entrado. Estima-se que cerca de 25% dos membros do Bund eram cidadãos alemães - o restante era em sua maioria descendentes de primeira ou segunda geração de alemães. A pesquisa indica que a maioria dos membros do Bund eram de origem de classe média-baixa.

O Bund logo começou a realizar comícios cheios de suásticas, saudações nazistas e o canto de canções alemãs. O Bund criou acampamentos recreativos como o Campo Siegfried, em Nova York e em Camp Nordland, Nova Jersey. Também estabeleceu o acampamento Hindenburg em Wisconsin e o grupo reunia-se com frequência em Milwaukee e em cervejarias de Chicago.

O Bund criou uma versão norte-americana da Juventude Hitlerista em que crianças são educadas na língua alemã, com história alemã e filosofia nazista. Embora esta organização tentou se diferenciar da previamente vencida "Friends of New Germany" (Amigos da Nova Alemanha), o Ministério das Relações Exteriores alemão comentou que "Na realidade ... eles são as mesmas pessoas, com os mesmos princípios e a mesma aparência".

A organização impetuosamente promoveu o mesmo antissemitismo do Terceiro Reich: ele distribuiu panfletos "arianos" do lado de fora dos estabelecimentos de propriedade de judeus e fazendo uma campanha na eleição presidencial de 1936 contra Franklin Delano Roosevelt, que era acusado por eles de ser parte da "conspiração" judeu-bolchevique. O Bund mesmo gerou vários incidentes de violência contra judeus-americanos e empresas de propriedade de judeus. Numa pesquisa de opinião feita no final dos anos de 1930 rotulavam Fritz Kuhn como o líder antissemita nos EUA.

Em 1936, Kuhn e alguns de seus seguidores viajaram à Berlim para participar dos Jogos Olímpicos de Verão de 1936. Durante sua visita, Kuhn foi convidado para ir à chancelaria do Reich e ter sua foto tirada com o Führer. Isso dificilmente significava um endosso de Hitler, que fez muitas fotos cerimoniais no espírito dos Jogos Olímpicos, mas para Kuhn isto simbolizou seu batismo como Bundesführer dos Estados Unidos.

O Bund começou a atrair a atenção do governo federal no verão de 1937, com os rumores de que Kuhn tinha 200.000 homens prontos a pegar em armas. Durante este verão uma investigação do FBI sobre esta organização foi realizada, mas nenhuma evidência de irregularidade foi encontrada. Mais tarde, em 1938, Martin Dies, do Comitê de Atividades Antiamericanas da Câmara descontroladamente proclamou que Kuhn tinha 480.000 seguidores. Registros mais precisos mostram que no auge do seu poder, em 1938, Kuhn tinha apenas 8.500 membros e outros 5.000 "simpatizantes".

Foi neste momento que o embaixador alemão para os Estados Unidos Hans Heinrich Dieckhoff começou a expressar sua desaprovação e as preocupações com o Bund. Dieckhoff escreveu aos funcionários em Berlim que o Bund nunca teria sucesso nos EUA porque nenhuma "minoria" alemã existia nos EUA no sentido europeu. Ele escreveu que a maioria dos movimentos de imigrantes nos Estados Unidos foram muito reprovados e que a organização estava apenas criando sentimentos anti-alemães entre os norte-americanos.

O ceticismo de Dieckhoff foi bem justificado. Muitos norte-americanos alemães eram indiferentes em relação à política e pesquisas feitas na época mostraram que alemães norte-americanos não eram muito mais simpáticos à Alemanha nazista do que os norte-americanos tradicionais. A maioria dos norte-americanos, incluindo a maioria dos norte-americanos alemães, viam Kuhn e o Bund como apoiadores da presença nazista sob comando de Hitler, quando de fato isto eram apenas percepções complicadas de Kuhn.

Embora tenha havido algum contato oficial entre os funcionários do Bund e os nazistas, para a maior parte do governo nazista era desinteressado na organização e não deu à organização nenhum apoio financeiro ou verbal. A maioria dos funcionários do Terceiro Reich desconfiavam de Kuhn e do Bund, e o próprio Adolf Hitler expressou seu descontentamento quando soube da organização. Em 1 de Março de 1938, o governo nazista - em parte para apaziguar os EUA, e em parte para se distanciar de um embaraçosa organização - firmemente declarou mais uma vez que nenhum cidadão alemão pode ser membro do Bund e, ainda, que nenhum emblema e símbolos nazistas poderiam ser utilizados pela organização.

Em março de 1938, Kuhn viajou à Berlim para recorrer da decisão que havia sido tomada. Ele se reuniu com o assessor de Hitler, o Capitão Wiedemann, que simplesmente disse a Kuhn que a decisão era final. Apesar de sua rejeição, Kuhn retornou para se gabar aos norte-americanos de suas reuniões com Goering e Goebbels e os laços que ele tinha feito com Hitler. Tudo isto eram fabricações (mentiras).

Em fevereiro de 1939, Kuhn e o Bund realizaram seu maior comício no Madison Square Garden - ironicamente, o comício que marcou o começo do fim da organização. Para uma multidão de 22.000 pessoas, ladeado por um retrato enorme de George Washington, suásticas e bandeiras norte-americanos, Kuhn atacou FDR por ser parte de uma conspiração judaico-bolchevique, chamando-o de "Frank D. Rosenfeld" e criticando o New Deal, que Kuhn havia considerado como o "The Jew Deal" (literalmente "O Trato Judeu"). Três mil membros da Ordnungsdienst, o braço militante do Bund, estavam preparados e brigas eclodiram no meio da multidão entre aqueles que haviam vindo para importunar Kuhn.

Após o comício, o Procurador do Distrito de Nova York, Thomas Dewey, prendeu Kuhn sob a acusação de apropriação indébita e falsificação. Ele não só foi condenado por essas acusações, mas ele também confessou ter sido preso várias vezes por embriaguez, envolvimento em casos extraconjugais e de ter embolsando 15.000 dólares do rali no Madison Square Garden. Após a guerra, Kuhn foi deportado para a Alemanha; ele morreu ali sem a menor cerimônia em 1951.

Após a prisão de Kuhn, o Bund lentamente secou, até sua dissolução em 8 de dezembro de 1941, após o ataque a Pearl Harbor. Depois que os Estados Unidos declararam guerra à Alemanha, as autoridades federais começaram a prender funcionários do Bund. O sucessor de Kuhn Gerhard Kunze foi capturado no México e condenado a 15 anos de prisão por "atividades subversivas". Vinte e quatro outros oficiais foram condenados por conspiração por violar a Lei de Serviço Seletivo de 1940 e cumpriram pena na prisão. Alguns outros líderes do Bund cometeram suicídio antes que o FBI apanhasse eles. Embora alguns membros do Bund tenham tido sua naturalização revogada e alguns passaram um tempo em campos de prisioneiros, a maioria dos membros foram deixados em paz depois da organização ser dissolvida.

No final, o Bund de imigrantes alemães teve pouco poder, e com frequência fizeram com que norte-americanos médios se tornassem menos simpáticos com a Alemanha, como as visões extremistas antissemitas e pró-nazistas do Bund não circulavam bem entre o público norte-americano. Mesmo a Alemanha nazista percebeu isso e tentou distanciar-se do Bund. Apesar de todas as marchas, suásticas e comícios encenados pelo Bund, o prefeito LaGuardia de Nova York adequadamente descreveu isso como sendo simplesmente "uma agitação".

Fontes:

1. Bell, Leland. “The Failure of Nazism in America”. Political Science Quarterly. Vol 85(4). Dec. 1970, pág. 585.
2. MacDonnell, Francis. Insidious Foes: The Axis Fifth Column and the American Home Front. Oxford University Press, New York: 1995.
3. Remak, Joachim. “Friends of the New Germany: The Bund and German-American Relations”. Journal of Modern History. Vol 29(1). Mar. 1957, p. 38.
4. Smith, Gene. “Bundesfuehrer Kuhn”. American Heritage. Vol 46(5). Sep. 1995, p. 102.

Fonte: Texto do site traces.org
http://www.traces.org/americanbund.html
Título original: American Bund. The Failure of American Nazism: The German-American Bund’s Attempt to Create an American “Fifth Colum
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 21 de maio de 2013

Dominique Venner - Ensaísta francês de extrema-direita mata-se na Notre-Dame de Paris

Ensaísta francês de extrema-direita mata-se na Notre-Dame de Paris
AFP e PÚBLICO. 21/05/2013 - 18:05. (atualizado às 23:15)

Dominique Venner tinha 78 anos. Justificou o suicídio com a necessidade de "despertar as consciências adormecidas", mostrando-se contra a imigração.

