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quarta-feira, 21 de junho de 2017

Morre o historiador e hispanista britânico Hugh Thomas

Desde 1994 era membro da "Real Academia de la Historia"
e em 2001 recebeu a "Gran Cruz de la Orden
de Isabel la Católica"
O historiador e hispanista bitânico Hugh Thomas faleceu este domingo em sua casa emn Londres, aos 85 anos, segundo informou o diário 'ABC', com o qual colaborava.

Thomas, nasceu na cidade de Windsor em 1931 e foi educado nas universidades de Cambridge (Reino Unido) e Sorbone (Paris), escreveu duas dezenas de obras, entre as que destacam "El Imperio español, de Colón a Magallanes" (O Império espanhol, de Colombo a Magalhães), "La conquista de México" (A conquista do México), "El Imperio español de Carlos V" (O Império espanhol de Carlos V) e "El señor del mundo: Felipe II y su imperio" (O senhor do mundo: Felipe II e seu império). Contudo, na Espanha é conhecido principalmente por conta de "La Guerra Civil Española" (A Guerra Civil espanhola), publicado pela primeira vez em 1961, revisada pela última vez em 2011 e traduzida para 15 idiomas.

Desde 1994 era membro da Real Academia de la Historia e em 2001 recebeu a "Gran Cruz de la Orden de Isabel la Católica". Também era, desde 2013, membro da "Real Academia Sevillana de Buenas Letras" e em 2014 recebeu a Gran Cruz de la Orden de Alfonso X el Sabio".

Europa Press

Fonte: Público (Espanha)
http://www.publico.es/culturas/muere-historiador-e-hispanista-britanico.html
Tradução: Roberto Lucena

Observação: pra não passar em branco, uma vez que não foi possível publicar na ocasião, há mais de um mês atrás. O livro "A guerra civil espanhola" foi lançado no Brasil décadas atrás, é razoavelmente conhecido (do público que lê sobre segunda guerra). Não lembro se o livro foi relançado.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Restos encontrados em Pskov, Rússia

Um novo artigo foi publicado na semana passada sobre o achado de um túmulo e memorial para 14 judeus, consistindo de "dois recém-nascidos, dois adolescentes, um idoso e nove mulheres" encontrados próximo a Pskov, uma cidade russa à leste da fronteira estoniana. Os restos foram achados por Poisk (Search), uma organização que busca por restos de soldados em áreas de combate pesado da segunda guerra. Poisk poderia verificar que estes eram civis porque, como afirmado pelo porta-voz de Poisk, Rachim Dzhunusov, "os restos eram de crianças, mulheres e idosos, e alguns (crânios) foram quebrados por golpes de coronhadas de rifles [e] e tivemos que os coletar pedaço por pedaço", os mortos "foram despidos, não havia uma única fivela, botão, nada". O artigo deduz da declaração de uma testemunha que os judeus haviam sido capturados depois de fugir da Letônia, mas havia também fontes afirmando que o Einsatzkommando de Sandberger tinha relocado 400 mulheres e crianças da Estônia para Pskov, onde eles foram executados sobre a ordem de Jeckeln em janeiro de 1942. O Yad Vashem tem fontes online sobre os cinco locais de extermínio próximos a Pskov.

Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Jonathan Harrison
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2016/12/bodies-found-in-pskov-russia.html
Título original: Remains Found in Pskov, Russia
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Os árabes que lutaram contra Franco

O jornalista palestino Najati Sidki
Um documentário resgata do esquecimento os mais de mil árabes que se juntaram ao grupo republicano e reivindica sua memória frente às tropas moras de Franco.

O filme, em sua fase final de produção, reconstrói os passos de um palestino que pagou sua luta na Espanha com o desterro e a dispersão familiar

FRANCISCO CARRIÓNEl; Cairo
fcarrionmolina
02/05/2016 19:45

"Vim defender a liberdade no Front de Madrid. Para defender Damasco em Guadalajara, Jerusalém em Córdoba, Bagdá em Toledo, o Cairo em Cádis e Tetuão em Burgos". O jornalista Najati Sidki, palestino e comunista, desembarcou na Espanha de 1936 com a determinação de lutar contra Franco e suas tropas mouras. Sua vida, marcada também pela II Guerra Mundial e pela tragédia do povo palestino, centra agora um documentário que trata de resgatar do esquecimento as centenas de árabes que se juntaram ao grupo republicano.

A cineasta egípcia Amal Ramsis (Cairo, 1972) chegou até Sidki "por pura casualidade" depois de uma longa e frequentemente infrutuosa pesquisa que começou mais de uma década. "Li um artigo sobre a participação árabe na Guerra Civil e comecei a puxar o fio. Saíram muitos nomes, datas e lugares de chegada mas me faltava uma história que proporcionasse um enfoque pessoal", relata ao EL MUNDO Ramsis a partir de um restaurante central do Cairo. E então se fez a luz. "Em 2008 topei com as memórias de Sidki e encontrei o rosto que necessitava pra história".

Em plena ensambladura, o documentário "You come from far away" ("Vim de longe", em espanhol) reconstrói os passos do intelectual e secretário do Partido Comunista Palestino desde sua viagem à península ibérica em 1936 e oferece testemunho de uma realidade desconhecida, sepultada pela terrível recordação dos soldados marroquinos do exército da África que Franco somou a sua sublevação. "Sidki tentou dirigir-se a eles. Baixou no Front de Córdoba e lhes pediu que se unissem ao bando republicano. Poucos lhe escutaram e os que o fizeram não foram bem recebidos", reconhece Ramsis, autora de documentários como "Vida" (2008), "Proibido" (2011) e "O rastro da mariposa" (2014).

"Cheguei - escreve Sidki em suas memórias - à bela e espetacular Barcelona, capital da Catalunha. Comecei a passear por suas amplas avenidas. De repente, encontrei-me com um grupo de milicianos. Seu chefe, achando que eu fosse espanhol, aproximou-se e me disse em castelhano: "Por que não te unes a nós?" Sorrindo lhe repliquei em francês: "Sou um voluntário árabe e vim defender a liberdade no front de Madrid. Para defender Damasco em Guadalajara, Jerusalém em Córdoba, Bagdá em Toledo, o Cairo em Cádis e Tetuão em Burgos".

Najati Sidki, com suas duas filhas
O jornalista - o nome que pôs voz aos alistados árabes que se juntaram a outros milhares de brigadistas estrangeiros que participaram em uma contenda alheia - sobreviveu à derrota e teve duas filhas que hoje são as testamenteiras de sua memória. "Cheguei até Hind, sua filha mais nova que vive na Grécia, e me dei conta de que o testemunho era maior do que havia imaginado. A família de Sidki condensa a história do último século, desde a Nakba (a catástrofe que em 1948 se supõe o exílio forçado de ao menos 750.000 palestinos de suas terras) passando pela II Guerra Mundial ou a guerra civil libanesa", detalha a ditadura do filme.

Alcançada pela ladainha de acontecimentos históricos que desfilaram pelo século XX, a tragédia familiar de Sidki havia permanecido até agora escondida. "Nem sequer fora escrita. Este documentário supõe também um descobrimento dessa vida marcada pelo contexto político espanhol", argui Ramsis. Perdida toda a esperança de defender a República, Sidki teve que fazer frente a outro afundamento. Sua filha Dulia, nascida três anos antes do início da refrega, cresceu em Moscou aleijada de sua família. Durante mais de 20 anos o jornalista apenas teve notícias de sua primogênita.

"Sidki pagou assim não estar de acordo com a posição do Partido Comunista Espanhol a respeito do colonialismo no norte da África", desvela a documentarista. "Ele era, acima de tudo, uma mente livre. Fez pública sua opinião e foi castigado por isso. Expulsaram-lhe do partido e jamais regressou à Rússia. Sua filha mais velha não pode abandonar Moscou e só voltaram a se ver décadas depois em Beirute, que chegou depois de deixar a Palestina em 1948 e onde viveu até a guerra civil. Terminou morrendo na Grécia junto de sua filha mais nova", acrescenta Ramsis.

O documentário reúne o relato das duas irmãs em um contra-relógio contra o esquecimento. "Filmei material durante anos. Pesquisei o fenômeno com uma ajuda da fundação Euroárabe em Granada e deixei congelado o projeto durante a revolução egípcia. O ano passado recebi uma chamada da filha mais nova de Sidki. Disse-me: "Se quer terminar esta história, tens que ir à Moscou de imediato porque minha irmã está perdendo a memória", evoca a cineasta. Na capital da extinta União Soviética se fechou o círculo. "É a vítima de toda a história. A que viveu o desarraigamento e a que tem identidade mista", admite Ramsis. Dulia, com 83 primaveras, e nem sequer balbucia o árabe.

Dulia, a filha mais velha de Najati Sidki
As vicissitudes de Sidki e de seus descendentes são só um fragmento de uma crônica alinhavada por mais de mil árabes chegados da Argélia, Líbano, Marrocos, Arábia Saudita, Egito ou Iraque que entrelaçaram suas vidas ao cruel destino das duas Espanhas. Alguns caíram em combate, outros desapareceram e outros tantos regressaram a sua terra nativa. A todos lhes venceu a desmemória que ditaram quatro décadas de ditadura. "Há uma anedota sobre esta participação árabe. Em 2003 quando um grupo de espanhóis partiu até Bagdá para mostrar sua solidariedade com o povo iraquiano, desconheciam que havia iraquianos entre aqueles que defenderam a República espanhola", indica a realizadora. O filme, terminado na metade dos clarões dos refugiados que chegam às portas da Europa, também convida à reflexão.

"Sidki e seus camaradas árabes não vieram como refugiados. Não vieram para solicitar asilo senão para apoiar os europeus em sua luta contra o fascismo. Para aqueles as fronteiras estavam abertas para todo o mundo. Não é só um documentário que trata de história passada senão que quer falar do significado das fronteiras antes e agora e lutar contra os estereótipos que se associam ao mundo árabe. Esses rostos demonstram que há gente que não pensava na religião e que tratavam de fazer um mundo melhor. A solidariedade com o povo espanhol também serviu para a liberação dos árabes", conclui Ramsis.

