VIENA - Em mais uma série de reportagens publicadas por diferentes jornais, o austríaco Josef Fritzl disse que abusar sexualmente da filha que manteve presa no porão de sua casa por 24 anos era um vício e voltou a se defender, afirmando que fez tudo por amor e agiu influenciado pelo nazismo. Em declarações repassadas ao jornal "Daily Mail" por Rudolf Mayer, advogado do chamado maníaco austríaco, Fritzl garantiu que não manteve relações sexuais com a filha enquanto ela era criança. Elisabeth Fritzl foi encarcerada pelo pai em 1984, quando tinha 18 anos. Cartas suas publicadas pelo jornal "Österreich" mostram que ela planejava sair de casa pouco antes de ser levada para o porão, onde teve sete filhos com o pai. O advogado de Fritzl diz que ele não pode responder por seus atos e precisa de tratamento psiquiátrico.
Eu sempre valorizei o bom comportamento e o respeito. Admito isso. A razão para isso é que pertenci a uma escola de pensamento que já não existe mais
"Eu não sou um homem que tem relações sexuais com pequenas crianças. Eu só fiz sexo com ela (Elisabeth) muito depois. Isso foi quando ela estava no porão há um bom tempo. Eu cresci na época do nazismo e isso significa a necessidade de se controlar e de respeitar a autoridade. Eu acredito que eu adquiri alguns desses valores antigos", disse Fritzl, segundo o "Daily Mail". "Eu sempre valorizei o bom comportamento e o respeito. Admito isso. A razão para isso é que pertenci a uma escola de pensamento que já não existe mais".
Elisabeth disse à Polícia que seu pai começou a abusar sexualmente dela quando tinha 11 anos. Fritzl admitiu, segundo o jornal britânico, que fantasiava ter relação com sua mãe, a quem admirava profundamente, ao contrário do pai, um "gastador" e "perdedor". O maníaco austríaco contou que sua mulher, Rosemarie, nada tinha em comum com a mãe e que casou-se com ela porque era a "mãe perfeita" para os muitos filhos que queria ter.
Pai diz que rapto da filha foi tentativa de protegê-la do 'mundo exterior'
Ele confirmou que planejou o rapto da filha com pelo menos dois anos de antecedência, mas negou que tenha algemado Elisabeth, afirmando que mesmo sem as algemas ela não teria como fugir. Ele argumentou que encarcerou a filha para protegê-la do "mundo exterior".
"Eu tentei resgatá-la da lama e organizei para ela um trabalho de trainee como garçonete, mas ás vezes ela não ia para o trabalho. Ela até fugiu duas vezes e ficava por aí com pessoas de padrões morais questionáveis, que certamente não eram boa influência para elas. Eu sempre tinha que trazê-la para casa, mas ela sempre fugia de novo. Foi por isso que eu tive que arranjar um lugar onde dei a ela a chance, pela força, de se manter longe das más influências do mundo exterior".
Pouco antes de ser presa pelo pai no porão onde passou 24 anos de sua vida, Elisabeth Fritzl procurava um emprego para sair de casa, mostram cartas suas para um amigo, publicadas nesta quinta-feira pelo jornal "Österreich". Na correspondência enviada para um amigo em 1984, Elisabeth diz que planejava morar com uma irmã em outra cidade. Os textos mostram que a jovem levava uma vida normal, gostava dos irmãos e saia com amigos.
"Depois das provas, vou viver com minha irmã e um amigo seu. Eles não podem pagar sozinhos o apartamento. Para mim, é muito acessível", escreveu Elisabeth no dia 9 de maio de 1984, segundo o jornal. "Na segunda-feira, vou a Traun. Copiei do jornal todos as vagas de trabalho e agora tenho que ver um a um. Tomara que encontre o adequado. Deseje-me sorte!", contou poucas semanas depois a austríaca que, então com 18 anos, pensava em "trabalhar como assistente de dentista" ou "ajudante de um restaurante".
A revista "News" publicou, também nesta quinta, declarações de seu pai, Josef Fritzl, em que diz que abusar sexualmente da filha era um vício.
"Eu sabia que Elisabeth não queria que eu tivesse feito o que fiz com ela. Eu sabia que estava machucando. Era como um vício" disse Fritzl, de acordo com a revista. " Eu sabia todo tempo, durante todos aqueles 24 anos, que o que fiz não era certo, que eu devia estar maluco para fazer algo como aquilo. De qualquer forma, eu não o monstro em que a mídia me transformou".
Em declarações divulgadas na quarta-feira, Fritzl já havia se defendido, dizendo que poderia ter matado Elisabeth e os três filhos que cresceram no porão, sem que ninguém soubesse, mas não o fez.
"Quando eu ia ao porão, eu levava flores para minha filha, e livros e brinquedos para as crianças, e eu assistia a filmes com eles, enquanto Elisabeth cozinha nosso prato preferido", contou o austríaco.
Fritzl está preso desde o último dia 28 em Saint Poelten, cidade para onde foi levado depois de ser detido em Amstetten, onde vivia com a mulher e três dos filhos que teve com Elisabeth.
Fonte: O Globo
http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2008/05/08/maniaco_austriaco_que_manteve_filhos_no_porao_diz_ter_sido_influenciado_pelo_nazismo-427278432.asp