Portanto, não foi surpresa que, quando reportamos as notícias de que uma vala comum tinha sido aberta em Smalyarka, na Bielorússia, alguns negadores de quarta classe na Internet tenham insistido, como lemmings, que a história não podia ser verdadeira.
No entanto, os documentos mostram que não há apenas mais uma vala comum para os "revisionistas" negar, mas sim muitas dúzias só nesta região da Belorússia, conhecida como o Polesie .
O primeiro passo para se instruir consiste em esquecer o politicamente correcto e chamar Smalyarka pelo seu nome russo, Smoliarka. O governo de Lukashenko para todos os efeitos declarou o russo a língua oficial da Bielorússsia, e não surpreende que se obtenham mais resultados do Google utilizando a ortografia russa em vez da bielorussa, como faremos daqui para diante.
Smoliarka encontra-se a cinco quilômetros da povoação de Bereza Kartuska, não longe da aldeia de Bronnaia Gora, localizada no distrito (raion) Berezovskii da província (oblast) de Brest na Bielorússia. É tão pequena que nem sequer se encontra assinalada no mapa disponível no site do conselho distrital local. No entanto, o mesmo site regista a chacina de 1.500 pessoas em Smoliarka na sua cronologia da história do distrito. O acontecimento, portanto, é tudo menos desconhecido.
A descoberta da vala comum em Smoliarka, conforme foi reportada na notícia original sobre a escavação, foi o trabalho de estudantes escolares da aldeia de Bronnaia Gora, que tinham visitado o arquivo do oblast de Brest e encontrado registos da Comissão Extraordinária Soviética sobre crimes de guerra alemães, que descrevem a localização de várias valas comuns em que até 1.500 judeus do gueto de Bereza Kartuska e outras aldeias próximas tinham sido enterrados depois de terem sido abatidos a tiro por polícias alemães aproximadamente em Setembro de 1942.
O incidente era tão bem conhecido pelos investigadores soviéticos que foi incluído no chamado Livro Negro, compilado por Vasily Grossman e Ilya Ehrenburg em 1946, e daí foi parar ao livro yizkor sobre Bereza Kartuska:
Cidadãos soviéticos da cidade de Bereza e das aldeias nesta área foram transportados para as valas, num local adequado. Os sofrimentos e as matanças dos pacíficos habitantes de Smoliarka foram similares aos do genocídio em Brona Gura [nome polaco de Bronnaia Gora]. Cinco sepulturas comuns foram lá encontradas, e todas continham cidadãos soviéticos. Cada sepultura tinha as mesmas medidas: 10 metros de comprimento, 4 metros de largura e 2.5 metros de profundidade. O genocídio de cidadãos soviéticos na área da aldeia de Smoliarka foi executado em Setembro de 1942. Lá foram abatidas – segundo testemunhas oculares – cerca de 1.000 pessoas.
Portanto, as recentes escavações não encontraram nada de novo. Em vez disso, foram tentativas de localizar novamente uma vala que tinha sido aberta em 1944, quando a Comissão Extraordinária tinha inspeccionado pela primeira vez o distrito de Berezovskii, mas que tinha sido posteriormente esquecida.
A razão pela qual Smoliarka tinha sido esquecida é que posteriormente foi encontrada uma vala comum ainda maior por perto, nos arredores da própria Bronnaia Gora. Citando novamente o Livro Negro:
Segundo o programa preparado pelo conquistadores fascistas, entre Maio e Junho de 1942 foram cavadas valas a uma distância de 400 metros ao nordeste da estação ferroviária de Brona Gura, numa superfície de 16.000 metros (quadrados).
Para fazer este trabalho, os alemães utilizaram camponeses da área, entre 600 e 800 pessoas cada dia. Para acelerar o trabalho utilizaram vários materiais explosivos.