Fonte: El Mundo (Espanha)
http://www.elmundo.es/cultura/2016/05/02/57278d0d22601d95368b4670.html
Título original: Los árabes que lucharon contra Franco
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Hitler (A biografia). De Joachim Fest (resenha)

Hitler, de Joachim Fest,
tradução de Analúcia
Teixeira Ribeiro, Editora
Nova Fronteira, 2 volumes,
935 páginas.
Em novembro de 1923, há exatos 83 anos, aconteceu o lendário Putsch de Munique, quando pela primeira vez Hitler tentou tomar o poder na Alemanha. A república de Weimar assistiu pasma ao golpe do recém-fundado Partido Nacional-Socialista, que só naquele ano teve 35 mil novas adesões. Hitler contou com o apoio de 15 mil homens da S. A., a tropa de assalto do partido nazi. Resultado: golpe frustrado e os líderes presos – mas o prestígio de Hitler e de seu partido só fez aumentar.

Esse e outros episódios estão descritos na colossal biografia de Adolf Hitler escrita por Joachim Fest, publicada primeiramente na Alemanha, em 1973, e cuja segunda edição em português, revisada e ilustrada, foi lançada neste ano no Brasil pela Editora Nova Fronteira, em dois grandes volumes que somam 935 páginas. Joachim Fest, que morreu em setembro deste ano, foi um jornalista de grande nome na Alemanha e professor honorário da Universidade de Heidelberg. Ele mesmo chegou a lutar na 2a Guerra Mundial e acabou como prisioneiro da França. Além de Hitler, Fest escreveu No bunker de Hitler, livro que inspirou o filme A queda – As últimas horas de Hitler, dirigido por Oliver Hirschbiegel.

Considerada uma das mais completas biografias sobre o estadista alemão que permaneceu no poder entre 1933 e 1945, Hitler é caracterizada pela riqueza de detalhes pessoais e “históricos”, que dão a sensação ao leitor de estar vendo os acontecimentos in loco. Sobre o Putsch de 1923, escreveu Fest: “Trajado com uma longa casaca negra, a cruz-de-ferro pregada ao peito, Hitler tomou lugar na Mercedes vermelha comprada havia pouco. (...) Com aquele gosto peculiar por cenas exageradas e teatrais, brandiu um copo de cerveja e, enquanto uma pesada metralhadora era posta em bateria ao seu lado, engoliu dramaticamente um último gole, arremessando em seguida com estrondo o copo aos pés”.

O Putsch da cervejaria poderia ser considerado, então, um momento essencial na vida do futuro Führer do governo alemão: quando ele entraria definitivamente no caminho político. Hitler passaria, nesse momento, a controlar seus instintos artísticos e se transformaria em um “tecnocrata do poder”. Foi um grande passo para sua chegada ao poder como chanceler do Reich, em 1933.

E se ele tivesse chegado ao Brasil?– Frustrado o golpe, rotulado por muitos como “carnaval político”, “putsch de escada de serviço” e “farsa de faroeste”, Hitler, mesmo preso, continuou sua escalada megalomaníaca ao poder. Na prisão em Landsberg, aproveitou para continuar se articulando politicamente: compartilhava a cela com seus comparsas de partido, que chegavam, inclusive, a cuidar da limpeza de seus aposentos. Sentado em uma bandeira da suástica, costumava presidir o horário das refeições.

Dentro da prisão, sua fama aumentou na Alemanha. O futuro Führer recebeu muitas cartas e flores de seus fãs e aproveitou os anos de reclusão para escrever o livro Minha luta, considerado uma bíblia do nacional-socialismo, permeada por ataques aos judeus e caracterizada por um estilo duvidoso, que se pretendia erudito, mas confundia figuras de linguagem e teorias. Os 25 pontos do programa do partido tinham sido promulgados em 1920, mas é com Minha luta que Hitler desenvolveu sua teoria racista que teria como ápice o extermínio em massa dos judeus em plena 2a Guerra. A idéia inicial era escrever uma biografia dos seus então 30 anos de vida, da pobreza de sua infância e das suas tentativas no universo artístico.

Os 10 milhões de exemplares publicados não fizeram o sucesso esperado. Segundo Fest, faltava a presença de Hitler como orador que fazia a diferença para suas idéias cheias de fracas obsessões e fantasias. Até mesmo a teoria nacional-socialista não é convincente: carente de qualquer idéia original, mostrou-se um “caldo de tendências”. Rauschning, autor da obra Conversa com Hitler, afirmou que tudo nela já havia sido dito, falado, escrito: nacionalismo, anticapitalismo, culto à tradição, concepções de política exterior, racismo e anti-semitismo. Nada era novidade. Mas a falta do novo não afetou o sucesso estrondoso da teoria entre as massas.

A abordagem do nazismo de Joachim Fest prima por dois pontos essenciais. O principal deles é a construção de um mito. Hitler não é descrito como uma pessoa normal, mas sim como um líder carismático capaz de acionar multidões que estavam amorfas antes de seu chamado. Para Fest, não seria possível o nacional-socialismo sem essa figura emblemática. Para provar sua teoria, ele enche o leitor de detalhes pessoais da vida de Hitler, desde criança dotado de pensamentos de conquista do mundo. Interessante é a fileira de adjetivos utilizados pelo autor para descrever as faces dessa múltipla e esquizofrênica personalidade, ora caracterizada como “impessoa”, ora como uma figura extremamente sedutora, capaz de exterminar qualquer resistência diante dele. Com um quê de exagero, Fest chega a afirmar que Hitler seria um guardião de todas as angústias de seu tempo. Vai mais longe, dizendo que, além de ser o denominador comum, “imprimiu aos acontecimentos seu rumo, sua extensão e seu dinamismo”.

Da mesma maneira, pontua sua biografia, organizada de maneira cronológica, por títulos significativos dessa mesma abordagem de “louco e gênio” de Hitler. A infância e a participação na 1a Guerra são classificadas no tópico “vida sem objetivo”; a fundação do partido e o Putsch de Munique se encontram no tópico “O caminho da política”. Em seguida são pontuados “os anos de espera”, “o tempo de luta” e finalmente “a tomada do poder”, seguida da “Guerra errada” e terminando com “A queda”, com o fim do regime hitlerista. Nesse momento, Fest não poupa suas tintas para mostrar um Hitler manco, que se arrastava com seu cachorro, isolado dentro de seu bunker. Sua desgraça pessoal atingiu também os seus amores: a sua companheira Eva Braun teria tentado suicídio logo aos 23 anos.

Moderno – O segundo ponto essencial do Hitler de Fest é desmontar as outras tantas teses que afirmam que o nacional-socialismo foi produto de condições históricas específicas, pontuadas principalmente pela Alemanha derrotada na 1ª Guerra Mundial, vítima de um cruel Tratado de Versalhes – assinado pelas nações vitoriosas –, que provocou a perda de valiosos territórios alemães, ocasionando então uma crise no governo que se formava no pós-guerra, a República de Weimar. Fest, em lugar disso, tenta refletir sobre todos os acontecimentos da Europa nessa época pela ótica pessoal da história de Hitler. O resultado é um exercício, no mínimo, interessante. Mostra um outro viés do nacional-socialismo, que traz algo diferente da historiografia em vigência, que prima por considerar as forças históricas evidentes no período como determinantes do processo.

Além disso, a pesquisa de pano de fundo é monumental. Como se para todos os acontecimentos dessas décadas (principalmente de 1930 e 1940) houvesse um comentário especial ou frases de Hitler. Para provar a importância especial de Hitler na história, Fest argumenta que o nazismo morreu no momento em que Hitler se envenenou, em 1945, pouco antes da capitulação da Alemanha. “Com a morte de Hitler e a capitulação”, afirma, “o nacional-socialismo desapareceu de cena quase sem transição, de um momento para o outro, como se fosse apenas o movimento, a embriaguez e a catástrofe provocados por Hitler.” Mesmo no Tribunal de Nuremberg, montado pelos aliados entre 1945 e 1949 para julgar os criminosos de guerra, os acusados se mostravam ideologicamente alienados, de maneira que se levasse a crer que o único culpado por toda a catástrofe da guerra e do assassinato em massa fosse mesmo o ditador alemão.

Mesmo assim, Fest não deixou de mostrar que Hitler foi extremamente moderno para seu tempo, trazendo novas realizações técnicas, como a propaganda em massa, cujos vestígios se encontram em diversos políticos populistas da atualidade. Fazendo “política para os apolíticos”, para a imensa massa mobilizada pelos festejos coletivos que mais pareciam shows, Hitler construiu o seu poder na esfera da sedução, criando duas faces para o mesmo nazismo: uma marcada pela prisão em massa e posterior extermínio dos excluídos, e outra, dentro dessa aura de magia, dos grandes comícios voltados para os eleitos, dos quais se tornaram mais famosas as festas do Dia do Partido, realizadas em Nuremberg.

O personagem de Hitler retratado por Fest não deixa de ser marcante, mesmo que para o lado do mal, visto como a encarnação do que de pior pôde acontecer para a humanidade. O autor provoca o leitor quando – através de uma bela metáfora – afirma que Hitler nada mais foi do que um espelho de sua época, uma época cruel, sem esperanças e permeada de angústias. Tempos sombrios, diria Hannah Arendt.

Ana Maria Dietrich, historiadora e jornalista, faz doutorado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP sobre o tema “Nazismo tropical? O Partido Nazista no Brasil”. É co-autora de Alemanha (Imesp, 1997).