A catedral de Notre-Dame foi esvaziada pela polícia PATRICK KOVARIK/AFP

Europa. França

O ensaísta e historiador de extrema-direita Dominique Venner, antigo membro da Organização Secreta Armada, matou-se na tarde desta terça-feira na catedral de Notre-Dame, em Paris.

De acordo com os media franceses, Venner, que tinha 78 anos, entrou na igreja, colocou-se atrás do altar e disparou um tiro na boca. Eram 16h. A catedral, uma das principais atracções turisticas da cidade, foi esvaziada e a polícia entrou para encontrar uma carta junto ao corpo.

Mais tarde, um outro ativista de extrema-direita leu numa rádio francesa uma mensagem deixada por Venner: "Sinto o dever de agir, enquanto ainda tenho força. Creio ser necessário sacrificar-me para quebrar a letargia que nos oprime. Escolhi um lugar altamente simbólico, que respeito e admiro. O meu gesto encarna uma vontade ética. Dou-me à morte para despertar as consciências adormecidas. Embora defenda a identidade de todos os povos em casa deles, insurjo-me contra o crime que visa substituir os nossas populações".

Esta manifestação anti-imigração já tinha também ficado evidente no blogue de Dominique Venner. No seu último post, publicado nesta terça-feira, escreveu um texto chamado "A manif de 26 de Março e Heidegger" em que diz que "os manifestantes [contra o casamento homossexual em França] têm razão em apregoar a sua impaciência . "A grande substituição da população da França e da Europa, como denunciou o escritor Renaud Camus, é um perigo verdadeiramente catastrófico para o futuro".

O texto diz que a França corre o risco de "cair nas mãos dos islamistas" e acusa todos os partidos à excepção da Frente Nacional (extrema-direita) de serem responsáveis por isso. "Desde há 40 anos que os políticos e os governos de todos os partidos (menos da Frente Nacional), com o patrocinio da Igreja, trabalharam activamente nesse sentido, acelerando por todos os meios a imigração afro-magrebina".

"São certamente precisos gestos novos, espectaculares e simbólicos, para agitar as sonolências, sacudir as consciências anestesiadas e reavivar na memória as nossas origens", escreveu o ensaísta.

Inicialmente, o suicídio de Venner foi associado a um protesto contra o casamento gay, mas o editor do ensaísta, Pierre-Guillaume de Roux, questionou imediatamente essa ligação: "Não acredito que o seu suicídio possa ser ligado ao casamento gay, isto vai muito mais além", disse à AFP Roux, acrescentando ter falado com o ensaísta por telefone na segunda-feira à noite para discutir a próxima obra deste, prevista para sair em Junho. Na sua opinião, o suicídio na Nôtre-Dame revela "uma essência simbólica extremamente forte que o aproxima a Mishima". A referência é ao escritor japonês Yukio Mishima, ligado à extrema-direita e ao movimento nacionalista nipónico, que se suicidou em 1970.

Venner foi paraquedista na guerra com a Argélia e, em 1962, escreveu o ensaio Pour une critique positive, que, segundo o Libération, foi importante para uma parte da extrema-direita, ao expor o que chamava de necessidade de refundação intelectual após o fim da guerra.

Pouco conhecido do grande público em França, mas muito respeitado na extrema-direita, o ensaísta foi autor de várias obras sobre a história (política e militar), armas de fogo e caça, destaca o Le Monde, acrescentando que Venner chegou a ser sondado para liderar a Frente Nacional, logo a após a sua criação, em 1972, posto que seria ocupado por Jean-Marie Le Pen.

Marine Le Pen, filha de Jean-Marie e actual dirigente da Frente Nacional, já reagiu no Twitter, qualificando este suicídio como "um gesto, eminentemente político, que deve ter tido o objectivo de despertar o povo francês".

Fonte: Público (Portugal)
http://www.publico.pt/mundo/noticia/ensaista-frances-de-extremadireita-matase-na-notredame-de-paris-1595084

Ver mais:
Dominique Venner, le père de l’extrême droite moderne, s’est suicidé (Droites Extremes, Le Monde, França)
Man kills himself inside Notre-Dame cathedral in Paris (BBC)
Far-right French historian, 78-year-old Dominique Venner, commits suicide in Notre Dame in protest against gay marriage (The Independent, Reino Unido)
Notre Dame Cathedral suicide by French writer Dominique Venner a 'gay marriage protest' (news.com.au, Austrália)

quarta-feira, 11 de julho de 2012

O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939 - parte 03

As igrejas alemãs ante Hitler

A igreja alemã na Argentina, Brasil e Chile, junto com as escolas, foi um foco de vida e cultura nas comunidades alemãs. Como na velha pátria, dois terços dos alemães praticavam o protestantismo e um terço o catolicismo. Os sacerdotes católicos estavam subordinados ao bispado local, independentes da igreja do Reich. Mas ao contrário, os pastores luteranos estavam incorporados às igrejas alemãs, e muitos deles foram enviados da Alemanha. Com a alienação da igreja luterana ao Terceiro Reich, as paróquias se subordinaram à central alemã, cujo representante na América Latina foi o Primeiro Pastor Marczynski, em Buenos Aires [58]. Existiam vários sínodos, entre eles o sínodo do Chile com 8 pastores, o de La Plata com 20 pastores, e 3 sínodos no Brasil com 145 pastores no total. Além disso havia comunidades eclesiásticas independentes, como os batistas, e também o sínodo luterano do Missouri (EUA).

Não só se pode falar de uma alienação das igrejas luteranas no Chile, sendo que é necessário explicar que os pastores de fato desempenharam um papel ativo nela. Estes predicaron contra a crítica antinazi na cátedra com argumentos quase religiosos, e elogiaram a reorganização da vida social e nacional da Alemanha [59]. Seis dos oito pastores do sínodo cheleno eram membros do partido; por outro lado, o NSDAP participou das celebrações da igreja luterana com uniforme e bandeiras com suástica [60].

A alienação das igrejas alemãs na Argentina se desenvolveu da mesma maneira que no Chile [61], ainda que os pastores solían ser mais reservados em suas prédicas que seus colegas chilenos. Somente uns poucos foram membros do NSDAP [62], e só depois das pressões da igreja central em Berlim estes se mostraram dispostos a içar a bandeira nazi nos dias festivos [63].

Também no Brasil teve lugar uma alienação organizacional. O partido usou a ajuda financeira do Reich para eliminar pastores politicamente inseguros [64]. Existia, além disso, uma organiazação dos pastores nacional-socialistas que queriam introduzir um fundamento ideologico nazi na igreja alemã do Brasil [65]. Seus críticos recorriam à consabida argumentação segundo a qual surgiriam dificuldades com o governo brasileiro se a igreja estabelecesse vínculos demasiados estreitos com o NSDAP [66].

No começo, os católicos alemães na América Latina saudaram o governo de Hitler. Em fins de 1935, sobretudo depois das perseguições de curas na Alemanha, tomaram uma posição mais crítica frente ao Terceiro Reich. A primeira publicação católica em língua alemã que rechaçou o racismo, o antissemitismo e as agressões políticas e militares do Terceiro Reich foi o Deutscher Sonntagsbote no Chile. No Brasil, o Deutsches Volksblatt seguiu o exemplo do Sonntagsbote a partir de 1938 e não deixou lugar a dúvidas quanto a sua posição antinazi [67].

As associações alemãs e o nazismo

Apesar de que o NSDAP havia assegurado mais de uma vez que não queria conquistar para si a direção das associações, sua política deixou claro que esse era precisamente seu objetivo, o qual provocou diversos conflitos por cargos influentes e de prestígio [68]. O partido no Chile conseguiu concentrar as distintas associações em um 'comitê de colônia', dominado por ele [69]. Sem que isto supusesse ainda a dependência das diferentes associações do NSDAP> Por isso o partido tratou de obter a maioria nas instituições, ordenando a seus membros que se incorporassem a estas [70]. Normalmente o NSDAP não se via obrigado a usar esses métodos. Na maioria dos casos, as associações se alienavam por si mesmas [71]. O partido solicitou as associações que participaram nas festividades nazis e que oferessiam conferência sobre o nacional-socialismo, esperando, assim, difundir a ideologia nazi entre os chilenos de origem alemã.

Na Argentina, a maioria das associações aceitou a ideologia nacional-socialista sem que tivesse que exercer pressões visíveis. Em princípios de 1935, o NSDAP em Buenos Aires organizou protestos contra a obra do teatro antinazista As Raças (Las Razas), de Ferdinand Bruckner. O jornal La Plata Post informou que mais de "160 associações e comunidades alemães" haviam apoiado os protestos [72]. Inclusive o Argentinisches Tageblatt se viu forçado a reconhecer o sucesso absoluto do NSDAP [73]. Só um pequeno número de associações, menos de 10, conseguiram manter sua independência.

