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sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Os primeiros números (estimativas) do Holocausto

A historiografia, ou seja, a história da história, pode vir a ser fascinante, mas é pouco apreciada pelo grande público. É muito mais interessante para os leitores, por exemplo, uma história da guerra civil dos Estados Unidos, e não um estudo sobre como evoluiu o conhecimento sobre esta guerra nos últimos 150 anos.

Mas parece que há uma exceção à regra, na internet do século XXI: a historiografia do Holocausto.

O primeiro estudo sobre o Holocausto, em inglês, publicado em Londres em 1953, em Nova Iorque em 1954, e traduzido para o alemão em 1956, é este de Gerald Reitlinger: "A solução final. A tentativa de exterminar os judeus da Europa, 1939-1945", que se seguiu reeditando até 1982, que eu saiba. O autor foi se preocupando em ir atualizando o livro em sucessivas reedições até sua morte em 1979, refletindo a aparição de outros estudos e o descobrimento de nova documentação (por exemplo, ainda não haviam descoberto os relatórios de Koherr), mas mantendo o essencial de suas linhas mestras.

Sou o afortunado proprietário de um exemplar da segunda impressão do livro de Reitlinger, "The Final Solution", lançada no mesmo ano de 1953. Ou seja, é idêntica à primeira edição, que pelo visto se esgotou em pouco tempo, sendo assim imprimiram uma nova tiragem nesse mesmo ano.

Na continuação fotografo a páginas com o dado que o autor calculou para Auschwitz. Como se pode ver, e como já foi repetido tantas vezes, dois anos antes que o governo polonês abrisse ao público o Memorial de Auschwitz, Reitlinger estava muito longe da estimativa de "quatro milhões":

Observe-se além disso que, na citação superior do relatório soviético, não mencionam que as vítimas sejam majoritariamente judias, só cidadãos da URSS, Polônia, França....

E quanto ao número total... é usada a estimativa "mágica" de seis milhões? Não. Ainda que um comitê anglo-americano de 1946 houvesse calculado esses seis milhões, do que depois se restou cerca de uns 308 mil refugiados, os cálculos de Reitlinger situam suas estimativas entre 4.194.200 e 4.581.200:

A grande diferença de números está nos mais dificilmente comprováveis (em 1952), da Polônia, Romênia, ou da URSS, que além disso mudaram e muito suas fronteiras entre 1939 e 1953. Por exemplo, nas fronteiras da Bulgária, anterior a 1939, não foram deportados judeus para a Alemanha, mas sim de diversas zonas que ocuparam da Iugoslávia e Grécia, por isso que Reitlinger não soma os 5.000 do Comitê de 1946.

Contracapa desta primeira reimpressão. Seu sucesso, para um livro deste tipo, atrasou a publicação do estudo de Hilberg em seis anos. Os editores acreditavam que não houvesse mercado para outro livro sobre o mesmo tema.

Fonte: blog antirrevisionismo (El III Reich y la Wehrmacht), Espanha
https://antirrevisionismo.wordpress.com/2017/09/15/primeras-cifras-holocausto-mito-seis-millones/
Título original: Las primeras cifras del holocausto
Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Número de vítimas de Auschwitz-Birkenau de 1940-1945 (tabela)

Número de vítimas em Auschwitz-Birkenau [1] entre 1940-1945.
Tabela.

Grupos de vítimas --




Judeus
Poloneses
Sinti e Roma
Prisioneiros de
guerra soviéticos
Outros
Total

Deportados, passaram --
pela plataforma/rampa,
sem identificação,
foram gaseados

865.000
10.000
2.000

3.000
Sem informação
900.000

Prisioneiros
registrados
que morreram --
no campo

100.000
65.000
19.000

12.000
15.000
200.000

Total




965.000
75.000
21.000

15.000
15.000
1.100.000

[1] O termo 'Auschwitz-Birkenau' significa o complexo de campos formado por Auschwitz I (Campo principal/Administração), Auschwitz II (Birkenau) e Buna/Monowitz e os subcampos (Auschwitz III).

Fonte: Franciszek Piper, Die Zahl der Opfer von Auschwitz. Aufgrund der Quellen und der Erträge der Forschung 1945 bis 1990. Ooewiêcim: Verlag Staatliches Museum Auschwitz-Birkenau, 1993. S. 202.

© Fritz-Bauer-Institut, Frankfurt am Main

Fonte: Fritz-Bauer-Institut; tabela do livro de Franciszek Piper
http://www.hr-online.de/website/static/spezial/auschwitz-prozess/downloads/opferzahlen.pdf
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
Números do Holocausto - Ciganos (Estimativa do número de mortos)
Números do Holocausto - Estimativa de vítimas judaicas
Números do Holocausto por Raul Hilberg
5 milhões de vítimas não judias? (1ª Parte)
5 milhões de vítimas não judias? (2ª Parte)
Auschwitz e os números de mortos (por Robert Jan Van Pelt)
Número de judeus húngaros gaseados na chegada a Auschwitz
Números de vítimas do Holocausto por país em relação aos números da populaçao de 1937

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Números de vítimas do Holocausto por país em relação aos números da populaçao de 1937

Tabela n° 4: Porcentagem de vítimas por país (proporção da população judaica massacrada em relação ao total da população judaica dentro das fronteiras de 1937)

Europa oriental
Polônia ------------------------90 %
Países bálticos --------------90 %
Romênia ----------------------50 %
URSS
Bielorrússia ------cerca de 65 %
Ucrânia -----------cerca de 60 %
Rússia -------------------------11%

Europa central e Balcãs
Alemanha ---------------36 %[1] 90 %[2]
Áustria -------------------27 %[3] 83 %[4]
Tchecoslováquia
Boêmia e Morávia ----67 %[5] 88 %[6]
Eslováquia --------------83 %
Hungria ------------------50 %
Iugoslávia ---------------60 %
Grécia --------------------75 %

Europa ocidental
França -------------------25 %
Bélgica ------------------60 %
Holanda -----------------75 %
Noruega -----------------50 %
Itália ----------------------20%

[1] em comparação à população judaica da Alemanha em 1933 (cerca de 300.000 judeus alemães emigraram entre 1933 e 1939 de um total de 500.000).
[2] em comparação à população judaica que permaneceu na Alemanha depois de 1939
[3] em comparação à população judaica austríaca em 1937 (cerca de 125.000 judeus emigraram da Áustria entre 1938-1939 de um total de 185.000).
[4] em comparação à população judaica austríaca que permaneceu no território do Reich após 1939.
[5] em comparação à população judaica em 1937 (de cerca de 120.000 judeus da Boêmia e Morávia, 28.000 emigraram entre 1938-1939).
[6] em comparação à população judaica que permaneceu no Protetorado da Boêmia e Morávia após 1939.

Livro: Lucy Dawidowicz, The War against the Jews 1933-1945, New-York et Londres, 1975, trad. fr. Hachette 1977.

Fonte: LA SHOAH. Document du Mémorial de la Shoah. 2007
http://internetjm.free.fr/actualite/Auschwitz/LA%20SHOAH%2001.pdf
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
Números do Holocausto - Ciganos (Estimativa do número de mortos)
Números do Holocausto - Estimativa de vítimas judaicas
Números do Holocausto por Raul Hilberg
5 milhões de vítimas não judias? (1ª Parte)
5 milhões de vítimas não judias? (2ª Parte)
Auschwitz e os números de mortos (por Robert Jan Van Pelt)
Número de judeus húngaros gaseados na chegada a Auschwitz

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Números do Holocausto - Ciganos (Estimativa do número de mortos)

Vítimas ciganas Sinti e Roma do Holocausto

País
Bélgica
Tchecoslováquia
Estônia
França
Alemanha
Holanda
Hungria
Itália
Letônia
Lituânia
Luxemburgo
Polônia
Romênia
União Soviética
Iugoslávia
Total

600
13.500
1.000
16.000
16.000
500
28.000
1.000
3.500
1.000
200
35.000
36.000
30.000
40.000
222.300 

Fonte(livro): The Penguin Historical Atlas of the Third Reich
Autor: Richard Overy

Fonte(site): Axis History Factbook*
http://www.axishistory.com/index.php?id=3606
*O site mencionado não é nazista.

Ver também:
Números do Holocausto - Estimativa de vítimas judaicas
Números do Holocausto por Raul Hilberg
5 milhões de vítimas não judias? (1ª Parte)
5 milhões de vítimas não judias? (2ª Parte)
Auschwitz e os números de mortos (por Robert Jan Van Pelt)
Número de judeus húngaros gaseados na chegada a Auschwitz
Números de vítimas do Holocausto por país em relação aos números da populaçao de 1937

sábado, 5 de junho de 2010

Número de judeus húngaros gaseados na chegada a Auschwitz


(Esta é uma pequena atualização de um artigo anterior publicado por mim em outro lugar)

Tradicionalmente historiadores têm assumido que cerca de 400.000 judeus húngaros foram gaseados imediatamente após a chegada em Auschwitz, cerca de 90% de todos os judeus que foram deportados da Hungria.

No livro de 2002 Das Letzte Kapitel os historiadores alemães Christian Gerlach e Goetz Aly introduziram (mas não publicaram) um documento que nos auxilia a avaliar melhor o número de judeus húngaros que foram deportados para Auschwitz, mas que não foram gaseados imediatamente na chegada.

O documento está nos arquivos do Yad Vashem. E pode ser visualizado online aqui: HTTP://www.zchor.org/hungaria.htm.

É a “Lista de transporte (homens) para o campo de concentração Auschwitz II Birkenau, que chegaram entre 16 de Maio e Setembro de 1944” ("Zusammenstellung der in der Zeit vom 16.V. bis 20.9.1944 im Konzentrationslager Auschwitz II Birkenau eingetroffenen Transporte /Maenner/"). Segundo o documento, que foi emitido no dia 5 de agosto de 1945 em Lambach, e Leo Glaser, Diretor da Companhia Austríaca de Seguros em Viena ("Direktor der Versicherungsanstalt der österreichischen Bundesländer, Wien") confirmou a correção.

De acordo com carta de Glaser que está anexada à lista, esta foi enviada à autoridade americana em Linz, quando do julgamento de Belsen.

A página 6 do documento consiste no número de judeus homens selecionados para o trabalho que chegaram a Auschwitz nos transportes de maio a setembro de 1944. O seu valor consiste no fato de que as listas não têm só os judeus registrados, mas também o chamado “depósito de judeus” (Durchgangsjuden), que não eram mortos na chegada e nem registrados na chegada.

Quem foi Leo Glaser? Michael Mel, que escreveu uma nota nesta pesquisa online, atesta:

Eu deixei Glaser na véspera do Natal de 1944 em Auschwitz, na primeira marcha de evacuação para Loeslau (Wodzislaw Slaski). No período de 9 de julho a 24 de
dezembro de 1944 eu era um corredor (Laeufer) do Capo Kleiderkammer, ninguém
menos que Leo Glaser
.

