A primeira tentativa após a guerra de estabelecer o número total de mortos no contexto de uma investigação forense foi feita pela Comissão Estadual Extraordinária para Averiguar e Investigar os Crimes Cometidos pelo Invasores Alemães Fascistas e os Seus Associados no Campo da Morte de Oswiecim. O comitê chegou à conclusão de que quatro milhões de pessoas tinham sido mortas em Auschwitz. A sua conclusão foi baseada numa avaliação da capacidade dos crematórios. Os cinco crematórios teriam sido capazes de queimar, ao menos em teoria, 5.121.000 cadáveres. Adicionalmente existia a capacidade adicional proporcionada pelas piras. Tendo em consideração a possibilidade de operação abaixo da capacidade e de paradas, no entanto, a Comissão de peritos técnicos estabeleceu que durante a existência do campo de Oswiecim os executores alemães tinham assassinado pelo menos quatro milhões de cidadãos da URSS, Polônia, França, Iugoslávia, Tchecoeslováquia, Romênia, Hungria, Holanda, Bélgica e outros países.[26].
Além da abordagem de engenharia questão de quantas pessoas tinham morrido em Auschwitz, surgiu um segundo método de estabelecer o número de vítimas. Este baseava-se numa análise do número de deportações para o campo. Já em 1946, Nachman Blumental, usando este método, chegou a suposição informada que o número de vítimas devia ter sido entre 1,3 e 1,5 milhões.[27] No início da década de 50, Gerald Reitlinger igualmente tentou chegar a uma estimativa grossa do número de vítimas com base no número de deportados.
No que diz respeito ao número total de judeus trazidos para o local de seleção em Auschwitz, é possível estimá-lo com alguma exatidão para os países da Europa Oriental e Central bem como para os Bálcãs, mas não para a Polônia. Não existe uma guia real quanto à porcentagem de gaseados. Foi baixa antes de Agosto de 1942, e geralmente baixa também após Agosto de 1944, mas no período intermediário podia variar entre cinqüenta e cerca de cem por cento. A lista seguinte tem em conta um número de transportes franceses e gregos enviados para Majdanek e 34.000 judeus holandeses que foram para Sobibor:
Bélgica 22.600
Croácia 4.500
França 57.000
Grande Reich [....s transportes diretos] *25.000 (incerto)
Grande Reich [via Theresienstadt] 32.000
Grécia 50.000
Holanda 62.000
Hungria (fronteiras durante a guerra) 380.000
Itália 5.000
Luxemburgo 2.000
Noruega 700
Polônia e Países Bálticos *180.000
Eslováquia (fronteiras de 1939) 20.000
TOTAL----840.800
Deste total, 550.000 a 600.000 poderão ter sido gaseados logo após a chegada, e a estes deve-se- acrescentar uma parte desconhecida dos 300.000 ou mais, desaparecidos do campo, que foram selecionados.[28] importante anotar que Reitlinger, se confrontado com várias estimativas diferente do número de vítimas, escolhia por sistema a mais baixa. A primeira razão era que o exagero serviria àqueles que quisessem negar o Holocausto.[29] A segunda deve-se localizar na sua disposição invulgarmente otimista perante toda a história, baseada na sua avaliação muito sombria da natureza humana: enquanto escrevia o livro, lembrava-se sempre a si próprio de que poderia ter sido pior um sentimento que poucos têm partilhado.[30 ]
Finalmente, havia avaliações diferentes por parte das testemunhas. A mais importante destas era, sem dúvida, o Comandante Rudolf Höss. Durante os seus interrogatórios iniciais, Höss parece ter confirmado uma avaliação inicial feita pelos seus interrogadores de que três milhões de pessoas tinham sido mortas em Auschwitz.[31] Em Nuremberg ele deu números diferentes em ocasiões diferentes. Durante os seus interrogatórios deu uma lista detalhada de números por nacionalidade que somava mais do que 1,1 milhões de deportados.[32] Na sua declaração sob juramento, no entanto, afirmou que pelo menos 2.500.000 vítimas foram executadas e exterminadas [em Auschwitz] mediante gaseamento e incineração, e pelo menos outro meio milho sucumbiu a fome e doenças, o que dá um total de cerca de 3.000.000 de mortos."[33]
Confirmou este número numa conversa com o psicólogo de prisão, Dr. Gilbert. "Ele prontamente confirmou que cerca de 2 milhões de judeus tinham sido exterminados sob a sua direção.[34] Num breve memorando que escreveu para Gilbert mais tarde em Abril Höss voltou ao número menor. Agora afirmava que o número de 2,5 milhões se referia ao potencial técnico. "Por tudo quanto sei, este número parece-me ser demasiado alto. Se eu calcular o total das operações em massa de que ainda tenho memória, e ainda tiver em conta uma certa porcentagem de erro, chego nos meus cálculos a um total de 1,5 milhões no máximo para o período entre o início de 1941 e o fim de 1944."[35]
Finalmente, na Polônia, Höss afirmou novamente que o número de vítimas tinha, com maior das probabilidades, sido menor do que 1,2 milhões de pessoas, comentando que: Eu considero o número de 2,5 milhões muito alto por demais. Mesmo Auschwitz tinha limites s suas capacidades destrutivas.[36] Portanto, no início da década de 1950, existiam basicamente três estimativas do número de vítimas, cada uma baseada em fontes diferentes: uma alta de 4 milhões, baseada na suposta capacidade dos crematórios, uma baixa de cerca de 1 milhão baseada no número do transportes e a avaliação final que Höss forneceu ao Dr. Gilbert em Nuremberg e ao Dr. Jan Sehn em Cracóvia, e uma intermediária de 2,5 milhões, baseada no número de Eichmann conforme relatado a Höss, e inicialmente substanciada por Höss na sua declaração sob juramento em Nuremberg.
