terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Batalha dos Guararapes (o filme)

Quadro votivo "Batalha dos Guararapes"
Pra quem nunca assistiu e queira ver, segue abaixo o link do filme "Batalha dos Guararapes" que trata justamente da batalha e do período de ocupação holandesa de Pernambuco (Brasil) que se encerra com a expulsão dos holandeses na Restauração Pernambucana.

Quando o José Wilker (que participa do filme) morreu, pediram ou perguntaram sobre se havia cópia desse filme para assistirem. Eu acho bizarro que não achem isto pelo Google ou Youtube pois basta digitar o nome do filme que dá de cara com o mesmo (é um dos primeiros resultados a aparecer). Pra acrescentar, acho que não houve agradecimento também (pois por boa educação se agradece).

Mas deixando isso de lado, alguns dados rápidos do filme com ajuda da Wikipedia (ou leiam este post aqui).

1. Este filme, de 1978, foi a primeira superprodução brasileira custando, à época, certa de 3,5 milhões de dólares, o que é um valor alto até pra filmes nacionais produzidos hoje. Quem quiser fazer a conversão de quanto isto valeria hoje, seria uma boa. É bastante dinheiro prum filme daquela época.

2. O filme foi rodado em Pernambuco, com a ajuda do Exército, em pleno governo Figueiredo (último ditador do país do regime militar 1964-1985).

3. O filme teve a participação de 120 atores e mais de três mil figurantes sob a produção de Carlos Henrique Braga, um ex-oficial da Marinha, também empresário.

4. O filme representou o Brasil no Festival de Moscou (quem diria, a ditadura brasileira era "bolivariana", rs, conteúdo irônico).

5. O filme tem destaque pra participação de José Wilker como ator principal, e vários outros atores brasileiros conhecidos.

Acho que pela distância do período da ditadura já é possível assistir este filme com um distanciamento daquele período, sem a polarização da época. Teoricamente, pois me refiro à gente normal, pois os extremistas sempre verão tudo de forma distorcida.

Só um adendo, o filme não é uma reconstituição fiel dos episódios retratados (nenhum filme é), ele também tem um caráter ufanista e de propaganda nacionalista da época, mas mesmo assim, são poucos os filmes de destaque de caráter épico-histórico no Brasil.

E como não posso deixar de reparar, nos textos dos links retratando o filme, e até na abertura do filme, há a citação de "Nordeste brasileiro", mas como já comentei aqui, esta expressão, além de anacrônica (Link2, Link3), é totalmente errada pois não havia "Nordeste" brasileiro na época e sim território português e suas divisões conforme a coroa portuguesa. Colocar valores atuais em algo que não existia naquele período é um erro, exceto quando se faz um comentário explicando o porquê da adoção do termo. Muita gente por conveniência (costume) usa o termo, como eu tenho restrição a ele, eu não uso (ou evito).

Como já dito em outros posts, as divisões regionais atuais foram feitas no Estado Novo de Vargas, antes do Estado Novo (período recente, 1937-1945) não havia Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste, Norte ou Sul como regiões, ou seja, são mais de 400 anos sem existência de "Nordeste", não é um período curto de tempo qualquer. Isso mostra a força como o direcionamento ideológico de divisão do país propagado pela literatura, mídia/imprensa no Brasil tentam moldar a realidade atual do país.

Por isso que acho bizarro essa convicção preconceituosa de certos bovinos no Brasil que usam esta expressão como se as mesmas sempre houvessem existido.

E a quem acha que o problema se resume a estados de outras regiões em contraposição à região alvo de preconceito, sei que há gente da própria região que odeia quando pernambucanos enfatizam esta questão, aí começam os "elogios" a Pernambuco, porque ao mesmo tempo em que essas pessoas usam o discurso regional como "escudo", também muitos costumam malhar Pernambuco. Eles adoram usar vários aspectos culturais de Pernambuco pra reproduzir esta identidade regional forjada como se fosse algo "natural" de todo um conjunto mesmo sabendo da verdade por trás disso, justamente pra minar a identidade de alguns estados que nunca tiveram vergonha de suas raízes e história, como se houvesse um ressentimento por detrás dessa atitude de outros estados da região, quando não existe razão pra isso pois basta citarem sua história ao invés de anulá-la totalmente com um termo regional.

Apenas fique claro que, o tempo de pernambucano aturar o "monopólio" de expressões contra o próprio estado, proferidas por outros estados, acabou. Não sei se será possível reverter esta postura e todo estrago feito pela disseminação desses regionalismos, mas jamais irão conseguir empurrar goela abaixo esses regionalismos forjados pra abafar a bandeira e a história do Leão do Norte.

Eu gostaria de colocar mais links de filmes históricos brasileiros, principalmente sobre movimentos políticos e de outros estados (se alguém souber, indique), mas se o filme for produzido pelo oligopólio de mídia brasileiro eu evitarei colocar.

Sobre o quadro (pintura) do começo do post, ler sobre ele aqui:
Exposição: "A Presença Holandesa no Brasil: Memória e Imaginário"
Batalha dos Guararapes (quadro)

Filme - Batalha dos Guararapes (1978) TVRip

6 comentários:

João P. Santos disse...

Assisti este filme tem muito tempo.

Ao ler o fim do texto, tocando em um assunto atual, destacam que não existe unidade regional. Procede isto?

Roberto disse...

Infelizmente ou felizmente, procede.