Fonte: Site da USP (Jornal da USP)
http://www.usp.br/jorusp/arquivo/2006/jusp783/pag1213.htm

Observação: a edição antiga desse livro tinha apenas 1 volume. Essa capa é da edição mais recente, dividida em dois volumes. A quem quiser compreender melhor a segunda guerra e o nazismo, este livro é essencial.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Hitler era astuto, não tanto hipnótico, diz nova biografia alemã (Peter Longerich)

BERLIM (Reuters) - Uma nova biografia de Hitler escrita por um proeminente historiador alemão deve gerar controvérsias com seu argumento de que a perspicácia política do líder nazista foi subestimada e de que a crença de seu domínio hipnótico sobre os alemães é inflado.

O livro "Hitler", de Peter Longerich, que será publicado na segunda-feira é um tomo de 1.295 páginas que inclui material sobre os diários do chefe de propaganda nazista Joseph Goebbels e os primeiros discursos de Hitler.

"De modo geral, você tem uma imagem de um ditador que controlou muito mais, que era mais envolvido de perto em decisões individuais do que se pensava anteriormente. Eu quis colocar Hitler como uma pessoa de volta ao centro", disse Longerich em entrevista à Reuters.

Trabalhos recentes sobre o Terceiro Reich têm colocado mais ênfase nos climas social e político que levaram à ascensão do nazismo após a derrota na Primeira Guerra Mundial e as demandas de reparação incapacitantes.

Logo após a Segunda Guerra Mundial, os alemães agarraram-se na crença de que eles foram mantidos reféns de uma gangue criminosa liderada pelo carismático Hitler, empenhada em conquistar a Europa e exterminar judeus.

Longerich, professor da Universidade de Londres, argumenta que enquanto todas as políticas de Hitler e os resultados foram catastróficos, ele agiu de maneira inteligente em situações específicas.

"A questão de porquê ele conseguiu chegar tão longe precisa ser abordada: Obviamente ele tinha habilidade para explorar situações individuais em seu interesse próprio e para seus objetivos próprios", disse ele.

Mesmo suas políticas raciais foram em grande parte devido a um oportunismo político, disse Longerich, que não acha que Hitler era radicalmente anti-semita na sua juventude.

"Nos anos de 1919-1920 ele percebeu que poderia ser bem sucedido em política ao abraçar e incitar o antissemitismo", disse, acrescentando que isso virou elemento central apenas em 1930.

A habilidade de Hitler de tomar o poder é ainda mais impressionante dado que o estudante de arte nascido na Áustria era um "ninguém" sem ideologia até seus 30 anos. Apenas então, recusando-se a aceitar a derrota da Alemanha, ele foi levado ao recém-criado Partido Nazista.

Longerich também busca desmascarar a teoria de que Hitler tinha um carisma irresistível que cativou os alemães, argumentando que ela foi em grande parte construída artificialmente pela máquina de propaganda nazista, que bombardeou imagens de fãs extasiados em comícios.

O autor não exonera os alemães, dizendo que grande parte da população apoiou Hitler enquanto outros foram oportunistas em segui-lo, mas argumenta que havia uma tensão social e um descontentamento, por exemplo dentro da Igreja.

"Não seria lógico pensar que um país profundamente dividido como a Alemanha de repente se uniu por trás de uma pessoa e compartilhava de uma única visão política", disse Longerich.

Setenta anos após sua morte, as atitudes dos alemães em relação a Hitler ainda estão evoluindo, disse Longerich.

"Eu não acho que há qualquer entusiasmo por Hitler, mas estamos vendo tabus sendo quebrados", afirmou ele, citando filmes recentes sobre o ditador e um debate sobre a publicação "Minha Luta".

Com um crescimento de temores sobre o radicalismo de direita na Alemanha, por conta da crise dos refugiados, ele alerta que com uma atmosfera política "mais dura", "o potencial de uma figura política singular é um fator que não deve ser subestimado".

(Por Madeline Chambers)
sábado, 7 de novembro de 2015 11:01 BRST

Fonte: Reuters Brasil
http://br.reuters.com/article/entertainmentNews/idBRKCN0SW0GH20151107
Hitler was shrewd, not so hypnotic, new German biography says (Reuters, EUA)

terça-feira, 15 de setembro de 2015

"O mito do "bom italiano", o antissemitismo e os crimes coloniais" [Fascismo]

Fascistas Italianos enforcando e matando Etíopes
(1935 – 1941)
A quem quiser ler (um aviso: está em inglês, apesar de ter título em espanhol e resumo também neste idioma), segue abaixo um PDF/texto com um "paper" tratando do mito do "bom italiano", ou mais precisamente do "bom fascista" italiano.

Mito propagado pra criar uma diferenciação entre os crimes dos nazistas (da Alemanha) e os fascistas (Itália), pra criar o mito dos "dois fascismos" como se só um tivesse cometido crimes bárbaros (fosse mais brutal) e o outro, em essência, fosse uma "coisa mais amena" quando serviu de inspiração pro fascismo alemão (nazismo). A mesma questão da mitificação debatida no texto também serve pra analisar os outros fascismos: espanhol, português etc.

O mito é tão propagado que até no livro "Holocausto: uma História" (Holocaust: A History em inglês) da Debórah Dwork e do Robert Jan Van Pelt (mas quem escreve esta parte aparentemente é ela, pelo menos a escrita é bem dela), ela de forma grotesca repete essa mitificação dos fascistas italianos para distingui-los (citando por alto, de memória) dos fascistas croatas (Ustashi) como se os fascistas da Itália fossem "lordes" ou coisa parecida, o que como fica claro no texto/ensaio (caso alguém queira lê-lo por completo), é uma tolice, e principalmente encontrar isso num livro sobre Holocausto.

Como o texto é longo (são 10 páginas no link do PDF), é inviável traduzi-lo e colocar aqui. Mas seria um erro não divulgar este texto/ensaio sobre a questão já que este mito é muito propagado e o povo o repete muitas vezes por puro desconhecimento e repetição automática de informação superficial sobre segunda guerra e crimes de guerra na mesma, sem falar na omissão das atrocidades italianas na Etiópia.

Resumo do texto (tradução minha):
"Meu texto pretende reconstruir as peripécias do mito do "bom italiano" na historiografia internacional com o propósito de analisar suas consequências na minimização do antissemitismo fascista. Em primeiro lugar, remontarei-me às origens do mito, considerando os motivos da atitude fascista nos departamentos ocupados pelas tropas italianas entre novembro de 1942 e setembro de 1943.

Na continuação, rastrearei a incidência deste clichê na historiografia do pós-guerra, particularmente nos livros dos historiadores León Poliakov e Renzo De Felice. Em terceiro lugar assinalarei que, em sua maior parte, os estudos recentes sobre o tema não retificaram esta interpretação incorreta. Ao mesmo tempo tentarei evidenciar que o antissemitismo fascista não cobrou forma seguindo as leis raciais nazis, senão de forma autônoma, seguindo uma regulação prévia da discriminação que havia sido introduzida na Etiópia pela administração colonial."

Título: THE MYTH OF THE “GOOD ITALIAN”, THE ANTISEMITISM AND THE COLONIAL CRIMES
("El mito del “buen italiano”, el antisemitismo y los crímenes coloniales")
Autor: Diego Guzzi
Link do PDF/Texto: http://www.constelaciones-rtc.net/04/04_14.pdf

Observação: obviamente que se o autor do texto pedir a remoção do mesmo, serei obrigado a removê-lo, embora até hoje nenhum tenha pedido isso, mesmo porque o texto se encontra disponível publicamente na web e o autor foi citado acima (foi dado os créditos, como é de direito), bem como o link pro PDF original também foi colocado.

sábado, 5 de setembro de 2015

Mais de 1 milhão de visitas, agradecendo a todos visitantes

Post atrasado pois era pra ter saído no mês de agosto ainda, mas paciência, antes tarde que nunca.

Gostaria de, em nome de todos do blog, e até do pessoal que não faz parte diretamente do blog mas participa do blog Holocaust Controversies (Nick, Jonathan, Hans, Jason, Sergey, e o próprio Roberto Muehlenkamp que participa aqui também, a quem quiser ler mais material sobre o Holocausto, acessem o Holocaust Controversies nos links e traduções, em inglês o blog) de agradecer às mais de 1 milhão de visitas que este blog recebeu.

Acho que chegou à marca no mês de agosto ou fim de julho (registrei isso em um post anterior mas sem ser exclusivo sobre isso), mas só vasculhando posts antigos pra ver, se alguém achar e quiser colar aí nos comentários eu agradeço. Já são cerca de 1.014.727 (um milhão, catorze mil, setecentas e vinte e sete) visitas e subindo.



O contador mostrado no print foi o do Blogger/Google pois é o que marca corretamente. Tem um contador na página do blog que não está correto porque foi colocado após a abertura do blog deduzindo quando haviam lido até então pois foi esquecido de colocar contador desde o começo apesar do Google marcar. Só dá pra usá-lo pra avaliar o acesso por países.

Agradeço as visitas pois, ao contrário dos delírios dos revimanés ("revisionistas"/negacionistas), este blog não recebe apoio de praticamente ninguém no país, nem de entidades ligadas a Direitos Humanos (pra mostrar o grau de descaso com o assunto no país, pois rola mais politicagem em torno disso do que educação), tampouco de entidades judaicas e afins.

Apoio, mesmo moral e até comentando, geralmente vem do pessoal do próprio blog e de gente amiga em outros blogs sobre segunda guerra, que sofrem do mesmo problema de falta de apoio, que são sites formidáveis.

Friso esse último ponto pois vez por outra chega um "revi" sem noção aqui com esse tipo de acusação (e em algumas discussões dispersas) de "agentes de Israel" etc, e isso não passa de canalhice ou delírio dessa manada, pois inclusive já declarei meu ponto de vista sobre o conflito do Oriente Médio (ler todos os posts na tag Oriente Médio) e é bem distante do que entidades ligadas a Israel no Brasil pregam sobre isso. Só não venham querer direcionar minha opinião, não admito isso como já quiseram fazer no Orkut (tinha muita gente autoritária se sentindo mais importante que o Presidente dos EUA lá e se achando na condição de dizer a gente o que a gente deve pensar ou dizer, obviamente o intento não deu certo). Cada um tem sua opinião e é muita pretensão e falta de noção alguém achar que o povo aqui formou opinião por conta de Israel ou Oriente Médio. Falta de noção só não, obsessão mesmo.