Em pesquisa no DVD Der Auschwitz-Prozess.Tonbandmitschnitte, protokole und Dokumente (Berlim, Directmedia Verlag, 2004) podemos encontrar mais informações sobre Glaser. Na declaração de Wilhelm Boger feita em Ludwigsburg em 5 de julho de 1945, Leo Glaser foi identificado como uma pessoa que poderia dar informações confiáveis sobre o trabalho de Boger no campo e seu comportamento em relação aos presos; Boger deu vários detalhes específicos sobre a biografia de Glaser, paradeiro e família. Em uma declaração feita em Hamburgo, em 3 de dezembro de 1959, Kurt Knuth-Siebenlist alegou que Leo Glaser, um ex-Kapo do “Häftlingsbekleidungskammer em Birkenau”, que viveu em Viena, poderia fornecer mais detalhes sobre o comportamento de Pery Broad no campo. O Dr. Otto Wolken testemunhou durante o 20º dia do Julgamento de Auschwitz em Frankfurt (27 de fevereiro de 1964) sobre um determinado vienense, Kapo Glaser da “sauna” que lhe deu um par de sapatos certa vez.

Então, Leo Glaser estava em posição de fazer esta lista, uma vez que era o responsável por vestir os deportados que chegavam. No geral a confiabilidade de sua lista poder ser estabelecida em comparação com outras fontes conhecidas, como Auschwitz Chronicle de Danuta Czech. À partir dessa última comparação temos que os números de prisioneiros registrados correspondem exatamente ou muito perto de Czech, em muitos casos (ver tabela no final deste artigo). Por outro lado, muitos dos transportes constantes da lista de Glaser não são mencionados por Czech e vice-versa. Isso não prova que a lista de Glaser não é confiável, porque não devemos assumir que temos todas as informações sobre os transportes.

Como sabemos que Glaser não menciona os transportes efetivos em sua lista, podemos assumir que sua lista de transporte dos húngaros está completa? A lista mais completa até agora – lista de transporte dos húngaros passando por Kosice – contém 136 registros para o período de 14 de maio a 9 de julho. A lista de Glaser tem 142 registros para o período de 16 de maio a 11 de julho (Gerlach e Aly erroneamente declararam que 141 transportes estão listados; se desconsiderarmos dois registros que indicam que 3 e 5 judeus foram selecionados, então existem 140 transportes, se levarmos em conta, então temos 142 transportes). Assim, a informação de Glaser parece ser a mais completa informação disponível sobre os transportes húngaros.

Gerlach e Aly verificam a confiabilidade de Glaser de outra forma. Eles se referem ao testemunho de Otto Robicsek, que foi expulso de Oradea em 26 de junho de 1944, e em seguida, foi selecionado para trabalho forçado em Auschwitz juntamente com um grupo de 106 homens. Na verdade, um comboio com 206 homens aparece 3 dias depois na lista de Glaser (3 dias representa o tempo médio do trânsito dos trens). Existe também uma correspondência entre a lista de Glaser e as listas de Kosice. Por exemplo, ha uma pausa nas deportações entre 16 de junho e 25 de junho, nas listas de Kosice e entre 18 de junho e 27 de junho na lista de Glaser.

Segundo Gerlach e Aly, 55.937 judeus homens da Hungria foram selecionados para o trabalho entre 16 de maio e 11 de julho. Após examinar o documento, fica claro que os autores estão errados, apenas cerca de 52.000 judeus húngaros estão listados para esse período.

Glaser afirma em sua carta que “o número de mulheres que chegaram é quase o mesmo que os homens, se não for um pouco mais alto.” Os autores argumentam que, se os homens judeus constituíam 50% de todos os judeus húngaros selecionados para o trabalho, cerca de 110.000 judeus húngaros foram selecionados para o trabalho.

Eles provam que a sua hipótese é razoável, referindo-se a um relatório de Oswald Pohl para Himmler de 24 de maio de 1944, segundo o qual 50% dos judeus selecionados para trabalhar eram mulheres. Eles também listam outras evidências, apoiando sua tese. Por exemplo, eles se referem a uma declaração apresentada por Dieter Wisliceny, que afirmou que 458.000 judeus húngaros foram deportados para Auschwitz durante a ação húngara (este número é muito alto) e que 108.000 deles foram selecionados para o trabalho. Segundo os autores, tanto Hoess e Wisliceny estimaram no pós-guerra que de 25 a 30 por cento dos judeus húngaros foram selecionados para o trabalho.

Gerlach e Aly citam que os 4 transportes redirecionados para Strasshof consistiam em cerca de 15.000 judeus húngaros. Presumindo que o número de Veesenmayer de 437.402 judeus está correto, e subtraindo os 15.000 que foram para Strasshof e 104.000 judeus não gaseados na chegada, e arredondando o resultado, podemos concluir que cerca de 320.000 judeus húngaros foram gaseados na chegada, e não cerca de 400.000, como tem sido assumido pelos historiadores até recentemente.

Claro que, muitos judeus selecionados para o trabalho morreram mais tarde por causa das condições cruéis em outros campos. E muitos dos Durchgangsjuden também não escaparam das câmaras de gás vindo de Staerkemeldungen, , em que o Sonderbehandlung também foi aplicado para o “depósito de judeus”.


Diante do exposto, o total de judeus mortos em Auschwitz está mais perto de 900.000 e o total de mortos está mais perto de 1.000.000. O Prof. Robert Jan van Pelt profeticamente escreveu em seu relatório de 1999, como perito no Julgamento de Irving X Lipstadt:

Como um acadêmico sobre a história de Auschwitz, eu revi a metodologia do
Dr.Piper e suas conclusões, tanto na conversação, através do estudo dos seus
escritos, e por considerar as provas que apresentou, e estou plenamente convicto
de aderir ao consenso acadêmico que ele matou o assunto. E enquanto não é
impossível que em algum momento futuro, eles poderão ser revistos, se, por
exemplo, tivermos mais informações disponíveis sobre o número de
Durchgangsjuden, eu não espero que essa revisão vá além do alcance de cerca de
10 por cento. Mesmo se o número total de vítimas judias de Auschwitz se
aproximar dos 900.000 ou 1.000.000, Auschwitz irá permanecer no centro do
Holocausto, e como tal, o provável foco dos negadores do Holocausto.

Para maiores informações sobre a lista de Glaser, ver as notas de pesquisa de Michael Honey.

(Ver tabela original no link da fonte)

Fonte: Holocaust Controversies

Ver também:
Números do Holocausto - Ciganos (Estimativa do número de mortos)
Números do Holocausto - Estimativa de judeus mortos
Números do Holocausto por Raul Hilberg
5 milhões de vítimas não judias? (1ª Parte)
5 milhões de vítimas não judias? (2ª Parte)
Auschwitz e os números de mortos (por Robert Jan Van Pelt)
Números de vítimas do Holocausto por país em relação aos números da populaçao de 1937

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

5 milhões de vítimas não judias? (2ª Parte)

1ª Parte

Nesta segunda parte tentarei fazer uma compilação, país por país, dos não judeus que sucumbiram à violência criminal da Alemanha nazi e dos seus aliados durante a Segunda Guerra Mundial, i.e. dos não judeus que morreram às mãos da "maquinaria assassina" nazi conforme definida na 1ª Parte .

Esta compilação, que não pretende ser científica e está aberta a qualquer crítica construtiva que possa melhorar a suas exactidão, e baseada em dados obtidos de várias fontes, bem como as minhas próprias estimativas. Onde não tenho dados de outras fontes ao meu dispor, utilizo a página detalhada da Wikipedia sobre as perdas humanas na Segunda Guerra Mundial, e outra informação fornecida pela Wikipedia.

1. União Soviética

Entre 2,53 e 3,3 milhões de prisioneiros de guerra soviéticos pereceram no cativeiro alemão devido a brutal tratamento a que foram submetidos, incluindo chacina em massa a tiro ou através da fome. Vide o meu artigo One might think that … (versão portuguesa: Até parece que ...) e o tópico do fórum RODOH The Fate of Soviet prisoners of War.

O sítio de Leninegrado, mencionado no mesmo artigo como um empreendimento criminal porque o seu objectivo era não a rendição da cidade mas sim a sua despopularização (i.e. um genocídio, em vez de um objectivo militar), cobrou cerca de um milhão de vidas civis (vide o artigo atrás referido e o tópico The Siege of Leningrad do fórum RODOH).

No que respeita aos cidadãos soviéticos abatidos a tiro, gaseados, enforcados ou queimados vivos pelas forças de ocupação alemãs e romenas, a Comissão Extraordinária soviética (vide a mensagem de Nick Terry de 26 Feb 2006 22:42 no Axis History Fórum) indicou um número de cerca de 6 milhões, dos quais cerca de 2,8 milhões de judeus e 3,2 milhões de não judeus. Enquanto o número de judeus parece mais ou menos acertado se comparado com dados mais recentes (vide a mensagem após o meu artigo acima referido), considero demasiado alto o número de não judeus. Este número provavelmente inclui também vítimas civis colaterais de operações militares, e não apenas civis deliberadamente executados a tiro, gaseados, enforcados ou queimados vivos. O número destes últimos no decurso das operações contra-guerrilha (a brutalidade das quais é descrita em detalhe, no que respeita ao território da Belorússia, no livro Kalkulierte Morde ("Assassinatos Calculados") de Christian Gerlach, vide os extractos traduzidos para inglês no tópico Major Antipartisan Operations in Belorussia do fórum RODOH) tem sido estimado em cerca de um milhão (Richard Overy, Russia’s War, página 151). Um milhão de civis mortos pela Wehrmacht na luta contra-guerrilha são referidos numa entrevista do magazine de notícias alemão SPIEGEL com o historiador alemão Rolf-Dieter Müller, feita em 1999. O USHMM fornece a seguinte informação no que respeita à luta contra as guerrilhas nos territórios soviéticos ocupados pelos nazis (minha tradução):

Algumas das chamadas operações contra-guerrilha, especialmente nos territórios ocupados da União Soviética, eram de facto esforços por despopularizar as áreas rurais soviéticas. Os alemães massacraram centenas de milhares, talvez milhões, de civis soviéticos nas suas aldeias. A vasta maioria destas vítimas tinha pouca uma nenhuma ligação com os guerrilheiros.


