O artigo foi traduzido para alemão pelo Dr. phil. Joachim Neander, um historiador alemão residente em Cracóvia, Polónia. A tradução feita pelo Dr. Neander, que pode ser lida na minha mensagem # 10008 no fórum RODOH, foi por sua vez traduzida para inglês por mim, e o Dr. Neander teve a gentileza de rever a tradução e verifica-la com o texto original em língua polaca. Esta tradução pode ser lida na minha mensagem # 10010 no referido fórum. Também já existe tradução para português, que se encontra na minha mensagem # 10962 no mesmo fórum.
O artigo contém algumas incorrecções.
Uma é a afirmação, aparentemente baseada em informação fornecida pelo antigo director do museu do campo de Treblinka, Tadeusz Kiryluk, que Ivan Demianiuk foi sem dúvida um guarda em Treblinka. De facto, conforme resulta de outras fontes, incluindo este comentário sobre o caso Demianiuk, existe forte evidência de que Demianiuk prestou serviço com guarda SS em vários campos de concentração ou extermínio nazis, incluindo Sobibor e Flossenbürg, mas não há evidência sólida de que alguma vez tenha prestado serviço em qualquer qualidade em Treblinka. O homem que Demianiuk foi acusado de ser, um guarda de Treblinka particularmente sádico conhecido como "Ivan o Terrível", era outro ucraniano com o nome de Ivan Marchenko.
Também é incorrecta a datação para 1947 da investigação do local pela Comissão Principal para a Investigação de Crimes Nazis e das observações de Rachel(a) Auerbach relativamente às actividades de saqueadores de campas. De facto, a Comissão Central para a Investigação de Crimes Alemães na Polónia publicou os factos por ela apurados relativamente ao Campo de Extermínio de Treblinka em 1946, sendo a sua descrição do local de Treblinka obviamente baseada numa investigação feita em Novembro de 1945 pelo Juiz Investigador Lukaszkiewicz, que é referida no meu artigo Polish investigations of the Treblinka killing site were a complete failure … [versão em português]. Segundo um extracto do livro de Yitzhak Arad Belzec, Sobibor, Treblinka. The Operation Reinhard Death Camps, citado no mesmo artigo, Rachel(a) Auerbach visitou Treblinka em 7 de Novembro de 1945, "como parte de uma delegação do Comité Estatal Polaco para a Investigação de Crimes de Guerra Nazis em Solo Polaco"; a memória das suas impressões citada por Arad condiz com as suas afirmações sobre os "chacais e hienas com forma humana", citadas no artigo de Gazeta Wyborcza. O dia 7 de Novembro de 1945 é a data indicada pela própria Rachel(a) Auerbach no seu livro In the Fields of Treblinka("Nos Campos de Treblinka"), cuja tradução para inglês faz parta da colecção The Death Camp Treblinka. A Documentary, editada por Alexander Donat (1979 Waidon Press, Inc., New York City).
A informação de que o campo de trabalho Treblinka I foi inspeccionado pela Cruz Vermelha também parece ser de duvidosa exactidão, ao menos à primeira vista. Isto porque, não obstante a camuflagem do campo da morte de Treblinka II atrás de uma vedação de arame entretecida com ramos (e também árvores, segundo o artigo de Gazeta Wyborcza), como poderiam delegados da Cruz Vermelha, ao inspeccionar um campo de trabalho que se situava a apenas dois quilómetros a sul do campo de extermínio de Treblinka II, ter deixado de notar o fedor dos cadáveres (que, segundo salienta o Prof. Browning no seu relatório de especialista entregue no litígio Irving-Lipstadt, conduziu a uma queixa documentada por parte do comandante local da Wehrmacht de uma povoação (Ostrow) a 20 quilómetros de distância de Treblinka), se Treblinka I foi inspeccionado no verão ou Outono de 1942, no auge das operações de matança em Treblinka II? E como poderia uma delegação da Cruz Vermelha que visitasse Treblinka I na primavera ou no verão de 1943, quando a incineração dos cadáveres em Treblinka II estava decorrendo em pleno, ter deixado de notar o fumo que subia daquele campo e o cheiro a carne queimada? Por outro lado, o campo de trabalho de Treblinka I foi estabelecido em fins de 1941, enquanto Treblinka II apenas começou a operar em fins de Julho de 1942, e Treblinka I continuou operacional até Julho de 1944, cerca de sete meses depois de ter sido concluído o desmantelamento de Treblinka II. Isto significa que delegações da Cruz Vermelha que visitassem Treblinka I antes do fim de Julho de 1942 ou depois do fim de Novembro de 1943 não poderiam ter notado sinais de um campo de extermínio que ainda não existia ou tinha deixado de existir na altura da sua inspecção.