Até o início da década de 80 nos foi empreendido nenhum estudo original para resolver a margem inaceitavelmente grande entre a estimativa mais baixa e a mais alta. A culpa recai em grande medida sobre a Guerra Fria: a cifra de 4 milhões tinha sido estabelecida pelos Soviéticos, a cifra de 1 milhão tinha sido primeiramente proposta no Ocidente. As relações entre Este e Oeste deterioraram, com a maior parte da Alemanha passando a fazer parte da OTAN, e como este país se recusava a reconhecer a legitimidade da anexação das antigas regiões alemãs da Prússia Oriental, Pomerânia e Silésia pela Polônia depois da guerra, a questãoo do número de vítimas tornou-se matéria de política. Os governantes comunistas da Polônia não estavam dispostos a fazer a menor cessão perante a Alemanha enquanto o governo de Bonn não reconhecesse a integridade territorial da República Popular da Polônia, e portanto mantiveram a política de afirmar que 4 milhões de pessoas tinham sido mortas em Auschwitz. No Ocidente, a maior parte dos historiadores do Holocausto que, devido ao clima político, estavam incapacitados de fazer pesquisa original na matéria, tendiam a aceitar, com reservas, o número intermediário de 2,5 milhões. Inicialmente só Raul Hilberg, que fez uma importante análise estatística do número de vítimas, suportou o número menor de 1 milhão. O seu raciocínio, justificado, era que, dado o número de vítimas do Holocausto (5,1 milhões na sua estimativa conservadora), e dadas as estimativas maiores ou menos fiáveis do número dos judeus que morreram de privação geral nos guettos, dos que foram executados a tiro a céu aberto e dos que morreram em outros campos de extermínio e de concentração, o número total de vítimas de Auschwitz não pode ter sido maior do que 1 milhão.[37]
O advento de [Partido] Solidariedade e a eleição do polonês Karol Wojtyla como Papa João Paulo II (1978) mudou o clima intelectual na Polônia. Enquanto o governo continuava agarrado ao número oficial de 4 milhões de vítimas, o Dr. Piper do Museu de Auschwitz, que até então se tinha visto impedido de pesquisar a matéria, começou a focar a sua atenção na questão de quantas pessoas tinham morrido no campo. A sua pesquisa foi catalizada por novos números publicados na França por Georges Wellers, que tinha chegado à conclusão de que 1.613.455 pessoas tinham sido deportadas para Auschwitz (das quais 1.433.405 eram judeus) e que 1.471.585 destas tinham morrido (das quais 1.352.980 eram judeus). Piper levou o seu trabalho a uma primeira conclusão em 1986. Uma vez que tinha em grande parte endossado as cifras que tinham sido propostas no Ocidente por Reitlinger e Hilberg, decidiu proceder de forma cuidadosa, decisão sábia, tendo em conta que em meados da década de 1980 a Polônia se encontrava sob regime militar. Primeiro submeteu as suas conclusões a um processo de revisão interna dentro do museu, e depois a uma revisão externa pormenorizada pelo principal instituto polaco de pesquisa sobre a era nazi, a Comissão Principal para a Investigação de Crimes Nazis na Polônia. Em 1990, depois das suas conclusões terem sido endossadas (e com o primeiro governo pós-comunista no poder), Piper deu a conhecer a sua nova estimativa de 1,1 milhões de vítimas à comunidade internacional. Esta cifra tem sido endossada por todos os historiadores profissionais sérios que têm estudado a complexa história de Auschwitz com algum detalhe, bem como pelos institutos de pesquisa do Holocausto Yad Vashem em Jerusalm e United States Holocaust Memorial Museum em Washington D.C.[38]
Traduzido por Roberto Muhlemkamp no RODOH Fórum à partir do link: http://www.holocaustdenialontrial.com/trial/defense/van/ii
Ver também:
Números do Holocausto - Ciganos (Estimativa do número de mortos)
Números do Holocausto - Estimativa de vítimas judaicas
Números do Holocausto por Raul Hilberg
5 milhões de vítimas não judias? (1ª Parte)
5 milhões de vítimas não judias? (2ª Parte)
Número de judeus húngaros gaseados na chegada a Auschwitz
Números de vítimas do Holocausto por país em relação aos números da populaçao de 1937