Como citei aqui, eu comentei que iria fazer um post sobre esta lei da negação do Holocausto pois eu era o único no blog que não era contrário a este tipo de lei em alguns países com passado autoritário/ditatorial, que é o caso do Brasil, Alemanha e vários outros, e onde há um ranço autoritário de parte da população.
Com a subida ao poder de neonazistas na Ucrânia este ano, caiu por terra a "crença" de que esse tipo de lei combata ou consiga dispersar grupos de extrema-direita como muita gente acredita piamente, que basta assinar um decreto, e voilá, via passe de mágica os grupos "somem" com medo da legislação.
Lembrando que o golpe na Ucrânia foi apoiado pelo governo dos EUA e pelas lideranças da União Europeia, abrindo um precedente perigoso desde a segunda guerra. Ou seja, chega a ser bizarro que países tenham esse tipo de legislação e apoiem esse tipo de grupo (neonazi) chegar ao poder por conta de disputa política com a Rússia.
Voltando à questão, a ideia que o Roberto Muehlenkamp defende, e muito mais gente (a Lipstadt também defende isso, se eu achar o texto eu coloco aqui), de que a livre discussão deve prevalecer, e que se deve combater a ideia e que ideias não se acabam via canetada, é totalmente correta.
Mesmo eu tendo essa restrição com o negacionismo, eu sempre achei que essa ideia defendida pelo Roberto era totalmente correta, visto que a livre discussão do assunto nos EUA minou e desmoralizou esses grupos "revisionistas" por lá.
Só que há uma atuação civil naquele país pra combater isto que no Brasil não existe, o povo no Brasil em geral fica no comodismo achando que virá um "super-herói" combater essas coisas ou deixam a coisa correr pra discutir tudo em cima, em época de eleição (às vezes nem isso), sem participar politicamente de nada. É a típica ação comodista e covarde que culminou no aumento expressivo desse extremismo de direita no país como o desses grupos pedindo intervenção militar. A quem acha que uma coisa ("revisionismo") não tem a ver com a outra (esse extremismo de direita pedindo cabeça de presidente etc), as duas coisas têm mais relação do que muita gente pensa. O comodismo político tem um preço, o crescimento do extremismo.
Aqui o texto do Roberto no Holocaust Controversies:
A Petition to the German Legislator
Aqui um texto do Andrew Mathis sobre isso, com e mesma posição:
Holocaust Denial on Parade
O Leo concorda com a posição do Roberto Muehlenkamp (caso eu esteja errado eles podem vir comentar), o Daniel (do blog Avidanofront) idem, o Marcelo Oliveira que eu lembre também (ele não posta no blog, mas o nome do blog foi tirado da antiga, e finada, lista de discussão dele).
Então, declaro abertamente que minha posição anterior favorável (como uma exceção, apenas em países com passado ditatorial recente) sobre essa legislação acerca do negacionismo, não existe mais, não mais apoiarei este tipo de legislação ou lei sobre esse tipo de questão.
Quem quiser se iludir, como disse no comentário lá no começo do post (está no link), com essas leis, de que as mesmas irão acabar com racismo, crenças racistas e grupos fascistoides via caneta, sem haver educação, sem discussão, fique à vontade pra se iludir, só não quero ser cúmplice disso, dessa ilusão coletiva por comodismo, porque há bastante tempo sou cético com a 'eficácia' desse tipo de lei, e como disse acima, com o golpe dado na Ucrânia o ceticismo virou certeza, então seria bizarro eu continuar com a posição anterior.