Diferentemente do Chile e Argentina, a maioria dos alemães no Brasil viviam dispersos, preferentemente em regiões rurais do sul do país. Este fato complicou consideravelmente o processo de alienação. Muitas associações não estavam ligadas à Alemanha. Enquanto que o NSDAP tinha sucesso em grandes cidades, muitas vezes lhe parecia que as colônias alemães mais isoladas do sul as declarações de lealdade da nova Alemanha cumpriam um falso ritual [74]. Alguns intentos de manipular as eleições de juntas diretivas através do ingresso massivo de membros do NSDAP terminaram em derrota [75]. Os esforços em afiliar várias associações às centrais na Alemanha fracassaram, já que aquelas não queriam se alienar totalmente com a central na Alemanha; para muitos brasileiros de descendência alemã, estes intentos pareciam uma "traição à pátria brasileira" [76].

Conclusões

Antes de 1933, os grupos do NSDAP na América Latina atuaram de acordo com uma tática política inapropriada frente às comunidades alemães, as quais resistiam a que traslandassem para a América Latina as duras lutas políticas da República de Weimar, porque isto ameaçaria a pretendida unidade dos alemães. O Chile foi o único país onde o partido foi aceito, devido a sua hábio e cautelosa propaganda.

Até o ano de 1937, o partido conseguiu alinhar a maioria das instituições alemães na Argentina, Brasil e Chile. Além das associações principais, o NSDAP preocupou-se com as escolas, porque lhe parecia importantes para a instrução ideológica. Neste campo, a alienação conseguida foi quase completa, pois a maioria destas instituições dependia da ajuda pecuniária e de pessoal docente do Reich. Somente em Buenos Aires se fundou uma escola que não aceitava o ensino nazista. No Brasil fracassou o intento de influir diretamente nas escolas, e não por rechaço da ideologia e política nazi, senão pela necessidade de aclamar as tendências nacionalistas das autoridades brasileiras [77].

A igreja alemã havia influído sempre no pensamento das comunidades, sobretudo nas regiões rurais. Os pastores luteranos, pertencentes à central na Alemanha não se limitaram à condução espiritual, senão que, desde o púlpito, justificaram e glorificaram a ideologia e política do Terceiro Reich. Por outro lado, a Igreja Católica não se pôs a serviço do nacional-socialismo, ainda que tenha saudado a renovação da Alemanha, nunca adotou ou propago a ideologia nazi [78]. Em meados dos anos trinta, a igreja católica alemã no Brasil começou a se distanciar de forma crescente do nazismo e se uniu aos poucos críticos dentro das comunidades alemães.

Ao alinhar as inumeráveis associações, o NSDAP teve grande sucesso no Chile, enquanto que na Argentina e no Brasil não foi capaz de organizar a comunidade alemã no mesmo nível, apesar de que contava com a benevolência das associações. A disposição cultural e ideológica da população alemã na América Latina facilitou a penetração nazista: todavia se sentiam parte do povo alemão por questões culturais, 'raciais' e de língua, o que havia provocado seu isolamento da população de origem hispânica e portuguesa. Em um terreno fértil como esse, a ideologia nazi podia prosperar. A ideia de manter puro o sangue alemão, que existia desde muito tempo, manifestou-se - por exemplo no Chile e no Brasil - em numerosas exigências de não se casar com não-alemães. O nacional-socialismo fez uso deste pensamento endogámico e o converteu em uma finalidade em si.

O antissemitismo nazi foi aceito até certo ponto, menos em um sentido estritamente 'racial', que como um 'argumento político' que se podia usar contra as supostas intenções dos judeus de 'dominar o mundo'. Em meados dos anos trinta, esta propaganda nazista tornou possível a colaboração dos nazis alemães com grupos de extrema-direita na América Latina contra a imigração de judeus para Argentina, Brasil e Chile [79].

Até meador dos trinta, as manifestações do NSDAP, sua atuação e seu desempenho político nos países referidos não eram de interesse das autoridades nacionais, nem equer quando a influência nazi se extendia aos chilenos, argentinos e brasileiros de origem alemã. No Chile, o governo de Alessandri mantinha as tradicionais boas relações com a Alemanha. O NSDAP podia atuar sem restrições das autoridades chilenas. Somente havia conflitos com a DJC, que francamente pretendia impedir a assimilação da juventude de origem alemã na pátria chilena [80]. Com o aumento do Movimento Nacional-Socialista do Chile (MNS) em meados dos anos trinta, despertou-se a suspeita de que este recebia ajuda do Terceiro Reich, o qual nunca se pode comprovar [81]. Nem sequer a ascensão ao poder da Frente Popular piorou as relações com a Alemanha, pois, entre seus dirigentes, havia velhos amigos desse país, como Carlos Ibáñez del Campo.

Também na Argentina houve uma certa indiferença quanto à atuação do NSDAP. A partir de 1934 o Terceiro Reich desenvolveu um intercâmbio comercial intensivo, tomando dos EUA do segundo lugar na balança comercial argentina. Contrariamente, grupos democráticos e de esquerda argentinos começaram a criticar as atividades do NSDAP. A Câmara de Deputados constituiu diversas 'comissões investigadoras das atividades antiargentinas'. A polícia vigiava o partido desde 1937 [82] e, apesar de uma comissão ter absolvido o partido do cargo de que a Alemanha tentou anexar o sul do país, o NSDAP teve que se dissolver em 1939 [83].

Ainda que o Brasil tivesse o mesmo interesse em manter boas relações econômicas, sua política frente a atuação do NSDAP foi mais restritiva. Devido à política de unidade nacional brasileira iniciada em 1930, a independência cultural dos brasileiros de origem estrangeira foi reprimida quase que por completo, e por conseguinte também o trabalho do NSDAP. O governo limitou as atividades das associações e exigiu uma adesão manifesta à pátria brasileira [84].

Com a proibição do partido no Brasil, em abril de 1938, mudaram também as condições na Argentina e no Chile. Os membros do NSDAP deviam se retirar das direções das instituições alemãs, e suas ações foram vigiadas pelas autoridades.

Ao começar a Segunda Guerra Mundial, os alemães se solidarizaram com o Terceiro Reich. Publicaram jornais em espanhol e português em defesa da propaganda hostil e buscaram a colaboração com grupos de direita, sobretudo militares da reserva e da ativa que conheciam e admiravam o sistema militar alemão [85]. Com a entrada na guerra dos Estados Unidos, e pouco depois do Brasil, a situação piorou. Os Aliados exigiram ações contra a chamada 'Quinta Coluna', quer dizer, uma vigilância mais forte dos alemães em geral. O NSDAP no Chile se dissolveu em fevereiro de 1942 e, em início de 1943 o Chile rompeu relações diplomáticas com a Alemanha.

Com o golpe de estado em 1943, a situação dos alemães na Argentina melhorou. Contugo, a Argentina teve de romper relações com o Terceiro Reich em janeiro de 1944 devido a pressões norte-americanas e britâncias.

Só um punhado de instituições alemãs sobreviveu ao fim da guerra sem maior dano. O NSDAP e seu Führer - que havia pretendido dominar a tudo e a todos - desacreditaram o nome alemão de tal modo que nunca mais se podia reestabelecer uma vida comum, social e cultural tão variada como a que havia existido durante mais de um século. Mas tampouco se pode absolver os alemães da Argentina, Brasil e Chile - tanto cúmplices como vítimas do sistema hitlerista - de uma certa culpa em seu próprio destino.

NOTAS

[58] Marczynski entrou no partido em maio de 1934. US War Department 1946, Nazi Party Membership Records Argentina.

[59] Der Missionsbote, 9/33, p. 12, 10/33, p. 6; Deutsch- Evangelisch in Chile, 3/34, p. 42, 3/37, pp. 39 e ss.

[60] WestkÜsten-Beobachter, 5.9.35, pp. 72 y ss.; Deutsche Monatshefte für Chile, 10/36, p. 1489.

[61] Evangelisches Gemeindeblatt, 15.5.34, p. 115, 1.10.34, p. 235.

[62] US War Department 1946, Nazi Party Membership Records Argentina; trata-se de seis dos vinte pastores do sínodo.

[63] MRE, Actas de la embajada alemana en Buenos Aires, punto 24, Flaggenfragen, embajada alemana en Buenos Aires al MRE, 4.12.35; ídem., Marczynski, Reglas para embanderar las iglesias de las parroquias protestantes en Argentina, 30.3.36.