Depois de cavadas as valas, em meados de Junho de 1942, os alemães começaram a transferir cidadãos soviéticos em vagões ferroviários de vários locais e de campos em Bereza, Brest, Dohitzin, Yanov, Horodetz e outros campos na Bielorússia, para a estação de Brona Gura. Cidadãos soviéticos também foram transferidos a pé para a área de Brona Gura
Os vagões estavam repletos e houve muitos que morreram. Depois levaram-nos ao cruzamento ferroviário, onde havia depósitos militares, cerca de 250 metros da estação central de Brona Gura. Pararam os vagões perto das valas preparadas, e descarregaram as pessoas no terreno rodeado de arame farpado.
Depois de descarregarem as pessoas dos vagões ferroviários, ordenaram-lhes que se despissem. Depois levaram-nas por uma espécie de corredor estreito entre arame farpado para as valas. Os primeiros desceram para dentro das valas por uma escada e foram forçados a deitar-se com a cara para baixo, um junto ao outro. Depois de encher a primeira "camada" abateram-nos com armas automáticas. Os alemães vestiam uniformes ASD e SS. Da mesma forma encheram a segunda e terceira camadas, até encher a vala. Os gritos de homens, mulheres e crianças partiam o coração. Depois de abater todos os cidadãos, carregaram as roupas e objectos nos vagões com destino desconhecido.
A chegada e descarga das pessoas nas carruagens foi efectuada sob a severa supervisão dos chefes de estação em Brona Gura, Pikeh e Schmidt, de origem alemã. A fim de apagar todos os sinais das crueldades cometidas em Brona Gura, os alemães abateram todos os cidadãos (mais de 1.000 pessoas) que habitavam a área onde no passado tinham estado depósitos militares.
Na superfície onde foi feita a terrível matança havia oito poços. A primeira sepultura tinha 63 metros de comprimento e 6,6 metros de largura. A segunda, 36 metros de comprimento e 6,5 de largura. A terceira tinha um comprimento de 36 metros e uma largura de 6 metros. A quarta tinha 37 metros de comprimento e 6 metros de largura. A quinta tinha 52 metros de comprimento e 6 metros de largura. A sexta tinha 24 metros de comprimento e 6 de largura. A sétima tinha 16 metros de comprimento e 4,5 de largura. A profundidade de todas as sepulturas era entre 3,5 e 4 metros.
De Junho até Novembro de 1942 os alemães assassinaram mais de 30.000 cidadãos na área de Brona Gura.
O historiador alemão Christian Gerlach, junto com muitos outros comentadores, indicou no seu livro Kalkulierte Morde cifras ainda maiores, de até 50.000 mortos em Bronnaia Gora, e de facto é este o número inscrito na pedra comemorativa naquele sítio. Este local de matança, cujo nome em polaco se traduziria como "colina da pesar", é quase único nos territórios ocupados de leste: em vez de os assassinos virem aos guetos, os guetos foram levados aos assassinos. Judeus de Antopol, Bereza Kartuska, Kobryn, Gorodets e Mikroshevichi foram levados de comboio para este local de Junho a Novembro de 1942 e lá assassinados, em vez de serem mortos perto dos seus lares.
As provas da dimensão das chacinas em massa de judeus na região de Brest são abundantes. A principal unidade responsável for estas matanças, o Batalhão de Polícia 310 (também conhecido como III./Regimento de Polícia 15), deixou atrás o seu diário de guerra, que tem sido amplamente comentado por muitos historiadores. De facto, Edward Westermann, professor na US Air Force University, escreveu um artigo inteiro sobre este assunto.
