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quinta-feira, 30 de julho de 2015

Futebol e Fascismo: os mundiais de Mussolini e Hitler

Seus olhares se cruzavam no plasma em câmara lenta, num plano eterno digno de um Western de Sergio Leone. Casillas frente a Buffon. Sós ante o perigo, com um muro de silêncio entre eles inquebrantável ao gritaria das arquibancadas. Nas casas, o respeitável se benzia e pensava, "outra vez nas quartas não, por deus. Outra vez não" e segurava a respiração a cada lançamento.

Árbitros fazendo a saudação fascista no Mundial de 1934
Aquelas paradas de Santo, de De Rossi e Di Natale, e aquele último penal de Cesc, acabaram por desmontar um velho mito: o da maldição das quartas, que nos condenava, verão após verão, ao frango da derrota e à depressão nacional. Desde então, e até pouco tempo, só vitória.

O velho tópico de que a história são ciclos, o mesmo que se atrevem a dizer os entendidos em economia, cumpre-se neste caso. Igual a maldição que se rompia num Espanha-Itália, este havia tido uma partida similar, só que em 1934 e em circunstâncias políticas muito diferentes.

Dizem que Benito Mussolini só havia assistido a uma partida de futebol em toda sua vida, mas isto não lhe impediu de se aperceber das possibilidades políticas e propagandísticas que o jogo da bola podia lhe proporcionar. O fascismo, desde suas origens, exaltava dentro de seus valores supremos a juventude (o hino fascista italiano, Giovenezza, era todo um exemplo disto), a ação, a força e a mesma violência. Não é de estranhar, portanto, que todos os regimes fascistas potenciaram a prática desportiva como forma de educar os jovens com visando um cumprimento melhor dos deveres para com a pátria, e como fórmula para forjar o caráter e a disciplina que, supunha-se, devia ter um "bom" fascista.

Logo o esporte, que começava a se converter num entretenimento de massas, obteve para os fascistas uma nova dimensão: igual ao cinema e outros espetáculos da moda, podia ser usado como suporte propagandístico. O doutrinamento era fundamental num regime totalitário e eles sabiam perfeitamente como chegar ao povo. Bem conhecido é o caso das Olimpíadas de Berlim, em 1936, que Hitler desenhou como a apoteose da "modernidade" hitlerista, ainda que um afro-americano, Jesse Owens, acabasse por lhe roubar o protagonismo ao se alçar pela primeira vez na história com quatro medalhas de ouro no atletismo. Mais desconhecido para o público é o uso que o fascismo italiano e o nazismo tentaram fazer do futebol: durante este artigo tentaremos recolher vários exemplos do ocorrido em torno dos encontros dos mundiais de 1934 e 1938.

A batalha futebolística do "fáscio"

Mussolini se empenhou em celebrar na Itália o segundo mundial da história, depois de não conseguir para seu país o que fora celebrado no Uruguai em 1930 e que acabaria com a vitória da própria anfitriã. Para ele, não duvidou em pressionar a Suécia, a outra candidata a albergar a competição, que acabou por ceder às pressões do gabinete do Duce: uma vez conseguida a celebração do acontecimento em terras transalpinas, só restava assegurar o sucesso da azzurra. Mussolini se dirigia a Giorgio Vaccaro, presidente da Federação Italiana de Futebol e membro do Comitê Olímpico Italiano, da seguinte maneira:

—Não sei como fará, mas a Itália deve ganhar este campeonato.

—Faremos todo o possível...

—Não me compreendeu bem, general... a Itália deve ganhar este Mundial. É uma ordem.


A vitória italiana de 1934 começaria a ser gestada desde o mesmo mundial de 1930. Depois da vitória uruguaia, diversos emissários italianos convenceriam ao argentino Luis Monti para que se filiasse pela Juventus de Turim, depois de lhe oferecer 5.000 dólares mensais de soldo, uma casa e um carro. Toda uma fortuna que o argentino não pode rechaçar. A intenção da filiação era de poder nacionalizá-lo alguns anos depois, como fariam com outros futebolistas antes do mundial. Com Monti, somariam-se seus compatriotas Atilio Demaría, Enrique Guaita e Raimundo Orsi, assim como o brasileiro Guarisi, que reforçariam a seleção azzurra. Ante as críticas recebidas por "filiar" estrangeiros, nacionalizados convenientemente pelo governo fascista, o selecionador, Vittorio Pozzo, sentenciou: "Se podem morrer pela Itália, podem jogar pela Itália".

O treinador italiano Vittorio Pozzo observa uma partida. Foto: FIFA.com
Pela primeira vez a competição se desenvolveria com um formato de eliminatórias em partida única, com prorrogação de 30 minutos e repetição do encontro em caso de continuar o empate depois da prorrogação. No mundial da Itália se reuniram 16 equipes, depois de uma fase prévia de classificação desenvolvida em diferentes regiões. Inglaterra, como já ocorrera durante o mundial do Uruguai, negou-se a participar por não ter concedido a organização do campeonato.

A Itália chegou com cartazes anunciando o campeonato, no que se representavam jovens atletas saudando com o braço alto. As partidas se iniciavam ao grito de "Itália, Duce", depois do qual, e depois de fazer a saudação fascista desde o centro do campo, os azzurri saíam disparados pela vitória. Desde o palco, Mussolini, acompanhado por hierarcas do regime e cercado por milhares de camisas negras, a milícia do partido fascista, seguia com interesse as evoluções do combinado nacional. Não podiam falar. O que para eles constituía uma pressão atroz, convertia-se em medo para seus adversários. A grande vitória fascista estava em marcha.

Na partida de estreia das quartas de final as seleções da Espanha e Itália se enfrentavam no estádio Giuseppe Berta de Florença, ante uns 43.000 espectadores desejosos de ver uma vitória italiana no encontro que acabaria por se parecer mais a uma batalha que a uma partida de futebol. Até sete espanhóis caíram lesionados numa eliminatória na qual consigna dos italianos, que levaram o jogo além dos limites do regulamento, respondia ao lema fascista: "Vencer ou morrer".

A Espanha, superior em técnica e classe à Azzurra, chegava à investida liderada pelo melhor porteiro da história até o momento, Ricardo Zamora, "o Divino" e pelo goleador Lángara, no ataque. A esquadra espanhola acabava de vencer o Brasil com um resultado de três gols a um. Durante esta partida, Zamora se converteria no primeiro goleiro a pegar uma penalidade máxima na história dos mundiais, depois de pegar um pênalti da estrela carioca, Leônidas.