Eu duvido que meu ponto de vista siga em concordância com o que essas entidades defendem sobre a política de Israel e Oriente Médio. Mas não digo isso pra essa manada "revi" poupar agressões, até porque se "baterem" tomam de volta, mas ao menos pra terem um pingo de dignidade e coerência mesmo sendo fascistas e não vir comentarem esse tipo de asneira aqui.

Mas uma vez, obrigado a todos pela visita ao blog, até aos que não gostam mas que pelo visto costumam ler porque o conteúdo do site é bom, se não fosse não leriam.

Tinha que fazer registro da marca pois mesmo sem quase apoio algum mostra que há uma parcela da população do país (e de fora, pois o blog é lido em vários países) que se interessa pelo tema segunda guerra e política (estão entrelaçados os temas), mesmo sem destaque algum da TV etc que quando toca no assunto segunda guerra costuma direcionar praquelas interpretações batidas e datadas de sempre, sem atualização de material novo de fora.

Sobre os países que visitam o blog, não dá pra listar todos aqui, mas se alguém tiver curiosidade, vejam a lista aqui neste contador, 160 países visitaram o blog:
Contador por países

Só destacarei os 20 primeiros países que visitam o blog do quadro, em números, quem quiser ver por percentagem checar o quadro "Overview" no contador do link acima. São eles:

1. Brasil 343.115
2. Portugal 33.755
3. Estados Unidos 24.323
4. Alemanha 4.838
5. Reino Unido 1.738
6. França 1.722
7. Espanha 1.445
8. Angola 1.040
9. Polônia 1.008
10. Itália 938
11. Canadá 936
12. Holanda 856
13. Japão 709
14. Argentina 708
15. Suíça 661
16. Bélgica 585
17. Moçambique 545
18. Israel 494
19. Rússia 481
20. México 426

O número de visitas do Brasil é disparado o maior, não teria como não ser. É o maior país de falantes do português no mundo (204 milhões de habitantes, dados divulgados pelo IBGE recentemente) e maior mercado editorial de publicações em português, audiovisual etc nesse idioma. Só que o número de acessos está na casa dos 80% do total (arredondando), e há 20% que acessam o blog que vêm de outros países que é um número razoável, levando em conta que não há uma divulgação do idioma como deveria apesar do português ser o quinto idioma mais falado do mundo*, apesar do piti xenófobo de fascistas em Portugal com o novo Acordo Ortográfico.

*Teoricamente o quinto idioma mais falado do mundo pois essas listas de maior número de falantes variam. Tem uma em que ele se encontra em quarto (achei a contagem pertinente, mas pode divergir) e noutras colocam em sétimo (mas "forçaram a amizade" em algumas dessas, aumentar número de falantes do árabe com uma desculpa teológica é cômico).

O fato é que é um dos idiomas mais falados do mundo e pela proximidade linguística com as línguas neolatinas, quem quiser aprender espanhol (castelhano), italiano, francês, catalão e o resto das neolatinas, o português é um bom ponto de partida pra todas esses idiomas, é mais fácil aprendê-las a partir do português que o inverso (em alguns casos). Além de ser um idioma falado em 5 continentes: América (Brasil principalmente), Europa (Portugal e Galiza, na Galiza ou Galícia se fala o galego mas são um mesmo idioma praticamente), África (Cabo Verde, Moçambique, Angola), Ásia (Macau, na China, e Goa na Índia) e Oceania (Timor-Leste, que também faz parte da Ásia).

Seguem algumas listas do número de falantes:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_l%C3%ADnguas_por_total_de_falantes
https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_languages_by_number_of_native_speakers
https://es.wikipedia.org/wiki/Anexo:Idiomas_por_el_total_de_hablantes

O que chama atenção no quadro é que o número de visitas dos EUA em valores absolutos está muito próximo ao de Portugal (apesar da disparidade populacional entre um e outro), o que me causa espanto por motivos óbvios (idioma).

Os acessos da Alemanha também são altos, Reino Unido, França e Espanha também (primeiro país que fala espanhol da lista, o próximo só aparece na 14a posição, a Argentina). Israel só aparece na 18a posição e já chegou a estar atrás da Rússia no quadro (tá vendo "revis"? rs).

Países de língua portuguesa como Angola e Moçambique também se encontram atrás de países que não falam português (creio que se deva também ao assunto).

Obviamente que há muito acesso de brasileiros (comunidades) e lusófonos (de países que falam português) dispersos nesses outros países, mas há também gente que aprendeu o idioma (ou está aprendendo) e que gosta do assunto e lê, e que também se interessa pelos posts sobre política no Brasil e História do Brasil.

Temas como "ideologia do branqueamento no Brasil" mal são abordados em escolas brasileira (mal abordado é forma de dizer, duvido que sejam, se alguém tiver novidades sobre isso, comente na caixa de comentários) e é um dos posts mais lidos/vistos do blog há meses, desde a publicação, pois pra muita gente é um choque o quanto os governos brasileiros escondem/esconderam essa questão da eugenia no Brasil (racismo e branqueamento) que põe abaixo o mito disseminado da "democracia racial" do país, assunto tabu que deixa muito pseudo-patriota "irritadinho" (a turma que sai pra "protestar", ops, relinchar com camisa da CBF).

A todos essas pessoas que visitam o blog, muito obrigado, e voltem sempre. E deem sugestões de temas. Se não for publicado na ocasião poderá sair depois.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

As horríveis consequências dos experimentos secretos realizados em humanos pelos britânicos

Uma nova investigação desvelou que milhares de "voluntários" foram intoxicados com gás sarin ou drogas experimentais desde 1939.
Louis Hugelmann. Alguns pacientes faleceram e outros foram induzidos
à demência momentânea. Vários pilotos da RAF foram vítimas disso
Passou-se pouco mais de um mês no qual uma nova pesquisa histórica desvelou que o governo da Grã Bretanha utilizou, durante a Guerra Fria, milhares de seus cidadãos como cobaias humanas para provar todo tipo de substâncias potencialmente perigosas. Tudo isso, sem seu consentimento e causando severos danos em suas saúdes. Não obstante, agora acaba de ser revelado também que provas foram realizadas sobre uma multidão de militares de Wiltshire, os quais foram expostos a substâncias como gás sarin ou antraz sem sabê-lo, desde a Segunda Guerra Mundial.

Assim afirma um novo livro "Ciencia Secreta: Un siglo de guerras, veneno y experimentos humanos" ("Ciência Secreta: Um século de guerras, veneno e experimentos humanos") do qual foi feito eco na versão digital do "Daily Mail". Este, por sua vez, explica as terríveis repercussões que sofreram esses improvisados objetos de provas depois dos experimentos. Entre elas, destacam algumas tão impactantes como as de um jovem inglês que esteve convulsionando durante vários minutos, ou outro que, depois que fora injetada uma droga "incapacitante" no cérebro, esteve falando quatro horas com um amigo de sua escola qe havia falecido há quatro anos.

Concretamente, a investigação revelou as provas que os cientistas britânicos realizaram sobre mais de 21 mil militares de seu país desde 1939 (no começo da Segunda Guerra Mundial) até 1989, num centro científico de Wiltshire. Essas foram promovidas pelo Ministério da Defesa, que fez finca-pé de que aos "voluntários" não lhes deviam explicar as possíveis repercussões. Contudo, os investigadores acreditavam até então que os experimentos eram totalmente seguros, algo que não impediu que, no passado 2008, o governo se desculpasse com as vítimas e lhes pagasse uma volumosa indenização.

O pesquisador que trouxe à luz esses dados foi o historiador Ulf Schmidt, que expôs em seu livro casos como o do engenheiro da Força Aérea de Sua Majestade (RAF), Ronald Maddison, de 20 anos. Este foi exposto, sem sabê-lo, ao gás sarin, um agente nervoso que atualmente está classificado pela ONU como uma arma de destruição em massa. Segundo o historiador, o militar foi guiado a uma câmara na qual - junto a outros cinco sujeitos - aplicaram-lhe vinte gotas dessa substância. Morreu duas horas depois. E isso, apesar de que haviam lhe informado de que não correria perigo algum.

Assim o há corroborado o pesquisador Alfred Thornhill, que testemunhou o sucedido quando tinha 19 anos. "Vi que se levantava da cama e sua pele começou a ficar azul. Começou desde o tornozelo e se expandiu por sua perna. Foi como ver algo vindo do espaço exterior. Depois, os médicos lhe aplicaram a agulha maior que já vi e me disseram para me saísse", explica o antigo militar em declarações recolhidas pelo diário.

Outra dessas foi produzida durante a Segunda Guerra Mundial (1943) quando vários soldados foram expostos a vapor de nitrogênio durante cinco dias seguidos. Os seis voluntários tiveram finalmente que ser retirados do teste pois sofreram queimaduras químicas em suas axilas, escrotos e couro cabeludo. "Abriram a porta da câmara e todos estávamos no chão, gemendo e chorando. Fez-se eterno e foi horrível", assinalou ao historiador Harry Hogg quem participou da prova aos 20 anos.

Algo parecido sucedeu com o aviador de 19 anos Richard Skinner, a quem, em troca de uns xelins (shillings), submeteu-se em 1972 ao que os especialistas lhe haviam denominado de "uma leve dose de anestésico". Contudo, o que realmente lhe injetaram foi uma nova droga que incapacitava o cérebro humano. Num vídeo gravado do experimento se pode ver como o paciente fala durante quatro horas com um extintor de incêndio que, segundo crê, é um amigo de infância falecido há quatro anos.