Quantos civis morreram de inanição, doenças relacionadas e exposição aos elementos em território ocupado pelos nazis, devido as políticas de exploração nazi incluindo a requisição sem contemplações de géneros alimentícios, expulsão/deportação e trabalho forçado? Na nota de rodapé 21 do seu artigo Soviet Deaths in the Great Patriotic War: A Note ("Mortes soviéticas na Grande Guerra Patriótica: Anotação"), Michael Ellman e S. Maksudov referem "cálculos preliminares" feitos por um deles, segundo os quais (minha tradução) "as mortes devidas à ocupação alemã (matança de judeus, mortes no sítio de Leninegrado, mortes em combate, mortes em excesso nos territórios ocupados devido à deterioração das condições de vida) foram cerca de 7 milhões. Destes, cerca de um 1 milhão morreram no sítio de Leninegrado e 3 milhões eram judeus. Dos últimos, cerca de 2 milhões eram judeus dos territórios novamente anexados e 1 milhão eram judeus do antigo território soviético". Estas "grossas estimativas preliminares sobre um tópico que ainda aguarda pesquisa séria" incluem, portanto, 3 milhões de civis não judeus em território ocupado pelos nazis que morreram como vítimas colaterais dos combates, foram massacrados em operações contra-guerrilha ou morreram devido à deterioração das condições de vida. Se for atribuída igual probabilidade a cada uma destas 3 possibilidades (perdas colaterais, vítimas de operações contra – guerrilha, mortes por deterioração das condições de vida), obtêm-se um milhão de mortes civis colaterais (não incluídas nesta compilação), um milhão de vítimas de operações contra – guerrilha e um milhão de vítimas da deterioração das condições de vida. As mortes nestas duas últimas categorias podem ser principalmente atribuídas às políticas e acções dos ocupadores nazis e dos seus aliados, incluindo a implementação do mortífero "Plano de Fome" abordado neste artigo (versão portuguesa). No entanto, estimarei conservadoramente que apenas metade das cerca de 3 milhões de mortes civis soviéticas não judias em território ocupado pelos nazis foi directamente atribuível à implementação das políticas criminais de ocupação e exploração dos nazis, sendo o resto vítimas colaterais dos combates na frente, mortes por inanição devido a política soviética de terra queimada durante as retiradas em 1941/42 (que já por razões de tempo não pode ter causados tantos estragos e tanta mortandade como as políticas de exploração nazis e a devastação de terra queimada provocada pelas forças alemãs em retirada) e vítimas civis mortas por forças irregulares que combatiam as forças de ocupação.

A soma total de não combatentes não judeus soviéticos mortos pela violência criminal dos nazis situar-se-ia, portanto, entre 5,03 milhões e 5,8 milhões, que se subdividem como segue:

2,53 milhões a 3,3 milhões de prisioneiros de guerra
1 milhão de vítimas civis do sítio de Leninegrado
1,5 milhões de vítimas civis de operações contra-guerrilha e outras brutalidades nazis em território ocupado, incluindo exploração de trabalho forçado e inanição induzida por políticas de exploração nazis.

Só o número de soviéticos não judeus vítimas de crimes nazis iguala ou excede o total de cinco milhões de vítimas não judias "inventado" por Wiesenthal. Também se aproxima do total de vítimas judias de perseguição e chacina em massa pelos nazis em toda a Europa. Relativamente aos últimos vide o tópico de referência de Nick Terry no Axis History Fórum, Number of Victims of the Holocaust.

2. Polónia

O artigo do USHMM Poles: Victims of the Nazi Era ("Polacos: Vítimas da era nazi") contém a seguinte informação sobre o número de vítimas não judias da ocupação nazi na Polónia (minha tradução):

No passado, muitas estimativas de perdas foram baseadas num relatório polaco de 1947 solicitando reparações dos alemães; este documento, frequentemente citado, computou perdas populacionais de 6 milhões para todos os "nacionais" da Polónia (polacos, judeus e outras minorias). Subtraindo 3 milhões de vítimas judias polacas, o relatório alegava 3 milhões de vítimas não judias do terror nazi, incluindo vítimas civis e militares da guerra.

A documentação continua fragmentária, mas hoje em dia estudiosos da Polónia independente acreditam que 1,8 a 1,9 milhões de civis polacos (não judeus) foram vítimas das políticas de ocupação alemãs e da guerra. Este total aproximado inclui polacos mortos em execuções ou que morreram em prisões, trabalho forçado, e campos de concentração. Inclui também cerca de 225.000 vítimas civis da Revolta de Varsóvia em 1944, mas de 50.000 civis que morreram durante a invasão em 1939 e o sítio de Varsóvia, e um número relativamente pequeno mas desconhecido de civis mortos durante a campanha militar dos aliados em 1944—45 para libertar a Polónia.


É portanto claramente incorrecta a alegação, que desafortunadamente continua sendo repetida em sites como os referidos na 1ª Parte deste artigo, de que 3 milhões de polacos não judeus foram mortos naquilo que estes sites designam como o "Holocausto".

As actuais estimativas de estudiosos polacos também incluem vítimas civis colaterais da guerra, pelo que o número de civis polacos que foram vítima das políticas de ocupação nazis deve ser algo inferior do que 1,8 a 1,9 milhões. Estimando um total de 300,000 vítimas civis da invasão nazi em 1939, da Revolta de Varsóvia e da campanha militar de 1944/45, e partindo do princípio de que dois terços destas foram vítimas colaterais dos combates e não vítimas de execuções e massacres nazis, o número de polacos não judeus que pereceram devido às políticas de ocupação nazis seria de 1,6 a 1,7 milhões, sendo o número inferior próximo de uma estimativa de 1,55 milhões pelo historiador polaco Bogdan Musial, mencionada numa mensagem de Steve Paulsson no fórum H-Holocaust. Não se indica nesta mensagem se a estimativa de Musial inclui ou não vítimas colaterais da guerra, ou se é relativa ao território da Polónia em 1939 (incluindo áreas que posteriormente passaram a ser parte da União Soviética) ou ao território polaco depois da guerra. No primeiro caso, e partindo do princípio de que Musial contou não apenas pessoas de etnia polaca mas também bielorussos e ucranianos étnicos, existe uma sobreposição parcial entre o número de Musial e as estimativas sobre vítimas civis soviéticas no ponto 1 supra. Para estar do lado seguro considerando estas incertezas, reduzo o número de Musial em um terço (o que é, desde logo, uma mera conjectura) e presumo que o número de civis polacos não judeus mortos pela ocupação nazi no território da presente República Polaca foi de cerca de um milhão.

Se acrescentarmos este milhão aos 5,03 a 5,8 milhões de não combatentes soviéticos mortos pela violência criminal nazi, temos 6,03 a 6,8 milhões de vítimas não judias desta violência só na União Soviética e na Polónia, i.e. uma ordem de grandeza que está próxima de ou até excede mesmo as estimativas mais elevadas sobre o número de vítimas judias da perseguição e chacina em massa nazis em toda a Europa.

3. Checoslováquia

A página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial refere 43.000 civis não judeus mortos da Checoslováquia. A nota de rodapé 11 refere 26.500 vítimas não judias da represálias nazis, 10.000 civis mortos em operações militares e 7.500 vítimas do genocídio dos romani. Estes números somam um total de 44.000. Para os efeitos da minha contagem considero 33.000 vítimas não judias de repressão ou extermínio pelos nazis na Checoslováquia.

4. Jugoslávia

O defunto economista e especialista da Nações Unidas croata, Vladimir Žerjavić, publicou um estudo detalhado sobre as perdas da Jugoslávia durante a Segunda Guerra Mundial. Alguns dos seus números se encontram disponíveis neste site. Do total de 1.027.000 mortes, segundo Žerjavić, 947.000 ocorreram em território jugoslavo e 80.000 no estrangeiro (Tabela 3). O primeiro número inclui 237.000 combatentes da resistência, 209.000 "colaboracionistas e quislings" e 501.000 "vítimas", das quais 216.000 em campos e 285.000 "em locais" (Tabela 5). Presumo que a categoria "colaboracionistas e quislings" se refere a étnicos croatas, eslovenos, alemães e outros mortos em combate ou de outra forma por forças do Exército da Libertação do Povo, enquanto as 501.000 "vítimas" incluem pessoas mortas ou pelos ocupadores alemães, italianos ou húngaros, os chetniks monarquistas ou as forças do Estado Independente da Croácia (NDH), aliado da Alemanha nazi. As perdas civis sérvias no território do NDH, segundo Žerjavić, somaram 197.000; destes 45.000 foram mortos por forças alemãs, 15.000 por forças italianas, 28.000 em "prisões, valas e outros campos", e 50.000 foram mortos no campo Jasenovac-Gradina, enquanto 25.000 morreram de tifo e 34.000 foram mortos "em batalhas entre ustashas, chetniks e guerrilheiros". O total de civis sérvios vítimas de matanças criminais por forças do eixo, portanto, seria de 138.000, de um total de vítimas civis de 197.000, ou seja cerca de 70 %. Aplicando esta relação ao total acima referido de 501.000 vítimas civis em território jugoslavo, temos cerca de 350.000 vítimas de matanças criminais contra 150.000 mortes por doença ou vítimas colaterais dos combates. Chacinas em massa não as houve apenas no território do NDH, mas também em outras partes da antiga Jugoslávia. Acções de represália por forças alemãs na Sérvia até 1 de Dezembro de 1941 mataram 15.000 pessoas, das quais aproximadamente 4.500 a 5.000 eram judeus e ciganos. Na região sérvia da Vojvodina, reporta-se que as forças do eixo mataram um total de 55.285 pessoas entre 1941 e 1944. Estes números parciais, bem como o facto de que as forças do Eixo (principalmente alemães, italianos, húngaros e croatas) eram mais numerosas e melhor organizadas do que os chetniks, também no que respeita às suas operações de matança, faz com que seja razoável presumir que pelo menos três em quatro mortes criminais em território jugoslavo, i.e. cerca de 260.000 de 350.000, foram causadas pelas forças do eixo. Incluem-se neste número cerca de 33.000 judeus mortos em território jugoslavo segundo a Tabela 3 de Žerjavić, sendo os restantes 227.000 vítimas não judeus incluindo sérvios, ciganos romani e membros de outras etnias.

Žerjavić também menciona um total de 80.000 habitantes da Jugoslávia que foram mortos fora do país, dos quais 24.000 judeus, 33.000 sérvios, 14.000 croatas, 6.000 eslovenos e 3.000 muçulmanos. Os sérvios provavelmente eram prisioneiros de guerra da campanha dos Balcãs ou trabalhadores forçados civis. Segundo um artigo sobre prisioneiros de guerra no site do Museu da História alemã, que eu uma vez traduzi para inglês (vide a mensagem de "witness" de 24 Sep 2003 00:26 no Axis History Fórum), cerca de 100.000 prisioneiros sérvios capturados durante a Campanha dos Balcãs alemã, chamados "Südostgefangene" (prisioneiros do sudeste) foram utilizados como mão de obra na economia alemã sob as piores condições. O historiador alemão Hellmuth Auerbach, num artigo sobre as vítimas da violência nacional-socialista e a Segunda Guerra Mundial incluído no livro de Wolfgang Benz e outros, Legenden, Lügen, Vorurteile - "Lendas, mentiras e preconceitos" (o artigo também está disponível online), mencionou (minha tradução) "pelo menos 500.000 jugoslavos que morreram em campos de trabalho e campos de concentração alemães". Enquanto este número (incompatível com os cálculos de Žerjavić) parece-me ser demasiado alto, é provável que as condições para prisioneiros de guerra e prisioneiros civis sérvios em campos de concentração e de trabalho nazis não fossem muito melhores do que no campo de concentração de Sajmište perto de Belgrado. Considero justificado, portanto, acrescentar as 33.000 mortes sérvias fora da Jugoslávia, referidas por Žerjavić, à estimativa de 227.000 não judeus mortos por forças do Eixo em território jugoslavo, obtendo assim um total de 260.000 vítimas jugoslavas não judias dos crimes do Eixo durante a Segunda Guerra Mundial.