[64] Evangelisches Zentralarchiv, Berlin (archivoquivo central da igreja protestante, daqui em diante EZA), 5/2487, direção da AO a Kirchliches Au6enamt, 22.9.37.

[65] Idem., 5/2264, Relatório sobre a situação atual do sínodo riograndense alemão, 9/34; Deutsche Evangelische BlÜtter für Brasilien, 3-5/34, p. 53; Hans-JÜrgen Prien, "Die 'Deutsch- Evangelische' Kirche in Brasilien im Spannungsbogen van nationaler Wende (1933) und Kirchenkampf", Jahrbuch für Geschichte von Staat, Wirtschaft und Gesel1schaft Lateinamer- ikas, 25 (1988), pp. 511-534.

[66] EZA, 5/2055, Relatório sobre a conferência dos dirigentes da igreja alemã na América Latina, Santos, 11-14 julio 1935.

[67] Ver Gaudig/Veit, op. cit., pp. 464 e ss.

[68] EZA, 7/2759, Suplemento ao relatório anual da paróquia de Valparaíso, março 1934; idem., 5/2730, Pastor Otto Brien à igreja alemã no Reich, 31.12.33.

[69] MRE, Pol. Abt. III, Legación alemã em Santiago ao MRE, 7.2.35.

[70] Por exemplo, 70 membros do NSDAP ingressaram na Deutscher Verein, a associação mais importante de Santiago. Mitteilungsblatt der NSDAP - Landesgruppe Chile, 31.5.34, p. 23.

[71] Deutsche Zeitung fÜr Chile, 27.4.33, p. 5, 26.5.33, p. 5.

[72] La Plata Post, 10.1.35, pp. 12 e ss.

[73] Argentinisches Tageblatt, 30.1.35, p. 3.

[74] Deutscher Margen, 27.4.32, pp. 9 e ss.; Der Nationalsozialist, 8/33, pp. 8 e ss.

[75] Aktion, 17.7.35, p. 2.

[76] Die Serra-Post, 14.9.37, p. 1; Der Turnerbote, 8/37, p. 3; Alarm, 15.2.37, p. 15.

[77] A este respeito, ver César Augusto de Paiva, Die deutschsprachigen Schulen in Rio Grande do Sul und die Nationalisierungspolitik, Hamburg 1984.

[78] De Curitiba, o consul alemão informou que o Terceiro Reich não podia esperar um trabalho nazista dos padres alemães no Brasil, mas que sempre se podia contar com sua participação nas festividades nacionais e nacional-socialistas. A oposição dos franciscanos ao nazismo não excedia à crítica 'normal' do campo católico. MRE, R 62194, consulado alemão em Curitiba ao MRE, 9.5.35.

[79] Ver Olaf Gaudig/Peter Veit, op. cit., pp. 257 y ss.

[80] No Chile, a DJC foi proibida por três meses na região de Valdivia, em setembro de 1937, por haver feito propaganda política. MRE, Pol IX, Pol Chile 2, consulado alemão em Valdivia à embaixada alemã em Santiago, 15.9.37; idem., 4.12.37.

[81] Ver Olaf Gaudig/Peter Veit, op. cit. (1994).

[82] Em Missões, Argentina, a polícia prendeu no mesmo ano uma casa do partido, porque argentinos de origem alemã haviam participado de reuniões políticas. MRE, R 104923, chefe do ponto de apoio em Eldorado ao chefe do NSDAP, 15.9.37; idem., embaixada alemã em Buenos Aires ao MRE, 13.10.37.

[83] Leslie B. Rout/John F. Bratzel, "Heinrich JÜrges and the Cult of Disinformation", The International History Review, 4 (nov. 1984), pp. 611-623.

[84] No Estado Novo do presidente Getúlio Vargas não havia lugar para partidos políticos. O NSDAP no Brasil foi proibido cinco meses depois de todos os partidos brasileiros. A partir de 1935, no Rio Grande do Sul e mais tarde em Santa Catarina e Paraná, as associações, escolas e publicações alemãs tinham que provar seu 'caráter brasileiro', quer dizer, seus diretores deviam ser cidadãos brasileiros nascidos no país. Nas escolas, o uso do português era obrigatório, e os diários em língua alemã tinham que publicar o editorial no idioma português. Ver Káte Harms-Baltzer, Die Nationalisierung der deutschen Einwanderer und ihrer Nachkommen in Brasilien als Problem der deutsch-brasilianischen Beziehungen 1930-1938, Berlin 1970, pp. 42 e ss.; René Ernaíni Gertz, Politische Auswirkungen der deutschen Einwanderung in SÜdbrasilien. Die Deutschstdmmigen und die Jaschistischen Stdmungen in den 30er Jahren, Berlim 1980, pp. 85 e ss. Em agosto de 1941, a imprensa de língua alemã morreu. O orgão do NSDAP em São Paulo, o Deutscher Morgen - agora sob o título de Aurora Allemd, escrito completamente en português - foi suspenso em dezembro de 1941, o último dos jornais de origem alemã. Ver Olaf Gaudig/Peter Veit, op. cit., p. 396.

[85] Ver, a este respeito, Juergen Schaefer, Deutsche Militdrhilfe an Sildamerika. Militdr - und Rüstungsinteressen in Argentinien, Bolivien und Chile vor 1914, Düsseldorf 1974; Robert A. Potash, The Army and Politics in Argentina 1928-1945. Yrigoyen to Perón, Stanford 1969; Patricio Quiroga Zamora/Carlos Maldonado Prieto, El Prusianismo en las Fuerzas Armadas chilenas. Un estudio histórico 1885-1945, Santiago de Chile 1988.

Fonte: Instituto de História e Cultura de América Latina
Autores: Olaf Gaudig e Peter Veit (Freie Universität Berlin)
http://www.tau.ac.il/eial/VI_2/gaudig_veit.htm
Tradução: Roberto Lucena

Ver Parte 01 e Parte 02.

domingo, 24 de junho de 2012

O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939 - parte 02

O NSDAP e o processo de alienação das comunidades alemãs

A partir de então, a tarefa mais importante do partido foi a total alienação ideológica das comunidades alemãs, sobretudo de suas associações, tal como havia declarado em maio, e mais uma vez em outubro de 1933, o chefe da Organização de Assuntos do Exterior do NSDAP (Auslandsor - ganisation, AO), Bohle [16]. Primeiramente, a AO queria penetrar nas organizações principais, quer dizer, na Liga Chileno-Alemã (Deutsch- Chilenischer Bund, DCB) e na Associação Alemã da Argentina (Deutscher Volksbund für Argentinien, DVfA) [17]. A AO confirmou:

"As escolas alemãs e as paróquias luteranas e católicas são o ponto de partida mais adequado para extender nossa ideologia nacional-socialista. Se pudermos realizar um trabalho cultural neste sentido, isto seria melhor que a simples alienação de associações. A colaboração com estas instituições é o dever absoluto de todos os membros do partido no exterior".

As associações tinham diferentes relações com a Alemanha. Algumas eram sociedades afiliadas, outras cooperavam com as associações principais no Reich, e muitas se mantinham independentes; mas todas elas se sentiam comprometidas com os 'valores alemães tradicionais' do passado. Os grupos do NSDAP no exterior exigiam de seus membros que participassem ativamente na vida dos círculos alemães, o que significava, por último, na infiltração destes. Além disso, muitas associações recebiam ajuda financeira e pessoal do Reich, sobretudo as escolas. A partir de 1933 chegaram à América Latina professores que, basicamente, eram membros do NSDAP.

O NSDAP e as associações principais

O grupo chileno do NSDAP encontrou resistência a princípio quando tratou de instalar um de seus membros como gerente da Deutsch-Chilenischer Bund, DCB. A DCB, a organização de chilenos de origem alemã, argumentou que, desta maneira, estaria tomando uma posição política [19]. Em fins de 1933, depois de outros conflitos, o chefe de propaganda do NSDAP no Chile reclamou por uma atitude clara da DCB e pediu que se adotasse por completo o nacional-socialismo [2]. Pela última vez a DCB rechaçou esta exigência e toda atuação política [21]. Pouco tempo depois, contudo, foi castigada com a eliminação de toda ajuda financeira do Reich, o que lhes obrigou a funcionar então com um grande déficit [22].