Como eles, e tal e como assinala Schmidt, milhares de soldados foram fechados em câmaras de gás sob falsas promessas de dinheiro e bombardeados com todo tipo de toxinas potencialmente letais com o objetivo de provar os novos trajes químicos que estavam desenvolvendo na ocasião.

Abc.es@abc_es / Madrid
Día 08/08/2015 - 18.10h

Fonte: ABC (Espanha)
http://www.abc.es/cultura/20150808/abci-repercusiones-guerra-mundial-experimentos-201508081739.html
Título original: Las horribles consecuencias de los experimentos secretos realizados en humanos por los británicos
Tradução: Roberto Lucena

sábado, 15 de agosto de 2015

A difícil reconciliação do Japão com o passado

Setenta anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, país ainda convive com posições divergentes sobre o papel que desempenhou no conflito. E, ao contrário da Alemanha, tem dificuldades em aceitar sua culpa.

Capitulação japonesa é assinada no navio americana USS Missouri, em 2 de setembro de 1945
Em março de 2015, durante uma visita ao Japão, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, lembrou que a Alemanha reconheceu sua culpa pela Segunda Guerra Mundial e se mostrou disposta a estender a mão para a França. "O processo de retrabalhar o passado é pré-requisito para alcançar a reconciliação", afirmou Merkel, pedindo indiretamente ao Japão para que seja mais ativo e autocrítico no seu processo de reinterpretação do seu próprio papel na guerra.

A resposta veio dentro da tradicional cordialidade japonesa, mas mesmo assim foi clara. O ministro do Exterior, Fumio Kishida, disse que é inapropriado comparar Japão e Alemanha na maneira como lidam com o seu passado na Guerra. Há diferenças em relação ao que aconteceu com os dois países. Além disso, acrescentou, Japão e Alemanha são cercados por vizinhos diferentes.

Será que o Japão, ao contrário da Alemanha, não aprendeu nada com a derrota e o sofrimento sem sentido de milhões de pessoas? Diante do nacionalismo e do revisionismo histórico que voltaram a florescer nos últimos anos no país, essa é uma hipótese a ser considerada.

Essa impressão é reforçada pelas ações e declarações do primeiro-ministro Shinzo Abe. Cada vez mais, ele se distancia dos pedidos de desculpas apresentados por seus antecessores, que reconheceram a responsabilidade do Japão por seus ataques com milhões de vítimas e pelo destino das mulheres obrigadas a se prostituir.

E, como alguns de seus antecessores, Abe também visitou o controverso Santuário Yasukuni, um monumento em memória aos japoneses mortos no conflito – incluindo alguns condenados por crimes de guerra.

Contudo, o pronunciado nacionalismo do primeiro-ministro e de alguns de seus assessores e adeptos não é uma representação fiel da complexa relação dos japoneses com o passado de guerra. Dela faz parte, como destacam analistas, a distância entre a "política de memória" do governo e o discurso social.

"No Japão, o processo de recordar esse passado de guerra é muito disputado, com vários interesses e intenções", explica o historiador Sebastian Conrad, da Universidade Livre de Berlim. Ao contrário da Alemanha, onde não há grandes diferenças entre o discurso do governo, do parlamento, de historiadores e da maioria da população, o tema é altamente explosivo no país asiático.

General Douglas MacArthur e imperador Hirohito em foto
tirada em outubro de 1945, logo após a rendição japonesa
Dois lados

Os governos do Japão no pós-Guerra têm defendido a posição de que o país assumiu as responsabilidades por crimes de guerra e espoliações, seja por meio de indenizações bilaterais, seja por meio de auxílios econômicos aos atingidos.

É verdade que houve várias iniciativas para promover o entendimento entre as nações – na publicação de livros escolares em parceria com a Coreia do Sul, por exemplo. "No entanto, iniciativas com essa não partiram dos políticos", afirma Gesine Foljanty-Jost, especialista em Japão da Universidade de Halle-Wittenberg, na Alemanha.

O especialista em assuntos asiáticos Ian Buruma acrescenta que no Japão também há iniciativas como programas de intercâmbio e projetos de cooperação com cidades de países vizinhos, mesmo que em menor escala se comparados a projetos similares na Europa. "Ambos os lados precisam colaborar para que essas ações tenham sucesso. Chineses e coreanos têm de ser receptivos, mas nem sempre é assim", afirma.

Além disso, Buruma diz que não é fácil ter um diálogo aberto com a China, onde a formação de opinião, tanto sobre temas históricos quanto políticos, é rigidamente controlada. "Talvez o Japão devesse se esforçar mais para a reconciliação, mas não há como fazer isso sozinho."

Dualismo

Em 1949, quando a Lei Fundamental (Constituição alemã) foi adotada, Theodor Heuss, membro do Partido Liberal Democrático (FDP) e futuro presidente da Alemanha, afirmou que, em 8 de maio de 1945, o país havia sido libertado e destruído ao mesmo tempo pelos Aliados. A declaração mostra que a visão dual sobre a derrota militar na Segunda Guerra já existia na Alemanha muito antes do famoso discurso de outro presidente, Richard von Weizsäcker, que em 1985 se referiu à data como "dia da libertação".

Proferido em 1985, o discurso de Weizsäcker
teve repercussão no Japão
Segundo Conrad, a fala de Weizsäcker também teve grande repercussão no Japão, onde foi traduzida e publicada e acabou tendo uma ampla circulação. "O discurso foi citado várias vezes, especialmente por intelectuais e ativistas de direitos civis, na tentativa de motivar o governo japonês a adotar gestos públicos de maior impacto", diz o historiador.

Ainda assim, Buruma observa que era difícil esperar do Japão uma visão dual, de derrota e libertação, semelhante à que houve na Alemanha. "Não existiu um Hitler japonês nem um partido nazista no Japão. O Império Japonês lutou – conforme sua autopercepção – na Ásia contra grandes potências ocidentais."

Influência americana

Para os Estados Unidos, o Japão se redimiu do passado de guerra com a condenação, no Julgamento de Tóquio, dos principais líderes políticos e militares que participaram do conflito mundial. Assim como no caso da Alemanha após os julgamentos de Nurembergue, os americanos estavam interessados sobretudo em ter parceiros confiáveis na Guerra Fria contra a China e a União Soviética.

Contudo, observa Conrad, nesse ponto existe uma importante diferença entre Japão e Alemanha, que explica, em parte, a maneira diferente de lidar com o passado de guerra. "Apesar de o Japão também ter sido integrado no sistema de aliança ocidental, quase toda a política japonesa do pós-Guerra se orientou pela política dos Estados Unidos, o que fez com que o Japão se desmembrasse do contexto regional." A Alemanha, por sua vez, esteve desde o início envolvida no "projeto europeu", tendo a amizade com a França como motor.

Críticas vindas da China, da Coreia do Sul e de Taiwan só começaram a ser percebidas no Japão depois do fim da Guerra Fria. "A sensação de responsabilidade ou de ser alvo das críticas de outros países asiáticos simplesmente não existia por lá", diz Conrad.

Mudança de atitude

Abe evitou pedido de desculpas e disse que gerações
futuras não devem carregar o peso de algo que não fizeram
Como resultado, o governo japonês começou a demonstrar que estava disposto a alguma forma de autocrítica ou de pedido público de desculpas na segunda metade da década de 1990. Especialmente em 1995, nos 50 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, e em 1998, na questão da prostituição forçada, houve gesto públicos de desculpas por parte de primeiros-ministros japoneses, mesmo que esses não tivessem o mesmo conteúdo simbólico que a queda de joelhos de Willy Brandt em Varsóvia e tampouco a mesma espontaneidade e, portanto, o mesmo efeito.

Mas o historiador afirma que, desde então, o Japão tem passado por mudanças. Segundo Conrad, grupos nacionalistas presentes no parlamento – e, nos últimos anos, também no governo – estão novamente se apoderando da interpretação do passado de guerra do país. Também no aguardado discurso de Abe em alusão ao 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, a influência dessas correntes nacionalistas é visível. O primeiro-ministro não se referiu, por exemplo, aos países "atacados pelo Japão", mas aos países "que lutaram contra o Japão".

Abe reconheceu os pedidos de desculpa feitos por seus antecessores, mas não acrescentou um pedido dele próprio. E foi além: disse que as gerações futuras não devem ser sobrecarregadas com contínuos apelos para se desculparem. O debate sobre o passado de guerra do Japão ainda está longe de acabar.

Fonte: Deutsche Welle (Alemanha)
http://www.dw.com/pt/a-dif%C3%ADcil-reconcilia%C3%A7%C3%A3o-do-jap%C3%A3o-com-o-passado/a-18649804

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

70 anos do bombardeio de Hiroshima

A quem puder ou quiser ler, pois o texto é longo e está em espanhol, vale a pena ler esta matéria que saiu no jornal Público da Espanha (não confundir com o de Portugal, não são do mesmo dono e o Público da Espanha é digital) sobre o bombardeio no Japão.

O texto é de um blog (presumo que sobre ciência) do jornal digital espanhol e conta com vários documentos e a narrativa do bombardeio, bem como das cidades que foram "poupadas" da bomba. Contém bibliografia no fim do texto, que aviso mais uma vez que é bem longo, mas muito bem feito (em etapas):

Las ciudades que se salvaron y las gentes que no

Uma das imagens que mais choca na matéria (embora haja várias fotos chocantes do episódio) é esta da garota que ficou cega com a bomba. Contém a seguinte descrição no texto (tradução minha):

"Esta garota, de Hiroshima, chegou a ver "a luz que brilha como mil sóis"... e depois não voltou a ver mais nada, nunca mais. Imagem: Governo do Japão.


Não é uma montagem, isso foi o efeito do clarão da bomba a quem sobreviveu e não conseguiu se proteger dele.

Esse foi o desfecho brutal de uma guerra insana em escala planetária.

