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segunda-feira, 23 de maio de 2016

Os árabes que lutaram contra Franco

O jornalista palestino Najati Sidki
Um documentário resgata do esquecimento os mais de mil árabes que se juntaram ao grupo republicano e reivindica sua memória frente às tropas moras de Franco.

O filme, em sua fase final de produção, reconstrói os passos de um palestino que pagou sua luta na Espanha com o desterro e a dispersão familiar

FRANCISCO CARRIÓNEl; Cairo
fcarrionmolina
02/05/2016 19:45

"Vim defender a liberdade no Front de Madrid. Para defender Damasco em Guadalajara, Jerusalém em Córdoba, Bagdá em Toledo, o Cairo em Cádis e Tetuão em Burgos". O jornalista Najati Sidki, palestino e comunista, desembarcou na Espanha de 1936 com a determinação de lutar contra Franco e suas tropas mouras. Sua vida, marcada também pela II Guerra Mundial e pela tragédia do povo palestino, centra agora um documentário que trata de resgatar do esquecimento as centenas de árabes que se juntaram ao grupo republicano.

A cineasta egípcia Amal Ramsis (Cairo, 1972) chegou até Sidki "por pura casualidade" depois de uma longa e frequentemente infrutuosa pesquisa que começou mais de uma década. "Li um artigo sobre a participação árabe na Guerra Civil e comecei a puxar o fio. Saíram muitos nomes, datas e lugares de chegada mas me faltava uma história que proporcionasse um enfoque pessoal", relata ao EL MUNDO Ramsis a partir de um restaurante central do Cairo. E então se fez a luz. "Em 2008 topei com as memórias de Sidki e encontrei o rosto que necessitava pra história".

Em plena ensambladura, o documentário "You come from far away" ("Vim de longe", em espanhol) reconstrói os passos do intelectual e secretário do Partido Comunista Palestino desde sua viagem à península ibérica em 1936 e oferece testemunho de uma realidade desconhecida, sepultada pela terrível recordação dos soldados marroquinos do exército da África que Franco somou a sua sublevação. "Sidki tentou dirigir-se a eles. Baixou no Front de Córdoba e lhes pediu que se unissem ao bando republicano. Poucos lhe escutaram e os que o fizeram não foram bem recebidos", reconhece Ramsis, autora de documentários como "Vida" (2008), "Proibido" (2011) e "O rastro da mariposa" (2014).

"Cheguei - escreve Sidki em suas memórias - à bela e espetacular Barcelona, capital da Catalunha. Comecei a passear por suas amplas avenidas. De repente, encontrei-me com um grupo de milicianos. Seu chefe, achando que eu fosse espanhol, aproximou-se e me disse em castelhano: "Por que não te unes a nós?" Sorrindo lhe repliquei em francês: "Sou um voluntário árabe e vim defender a liberdade no front de Madrid. Para defender Damasco em Guadalajara, Jerusalém em Córdoba, Bagdá em Toledo, o Cairo em Cádis e Tetuão em Burgos".

Najati Sidki, com suas duas filhas
O jornalista - o nome que pôs voz aos alistados árabes que se juntaram a outros milhares de brigadistas estrangeiros que participaram em uma contenda alheia - sobreviveu à derrota e teve duas filhas que hoje são as testamenteiras de sua memória. "Cheguei até Hind, sua filha mais nova que vive na Grécia, e me dei conta de que o testemunho era maior do que havia imaginado. A família de Sidki condensa a história do último século, desde a Nakba (a catástrofe que em 1948 se supõe o exílio forçado de ao menos 750.000 palestinos de suas terras) passando pela II Guerra Mundial ou a guerra civil libanesa", detalha a ditadura do filme.

Alcançada pela ladainha de acontecimentos históricos que desfilaram pelo século XX, a tragédia familiar de Sidki havia permanecido até agora escondida. "Nem sequer fora escrita. Este documentário supõe também um descobrimento dessa vida marcada pelo contexto político espanhol", argui Ramsis. Perdida toda a esperança de defender a República, Sidki teve que fazer frente a outro afundamento. Sua filha Dulia, nascida três anos antes do início da refrega, cresceu em Moscou aleijada de sua família. Durante mais de 20 anos o jornalista apenas teve notícias de sua primogênita.

"Sidki pagou assim não estar de acordo com a posição do Partido Comunista Espanhol a respeito do colonialismo no norte da África", desvela a documentarista. "Ele era, acima de tudo, uma mente livre. Fez pública sua opinião e foi castigado por isso. Expulsaram-lhe do partido e jamais regressou à Rússia. Sua filha mais velha não pode abandonar Moscou e só voltaram a se ver décadas depois em Beirute, que chegou depois de deixar a Palestina em 1948 e onde viveu até a guerra civil. Terminou morrendo na Grécia junto de sua filha mais nova", acrescenta Ramsis.

O documentário reúne o relato das duas irmãs em um contra-relógio contra o esquecimento. "Filmei material durante anos. Pesquisei o fenômeno com uma ajuda da fundação Euroárabe em Granada e deixei congelado o projeto durante a revolução egípcia. O ano passado recebi uma chamada da filha mais nova de Sidki. Disse-me: "Se quer terminar esta história, tens que ir à Moscou de imediato porque minha irmã está perdendo a memória", evoca a cineasta. Na capital da extinta União Soviética se fechou o círculo. "É a vítima de toda a história. A que viveu o desarraigamento e a que tem identidade mista", admite Ramsis. Dulia, com 83 primaveras, e nem sequer balbucia o árabe.

Dulia, a filha mais velha de Najati Sidki
As vicissitudes de Sidki e de seus descendentes são só um fragmento de uma crônica alinhavada por mais de mil árabes chegados da Argélia, Líbano, Marrocos, Arábia Saudita, Egito ou Iraque que entrelaçaram suas vidas ao cruel destino das duas Espanhas. Alguns caíram em combate, outros desapareceram e outros tantos regressaram a sua terra nativa. A todos lhes venceu a desmemória que ditaram quatro décadas de ditadura. "Há uma anedota sobre esta participação árabe. Em 2003 quando um grupo de espanhóis partiu até Bagdá para mostrar sua solidariedade com o povo iraquiano, desconheciam que havia iraquianos entre aqueles que defenderam a República espanhola", indica a realizadora. O filme, terminado na metade dos clarões dos refugiados que chegam às portas da Europa, também convida à reflexão.

"Sidki e seus camaradas árabes não vieram como refugiados. Não vieram para solicitar asilo senão para apoiar os europeus em sua luta contra o fascismo. Para aqueles as fronteiras estavam abertas para todo o mundo. Não é só um documentário que trata de história passada senão que quer falar do significado das fronteiras antes e agora e lutar contra os estereótipos que se associam ao mundo árabe. Esses rostos demonstram que há gente que não pensava na religião e que tratavam de fazer um mundo melhor. A solidariedade com o povo espanhol também serviu para a liberação dos árabes", conclui Ramsis.

Fonte: El Mundo (Espanha)
http://www.elmundo.es/cultura/2016/05/02/57278d0d22601d95368b4670.html
Título original: Los árabes que lucharon contra Franco
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Neonazismo - Os Soldados de Odin aterrrorizam a Finlândia

Patrulhas urbanas neonazis vigiam as ruas ante a onda de refugiados.

Membros do grupo neonazi "Soldados de Odin",
durante uma manifestação em Joensuu (Finlândia)
no passado 8 de janeiro. Reuters
Há um ano, nada é igual em Kemi, uma pequena cidade da Lapônia finlandesa com apenas 20.000 habitantes. A avalanche de refugiados que chegaram através da fronteira com a Suécia transbordou as autoridades locais e aumentou a inquietação entre os vizinhos. Um mal-estar que alentado o nascimento dos "Soldados de Odin", uma patrulha urbana de jovens neonazis que pretende proteger os finlandeses dos "intrusos islâmicos", os quais lhes culpam pelo aumento da criminalidade e da insegurança no país nórdico. A imagem do movimento alemão Pegida (Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente), descrevem-se como "uma organização patriótica que luta por uma Finlândia branca" e em suas manifestações hasteavam faixas com o lema "os refugiados não são bem-vindos".

Com suas jaquetas negras decoradas com uma bandeira finlandesa e um viking nas costas, os Soldados de Odin (o principal deus da mitologia nórdica) converteu-se da noite para o dia numa preocupação de primeira ordem para o governo, que teme enfrentamentos violentos entre radicais e refugiados.

Mika Ranta, o organizador das patrulhas em Kemi, define-se a si mesmo como nacional-socialista (nazi), mas argumenta que os Soldados de Odin são um grupo ao qual pertence "todo tipo de gente". O certo é que os serviços secretos finlandeses vinculam a muitos deles com grupos extremistas. Ainda que digam contar com organização em 23 cidades, a Polícia reduz sua presença a cinco. Em declarações à Imprensa local no outubro passado, Ranta explicou que "despertamos numa situação onde mal viviam diferentes culturas, o que provocou medo e preocupação na comunidade". "O maior problema - acrescenta - foi quando nos inteiramos através do Facebook de que solicitantes de asilo se posicionaram em colégios de primário fazendo fotos de garotas".

Como ocorreu em Colônia e outras cidades alemãs e em Estocolmo, as denúncias de agressões sexuais duplicaram durante o último ano na Finlândia, passando de 75 para 147, se bem que não se conhece a identidade dos autores. De fato, na virada de ano passada, uma "caguetagem" e a hábil atuação policial impediram que se reproduzissem os tristes ocorridos da capital renana.