Por último, cumpre anotar que o número de vítimas de Treblinka II mencionado no artigo de Gazeta Wyborcza, cerca de 900.000, corresponde à banda alta de estimativas sobre o número de judeus assassinados neste campo de extermínio. Na página 14 da colectânea acima referida de Alexander Donat, são listadas várias estimativas (minha tradução):
Segundo o perito judiciário oficial alemão, o director do Instituto de História Contemporânea de Munique Dr. Helmut Krausnick, pelo menos 700.000 – incluindo os 329.000 judeus de Varsóvia – morreram lá. No segundo julgamento de Treblinka, outro perito, o Dr. Wolfgang Scheffler, aumentou esta cifra para 900.000 vítimas. O número oficial polaco conforme indicado por Z. Łukaszkiewicz é de 800.000; Rachel Auerbach coloca-o em 1.074.000. Franciszek Ząbecki, um polaco que era controlador de tráfego na estação ferroviária de Treblinka e que, para o Exército Doméstico Polaco (AK), manteve um registo diário de todos os transportes ferroviários, insistiu em que o número não poderia ter sido inferior a 1.200.000 "sem sombra de dúvida." A evidência mais convincente foi dada a mim pessoalmente por Samuel Rajzman, o sénior dos sobreviventes de Treblinka: ele tinha testemunhado uma festa dos SS celebrando a chegada do milionésimo deportado a Treblinka. Esta festa teve lugar bem antes do fim das operações do campo.
Raul Hilberg, em The Destruction of the European Jews, estimou o número de vítimas deTreblinka como sendo de "até 750.000". No seu relatório atrás referido, a Comissão Central para Investigação de Crimes Alemães na Polónia escreveu que "o número de vítimas assassinadas em Treblinka monta a, pelo menos, 731,600". Uma peça de evidência recentemente descoberta, o relatório enviado em 11 de Janeiro de 1943 pelo SS-Sturmbannführer Höfle em Lublin ao SS-Obersturmbannführer Heim em Cracóvia, menciona exactamente 713.555 judeus entregues em Treblinka até 31.12.1942, durante o período de maior actividade na operação do campo. Assim, as estimativas mais prováveis parecem ser as que foram feitas por Łukaszkiewicz, Hilberg e a Comissão Central para Investigação de Crimes Alemães na Polónia, enquanto a estimativa de Krausnick é algo baixa e as estimativas altas de Scheffler, Auerbach e Zabecki são demasiado altas. Dada a variedade de estimativas, teria sido aconselhável para os autores do artigo de Gazeta Wyborcza – e para a sua fonte aparente, o actual director do museu de Treblinka – mencionar um leque de estimativas em vez de uma única cifra.
Apesar dos defeitos acima referidos, o artigo de Gazeta Wyborcza é altamente informativo, devido à evidência que apresenta sobre as intensas actividades de saque no local do campo de extermínio de Treblinka II após o seu desmantelamento. Além de afirmações dos habitantes das aldeias circundantes entrevistados pelos autores do artigo, e do que foi escrito por Rachel(a) Auerbach, esta evidência inclui:
• Dois relatórios da Secção de Siedlce do Destacamento da NSZ para Acções Especiais [NSZ = Narodowe Siły Zbrojne – Forças Armadas Nacionais, organização guerrilheira polaca de direita, anti-comunista] sobre a cobrança de contribuições a habitantes locais que profanaram as campas em Treblinka – os guerrilheiros, ao que parece, viam estes saqueadores como uma fonte prometedora de fundos;
• Uma vívida descrição do local e do saque por um membro de uma comissão investigadora de Varsóvia, Karol Ogrodowczyk;
• Um relatório de actividade pelo comandante da milícia de Kosów Lacki sobre medidas (fúteis) adoptadas pela sua unidade contra os saqueadores;
• Uma foto de uma acção contra os saqueadores, empreendida por uma unidade da milícia de Ostrowa Mazowieckie:
Numa das cabanas em Wólka obtivemos uma foto extraordinária desta acção, talvez a única que ainda existe. Ninguém a tinha publicado até agora. Uma cena em campo aberto: soldados armados com pistolas-metralhadoras à volta de um grupo de aldeões. As mulheres com lenços na cabeça e longas saias, como se fossem para a colheita. Só que nas mãos têm pás em vez de foices. Os homens com bonés e casacos, com pás. À frente deles caveiras e ossos de pernas amontoados. Não se vê consternação nas caras. Os detidos sabem que não têm nada a temer.