A Legación alemã também tentou influir sobre a DCB [23]. A pressão foi tão grande que o diretor da DCB teve que renunciar no início de março de 1935, segundo ele, por "intrigas nazistas" [24]. Depois de outros conflitos, assumiu este cargo um membro do NSDAP. Agora que a DCB aderiu à nova Alemanha, ele manifestou sua disposição em colaborar com o partido e começar a propagar o nacional-socialismo em suas publicações [25]. Em fins de 1935, a DCB havia perdido sua independência. Um ano mais tarde, em outubro de 1936, a AO caracterizou a colaboração com a DCB como "a melhor que se poderia imaginar" [26]. A fim de assegurar sua influência, a AO exigiu que "a eleição de diretor da DCB estivesse de acordo com o partido" e que "em todo caso fosse um homem orientado totalmente de acordo com a nova Alemanha" [27]. O ministério de Relações Exteriores alemão (Auswdr- tige Amt, AA) apoiou as exigências do NSDAP [28].

A DVFA na Argentina tinha a responsabilidade de se ocupar das escolas alemãs, apesar dos conflitos políticos e sociais [29]. Uma vez superados diversos conflitos pessoais, a DVFA rapidamente se mostrou disposta a se alienar com o Terceiro Reich. Por exemplo, organizou uns protestos de todas as associações alemãs contra a crítica da esquerda, especialmente contra os ataques do Argentinisches Tageblatt ao governo de Hitler. Ao diretor da DVfA, Martin Arndt, o partido lhe reprochó que não quisesse uma alienação nazista, por medo de causar conflitos internos na comunidade alemã [30]. Arndt se viu obrigado a renunciar [31]. O novo diretor, Wilhelm Róhmer, pediu a colaboração do partido e o ingresso de seus membros nos grupos da DVfA32. Em consequência disso, a DVFA perdeu um terço dos seus membros e só em 1937 pode recuperar o nível de membros com o qual contava em 1934 [33].

A cooptação das escolas e juventude das comunidades alemãs

O sistema educativo alemão na América Latina era muito bem avaliado. A grande maioria dos alunos era de origem alemã. Em meados dos anos trinta havia no Chile 52 escolas alemãs com mais de 5.000 alunos [34], na Argentina 203 com 15.000 alunos, e no Brasil 1.800 com cerca de 60.000 alunos[35]. Muitos dos professores eram emissários de escolas na Alemanha [36], e uma grande parte dos gastos era financiado pelo Reich. Em determinado momento, 96 dos 500 professores alemães no Chile pertenciam ao partido [37]. A alienação dos professores se levou a cabo sem dificuldades e já estava consumada em 1934. Por exemplo, o círculo de professores em Santiago solicitou sua incorporação na NSLB (Associação Nacional-Socialista de Professores), seguida pouco depois pela associação central [38]. Os professores chileno-alemães deviam permanecer na organização original, mas seu diretor era sempre o chefe da NSLB39. Consequentemente, os programas de ensino foram reorganizados segundo o modelo alemão [40].

As escolas alemãs na Argentina foram objeto de luta política entre nazis e antinazis alemães. Frente à alienação nazista, Ernesto Alemann, o editor do Argentinisches Tageblatt, propôs a fundação de uma escola independente [41]. A escola 'Pestalozzi' foi inaugurada no início de março de 1934. Excetuando a escola 'Cangallo' [42], todas as demais se submeteram neste tempo à influência nacional-socialsta. Em razão da ajuda financeira, as escolas alemã-argentinas aceitaram programas de ensino nazi [43].

O partido no Brasil teve que fazer mais concessões que os grupos nazis na Argentina e Chile, devido as experiências vividas na Primeira Guerra Mundial, quando em 1917 a administração brasileira fechou as escolas alemãs. Os responsáveis queriam salvar o sistema escolar tradicional, tanto brasileiro como o alemão [44]. O NSDAP no Brasil atuou discretamente, permitiu conservar a organização anterior e deixou que os professores decidissem livremente se eles se uniriam à NSLB [45]. Não obstante, era obrigatória, pelo menos as associações principais, a colaboração com a NSLB [46]. Também foi concedido ao NSDAP o direito de participar das sessões de várias organizações que se incorporaram à associação principal [47], contanto que na classe se lesse Minha Luta de Hitler e se tratasse do 'problema racial' [48].

Contudo, uma alienação tão completa como na Argentina e no Chile não foi possível ser feito no Brasil. O partido teria que levar em conta o temor dos brasileiros de descendência alemã, que haviam sofrido com o clima de crecentes tendências nacionalistas do governo brasileiro e que não queriam ser rotulados como suspeitos de deslealdade com o Estado [49].

Junto às escolas, a juventude foi o outro campo no qual o partido concentrou seus esforços para pôr em prática uma educação nacional-socialista, a fim de que os jovens não perdessem os laços com sua origem alemã [50]. Ainda antes de 1933, já existia no Chile uma organização juvenil orientada para o nazismo, a Deutsche Jugendbund für Chile (Liga Juvenil Alemã do Chile, DJC)51. Fundada em1931 por Karl Roth e Adolf Schwarzenberg[52], a Jugendbund perseguu fins eugênicos e "a doutrinação no sentido do movimento de Hitler' [53]. Sua propaganda estava determinada pela "crença incondicional na missão do povo alemão [54] e os jovens usavam uniformes muito semelhantes aos d Hitlerjugend (Juventude Hitlerista na Alemanha, HJ). Sua enérgica apresentação pública e sua franca determinação de ser a vanguarda na comunidade alemã provocaram críticas dos chileno-alemães [55].

Contudo, as tentativas do NSDAP na Argentina e Brasil de criar uma organização juvenil nazista não deram resultado. Devido à crítica das comunidades alemães ao partido, somente se pode fundar um grupo de escoteiros alemães, totalmente dependente da organização argentina [56]. No Brasil foi fundado, em maio de 1934, a Deutsch-Brasilianischer Jugendring (Círculo Juvenil Brasileiro-Alemão) uniformado, semelhante à DJC. Mas dado à sua evidente conexão com o partido e por medo de possíveis reações do governo brasileiro, os alemães não queriam ter contato com o círculo juvenil [57].

Fonte: Instituto de História e Cultura de América Latina
Autores: Olaf Gaudig e Peter Veit (Freie Universität Berlin)
http://www.tau.ac.il/eial/VI_2/gaudig_veit.htm
Tradução: Roberto Lucena

Parte 01 - O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939
Parte 03 - O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939

quinta-feira, 14 de junho de 2012

O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939 - parte 01

A atração, sobretudo a atuação do nacional-socialismo em alguns países do Novo Mundo, tem sido objeto de investigação histórica há uns trinta anos. Existe muita literatura que se ocupa da dimensão política e ideológica do Terceiro Reich frente aos países latinoamericanos 1, sobretudo o mito da suposta 'Quinta Coluna' dos nazis, mas que se descuida da situação social, cultural e política da população de origem alemã na América Latina, e que só esta, ideologizada e alineada no sentido nazi, poderia constituir um perigo para a integridade estatal dos países em questão.

De fato, o continente latino não era objeto de interesse político ou militares por parte do Terceiro Reich. Embora se quisesse manter e ampliar as relações econômicas bilaterais, isto não era uma condição impressindível da política externa nazi. Todo o afã do Terceiro Reich se encontrava nos países da Europa oriental os quais se aspirava conquistar e dominar; a América Latina era considerada sob a esfera de influência dos Estados Unidos 2. Ao estourar da Segunda Guerra Mundial, a política alemã estava interessada em manter a neutralidade dos paíes latinoamericanos, sobretudo depois da entrada na guerra dos EUA em fins de 1941, mas isso foi conseguido somente no caso do Chile.

Tudo isto não implica que os nazis não tenham tentado formar uma 'Quinta Coluna', que poderia ser - menos em um sentido militar - um instrumento eficaz da política externa do Reich. Os nazis consideravam a população de origem alemã nos mais importantes países da América Latina como um importante fator econômico no sistema social desses países e, ao mesmo tempo, como um branco que deveria ser cooptado a fim de extender a soberania do nacional-socialismo sobre todos os alemães no mundo, aquele povo de 'cem milhões' que, devido a sua origem nacional e racial, obededeceria a uma 'vontade comum' encarnada no Partido Nacional-Socialista e na pessoa do Führer.

Nosso ensaio tentará mostrar a técnica e a dimensão da alienação nazista das comunidades alemãs da Argentina, Brasil e Chile. A historiografia existente, exceto no caso da Argentina, tende a retratar a população de descendência alemã como um bloco quase monolítico, político e ideologicamente alienado sob o comando do partido nazi; não trata dos conflitos entre o partido e as diversas instituições das colônias alemãs, que em muitos casos foram sucumbindo aos nazis muito gradualmente. As mais importantes fontes para nossa investigação são documentos oficiais de instituições governamentais na Alemanha e o variado material imprenso jornalístico em língua alemã na Argentina, Brasil e Chile, que refletiam os conflitos políticos e ideológicos causados pela conduta e atitude do Partido Nazi.