O clima de inquietação obrigou ao primeiro-ministro finlandês, o centrista Juha Sipila, a assegurar que o Governo não permitisse que essas patrulhas neonazistas suplantem as Forças de Segurança nas ruas. "A polícia é a responsável da lei e da ordem no país. As patrulhas civis não podem assumir a autoridade da Polícia", assegurou na televisão pública YLE. Na mesma linha, o ministro do Interior, o conservador Petteri Orpo, insistiu de que os Soldados de Odin "não fortalecem a segurança, senão que, pelo contrário, reforçam o estado de ânimo hostil". "Este tipo de patrulhas têm claramente uns atributos racistas e xenófobos e sua ação não melhora a segurança. Agora a Polícia deve utilizar seus escassos recursos ao seguimento de sua ação", lamentou Orpi. O ministro quis desautorizar assim o chefe da Polícia Nacional, Seppo Kolehmainen, que previamente havia sugerido que os Soldados de Odin poderiam ser úteis para alertar os agentes de possíveis delitos.

A contundência da tripartite de direitas que governa a Finlândia desde maio não é tão unânime como se poderia pensar. Enquanto que o ministro das Finanças e líder conservador, Alexander Stubb, aposta claramente pela ilegalização de "todas as patrulhas de rua racistas", os populistas "Verdadeiros Finlandeses" defendem a liberdade dos cidadãos para se organizar. Assim, o ministro da Justiça, Jari Lindström, assegura que "o fato de que detrás desse movimento se encontram pessoas que cometeram delitos e cumpriram penas de prisão certamente desperta interesse, mas o grande problema é que os cidadãos sentem que falta segurança". Contudo, a classe política, não oculta que a possível ilegalização do movimento poderia ser um beco sem saída se torna vulnerável os princípios constitucionais.

O Partido dos Finlandeses, antes conhecido como "Verdadeiros Finlandeses", recorre a esta equidistância para frear a queda de intenção de votos que lhes concedem as sondagens para entrar no Governo. Sua marca, entretanto, foi feita sentir nesses meses com o endurecimento das leis de imigração. Os refugiados maiores de idade, por exemplo, são obrigados a trabalhar para sufragar os custos de sua estada no país nórdico. Finlândia, como o resto dos países europeus, viu-se superada pela onda de imigrantes procedentes do Oriente Médio e África. Durante o ano passado, recebeu 32.500 solicitações de asilo frente a 4.000 em 2014, o que a situa como o quarto país da UE que mais refugiados recebeu em relação à sua população. Depois de três anos de recessão, o país nórdico, que conta com uma população imigrante substancialmente baixa que a de seus vizinhos nórdicos (6% frente a 15% da Suécia), afronta um duro reto para a integração de asilados.

Com Facebook como plataforma, a sociedade civil tem respondido a ameaças extremistas dos Soldados de Odin com as "Irmãs de Kyllikki", que faz referência a um personagem do poema épico "Kalevala". "Nosso objetivo é ajudar a pessoas e construir um diálogo com todos os finlandeses e também com os imigrantes", assegura uma das fundadoras do grupo, Niina Ruuska. Seria revelador saber se Odin, deus da guerra, mas também da sabedoria, que segundo a lenda pode ver todo desde seu trono em Asgard, está satisfeito com a usurpação de seu nome por uns poucos.

14 de janeiro de 2016. 03:54h Pedro. G. Poyatos.
Colônia Dinamarca Distúrbios Sociedade

Fonte: La Razón (Espanha)
http://www.larazon.es/internacional/los-soldados-de-odin-aterrorizan-finlandia-IO11681889
Título original: Los Soldados de Odín aterrorizan Finlandia
Tradução: Roberto Lucena
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Observações em um post extra (link será colocado aqui). Observação sobre a "confusão" entre os termos refugiados e imigrantes.

A quem se virar com o espanhol (idioma), vale a pena também ler esta matéria do El Mundo sobre o problema. É até mais completa que a matéria traduzida acima (mais extensa, por isso não deu pra traduzir, mas fica a sugestão):
'Soldados de Odín' para velar por Escandinavia (El Mundo)
http://www.elmundo.es/internacional/2016/01/28/56a90f3e268e3e79498b46e4.html

domingo, 18 de outubro de 2015

Candidata a prefeita na Alemanha é esfaqueada por receber refugiados

Foto: Bild.de/Reprodução.A candidata foi esfaqueada
quando fazia campanha em um mercado
A chanceler Angela Merkel expressou o seu "choque" neste sábado com o ataque contra a candidata à prefeitura de Colônia

Uma política alemã foi esfaqueada neste sábado por motivos aparentemente "racistas", vinculados à política de recepção de refugiados, no momento em que migrantes entram na União Europeia (UE) pela Eslovênia, depois que a Hungria fechou a fronteira com a Croácia.

Poucas horas depois de dois novos naufrágios que mataram pelo menos 16 migrantes mortos nas costas da Grécia e Turquia, a chanceler Angela Merkel expressou o seu "choque" neste sábado com o ataque contra a candidata à prefeitura de Colônia (oeste) Henriette Reker, em um clima de grande tensão provocada pela política migratória do governo.

"A chanceler expressou seu choque e condenou o ato", disse à AFP uma porta-voz do governo.

A Alemanha deve receber em 2015 até um milhão de refugiados, um recorde sem precedentes.

A candidata foi esfaqueada quando fazia campanha em um mercado, anunciou a polícia regional.

Reker, gravemente ferida no pescoço, era a responsável pela recepção dos refugiados na prefeitura de Colonia, explicou Wolfgang Albers, chefe de polícia da Renânia do Norte-Vestfália.

"Neste contexto, privilegiamos uma ação política" disse.

O agressor, um alemão desempregado há muito tempo e detido depois do crime, "disse que cometeu o ato com uma motivação racista", indicou o chefe de polícia de Colônia, Norbert Wagner.

Reker, candidata sem partido, mas apoiada pelos conservadores (CDU) de Angela Merkel, é uma das candidatas favoritas à prefeitura de Colônia, a quarta maior cidade da Alemanha, com 980.000 habitantes.

Ela sofreu "ferimentos graves", mas o quadro é "estável", afirmou Albers.

Ao mesmo tempo, os migrantes que tentam chegar ao norte da Europa pelos Bálcãs começaram a entrar na Eslovênia neste sábado, depois que a Hungria fechou a fronteira com a Croácia.

A Eslovênia recebeu durante a manhã os primeiros ônibus de migrantes procedentes da Croácia. Poucas horas depois, os primeiros refugiados chegaram à fronteira com a Áustria, confirmando que o "corredor" para o oeste prometido pela Eslovênia está operacional.

O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur) expressou satisfação e destacou que as autoridades eslovenas asseguram o fluxo de refugiados, principalmente da Síria, Iraque e Afeganistão.

O governo esloveno informou conversações com a Croácia (em Zagreb) para criar "um ou dois" pontos de atendimento aos migrantes.

A Hungria fechou na sexta-feira os principais pontos de passagem de migrantes na fronteira com a Croácia, bloqueada agora em vários trechos por uma grande cerca de alambrados.

Mais de 170.000 migrantes entraram na Hungria pela fronteira com a Croácia desde 15 de setembro. Os dois países estabeleceram uma colaboração para assegurar o trânsito diário.

Novos naufrágios fatais

Os milhares de migrantes que tentam entrar na Europa pela Grécia, Macedônia e Sérvia prosseguem com as viagens extremamente arriscadas.

Doze migrantes morreram afogados neste sábado quando a embarcação em que viajavam naufragou na costa da Turquia, informou agência de notícias turca Anatólia.

A Guarda Costeira do país conseguiu recuperar os corpos que estavam em um bote de madeira que partiu da estação balneária de Ayvalik (noroeste) com destino à ilha grega de Lesbos, segundo a agência.

As equipes de emergência também resgataram 25 passageiros da embarcação, que pediram ajuda com seus telefones celulares.

Mais cedo, a Guarda Costeira da Grécia anunciou a morte de quatro migrantes, três crianças e uma mulher, no naufrágio de uma embarcação no mar Egeu.

Onze pessoas que estavam no mesmo bote foram resgatadas e as equipes de emergência procuram uma criança que está desaparecida.

Quase 300 migrantes morreram no mar Egeu em 2015, durante tentativas de fugir dos conflitos e da pobreza em seus países, informou a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

Mais de 600.000 migrantes atravessaram o Mediterrâneo desde janeiro, segundo a OIM, sendo que mais de 466.000 desembarcaram na Grécia. Mais de 3.000 pessoas morreram na travessia.

Fonte: Diário de Canoas
http://www.diariodecanoas.com.br/_conteudo/2015/10/noticias/mundo/230218-candidata-a-prefeita-na-alemanha-e-esfaqueada-por-receber-refugiados.html

Ver mais:
Polícia alemã suspeita de xenofobia em ataque a Reker (Terra/DW)

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Sobre comentários xenófobos na DW Brasil

Estou transcrevendo pra cá o comentário extra que fiz no post sobre o chute da repórter húngara do Jobbik. Sobre comentários xenófobos na DW Brasil proferidos principalmente por brasileiros, alguns inclusive vivendo na Alemanha. Há que separar o joio do trigo pois há vários brasileiros vivendo na Alemanha que não têm nada a ver com a postura dessa minoria de imbecis, justamente por isso serve o alerta já que na versão em inglês dessa publicação ela costuma fazer uma limpa dos comentários desse tipo ou chamar atenção, fora que há órgãos alemães monitorando as verões dessas publicações em inglês e alemão, resta saber se verificam também as em português.

Os ataques xenófobos são variados. Quando há publicação sobre nazismo e Holocausto aparecem os germanófilos pró-nazi com antissemitismo e afins. Quando há publicação sobre refugiados da Síria, a xenofobia é direcionada a muçulmanos e tudo o que se possa imaginar, coisa pesada mesmo, fora os comentários dos que sofrem complexo de vira-lata agudo atacando tudo do país com uma idealização (de Cinderela) que beira o ridículo de outros países, algo sem propósito que torna a convivência com essas pessoas insuportável (impossível), fora que, é desagradável ler uma publicação e já estar entupida de porcaria xenófoba de cima abaixo. A revista não está tratando como deve o país. E por favor (a quem queira vir chiar), eu não sofro de "vira-latice", comigo esse papo de "Brasil é uma merda" não causa comoção alguma a não ser desprezo profundo. Sim, eu sei que o país tem problemas, todos os países do mundo têm, mas não é com lamúrias que vocês irão mudar isso, não é torrando a paciência alheia atacando e menosprezando o país que irão mudar coisa alguma, se é que querem pois o vira-lata convicto quer mesmo a piedade alheia e isso eu jamais darei porque é falta de vergonha na cara. Sempre houve uma diferença entre críticas (sérias) ao país e choradeira de gente com complexo de vira-lata comentando idiotice, não são coisas iguais.