Não temos apenas os registos da unidade, mas também abundante informação da própria Brest. Esta divide-se em duas categorias: relatórios enviados ao Ostministerium (Ministério do Leste) pelos comissários regionais e municipais (Gebietskomissare e Stadtkommissar) destacados para a região de Brest, e registos deixados atrás na retirada. Os papéis do Ostministerium encontram-se nos US National Archives II em College Park, microfilmados sob a sigla NARA RG 242 T454. Segundo o relatório situacional do Stadtkommissar de Brest de 21 de Novembro de 1941, um total de 17.574 judeus foram registados como habitantes da cidade de Brest (NARA T454/102/7). Isto são menos dos que tinham lá vivido em 22 de Junho de 1941, uma vez que o relatório de ocorrências Ereignismeldung UdSSR Nr. 32, compilado pelo RSHA [Reichssicherheitshauptamt – Agência Central de Segurança do Reich] a partir de relatórios de actividade dos Einsatzgruppen em 24 de Julho de 1941, registou que 3.950 judeus e 400 russos tinham sido "liquidados" (NARA T175/233/2721638). A partir de outros registos, especialmente relatórios da 221ª Divisão de Segurança, sabemos que os executores deste massacre eram do Batalhão de Polícia 307.
O destino dos 17.574 judeus sobreviventes de entre mais de 21.000 habitantes [judeus] de Brest antes do início da guerra está especialmente bem documentado nos subsequentes relatórios mensais do Stadtkommissar Brest. Além disso, o arquivo do Oblast de Brest contém uma colecção quase única de mais de 12.000 passaportes emitidos para todos os judeus com idades superiores aos 14 que habitavam no gueto de Brest. Esta colecção tem sido digitalizada e encontra-se disponível aqui .
A "evacuação" de 19.000 judeus de Brest foi registada no relatório do Gendarmerie-Gebietsführer de Brest para o mês de Outubro de 1942, despachado em 11 de Novembro de 1942 (NARA T454/104/999, extractos publicados em Paul Kohl, 'Ich wundere mich, dass ich noch lebe.' Sowjetische Augenzeugen berichten, Gütersloh, 1990, página 198). O diário e guerra do Batalhão de Polícia 310 indica uma cifra menor, de 16.000. Por outro lado, um relatório retrospectivo (Der Ortsbeauftragte Brest-Litowsk, Betr.: Bericht über die Tätigkeit der Zivilverwaltung, de 11 de Novembro de 1943, NARA T454/104/1680) indicou uma cifra de 18.000. Sem o benefício de qualquer acesso aos relatórios alemães, o Livro Negro de Grossman e Ehrenburg estimou entre 17.000 e 20.000 o número de judeus enviados de Brest para o local de matança em Bronnaia Gora.
Martin Dean, o autor de Collaboration in the Holocaust, acrescentou ainda mais evidência, desta vez proveniente de relatórios da Resistência Polaca:
Brest. A liquidação dos judeus tem continuado desde 15 de Outubro. Durante os primeiros 3 dias cerca de 12.000 pessoas foram abatidas. O local da execução é Bronna Gora. Actualmente o resto daqueles que se esconderam está sendo liquidado. A liquidação foi organizada por um esquadrão móvel do SD e da polícia local. Actualmente o "acabamento" é feito apenas pela polícia local, em que os polacos representam uma grande percentagem. Frequentemente são mais ciosos do que os alemães. Algumas posses judaicas vão mobilar lares e escritórios alemães, outras são vendidas em leilão. Apesar do facto de terem sido encontradas grandes quantidades de armas durante a liquidação, os judeus comportaram-se de forma passiva.
Em Março de 1944, o local de Bronnaia Gora foi visitado pelo Sonderkommando 1005 [tradução para português], a unidade SS sob o comando de Paul Blobel, responsável por exumar e cremar a evidência da chacina em massa alemã. Na Rússia Central e na Bielorússia, o SK 1005 desenvolveu a sua actividade perto de muitas das povoações maiores: sobreviveram relatórios das suas operações em Smolensk, Mogilev, Borisov, Bobruisk e Minsk. Mas não esteve presente, segundo parece, nas capitais menores dos raion e nos shtetl rurais. Assim, enquanto os investigadores soviéticos em Bronnaia Gora encontraram apenas cinzas e valas vazias com as dimensões acima descritas, em outros lugares da região de Brest e em todo o Polesie foram repetidamente encaminhados por testemunhas oculares e informadores locais para os sítios de uma vintena de outras valas comuns intactas.