5. Finlândia

No conheço dados sobre vítimas não combatentes devido à actuação de forças do Eixo.

6. Roménia

A página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial menciona 15.000 romenos que morreram em cativeiro alemão e 36.000 vítimas do genocídio do povo romani. Não conheço detalhes sobre o tratamento de prisioneiros de guerra romenos pelos alemães, i.e. se foram tratados tão brutalmente como os prisioneiros de guerra soviéticos, sérvios ou italianos (vide os pontos 1 e 4 supra e 10 em baixo), mas uma vez que estas mortes devem ter ocorrido no período entre Agosto de 1944, quando a Roménia passou para o lado dos aliados, e o fim da guerra, e dado que o número de prisioneiros de guerra capturados pelos alemães de entre os 538.000 soldados romanos que combateram contra o Eixo em 1944-45 não pode ter sido muito alto, parece justificado partir do princípio de que os prisioneiros de guerra romenos não foram tratados de forma diferente do que os soviéticos, também face aos prováveis ressentimentos alemães pelo facto de a Roménia ter mudado para o lado inimigo. Portanto, acrescento os prisioneiros de guerra romenos que pereceram em cativeiro alemão às vítimas do genocídio dos romani na Roménia, o que dá um total de 51,000 vítimas romenas não judias de crimes do Eixo.

7. Hungria

Segundo a página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial , houve 28.000 vítimas do genocídio do povo romani na Hungria.

8. Bulgária

Os dados disponíveis mencionam um "número desconhecido" de civis incluídos nas cerca de 10.000 mortes da guerrilha anti-fascista. Uma vez que desconheço as particularidades da luta contra-guerrilha do Eixo na Bulgária, abstenho-me de conjecturas sobre qual poderá ter sido o número de civis mortos em operações contra-guerrilha.

9. Grécia

A página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial refere (minha tradução) "60.000 civis não judeus, 20.000 deportados não judeus, e 140.000 mortes por fome durante a ocupação da Grécia pelo Eixo na Segunda Guerra Mundial". O total destes números é 220.000. No entanto, a fome não pode ser inteiramente atribuída às forças do Eixo que, segundo parece, não implementaram aqui uma política deliberada de inanição como fizeram na União Soviética (vide o ponto 1 supra). Segundo a página Wikipedia sobre a ocupação da Grécia pelo Eixo durante a Segunda Guerra Mundial (minha tradução), "requisições, junto com o bloqueio aliado da Grécia, o estado arruinado da infra-estrutura do país e o surgimento de um mercado negro poderoso e bem conectado, resultaram na Grande Fome durante o Inverno de 1941-42 (em grego: Μεγάλος Λιμός), em que cerca de 300.000 pessoas pereceram.". Tomo o número mais baixo de mortes por inanição (140.000) e considero que as políticas de requisição do Eixo causaram metade destas mortes. O número total de vítimas gregas não judias de crimes do Eixo seria, portanto, de 60.000 + 20.000 + 70.000 = 150.000.

10. Itália

No seu artigo sobre crimes de guerra alemães contra italianos, o historiador alemão Gerhard Schreiber escreve o seguinte (minha tradução):

Não existe crime de guerra ou crime contra a humanidade que não tenha sido cometido por membros da Wehrmacht, das SS e da polícia alemãs contra homens, mulheres e crianças italianos depois de a Itália ter saído da guerra em 8 de Setembro de 1943.(1) No seguinte, contudo, apenas são tidas em conta as matanças legitimadas pelo estado, i.e. ordenadas pela liderança política e militar nacional-socialista. Tais malfeitorias cobraram 16.600 vítimas civis, das quais cerca de 7.400 judeus. Juntam-se 37.000 deportados políticos e milhares de membros das forças armadas italianas abatidos enquanto depunham as armas ou depois de as terem deposto, bem como muitos do 46.000 internados militares que pereceram em campos de prisioneiros e de trabalho, durante o transporte ou o trabalho forçado. De facto estes eram soldados leais ao rei capturados depois do armistício entre a Itália e os Aliados, a quem o lado alemão negou os direitos estipulados na Convenção de Genebra sobre o tratamento de prisioneiros de guerra datado de 27 de Julho de 1929.(2)


Uma vez que Schreiber não atribui todas as mortes entre os internados militares a "malfeitorias", considero que 30.000 dos internados militares foram vítimas de comportamento criminal por parte dos seus captores. Este número condiz com o indicado na página Wikipedia sobre as perdas humanas na Segunda Guerra Mundial . Não é claro se este último número inclui os "milhares de membros das forças armadas italianas abatidos enquanto depunham as armas ou depois de as terem deposto", que são mencionados por Schreiber. Considero que estão incluídos e somo 30.000 prisioneiros de guerra, 37.000 deportados políticos e 16.600 menos 7.400 = 9.200 vítimas civis não judias de "malfeitorias" alemãs para um total de 76.200 vítimas italianas não judias de crimes do Eixo.

11. Albânia

Não conheço dados sobre vítimas não combatentes.

12. França

A página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial menciona 40.000 prisioneiros de guerra franceses que morreram na Alemanha. Este número deve ser visto em relação ao total de prisioneiros de guerra franceses capturados pelos alemães – 1,9 milhões só durante a campanha de 1940 (vide a minha tradução para inglês de um extracto do livro Krieg, Ernährung, Völkermord ("Guerra, alimentação, genocídio") de Christian Gerlach, em que Gerlach compara o tratamento dos prisioneiros de guerra soviéticos com o que receberam os prisioneiros franceses da campanha de 1940). Uma cifra menor de mortes é dada por Christian Streit na página 244 do seu livro Keine Kameraden. Die Wehrmacht und die sowjetischen Kriegsgefangenen 1941-1945 ("Não eram camaradas. A Wehrmacht e os prisioneiros de guerra soviéticos 1941-1945"), 2ª edição 1997, da qual traduzi o seguinte extracto:

Deduzindo do número total de prisioneiros soviéticos que caíram nas mãos dos alemães os que ainda se encontravam em cativeiro em 1 de Janeiro de 1945 – 930.287 –, o número estimado de libertados – 1.000.000 – e o número estimado de prisioneiros que voltaram para o lado soviético mediante fuga ou durante as retiradas – 500.000 –, resulta um número de cerca de 3.300.000 prisioneiros que pereceram no cativeiro alemão ou foram assassinados pelos Einsatzkommandos, i.e. 57,8 por cento do número total de prisioneiros.
O significado completo deste número resulta claro quando se lhe compara com a mortalidade de outros prisioneiros em cativeiro alemão. Até 31 de Janeiro de 1945 tinham morrido 14.147 dos prisioneiros franceses, 1.851 dos britânicos e 136 dos americanos. Em relação ao respectivo número total estas mortes montam a 1,58 % para os franceses, 1,15 % para os britânicos e 0,3 por cento para os americanos. [Nota de rodapé: Baseado no número de prisioneiros existentes em 1.11.1944, segundo uma listagem da Escritório de Informação da Wehrmacht: franceses 893.672, britânicos 161.386, americanos 45.576. O número de prisioneiros franceses tinha sido muito mais alto originalmente, mas muitos tinham sido libertos. Dos prisioneiros polacos 67.055 ainda se encontravam registados em 1.11.1944, pelo que a mortalidade (com 3.299 mortes) seria de 4,92 por cento. Deve ser tido em contra a este respeito que também no caso destes prisioneiros a grande maioria tinha sido liberta, embora tivessem sido tratados consideravelmente pior do que os prisioneiros de guerra franceses libertos. Se no caso dos franceses forem também tidos em conta os prisioneiros libertos, a distância em relação à mortalidade dos prisioneiros de guerra soviéticos seria ainda maior.]


Considerando a taxa de mortalidade comparativamente baixa (seja qual for a contagem) dos prisioneiros de guerra franceses, e o facto de que as convenções relativas ao tratamento de prisioneiros de guerra foram amplamente obedecidas pelos alemães nas frentes de guerra ocidentais (vide a mensagem de "witness" de 24 Sep 2003 00:26 no Axis History Fórum), não parece justificado contar os prisioneiros de guerra franceses que morreram no cativeiro alemão como vítimas de crimes do Eixo.

No que respeita às vítimas civis na França, a página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial refere (minha tradução) "230.000 vitimas de represálias e genocídio nazis (incluindo 83.000 judeus)". Nas 147.000 vítimas não judias incluem-se 15.000 vítimas do genocídio do povo romani e (minha tradução) "20.000 refugiados anti-fascistas espanhóis residentes em França que foram deportados para campos nazis".

13. Bélgica

A página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial menciona (minha tradução) "16.900 vítimas não judias de represálias e repressão nazis". Não estão incluídas neste número 500 vítimas do genocídio do povo romani na Bélgica, que elevam o total de vítimas belgas não judias de crimes do eixo para 17.400.

14. Holanda

A página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial menciona 58.050 vítimas não judias de represálias e repressão nazis e 16.000 mortes na fome de 1944 na Holanda, mais 500 vítimas do genocídio nazi do povo romani não incluídas nestes números. Considero a fome de 1944 na Holanda como tendo sido inteiramente da responsabilidade dos ocupadores alemães, na medida em que foi causada por um embargo de alimentos retaliatório decretado pelos ocupadores e piorado por, entre outros factores, a destruição de barragens e pontes pelos alemães em retirada para inundar o país e impedir o avanço aliado. O total de vítimas holandesas não judias de crimes nazis seria, portanto, de 74.550.

15. Luxemburgo

As únicas vítimas não judias de crimes do Eixo mencionadas na página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial são 200 vítimas do genocídio do povo romani. Informação nesta página mostra que também houve vítimas não combatentes da ocupação entre os Luxemburgueses que não eram nem judeus nem ciganos, mas não conheço fonte que permita a sua quantificação.

16. Noruega

A página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial menciona 658 prisioneiros políticos e membros da resistência que morreram dentro do país e 1.433 que morreram fora, um total de 2.091 mortes. Parece que não estão incluídos neste número combatentes armados da resistência, uma vez que estes se encontram listados junto com membros das forças regulares como perdas militares (considero vítimas de crimes do Eixo os membros não violentos da resistência que foram mortos pelos alemães ou morreram em cativeiro alemão, mas não os guerrilheiros armados uma vez que é controverso se e em que condições estes eram combatentes legais. As perdas das forças guerrilheiras armadas são, portanto, tratadas como perdas militares em combate para efeitos da minha contagem, i.e. não são incluídas nesta, mesmo onde se trata de guerrilheiros executados após a sua captura.)