Como disse acima, espero que os órgãos alemães que leem estas publicações verifiquem o conteúdo xenófobo dessa brasileirada sem noção, pois sem noção ou não, estão incitando ódio de outro país e isso é crime na Alemanha, e no Brasil, mas aqui o Ministro Soneca (o Ministro da Justiça, Eduardo Cardozo) nunca fez nada, nem os ministros anteriores a ele sobre esse tipo de problema, tratam o problema com descaso até acontecer algo mais sério e serem cobrados por isso.

Sem mais delongas, transcrevo o comentário que fiz no outro post abaixo, pois acho melhor colocar comentários longos como posts à parte, facilita de ler o post original. Publicado originalmente aqui:
O ataque da repórter do Jobbik (extrema-direita) na Hungria aos refugiados
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2. Vou fazer outro relato de problema referente à xenofobia, agora vindo de brasileiros, mas se for melhor colocar num post à parte depois eu transfiro, que é sobre a presença de comentários xenófobos e racistas na edição da DW (Deutsche Welle) em português ou DW Brasil, comentários de brasileiros que fariam o cabo Adolfo (Hitler) corar de inveja com o conteúdo dos comentários. Eu acho que este segundo relato será removido depois e ficará em um post só pra retratar a DW, mas o antecipo aqui.

Não vou nem ressaltar a ignorância e estupidez da maioria dos que proferem os ataques, embora isso não "limpe a barra" deles (a intenção é a que conta), pois são muito, mas muito ignorantes. Não sabem absolutamente nada sobre o que se passa e se metem e emitir opinião cheia de preconceito pra querer "mostrar que existe". Que forma de inclusão esdrúxula esse pessoal "pratica", a pior possível, são orgulhosos da própria ignorância e falam com uma petulância fora do comum quando antes gente estúpida costumavhttps://draft.blogger.com/blogger.g?blogID=936216226993954018#allpostsa ter medo de dizer algo pra não passar por burro em público.

É uma enxurrada de comentários agressivos (xenófobos, preconceituosos etc), não são poucos. Alguns estão na Alemanha inclusive e poderiam (e deveriam) ser enquadrados em leis antirracismo naquele país, pra tomarem no mínimo vergonha na cara e não acharem que podem defecar imundície por alguma brecha que dão pois na frente dos outros devem posar de "anjinhos". Eles atacam longe dos olhos do pessoal daquele país se valendo da arena "vale-tudo" de extremismo que virou o país (Brasil) com esse Ministro da Justiça omisso (pra não usar outro termo), o Zé Cardozo ou Zé da "Justiça", o "petista" querido da mídia oligopolizada e seu "republicanismo" seletivo, uma nova "noção" de "justiça" (entre aspas).

Caso algum órgão alemão que trate dessas questões leia o blog, a DW precisa tomar uma chamada pois adota dois pesos e duas medidas no tratamento do problema. Na edição em inglês ela é cheia de dedos e corta os ataques aparentemente ou chama atenção, pra parecer zelosa, na versão do Brasil ela deixa a selvageria (racismo e xenofobia) rolar solta. Estão de "brincadeira", mas isso tem que ter fim.

Como já frisei, boa parte dos ataques xenófobos, racistas e sectários (tem ataque religioso no meio vindo de fanáticos) são feitos por brasileiros, ataques com viés de extrema-direita (o conteúdo), mas não é de gente ligada a agremiações fascistas, aparentemente (fascista no sentido literal do termo, tema tratado no blog), esse pessoal aparenta ser gente "comum", fazendo ataques e todo tipo de cretinice possíveis por estarem longe dos olhos do pessoal na Alemanha, teoricamente. Alguns residem na Alemanha o que permite o Estado alemão processá-los por crimes de ódio já que estão usando território alheio pra praticar patifaria e sujar a imagem do país, embora achem que estão "abafando", má educação e canalhice (preconceito) agora virou sinônimo de "status" pra esse pessoal.

Segue a tradução da matéria abaixo da jornalista fascista húngara pois evito, quando dá, colocar links de jornal do país justamente pela questão do oligopólio de mídia. Restou poucas mídias no Brasil pra se usar.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Alemanha tem série de protestos contra suposta "islamização" do país

Em Dresden, 10 mil pessoas participam de caminhada organizada por autodenominados "europeus patriotas". Manifestação contrária reúne cerca de 9 mil pessoas.
Manifestação convocada pelo grupo Pegida em Dresden, no leste da Alemanha
Uma série de protestos contra uma suposta "islamização" da Alemanha atingiu seu ápice até o momento nesta segunda-feira (08/12), quando um ato organizado pelo grupo Pegida reuniu cerca de 10 mil pessoas em Dresden, no leste do país, segundo cálculos da polícia.

Na mesma cidade, em torno de 9 mil pessoas protestaram contra o movimento, no qual veem sinais de xenofobia, nacionalismo e intolerância religiosa. Pegida é uma sigla em alemão para "Europeus patriotas contra a islamização do Ocidente". Entre outras bandeiras, defende o endurecimento das leis para asilo.

Manifestações semelhantes aconteceram em Düsseldorf, no oeste, reunindo cerca de 500 pessoas do lado do grupo Pegida e em torno de 750 do outro, segundo cálculos da polícia. Apesar de os integrantes do Pegida negarem que extremistas de direita façam parte do grupo, ao menos em Düsseldorf alguns manifestantes eram oriundos da cena neonazista.

Em Dresden, a manifestação contra o grupo Pegida foi organizada pelas igrejas cristãs, por organizações judaicas e islâmicas, por estudantes e pela universidade local.

Apesar de alguns pequenos conflitos entre os dois lados em Dresden, todas as manifestações desta segunda transcorreram sem o registro de incidentes graves pela polícia.

Os protestos contra a "islamização" começaram em Dresden, há oito semanas, e são realizados sempre às segundas-feiras. Chama a atenção que o estado da Saxônia, do qual Dresden é a capital, praticamente não tem muçulmanos. Eles representam 0,1% da população local, segundo o último censo. Quase todos os muçulmanos que vivem na Alemanha estão no lado ocidental.

Apesar de os membros do Pegida fazerem questão de ressaltar que não possuem relações com a extrema direita, o partido extremista NPD já declarou ter simpatia pelos protestos. O partido eurocético Alternativa para a Alemanha (AfD) afirmou entender os motivos dos manifestantes.

Cartazes pedem fim da "islamização da Europa"
AS/dpa/afp/ots

Fonte: Deutsche Welle (Alemanha)
http://www.dw.de/alemanha-tem-s%C3%A9rie-de-protestos-contra-suposta-islamiza%C3%A7%C3%A3o-do-pa%C3%ADs/a-18117431

quinta-feira, 27 de março de 2014

"Acredite e destrua. Os intelectuais da máquina de guerra da SS" (livro, Christian Ingrao)

Le Monde | 30.09.2010 às 11:33 • 30.09.2010 Atualizado às 11:33 | Por Thomas Wieder

Erich Ehrlinger. Um nome bastante esquecido. É interessante ver tudo o que foi feito por ele. Com 34 anos de idade em 1944, ou seja, com a vida pela frente, passou a guerra no Einsatzgruppen cruzando a Europa Oriental para abater judeus, com a vantagem de ser discreto. O ex-oficial da SS não se saiu mal. Servindo como croupier no cassino de Constança, em 1950, ele certamente acertará contas com seu passado em 1963 sendo condenado a 12 anos de prisão. Mas a Corte de Apelação seria favorável a ele e ele será solto em 1965, muito antes de morrer em 2004, às vésperas de seus 84 anos.

Se Christian Ingrao, diretor do Instituto de História Contemporânea (CNRS), ficou interessado na trajetória de Erich Ehrlinger, não foi só porque ele ilustra perfeitamente os erros da justiça alemã pós-guerra. Nem porque esclarece as "estratégias" desenvolvidas pelos algozes para enfrentarem seus juízes - estratégias variadas, que variaram da simples "negação" de seus crimes, passando pela "justificação", através da "fuga" de várias formas (rejeição da responsabilidade sobre os outros, manobras processuais etc.).

Não, o interesse de Christian Ingrao está em outro lugar/período. Antes do pós-1945 e antes do pré-1939. O que fascina em Ehrlinger, não é que ele fora um bruto sanguinário. É que ele também fora um advogado brilhante. E mostra, a partir deste ponto de vista, um perfil muito comum: como o autor destaca, e cuja a originalidade do estudo é descrever as trajetórias de 80 executores da aplicação da lei do Terceiro Reich, 60% deles estudaram em universidade. 30% eram doutores - de direito ou economia, muitas vezes.

Um intelectual pode ser um carrasco, isto não é uma novidade. Mas a maior parte dos "arquitetos da aniquilação", nas palavras dos historiadores Götz Aly e Susanne Heim, vieram das fileiras da "excelência", o que rompe com a crença convencional enquanto forma outro problema real. A crença, herdada da historiografia e dos desejos populares do pós-guerra, mostra que líderes nazistas eram desclassificados, loucos ou rebaixados. Agora sabemos que a realidade é mais complexa: o estudo de Christian Ingrao é parte de uma tendência recente de pesquisa que enfatiza o envolvimento dos líderes tradicionais na política nazista de repressão. Suas conclusões são, por exemplo, semelhantes às de Wolfram Wette que, em um livro recente, lembrou que o exército não tinha sido uma espécie de casta aristocrática imunizada contra o veneno nazista, mas tinha voluntariamente participado dos piores abusos do regime (The crimes da Wehrmacht , Perrin, 2009) .