A quem também tiver interesse em assistir, pois só dá pra saber da abrangência do público pelos contadores (acesso por nacionalidade etc) pois muito pouca gente comenta (estou desconsiderando disso os comentários de imbecis), sendo que o blog chegou à marca de mais de 1 milhão de visitas (farei post sobre isso, pois esqueci, o marcador que fica à mostra no blog está errado pois foi colocado depois que o blog já estava aberto, o Google fornece o número de visitas internamente), segue um trecho de algum documentário - que não consegui identificar o nome (no momento) - que reconstitui o lançamento da bomba e a explosão. Mistura imagens reais com a reconstituição e mais depoimento de sobreviventes e de quem jogou a bomba:

Hiroshima Nuclear (atomic) Bomb - USA attack on Japan (1945)


https://www.youtube.com/watch?v=gwkyPvlWPM0

Observação: Eu já coloquei aviso em outros posts pois o pessoal idiota que vem encher o saco costuma comentar em posts antigos com medo que mais gente leia essas asneiras e resolva descer o chinelo neles.

sábado, 13 de junho de 2015

Robert Sussman - "O mito da raça": antropólogo dos EUA delimita o racismo

"As raças biológicas não existem e nunca existiram", sustenta em seu livro "O Mito da Raça" (The Myth of Race: The Troubling Persistence of an Unscientific Idea) o antropólogo estadunidense Robert Sussman, para ele que a ideia de raça não se baseia numa realidade científica.

Sussman explora em seu livro como surgiu a ideia de raça, venenosa e falsa segundo o próprio, e como se converteu numa construção social das justificações bíblicas e dos estudos pseudocientíficos.

Em seu livro o antropólogo rastreia as origens da ideologia racista moderna até a Inquisição espanhola, chegando à conclusão de que as teorias de degeneração racial do século XVI se converteram numa justificativa crucial para o imperialismo ocidental e da escravidão. No século XIX, estas teorias se fundiram com o darwinismo para derivar num influente movimento eugênico. Crendo que os traços da forma craniana e que a inteligência eram imutáveis, os eugenistas desenvolveram hierarquias que classificam certas raças, especialmente as de pele clara dos "arianos" (brancos), como uma raça superior às demais, explica no seu livro.

Esses ideólogos propunham programas para provar a inteligência, a cria seletiva ou a esterilização, que alimentaram diretamente o genocídio nazista. Apesar de que a eugenia esteja atualmente amplamente desacreditada, alguns grupos e pessoas a usam hoje como base científica de velhas suposições racistas.

"Durante os últimos 500 anos, as pessoas aprenderam como interpretar e entender o racismo. O racismo está em nossa vida cotidiana. Disseram-nos que há coisas muito específicas que se relacionam com a raça, como a inteligência, a conduta sexual, as taxas de natalidade, a agressão, o altruísmo e inclusive o tamanho do cérebro. Temos aprendido que as carreiras estão estruturadas numa ordem hierárquica e que algumas raças são melhores que outras", sustenta Sussman em seu artigo sobre o livro na Newsweek.

"Inclusive se você não é um racista, sua vida se vê afetada por esta estrutura ordenada. Nascemos numa sociedade racista. O que muitas pessoas não se dão conta é que esta estrutura racial não se baseia na realidade. Os antropólogos demonstraram há muitos anos que não existe uma realidade biológica da raça humana", conclui.

Fonte: Urgente24.com (Argentina)
http://www.urgente24.com/232891-el-mito-de-la-raza-antropologo-de-usa-delimita-al-racismo
Tradução: Roberto Lucena

Observação: há textos (críticas) melhores sobre o livro, mas por praticidade segue essa tradução da matéria em espanhol mesmo (que dá totalmente pro gasto). O texto é só pra apresentar o livro.

Sempre ao lado do dito negacionismo ("revisionismo") do Holocausto, os grupos que defendem isso (a maioria) também defendem o resgate das teoria pseudocientíficas que justificaram o racismo no passado pro presente, por isso essa questão sobre racismo será sempre pertinente pro entendimento da segunda guerra, do racismo no Brasil e no mundo de vários genocídios praticados por questões étnicas.

Muita gente chega perguntando coisas obtusas como "Por que Hitler odiava os judeus" sem ter uma compreensão nem do que seja racismo. Por isso que é estranho que livros como esse não tenham sido ainda traduzidos pro português, e bizarrices como esta (atenção, o texto do link analisa o livro e o critica, não critiquem só lendo o título do texto) são lançadas sem maiores problemas.

Uma falácia que surge da questão da demonstração de que raças humanas não existem é a de que "já que raças não existem então pra quê cotas raciais?". Eu não vou entrar na discussão se as cotas servem ou não (se prestam ou não), mas esta é uma afirmação falsa que os grupos que contestam isso utilizam.

Raças não existem mas a crença no racismo (de que grupos humanos são divididos por "raças" e de que vários grupos são discriminados por origem e principalmente cor da pele) é uma realidade.

Existe no Brasil uma negação cínica ou ignorante do passado colonial e escravocrata do país, além do uso da mitologia da "democracia racial" do Varguismo pra mascarar o racismo cultural colonial do país. Pra quem pergunta com ares de "espanto" a famosa exclamação "como pode haver nazistas no Brasil", pelo visto esse pessoal deve achar que precisa haver uma crença racista importada do fascismo alemão pra haver racismo num país que manteve escravidão por mais de três séculos como política de Estado, quer seja por Portugal como na fase pós-"Independência" do país (período monárquico de D. Pedro II). Independência entre aspas pois eu considero a continuação dessa Monarquia como parte da Monarquia portuguesa mandando no país sob nova "roupagem".

A desconstrução do mito da raça serve justamente pra mostrar e desmontar as ideias de discriminação e preconceito de grupos racistas e não pra negar que haja racismo.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

O negro catalão que os nazis utilizaram como criado em Mauthausen

Carlos Greykey, catalão de pele negra,
foi utilizado como criado pelos
nazis (Wikimedia commons)
Chamava-se José Carlos Grey-Molay (ainda que anos depois mudou seu nome para Carlos Greykey) nasceu em 4 de julho de 1913 e vivia em Barcelona junto de seus pais, de origem africana e procedentes da Ilha de Fernando Poo, uma das colônias que a Espanha teve na África.

Isto lhe conferia ter todos os documentos como qualquer outro espanhol, já que os pais não eram considerados imigrantes, e o único fato que o diferenciava das demais crianças na escola, vizinhos ou companheiros (quando teve idade suficiente para trabalhar) foi sua cor de pele. Por demais, era um jovem esperto, inteligente, com um grande engenho e capacidade para aprender idiomas, dominando entre eles o alemão.

Também tinha um marcado compromisso político (catalanista, republicano e de esquerda), daí até o estouro da Guerra Civil (que o impediu de terminar seus estudos de medicina) decidisse combater no grupo republicano e ao finalizar o conflito bélico preferir se exilar e não viver sob a ditadura de Franco.

Mas sua chegada à França veio acompanhada do início de outra guerra: a II Guerra Mundial, pela qual seu espírito aventureiro o levou a se alistar no exército galo para combater a invasão nazi, mas em junho de 1941 foi preso e levado para o campo de concentração de Mauthausen.

Tudo parecia indicar que o final de Carlos seria trágico e que pouco tardaria para ir até as duchas com as quais os nazis gaseavam negros, ciganos, homossexuais e judeus, mas não foi assim, já que sua aberta forma de ser o levou a saber se relacionar com os oficiais de campo, que viam nele a alguém divertido, engenhoso e muito diferente do resto da gente de pele negra.

Por ter nacionalidade espanhola e ser republicano, classificaram-no como preso político, motivo pelo qual ele levava cosido em suas roupas um triângulo invertido de cor vermelha com o número 5124.

O domínio do idioma alemão, assim como o inglês e francês, fizeram que vissem em Carlos Greykey a alguém que podia ser muito útil como servente e camareiro dos oficiais, que se divertiam e davam umas boas risadas depois das engenhosas ideias que lhes dizia de forma divertida.

Em certa ocasião, um oficial que havia bebido demais e havia ficado embriagado, perguntou-lhe porque era negro, ao que Carlos respondeu "é que minha mãe esqueceu de me lavar". Como estas, eram muitas das respostas que dava, ganhando a simpatia e confiança dos alemães. Sabia que se não fizesse isso seria enviado para fazer trabalhos forçados e, muito possivelmente, acabaria gaseado. Preferia ser humilhado, que o tratassem como um "macaco" de feira e se comportar como tal a não ter um trágico final.

E sua tática lhe serviu para salvar a pele e sair dali são e salvo quando terminou a guerra. Depois de sua libertação de Mauthausen, sabia que sua condição de republicano lhe impediria de poder voltar à Barcelona, motivo pelo qual decidiu se instalar e viver na França, onde contraiu matrimônio, formou uma família e passou o resto de seus dias, até seu falecimento em 1982 aos 71 anos.

Fonte: Yahoo! (em espanhol), usando como referências o blog Holocausto en español e o El País
https://es.noticias.yahoo.com/blogs/cuaderno-historias/negro-catalan-nazis-utilizaron-como-criado-mauthausen-143406201.html
Título original: El negro catalán que los nazis utilizaron como criado en Mauthausen
Tradução: Roberto Lucena

Observação: há textos melhores que esse, mais completos (com mais informações), tanto que o texto do Yahoo! foi feito em cima do texto contido no blog "Holocausto en español". Caso alguém se interesse, fica a dica.
É curioso ver a diferença do padrão do Yahoo! em outro idioma pro entulho que é esse portal em português. Colocam de forma proposital (baixam o nível).

sexta-feira, 15 de maio de 2015

O revisionismo neofranquista (3): Moa exposto

Em outro post, meses atrás, Pío Moa ficou com a palavra na boca, depois que Enrique Moradiellos lhe colocou as luvas do debate, em maio de 2003, nas páginas virtuais do "El Catoblepas". Seria Moa capaz de demonstrar, com documentos, uma das ideias defendidas em suas obras sobre a GCE (Guerra Civil Espanhola) *, sabendo: que a ajuda militar estrangeira durante a guerra foi de quantidade e qualidade similar para ambos os lados e que a dita intervenção não afetou de maneira substancial o resultado final da guerra? Moradiellos havia-lhe rebatido esta ideia com documentos de arquivos da Espanha e estrangeiros que apontavam junto a direção contrária e aqui ficamos, esperando sua resposta.