17. Dinamarca

A página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial menciona 628 vítimas civis não judias de represálias alemãs.

18. Áustria

A página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial menciona 10.000 vítimas de perseguição política pelos nazis entre 1939 e 1945 e 6.500 vítimas do genocídio do povo romani. O número total de vítimas austríacas não judias de crimes do Eixo seria, portanto, de 16.500.

19. Alemanha

Segundo a página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial , a repressão e o genocídio nazis na própria Alemanha cobraram 762.000 vítimas, incluindo (minha tradução) "300.000 prisioneiros políticos, vítimas do programa de eutanásia Acção T4, homens homossexuais e 160.000 judeus alemães". Enquanto a cifra para judeus alemães é correcta, o remanescente de 602.000 vítimas não judias parece ser grandemente exagerado, especialmente dado que 302.000 destes supostamente eram outros do que prisioneiros políticos, vítimas do programa de eutanásia Acção T4 e homossexuais. Refere-se que o genocídio do povo romani cobrou 15.000 vítimas na Alemanha. Ora, quem se supõe que eram os restantes 287.000?

A adição dos números de vítimas das várias categorias conduz a um total bastante inferior:

"Eutanásia": segundo o USHMM, o programa de eutanásia Acção T4 e as suas sequelas não oficiais cobraram um total de 200.000 vítimas, incluindo (minha tradução) "pacientes idosos, vítimas de bombardeamentos, e trabalhadores forçados estrangeiros". No seu artigo referido no ponto 4 supra, Hellmuth Auerbach mencionou (minha tradução) "cerca de 100.000 pacientes mentais e pessoas deficientes, principalmente de nacionalidade alemã (chamadas vítimas da eutanásia)". Opto pelo número inferior, também considerando que o superior é indicado como incluindo não alemães, os quais já teriam sido contados sob os pontos referentes aos seus países de origem.

Homossexuais: A página Wikipedia History of gay men in Nazi Germany and the Holocaust ("História dos homens homossexuais na Alemanha e o Holocausto") menciona uma estimativa de "5.000 a 15.000" que foram presos em campos de concentração, e informa que um dos principais estudiosos da matéria (minha tradução) "acredita que a taxa de mortalidade nos campos de concentração de prisioneiros homossexuais poderá ter chegado aos 60%". Tomando como base o número mais baixo de prisioneiros nos campos de concentração, esta taxa significaria 3.000 mortes.

Testemunhas de Jeová: Segundo o USHMM (minha tradução),

O número de Testemunhas de Jeová que morreram em campos de concentração e prisões durante a era nazi é estimado em 1.000 alemães e 400 de outros países, incluindo 90 austríacos e 120 holandeses. (…) Adicionalmente, cerca de 250 Testemunhas de Jeová alemães foram executados – na maior parte dos casos depois de terem sido julgados e sentenciados por tribunais militares – por terem-se recusado a prestar o serviço militar alemão.
.

Isto significa que cerca de 1.250 Testemunhas de Jeová alemães foram vítimas mortais da repressão nazi.

Prisioneiros políticos: Auerbach mencionou (minha tradução) "cerca de 130.000 pessoas não judias de nacionalidade alemã que activamente ou passivamente opuseram resistência ao regime por motivos políticos ou religiosos". Deduzindo 1.250 Testemunhas de Jeová, restam 128.750 alemães que teriam sido executados ou perecido em campos de concentração devido à sua oposição política. Este número parece-me alto, considerando que apenas uma minoria dos prisioneiros dos campos de concentração e dos mortos nestes campos eram cidadãos alemães, como salientou Richard Overy nas páginas 611 e seguintes do seu livro The Dictators (minha tradução):

Os campos de concentração alemães foram predominantemente povoados por não alemães durante mais do que metade da sua existência. Durante os anos da guerra cerca de 90-95 por cento dos prisioneiros dos campos provinham do resto da Europa. A grande maioria dos que morreram ou foram mortos em todos os campos provinha das populações não alemãs. Os sub-campos das SS em Gusen continham apenas 4,9 por cento de alemães étnicos em 1942 (metade dos prisioneiros eram espanhóis republicanos, mas do que um quarto russos). Em Natzweiler apenas 4 por cento dos prisioneiros políticos em 1944 eram alemães; em Buchenwald só 11 por cento eram alemães em Maio de 1944. Em 1944 havia mais cidadãos soviéticos em cativeiro na Alemanha do que na União Soviética.


Por outro lado, o terror nazi contra a população alemã era exercido não apenas através do aprisionamento em campos de concentração, mas também através do sistema judicial e, no que respeita às forças armadas, das cortes marciais militares. No seu estudo Furchtbare Juristen ("Juristas terríveis"), sobre o sistema judicial alemão antes, durante e depois da era nazi, o jurista alemão Ingo Müller estima um total de 80.000 vítimas da brutalidade judicial nazi, incluindo os tribunais nos territórios ocupados que emitiam sentenças de morte "de uma forma inflacionária" contra nacionais não alemães. Uma parte significativa destas vítimas da assassínio judicial eram alemães, incluindo soldados condenados à morte por cortes marciais improvisadas sob fundamento de deserção ou suspeita de deserção (cerca de 15.000 soldados alemães foram executados por deserção durante a Segunda Guerra Mundial, enquanto apenas 48 sentenças de morte foram executadas pelo exército alemão entre 1914 e 1918) e civis executados por ofensas tão insignificantes como fazer comentários desfavoráveis sobre o regime nazi ou ficar com uma salsicha e uma garrafa de perfume enquanto ajudavam a remover grandes quantidades destes bens de um prédio em chamas depois de um bombardeamento (entre outros casos descritos no livro de Müller).

Tendo em conta os assassínios judiciais, e também por falta de uma alternativa suportada por fontes, aceito o número de 130.000 de Auerbach como sendo o total de todas as vítimas não judias alemãs de crimes nazis além das vítimas do genocídio dos romani e dos deficientes que foram vítimas do programa de "eutanásia", incluindo opositores por motivos políticos e religiosos bem como "associais" e criminosos detidos em campos de concentração, soldados executados por deserção e vítimas civis de assassínio judicial, e também pessoas mortas por nazis fanáticos nos últimos meses da guerra porque penduraram uma bandeira branca, desarmaram membros adolescentes da Juventude Hitleriana e lhes disseram que fossem para casa ou simplesmente não se juntaram ao Volkssturm em esforços de defesa de última instância.

O número total de vítimas não judias alemãs de repressão e genocídio nazis seria, portanto, de 245.000 (15.000 romani alemães, 100.000 deficientes e 130.000 outros).

20. Soma total

Segundo as estimativas supra (arredondadas para cima ou para baixo até ao milhar mais próximo), o número total de não judeus que pereceram devido à violência criminal da Alemanha nazi e dos seus aliados durante a Segunda Guerra Mundial, i.e. de não judeus que morreram às mãos da "maquinaria assassina" nazi conforme definida na 1ª Parte deste artigo, é o seguinte:

União Soviética: 5.030.000 a 5.800.000
Polónia: 1.000.000
Checoslováquia: 33.000
Jugoslávia: 260.000
Roménia: 51.000
Hungria: 28.000
Grécia: 150.000
Itália: 76.000
França: 147.000
Bélgica: 17.000
Holanda 75.000
Noruega 2.000
Dinamarca 1.000
Áustria 16.000
Alemanha 245.000
Total 7.131.000 a 7.901.000

Até o mais baixo destes totais (7.131.000) excede largamente não só o número de 5 milhões de vítimas não judias "inventado" por Simon Wiesenthal, mas também as estimativas mais altas (à volta de 6 milhões) do número de judeus que morreram às mãos da "maquinaria assassina" nazi. Se tivermos em conta a estimativa mínima de Nick Terry , de cerca de 5.364.000 vítimas judias da perseguição nazi, o número total mínimo de pessoas que morreram às mãos da "maquinaria assassina" nazi seria de 5.364.000 + 7.131.000 = 12.495.000, dos quais 43 % judeus e 57 % não judeus.

Apenas uma minoria das vítimas não judias dos crimes do Eixo pertence às categorias incluídas nos "Five Milion Forgotten" da Sra. Schwartz (vide a 1ª Parte). Segundo o ponto 2 supra, o número por ela apresentado de 3 milhões de "cristãos e católicos polacos" tem que se dividido por dois ou por três, dependendo de se abrange ou não o território da Polónia nas suas fronteiras anteriores à guerra, i.e. incluindo áreas que posteriormente passaram a fazer parte da União Soviética. O seu número de mortos romani na secção "Who Were the Five Million Non-Jewish Holocaust Victims?" do seu site (meio milhão) corresponde à banda alta de estimativas sobre as vítimas do genocídio dos romani; estimativas mais conservadoras (incluindo, segundo este artigo, as de Donald Kendrick e Grattan Puxon, em cujo livro se baseiam os números por cada país mencionados na página Wikipedia sobre perdas humanas na Segunda Guerra Mundial) indicam à volta de 200.000 ciganos assassinados pelos nazis. No que respeita aos deficientes, a estimativa mais elevada referida no ponto 19 supra é a do USHMM (cerca de 200.000), que inclui vítimas não alemãs. Os números da Sra. Schwartz relativos a homossexuais mortos em campos de concentração nazis (5.000 a 15.000) referem-se de facto ao número estimado de homossexuais detidos em campos de concentração; se 60 % destes morreram, conforme um dos principais estudiosos desta matéria considera possível (vide o ponto 19 supra), o número de mortos seria entre 3.000 e 9.000. O número total de Testemunhas de Jeová alemães e não alemães que morreram às mãos dos nazis, segundo o USHMM, é de 1.650. No que respeita às outras categorias da Sra. Schwartz, "homens e mulheres corajosos de todas as nações" e "padres e pastores", o triste facto é que comparativamente poucas das vítimas civis da repressão do Eixo se tinham virado contra os nazis escondendo judeus, ajudando aos guerrilheiros, dando sermões na sua paróquia ou de qualquer outra forma não violenta (combatentes de resistência armados não são incluídos na minha contagem, vide o ponto 16 supra). A maior parte das vítimas foram apanhadas em represálias ou operações contra guerrilha independentemente de qualquer acção própria.

Conclusão

Segundo o acima exposto, o número de vítimas não judias da "maquinaria assassina nazi", conforme definida na 1ª Parte deste artigo, é consideravelmente mais elevado do que as 5 milhões de vítimas não judias "inventadas" por Simon Wiesenthal, enquanto por outro lado o número combinado de cristãos polacos, ciganos, deficientes, homossexuais, Testemunhas de Jeová e opositores dos nazis por motivos políticos ou religiosos, i.e. as categorias salientadas no site "Five Million Forgotten", perfazem apenas cerca de 20 % do meu total inferior de mais de 7 milhões de vítimas de violência criminal pelos nazis e os seus aliados (a grosso modo 1 ½ milhões).

Ora, qual é o objectivo deste exercício, que alguns poderão considerar uma rude e despropositada redução de incomensurável sofrimento humano a números frios e crus?