A questão colocada por Ingrao é esta: houve ruptura ou continuidade entre a formação do futuro SS e seu compromisso com as autoridades policiais do Reich? Para o historiador a resposta é clara. Alguns, é claro, agiram de forma oportunista, mas isto não foi um fator determinante - ou nós não entendemos porque eles passaram a integrar a SD, o serviço de inteligência da SS, quando este ainda era embrionário ...

Portanto, não havia outra coisa. E esta outra coisa é o que Ingrao, usando uma noção de seu supervisor de tese Stéphane Audoin-Rouzeau, chama de sua "guerra cultural". A cultura surgida após o "trauma" de 14-18, caracterizando-se pelo que o autor descreve como "ansiedade escatológica": a idéia de que a Alemanha estava em eminência de morte, sua integridade territorial e sua pureza racial estavam ameaçadas, e que, portanto, deve-se eliminar aqueles que trabalham por sua destruição.

Esta cultura chamada "völkisch", tanto nacionalista quanto racista, não espera pelo advento de Hitler para se cristalizar. Através de um estudo cuidadoso da universidade alemã da década de 1920, Christian Ingrao mostra como a 'nazistificação' de espíritos precedeu a do Estado. E a habilidade com que os fundadores do Reich foram capazes de confiar a essas jovens elites intelectuais para promoverem seu trabalho e satisfazerem suas ambições para implementar seus projetos sinistros. Elites que se juntaram totalmente ao projeto de Hitler. E, portanto, não eram burocratas desprovidos dessas crenças, que é uma imagem presente nas reflexões sobre a "banalidade do mal" da filósofa Hannah Arendt.

Isto é o que levanta grande interesse nesta biografia coletiva -, mas algo que a torna profundamente perturbadora: lembre-se que o nazismo provocou uma enorme "fervor". Não só entre as massas embrutecidas mas também entre aqueles que podem ter a esperança de que a inteligência e a cultura sejam baluartes contra a abjeção.

CROIRE ET DÉTRUIRE. LES INTELLECTUELS DANS LA MACHINE DE GUERRE SS (tradução livre: "Acredite e destrua. Os intelectuais da máquina de guerra da SS"), de Christian Ingrao. Fayard, 522 p.,.

Destacando também a publicação da pesquisa de Michael Prazan com os Einsatzgruppen (Seuil, 572 p.,), e a extensão do livro com um excelente documentário transmitido no canal France 2 em 2009.

"Croire et détruire. Les intellectuels dans la machine de guerre SS", de Christian Ingrao. Quando o nazismo fascinou os intelectuais. Thomas Wieder

Título da versão em inglês: Believe and Destroy: Intellectuals in the SS War Machine (Link)

Fonte: Le Monde (França)
http://www.lemonde.fr/livres/article/2010/09/30/croire-et-detruire-les-intellectuels-dans-la-machine-de-guerre-ss-de-christian-ingrao_1418097_3260.html
Tradução: Roberto Lucena

Observação: depois de achar este texto acabei achando outros (críticas) com mais detalhes sobre esse livro que trata de um problema relevante sobre o nazismo pois a imagem reproduzida do mesmo aponta que quem participou da máquina de extermínio nazi era gente com pouca instrução, perturbada etc, e isso é só um estereótipo e senso comum. A máquina de matar nazi era composta por gente com curso superior e boa formação, Mengele, por exemplo, era médico, Goebbels era formado em filosofia, e isso é que é o mais perigoso e intrigante pois põe por terra o pessoal que repete crenças de que os nazis e seus apoiadores eram formados por gente simplória etc pois a repetição desse senso comum cria uma névoa perigosa sobre os bandos que professam essa coisa, há gente muito estúpida no meio desses bandos mas nem todo fascista é propriamente estúpido (na acepção do termo). Como eu já havia começado a traduzir o texto acima, paciência, fica pruma próxima se eu conseguir colocar outro texto com mais detalhes desse livro, que obviamente não foi traduzido e lançado no Brasil.

Muitas editoras no Brasil estão mais preocupadas em fazer politicagem (ficar promovendo o que os donos delas seguem politicamente e ideologicamente) lançando "livros toscos" panfletários do que dar atenção a lançar livros de peso geralmente lançados em outros idiomas. Eu já comentei sobre isso antes em outros posts mas vou sempre enfatizar o problema pois como a coisa persiste não há que ter "meio termo" com isso, ou mudam de postura ou vão sempre receber crítica pesada.

Lançam panfletos da guerra fria como o panfleto do Suvorov (pseudônimo de Vladimir Rezun, assunto a ser tratado noutra oportunidade, tem muito texto sobre esse picareta) sobre a segunda guerra (livro de cabeceira de muito neonazi), ajudando a forjar ainda mais um ambiente de extremismo político no Brasil, já que o país é carente de publicações de peso sobre esses temas (segunda guerra, história militar etc), educação humanista e de qualidade, enquanto o lançamento de panfletos em forma de livros e de livros de conteúdo duvidoso(ruins, de baixa qualidade, conspiratórios, de crendices) abundam formando uma massa alienada, intolerante, raivosa e dogmática, que vivem numa espécie de bolha, com 'opinião formada' sobre tudo, mesmo que não entendam coisa alguma do que comentam. Ou se entendem ficam tentando promover cartilhas políticas pra doutrinação de extrema-direita principalmente (em suas vertentes, neoliberal, fascista etc) com um forte viés anti-democrático e paranoico com discurso datado (e mofado) da guerra fria.

Eu finco posição (finco o pé) contra isso abertamente, quem não gostar que se exploda ou que critique ou rebata isso com argumentos e não com chiliques ou contorcionismo retórico. Quem achar que virá aqui levar as pessoas na conversa com pregação política via retórica, quebra a cara, dá pra desmontar esse tipo de discurso fácil embora seja um saco, é o tipo de discussão estúpida e idiota. Deveriam entender que não é tão difícil (embora seja extremamente idiota como eu disse antes) discutir política com gente que fica presa a cartilhas, esquemões e literatura questionável tentando fazer pregação dogmática de política sem entender o significado dos termos e contexto histórico do que é discutido.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Extrema-direita francesa promete bloquear UE se vencer eleições em maio

Eleições/Parlamento UE - Artigo publicado em 27 de Janeiro de 2014 - Atualizado em 27 de Janeiro de 2014.

Florian Philippot, vice-presidente da Frente Nacional. RFI
O vice-presidente do partido de extrema-direita Frente Nacional (FN), Florian Philippot, disse nesta segunda-feira (27) que a legenda vai "bloquear o funcionamento da União Europeia", se sair vencedora das eleições para o Parlamento Europeu, marcadas para o mês de maio. "Será uma crise salutar", declarou o número 2 do partido de Marine Le Pen, após a divulgação de uma pesquisa apontando a extrema-direita em primeiro lugar nas intenções de voto entre os eleitores franceses.

Uma pesquisa do instituto Ifop divulgada no domingo (26), no jornal francês JDD, revela que as listas dos partidários da FN têm 23% de intenções de voto, contra 21% para o partido de direita UMP e 18% do Partido Socialista (PS) e do Partido Radical de Esquerda (PRE).

"Na noite de 25 de maio [dia da votação], os patriotas serão o primeiro partido da França", festejou Philippot. O político de 32 anos é uma das "caras novas" do partido de extrema-direita "reformulado" por Marine Le Pen, filha de Jean-Marie Le Pen, fundador da legenda xenófoba e isolacionista que a nova geração tenta transformar num partido frequentável.

Historicamente, a Frente Nacional é identificada como um partido de extrema-direita xenófobo, antissemita e anti-imigração, particularmente com a proveniente de países muçulmanos do norte da África.

"Somos o único partido que encarna uma outra via. Todos os demais partidos, da UMP ao PS e seus satélites, seguem uma linha euro-fanática", disse Philippot. Ele acrescentou que o "patriotismo está crescendo em vários países da Europa, como Áustria, Dinamarca, Suécia, Grã-Bretanha, Holanda e Bélgica". "Nossa intenção é de bloquear a Europa e faremos isso sem nenhum peso na consciência", declarou Philippot.

"Se houver uma crise na União Europeia, ela será salutar", concluiu o número 2 da FN.

Fonte: RFI
http://www.portugues.rfi.fr/europa/20140127-extrema-direita-francesa-promete-bloquear-ue-se-vencer-eleicoes-em-maio

Ver mais:
Extrema-direita à frente para as europeias em França (Expresso, Portugal)
Vitória da extrema-direita em eleição local na França é advertência para socialistas e conservadores (RFI)

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Deputado franco-brasileiro é alvo de preconceito da extrema-direita

França/Polêmica - Artigo publicado em 05 de Agosto de 2013 - Atualizado em 05 de Agosto de 2013
Deputado franco-brasileiro é alvo de preconceito da extrema-direita

O deputado e porta-voz do Partido Socialista,
Eduardo Rihan Cypel, nasceu em Porto Alegre
e mora na França desde seus dez anos de idade.
DR - RFI
O deputado e porta-voz do Partido Socialista (PS), o franco-brasileiro Eduardo Rihan Cypel, foi alvo de duras críticas do deputado europeu e integrante do partido de extrema-direita Frente Nacional (FN), Bruno Gollnisch. O assunto vem sendo destacado pela imprensa francesa nos últimos dias. Em um vídeo postado em seu blog na última sexta-feira, dia 2 de agosto, Gollnisch descreve Cypel como "um francês recente" e que o faz pensar "nesse tipo de pessoa que se convida em casa e que, uma vez que ela se habituou, quer convidar todo mundo".