Smoliarka foi, pois, uma destas exumações. Christian Gerlach menciona uma outra, na povoação de Drogichin, onde a Comissão Extraordinária registou na Acta No. 5 de 2 de Novembro de 1944 que uma vala comum com um volume total de 1.092 metros cúbicos foi aberta. Foi evidentemente escavada na sua totalidade, uma vez que o relatório indica que 3.186 cadáveres foram encontrados na vala: 895 homens, 1.083 mulheres e 1.838 crianças.
Tal precisão nem sempre era o caso nas actas de exumação soviéticas. Não surpreende que a maior parte dos investigadores tenham preferido abrir uma vala, medir as suas dimensões, verificar a identidade das vítimas (i.e., se vestiam uniforme e portanto eram prisioneiros de guerra soviéticos, ou roupas civis) e estimar o seu número com base num cálculo de volume.
Por causa destes métodos, e porque os alemães não sempre deixaram atrás relatórios, nunca será conhecida uma cifra absolutamente precisa do número de vítimas, judeus bem como não judeus, das políticas nazis de ocupação e genocídio. No entanto, a convergência dos relatórios alemães, das testemunhas oculares e das actas de exumação é mais que suficiente para provar a escala e dimensão do genocídio dos judeus na antiga União Soviética. Antes da guerra, a região de Brest pertencia ao woewodstwo (distrito) de Polesie da Polónia. Em 1931, o censo oficial polaco registou 113.988 judeus no woewodstwo (distrito) de Polesie. Em Setembro de 1939, a totalidade do Polesie foi anexada pela União Soviética e dividida em duas províncias, os oblasti de Brest e Pinsk.
As estimativas variam quanto ao número total de vítimas em ambos oblasti, mas uma fonte indica o número de judeus assassinados no Polesie como sendo de 113.451, um número inteiramente plausível se lembrarmos que a população judaica cresceu em talvez 10 % antes do início da guerra, e foi ainda mais aumentada pela chegada de refugiados dos distritos ocidentais depois da partição da Polónia entre a Alemanha nazi e a União Soviética. Os historiadores bielorussos Emanuil Ioffe e Viacheslav Selemenev descobriram um relatório do NKVD nos Arquivos Nacionais de República de Bielorússia, relativo ao número de refugiados judeus na República Socialista Soviética Bielorussa em Fevereiro de 1940. Segundo este documento, um total de 65.796 judeus tinham fugido através da "fronteira e interesses" soviético – alemã até essa data, dos quais 9.879 residiam na antiga província de Polesie, 7.916 no oblast de Brest e 1.963 no oblast de Pinsk (‘Jewish Refugees from Poland in Belorussia, 1939-1940’, Jews in Eastern Europe, Primavera de 1997, páginas 45-50). A partir da exaustiva reconstrução do destino dos judeus de Pinsk publicada por E.S. Rozenblat e I.E Elenskaia (Pinskie evrei: 1939-1944 gg. Brest, 1997), sabemos que cerca de metade destes refugiados foram deportados no verão de 1940 pelo NKVD; os restantes ficaram.
Para quem não fala russo, a historiadora israelita Tivka Fatal-Knaani forneceu uma visão geral suficientemente boa do destino dos judeus de Pinsk em Yad Vashem Studies Volume 29 (PDF). Foi idêntico ao dos judeus de Brest, até no envolvimento dos mesmos executores, o Batalhão de Polícia 310. A única diferença foi que Heinrich Himmler interveio pessoalmente para ordenar a destruição do gueto de Pinsk:
O OKW [Comando Supremo da Wehrmacht] informou-me de que a região de Brest-Gomel sofre cada vez mais de ataques de bandos, que suscitam a questão da necessidade de tropas adicionais. Com base nas notícias que me têm sido reportadas deve-se considerar o gueto de Pinsk como centro do movimento dos bandos na região dos pântanos de Pripyat.