Penso ser importante, dada a ampla falta de conhecimento sobre as vítimas não judias dos crimes nazis, as noções falsas que a este respeito são transmitidas por sites como "Five Million Forgotten" e a incidental, embora provavelmente não intencional, ofuscação do sofrimento e morte de não judeus às mãos da "maquinaria assassina nazi", com a falta de conteúdo dos "cinco milhões" de Wiesenthal com argumento chave, que é praticada por Michael Berenbaum , Walter Reich e outros, fornecer uma ideia tão detalhada e exacta quanto possível da magnitude total das matanças criminais de não judeus pelos nazis.

O presente artigo não pretende ser mais do que uma primeira tentativa neste sentido, que espero encorajará pesquisadores com um acesso a fontes mais amplo do que o meu a estudar e desenvolver mais profundamente esta matéria.

[Tradução adaptada do meu artigo 5 million non-Jewish victims? (Part 2) no blog Holocaust Controversies.]

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

5 milhões de vítimas não judias? (1ª Parte)

Quem faz uma pesquisa Google buscando informação sobre vítimas não judias de chacina em massa nazi, encontra entre as primeiras páginas esta, titulada "Five Million Forgotten" ("Cinco milhões esquecidos") e que liga para um site chamado "Non-Jewish Victims of the Holocaust • Five Milion Forgotten" ("Vítimas não judias do Holocausto • Cinco milhões esquecidos"), mantido por Terese Pencak Schwartz. A este site também liga The Holocaust History Project (ligação # 22), que o refere como "A site focusing on the 5 million non-Jewish victims of the Holocaust"("Um site focado nas cinco milhões de vítimas não judias do Holocausto").

Segundo a Sra. Schwartz (minha tradução),

Onze milhões de vidas humanas preciosas perderam-se durante o Holocausto. Cinco milhões eram não judeus. Três milhões eram cristãos e católicos polacos.


Sob o subtítulo "Who Were the Five Million Non-Jewish Holocaust Victims?" ("Quem eram as cinco milhões de vítimas não judias do Holocausto?"), a Sra. Schwartz escreve sobre polacos, Testemunhas de Jeová ("For Their Religious Belief, They Stood Firm", "Mantiveram-se firmes pela sua fé religiosa"), ciganos romani ("For Their Race They Were Executed", "Pela sua raça foram executados"), opositores dos nazis por motivos políticos, humanitários e religiosos ("Men and Women of Courage From All Nations" - "Homens e mulheres corajosos de todas as nações"; "Priests and Pastors Died for their Beliefs" - "Padres e pastores morreram pela sua fé"), homossexuais, deficientes, crianças de raça negra esterilizadas, e conjugues de vítimas de perseguição que preferiram a morte ao divórcio. Não se apresenta um desdobramento das duas milhões de vítimas que, segundo a afirmação introdutória acima citada, pertenciam às outras categorias além de "cristãos e católicos polacos", mas são mencionadas algumas cifras parciais ("Half a million Gypsies, almost the entire Eastern European Gypsy population, was wiped out during the Holocaust" - "Meio milhão de ciganos, quase a totalidade da população cigana da Europa, foram eliminados durante o Holocausto"; "Between 5,000 to 15,000 homosexuals died in concentration camps during the Holocaust" - "Entre 5.000 e 15.000 homossexuais morreram em campos de concentração durante o Holocausto".) No que respeita aos deficientes, refere-se que "Durante o 'programa de limpeza' de Hitler, milhares de pessoas com várias deficiências foram consideradas inúteis e simplesmente mortas como cães e gatos". No que respeita aos polacos não judeus, há uma ligação para um artigo de Edward Lucaire, um escritor freelance, que menciona (minha tradução) "três milhões de cristãos polacos mortos que, por acaso, excederam largamente em número o conjunto de mortos entre os Testemunhas de Jeová (2.000), os ciganos (400.000), os homossexuais (10.000 no máximo, segundo Peter Novick em The Holocaust in American Life), deficientes, etc., habitualmente mencionados na literatura do Holocausto". Esta afirmação, bem como as cifras parciais referidas pela própria Sra. Schwartz, sugerem que o número agregado de vítimas das categorias da Sra. Schwartz para além dos "cristãos e católicos polacos" é bastante inferior aos dois milhões implícitos na sua afirmação supra citada. De facto é, como será pormenorizado na Parte 2 deste artigo, onde também mencionarei fontes que mostram que os "três milhões de cristãos polacos mortos" referidos por Lucaire e Schwartz são um exagero, resultante de um método de cálculo inadequado.

Portanto, onde é que a Sra. Schwartz obteve o total de cinco milhões de não judeus cujas "vidas se perderam durante o Holocausto"?

Esta cifra, ao que parece, remonta a Simon Wiesenthal, quem a "inventou" para "fazer com que os não judeus se sentissem como se fossem parte de nós" – ao menos isto foi o que Wiesenthal, segundo um discurso de Walter Reich sobre "The Use and Abuse of Holocaust Memory" – "O uso e abuso da memória do Holocausto" – , disse ao historiador do Holocausto Yehuda Bauer. A afirmação de Wiesenthal também é referida no óbito a Simon Wiesenthal de Michael Berenbaum, publicado em Forward em Setembro de 2005 (minha tradução):

De facto, a batalha filosófica melhor conhecida de Wiesenthal foi contra Wiesel. Os dois confrontaram-se indirectamente em fins da década de 1970 sobe a questão de quem eram as verdadeiras vítimas do Holocausto, isto é, se o Holocausto era um evento judaico ou um evento universal. Wiesel argumentou que o Holocausto era uma experiência unicamente judaica, arrumando o papel dos não judeus no Holocausto com o virar de uma frase: "Embora não todas as vítimas foram judeus, todos os judeus foram vítimas."
Wiesenthal, por outro lado, argumentou que o Holocausto foi a morte de 11 milhões de pessoas, 6 milhões de judeus e 5 milhões de não judeus. A cifra era inventada: Se considerarmos todas as mortes civis não judias, é demasiado baixa; se considerarmos apenas aqueles que morreram às mãos da maquinaria assassina nazi, é demasiado alta.[ênfase meu – RM]. Mas o aspecto central era a convicção de Wiesenthal de que a inclusão de não judeus era essencial ao seu compromisso pós-guerra. As nações deviam sentir que perderam a sua própria gente para que levassem os criminosos de guerra perante a justiça.


Qual é o significado do termo "maquinaria assassina nazi", conforme utilizado pelo autor da citação supra?

O termo evoca a imagem de chacina em massa sistemática executada por assassinos especializados, tal como foi praticada nos campos de extermínio nazis e nas operações móveis de matança das Einsatzgruppen e outras formações alemãs. Os anteriores, segundo Raul Hilberg em The Destruction of the European Jews, cobraram "até 2.700.000" vítimas judias, enquanto cerca de 1.300.000 judeus foram abatidos a tiro em campo livre. Hilberg estimou mais 150.000 judeus mortos pelos aliados romenos e croatas da Alemanha, 150.000 que morreram em "campos com mortandade de poucas dezenas de milhares ou inferior" (incluindo "campos com operações de matança" e campos de concentração tais como Bergen-Belsen, Buchenwald, Mauthausen, Dachau, Stutthof) e 800.000 vítimas judias de "guetização e ocupação em geral", somando as suas cifras um total da 5,1 milhões de vítimas da destruição pelos nazis da população judaica da Europa.

Quais destas vítimas judias da perseguição e chacina em massa nazis podem ser consideradas como tendo morrido "às mãos da maquinaria assassina nazi" no sentido da afirmação do Sr. Berenbaum, acima citada?

Todas elas, uma vez que o Sr. Berenbaum, enquanto afirma que a cifra de 5 milhões de não judeus de Wiesenthal é demasiado alta "se considerarmos apenas aqueles que morreram às mãos da maquinaria assassina nazi", não faz a mesma restrição no que respeita aos 6 milhões de judeus que também menciona, implicando desta forma que considera a totalidade dos 6 milhões como tendo morrido "às mãos da maquinaria assassina nazi".

Uma parte significativa das vítimas judias daquilo que Hilberg chama "guetização e ocupação em geral" morreu antes de os nazis terem começado com o extermínio sistemático dos judeus da Europa, conhecido como a "solução final" da "questão judaica". A matança com carácter de genocídio dos judeus começou, o mais cedo, em Agosto de 1941, altura em que, conforme salientado pelo historiador alemão Christian Gerlach na página 63 do seu livro Krieg, Ernährung, Völkermord ("Guerra, alimentação, genocídio"), as unidades das SS e da polícia alemãs nos territórios soviéticos ocupadas começaram a matar também mulheres e crianças judias em grandes números e logo avançaram para o extermínio de comunidades judias inteiras. Christopher Browning (minha tradução) "acredita que Hitler tomou a sua decisão em Julho de 1941, no pináculo das grandes vitórias militares na Rússia", enquanto Gerlach mantém que a autorização de Hitler para avançar com o genocídio a nível europeu foi dada em 12 de Dezembro de 1941 , e Peter Longerich afirma que (minha tradução) "Um escalamento adicional da política de extermínio pode ser observado no período entre Maio e Junho de 1942" e que (minha tradução) "em Julho de 1942 um programa abrangente de assassinar sistematicamente os judeus nas áreas sob controlo alemão tinha sido implementado". No entanto, muito antes da primeira destas datas, e ainda mais tempo antes de as deportações para o campo de extermínio de Treblinka terem começado em fins de Julho de 1942, a mortalidade por fome e doença já tinha sido elevada no Gueto de Varsóvia (minha tradução):

Em Novembro de 1940 o gueto foi selado. Já havia 445 mortes no gueto. Depois a mortalidade subiu rapidamente: em Janeiro de 1941 para 898, em Abril para 2.061, em Junho para 4.290 e em Agosto para 5.560. Depois a cifra mensal passou a flutuar entre 4.000 e 5.000 enquanto o gueto existiu.


Em outros guetos ghettos a situação era similar (minha tradução):

A intolerável densidade populacional, facilidades higiénicas e sanitárias inadequadas – no gueto de Lodz 95% dos apartamentos não tinham saneamento, água em condutas ou esgotos – a falta quase total de medicamentos, a falta de combustível para aquecer, e rações de fome, juntaram-se para produzir condições em que doença e epidemias eram inevitáveis. No gueto de Kutno, que os alemães alcunharam de Krepierlager ("Campo para bater as botas"), entre Março e Dezembro de 1941 42 % de todas as mortes foram pacientes de tifo. A taxa de mortalidade geral durante este período em Kutno foi quase dez vezes superior à taxa antes da guerra, uma vez que outras doenças contagiosas também eram comuns.