Foto da seleção espanhola em 1934 com Zamora segurando a bola
"Foi um encontro espetacular, dramático e jogado com uma intensidade muitas poucas vezes vista", assim resumiria Jules Rimet, o francês inventor do negócio dos mundiais, uma partida que passaria para a história do cálcio como "A batalha de Florença".

Passou à frente do placar a Espanha com um tento de Regueiro, no minuto 31, mas ao filo do descanso os italianos conseguiram empatar com uma jogada digna do pior pátio de recreio: Ferrari arremataria ao fundo das redes um chute, não muito perigoso, enquanto Schiavio agarrava Zamora para que não pudesse bloquear o esférico. O colegiado Louis Baert, de origem belga, não quis ver a clara violação do regulamento.

A segunda parte começaria com todo um massacre nas fileiras espanholas, provocado pela violência inusitada da esquadra italiana: Zamora, Ciriaco, Lafuente, Iraragorri, Gorostiza e Lángara acabariam o encontro, depois da pertinente prorrogação, com diferentes lesões que lhes impediria de jogar a partida de desempate do dia seguinte. A pior parte ocorreria com a estrela espanhola, Ricardo Zamora, que sairia da cidade italiana com duas costelas rotas depois de uma trombada com um jogador italiano, que nem sequer fora marcada como falta pelo árbitro belga.

Imagem do gol italiano
Durante a partida de desempate os italianos seguiram a mesma estratégia: a violência como forma de parar o jogo espanhol. Desta vez foram Bosh, Chacho, Regueiro e Quincoces os lesionados ante a passividade arbitral. A injustiça chegou a seu ponto máximo quando o árbitro, desta vez o suíço René Mercet, anulou gols legais de Regueiro e Quincoces, por inexistentes fueras de jogo, enquanto validava em definitivo o tento do mítico Giuseppe Meazza, o mesmo que hoje dá nome ao estádio do Milan, apesar de que o italiano Demaría estava obstaculizando a Nogués, porteiro que substituía o lesionado Zamora.

A atuação arbitral foi tão comentada que Mercet, quando regressou a seu país, foi expulso por toda a vida da arbitragem, tanto pela FIFA como pela federação de seu país.

Em semifinais a arbitragem voltou a ser igualmente "discutida". Os italianos conseguiram com a vitória frente ao "Wunderteam" austríaco. O time maravilha, como era conhecida a excelente seleção liderada por Matthias Sindelar, nada pode fazer frente ao gol impedido que o juiz deu como válido.

A equipe austríaca, que havia extasiado meia Europa com seu jogo, voltava a seu país sem saber que Hitler se cruzaria em breve por seu caminho, rompendo a trajetória desportiva daquela legendária seleção. Mas isso contaremos mais adiante.

Em dez de junho de 1934 se celebrava em Roma a grande final do campeonato, enfrentando-se as seleções da Itália e Checoslováquia, outra seleção das que, em teoria, tinham certa superioridade sobre os transalpinos. Para a final se designou o mesmo árbitro que havia apitado as semifinais frente a Áustria, o sueco Ivan Eklind.

A seleção checoslovaca se apresentava no campeonato com uma esquadra cheia de talento, com futebolistas de grande estatura em suas fileiras como Nejedly, Planicka, "o Zamora do Leste" ou Svoboda. A Itália de Vittorio Pozzo, o inventor do sistema do catenaccio, dispôs de um sistema de jogo com posição piramidal, um 5-3-2 que os italianos denominaram "O Método".

Logo os checos mostrarem sua vontade de não ser simples convidados para a festa latina, o que fez com que se instalasse o nervosismo no palco quando, ao chegar o descanso, o marcador mostrava um empate zerado. Diz a lenda que, quando Pozzo arengava com seus pupilos no vestiário, apresentou-se um enviado do Duce com a seguinte mensagem: "Senhor Pozzo, você é o único responsável do sucesso, mas que Deus o ajude se chega a fracassar". Como contestação, 'Il vecchio maestro' se dirigiu aos jogadores com estas palavras: "Não me importa como, mas hoje devem ganhar ou destruir o adversário. Se perdemos, todos ficaremos muito mal".

No minuto 70 os checos abriram o marcador graças a um grande tento de Vladimir Puc. Três minutos depois, Svoboda acertaria a bola no travessão que pode mudar o curso da história mas Pozzo, velho zorro, fez algumas mudanças táticas que modificariam o destino do encontro. A nove minutos do final, Orsi, com um forte chute, empatou. Durante a prorrogação, Shiavio, com passe de Guaita, bateria o goleiro checoslovaco, Planicka, dando o triunfo à Itália.

A grande vitória fascista fora alcançada. Mussolini organizaria uma cerimônia para comemorar a gesta no dia seguinte, ao que os jogadores acudiram com o uniforme da partida. O Duce já tinha a vitória que aguardava com ânsia desde 1930, a vitória que permitiria exaltar, ainda mais, ante o mundo, e ante os próprios italianos sobretudo, o caráter heroico e guerreiro da "raça latina".

Depois a gesta, as benesses que o fascismo havia prometido aos jogadores se converterem, em alguns casos, em fel. Luis Monti relataria, muitos anos depois, como tudo mudou depois do mundial. Especialmente relevante foi o caso de Guaita, um dos estrangeiros filiados e nacionalizados pelo governo de Mussolini que, depois dos mimos e do sucesso, acabou sendo exilado.

Enrique Guaita jogava no Roma, mas o time favorito do fascismo era outro. A cidade de Roma se divide, ainda hoje, entre os seguidores do Roma, majoritariamente de esquerdas e do Lázio, de direitas, pelo que era lógico que a equipe escolhida pelos fascistas para encarnar seus valores fosse este último.

Vê-se que alguma mente privilegiada do fascismo, lê-se a ironia, teve uma grande ideia para desativar o Roma e que a Lazio tivesse mais fácil o caminho no campeonato. O plano era simples: mandar boa parte da equipe romana para o front, concretamente para a Abissínia, uma louca aventura imperialista com a qual o Duce pretendia reverdecer os louros do Império Romano mas que, ao contrário do que eles supunham, não estava resultando num caminho de rosas. A reação de Guiata, que queria conservar sua vida acima de tudo, foi a de fugir para a França junto com outros companheiros. Posteriormente, continuou sua carreira futebolística em seu país de origem, a Argentina.

O homem de papel que desafiou o Führer

Em 1938, o mundial seria celebrado na França, graças ao empurrão do mesmíssimo Jules Rimet. A situação política evidenciava um caminho inevitável para uma nova conflagração mundial, que em boa parte parte estava ocorrendo na Espanha seu mais imediato precedente. Por esse motivo, a seleção espanhola não pode participar do campeonato, que se viu salpicado em cada partida pelas rivalidades políticas.