Os primeiros grupos nacional-socialistas

Desde a metade do século XIX, alemães imigraram para Argentina, Brasil e Chile [03] e, com a exceção da Argentina, estabeleceram-se em regiões apartadas no sul e criaram comunidades rurais, artesanais e industriais. Fundaram, além disso, inúmeras instituções culturais e sociais, entre elas muitas escolas, e publicaram também centenas de diários e periódicos. As comunidades estavam isoladas quase que por completo, sendo dois terços delas luteranas, de modo que esta população de origem alemã foi se distanciando cada vez mais da vida social, política, religiosa e cultural de suas novas pátrias. Seu isolamento, inevitável a princípio e por iniciativa própria depois, culminou com a incorporação dos territórios coloniais do século XIX e a consequente necessidade de se assimilar. Sempre respeitados por seu 'espírito e disciplina de trabalho' e sua exitosa posição econômica, os alemães, contudo, nunca tiveram uma destacada influência política; sua inevitável separação da cultura nacional aumentava sua ignorância em assuntos políticos locais. Contudo, apesar do isolamento, houve uma lenta aproximação da sociedade alemã, que foi interrompida pelo início da Primeira Guerra Mundial. Com os distúrbios políticos e econômicos na Alemanha do pós-guerra, a lealdade das comunidades alemãs à glória e grandeza do perdido império alemão se fortaleceu. A República de Weimar foi para eles um símbolo de ruptura, e em grande parte rejeitaram a nova bandeira alemã. Contudo, no final dos anos vinte, as comunidades alemãs aceitaram a nova realidade política na Alemanha mas não a suposta cultura e política decadente de Weimar: unidas e fieis ainda aos 'valores tradicionais do passado', as comunidades alemãs se consideravam assim mesmo 'melhores alemães' que aqueles em sua velha pátria.

Ainda que a opinião política da maior parte da população alemã fosse conservadora e nacionalista, a primeira aparição dos grupos nacional-socialistas foi recebida com indiferença e impugnação. Temia-se que a luta política interior no Reich se trasladasse às comunidades alemães no exterior. Os fundadores dos Stützpunkte (pontos de apoio) e os Ortsgruppen (grupos locais) do Partido dos Trabalhadores Alemães Nacional-Socialista (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei, NSDAP) [04] haviam chegado à América Latina pouco depois do fim da Primeira Guerra Mundial. Geralmente não tinham nenhum prestígio social nas colônias alemães dos países em questão e se encontravam marginalizados, pois ao NSDAP só podia pertencer a quem era do Reichsdeutscher (cidadão alemão) [05]. O partido tinha como objetivo a doutrinação ideológica e a alienação política uniforme de todos os alemães no exterior, tanto que sua propaganda se propunha a fortalecer consideravelmente a convicção antirrepublicana de seus compatriotas e a renovação dos 'verdadeiros valores alemães'. Fundamentalmente, a oposição das comunidades à toda política partidária foi sempre o maior obstáculo ao NSDAP, que só podia salvá-lo mediante uma propaganda hábil e moderada.

O partido encontrou resistência a seus ataques contra as associações e seus dirigentes, por exemplo na Argentina [06]. Os nazis exigiam que se mantivesse a pureza do sangue alemão e que se destacasse sua cultura própria acima da latina, enquanto que os argentinos de língua alemã rechaçavam essas pretensões. Além disso, a comunidade alemã se encontrava dividida em distintos grupos políticos: nacionalistas, liberais, social-democratas e socialistas [07]. O orgão dos liberais e da esquerda era a Argentinisches Tageblatt, que desde o início atacou os nazis [08]. A oposição incondicional do partido a seus adversários foi a causa pela qual não se aceitava o NSDAP. Deste modo, a maioria dos alemães se encontrou entre dois extremos: por um lado, eram por demais conservadores para adotar uma posição antinazista, mas por outra parte se sentiam tão ofendidos pelos ataques do partido que não podiam se juntar a ele.

No Brasil, o NSDAP se formou já no final dos anos vinte, ainda que a princípio dos trinta [09]. Desde o começo, o partido manifestou sua intenção de penetrar nas instituições alemãs com sua ideologia, quando achasse que era necessáro [10]. Segundo um diplomata alemão em 1931, os nazis procuraram impôr seus interesses políticos sem se preocupar com qualquer que fosse o eventual dano político [11]. Alguns alemães católicos no Brasil assumiram uma posição contrára aos nazis já desde 1932, sobretudo no orgão Deutsches Volksblatt de Porto Alegre [12]. No Rio de Janeiro, o grupo local do NSDAP atacou os dirigentes das instituições alemãs reprochándoles a 'desmoralização' e o 'espírito de classe e de camaradagem' [13]. De modo que, enfrentado pela oposição da maioria dos alemães e ante a impossibilidade de propagar plataformas programáticas e ideológicas na Argentina e no Brasil, o NSDAP se limitou a criticar o suposto 'caráter deficiente' dos valores nacionais. Aos chefes dos círculos alemães, o partido lhes repreendeu por uma 'falta de princípio nacionais' e o afã de obter cargos lucrativos.

O NSDAP no Chile fundou seu primeiro grupo local em Santiago no começo de 1932 14, e procedeu de maneira mais habil. Renunciou as agressões contra a comunidade alemã e seus dirigentes. Manipulou os temores da assimilação difundidos por chileno-alemães para seus fins políticos e tratou de aproveitar as antipatias da comunidade a respeito da República de Weimar. Graças a sua atitude moderada e sua colaboração nas instituições em "favor de todos os alemães", o NSDAP conseguiu reconhecimento. Não houve oposição ao partido até meados dos anos trinta. O Chile foi o único país da América Latina em que, inclusive antes de 1933, formou-se uma associação permeada pela ideologia nazi: a juventude chileno-alemã, a Deutscher Jugendbund für Chile (DJC)[15].

Ante a ascensão ao poder dos nazis em janeiro de 1933, os alemães na América Latina não os rejeitaram com regozijo; ao que mostraram interesse. Aprovaram o credo nacionalista alemão do novo regime, um ideal que sempre foi o seu, se bem que com um sentido menos radical. Aplaudiram as duras medidas adotadas contra os comunistas, os socialistas e os sindicatos, ainda que nem sempre aceitaram os métodos utilizados pelo regime. Só nos círculos antinazis houve crítica e resistência. A opinião das comunidades alemães mudaram depois das eleições de março de 1933, quando o NSDAP obteve a metade dos votos, de nacionalistas a nacional-socialistas. Mais tarde, os grupos nazis na América Latina exigiram assumir o controle nas colônias alemães. A 'promessa de adesão' do povo alemão que era cobrada pelos nazis a todos os alemães na América Latina era reclamada agora junto com a aceitação da ideologia e do programa nazi: não ser nazi significava ser traidor da pátria. Toda crítica e oposição era, para eles, uma expressão do pensamento 'judeu' ou comunista.

Enquanto que na Alemanha os nazis podiam usar todo o poder do Estado no processo de alienação dos cidadãos com o regime, os grupos do partido na América Latina tinham que se contentar no geral só com a propaganda. Por isso começaram a buscar a colaboração dos diplomatas alemães, agora representantes do Estado nazi, que sempre tiveram uma grande influência nos assuntos das comunidades alemãs.