Responde Moa, um mês depois, na mesma revista digital sustentando, em primeiro lugar, que o assunto de que o bando recebeu mais e melhor ajuda militar é secundário "num debate sério em torno da guerra civil" e que não deveria distrair do verdadeiro assunto a discutir que seria como e quanto influiu a ajuda estrangeira para cada grupo. Moa responde em seguida: a ajuda ítalo-germânica não implicava nenhuma obediência de Franco a Hitler; por outro lado, a ajuda soviética submeteu a Frente Popular (que melhor se entregou voluntariamente) às diretrizes de Stálin. Os planos do ditador soviético haviam sido a instauração de um satélite bolchevique na Espanha para destruir os regimes democráticos da Europa Ocidental.

Portanto, a esperança de uma discussão historiográfica científica com base em fontes documentais fiáveis se esvazia desde o primeiro momento. Disse Moa:
Sustento que, em termos militares, a intervenção se equilibrou mais ou menos. (...) Mas não entrarei agora nesse debate, insisto que é secundário uma vez esclarecida a primeira tese [a influência de Stálin]. Admitirei, a princípio, que meu crítico [Moradiellos] pode ter razão em alguns dos dados parciais que maneja, mas sigo inclinado a crer num equilíbrio básico, inclusive com ligeira supremacia dos suministros recebidos pelas esquerdas.
"Uma visão neostalinista da Guerra Civil", El Catoblepas, 16 (junho de 2003).
Moa escapa da discussão que Moradiellos tratava de apontar metodologicamente: medir a quantidade e qualidade de ajuda militar recebida por cada grupo e, com base nisso, determinar a influência sobre o resultado final da guerra. Moa, ao não possuir fontes que rebatessem Moradiellos, liquida a discussão invocando opiniões pessoais sem mais fundamento que sua crença pessoal, esse "mas sigo inclinado a crer" vem a dizer que seu preconceito é a prova de toda evidência contrária. O mais curioso do assunto é que um dos slogans publicitários que Moa mais utilizou para a venda de seus livros é que utilizou fontes de arquivos nunca descobertas ou desprezadas por outros historiadores "marxistas". Neste caso, privou-nos delas.

Alguns meses depois, Moa o resume da seguinte forma:
Creio que Moradiellos pode ter razão em algumas das críticas que me faz sobre fechas e volume da intervenção exterior, se bem que esses dados seguem sujeitos à revisão. Mas, como creio ter demonstrado, falha no fundamental, ou seja, no caráter qualitativamente distinto da intervenção soviética e da ítalo-germânica. Stálin "satelizou" a Frente Popular, enquanto que o apoio das potências fascistas não privou Franco de sua independência. Este é o ponto chave da intervenção externa (...).
"Errores en Los mitos de la Guerra Civil", Libertad Digital, 9 de janeiro de 2004.
Parece que vai admitindo que sim, que fora possível que Franco recebesse mais ajuda militar de Hitler e Mussolini em relação ao que recebeu a República da URSS? Em todo caso, Moa segue afirmando que isto seria irrelevante para o desenvolvimento e desenlace da guerra.
Ele [Moradiellos] plantou sua crítica em torno das cifras das intervenções soviética, alemã e italiana, negando minha aseveración de que foram mais ou menos equivalentes, e pretendendo que o maior aporte ítalo-germânico havia decidido a guerra. Como lhe indiquei, a questão das cifras, ainda que seja interessante, não é fundamental. E sua fonte principal, o livro de Howson, resulta muito pouco fiável.
"Los casos de Moradiellos y Viñas", Libertad Digital, 1 de janeiro de 2007
Em tão-somente um par de meses voltou a carga sobre esse assunto (sobre o que deve alimentar alguma má consciência) e lançou sua opinião final a respeito:
A quantidade de material e de tropas nunca determina o resultado de uma guerra ou de uma batalha. Tem sido frequente as guerras ganhas com inferioridade material..
"Un debate pueril", Libertad Digital, 14 de março de 2008.
Em resumo:
  1. Primeiro afirmou que a ajuda militar recebida pela Frente Popular foi de maior quantidade e qualidade que a que receberam os franquistas. Isto exaltaria a vitória de Franco, enfrentando um inimigo superior, e desmorona ainda mais a República, dilapidadora das riquezas da Espanha, mal gastadora de sua vantagem militar.
  2. Mais tarde, depois que Moradiellos houvesse lhe mostrado a prova contrária que era mostrada pelos arquivos, Moa passa a se defender argumentando que a supremacia militar não é algo decisivo no desenlace de uma guerra (esta ideia não merece maior comentário que uma simples revisão dos resultados da intervenção alemã na GCE e o significado da supremacia aérea na guerra moderna).
Na realidade, a ideia de Moa se esconde uma manipulação tosca e propagandística, uma falácia sem mais: quer fazer crer a seu leitor que o grupo que ganha uma guerra é o mais virtuoso e portanto é possuidor da Razão e o defensor da Justiça. No caso da GCE, para Moa ambos os exércitos simbolizavam duas ideias políticas de Estado: o Franquismo é interpretado como um intento honesto de reconstruir o desastre nacional provocado pela República e sua revolução stalinista. Moa, ao denegrir a capacidade militar do grupo republicano e achacar sua derrota, não a sua inferioridade bélica senão por sua própria incompetência, não faz senão simbolizar em sua derrota a justa derrota da Esquerda como ideologia frente à superioridade natural da Direita.

Com respeito à influência de Stálin sobre a Frente Popular, Moradiellos replica de novo em "El Catoblepas" (a Moa e a outros habituais desta revista não faltará oportunidade de lhes citar em outro post) que a URSS nunca conseguiu impor seus ditadores ao governo da República (ainda que tenha penetrado por completo no PCE e, por isso, nos mandos policiais e militares inscritos no partido) e que sua influência só cresceu significativamente ao longo de 1938 quanto mais se distanciavam as potências democráticas da República. Cita para mostrar isso a Viñas, Sarda, Martín Aceña ou Varela Ortega, assim como os documentos citados pelo historiador norte-americano Ronald Radosh em sua obra "España traicionada", Barcelona, 2002.

Contudo, parece um esforço vão já que na seguinte resposta Moa, abundando em desqualificações (burlescamente chama a Moradiellos de "o ilustre professor" e o acusa de "retórica barroca" e de "divagações, nimiedades, justificações desnecessárias", etc) opõe como critério de autoridade para respaldar suas ideias que "para qualquer pessoa algo a par das circunstâncias, não pode admitir a menor dúvida no predomínio soviético na Espanha".

Moa, portanto, não está disposto a discutir no terreno da historiografia baseada em fontes documentais, com informações e dados escritos contrastáveis e discutíveis com critério. Moa pretende levar sempre a discussão unicamente para os terrenos ambíguos da discussão política, onde crê que pode demonstrar a máxima que anima toda sua produção bibliográfica: que a Esquerda é uma ideologia maligna e que a História da 2ª República e da GCE o demonstra.

Que a política de esquerdas seja uma ideologia maligna ou não, não deveria ofuscar o espírito crítico de nenhum historiador que investigue sobre ela. O dever de objetividade deve estar acima de qualquer preconceito pessoal. A não ser que nosso objetivo não seja escrever História, senão fazer propaganda.

Do último livro de Alberto Reig Tapia, "Revisionismo y Política: Pío Moa revisitado" (Madrid, 2008) extraio esta citação que explica este afã de propaganda em determinados leitores:
Determinada gente não busca a verdade (verdades) senão a aquilo ou aqueles que melhor defendam suas prévias tomadas de postura que, naturalmente, jamais "revisam".

Fonte: blog Fuentes para la Historia de la 2ª República, la Guerra Civil y el Franquismo (Espanha)
Título original: El revisionismo neofranquista (3): Moa al descubierto
http://fuentesguerracivil.blogspot.com/2008/07/el-revisionismo-neo-franquista-3-moa-al_12.html
Tradução: Roberto Lucena

Parte 1: O revisionismo neofranquista (1): guia de uso - Pío Moa
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Observação: Sobre as siglas, como já ressaltado no começo.

GCE é sigla para Guerra Civil Espanhola.
PCE é sigla para Partido Comunista Espanhol.

domingo, 10 de maio de 2015

O revisionismo neofranquista (2): como funciona

Ao fundo do debate sobre o revisionismo neofranquista é preciso distinguir previamente ao quê estamos nos referindo:

A princípio, o revisionismo histórico é uma técnica acadêmica legítima que reinterpreta uma teoria historiográfica estabelecida já que apareceram novas fontes documentais que permitem uma melhor análise. A História é uma ciência social que constrói suas teorias de forma acumulativa (segundo a quantidade de dados) mas também qualitativa (objetividade de suas teorias). Ou seja, não já nada ruim (de fato é um exercício muito são) em renovar nossa visão dos fatos passados (que mudam segundo nossa civilização) sempre, claro está que o façamos de acordo com o método científico.

Existe, por outro lado, um outro tipo de revisionismo propagandístico e pseudo-histórico que refugia o uso científico da História com um claro interesse político: dar uma interpretação do presente com base no passado. Assim, por exemplo, a esquerda política na Espanha atual é antissistema, anti-Estado, antidemocrática, anti-etc. como já se havia demonstrado, segundo os revisionistas, durante os anos da Segunda República. Trata-se de uma forma de propaganda que trata de justificar suas afirmações entroncando-as num passado manipulado. É uma forma de busca de "respeitabilidade". O exemplo extremo do revisionismo é o negacionismo neonazi.