Eduardo Rihan Cypel é natural de Porto Alegre (RS) e vive na França, para onde veio com seus pais, desde seus dez anos de idade. Em 1996, com 22 anos, ele obteve a nacionalidade francesa. Desde 2004, ele integra o PS. Em 2012, ele participou da campanha presidencial de François Hollande, encarregado das questões de imigração. No mesmo ano, ele se elegeu deputado da localidade de Seine-et-Marne, na grande região parisiense.

De acordo com Gollnisch, a França financiou a educação de Cypel para que ele pudesse aprender francês. "Não se creia autorizado à estigmatizar aqueles que pensam que há muitos nômades na França", aqueles que "reclamam de encontrar a cada dia mais estrangeiros em seu próprio país", diz o deputado de extrema-direita.

O franco-brasileiro reagiu às declarações em sua conta no Twitter. "Eu sei o que devo à França, senhor Gollnisch: é defender seus cidadãos e seus valores republicanos contra pessoas como você", publicou neste sábado, dia 3 de agosto.

Ignóbil tradição

Os socialistas defenderam Cypel publicamente, e classificaram as acusações de Gollnisch como "insuportáveis". Para o primeiro secretário do PS, Harlem Désir, "os propósitos que visam a origem de um responsável político e de um parlamentar francês se inscrevem na ignóbil tradição da extrema-direita francesa".

Para o PS, este tipo de declaração "mostra que a Frente Nacional é um partido profundamente anti-republicano que quer realizar uma triagem inaceitáveil entre os franceses em função de suas origens. O partido também acredita que a presidente do FN "provavelmente não sancionará essa nova derrapagem de Gollnisch".

Fonte: RFI
http://www.portugues.rfi.fr/geral/20130805-deputado-franco-brasileiro-e-alvo-de-preconceito-da-extrema-direita

terça-feira, 30 de julho de 2013

França bane mais dois grupos de extrema-direita - Oeuvre Française

O governo socialista da França baniu outro grupo de extrema-direita junto com sua milícia jovem depois do assassinato do ativista antifascista Clément Méric. A Oeuvre Française (Obra Francesa) e o Jeunesses Nationalistes (Juventude Nacionalista) são milícias privadas que pregam racismo, antissemitismo e xenofobia, de acordo com o Ministro do Interior Manuel Valls.

Fundada em 1968, a Oeuvre française é o mais antigo dos muitos grupúsculos da extrema-direita francesa.

A organização é abertamente antissemita e já esteve envolvido em algumas das manifestações mais radicais contra a lei deste ano sobre o casamento gay, como na interrupção de uma reunião que um dos arquitetos da lei, o deputado socialista Erwann Binet, deveria abordar.

A Jeunesses Nationalistes foi fundada em 2011 sob a liderança de Alexandre Gabriac, um conselheiro regional em Rhône-Alpes who que foi expulso da Frente Nacional de Marine Le Pen após fotos com ele fazendo a saudação nazista tornarem-se públicas.

As duas organizações são mais ativas na cidade francesa de Lyon.

O grupo mais velho "propaga uma ideologia xenófoba e antissemita e ideias racistas e negacionistas (negação do Holocausto)" e declara seu apoio a líderes do regime colaboracionista do Marechal Philippe Pétain durante a ocupação alemã da França (República de Vichy), Valls disse a repórteres, após uma reunião de gabinete na quarta-feira, que votou a favor da proibição .

Ministro do interior francês Manuel Valls fala com
jornalistas depois do encontro de gabinete da
quarta-feira. Reuters/Philippe Wojazer. por RFI
"Este grupo é organizado como uma milícia privada com campos de treinamento de estilo militar", disse ele, acrescentando que a Jeunesses Nationalistes "propaga ódio e violência, glorifica a colaboração e presta homenagem a milícias [Pétainistas] e as Waffen-SS".

Gabriac, por exemplo, continuou desafiador.

"A crença de que a proibição de nossos grupos, com um pedaço de papel, vai parar a nossa determinação e nosso progresso é uma fantasia", twittou ele. "O futuro é nosso."

Após a morte de Méric mês passado, o governo proibiu as três organizações mais implicados no assassinato, a Troisième Voie, a Jeunesses Nationalistes Révolutionnnaires e a Envie de Rêver.

A Envie de Rêver apelou contra sua dissolução ao Conselho de Estado, o mais alto tribunal de recurso na França, com o fundamento de que a proibição se tratava de um abuso de poder.

Fonte: RFI
http://www.english.rfi.fr/france/20130724-france-bans-two-more-far-right-groups
Tradução: Roberto Lucena

Observação: não saiu nenhuma matéria no país sobre isso.

Quem quiser ler mais detalhes sobre o assunto, conferir o texto do blog Droite(s) extrême(s) sobre o caso (em francês):
Dissolution de l’Oeuvre française, plus ancien groupe d’extrême droite en activité (Le Monde, França)

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Ministra negra força a Itália a encarar o próprio racismo

União Europeia. Ministra negra força a Itália a encarar o próprio racismo

Ministra da Integração Cécile Kyenge incita ódio da direita italiana por sua defesa dos imigrantes – e por sua cor de pele. Histórico nacional de racismo é de longa data, mas há sinais de mudança.

Desde que foi nomeada como primeira chefe de ministério negra da Itália, em abril último, Cécile Kashetu Kyenge tem sido vítima de observações de cunho racista e sexista por parte de membros da Liga Norte (LN), partido populista de direita que, entre outras bandeiras, é contra a imigração. Seus insultos incluem "macaca congolesa" (a ministra da Integração nasceu e cresceu na República Democrática do Congo) e "membro do governo bonga-bonga".

Uma semana atrás, após sugerir que os imigrantes seriam responsáveis pelos piores crimes na Itália, a conselheira municipal de Pádua, Dolores Valandro, não hesitou em postar no Twitter: "Não há ninguém que estupre a Kyenge para ela entender o que sentem as vítimas de um crime atroz assim?".

"Piada infeliz"

Roberto Calderoli: "Não estou
dizendo que ela seja um
orangotango"

Neste sábado (13/07) o jornal Corriere della Sera noticiou que o vice-presidente do Senado italiano, Roberto Calderoli, declarara durante um comício que Kyenge "estaria melhor trabalhando como ministra no próprio país dela".

Em seguida, o político da Liga Norte comparou as feições da política de 49 anos às de um primata. "Eu adoro animais, ursos e lobos, como se sabe, mas quando vejo as fotos de Kyenge, não consigo deixar de pensar na cara de um orangotango – embora eu não esteja dizendo que ela seja um."

Instado pela agência de notícias italiana Ansa a explicar as injúrias, Calderoli replicou que se tratara de "uma piada infeliz", feita durante um comício, nada mais.

O peso das palavras

(Foto) Ministra Kyenge entre o presidente
Napolitano (e) e o premiê Letta
O primeiro-ministro Enrico Letta, de centro-esquerda, expressou solidariedade com a ministra, classificando o comportamento como inaceitável. Kyenge por sua vez, declarou ao Corriere que não exigia a renúncia de Calderoli, mas que todos os políticos devem "refletir sobre o seu uso da linguagem" e que "palavras têm peso", pois, afinal, estão "falando em nome dos cidadãos e representando a Itália". Enfim, chega um momento em que "é preciso dizer basta", concluiu.

Cécile Kyenge, que vive desde 1983 na Itália, onde também se formou como oftalmologista, afirmara, em junho, que não tem medo. "Há insultos e ameaças contra mim porque agora estou numa posição visível, mas, na verdade, são ameaças contra qualquer um que resista ao racismo, que resista à violência."

Na qualidade de ministra da Integração, ela pretende lançar uma lei facilitando, aos filhos de imigrantes ilegais, sua naturalização como italianos. Tal agenda política enfurece boa parte dos italianos e, segundo certas fontes, até transformou alguns em opositores radicais da imigração.

Tradição do politicamente incorreto

No entanto, comentários racistas e sexistas não são raridade na Itália, sendo tolerados em silêncio, fora da política. Nos estádios de futebol, por exemplo, praticamente "fazem parte do jogo".

Dois meses atrás, o jogador Mario Balotelli também resolveu dizer "basta": não mais suportando os cantos racistas entoados pelas torcidas, o atacante do Milan e craque da seleção nacional ameaçou deixar o campo, caso fosse insultado mais uma vez devido à cor de sua pele. Em ocasiões passadas, outros jogadores italianos e até mesmo times inteiros já protestaram dessa forma.
Craque Balotelli (d): "basta" aos slogans racistas
Um argumento para relativizar o problema é que, enquanto outros países já vêm enfrentando as questões de integração há décadas, o afluxo de imigrantes à Itália é relativamente recente – em 1990 a população só incluía 2% de estrangeiros, hoje essa taxa é de 7,5%.

A própria Kyenge permaneceu cautelosa, ao ser indagada, numa coletiva de imprensa, se a Itália é um país racista. "É uma questão complicada. Tenho sempre dito que a Itália [...] precisa saber mais sobre migração e o valor da diversidade, e talvez o que mais falte aqui seja uma cultura da imigração. Só depois de um país haver processado essas coisas é que se pode dizer se ele é racista ou não."

Sinais de mudança?

James Walston, analista político especializado em sociedade italiana da America University, em Roma, vê uma luz no fim do túnel da intolerância nacional: "O aspecto positivo dessa linguagem extremamente desagradável é que outras pessoas, que estão tão ofendidas quanto [Kyenge], expressam isso e a apoiam."

Referindo-se ao caso Valandro – que custou à conselheira não apenas duras críticas, como também sua exclusão do partido – Walston acrescentou: "Quando uma política da Liga Norte diz que Kyenge devia ser estuprada, não são apenas os liberais – simpáticos e bonzinhos – que ficam chocados, mas também os próprios líderes partidários [da LN] têm que dizer que isso é inaceitável e a expulsá-la do partido".