Outro país que dispunha, igual com a Espanha, de um grande seleção e que não pode participar do mundial por questões políticas foi a Áustria, que havia renunciado participar estando classificada. A história do "Wunderteam" correria tragicamente paralela a de sua pequena nação.

Em 12 de março de 1938, a Alemanha de Hitler anexaria a Áustria, convertendo-a pela força em mais uma província alemã. Aquela mostra imperialista, que passaria para a história com o nome de "Anschluss", significava também a desaparição da equipe austríaca, igualmente que já havia ocorrido com todos os símbolos da independência desse país.

Matthias Sindelar durante um lance de jogo
A anexação supôs o princípio do fim da maior estrela da história do futebol austríaco, Matthias Sindelar, conhecido como "O homem de papel", pela delicadeza de seus movimentos no terreno de jogo. Sindelar gozava de uma grande fama, dentro e fora de seu país, e era o líder, tanto de sua seleção como do Áustria de Viena. Mas os nazis cruzaram seu caminho.

Restavam apenas uns poucos meses para a celebração do Mundial de 1938, quando o governo alemão pensou que, uma vez que a Áustria formava já parte da Alemanha, os melhores jogadores desse país poderiam reforçar a esquadra teutônica. O "Wunderteam", que só havia perdido quatro das últimas 50 partidas jogadas, tinha suas horas contadas. Até oito jogadores da equipe passariam a defender a camisa alemã, mas antes disso os nazis idealizaram uma parte de despedida que, por sua vez, devia se converter na grande festa da raça ariana. Evidentemente, contava com a vitória alemã.

Contudo, os de Sindelar, que em princípio jogaram aterrorizados pelo medo, decidiram não perder o único que lhes restava: o orgulho. "O homem de papel" começou a fazer das suas. Os austríacos acabariam ridicularizando com seu jogo os alemães e a partida acabariam num dois a zero para o "Wunderteam".

O momento máximo do encontro chegaria depois de um dos gols da partida, marcado pelo próprio Mathias Sindelar. Depois do tento, correria para celebrá-lo frente ao palco das autoridades, repleto de mandachuvas do partido nazi e presidido pelo próprio Führer, realizando uma dança/malabarismo que, naqueles tempos, à parte de ser algo totalmente inusual, foi tomado como uma tremenda falta de respeito e todo um desafio ao poder nazi. O atacante ficaria sentenciado por toda a vida.

Depois da partida, Sindelar se negaria a formar parte da seleção nazi no Mundial da França, para isto aludiria falsas lesões e, inclusive, chegaria a anunciar sua retirada do esporte. Desde então se converteria num indesejável para o nazismo, que não lhe permitiria nem jogar o futebol em seu país nem, muito menos, cruzar as fronteiras para competir fora.

Em 22 de janeiro de 1939 os bombeiros de Viena encontrariam seu corpo em sua casa, junto com o de sua parceira. Haviam aberto o condutor de gás para liquidar suas vidas. Ninguém sabe o que se passou ao certo, pois o caso acabou oculto. Muitos apontam a Gestapo, outros a depressão que lhe causou em não poder voltar a jogar futebol. o caso é que o totalitarismo encerrou a carreira a um dos melhores futebolistas de sua época.

Vencer ou morrer em camisa negra

Mas apesar de reforçar a seleção com os melhores jogadores da Áustria, a equipe alemã, que tantas esperanças havia dado a Hitler, não pode suceder na glória futebolística à outra potência fascista, a Itália, que seguiria reinando até depois da Segunda Guerra Mundial.

O Mundial de 1938 poderia ter sido uma oportunidade de confraternização na Europa do pré-guerra, mas foi só uma mostra a mais do frio e temível ambiente que se vivia nos países europeus durante aquele tempo: todo mundo sabia que, mais cedo ou mais tarde, a guerra acabaria por ser, outra vez, uma terrível realidade.

Assim, Mussolini, disposto a voltar a utilizar o futebol para sua política propagandística, decidiu comandar sua seleção pessoalmente. Para isto, organizou um ato no Palazzo de Venezia, no que os jogadores acudiram com o uniforme fascista, e que culminou com a vitória com um discurso ante o multidão desde a sacada.

Durante a partida de oitavas de final, contra a Noruega, os italianos realizaram a saudação fascista, também conhecida como romano, antes de começar o encontro, desatando a ira do público francês e ganhando sua animosidade para o resto do campeonato. Mas a grande contenda política teve lugar poucos dias depois, no encontro de quartas de final entre os italianos e os anfitriões do torneio, os franceses.

Mussolini não havia deixado nada ao azar assim que, para o dia no qual tinham que enfrentar seus odiados adversários, os italianos apareceriam com uns uniformes negros, em homenagem aos "camisas negras", a força paramilitar do partido fascista. O desafio, ante 61.000 espectadores franceses, e algum ou outro exilado italiano, foi total. Enfrentavam-se duas formas de ver o mundo, a fascista italiana e a República democrática francesa, num clima asfixiante que não tardaria em explodir. Quando os italianos chegaram ao centro do campo realizaram a saudação fascista, obtendo como resposta uma sonora vaia que não cessaria durante toda a partida. Apesar da pressão do público, a Itália voltaria a conseguir a vitória com um resultado de três a um.

A seleção italiana, de negro, saúda de braço erguido
Depois de vencer os brasileiros em uma das semifinais, enfrentariam na grande final a Hungria, a qual venceriam por quatro a dois, com gols duplos de Piola e Colaussi, no estádio de Colombes de Paris. Os italianos voltariam a jogar a partida com as camisas negras, símbolo de guerra do fáscio. Antes da partida, Vittorio Pozzo recebeu um telegrama pessoal por parte do Duce que rezava assim: "Vincere o morir", vencer ou morrer.

Depois de duas vitórias consecutivas na Copa do Mundo da FIFA, a Itália de Pozzo entraria para a história do futebol como uma das melhores seleções nacionais de todos os tempos. A Segunda Guerra Mundial acabaria com o reinado desta equipe, e com os mundiais durante 12 anos privando a uma grande geração de futebolistas a seguir desfrutando o que mais amavam, o futebol, e iniciando uma nova etapa na história deste esporte que, também veria como outros regimes de diversas índoles tratariam de usar a bola para seus interesses políticos. E assim, até o dia de hoje...