NOTAS

[01] As publicações gerais mais importantes que se ocuparam do nazismo alemão na América Latina, baseando-se em documentos oficiais de instituições governamentais do Terceiro Reich, são: Louis de Jong, Die deutsche Fünfte Kolonne ¡ni Zweiten Weltkrieg, Stuttgart 1959; Hans-Adolf Jacobsen, Nationalsozialistische Aussenpolitik 1933-1938, Frankfurt/M., Berlin 1968; Reiner Pommerin, Das Dritte Reich und Lateinamerika. Die deutsche Politik gegenÜber SÜd- und Mittelamerika 1939-1942, DÜsseldorf 1977. Existe, além disso, muita literatura regida por interesses políticos, quer dizer, trabalhos dos anos trinta e quarenta, geralmente de autores norteamericanos, publicaos 'em defesa do hemisfério ocidental'; por exemplo: Carleton Beals, The Coming Struggle for Latín America, New York 1940; John Gunther, Inside Latin America, New York/London 1941; Hubert Herring, Good Neighbors. Argentina, Brazil, Chile and Seventeen Other Countries, New Haven 1941; Ernesto Giudici, Hitler conquista América, Buenos Aires 1938; Adolfo Tejera, Penetración nazi en América Latina, Montevideo 1938. Infelizmente, eles continuam esta mesma linha de erros, invenções e falsas valoraciones mais as monografias publicadas nos anos sessenta na República Democrática da Alemanha, sobretudo a coleção de Heinz Sanke (ed.), Der deutsche Faschismus in Lateinamerika 1933-1943, Berlin 1966; Manfred Kossok, Lateinamerika zwischen Emanzipation und Imperialismus. 1810-1960, Berlin 1961; e também o norteamericano Alton Frye, Nazi Germany and the American Hemisphere 1933-1941, New Haven/ London 1967.
Monografías dedicadas al `fascismo criollo' incluyen: Michael Potashnik, Nacismo. National Socialism in Chile 1932-1938, University of California, Los Angeles 1974; Gerardo Jorge Ojeda Ebert, "El Movimiento Nacional Socialista Chileno. Presentación de fuentes diplomáticas inéditas", Estudios Latinoamericanos, no. 9, 1982-1984, Wroclaw 1985, pp. 249-265; George F.W. Young, "Jorge González von Marées: Chief of Chilenn Nacism", Jahrbuch fÜr Geschichte von Staat, Wirtschaft und Gesellschaft Lateinamerikas, T. 11, Kbln/ Wien 1974, pp. 309-333; R. Alliende González, El Jefe. La vida de Jorge González von Marées, Santiago de Chile 1990; Hélgio Trindade, Integralismo (o fascismo no sul de Brasil. Germanismo - Nazismo - Fascismo, Porto Alegre 1987.
A respeito da atuação política do nazismo na América Latina, as publicações mais importantes são: Arnold Ebel, Das Dritte Reich und Argentinien. Die diplomatischen Beziehungen unter besonderer Berücksichúgung der Handelspolitik (1933-1939), Kóln/Wien 1971; Holger M. Meding (ed.), Nationalsozialismus und Argentinien, Frankfurt/M., Bern, New York, Paris, Wien 1995; Dawid Bartelt, " `Fünfte Kolonne ohne Plan'. Die Auslandsorganisation der NSDAP in Brasilien. 1931-1939", Ibero-Amerikanisches Archiv, no. 1-2 (1993), pp. 3-35; Jürgen Müller, Nationalsozialismus in Lateinamerika. Die Auslandsorganisation del NSDAP in Argentinien, Brasilien, Chile und Mexiko, 1931-1945, Heidelberg 1994 (tesis doctoral).

[02] Ver, a este respeito, Jürgen MÜller, "Hitler, Lateinamerika und die Weltherrschaft", Ibero- Amerikanisches Archiv, no. 1-2 (1992), pp. 67-101.

[03] Entre 1850 e 1919 imigraram cerca de 150.000 alemães para a América Latina; entre 1920 e 1931, quase 130.000. Ver Hermann Kellenbenz/Jürgen Schneider, "La emigración alemana a América Latina desde 1821 hasta 1930", Jahrbuch für Geschichte von Staat, Wirtschaft und Gesellschaft Lateinamerikas, 13 (1976), pp. 394 e ss. Nos anos trinta havia na Argentina aproximadamente 300.000 descendentes de origem alemã, no Brasil 800.000 e no Chile 30.000; idem. A respeito da imigração alemã na América do Sul e a organização cultural e social das comunidades alemães, ver Olaf Gaudig/Peter Veit, Der Widerschein des Nazismus: Das Bild des Nationalsozialismus in der deutschsprachigen Presse Argentiniens, Brasiliens und Chiles 1933-1945, Berlin 1995 (tese de doutorado, em via de publicação), pp. 11-31.

[04] Os pontos de apoio tinham pelo menos 5 membros e os grupos locais 25 membros do NSDAP.

[05] Os outros, só de origem alemã, chamados de Volksdeutsche, não podiam se integrar ao NSDAP.

[06]Em setembro de 1932, o NSDAP na Argentina constava do grupo local de Buenos Aires e com sete pontos de apoio no país, com um total de 278 membros; Bundesarchiv Potsdam (Arquivo da República Federal da Alemanha, seção Potsdam; daqui em diante BA Potsdam), 62 Au 1, 59, p. 61, Informe geral da seção para os alemães no exterior [do NSDAP], sept. 1932. Em 1937 o partido contava com 1.500 membros; ver Jürgen MÜller, op. cit. (1994), p. 111.

[07] Ver Ronald C. Newton, German Buenos Aires, 1900-1933. Social change and cultural crisis, Austin/London 1977; Ronald C. Newton, The 'Nazi Menace' in Argentina 1931-1947, Stanford 1992; Carlota Jackisch, El nazismo y los refugiados alemanes en la Argentina 1933- 1945, Buenos Aires 1989.

[08] Ver o artigo em Argentinisches Tageblatt, 30.7.31, p. 2. A respeito do Tageblatt, ver Sebastian Schoepp, Das Argentinische Tageblatt 1933-1945. Eine "bürgerliche Kampfzeitung" als Forum der antinationalsozialistischen Emigration, trabalho de exame de graduação, Miinchen 1991; Arnold Spitta, Die deutsche Emigration in Argentinien 1933-1945. Ihr publizistisches und literarisches Wirken, conferência, Bielefeld 1978.

[09] Em 1932 havia no Brasil 4 grupos locais e alguns pontos de apoio, com 507 membros do partido; ver BA Potsdam, 62 Au 1, 59, p. 64, Informe geral da seção para os alemães no exterior [do NSDAP], set. 1932. Em 1937 havia 2903 membros; Jürgen Müller op. cit. (1994), p. 111.

[10] Ver Deutscher Morgen, 1.6.32, p. 4, 26.5.33, p. 5.

[11] Politisches Archiv des Auswdrtigen Amtes Bonn (Arquivo Político do Ministério das Relações Exteriores em Bonn; daqui em diante MRE), R 60028, consulado alemão em Porto Alegre ligado ao MRE, 20.8.31. A prática característica da política dos nazis obedecia a ordem da central do partido na Alemanha de espionar pessoas e dirigentes de associações alemães a fim de obter relatórios aproveitáveis sobre amigos e, principalmente, inimigos. Ver Aktion, 18.5.33, p. 1; Jürgen Müller, op. cit. (1994), p. 16; MRE, R 79001, consulado alemão em Porto Alegre ligado ao MRE, 20.5.33.

[12] Um resumo da oposição e da imprensa antinazista em língua alemã no Brasil, Argentina e Chile se encontra em Patrik von Zur Mühlen, Fluchtziel Lateinamerika. Die deutsche Emigration 1933- 1945: Politische Aktivitdten und soziokulturelle Integration, Bonn 1988; sobre o exemplo do Brasil, ver Izabela Maria Furtado Kestler, Die Exilliteratur und das Exil der deutschsprachigen Schriftsteller und Publizisten in Brasilien, Frankfurt a. M. 1992.

[13] Der Nationalsozialist, 1/33, pp. 17 e ss. O então chefe da AO (Auslandsorganisation, a organização do NSDAP para assuntos do exterior), Bohle, manifestou que não era objetivo do partido semear a discórdia dentro da colônia alemã. Jürgen Müller, op. cit. (1994), p. 149.

[14] Neste mesmo ano existiam no país 4 grupos locais e 6 pontos de apoio, no total 251 membros do partido; BA Potsdam, 62 Au 1, 59, p. 59, Informe geral da seção para os alemães no exterior [do NSDAP], set. 1932. Em 1937 havia 985 membros; Jürgen Müller, op. cit. (1994), p. 111. Enquanto que no Chile havia uns 10% de cidadãos alemães que se afiliaram ao NSDAP, na Argentina e no Brasil esta porcentagem nem sequer ascendeu a 5%; idem., pp. 117 y ss.

[15] Ver Gaudig/Veit, op. cit., pp. 110 e ss.

Fonte: Instituto de História e Cultura de América Latina
Autores: Olaf Gaudig e Peter Veit (Freie Universität Berlin)
http://www.tau.ac.il/eial/VI_2/gaudig_veit.htm
Tradução: Roberto Lucena

Parte 02 - O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939
Parte 03 - O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Nascidos depois de 1945

Por Ana Sá Lopes, publicado em 12 Mar 2012 - 04:00

A política do esquecimento está a ter consequências assustadoras

Sarkozy
A Europa como a conhecemos nasceu da barbárie: o nazismo. A criação dos primeiros embriões do que viria a ser a União Europeia funcionaram como catarse do horror – era preciso continuar a escrever poemas depois do Holocausto. O nazismo e o anti-semitismo estavam longe de ser um exclusivo de Hitler.