É por isso que eu sempre ironizo quem usa esse termo regional ("Nordeste") como se houvesse alguma unidade ou como se houvesse homogeneidade na coisa, isso é mais uma das mitificações que a mídia reproduz sem parar, com qual intuito eu realmente não sei, por que, a quem interessa essa divisão do país? E quem vem incitando isso há décadas é a mídia do país ao contrário das baboseiras que circularam durante a campanha eleitoral deste ano.

Roberto disse...

Se eu relatasse todas as baboseiras que já li e ouvi de gente de outros estados da região atacando Pernambuco, entenderiam melhor o porquê de haver esse ranço ou pé atrás com o "pacote de boas intenções" dos demais estados da região.

Antigamente a maioria do povo da região ou ia estudar em outra região ou vinha pra Recife se formar, com o tempo foi se formando ou melhorando as universidades nos demais estados mas isso se deu mais na década de 90, quando o estado entrou em bancarrota com Eduardo Campos liquidando as finanças do estado, e também com ajuda da lei Kandir que aumento a presença de empresas que saíram de PE e migraram pra estados vizinhos.

Ou seja, na hora de quebrar Pernambuco não houve solidariedade regional alguma, mas sempre cobram da gente uma postura mais enfática ou amistosa sobre essa questão de preconceito regional quando estoura geralmente em SP e eu já comentei que não dou a mínima pra relincho de hiena (é o que penso de quem profere isso nas demais regiões, e acho mesmo um bando de hienas).

Estão usando um preconceito criado em alguns estados como escudo pra vitimismo e não olho com bons olhos essa postura, pois quando citam região acabam colocando os pernambucanos no meio quando o povo de PE nunca foi vitimista ou um povo que não sabe se defender ou atacar se for preciso.

Acho que já passou da hora pros estados vizinhos da região pararem com essa frescura em torno dessa mitificação regional e citarem o nome dos respectivos estados, pois parece que usam o termo regional pra não citar o estado de origem como se tivessem vergonha.

Por conta disso, nos chamam de prepotentes, arrogantes, insuportáveis, chatos e o diabo a quatro. O que já vi de cearense atacando o Recife e Pernambuco é de deixar a Mayara Petruso parecendo um "anjinho".

Por isso que levo a sério o discurso de ódio dentro do limite que ele deve ser levado, quando a coisa descamba pro vitimismo, esse pessoal não conte comigo.

Roberto disse...

Um exemplo que ocorreu esse ano, no futebol, que ilustra bem a coisa. Jogo Botafogo-PB x Sport na Paraíba, pelo Nordestão (torneio da CBF, Copa do Nordeste). Torcida do Sport foi agredida lá por um certo ranço da PB com Pernambuco, os caras já foram a campo propensos a brigar e quebra o pau com a torcida do Sport, porque a maioria da PB torce pra clubes cariocas, com destaque praquela coisa da Gávea (Flamengo), que prefiro nem pronunciar o nome (quando dá).

Partem pra agressão, nos atacam etc, quando vai um clube do Rio pra jogar lá, só faltam abanar o rabo (como cachorro) colocando tapete vermelho pra receber os caras, e são chamados pejorativamente no Rio de "paraíbas". Por isso que acho hilário quando surgem esses discursos "regionais" como se o pessoal em PE não tivesse ideia da calhordice que rola por detrás disso.

Não ignoramos o problema do preconceito e o que se formou, só que temos uma posição diferente do resto e nos querem impor uma postura frouxa ou querem que a gente enterre a identidade do estado, quando essa postura frouxa/submissa não tem absolutamente nada a ver historicamente com Pernambuco.

Pra começar que não torcemos pra clubes de outra região, torcemos pra clubes de Pernambuco. Só no interior, graças as malditas parabólicas que só transmitem programação do eixo, formou-se um certo núcleo de torcedores "mistos" (é o apelido que a gente colocou pra quem não torce pro clube de sua terra, estado natal, ou torce pra dois clubes), geralmente mais ligados aos clubes de SP, mas mesmo assim não chegam a ser maioria. Pernambuco, com todo esse ataque midiático ainda é o quinto estado do país onde a maioria dos torcedores locais torcem pra clubes do estado acima de clubes de outra região, principalmente na Região Metrop. do Recife que abrange praticamente metade da população do estado.

Circulou o vídeo de um cearense quando estourou aqueles pitis histéricos após o término da eleição, com o cara com uma imagem caricata de chapéu de sertanejo (quando ele nem usa aquilo no dia a dia) e tal, com esse discurso vitimista que eu condeno. Tá na hora desse pessoal parar com isso. Estão criando um certo discurso subnacionalista regional fracionando o país.

Inclusive gente de esquerda reproduz essas asneiras preconceituosas e caricatas (estigmatizando), por ignorância ou querer explorar ao extremo esse tipo de rixa regional pra fins políticos (algo que reprovo). Esse pessoal está fazendo um desserviço no combate ao preconceito no país.

Não se combate preconceito sem antes entender as origens do mesmo ou reproduzindo a papagaiada que a própria mídia repassa pra criar um estigma.

João P. Santos disse...

Eu sempre desconfiei disto que você narra pois tenho colegas da região e realmente não costuma existir esta unidade entre eles que a mídia alega, além das diferenças comportamentais entre os estados de origem.

Agradeço pelos esclarecimentos sobre o tema.

Roberto disse...

E tem mais "histórias" sobre essas rixas, não é algo tão "leve" ao ponto daquele pessoal que vive falando em "Nordeste" (como se fosse uma coisa só, um bloco) achar que há uma união umbilical porque Vargas no Estado Novo resolveu criar essas regiões.

Isso é coisa que a mídia propagada e o povo (repetindo que nem manada), sai espalhando e reproduzindo também, mas nunca houve unidade regional alguma, apesar de tentarem criar.

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