A seleção italiana celebra o Mundial sobre o terreno do jogo. Foto: FIFA.com
Publicado por Cristóbal Villalobos

Fonte: Jotdown site (Espanha)
http://www.jotdown.es/2013/08/futbol-y-fascismo-los-mundiales-de-mussolini-y-hitler/
Título original: Fútbol y fascismo: los mundiales de Mussolini y Hitler
Tradução: Roberto Lucena

sábado, 23 de maio de 2015

O espanhol que se dizia sobrevivente do Holocausto, mas foi desmascarado

Enric Marco nunca lutou contra o fascismo; pelo contrário, ele se inscreveu
como trabalhador voluntário na Alemanha nazista
Dos 7.532 espanhóis mantidos no campo de concentração nazista de Mauthausen (Áustria), só 2.335 sobreviveram.

Nesta terça-feira, completam-se 70 anos da liberação desses sobreviventes, uma data particularmente especial para a Espanha. Foi ali que terminaram a maioria dos 9 mil espanhóis deportados.

No entanto, a memória deles correu o risco de ser distorcida. Tudo devido a um impostor, Enric Marco, que até dez anos atrás foi presidente da principal associação de vítimas do nazismo na Espanha, a Amical Mauthausen.
Discurso de impacto

O historiador madrilenho Benito Bermejo, especialista em deportados da Espanha, interessou-se por Marco depois de conhecê-lo em uma conferência em 2002 – e achou a história dele muito intrigante.

Enric Marco contava que havia sido preso em Flossenbuerg, um campo de concentração na Baviera (Alemanha) e um destino atípico para um deportado espanhol.

Bermejo leu tudo o que pôde encontrar sobre o passado de Marco, a partir da versão deste - de que havia sido um anarquista obrigado a fugir de Barcelona, sua cidade natal, para a França no fim da Guerra Civil Espanhola (1936-39).

"Eu estava curioso, interessado em descobrir mais, mas logo fiquei perplexo", conta Bermejo à BBC.

"A versão de Marco para os acontecimentos mudava a cada vez que ele contava. Tanto sobre o campo de concentração quanto sobre como havia chegado ali."

Benito Bermejo também achou misterioso que nas poucas ocasiões que conseguiu falar com Marco cara a cara, ele se recusou a contar suas experiências na Alemanha nazista.

Enric Marco tem 94 anos e não se arrepende de ter mentido sobre sua presença no campo de concentração
Como presidente da Amical Mauthausen, Marco mostrou uma predileção por discursos de grande impacto, cheios de detalhes horríveis de sua suposta vida em Flossenbuerg.

Deixou vários deputados chorando ao se dirigir a eles no Dia Internacional da Comemoração em Memória das Vítimas do Holocausto, em janeiro de 2005.

Desmascarado

Buscando no arquivo do Ministério das Relações Exteriores, o historiador encontrou uma solicitação oficial do comando do Exército na Catalunha para obter informações sobre o paradeiro de Marco, já que ele não havia se apresentado para o serviço militar obrigatório em 1943.

O ministério respondeu que Marco era empregado de um estaleiro naval de Deutsche Werke, em Kiel, no norte da Alemanha.

Longe da luta contra o fascismo, Marco na verdade fez parte dos 20 mil espanhóis que trabalhavam para o Terceiro Reich sob um acordo de 1941 entre o general espanhol Francisco Franco e Adolf Hitler.

"Quando soube que Marco não foi deportado, e sim que foi à Alemanha voluntariamente, vi que algo muito estranho estava acontecendo", disse Bermejo.

Mas ele ainda tinha dúvidas quanto um possível engano de Marco, já que alguns trabalhadores voluntários que tiveram problemas com o regime nazista terminaram em campos de concentração.

Durante meses, o historiador buscou uma explicação de Marco.

Descobriu que Marco fora preso brevemente em Kiel, mas nunca foi condenado, e muito menos enviado a um campo de concentração.

Logo, durante o evento para comemorar o 60º aniversário da liberação do campo de Mauthausen, ele enviou um relatório sobre o caso ao escritório do governo espanhol e à associação Amical. E esperou.

"O que mais eu poderia fazer? Decidi que ir a público com o que eu sabia seria uma espécie de declaração de guerra e algo muito controverso naquele momento."

A caminho da Áustria, um dia antes da cerimônia de Mauthausen, Bermejo leu na imprensa que Marco havia tido que voltar à Barcelona por estar "indisposto". A farsa havia acabado.

O livro O Impostor, do escritor Javier Cercas, escrito com a colaboração de Marco, sugere que o próprio Marco foi confrontado por seus colegas da Amical a respeito das conclusões de Bermejo e confessou ter sido um voluntário do Terceiro Reich.

Perto do desastre

Marco finalmente admitiu abertamente que nunca havia estado em um campo de concentração. Passou a argumentar que foi preso brevemente "sob acusação de conspiração contra o Terceiro Reich" mas nunca foi liberado pelas tropas aliadas - como contava anteriormente - em 1945, no fim da Segunda Guerra Mundial.

Aos 94 anos, não se arrependeu publicamente da mentira que contou por três décadas, alegando que o objetivo era manter viva a memória das vítimas espanholas de Hitler.

Marco ia participar de Comemoração oficial com o então premiê Zapatero (à dir.), mas acabou desmascarado
"Quem teria me escutado se eu não tivesse encarnado esse personagem?", disse recentemente.

"É assustador pensar que se eu não o tivesse conhecido, as coisas poderiam ter sido muito diferentes", afirmou Bermejo.

Para José Marfil, também de 94 anos e um dos poucos sobreviventes espanhós reais do campo de Mauthausen, a luta para manter as memórias do local vivas deve continuar.

"Temos que fazer tudo o que for possível para manter a memória da existência desses campos de concentração viva para as pessoas, já que nós sobreviventes vamos desaparecer."

James Badcock, De Madri para a BBC
5 maio 2015

Fonte: BBC Brasil
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/05/150505_espanhol_nazista_rm
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Observação: curioso que nos sites "revisionistas" (ao menos os lusófonos) esta matéria não tenha sido citada como "prova" da "não existência" do Holocausto (como eles costumam alegar) com o alarde de costume. Matéria recente, do mês de maio.

Críticas à parte ao já habitual 'mantra' "revi", a matéria destaca a importância dos pesquisadores que desbancaram essa fraude antes que os ditos negacionistas usassem o caso pra fazer o alarde habitual deles ignorando que, num evento deste porte, com a quantidade de pessoas envolvidas, pode haver impostores como o da matéria e outros casos recentes, por exemplo:
Caso Misha Defonseca. Mulher que inventou memórias do Holocausto condenada a devolver mais de 22 milhões de dólares
Livro que conta história falsa sobre o Holocausto causa polêmica nos EUA (Caso Herman Rosenblat)

Só que casos como este têm sido coisas pontuais, mas na narrativa negacionista o que é pontual vira "regra" em vez de exceção, pois a agenda política deles está acima do evento em si. Todos os três casos citados foram descobertos e denunciados.