Estas e outras evidências de perturbações do solo que ocorreram no local de Treblinka muito depois de o campo de extermínio ter sido desmantelado (valas com "uns bons 10 metros de profundidade", segundo Ogrodowczyk, uma das quais parece "a vala de construção de uma casa de vários andares" numa fotografia mostrada aos autores do artigo pela historiadora polaca Martyna Rusiniak) acrescentam mais um toque de absurdo às afirmações de um certo "revisionista" de nome Richard Krege, que afirmou não ter encontrado sinais de valas em massa na área de Treblinka numa "investigação" do solo com radar subterrâneo (ground penetrating radar - GPR) feita em 1999, e cuja alegada metodologia também foi comentada desfavoravelmente por um especialista em tecnologia de GPR, Lawrence B. Conyers (vide a mensagam postada em Tue Nov 13, 2007 2:12 am por "wet blanket" no fórum de discussão "Atheist Parents"). Passo a traduzir a análise de Conyers, relativa a uma imagem da referida "investigação" que Krege publicou:
Olhei para o site, e para a imagem que o senhor enviou. É apenas uma pequena parte da 'grelha' dele. A foto mostra-o usando uma antena de 200 MHz e recolhendo secções transversais espaçadas em cerca de um metro numa ampla grelha. Aquela imagem não foi processada, e apenas mostra uma secção de 5 metros de comprimento numa linha. E mesmo naquele perfil parece haver algumas "coisas" no solo ao lado direito que podem bem ser valas em massa. Resulta aparente que este fulano ou não percebe nada de GPR, ou no mínimo não sabe como processa-lo. Para fazer um trabalho como deve ser, os dados devem ser colocados num cubo 3-D cube de reflexões e processados em grupo, incluindo TODOS os perfis recolhidos. Se alguém quiser ir mesmo ao fundo desta questão terá que obter os dados dele e deixar outro alguém processá-los, ou recolher todo novamente e processar os seus próprios dados. Isto aqui NÃO é nenhum estudo científico ou representativo do solo, nem nada que se pareça.
Uma afirmação feita pelo antigo director do museu do campo de Treblinka, Tadeusz Kiryluk, citada no artigo de Gazeta Wyborcza, mostra que o Sr. Krege, se de facto fez o que afirma ter feito, não foi o único que andou a passear no local de Treblinka com um GPR. Também sugere que, caso a actividade de Krege tenha sido notada pelo pessoal do monumento de Treblinka, o fulano deve ter sido tomado por um saqueador tecnicamente avançado buscando ouro dos judeus assassinados em Treblinka:
“Quando foi que viu os últimos saqueadores?” – “Não sei dizer exactamente. Mas os últimos que vieram cá tinham detectores de metal. Deve ter sido nos anos 90. Uma vez falei com um que tinha um desses aparelhos. Ele insistia em mostrar-me como esse radar trabalha. Têm-nos sempre melhores, os saqueadores de cadáveres. Antigamente davam sinal só quando havia metal, mas agora há aparelhos de radar com os quais se pode olhar debaixo do solo. São manejados por computador.”
As entrevistas dos jornalistas de Gazeta Wyborcza com habitantes locais mostram que a "febre do ouro" em Treblinka é um tema incómodo e vergonhoso, que os contemporâneos e seus descendentes ainda têm relutância em discutir. Este compreensível embaraço, no contexto da actual controvérsia na Polónia sobre o papel desempenhado por polacos não judeus no extermínio dos judeus da Polónia pelos nazis (vide a última secção do artigo, relativa ao livro "Fear" do estudioso polaco-americano Jan Gross) vê-se mais nitidamente nos comentários de um aldeão, que solicitou anonimato, sobre a fotografia acima referida:
"As pessoas aprenderam a diferença entre trigo e ouro," conta o dono da casa, a quem mostramos a foto. Estuda longamente as caras na fotografia. Não quer revelar quem reconheceu, mas admite que: "Não são pessoas anónimas." Várias vezes repete que, se mencionar-mos o seu nome na "Gazeta", os vizinhos queimar-lhe-ão a casa.