O que se passa no Brasil em relação a essas questões (de racismo, extrema-direita etc), como eu disse acima, é de haver um certo descaso da sociedade civil, uma histeria tentando criar tabus (pra que não se discuta) por comodismo e fobia social, uma ignorância generalizada (o povo não procura entender o assunto pra se posicionar), e uma vontade de querer abafar o assunto com o famoso "esse assunto é chato" (chato é quem diz isso, tremendas malas sem alças), que acaba criando bizarrices como as que vi no Orkut, quando esse tipo de problema era algo mínimo, controlável, e um grupo de "ativistas" idiotas querendo dar uma de Batman (bancando os "justiceiros"), partiu prum quebra-pau com alguns desses bandos ridículos pequenos que circulavam por lá (grupos mínimos) e a coisa acabou se propagando por conta da histeria criada com a briga aberta, com a mídia fazendo sua "contribuição" pra difundir a coisa em vez de explicar, esclarecer, porque qualquer coisa que remeta a nazismo acaba chamando atenção do público curioso, que em sua grande maioria não lerá nada que preste sobre isso (e nem interesse muitas vezes têm), e quando leem algo que presta não costumam comentar, discutir etc, então a impressão que passam é a de que a ignorância é grande.
Depois do estrago feito não tem volta. Hoje dá pra falar sobre esse estouro do problema no Orkut sem a pessoa receber um ataque de algum "ativista" desses irritadinho porque a gente discorda desse tipo de "ativismo" deles posando de Batman, mas antes era complicado, você corria risco de receber ataque a torto e a direito (xingamento, ameaças etc) só por discordar de alguma dessas figuras por entender que eles não tinham noção alguma do que atacavam/criticavam (e não tinham mesmo, e acho que continuam sem ter), igual aos ataques que alguns "revis" também recebiam (isso era pra justificar a ação "benévola" justiceira deles). E obviamente o ataque é proferido por covardes, pois usavam das falhas de segurança do site pra fazerem isso.
Há um PL no congresso sobre esse assunto (negacionismo) que pode ser aprovado, se for ou não, a lei que reprime o problema não irá educar o povo com a questão do racismo, preconceito etc. É a mesma questão que a legislação antirracista levanta, essas leis acabaram com o racismo no Brasil ou acabou "refinando" a coisa? Porque quem é racista não deixa de ser por conta de uma lei.
Certas ideias, como as racistas, só se diluem mostrando que não prestam, que são crendices e afins, via educação e assimilação de conhecimento que é algo que muitos brasileiros sentem aversão, visto o tipo de busca por "conhecimento" que vão atrás como literatura rasa (livros de auto-ajuda), conspiratória ou por "filosofia" astrológica. Basta ver a lista de livros mais vendidos do país.
Não digo isso por pedantismo ou "contente" (tem gente que se sente o máximo e tem prazer em chamar grupos de pessoas de ignorantes, mas não sinto qualquer "alegria" nisso), pelo contrário, não é tão fácil pôr o dedo na ferida, mas é necessário.
2 comentários:
De pleno acordo com o texto. Eu também acho que esta legislação sobre revisionismo não surtirá o efeito desejado, caso venha a ser aprovada.
Um exemplo de como a sociedade civil atua nos EUA e não se vê sinal (nem sombra) disso no Brasil, nos EUA há sites como o The Holocaust History Projet (http://www.holocaust-history.org/) e o Holocaust Denial on Trial (http://www.hdot.org/), e o Nizkor Project (esse é canadense, http://www.nizkor.org/) que disponibiliza amplo material sobre história da segunda guerra e que rebate a negação do Holocausto pra quem dominar o inglês (idioma) consultar, fora os blogs em inglês que também fazem isso.
Aí você chega no Brasil o que encontra? Nenhum site com material (tradução, pois a maioria do conteúdo relevante de segunda guerra é escrito em inglês, alemão etc) pra consulta e afins.
Aí tem gente que acha que simplesmente baixando uma lei dessas que em passe de mágica o problema do fascismo, racismo/antissemitismo vai acabar. É como empurrar pra debaixo do tapete o problema, já dizia isso no Orkut mesmo abrindo aquela exceção sobre a lei do negacionismo, que lei que reprime simplesmente não vai resolver esse tipo de problema e sim educação, informação.
O povo em geral tende ao simplismo ou comodismo de achar que irá resolver qualquer problema cultural, ético e afins com leis e só, e isso é um equívoco (um erro).
Fora a paranoia e o "justiceirismo" que rola com a patrulha a esses sites "revis", isso desde o Orkut.
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