Por essas e outras que vale a repetição do dito popular de que "de boas intenções o inferno está cheio", pois pessoas com supostas boas intenções (pelo menos alguns alegam) podem agir de má fé e provocar prejuízos.

Esses casos acima sempre me faz lembrar daquele pessoal "bem intencionado" (na visão deles, que ignoram totalmente o que os outros comentam ou criticam), misturando a questão de Israel com essa questão da segunda guerra, causam ao irem provocar "revisionistas" com discurso moralista achando, tolamente, que irão mudar a visão de mundo dos negacionistas sem entender o quão são arraigadas essas crenças obscuras nos "revis", ignorando a agenda fascista (na acepção do termo) por detrás do discurso.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Testemunhas de Jeová são homenageadas no memorial do campo de concentração de Gusen

SELTERS, Alemanha — No domingo, 13 de abril de 2014, uma placa comemorativa foi inaugurada no memorial do campo de concentração de Gusen. Ela foi feita em homenagem às 450 Testemunhas de Jeová que foram aprisionadas pelos nazistas nos campos de concentração de Mauthausen e Gusen. Mais de 130 convidados estiveram presentes para a cerimônia.

Placa comemorativa inaugurada durante cerimônia pública no memorial do campo de concentração de Gusen, em 13 de abril de 2014.

Quando as Testemunhas de Jeová chegaram ao campo de concentração de Mauthausen, o comandante as ameaçou, dizendo: “Nenhum Estudante da Bíblia sairá daqui vivo.” Martin Poetzinger sobreviveu a nove anos de prisão em Dachau, Mauthausen e Gusen. Mais tarde, ele também serviu como membro do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová em Brooklyn, Nova York. Ele falou o seguinte sobre o tempo que passou em Mauthausen: “A Gestapo [polícia secreta alemã] tentou de todas as maneiras fazer com que renunciássemos à nossa fé.”

Maio de 1945: campo de concentração de Gusen. Martin Poetzinger (sentado na primeira fileira, o segundo da esquerda para direita) com outros 23 sobreviventes, logo após serem libertos.

Algumas das Testemunhas de Jeová em Mauthausen foram transferidas para o campo secundário em Gusen. O objetivo principal de Gusen era ser um “campo de extermínio”, onde assassinatos intencionais e planejados eram parte do dia a dia. Para manter forte a fé, as Testemunhas de Jeová se reuniam à noite em pequenos grupos para conversar sobre textos bíblicos que lembravam de cor. Certa vez, elas conseguiram uma Bíblia, que foi repartida para que cada Testemunha de Jeová pudesse ter algumas páginas para ler e compartilhar. Elas usavam o pouco tempo livre que tinham para se esconder embaixo da cama e ler.

As Testemunhas de Jeová também falavam discretamente da mensagem da Bíblia com outros. Elas estudaram a Bíblia com cinco prisioneiros poloneses que foram batizados secretamente em um tanque de madeira improvisado. Uma Testemunha de Jeová chamada Franz Desch falou da mensagem da Bíblia a um oficial nazista, que acabou sendo batizado mais tarde.

O porta-voz das Testemunhas de Jeová na Áustria, Wolfram Slupina, diz: “Ficamos felizes por se lembrarem da fé e da coragem que as Testemunhas de Jeová mostraram nos campos de Mauthausen e Gusen. A determinação delas em tratar a todos com bondade e empatia cristã foi uma vitória sobre o mal que merece ser celebrada e imitada.”

Contato(s) para a mídia:

Internacional: J. R. Brown, Departamento de Informações ao Público, tel. +1 718 560 5000

Áustria: Wolfram Slupina, tel. +49 6483 41 3110
21 DE JULHO DE 2014 | ÁUSTRIA

Fonte: jw.org (site das TJ); link indicado por M. Jorge Caetano no FB
http://www.jw.org/pt/noticias/noticias-2/por-regiao/austria/campos-de-concentracao-mauthausen-gusen/

segunda-feira, 18 de março de 2013

Áustria marca o aniversário de 75 anos da invasão de Hitler

Terça-feira, 12 de março de 2013 10:29 EDT
Tópicos: Áustria - Heinz Fischer

O Presidente da Áustria, Heinz Fischer (R) em uma
cerimônia que marca os 75 anos desde o Anschluss
em Viena em 12 de março de 2013 (AFP, Alexander Klein)
VIENA - A Áustria solenemente marcou nesta terça-feira os 75 anos desde que as tropas alemãs cruzaram a fronteira sem resistência, nas primeiras horas de 12 de março de 1938 e "anexou" o país natal de Hitler ao Terceiro Reich.

"Já na noite de 11 de março, bandeiras com suásticas estavam tremulando sobre Viena e em outras cidades, inclusive na sede da polícia em Viena ... mesmo que nem um único soldado alemão tenha colocado os pés em solo austríaco," disse o Presidente Heinz Fischer em uma cerimônia na capital.

"Logo depois mergulhamos na Segunda Guerra Mundial, com todas as suas conseqüências, e os austríacos foram maciçamente envolvidos nos crimes do nacional-socialismo. Isso tudo se tornou parte da nossa história, e este ainda é doloroso até este dia."

Três dias após a entrada de suas tropas, Hitler fez um discurso em Viena - a cidade que ele havia deixado em 1913 como um artista fracassado - para uma multidão eufórica de 250.000 pessoas. Um plebiscito logo depois selou a anexação.

Entre a vibrante comunidade judaica da Áustria, 66.000 foram posteriormente assassinados e 130 mil obrigados a fugir. Cerca de 20.000 austríacos foram mortos no "programa de eutanásia" nazista destinado a deficientes mentais e 90 por cento dos Roma e Sinti do país pereceram, disse Fischer.

Cerca de 9.500 opositores austríacos ao nazismo ou foram executadas ou morreram nas mãos da polícia secreta da Gestapo e 247.000 soldados austríacos morreram na guerra de 1939-1945, assim como 35 mil civis.

Fischer, que também lançou uma coroa de flores no monumento às vítimas do fascismo e da guerra, disse que o sistema totalitário nazista "só poderia acontecer através da cooperação de fanáticos, seguidores e colaboradores, bem como daqueles que deliberadamente fecharam os olhos".