Imigrantes africanos são raramente bem-vindos
Para o politólogo, a projeção crescente dos imigrantes vem forçando a sociedade italiana a encarar de frente seu racismo casual, longamente tolerado. Ele lembra que três outros membros do atual Parlamento também nasceram no exterior. E que o recém-eleito prefeito da cidade de Vicenza, no norte – um celeiro de adeptos da LN – é um imigrante, substituindo seu antecessor abertamente racista.

Walston aponta mais um indício de que as coisas estariam mudando: quando em junho, num surto psicótico, um refugiado africano assassinou vários italianos a machadadas, em Milão, a Liga Norte imediatamente foi recrutar adeptos na área. No entanto, os neofascistas foram expulsos pelos moradores, furiosos de que alguém se aproveitasse da tragédia para incitar o ódio contra os imigrantes.

Fonte: Deutsche Welle (Alemanha)
http://www.dw.de/ministra-negra-for%C3%A7a-a-it%C3%A1lia-a-encarar-o-pr%C3%B3prio-racismo/a-16952401

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Primeira ministra negra da Itália enfrenta ofensas racistas

Cecile Kyenge, cidadã italiana originária da República Democrática do Congo, respondeu a insultos dizendo ter orgulho de ser negra e que Itália não é realmente um país racista
Reuters | 03/05/2013 17:33:09 - Atualizada às 04/05/2013 09:43:50

AP. Ministra italiana da Integração, Cecile Kyenge, é
vista na câmara baixa do Parlamento, em Roma
(29/04)
A primeira ministra negra da Itália respondeu a uma enxurrada de insultos sexistas e racistas dizendo que tem orgulho de ser negra, não "de cor", e que a Itália não é realmente um país racista.

Cecile Kyenge, uma oftalmologista e cidadã italiana originária da República Democrática do Congo (RDC), foi nomeada ministra da Integração pelo primeiro-ministro Enrico Letta no sábado, sendo uma das sete mulheres no novo governo.

Desde então, tem sido alvo de provocações em sites de extrema direita que a têm rotulado com nomes como "macaco congolês", "Zulu" e "a negra anti-italiana".

Ela também enfrentou insultos com toques de racismo de Mario Borghezio, membro da Liga do Norte no Parlamento Europeu, que no passado foi aliado do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi .

Em referência a Cecile, Borghezio chamou a coalizão de Letta de "governo bonga bonga" - uma brincadeira com o termo "bunga, bunga", atribuído a Berlusconi - e disse que ela parecia ser "uma boa dona de casa, mas não uma ministra".

Cecile rejeitou os comentários, que a presidente da Câmara dos Deputados do país, Laura Boldrini, qualificou como "vulgaridades racistas". Cecile planeja pressionar por uma legislação, a qual a Liga se opõe, que permitiria às crianças nascidas na Itália de pais imigrantes obter a cidadania automática em vez de ter de esperar até os 18 anos para reivindicá-la.

"Cheguei sozinha à Itália aos 18 anos, e não acredito em desistir diante de obstáculos", disse Cecile, que deixou o Congo para que pudesse prosseguir os seus estudos em Medicina.

Ela também rejeitou o termo "de cor", usado para descrevê-la em muitos matérias na imprensa italiana, dizendo: "Não sou colorida, sou negra e digo isso com orgulho."

Cecile, que é casada com um italiano, disse não ver a Itália como um país particularmente racista e acreditava que as atitudes hostis derivavam principalmente da ignorância.

Laura declarou a um jornal nesta sexta que recebe ameaças de morte online diariamente e um fluxo de mensagens contendo imagens sexualmente ofensivas. "Quando uma mulher ocupa um cargo público, a agressão sexista dispara contra ela, sejam simples fofocas ou violentas... sempre usam o mesmo vocabulário de humilhação e submissão", disse Laura ao jornal La Repubblica.

Fonte: Reuters/IG
http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2013-05-03/primeiro-ministra-negra-da-italia-enfrenta-ofensas-racistas.html

Observação: a declaração que o senador racista italiano fez foi esta "Senador italiano compara ministra negra a orangotango", comparou a ministra a um "macaco", insulto clássico racista em relação a negros. E obviamente que essas "desculpas" dele são balela.

Como o assunto acima remete à Itália, acho que é oportuno falar da questão do racismo nesses países do Mediterrâneo (Grécia, Itália, Portugal, Espanha) e da possível conexão disso com o Brasil e os grupos de extrema-direita de cunho fascista. Boa parte dos grupos de extrema-direita tem presença relevante de descendentes de italianos de posicionamento ideológico fascista ou ultraconservador, digo isso em cma do que observei da presença deles no Orkut e pela web (e deveria ter tirado print de cada perfil pra mostrar a quantidade). Tenho o hábito de sempre prestar atenção aos sobrenomes e origem dos mesmos e a presença de sobrenomes italianos nesses grupos é considerável, ao contrário do que a mídia brasileira divulga erroneamente (por conta das "fontes" que usa como referência) apontando o fenômeno do neonazismo no Brasil como algo ligado estritamente a descendentes de alemães e a região Sul do país. Foi por conta disto que fiz questão de colocar a entrevista do historiador René Gertz comentando essa distorção.

A mídia brasileira, ou quem apura isso, não sei se por ignorância, estupidez ou pra mascarar o problema, sempre direciona o problema pra uma direção (região Sul do país) e deixa de lado o foco do problema de que o maior volume dessa extrema-direita se situa no estado de São Paulo e não na região Sul, fora os problemas de preconceito regional que estão totalmente ligados a este problema como também da proliferação de antissemitismo e de outros preconceitos. Mas isso é assunto pra outro post, a discussão sobre essa questão da extrema-direita brasileira. Ainda há um texto da DW sobre o problema a ser colocado.

E pra deixar claro pois alguém desavisado (ou por má fé) pode interpretar mal a observação porque é um assunto delicado e que o governo brasileiro (de todas as esferas) e mídia não falam abertamente na questão mesmo sabendo que existe, com o famoso "vamos fazer de conta que não existe nada e que o Brasil é o paraíso da "democracia racial" e que problemas desse tipo é coisa da Europa", o problema não é quanto a descendente de qualquer grupo no país e sim sobre como esse problema pode se formar e da ligação com os setores de extrema-direita. Eu ia publicar um texto que achei de historiadores falando dessa questão (dos nichos étnicos e imigração pro Brasil), mas acabei deixando de lado e pra achar no rascunho não está fácil, mas um dia quando encontrar de novo os textos, tentarei publicar.

Ver mais:
Primeira ministra negra da Itália enfrenta ofensas racistas (Terra)
Itália: ministra vítima de racismo diz que não pedirá demissão de político (EFE/Terra)
Itália: senador pede perdão no Parlamento por insulto racista à ministra (AFP/Terra)
Premiê italiano pede fim de insultos racistas contra ministra negra (Reuters)

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Neonazismo alemão apresenta sua nova face

As meninas do Reich. 11/05/2013 | 17h01
O julgamento de Beate Zschäpe, o mais importante das últimas décadas contra um grupo neonazista alemão, evidenciou o papel feminino nada secundário no extremismo xenófobo do século 21


Figura central da Clandestinidade Nacional Socialista, Beate morou com militantes que teriam se suicidado Foto: CHRISTOF STACHE / AFP
Léo Gerchmann

leo.gerchmann@zerohora.com.br

Professora universitária em Frankfurt, na Alemanha, Michaela Köttig, cujo nome consta na lista negra de grupos neonazistas (eles não têm a imagem dela, e ela não se deixa fotografar), vê se comprovar a tese que defende com ardor: a de que as mulheres jamais se limitaram e continuam não se limitando a papéis secundários no extremismo xenófobo. Mais do que isso: para surpresa de quem imagina a Alemanha imune ao vírus letal do nazismo por conta dos anticorpos adquiridos 70 anos atrás, na II Guerra Mundial, Michaela sustenta que skinheads e assemelhados não são meros casos de polícia. Refletem uma mentalidade ainda presente nas famílias e nas instituições alemãs.

O fato que corrobora os 20 anos de estudos acadêmicos da professora alemã é o atual julgamento, em Munique, da neonazista Beate Zschäpe, uma das fundadoras e líderes do grupo Clandestinidade Nacional Socialista (CNS). Beate e seus comparsas são acusados de terem matado 10 pessoas na Alemanha, a maioria de origem turca, entre 2000 e 2007. Beate teria participado de 15 assaltos a bancos para financiar, por exemplo, dois atentados à bomba em bairros de imigrantes. Ela só foi presa em 2011, quando se entregou à polícia após o suicídio de outros dois criadores da CNS.

Michaela, 48 anos, está em Porto Alegre para participar, às 19h30min de quarta-feira, do painel Mulheres, Violência e Criminalidade, no Instituto Goethe (com entrada franca), a convite do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS). Em entrevista a ZH da quarta-feira passada, ela disse que o próprio CNS, de Beate, é uma demonstração de o quanto o neonazismo está impregnado na sociedade alemã: há, apenas nessa unidade extremista, 129 integrantes, muitos deles mulheres.

Com o sorriso acolhedor que suaviza a sonoridade seca do idioma, Michaela perfila as linhas da sua tese sobre a participação de meninas e mulheres jovens em grupos extremistas alemães. Acredita que, se Beate não tivesse se entregado à polícia, os crimes poderiam não ter sido elucidados.

A professora também é cética quanto à possibilidade de esses crimes levarem a outras investigações.

— O serviço secreto alemão está envolvido no processo. O serviço secreto falhou. Não acredito que se empenhe em elucidar esse e outros casos. Vão tentar encobrir a participação deles no cenário neonazista, porque têm agentes infiltrados nos movimentos. Esse caso ocorreu durante tantos anos porque tinha o envolvimento do serviço secreto — analisa a especialista.

Crítica à análise sexista do caso

Michaela também critica a sociedade civil em geral e a imprensa germânica em especial pela abordagem que dão ao CNS.