Na página 96 de The Destruction of the European Jews, edição para estudantes de 1985 (citada neste tópico do fórum RODOH), Raul Hilberg escreveu o seguinte (minha tradução):

A comunidade judaica da Polónia estava moribunda. No último ano anterior à guerra, 1938, à taxa de mortalidade média mensal em Lodz era de 0,09 por cento. Em 1941, a taxa aumentou para 0,63, e durante os primeiros seis meses de 1942 foi de 1,49. O mesmo fenómeno, comprimido num único ano, pode ser notado no gueto de Varsóvia, onde a taxa mensal de morte foi de 0,63 na primeira metade de 1941 e 1,47 na segunda. Na sua ascensão para este patamar, as duas cidades eram quase idênticas, embora Lodz fosse um gueto hermeticamente fechado, que tinha a sua própria moeda e onde o mercado negro era essencialmente o produto de trocas internas, enquanto o queto de Varsóvia estava envolvido em contrabando extensivo, "silenciosamente tolerado" pelos alemães. As taxas de natalidade em ambas cidades eram extremamente baixas: em Lodz havia um nascimento por cada vinte mortes, enquanto em Varsóvia, no início de 1942, o rácio era de 1:45. A implicação destas cifras é bastante clara. Uma população com uma perda neta de um por cento por mês diminui para cinco por cento do seu tamanho original em apenas vinte e quatro anos.


Podem os judeus que morreram a este passo de fome e doença considerar-se como tendo morrido "às mãos da maquinaria assassina nazi", independentemente de se (como Hilberg, que no parágrafo que se segue ao acima citado refere que o passo da mortandade judia não era "suficientemente rápido" para os decisores alemães, parece ter acreditado) ou não (como corresponde às teorias de Browning, Gerlach e Longerich, que na minha opinião têm a evidência em seu favor) os nazis já tinham a intenção de eliminar todos os judeus da Europa muito antes de soltar os seus esquadrões da morte móveis contra todos os judeus soviéticos e construir campos de extermínio para os quais eram deportados judeus de todas as partes da Europa dominada pelos nazis, em vez de as políticas nazis se terem tornado gradualmente mais radicais até atingirem a fase do genocídio, o mais cedo em Agosto de 1941?

Podem, se o termo "maquinaria assassina" do Sr. Berenbaum é interpretado num sentido mais amplo do que aquele que é sugerido pela sua redacção, de modo a incluir não apenas matanças directas sistemáticas mas também mortes devido a condições de vida deliberadamente impostas a uma população sabendo que iriam conduzir a um grande aumento da mortalidade, independentemente de o objectivo desta imposição ter sido ou não o extermínio ou a redução da população em questão.

Além de os submeter a mortíferas condições de vida, os nazis estavam activamente matando judeus já antes da que considero a data mais antecipada do início do programa de genocídio a nível europeu, ou seja, a que corresponde à teoria Browning. Na página 10 de Krieg, Ernährung, Völkermord, traduzida no meu artigo One might think that ... (versão portuguesa: Até parece que ...), Gerlach refere "de várias dezenas de milhares de polacos judeus e não judeus" assassinados pelos nazis até Maio de 1941. Uma recente exposição tem mostrado documentação sobre crimes cometidos pela Wehrmacht na Polónia em Setembro/Outubro de 1939, incluindo os seguintes (minha tradução):

Judeus polacos com as suas vestimentas e cortes de cabelo e barba tradicionais converteram-se em caça livre para os soldados alemães. Violentações e fuzilamentos arbitrários de judeus eram o pão de cada dia.


Um destes casos se encontra registado na acta oficial de uma reunião entre o comandante em chefe do exército e Reinhard Heydrich em 22 e Setembro de 1939, citada na página 63 do livro de Helmut Krausnick book Hitler’s Einsatzgruppen. Die Truppen des Weltanschauungskrieges 1938-1942 ("As Einsatzgruppen de Hitler. As tropas da guerra ideológica 1938-1942"), 1985 Frankfurt am Main: em Pulutsk, 80 judeus foram "abatidos a tiro pelas tropas de forma animal" ("niedergeknallt in viehischer Weise"). Em outro incidente perto de Rozan no rio Narew, 50 judeus, que durante o dia tinham sido empregues na reparação de uma ponte, foram à noite empurrados para dentro de uma sinagoga e abatidos a tiro "sem razão" (Krausnick, página 66). Um relatório do comandante de um Einsatzkommando referiu que a cidade de Bromberg estava "completamente livre de judeus" porque durante uma "acção de limpeza" em 11 de Novembro de 1939 todos os judeus que não tinham anteriormente fugido tinham sido "removidos", i.e. "eliminados" (Krausnick, página 73).

Tal como as vítimas das privações impostas pelos nazis nos guetos, as vítimas judias de estes e outros massacres iniciais, que não eram ainda parte de um programa de aniquilação sistemática, são obviamente consideradas pelo Sr. Berenbaum como tendo morrido "às mãos da maquinaria assassina nazi", o que se pode considerar correcto se o termo "maquinaria assassina" for entendido como incluindo também uma mortífera "limpeza étnica" e/ou massacres aleatórios resultantes de ódio racial inculcado nos seus executores por uma maquinaria de propaganda controlada pelo estado. A responsabilidade do estado por chacinas em massa resultantes de tal doutrinação é salientada no livro de Matthew Cooper The Phantom War ("A guerra fantasma"), como segue (minha tradução, ênfases acrescentadas por mim):

A história do regime alemão na Rússia ocupada em geral, e das suas medidas de segurança em particular, também revela muito sobre a responsabilidade de Hitler pelas incomensuráveis atrocidades que tiveram lugar durante a guerra. Certamente, embora tenha dado ordens de grande crueldade quanto às políticas a serem seguidas em relação à população russa, estão não incluíram a menção de qualquer desejo de cometer genocídio. Talvez, portanto, se possa argumentar que Hitler não tinha a intenção de permitir aos seus funcionários políticos e soldados dedicar-se à destruição de vinte milhões de russos, dos quais pelo menos 750,000 eram judeus – a enormidade destas cifras se torna clara quando se tem em conta de que o número de soldados e guerrilheiros soviéticos mortos em combate perfaz cerca de um terço do total. Talvez até se possa dizer que o Führer não tinha conhecimento de que semelhante matança, iniciada apenas por subordinados tais como Heinrich Himmler, estava acontecendo. Talvez. Mas o que pode ser estabelecido sem lugar a dúvida é que foi Hitler, e apenas ele, quem criou as condições devido às quais este mal pode ser feito. Foi ele quem formou a mentalidade dos invasores. Sem as suas arengas contra os eslavos e os judeus – os sub-humanos – e sem as suas ordens, ou as que emanaram à sua instância e com a sua aprovação dos seus mandos militares, os altos mandos da Wehrmacht e do exército, as atrocidades perpetradas pelos seus SS e os seus soldados não teriam tido lugar. Como Erich von dem Bach-Zelewski, chefe das formações contra-guerrilha das SS, iria dizer ao Tribunal Militar Internacional em Nuremberga depois da guerra: Se durante décadas se predica a doutrina de que a raça eslava é uma raça inferior, e que os judeus não são humanos de todo, uma explosão destas é inevitável. A responsabilidade por isto é de Hitler.


Quando em fins de 1941 as forças de ocupação alemãs na Sérvia lançaram uma campanha de mortíferas represálias contra a população civil, visando esmagar o emergente movimento de resistência, judeus e ciganos foram vítimas frequentes, e em certa altura até preferenciais, das matanças de represália. O texto seguinte é um extracto do artigo de Christopher Browning Germans and Serbs: The Emergence of Nazi Antipartisan Policies in 1941 (minha tradução, ênfases acrescentados por mim):

Enquanto os sérvios receberam uma folga parcial do terror alemão, isto não ajudou aos judeus e aos ciganos. Embora os alemães conseguissem perceber que nem todos os sérvios eram comunistas e que o fuzilamento indiscriminado de sérvios inocentes prejudicaria os interesses alemães, não tinham dúvida de que todos os judeus eram anti – alemães e que os ciganos não eram diferentes dos judeus. E quanto maior o cuidado a exercer na selecção de reféns sérvios, tanto maior a pressão de encontrar em outro sítio reféns para preencher a quota de 100:1. A nova política alemã estipulou de forma sucinta o seguinte: em princípio pode-se afirmar que os judeus e ciganos em geral representam um elemento de insegurança, e portanto um perigo para a ordem e segurança públicas. É, portanto, uma questão de princípio que em qualquer caso todos os homens judeus e todos os ciganos de sexo masculino estão à disposição das tropas como reféns. O destino dos homens judeus e ciganos na Sérvia estava assim selado, e a sua execução por pelotões de fuzilamento do exército foi completada até inícios de Novembro.
Ao mesmo tempo o rumo da batalha na Sérvia virou a favor dos alemães, e até Dezembro os guerrilheiros se tinham retirado às regiões montanhosas da Bósnia e da Croácia para além da fronteira sérvia. Continuariam a sua luta contra os alemães em outros sítios, mas não regressariam em força à Sérvia até 1944. Concluída a primeira fase da guerra de guerrilha na Sérvia, a conta dos mortos em represália se situava em cerca de 15.000, does quais aproximadamente 4.500 a 5.000 eram judeus e ciganos.


Também na União Soviética depois de 22 de Junho de 1941, os judeus foram alvo de retaliações por ataques contra tropas alemãs, antes de a sua matança sistemática pelas Einsatzgruppen e outras formações os tornar indisponíveis para estes efeitos. Seguem-se as minhas traduções de anotações em diários de soldados alemães, citadas em Hannes Heer, Tote Zonen. Die Deutsche Wehrmacht an der Ostfront. ("Zonas mortas. A Wehrmacht alemã na frente leste"), página 101:

Do diário do cabo Werner Bergholz:

(…)2.7.[1941] Esta noite dois guardas foram abatidos. Cem pessoas foram executadas por isto. Provavelmente eram todos judeus.


Do diário do Major Reich:

2.7.1941. Judeus abatidos. 3.7. Pomo-nos a caminho. 22 soldados russos, alguns deles feridos, são abatidos na quinta de um camponês.(…) 9.7. Comissário liquidado por destacamento de metralhadora. (…) 12.7. Casas limpas, ordenadas. O meu capacete é roçado por um tiro de trás. Três aldeões morrem por isto. (…) 13.7. Um soldado alemão da força aérea morto, 50 judeus abatidos a tiro.
.

Tal como as vítimas anteriormente mencionadas de privações em guetos e brutalidade aleatória na Polónia, as vítimas judias de matanças de represália na Sérvia e na União Soviética foram alvo de violência nazi contra não combatentes que não visava (ainda) o extermínio, não era parte da "solução final" da questão judaica. No entanto, todas estas vítimas são obviamente consideradas pelo Sr. Berenbaum como tendo morrido "às mãos da maquinaria assassina nazi", tal como os judeus mortos em campos de extermínio ou nas operações de matança móveis sistemáticas das Einsatzgruppen e outras formações das SS e da polícia. Este entendimento é correcto ao abrigo de uma definição alargada do termo "maquinaria assassina" que inclui não apenas vítimas de um programa de extermínio, mas também outros não – combatentes mortos deliberadamente (no sentido de que as suas mortes foram intencionadas ou pelo menos previstas e aceites) por violência que não era parte de acções militares, não visava atingir objectivos militares ou não estava justificada por necessidades militares, i.e. por actos ou omissões consideradas como criminais ao abrigo das legislações nacionais e do direito internacional em vigor na altura em que foram cometidos.