Fonte: Agence France-Presse/The Raw Story
http://www.rawstory.com/rs/2013/03/12/austria-marks-75th-anniversary-of-hitler-invasion/
Tradução: Roberto Lucena

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Gottfried Küssel - Líder neonazi austríaco condenado a 9 anos de prisão

Líder neonazi austríaco condenado a 9 anos de prisão
Por Rachel Hirshfeld
Publicado em: 15/01/2013, 1:46 AM

Prisão (foto)
Um tribunal de Viena condenou uma figura que é líder neo-nazista na Áustria a nove anos de prisão por seu envolvimento no lançamento de um site de extrema-direita que glorifica o nazismo.

Gottfried Küssel, 54, é "uma figura de destaque na cena de extrema-direita" e já havia sido condenado por problemas semelhantes, incluindo uma condenação de 11 anos em 1994, disse a juiz,a Martina Krainz, anunciando o voto do júri de 5-3 por sua condenação.

A plataforma de discussão "Alpen-Donau" foi fechada no mês passado, depois que promotores em Viena pediram a seus homólogos nos EUA para dar assistência pelo fato da página ter funcionado através de um servidor localizado nos Estados Unidos, o que impossibilita os oficiais austríacos a tomarem medidas, informou o The Austrian Times.

Krainz disse que a Internet é crucial para espalhar a ideologia neo-nazista, que é proibida na Áustria, e, por essa razão, o tribunal havia imposto uma punição severa a Küssel, bem como a dois outros réus que receberam sentenças de prisão de sete e quatro anos e meio.

Gottfried Küssel
O advogado de Küssel, Michael Dohr, disse que vai recorrer da condenação. "Eu esperava uma absolvição por causa da prova muito tênue. Havia apenas provas circunstanciais, não mais que isso", disse ele em comentários transmitidos pela rádio pública austríaca ORF.

De acordo com o The Austrian Times, Küssel também é suspeito de esconder uma instalação onde os neonazistas podiam se encontrar em Viena pela marca da propriedade que funcionava como uma "lanchonete nacional de comida orgânica."

Dezenas de nacionalistas e skinheads tomaram as ruas da cidade alemã de Dortmund na noite de terça-feira para protestar contra a prisão de Küssel.

Oskar Deutsch, líder da comunidade judaica de Viena, disse recentemente que o número de incidentes antissemitas no país quase dobrou em relação ao ano passado.

Deutsch disse ao jornal Kurier que a comunidade judaica registrou 135 incidentes desse tipo no ano passado, em comparação a 71 ocorridos em 2011.

Fonte: Arutz Sheva/The Austrian Times
http://www.israelnationalnews.com/News/News.aspx/164190
Tradução: Roberto Lucena

Curiosidade, matérias do El País (Espanha) de 1991 e 1993 com o Gottfried Küssel:
1. Criar o IV Reich. O líder dos neonazis alemães ressuscita as ânsias imperiais
2. Um tribunal austríaco condena a dez anos de prisão o neonazi Küssel

***

Comentário: uma vez chegou um email pro blog perguntando, cínica ou tolamente pois não acredito que uma pessoa que tenha contato com o negacionismo não veja de imediato a ligação da negação do Holocausto com grupos neofascistas, qual a ligação entre neonazis e negação do Holocausto. Ou foi sobre isso ou sobre o David Irving, mas o teor da pergunta ia nessa direção.

Particularmente acho que nem seria o caso de se responder mais uma pergunta dessas, ou por ser algo óbvio demais e também por falta de paciência (pergunta óbvia demais irrita), mas fica aí o registro com um monte de provas e reportagens mostrando a ligação umbilical entre neonazismo, extrema-direita fascista e negação do Holocausto. Querer negar algo tão escancarado, ou é desonestidade intelectual, ou desespero de simpatizantes desse tipo de credo não assumindo o que defendem (ou ambos).

Só mais um aviso já que há perfis com a cara-de-pau de dar uma de "joão-sem-braço" pra vir aqui comentar fomentando picuinha como se ninguém tivesse "entendido" a real intenção disso: a quem queira comentar a matéria? À vontade, de preferência sem fakes. Mas por favor, não tragam fofoca citando sites "revis" brasileiros aqui pra tentar fomentar "discussão" (idiota) pois o pessoal sabe quais as fontes de propagação "revis" no país e portanto não precisa ser "alertado" sobre sites, tampouco o blog não vai servir de meio de propagação dessa lixarada. Qual a razão do aviso? Simples: posso não publicar comentários desse tipo ou deixar passar pra descer a sola no conteúdo do comentário. Dúvidas? Favor ler o post e os outros posts com avisos (clicando na tag do post): Divergências políticas.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Cidade austríaca debate futuro de casa onde Hitler nasceu

Casa onde Adolf Hitler nasceu causa dor de
cabeça para a cidade de Braunau, na Áustria
Foto: AP
A pequena cidade de Braunau, na Áustria, tem cara de cartão postal. Em frente à praça, uma casa do período renascentista permanece vazia, apesar da falta de espaço para se morar na cidade. O motivo é a aura sinistra que acompanha a construção: foi a casa onde Adolf Hitler nasceu.

A casa de mais de 500 anos normalmente seria considerada uma propriedade de alto valor, mas o estigma do nascimento de Hitler tem causado dor de cabeça para a prefeitura, que precisa decidir o que fazer com este marco intimamente ligado ao mal. Com o espaço vazio, o prefeito da cidade, Johannes Waidbacher, declarou que gostaria de transformar o lugar em apartamentos ao invés de um memorial do Holocausto.

Porém, o conselho da cidade teme que, convertido em apartamentos, o local poderia se encher de adoradores de Hitler. "Estas certamente não são o tipo de pessoa que queremos aqui", afirmou Harry Buchmayr, um membro do conselho da cidade, apontando que a maioria das pessoas que visita o local não são turistas normais, mas neonazistas prestando homenagem à Hitler.

A casa é um dos poucos locais ainda diretamente ligados à Hitler. Uma casa perto da cidade de Leonding, onde Hitler passou parte da adolescência, agora é usada como depósito de caixões para o cemitério da cidade. No cemitério, as tumbas dos pais de Adolf Hitler foram removidas depois de virarem local de peregrinação de neonazistas. O bunker onde Hilter cometeu suicídio foi destruído depois da guerra.

No final das contas, o destino da casa será decido pela dona do local, uma senhora de 60 anos que pede para permanecer no anonimato. O Ministério do Interior da Áustria aluga o local desde 1972. A dona se opõe em transformar a construção em um memorial do holocausto, o que significa que apartamentos ainda podem ser construídos na construção. Para Buchmayr, isso seria um pesadelo.