Ordeno assim, apesar das considerações económicas, a destruição e obliteração do gueto de Pinsk. Poderão ser poupados 1.000 trabalhadores masculinos, caso a operação o permita, para serem disponibilizados à Wehrmacht no fabrico de cabanas prefabricadas em madeira. Estes 1.000 homens deverão ser mantidos num campo bem guardado, e caso a segurança não possa ser mantida, estes 1.000 deverão ser destruídos.
(Publicado em Helmut Heiber (ed),‘Reichsführer!…’ Briefe an und von Himmler. Estugarda 1968, página 165)
Não só Himmler deixou um rasto documental, mas também o Hauptmann der Schutzpolizei (capitão da polícia) Helmut Saur do Batalhão de Polícia 310. O seu relatório após acção encontra-se nos ficheiros do batalhão que foram capturados pelos soviéticos depois da guerra. Foi submetido ao Tribunal Militar Internacional em Nuremberga como documento USSR-119a, e pode hoje ser encontrado no original no GARF Fond 7445, Moscovo, enquanto versões publicadas encontram se em O Livro Negro e noutras sítios. É inequívoca a linguagem utilizada no Erfahrungsbericht (relatório de experiência) de Saur sobre o que aconteceu em 29, 30 e 31 de Outubro e 1 de Novembro de 1942 [texto em alemão no artigo original, minha tradução – RM]:
"Os judeus, agora atentos, reuniram-se na maior parte dos casos voluntariamente em todas as ruas, e com a ajuda de dois guardas da polícia foi possível encaminhar alguns milhares de judeus ao local de concentração já nas primeiras horas. Uma vez que agora a outra parte dos judeus tinha visto para onde é que se ia, juntaram-se à procissão, de modo a que a inspecção pretendida no local de concentração já não pode ser efectuada por causa da chegada repentina de tantos (só se tinha contado com 1.000 a 2.000 pessoa no primeiro dia do rastreio.) O primeiro rasteio esteve concluído às 17:00 horas e decorreu sem incidentes. No 1º dia cerca de 10.000 pessoas foram executadas. À companhia passou a noite no lar para soldados em estado de alerta.
O gueto foi rastreado pela segunda vez em 30.X., pela terceira em 31.X e pela quarta em 1.XI. Um total de cerca de 15.000 judeus foram conduzidos ao local de concentração. Judeus doentes e crianças individuais deixadas nas casas foram imediatamente executados dentro do gueto no pátio. No gueto foram executados cerca de 1.200 judeus. Não houve incidentes salvo num caso."
Do texto do relatório não resulta claro se Saur tinha reportado a execução de 16.200 ou de 26.200 judeus. A maioria dos especialistas (Gerlach, Fatal-Knaani, Dean, Rozenblat/Elenskaia) tende para a última possibilidade, considerando fontes contextuais. Existem numerosas testemunhas oculares cujos depoimentos indicam o número superior. O Tenente-Coronel da Wehrmacht Feuchtinger, estacionado em Pinsk durante 1943, e capturado pelos britânicos depois de ter servido em França, fez o seguinte relatório a outro prisioneiro de guerra em 1945, sem saber que estava sendo gravado pelos britânicos:
"Quando estive em Pinsk foi-me dito que no ano anterior tinham lá vivido 25.000 judeus, e que no espaço de três dias esses 25.000 judeus tinham sido sacados, alinhados à beira de uma floresta ou num relvado – tinham antes sido obrigados a cavas as suas próprias campas – e logo cada um deles desde o mais velho barbudo até à criança recém-nascida foram abatidos por um esquadrão da polícia. Foi esta a primeira vez que eu próprio tinha de facto ouvido e visto o que aconteceu lá. Antes não tinha acreditado ou considerado possível que coisa semelhante acontecesse. A enfermeira na hospedagem para oficiais onde eu vivia disse-me: "Por amor de Deus, no diga nada sobre eu lhe ter contado isto."