Ora, quantos não judeus morreram de facto às mãos da "maquinaria assassina nazi", conforme acima definida? Embora um número mais ou menos exacto seja difícil se não impossível de estabelecer, é demonstrável que a ordem de grandeza excede os cinco milhões "inventados" por Simon Wiesenthal. Na próxima parte deste artigo tentarei tabular, país a país, os não judeus que perecerem devido a violência criminal por parte de Alemanha nazi e dos seus aliados, abrangendo todos os países que ou fizeram parte dos poderes do Eixo ou foram ao menos parcialmente ocupados por estes.

[Tradução adaptada do meu artigo 5 million non-Jewish victims? (Part 1) no blog Holocaust Controversies.]

2ª Parte

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Auschwitz e os números de mortos (por Robert Jan Van Pelt)

A primeira tentativa após a guerra de estabelecer o número total de mortos no contexto de uma investigação forense foi feita pela Comissão Estadual Extraordinária para Averiguar e Investigar os Crimes Cometidos pelo Invasores Alemães Fascistas e os Seus Associados no Campo da Morte de Oswiecim. O comitê chegou à conclusão de que quatro milhões de pessoas tinham sido mortas em Auschwitz. A sua conclusão foi baseada numa avaliação da capacidade dos crematórios. Os cinco crematórios teriam sido capazes de queimar, ao menos em teoria, 5.121.000 cadáveres. Adicionalmente existia a capacidade adicional proporcionada pelas piras. Tendo em consideração a possibilidade de operação abaixo da capacidade e de paradas, no entanto, a Comissão de peritos técnicos estabeleceu que durante a existência do campo de Oswiecim os executores alemães tinham assassinado pelo menos quatro milhões de cidadãos da URSS, Polônia, França, Iugoslávia, Tchecoeslováquia, Romênia, Hungria, Holanda, Bélgica e outros países.[26].

Além da abordagem de engenharia questão de quantas pessoas tinham morrido em Auschwitz, surgiu um segundo método de estabelecer o número de vítimas. Este baseava-se numa análise do número de deportações para o campo. Já em 1946, Nachman Blumental, usando este método, chegou a suposição informada que o número de vítimas devia ter sido entre 1,3 e 1,5 milhões.[27] No início da década de 50, Gerald Reitlinger igualmente tentou chegar a uma estimativa grossa do número de vítimas com base no número de deportados.

No que diz respeito ao número total de judeus trazidos para o local de seleção em Auschwitz, é possível estimá-lo com alguma exatidão para os países da Europa Oriental e Central bem como para os Bálcãs, mas não para a Polônia. Não existe uma guia real quanto à porcentagem de gaseados. Foi baixa antes de Agosto de 1942, e geralmente baixa também após Agosto de 1944, mas no período intermediário podia variar entre cinqüenta e cerca de cem por cento. A lista seguinte tem em conta um número de transportes franceses e gregos enviados para Majdanek e 34.000 judeus holandeses que foram para Sobibor:

Bélgica 22.600
Croácia 4.500
França 57.000
Grande Reich [....s transportes diretos] *25.000 (incerto)
Grande Reich [via Theresienstadt] 32.000
Grécia 50.000
Holanda 62.000
Hungria (fronteiras durante a guerra) 380.000
Itália 5.000
Luxemburgo 2.000
Noruega 700
Polônia e Países Bálticos *180.000
Eslováquia (fronteiras de 1939) 20.000

TOTAL----840.800

Deste total, 550.000 a 600.000 poderão ter sido gaseados logo após a chegada, e a estes deve-se- acrescentar uma parte desconhecida dos 300.000 ou mais, desaparecidos do campo, que foram selecionados.[28] importante anotar que Reitlinger, se confrontado com várias estimativas diferente do número de vítimas, escolhia por sistema a mais baixa. A primeira razão era que o exagero serviria àqueles que quisessem negar o Holocausto.[29] A segunda deve-se localizar na sua disposição invulgarmente otimista perante toda a história, baseada na sua avaliação muito sombria da natureza humana: enquanto escrevia o livro, lembrava-se sempre a si próprio de que poderia ter sido pior um sentimento que poucos têm partilhado.[30 ]

Finalmente, havia avaliações diferentes por parte das testemunhas. A mais importante destas era, sem dúvida, o Comandante Rudolf Höss. Durante os seus interrogatórios iniciais, Höss parece ter confirmado uma avaliação inicial feita pelos seus interrogadores de que três milhões de pessoas tinham sido mortas em Auschwitz.[31] Em Nuremberg ele deu números diferentes em ocasiões diferentes. Durante os seus interrogatórios deu uma lista detalhada de números por nacionalidade que somava mais do que 1,1 milhões de deportados.[32] Na sua declaração sob juramento, no entanto, afirmou que pelo menos 2.500.000 vítimas foram executadas e exterminadas [em Auschwitz] mediante gaseamento e incineração, e pelo menos outro meio milho sucumbiu a fome e doenças, o que dá um total de cerca de 3.000.000 de mortos."[33]

Confirmou este número numa conversa com o psicólogo de prisão, Dr. Gilbert. "Ele prontamente confirmou que cerca de 2 milhões de judeus tinham sido exterminados sob a sua direção.[34] Num breve memorando que escreveu para Gilbert mais tarde em Abril Höss voltou ao número menor. Agora afirmava que o número de 2,5 milhões se referia ao potencial técnico. "Por tudo quanto sei, este número parece-me ser demasiado alto. Se eu calcular o total das operações em massa de que ainda tenho memória, e ainda tiver em conta uma certa porcentagem de erro, chego nos meus cálculos a um total de 1,5 milhões no máximo para o período entre o início de 1941 e o fim de 1944."[35]

Finalmente, na Polônia, Höss afirmou novamente que o número de vítimas tinha, com maior das probabilidades, sido menor do que 1,2 milhões de pessoas, comentando que: Eu considero o número de 2,5 milhões muito alto por demais. Mesmo Auschwitz tinha limites s suas capacidades destrutivas.[36] Portanto, no início da década de 1950, existiam basicamente três estimativas do número de vítimas, cada uma baseada em fontes diferentes: uma alta de 4 milhões, baseada na suposta capacidade dos crematórios, uma baixa de cerca de 1 milhão baseada no número do transportes e a avaliação final que Höss forneceu ao Dr. Gilbert em Nuremberg e ao Dr. Jan Sehn em Cracóvia, e uma intermediária de 2,5 milhões, baseada no número de Eichmann conforme relatado a Höss, e inicialmente substanciada por Höss na sua declaração sob juramento em Nuremberg.

Até o início da década de 80 nos foi empreendido nenhum estudo original para resolver a margem inaceitavelmente grande entre a estimativa mais baixa e a mais alta. A culpa recai em grande medida sobre a Guerra Fria: a cifra de 4 milhões tinha sido estabelecida pelos Soviéticos, a cifra de 1 milhão tinha sido primeiramente proposta no Ocidente. As relações entre Este e Oeste deterioraram, com a maior parte da Alemanha passando a fazer parte da OTAN, e como este país se recusava a reconhecer a legitimidade da anexação das antigas regiões alemãs da Prússia Oriental, Pomerânia e Silésia pela Polônia depois da guerra, a questãoo do número de vítimas tornou-se matéria de política. Os governantes comunistas da Polônia não estavam dispostos a fazer a menor cessão perante a Alemanha enquanto o governo de Bonn não reconhecesse a integridade territorial da República Popular da Polônia, e portanto mantiveram a política de afirmar que 4 milhões de pessoas tinham sido mortas em Auschwitz. No Ocidente, a maior parte dos historiadores do Holocausto que, devido ao clima político, estavam incapacitados de fazer pesquisa original na matéria, tendiam a aceitar, com reservas, o número intermediário de 2,5 milhões. Inicialmente só Raul Hilberg, que fez uma importante análise estatística do número de vítimas, suportou o número menor de 1 milhão. O seu raciocínio, justificado, era que, dado o número de vítimas do Holocausto (5,1 milhões na sua estimativa conservadora), e dadas as estimativas maiores ou menos fiáveis do número dos judeus que morreram de privação geral nos guettos, dos que foram executados a tiro a céu aberto e dos que morreram em outros campos de extermínio e de concentração, o número total de vítimas de Auschwitz não pode ter sido maior do que 1 milhão.[37]

O advento de [Partido] Solidariedade e a eleição do polonês Karol Wojtyla como Papa João Paulo II (1978) mudou o clima intelectual na Polônia. Enquanto o governo continuava agarrado ao número oficial de 4 milhões de vítimas, o Dr. Piper do Museu de Auschwitz, que até então se tinha visto impedido de pesquisar a matéria, começou a focar a sua atenção na questão de quantas pessoas tinham morrido no campo. A sua pesquisa foi catalizada por novos números publicados na França por Georges Wellers, que tinha chegado à conclusão de que 1.613.455 pessoas tinham sido deportadas para Auschwitz (das quais 1.433.405 eram judeus) e que 1.471.585 destas tinham morrido (das quais 1.352.980 eram judeus). Piper levou o seu trabalho a uma primeira conclusão em 1986. Uma vez que tinha em grande parte endossado as cifras que tinham sido propostas no Ocidente por Reitlinger e Hilberg, decidiu proceder de forma cuidadosa, decisão sábia, tendo em conta que em meados da década de 1980 a Polônia se encontrava sob regime militar. Primeiro submeteu as suas conclusões a um processo de revisão interna dentro do museu, e depois a uma revisão externa pormenorizada pelo principal instituto polaco de pesquisa sobre a era nazi, a Comissão Principal para a Investigação de Crimes Nazis na Polônia. Em 1990, depois das suas conclusões terem sido endossadas (e com o primeiro governo pós-comunista no poder), Piper deu a conhecer a sua nova estimativa de 1,1 milhões de vítimas à comunidade internacional. Esta cifra tem sido endossada por todos os historiadores profissionais sérios que têm estudado a complexa história de Auschwitz com algum detalhe, bem como pelos institutos de pesquisa do Holocausto Yad Vashem em Jerusalm e United States Holocaust Memorial Museum em Washington D.C.[38]

Traduzido por Roberto Muhlemkamp no RODOH Fórum à partir do link: http://www.holocaustdenialontrial.com/trial/defense/van/ii

Ver também:
Números do Holocausto - Ciganos (Estimativa do número de mortos)
Números do Holocausto - Estimativa de vítimas judaicas
Números do Holocausto por Raul Hilberg
5 milhões de vítimas não judias? (1ª Parte)
5 milhões de vítimas não judias? (2ª Parte)
Número de judeus húngaros gaseados na chegada a Auschwitz
Números de vítimas do Holocausto por país em relação aos números da populaçao de 1937

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