Fonte: AP/Terra
http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI6185145-EI8142,00-Cidade+austriaca+debate+futuro+de+casa+onde+Hitler+nasceu.html

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Quando a social-democracia pegava em armas contra o fascismo

António Louçã, RTP
08 Fev, 2012, 19:21 / atualizado em 08 Fev, 2012, 19:50

DR
Foram precisos mais de 75 anos para um presidente austríaco promulgar o decreto que reabilita milhares de vítimas do austro-fascismo - um ato tardio de reparação por violências sofridas, mesmo se o parlamento não se atreveu a dizer a palavrinha impronunciável.

Ao austro-fascismo não pode chamar-se "austrofascismo" - embora seja uma expressão amplamente estabelecida na historiografia dos anos 30. O consenso partidário que esteve na base da aprovação do decreto cedeu à pressão do SPÖ (Partido Social-Democrata da Áustria) sobre a substância e reabilitou as vítimas. Já quanto à forma, não houve maneira de conseguir que os democratas-cristãos do ÖVP aceitassem designar a ditadura austro-fascista pelo seu nome.

O presidente da República austríaca, Heinz Fischer, promulgou o decreto e este entrará em vigor a partir de 1 de março próximo. Para muitos sobreviventes trata-se de uma reparação meramente simbólica, porque entretanto o exílio, o julgamento à revelia, a perda da nacionalidade, ou a prisão tinham ficado para trás.

Milícia socialista versus milícia fascista

A ditadura austro-fascista impusera-se pela mão do chanceler Engelbert Dolfuss, num país que era baluarte dum dos mais fortes partidos social-democratas da Europa. Os socialistas austríacos eram amplamente majoritários na classe operária e, no final da Primeira Grande Guerra, dispunham de uma milícia (RSB- Republikanische Schutzbund) que fazia sombra ao próprio exército.

Na sequência da guerra e das revoluções que sacudiram a Europa Central, tinham rompido pela esquerda com os seus congêneres alemães. Mantiveram durante algum tempo um sistema de ligações internacionais conhecido como a "Internacional 2 e meio". Só mais tarde voltariam à Segunda Internacional.

O chanceler Dolfuss, por seu lado, apoiou-se no exército, na polícia e numa milícia fascista (Heimatschutz) para reprimir o movimento operário. Em Fevereiro de 1934, duas semanas depois da greve geral portuguesa e da insurreição da Marinha Grande, ao ser assaltada uma sede social-democrata na cidade de Linz (da região natal de Hitler), a guarda da sede abriu fogo sobre os atacantes e rapidamente foi reforçada pelos operários das fábricas vizinhas.

Aí começou uma breve guerra civil, que iria durar três dias. Alastrou a grande parte da Áustria e chegou a pôr em xeque a segurança do Governo, em Viena. De um lado combatiam os social-democratas, apoiados por uim partido comunista minoritário; e do outro lutavam austro-fascistas dolfussianos, seminaristas católicos e nazis austríacos (apesar da hostilidade entre estes e os dolfussianos).

Finalmente, o exército conseguiu impor-se, utilizando artilharia pesada contra os bairros operários de Viena, e causando assim centenas de vítimas civis. Para a Checoslováquia fugiram as grandes figuras da social-democracia - Otto Bauer, Julius Deutsch e outros. Fugiram também jovens militantes, ainda sem notoriedade especial, como o futuro chanceler Bruno Kreisky. Outros foram capturados e enforcados. Alguns ficaram na prisão.

Nazis contra austro-fascistas

O autor da carnificina não ia gozar por muito tempo do seu triunfo: poucos meses depois, em julho, Engelbert Dolfuss foi assassinado por um punhado de militantes nazis que pretendiam dar um golpe de Estado e promover a anexação da Áustria pela Alemanha.

Apesar da morte do chanceler, a conjura falhou e os principais golpistas nazis foram condenados à morte e executados. Já nesse momento Hitler mandou mobilizar tropas para invadir a Áustria, mas Mussolini fez outro tanto e avisou-o que estava disposto a enfrentá-lo militarmente. A Alemanha nazi, ainda no início do seu rearmamento, emendou rapidamente a mão, desmobilizou as tropas e denunciou o levantamento dos seus sequazes austríacos.

No poder ficou um austro-fascista, continuador de Dolfuss e muito apreciado no Portugal de Salazar - Kurt von Schuschnigg. Iria durar mais quatro anos à cabeça do Estado austríaco até à invasão alemã de 1938 e ao Anschluss. Nesse momento, a relação de forças já era outra, Mussolini já estava disposto a sacrificar o pequeno país que considerava protetorado seu, Hitler já podia mandar prender Schuschnigg e homenagear, sinceramente, os nazis que mataram Dolfuss.

Mas, na alternância de austro-fascistas e nazi-fascistas, as vítimas do terror da extrema-direita iam continuar durante mais 75 anos a esperar por uma reparação. Foi essa que agora se decretou, embora sob o manto diáfano de tabus e eufemismos.

Fonte: RTP (Portugal)
http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=525431&tm=4&layout=121&visual=49

domingo, 22 de janeiro de 2012

O Holocausto dos Roma e Sinti austríacos (Holocausto cigano)

Trecho do texto "O HOLOCAUSTO DOS ROMA E SINTI AUSTRÍACOS" de Gerhard Baumgartner e Florian Freund, da parte onde relata a deportação e confinamento de ciganos para o gueto de Lodz e logo após seus assassinatos no campo de extermínio de Chelmno(Kulmhof), localizado na Polônia ocupada.

Do texto original(em alemão):
Am 1. Oktober 1941 ordnete Himmler die Deportation von 5000 Roma und Sinti aus Österreich in das Ghetto von Łódz/Litzmannstadt an.58 Betroffen waren fast nur Burgenland-Roma. In der Regel wurden ganze Familien deportiert. Darüber hinaus dürfte die Arbeits(un)fähigkeit wichtigstes Selektionskriterium gewesen sein. Die Gemeinden wollten Fürsorgekosten einsparen und nur jene in den örtlichen Zigeunerlagern behalten, die nutzbringend eingesetzt werden konnten. Zwischen dem 4. und 8. November 1941 fuhr täglich ein Zug mit 1000 Opfern nach Łodz/Litzmannstadt. Allein aus Lackenbach wurden 2000 Roma und Sinti deportiert. Die Transporte wurden von je einem Offizier und 20 Wachmännern des Reserve Polizei-Bataillons 172 begleitet. Die Kosten der Deportation bestritten das RSHA und die lokalen Fürsorgestellen gemeinsam.