(Relatório sobre informação obtida de prisioneiro de guerra ofical sénior em 1-6.6.45, GRGG 311, 8.6.45, PRO WO 208/4178
Os investigadores soviéticos depois da libertação encontraram 34 valas comuns em Pinsk e arredores, com um total de 59.084 cadáveres, dos quais 20.000 eram prisioneiros de guerra soviéticos e 38.342 civís (Akt, 24 aprelia 1945 g, g. Pinsk, NARB 845-1-13, p.1).
Não discuti o massacre em Agosto de 1941 de até 9.000 judeus em Pinsk pelo Regimento de Cavalaria 2 das SS, uma vez que foi tão admiravelmente tratado tanto por Christian Gerlach como, recentemente, por Martin Cüppers na sua dissertação de doutoramento , Wegbereiter der Shoa. Die Waffen-SS, der Kommandostab Reichsführer-SS und die Judenvernichtung 1939-1945. Os leitores de língua inglesa podem também consultar o livro comemorativo de Pinsk, aqui.
Em vez disso, a presente vistoria de valas comuns terminará na parte mais a leste do Polesie, no distrito de Luninets. Tal como em Brest e em Pinsk, as primeiras massacres foram efectuadas em 1941, neste caso também pelo Regimento de Cavalaria 2 das SS, na capital do distrito de Luninets. Cüppers cita uma ordem indicando que o estado-maior do "destacamento montado" (Reitende Abteilung), bem como um esquadrão inteiro de soldados de cavalaria, o 4./SS-Kavallerie-Regiment 2, chegaram a Luninets em 11 de Agosto de 1941. (mensagem de rádio Reit.Abt, 11.8.41, Bundesarchiv-Militärarchiv, RS 4/936). Pouco depois o regimento reportou o seguinte:
11-13.8.41:O rastreio do pântanos Pripjet foi concluído com êxito pelo Destacamento Montado … 2.325 saqueadores foram abatidos a tiro no período do relatório. No total foram abatidos 7.730 saqueadores, comunistas, comissários, secretários do partido e guerrilheiros.
SS-Kav.Rgt. 2, Relatório de Actividade para o período de 11-13.8.41, NARA T354/785/327
Conforme Gerlach e muitos outros historiadores têm demonstrado, em Agosto de 1941 o termo "saqueadores" era um código das SS para homens judeus em idade militar (entre os 17 e 45 anos). As investigações soviéticas localizaram as seguintes valas comuns em 1945:
Nos arredores da povoação de Luninets a comissão examinou valas comuns de vítimas do terror fascista: na direcção de Mochula foram encontradas 7 valas, localizadas 400 metros a norte do dique da linha ferroviária de reserva Luninets-Pinsk. A dimensão de cada uma das três valas maiores era de 6 x 2 x 2,5 metros, as dimensões das valas menores eram 4 x 2 x 1,5 metros. Nestas 7 valas estavam enterradas 1.312 pessoas de sexo masculino.