— A imprensa erra por se ater ao envolvimento sexual entre a mulher que sobreviveu e outro integrante do grupo. O mais importante é entender o que ocorre, as motivações e o que fizeram. Isso mostra como a imprensa lida com o envolvimento das mulheres nos movimentos neonazistas. Acham que elas estão lá por conta dos homens e que não têm motivação política própria, como se a violência fosse uma coisa de homens, com as mulheres tendo participação subalterna — diz.

A estudiosa sustenta que a realidade em relação à mulher sempre foi bem outra. Nos anos 1940, havia grupos feministas que participavam ativamente do Partido Nazista e assumiam papéis importantes enquanto os homens iam à guerra. Atualmente, segundo ela, "as estratégias de penetração nas instituições levam mulheres neonazistas e se tornarem professoras para formar pessoas, os grupos discutem de forma deliberada como influenciar as novas gerações".

— As mulheres atuam também como advogadas e professoras de história, por exemplo. São posições estratégicas na sociedade com o objetivo de influenciar. Na universidade, não há essa reflexão, pensam que todos lá são de esquerda, que esse problema não existe. Tenho exemplos de meninas normais, que são engajadas militantes do movimento neonazista. Algumas são da direção do movimento.

A noiva nazi _ Vida no underground

— Uma suposta célula neonazista alemã vai a julgamento em Munique por ligação com assassinatos de motivação racial.

— Os crimes ocorreram ao longo de sete anos, entre 2000 e 2007. Morreram oito turcos, um imigrante grego e um policial alemão.

— Beate Zschaepe, 38 anos, é acusada de participar da Clandestinidade Nacional Socialista (CNS), que matou 10 pessoas, a maioria de origem turca. Ela nega as acusações.

— Além da cumplicidade com os assassinatos, ela é acusada de envolvimento em 15 roubos à mão armada, um incêndio criminoso, e dois ataques à bomba. Beate pode ser condenada à prisão perpétua. Quatro homens também são acusados de colaboração com a organização.

— O grupo foi descoberto em novembro de 2011. Dois comparsas de Beate, Uwe Mundlos, 38, e Uwe Boenhardt, 34, suicidaram-se após um assalto a banco frustrado. Beate

morava com os dois homens em um apartamento em Zwickau. Uma arma encontrada com eles foi usada para matar 10 pessoas.

— No local, foi encontrado um vídeo mostrando os corpos das vítimas e identificando a CNS como autora dos assassinatos. Nas imagens, aparecia um desenho da Pantera Cor-de-Rosa, que atualizava um placar de mortes.

— O caso gerou críticas à polícia, que antes de descobrir a célula de extrema-direita, havia atribuído os crimes à máfia turca. O escândalo provocou demissões na área de inteligência. Arquivos de inteligência sobre extremistas de direita teriam sido destruídos após as atividades do grupo virem à tona.

— Na segunda-feira, ao entrar no tribunal, Beate permaneceu de braços cruzados e de costas. A defesa conseguiu a prorrogação do julgamento para 14 de maio, alegando preconceito por parte do juiz.

Número de adeptos dobrou na Alemanha

Em 20 anos, o contingente de neonazistas na Alemanha subiu de 20 mil para 40 mil. São pessoas que falam em criar o IV Reich, realizam acampamentos e fazem atividades recreacionistas que remontam aos antigos germânicos, como disputas de arco e flecha. Os grupos mais visados são ainda os judeus, além de imigrantes (especialmente quando são negros), muçulmanos e, em uma menor escala, italianos e estrangeiros do Leste Europeu.

— Há até grupos de anti-antifascistas, que ameaçam sindicatos e personalidades. Fazem listas de pessoas que devem ser perseguidas. Eu estou nessas listas — diz a professora Michaela Köttig.

O protagonismo da mulher em movimentos nazistas mostra um fenômeno mais amplo, de acordo com Michaela Köttig: a penetração resiliente das ideias nacionalistas e xenófobas na sociedade alemã.

Ela cita três itens que estimulam a adesão de mulheres ao movimento nazista: a falta de reflexão dentro das famílias a respeito da participação no nazismo durante a II Guerra Mundial, o apego dos netos a avós afeitos a ideias nacionalistas (ao mesmo tempo em que mantêm conflitos geracionais com os pais) e o contexto social, genérico, refratário a discutir o nazismo. Isso, segundo ela, forma um ambiente propício.

— Não se politiza o tema (do neonazismo), trata-se dele como se fosse delinquência juvenil. Acompanhar, perseguir ou reprimir a extrema-direita é um problema, porque a sociedade não quer saber disso, por conta do passado. Atualizar o tema do nazismo significa atualizar o papel que as famílias tiveram. Atinge a todos. Melhor ignorar, virar as costas. Minha área de pesquisa é justamente sobre isso, sobre as biografias dessas famílias e sobre as mulheres que se engajam nessas organizações. São biografias de famílias, a partir de entrevistas com famílias em mais de uma geração.

Direita simpatiza com Ahmadinejad

A ideia segundo a qual a economia em crise justificaria a persistência das ideias nazistas na sociedade alemã é contestada por Michaela, que, ao ser perguntada a respeito, responde com certa ironia.

— Melhor seria se as causas fossem econômicas, vinculadas à austeridade. O fato é que, depois da reunificação, passou a vingar a ideia de uma Alemanha grande, única. Em meados dos anos 2000, os movimentos deixaram de ser marginais. Mas eles passaram a se entranhar na sociedade, nas instituições estabelecidas. Começaram a fazer contatos e contaminar as instituições dos mais diversos tipos, como associações de pais. Todas as instituições passaram a ser alvo do movimento. Fica muito mais sutil. A ideia vai se consolidando. De repente, todos estão pensando igual, e ninguém se deu conta.

E sobre a possibilidade de surgir uma figura como a de Adolf Hitler? Michaela não acredita que se chegue a tanto.

— A estrutura democrática da Alemanha não permitiria isso. O número de pessoas que simpatizam com a democracia é muito maior. Ainda assim, não se deve negligenciar a presença desses movimentos.

Quando o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, nega o Holocausto, Michaela diz que a reação geral é de choque. A direita, claro, simpatiza com as declarações dele, e esses grupos se valem dessas manifestações.

Fonte: zerohora
http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/mundo/noticia/2013/05/neonazismo-alemao-apresenta-sua-nova-face-4135046.html

terça-feira, 21 de maio de 2013

Dominique Venner - Ensaísta francês de extrema-direita mata-se na Notre-Dame de Paris

Ensaísta francês de extrema-direita mata-se na Notre-Dame de Paris
AFP e PÚBLICO. 21/05/2013 - 18:05. (atualizado às 23:15)

Dominique Venner tinha 78 anos. Justificou o suicídio com a necessidade de "despertar as consciências adormecidas", mostrando-se contra a imigração.

A catedral de Notre-Dame foi esvaziada pela polícia PATRICK KOVARIK/AFP

Europa. França

O ensaísta e historiador de extrema-direita Dominique Venner, antigo membro da Organização Secreta Armada, matou-se na tarde desta terça-feira na catedral de Notre-Dame, em Paris.

De acordo com os media franceses, Venner, que tinha 78 anos, entrou na igreja, colocou-se atrás do altar e disparou um tiro na boca. Eram 16h. A catedral, uma das principais atracções turisticas da cidade, foi esvaziada e a polícia entrou para encontrar uma carta junto ao corpo.

Mais tarde, um outro ativista de extrema-direita leu numa rádio francesa uma mensagem deixada por Venner: "Sinto o dever de agir, enquanto ainda tenho força. Creio ser necessário sacrificar-me para quebrar a letargia que nos oprime. Escolhi um lugar altamente simbólico, que respeito e admiro. O meu gesto encarna uma vontade ética. Dou-me à morte para despertar as consciências adormecidas. Embora defenda a identidade de todos os povos em casa deles, insurjo-me contra o crime que visa substituir os nossas populações".

Esta manifestação anti-imigração já tinha também ficado evidente no blogue de Dominique Venner. No seu último post, publicado nesta terça-feira, escreveu um texto chamado "A manif de 26 de Março e Heidegger" em que diz que "os manifestantes [contra o casamento homossexual em França] têm razão em apregoar a sua impaciência . "A grande substituição da população da França e da Europa, como denunciou o escritor Renaud Camus, é um perigo verdadeiramente catastrófico para o futuro".

O texto diz que a França corre o risco de "cair nas mãos dos islamistas" e acusa todos os partidos à excepção da Frente Nacional (extrema-direita) de serem responsáveis por isso. "Desde há 40 anos que os políticos e os governos de todos os partidos (menos da Frente Nacional), com o patrocinio da Igreja, trabalharam activamente nesse sentido, acelerando por todos os meios a imigração afro-magrebina".

"São certamente precisos gestos novos, espectaculares e simbólicos, para agitar as sonolências, sacudir as consciências anestesiadas e reavivar na memória as nossas origens", escreveu o ensaísta.

Inicialmente, o suicídio de Venner foi associado a um protesto contra o casamento gay, mas o editor do ensaísta, Pierre-Guillaume de Roux, questionou imediatamente essa ligação: "Não acredito que o seu suicídio possa ser ligado ao casamento gay, isto vai muito mais além", disse à AFP Roux, acrescentando ter falado com o ensaísta por telefone na segunda-feira à noite para discutir a próxima obra deste, prevista para sair em Junho. Na sua opinião, o suicídio na Nôtre-Dame revela "uma essência simbólica extremamente forte que o aproxima a Mishima". A referência é ao escritor japonês Yukio Mishima, ligado à extrema-direita e ao movimento nacionalista nipónico, que se suicidou em 1970.

Venner foi paraquedista na guerra com a Argélia e, em 1962, escreveu o ensaio Pour une critique positive, que, segundo o Libération, foi importante para uma parte da extrema-direita, ao expor o que chamava de necessidade de refundação intelectual após o fim da guerra.