Hoje, preferimos ignorar que boa parte da Europa era anti-semita e que o nazismo não foi obra de “um louco isolado”. A invasão da Noruega foi muito fácil e os noruegueses não precisaram da ocupação alemã para criarem um estado nazi: eles próprios meteram mãos à obra e o ocupante não precisou de enviar um grande contingente. Mesmo na Inglaterra combatente, o sentimento anti-semita era enorme. As sondagens da época (as avaliações do “Mass Observation”) revelam um povo ferozmente anti-judeu. Quando uma parte do governo inglês (Chamberlain e outros) defendia a contemporização com Hitler, sabia que não estava a ir muito contra a vontade popular. É horrível, mas aconteceu.

O esforço de catarse foi notável durante 40 anos, ao ponto de nos discursos oficiais os dirigentes europeus recorrerem muitas vezes a uma espécie de “superioridade moral” da civilização europeia, como se ela existisse ou tivesse sido notória há 50 anos. É um mito reconfortante, mas falso, como grande parte dos mitos. Os pais fundadores da Europa tinham vivido a Segunda Guerra e sabiam as responsabilidades da sua ínclita geração – promover a catarse e criar uma situação para que fosse possível fazer poemas depois do Holocausto. Reconheça-se que foram muito bem sucedidos durante décadas. E se a Europa unida não conseguiu evitar a guerra dos Balcãs, cumpriu parcialmente o sonho de Jean Monnet. Nunca mais houve nenhuma guerra que envolvesse as grandes potências.

A geração seguinte sentiu-se desobrigada do imperativo moral. Nicolas Sarkozy nasceu a 28 de Janeiro de 1955, dez anos depois do fim da guerra. Terá muito mais memórias da brincadeira do Maio de 68 que, genuinamente, não foi uma coisa séria, do que da França ocupada. Podia ter estudado, se quisesse. Mas cedeu à voragem do esquecimento, um dos outros vértices da catarse, como bem explica Tony Judt no seu “Pós-Guerra”. Se para continuar foi preciso esquecer até à ignorância, desconhecemos agora onde a ignorância nos vai levar, ou regredir a um ponto inicial.

Quando Sarkozy faz o discurso que faz sobre os imigrantes está a regredir para a história nazi inscrita no tenebroso ADN da Europa. A política do esquecimento (como também se vê na crise do euro) está a ter consequências assustadoras.

Fonte: IOnline (Portugal)
http://www.ionline.pt/opiniao/nascidos-depois-1945

sábado, 14 de junho de 2008

Crise acelera avanço neonazista

Vitória eleitoral anima extrema direita alemã, que ganha terreno no cada vez mais empobrecido leste do país
ALEMANHA

Marcos Guterman

A história ensina que não é bom subestimar a capacidade dos nazistas de perceber oportunidades históricas. Assim como na década de 20 do século passado, a extrema direita alemã está aproveitando agora uma mistura explosiva de crise econômica e hesitação política dos partidos tradicionais para alimentar um projeto declarado de se tornar uma força nacional.

Os neonazistas alemães, cuja ação é bastante limitada pela legislação, parecem estar se sentindo bastante à vontade, sobretudo após um importante triunfo nas últimas eleições no Estado de Mecklenburgo-Pomerânia Ocidental - terra da primeira-ministra alemã, Angela Merkel, que classificou o resultado como ‘desagradável’.

O Partido Nacional Democrático (NPD, na sigla em alemão), nome fantasia da agremiação neonazista, obteve 7,5% dos votos na eleição, em setembro, dando-lhe direito a cinco cadeiras no Parlamento do Estado.

Com os votos ainda quentes nas urnas, algumas lideranças civis voltaram a pedir a proibição do NPD, mas o governo se disse contrário, sob o argumento de que o problema não era legal, e sim de mobilização da sociedade para esvaziar o discurso dos extremistas.

Analistas ouvidos pelo Estado concordam com essa avaliação. Todos coincidem no ponto segundo o qual os neonazistas crescem a reboque do desemprego, da desatenção do poder federal e de uma indiferença mais ou menos generalizada.

Mecklenburgo-Pomerânia Ocidental, que fica no antigo lado comunista da Alemanha, é o Estado mais pobre do país e, portanto, é o ecossistema ideal para o florescimento do extremismo de direita.

Um estudo divulgado na semana passada mostra o quanto cresceu a clientela preferencial dos neonazistas. Segundo a Fundação Friedrich Ebert , ligada ao Partido Social Democrata, há 6,5 milhões de alemães abaixo da linha de pobreza, que é de 938 euros. Essa massa ganha, em média, 424 euros por mês, e representa 8% da população.

O índice sobe para 20% no lado oriental da Alemanha, exatamente a base do crescimento neonazista. ‘O voto nos nazistas em 1930-33 e o voto nos neonazistas hoje são votos de protesto, e os políticos dos grandes partidos precisam trabalhar duro para remover as causas desse protesto’, afirma Richard J. Evans, especialista em história contemporânea alemã na Universidade de Cambridge (Reino Unido). ‘O melhor meio de lidar com o neonazismo é reduzir o desemprego nas regiões do leste da Alemanha, que são sua maior fonte de apoio.’ No entanto, para Robert Gelatelly, historiador da Universidade Estadual da Flórida (EUA) que editou o livro As Entrevistas de Nuremberg, o problema é ainda mais profundo. Segundo ele, sucessivos governos alemães têm se dedicado bastante a resolver a crise do leste, ‘mas 50 anos de desmandos comunistas provaram-se muito mais difíceis de superar do que se imaginava’.

Entre especialistas alemães, parece haver bem menos boa vontade em relação à reação de suas instituições quando confrontadas com o problema do neonazismo. Christian Gerlach, historiador da Universidade de Colúmbia (EUA), por exemplo, acha que há ‘leniência’ (ler na próxima página).

Uma parte do problema pode ser debitada na conta da própria democracia. Como se convencionou acreditar, Hitler subiu ao poder em 1933 por conta da confusa situação política após a Primeira Guerra Mundial. Agora, novamente, os defensores do nazismo encontram campo para crescer dentro de um regime democrático.

Mas há diferenças que o tempo tratou de estabelecer. ‘A Alemanha impôs limites a sua democracia desde a fundação da Alemanha Ocidental’, explica Max Paul Friedman, historiador da Universidade Estadual da Flórida. ‘Diferentemente dos EUA, onde quase todo tipo de manifestação é protegida por lei, na Alemanha o sujeito pode ser punido por negar o Holocausto, incitar ataques racistas e cometer outros crimes de expressão política radical.’ De fato, vários partidos políticos já foram banidos na Alemanha desde o fim da 2ª Guerra por defender o nazismo, e as expressões políticas desse movimento têm sido sistematicamente limitadas. Por outro lado, como adverte Richard Evans, ‘uma democracia deve respeitar o voto das minorias’, ainda que violentas. A ‘minoria’ que o NPD quer representar são os alemães que não querem nem ouvir falar em imigrantes. A plataforma do partido é simples: os imigrantes devem ser expulsos do país.

Com essa disposição, e uma enorme resiliência, o NPD agora pretende ser o guarda-chuva sob o qual os diversos grupos extremistas de direita no país podem se abrigar, no que eles têm chamado de ‘pacto pela Alemanha’. ‘O apelo dos grupos neonazistas desde os anos 70, e especialmente desde a reunificação, deixou de ser basicamente o antisemitismo e agora é a propaganda antiimigração’, afirma Max Friedman. ‘Durante as campanhas eleitorais é possível ver cartazes do NPD com fotos de famílias turcas carregando bagagens sob o slogan ´Tenham uma boa viagem para casa´ - uma maneira esperta de escapar das restrições à propaganda racista.’ O relativo sucesso do NPD neste momento reflete, portanto, a recorrência da questão da imigração como problema na Alemanha.

A perseguição ao imigrante, muitas vezes violenta, feita por grupamentos paramilitares a serviço do NPD, lembra os ataques aos judeus nos anos 20 e 30. Trata-se de uma ação que visa a destruir o sujeito desenraizado que surge como uma ameaça ao modo de vida alemão. A preocupação é saber até aonde os neonazistas conseguirão ir. ‘Eu não acho que os ´neo´ irão mais longe’, argumenta Robert Gellately. ‘Mas não é uma coisa boa que eles já tenham chegado tão longe.

Fonte: Estado de São Paulo(arquivo, 25.10.2006)
http://blog.controversia.com.br/2006/10/25/crise-acelera-avanco-neonazista/

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