O vergonhoso saque das valas em massa de Treblinka – aquilo que Rachel(a) Auerbach descreveu apropriadamente como o comportamento de "chacais e hienas com forma humana" – não se restringiu a civis polacos, contudo. Tropas soviéticas também participaram:
No Outono de 1944 voltaram a aparecer guardas ucranianos e russos, mas desta vez ao serviço de Estaline. Com a sua chegada a escavação camponesa virou uma indústria. Do aeroporto de Ceranów, a 10 km de distância, os soviéticos trouxeram minas e bombas que não tinham explodido. A carga explosiva era afundada numa vala em massa, um soviético fazia-la detonar, e os cadáveres dos judeus voavam pelo ar.
Quando três anos mais tarde apareceram membros da Comissão Principal para Investigação dos Crimes Nazis, a vergonhosa actividade estava no seu apogeu. O membro da comissão Rachela Auerbach anotou: "Com pás e outros artefactos saqueadores e ladrões escavam, buscam, vasculham ... carregam para cá projécteis de artilharia e bombas não detonadas – chacais e hienas com forma humana. Fazem buracos na terra embebida em sangue, misturada com a cinza de judeus queimados ..."
Tendo em conta a censura, Auerbach não podia dizer, desde logo, que eram os soviéticos quem organizava e supervisionava esta vergonhosa actividade. Não esclareceu quem eram os "ladrões".
A vívida imagem de cadáveres judeus voando pelo ar é algo inexacta na medida em que a maior parte daquilo que voou pelo are quando foram detonados explosivos nas valas em massa de Treblinka devem ter sido as cinzas e fragmentos de ossos a que a maior parte dos corpos das vítimas tinham sido reduzidos mediante incineração. Por outro lado, o extracto acima citado confirma uma suposição manifestada no meu artigo Polish investigations of the Treblinka killing site were a complete failure … [versão em português], onde escrevi o seguinte:
Também cabe questionar porque Mattogno não considerou a possibilidade de que estas crateras de bomba resultaram da actividade de escavadores saqueadores, os quais poderiam, por exemplo, ter obtido tais dispositivos do arsenal de um comandante soviético corrupto ou até ter incluído membros de unidades de artilharia ou de engenheiros soviéticos, que participaram eles próprios na "febre do ouro de Treblinka" equipados com o necessário equipamento para abrir grandes buracos e assim facilitar a busca dos objectos de valor que presumiam ter sido deixados atrás pelas vítimas de Treblinka.
Uma certa relutância em mencionar o envolvimento de tropas soviéticas na "febre do ouro" em Treblinka parece existir até hoje, por qualquer razão. Ao menos é esta a suspeita que levanta a explicação dada pelo director do museu do campo Kopówka aos jornalistas de Gazeta Wyborcza para a depressões no solo que actualmente se encontram na área de Treblinka:
"Quando demos a volta ao monumento encontramos depressões no terreno," dizemos ao despedir-nos do director. "A julgar pelas árvores que crescem neles devem ter algumas dúzias de anos. Trata-se de depressões provenientes das escavações?" – "Não ... isso vem de projécteis de artilharia. Em 1944 a linha da frente passava por aqui durante algumas semanas."
A pesquisa de Alex Bay sobre operações militares à volta de Treblinka em 1944 não indica que tenha necessariamente havido quaisquer combates na área de Treblinka, e a fotografia aérea captada pela Luftwaffe em Setembro de 1944, incluída no artigo The Reconstruction of Treblinka de Bay, não mostra a presença de crateras feitas por mísseis de artilharia que correspondam às afirmações de Kopówka. Explosões que produziram tais crateras devem ter ocorrido, portanto, em altura posterior à fotografia de Setembro de 1944.
Martyna Rusiniak, cujo livro sobre O campo de extermínio Treblinka II na memória colectiva é mencionado no artigo de Gazeta Wyborcza como estando previsto para publicação no mês seguinte, discorda com Kopówka na medida em que atribui uma parte das depressões nas florestas de Treblinka às "hienas", especialmente às suas escavações "barulhentas" envolvendo o uso de explosivos. Presumo que o livro de Martyna Rusiniak contém mais detalhes interessantes sobre o campo de extermínio de Treblinka e a Febre do Ouro em Treblinka.
Agradeço ao Dr. Neander por ter feito a revisão deste artigo e ter chamado a atenção para algumas correcções necessárias.
[Tradução adaptada do meu artigo Gold Rush in Treblinka no blog Holocaust Controversies.]
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