Em outro post, já se deu alguns quantos dados sobre a figura do principal valedor (ao menos o mais midiático) do revisionismo neofranquista, Pío Moa, e sobre a origem dessa corrente pseudo-histórica.

Melhor que vejamos o anterior como um exemplo: numa discussão que mantiveram na internet, de um lado Enrique Moradiellos e do outro, o próprio Pío Moa apoiado por Antonio Sánchez Martínez, José Manuel Rodríguez Pardo e Íñigo Ongay de Felipe, todos colaboradores assíduos de El Catoblepas, a revista eletrônica da associação Nódulo Materialista a qual está ligada o filósofo Gustavo Bueno e vários outros professores da Universidade de Oviedo. Gustavo Bueno é uma figura muito controvertida por suas recentes obras, "España no es un mito" ("Espanha não é um mito") e "Zapatero y el pensamiento Alicia" ("Zapatero e o pensamento de Alice") (de novo, passado e presente) e suas declarações radicais sobre o atual governo socialista ou o nacionalismo na Espanha, reproduzidas e apoiadas inclusive pela extrema-direita.

Sobre a adscrição política da revista "El Catoblepas", a verdade é que é um tema controvertido porque seus editores se definem como "materialistas", ainda que como sempre, diz-me com quem andas...

Moa declarou repetidamente que o mundo universitário o exclui de seus debates por contradizer a corrente historiográfica predominante controlada por professores ideologizados de esquerda, e portanto, subjetivos.

Enrique Moradiellos, catedrático de História Contemporânea da Universidade de Extremadura lhe responde caindo na provocação. Entre maio de 2003 e fevereiro de 2004 cruza uma série de artigos acerca de uma questão historiográfica particular: a intervenção de potências estrangeiras em apoio de um e de outro bando contendores na GCE (Guerra Civil Espanhola) e seu efeito sobre o curso e desenlace final.

Moa havia enfocado este tema em seu livro "Los mitos de la Guerra Civil" ("Os mitos da Guerra Civil") nos seguintes termos: 1) que a ajuda foi de quantidade e qualidade similar para ambos os bandos; 2) que foi a URSS quem rompeu a política de não-intervencionismo das potências europeias; 3) que o objetivo final da ajuda stalinista era a instauração de um satélite na Espanha que acelerasse a queda dos regimes democráticos da Europa Ocidental e 4) que a dita intervenção não afetou de maneira substancial o resultado final da guerra.

Moradiellos rebate num primeiro artigo todas essas teorias com base na documentação já estudada (citando suas obras) por Jackson, Coverdale, Proctor, Avilés, Pike, Viñas, Saz, Howson, Preston, Abendroth, Graham, Radosh, Whealey, Haslam, Oliveira, Stone, Madariaga, García Cruz, Fusi, Bizcarrondo, Elorza etc. Esta documentação está disponível para a consulta nos arquivos do Foreign Office britânico, do Departamento de Estado estadunidense, do Arquivo Político do Ministério de Relações Externas (Berlim), dos Arquivos Militares de Friburgo, do Arquivo Secreto do Estado (Berlim); do Archivio Centrale dello Stato (inclui a Segretaria Particolare del Duce) e do Archivio Storico del Ministero degli Affari Esteri (inclusive o «Ufficio Spagna» que dirigia a intervenção italiana na Espanha) ambos em Roma; do Arquivo do Ministério de Assuntos Exteriores da França (Paris), dos arquivos militares franceses (Toulouse e Paris), dos arquivos de departamentos fronteiriços com a Espanha e dos arquivos de companhias aeronáuticas franceses.

Toda esta documentação estudada e já publicada, vem a demonstrar justo o contrário do afirmado por Moa: que o Eixo levou a iniciativa na intervenção, que os objetivos da intervenção soviética eram contemporizadores (deter o avanço do fascismo) e que a maior ajuda militar alemã e italiana conferiu uma esmagadora superioridade aérea ao grupo franquista, o que determinaria finalmente o curso das operações militares.

Chegando a este ponto, podemos pensar que íamos ter um debate a altura, com Moa replicando com novos dados e cifras provenientes de documentos inéditos. Pois não foi o que aconteceu.

Mas sua resposta e outras coisas mais já a veremos no post seguinte.

Fonte: blog Fuentes para la Historia de la 2ª República, la Guerra Civil y el Franquismo (Espanha)
Título original: El revisionismo neofranquista (2): cómo funciona
http://fuentesguerracivil.blogspot.com.br/2008/03/el-revisionismo-neofranquista-como.html
Tradução: Roberto Lucena

Parte 1: O revisionismo neofranquista (1): guia de uso - Pío Moa
Parte 3: O revisionismo neofranquista (3): Moa exposto

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

"Na Legião Azul franquista houve poucos voluntários e muitos forçados". Entrevista de Xavier Moreno

Referimo-nos ao livro "La División Azul. Sangre española en Rusia, 1941-1945" (Barcelona, 2004) [A Divisão Azul. Sangue espanhol na Rússia, 1941-1945]; Hitler y Franco. Diplomacia en tiempos de guerra, 1936-1945" (Barcelona, 2007) [Hitler e Franco. Diplomacia em tempos de guerra, 1936-1945]; e agora se publica "Legión Azul y Segunda Guerra Mundial. Hundimiento hispano-alemán en el Frente del Este, 1943-1944" (Madrid, 2014) [Legião Azul e Segunda Guerra Mundial. Afundamento hispano-alemão na Frente do Leste, 1943-1944].

Dado que a Legião Azul é pouco conhecida entre o grande público, devemos considerar que podia ser de interesse para nossos leitores entrevistas este especialista nas relações existentes entre o franquismo e o Terceiro Reich, cuja generosidade agradecemos por ter concedido responder nossas perguntas.

Que relação tem a Legião Azul com a Divisão Azul?

Muita, tanto que nasceu dela. Concretamente, quando a Divisão Azul foi retirada do Front, em outubro de 1943, por ordem de Madrid ficou na Rússia um pequeno contingente, a Legião Azul, de modo que remanente que evitasse possíveis reações alemãs e, a par, a imagem de que a Espanha abandonou a Alemanha a sua própria sorte.

Um soldado da Divisão Azul coloca um crucifixo na tumba de um companheiro.
Quem tomou parte da Legião Azul?

Em tese, 2.269 homens, dos quais em meu livro "Legião Azul e Segunda Guerra Mundial", listo os nomes e dados pessoais de 2.199. De fato, até agora se acreditava que eram os mais ideologizados entre os divisionários, mas não foi bem assim: majoritariamente foram os últimos a chegarem à Rússia que ficaram retidos por el mando. Portanto, algo pouco voluntário e muito forçado.

Qual foi sua trajetória?

Primeiro sua entrada em combate foi retrasada pelo Ministério do Exército (o Min. do Exterior era totalmente contrário a sua existência). Depois, já no Front, foi parcialmente utilizada contra os partisans, o que desagradou bastante a maior parte de seus membros. Por outra parte, ficou concentrada num Front em apreensivo ante a possibilidade do início da esperada ofensiva de inverno do Exército Vermelho. Ações de patrulha e vigilância ocupavam as horas. E finalmente, quanto o ataque foi desencadeado, a retirada foi de grande magnitude, tanto que afetou a todo o Grupo de Exércitos do Norte. A marcha foi um desastre.

Capa do livro Legião Azul, o estudo mais completo sobre o tema.
Foi relevante em termos bélicos/militares?

Não, pois eram muito poucos homens numa frente de magnitude enorme. Apontar aqui que, contudo, a luta a que se viu enfiada foi brutal, pois falamos de dezembro de 1943 e janeiro de 1944 na Rússia, quando a Alemanha havia perdido já toda a possibilidade de vitória e ficou ocupada na defesa de suas cada vez mais minguadas conquistas.

Qual foi a atitude de Franco ante a Legião Azul?

A de sempre: de passividade. Ainda que foi ele quem recolheu a ideia do ministro do Exército, Carlos Asensio, e a criou, não optou por retirá-la até que a pressão dos Aliados o obrigou.

A Legião Azul foi o último vestígio da colaboração militar franquista com Hitler.
Foi mitificado o papel da Legião Azul?

Não se pode mitificar seu papel enquanto que não participou de nenhum grande hecho de armas. Mas bem que tentaram esquecê-la, e muito pouco se havia escrito sobre ela. De fato, para mim seu estudo significou o ponto final de uma trilogia que comecei há dez anos já com a Divisão Azul (2004) e prosseguiu com "Hitler y Franco" (2007).

* Podem acessar o índice de Legião Azul clicando aqui.

XAVIER MORENO JULIÁ (Barcelona, 1960) é doutor em História Contemporânea pela Universidade de Barcelona e professor da Universidade Rovira i Virgili, de Tarragona. É prêmio nacional de Pesquisa e publicou uma trilogia de relevantes investigações sobre a Divisão Azul e seu contexto.


Fonte: Blog de Xavier Casals (Blog sobre extremismo y democracia, Espanha)
http://xaviercasals.wordpress.com/2014/12/18/entrevista-a-xavier-moreno-en-la-legion-azul-franquista-hubo-poco-voluntario-y-mucho-forzado/
Título original: Entrevista a Xavier Moreno: “En la Legión Azul franquista hubo poco voluntario y mucho forzado”
Tradução: Roberto Lucena
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Observação: sugestão de blog sobre fascismo e extremismo para lerem (em espanhol), Blog de Xavier Casals, com um post para um PDF de livro sobre conceitos do Fascismo, abaixo.
Link: Nuestro ensayo "¿Qué era? ¿Qué és? El fascismo" en PDF gratuito

Há mais blogs sobre fascismo e segunda guerra acrescentados na parte de "favoritos" (Destaque) no blog, canto esquerdo.

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