Pouco conhecido do grande público em França, mas muito respeitado na extrema-direita, o ensaísta foi autor de várias obras sobre a história (política e militar), armas de fogo e caça, destaca o Le Monde, acrescentando que Venner chegou a ser sondado para liderar a Frente Nacional, logo a após a sua criação, em 1972, posto que seria ocupado por Jean-Marie Le Pen.

Marine Le Pen, filha de Jean-Marie e actual dirigente da Frente Nacional, já reagiu no Twitter, qualificando este suicídio como "um gesto, eminentemente político, que deve ter tido o objectivo de despertar o povo francês".

Fonte: Público (Portugal)
http://www.publico.pt/mundo/noticia/ensaista-frances-de-extremadireita-matase-na-notredame-de-paris-1595084

Ver mais:
Dominique Venner, le père de l’extrême droite moderne, s’est suicidé (Droites Extremes, Le Monde, França)
Man kills himself inside Notre-Dame cathedral in Paris (BBC)
Far-right French historian, 78-year-old Dominique Venner, commits suicide in Notre Dame in protest against gay marriage (The Independent, Reino Unido)
Notre Dame Cathedral suicide by French writer Dominique Venner a 'gay marriage protest' (news.com.au, Austrália)

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Tribunal alemão rejeita pedido de neonazista acusada de terrorismo

Berlim, 10 mai (EFE).- O Tribunal Regional de Munique rejeitou a reivindicação da neonazista Beate Zschäpe, que pedia a suspensão de seu jugalmento por terrorismo e assassinato múltiplo argumentando parcialidade do juiz.

A corte de Munique desprezou, por considerar infundada, a solicitação apresentada pela defesa da acusada, segundo informações da televisão pública "ARD" e do jornal "Der Tagesspiegel", por isso que o processo poderá ser retomado no dia 14.

O julgamento de Zschäpe, única sobrevivente do grupo Clandestinidade Nacionalsocialista (NSU), foi interrompido no mesmo dia de seu início, na segunda-feira passada, por esse pedido, considerado pela Justiça alemã como uma manobra.

Zschäpe, de 38 anos e há 18 meses em prisão preventiva, é acusada de colaborar com a organização terrorista e assassinato múltiplo: nove imigrantes supostamente assassinados pelo grupo, assim como uma policial, entre 2000 e 2007.

A acusada é a única sobrevivente do grupo que formou com Uwe Böhnhard e Uwe Mundlos, que se suicidaram em novembro de 2001, acossados pela polícia após assaltarem um banco.

A morte dos companheiros da processada mostrou a existência do grupos e seus assassinatos, já que durante anos atribuíram as mortes de oito imigrantes turcos e um grego a ajustes de contas entre estrangeiros.

Zschäpe é acompanhada no banco dos réus por mais quatro neonazistas, acusados de cumplicidade com a NSU, entre eles o suposto autor de um macabro vídeo divulgado após o desmantelamento do grupo que percorre a série de assassinatos cometidos pelo mesmo grupo.

A acusada se entregou quatro dias depois do suicídio de seus companheiros e até agora não se pronunciou com relação às acusações contra si.

Para o julgamento estão previstos 80 encontros até janeiro de 2014, embora estima-se que pode durar até mais. A folha de acusação contém 488 páginas e foram convocadas 606 testemunhas. EFE

Fonte: EFE
http://br.noticias.yahoo.com/tribunal-alem%C3%A3o-rejeita-pedido-neonazista-acusada-terrorismo-140041578.html

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Julgamento quer acabar com o silêncio da "noiva nazi"

Beate Zschäpe entrando no tribunal
Fotografia © Michael Dalder - Reuters
Beate Zschäpe, de 38 anos, é acusada de cumplicidade em dez homicídios xenófobos cometidos entre 2000 e 2007 pelo grupo neonazi alemão Clandestinidade Nacional Socialista. Começa hoje a ser julgada em Munique.

O julgamento de Beate Zschäpe, apelidada pela imprensa alemã de "noiva nazi", começou esta segunda-feira. A mulher, de 38 anos, é suspeita de cumplicidade na morte de oito turcos e alemães de origem turca, um grego e uma agente da polícia, bem como em dois atentados contra imigrantes e 15 assaltos a bancos, naquele que é o maior julgamento de crimes racistas na Alemanha desde a Segunda Guerra Mundial.

Vestida com um casaco negro e de braços cruzados em tom de desafio, Beate Zschäpe entrou sem algemas no tribunal de Munique virando rapidamente as costas aos fotógrafos e membros da imprensa que a aguardavam, enquanto falava com os advogados, avançou o jornal alemão "Der Spiegel".

Segundo o jornal, os procuradores afirmaram que o grupo escolhia como alvos pessoas mais vulneráveis, que geriam pequenos negócios, como forma de aterrorizar os imigrantes e obrigá-los a abandonar Alemanha pelo medo. Apesar de se ter remetido ao silêncio desde que foi detida pelas autoridades alemãs e de o seu advogado assegurar que se vai manter calada em tribunal, os juízes vão tentar fazer com que Beate Zschäpe revele pormenores sobre o grupo neonazi. Não se sabe muito sobre a única mulher do trio completado por Uwe Mundlos e Uwe Böhnhardt, que se suicidaram em novembro de 2011. Mas segundo a Procuradoria Geral alemã, Beate Zschäpe teve um papel crucial na célula terrorista: ela era uma espécie de "centro emocional do grupo".

O jornal espanhol "La Vanguardia" adianta que a vida de Beate reúne muitos dos elementos característicos dos novos nazis alemães: uma infância sofrida, a família dividida, e uma vivência em ambiente racista e xenófobo. À primeira vista, o olhar suave sugere uma mulher pacífica e alegre no entanto, Beate Zschäpe engana. A denominada "noiva nazi" geria o dinheiro roubado nos assaltos, arranjava as casas onde o grupo vivia e tratava das refeições além de praticar uma "política de boa vizinhança" para não levantar suspeitas.

As "duas caras" de Zschäpe deixaram desconcertados os seus vizinhos de bairro em Zwickau, última morada do grupo, onde ninguém consegue acreditar que a amável mulher de 38 anos e amante da jardinagem tenha tido uma vida dupla como membro de um grupo acusado de dez homicídios racistas, atentados e assaltos a bancos, afirma o jornal.

Nascida a 2 de janeiro de 1975 na cidade de Jena, a pequena Beate ficou a cargo da avó aos dois anos de idade, quando os seus pais se separaram e a sua mãe arranjou outro companheiro e mudou de cidade. Ao deixar a escola, em 1992, tirou um curso de jardinagem, mas passou muito tempo desempregada. Durante esses anos sem perspectivas começou a aproximar-se de movimentos de extrema-direita e conheceu os outros membros do grupo neonazi que iria chocar a Alemanha: Uwe Mundlos e Uwe Bohnhardt.

Zschäpe manteve de início uma relação com Mundlos, que já pertencia a um grupo neonazi e três anos mais tarde ficou noiva de Bohnhardt mudando-se para a casa da sua família. Mas os três continuaram unidos e formaram uma espécie de "família", passando a viver juntos mais tarde num apartamento na cidade de Zwickau.

Segundo o "La Vanguardia", durante um interrogatório policial um dos amigos de Mundlos afirmou que Zschäpe dava a impressão de ser uma rapariga vulgar. "Dava-me a sensação que não tinha nada na cabeça, que era fútil", disse, acrescentando que enquanto Mundlos era filho de um professor e tinha as ideias bem formadas, ela parecia não ter ideias politicas e pouca cultura. No entanto, o inseparável trio rapidamente radicalizou as suas ações e passou a denominar-se Clandestinidade Nacional Socialista (NSU, na sigla em Alemão), chamando a atenção dos serviços secretos do país.

A 26 de janeiro de 1998 a polícia fez buscas a uma garagem alugada por Zschäpe e encontrou explosivos, detonadores e um exemplar de "Progromly", uma versão antisemita do popular jogo de mesa "Monopoly". No entanto o grupo conseguiu escapar às autoridades policiais e passou à clandestinidade. Durante 14 anos nunca mais se soube deles, tempo em que Zschäpe adotou numerosas identidades falsas e criou uma imagem de cidadã vulgar, apaixonada pelos seus gatos Lilly e Heidi e amiga dos seus vizinhos. Enquanto Mundlos e Böhnhardt praticavam homicídios e assaltavam bancos, Beate mantinha as aparências de cidadã comum. Clandestinamente, Beate mantinha a coesão da célula, mas para o exterior representava o papel de vizinha simpática. Tornou-se muito popular na vizinhança, falando com toda a gente e mantendo boas relações no bairro, enquanto os seus companheiros se mantinham na sombra, agindo sempre com grande discrição.

Os vizinhos de sempre consideraram Beate Zschäpe uma pessoa normal. Viam-na estender a roupa no varal, fazer as limpezas da casa e cozinhar e ir às compras. Enquanto isso, os dois homens saíam em rondas assassinas. Desde o princípio, os papéis eram bem definidos dentro do grupo: Mundlos era o cérebro, Böhnhardt, especialista em armamento, era o executor e Beate a dona de casa e mãe da "família".

A 4 de novembro de 2011, Mundlos e Bohnhardt apareciam mortos numa caravana. A versão oficial afirmava que se tinham suicidado quando se viram cercados pela polícia após terem assaltado um banco e dias mais tarde, Zschäpe entregava-se às autoridades, após ter pegado fogo ao apartamento em Zwickau onde viviam. Só então a Alemanha "despertou" para o trio.

Zschäpe acabou por ser a única responsável viva da mais sangrenta série de violência da extrema-direita alemã após a Segunda Guerra Mundial. Desde que foi presa, a "noiva nazi" recusou-se sempre a falar, tendo permanecido impassível e em silêncio. Agora, com o início do julgamento, espera-se que muitos dos segredos que se ocultam atrás desse silêncio sejam tornados públicos.

Fonte: Diário de Notícias (Portugal)
http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=3203073

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