(Akt rassledovaniia zlodeianii nemetsko-fashistskikh zakhvatchikov na vremmenno okkupirovannoi territorii Luninetskogo raiona Pinskoi oblasti, 10 aprelia 1945 goda, go. Luninets, NARB 645-1-13, p.12)
Os restantes idosos, mulheres e crianças do gueto de Luninets e das povoações vizinhas de Lakhva e Koshangrodek foram exterminados no início de Setembro de 1942, por destacamentos do Comandante da Polícia de Segurança Volínia-Podólia, delegação de Pinsk, conforme foi estabelecido em 1973 num julgamento em Frankfurt am Main, República Federal Alemã (ver aqui para mais detalhes). O resumo clínico dos investigadores soviéticos deverá ser suficiente para indicar as dimensões destas chacinas em massa:
Luninets
2.932 cadáveres encontrados numa única vala comum medindo 50 x 4 x 3 metros (600 metros cúbicos)
Dos quais
- 106 homens
- 1.429 mulheres
- 1.397 crianças
A data da "acção" foi 4 de Setembro de 1942
Lakhva
1.946 cadáveres foram encontrados numa vala comum medindo 25 x 4 x 2,5 metros (250 metros cúbicos)
Dos quais
- 524 homens
- 698 mulheres
- 724 crianças
Data da "acção" 3 de Setembro de 1942
Koshangrodek
937 cadáveres foram encontrados numa vala comum medindo 12 x 4 x 3 metros (144 metros cúbicos)
Dos quais
- 311 homens
- 325 mulheres
- 301 crianças
Data da "acção" 3 de Setembro de 1942
Akt, 10.4.45, NARB 845-1-13, pp.12-13
Por rara coincidência, as fronteiras do raion de Luninets coincidem com as da powiat de Luniniec na Polónia antes da guerra. Em 1931, o censo registou 8.072 judeus com base na religião neste condado. As investigações soviéticas apuraram que 7.127 judeus tinham sido assassinados no raion de Luninets. Aproximadamente 80-90% de todos os judeus no condado tinham sido exterminados, e os seus corpos recuperados.
Este, então, é o segredo sombrio que os negadores não querem conhecer: houve muitas, muitas outras valas espalhadas pela paisagem da Europa de Leste além daquelas de Babi Yar, Belzec ou Treblinka. Na Polónia, havia 1.657 comunidades judaicas, onde no mínimo um quarto dos habitantes foi assassinado dentro das suas povoações ou perto destas. Na União Soviética, foram identificados mais 800 guetos, todos os quais foram varridos do mapa em 1943. Falar de um número "limitado" de execuções de represália "justificadas", como os negadores as vezes concedem, é um disparate pegado. Também não se pode identificar as acções de fuzilamento em massa apenas com os Einsatzgruppen. Em nenhum dos casos aqui apresentados um destacamento do Einsatzgruppe B executou o extermínio. Em vez disso, os carrascos eram da Ordnungspolizei (polícia de ordem), da Waffen-SS e dos destacamentos estáticos da Sicherheitspolizei (polícia de segurança). Quando foi a última vez que ouvimos um revisionista discutir as actividades destas unidades? Quase nunca.
Especialistas em demografia russos estabeleceram que 26 milhões de cidadãos soviéticos morreram entre 1941 e 1945. Um cálculo cauteloso indica que 10 % deste número, 2,6 milhões, foram mortos no Holocausto. Destes, 144.000 foram mortos na Rússia, no mínimo 250.000 no RSS Bielorussa antes da guerra, 656.000 na RSS Ucraniana, 100.000 na actual Moldova, 218.000 nos Estados Bálticos de Lituânia, Letónia e Estónia, e 1,2 milhões nos territórios da Polónia oriental anexados à União Soviética como Bielorússia ocidental e Ucrânia ocidental em 1939.
Os negadores tentam fazer crer que não há evidência para esta litania de horror. No entanto, a evidência existe em abundância: em documentos alemães, em relatos de testemunhas oculares de entre os carrascos, as vítimas e os espectadores, e nos relatórios de exumações repetidos do Cáucaso até à fronteira polaca com monótona consistência. O facto de que estudantes escolares bielorussos podem pegar em relatórios de investigação soviéticos com mais de 60 anos de idade, e hoje em dia localizar novamente as valas comuns, apenas prova aquilo com o qual os negadores não conseguem lidar: que houve chacina em massa, e que a houve repetidamente.
Autor: Dr. Nick Terry
Texto original: Mass Graves in the Polesie
Tradução e adaptação: Roberto Muehlenkamp
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