Von den insgesamt 5007 nach Łódz Deportierten waren 1130 Männer und 1188 Frauen. Neben den 2318 Erwachsenen erfassten die Transporte 2689 Kinder. 613 Personen starben bereits in den ersten Wochen nach der Ankunft im „Zigeunerlager Litzmannstadt“, die meisten wahrscheinlich an einer Fleckfieberepidemie. Die übrigen wurden im Dezember 1941 oder Jänner 1942 in das Vernichtungslager Chelmno/Kulmhof überstellt und dort mit Gas getötet. Niemand überlebte. Im März 1942 ordnete die Kriminalpolizeistelle Graz an, Anfragen besorgter Angehöriger über das Schicksal der Deportierten an das RSHA weiterzuleiten beziehungsweise ihnen mitzuteilen, dass ihnen nicht erlaubt sei, die nach Łódz „Umgesiedelten“ zu besuchen.59 Zu diesem Zeitpunkt waren alle Deportationsopfer tot.
Tradução:
Em 1 Outubro de 1941, Himmler ordenou a deportação de 5.000 Roma e Sinti da Áustria para o gueto de Lodz/Litzmannstadt.58 Foram atingidos quase que somente os Roma do Burgenland. No geral, famílias inteiras foram deportadas. Além disso, a capacidade de trabalho (in) parece ter sido o critério de seleção mais importante. As comunidades queriam reduzir os custos de bem-estar e manter somente aqueles nos campos ciganos locais, que poderiam ser usados de forma lucrativa. Entre 4 e 8 de Novembro de 1941 houve levas diárias de trens com 1.000 vítimas para Łodz/Litzmannstadt. Quase 2000 Roma e Sinti de Lackenbach foram deportados. Os transportes foram acompanhados por um oficial e 20 guardas do 172º Batalhão de Polícia de Reserva. O custo de deportação foi financiado pela RSHA e pelas agências locais de assistência social em conjunto.

De um total de 5.007, foram deportados para Lodz cerca de 1130 homens e 1188 mulheres. Além dos 2.318 adultos capturados, 2.689 crianças foram transportadas. 613 pessoas morreram nas primeiras semanas após a chegada ao "acampamento cigano de Lodz", provavelmente por conta de uma epidemia de tifo. O resto foi em dezembro de 1941 ou janeiro 1942 transferido para o campo de extermínio em Chelmno/Kulmhof e mortos por asfixia com gás. Ninguém sobreviveu. Em março de 1942, a Polícia ordenou em Graz o encaminhamento das solicitações de parentes preocupados com o destino dos deportados para o RSHA, ou os deixou saber que eles não tinham permissão pra visitar Lodz porque eles foram "reassentados".59 Nesta ocasião todos estavam mortos, vítimas da deportação.
56 KPSt Graz, Niederschrift über die heute stattgefundene Besprechung über den Abtrnsport der Zigeuner, 15.8.1940, StLA, Landesregierung, 384 Zi 1-1940.
57 Freund/Baumgartner/Greifeneder, Vermögensentzug, S. 43 f.
58 Erlass des RFSS S-Va2b Nr. 81/41 g II, StLA, Landesregierung, 384 Zi 1-1940.
59 Landrat Oberwart, 19.3.1942, DÖW 11293

Fonte: Der Holocaust an den Österreichischen Roma und Sinti; autores: Gerhard Baumgartner, Florian Freund
http://www.ph-burgenland.at/fileadmin/Berichte/newsbeitraege/holocaust.pdf
Tradução: Roberto Lucena

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Michael Zimmermann: "Perseguição nazista dos ciganos na Alemanha e Áustria, 1933-1942" (Holocausto)

Trecho do texto de Michael Zimmermann, "Intent, Failure of Plans, and Escalation: Nazi Persecution of the Gypsies in Germany and Austria, 1933–1942 (Intenção, planos fracassados e a escalada: perseguição nazista dos ciganos na Alemanha e Áustria, 1933-1942)" sobre a perseguição, deportação e assassínio por asfixia de ciganos em vans de gás no campo de Chelmno(Kulmhof).

Do texto original:
When, in the fall of 1941, the systematic deportation of German Jews began, Roma from Austrian Burgenland were affected as well.24 The ground for persecution of this particular group was prepared by Tobias Portschy, who in 1938 was made Landeshauptmann for Burgenland, where Roma had lived a settled existence for more than 150 years. Portschy gave the “Gypsy question” priority over the “Jewish question.”25 As a “National Socialist solution of the Gypsy Question,” Portschy suggested sterilization, forced labor in work camps, deportation to eventual German colonies, and bans on school education, military service, and hospital care.26

In the following years, many in the Ostmark (the former Austria) continued vehemently to demand a radical solution of the Burgenland “Gypsy problem.” The extraordinary fervor of this particular witch-hunt, against the Burgenland Roma, explains why, after the first Gypsy deportation in May 1940, these Roma were made the priority group for a second Gypsy transport to the General Government.27 When the police saw this possibility in the fall of 1941, 5,000 Burgenland Roma were deported to the Lodz Ghetto and crowded together there in a special sector. Like the Jews, the Roma were suffocated in gas vans in Kulmhof.
Tradução:
Quando, no outono de 1941, a deportação sistemática dos judeus alemães começou, os Roma do Burgenland austríaco foram afetados também.24 O terreno para a perseguição deste grupo em particular foi elaborado por Tobias Portschy, que em 1938 foi feita Landeshauptmann para Burgenland, onde os Roma tinham vivido uma existência fixa por mais de 150 anos. Portschy deu a "questão cigana" prioridade sobre a "questão judaica."25 Como uma "solução nacional-socialista para a questão cigana", Portschy sugeriu a esterilização, o trabalho forçado em campos de trabalho e a deportação para eventuais colônias alemãs, e também as proibições de educação escolar, serviço militar e assistência hospitalar.26

Nos anos seguintes, muitos no Ostmark (a antiga Áustria) continuaram veementemente a exigir uma solução radical do Burgenland para o "problema cigano". O fervor extraordinário deste particular "caçador de bruxas" contra os Roma do Burgenland, explica porque, depois da primeira deportação cigana em maio de 1940, estes Roma se tornaram o grupo prioritário paro o segundo transporte de ciganos para o Governo Geral.27 Quando a polícia viu esta possibilidade no outono de 1941, 5000 Roma do Burgenland foram deportados para o gueto de Lodz e amontoados juntos em um setor especial. Como os judeus, os ciganos foram asfixiados em furgões(vans) de gás em Kulmhof(Chelmno).
Notas:

24. Thurner, National Socialism, págs. 102–105; Lewy, Nazi Persecution, pp. 56–62,
107–16; Zimmermann, Rassenutopie, págs. 101–05, 223–29.

25. Dokumentationsarchiv des österreichischen Widerstandes (a seguir DÖW), 11.532,
Grenzmark Burgenland, Wahlzeitung zum 10.4.38, Folge 5, 5.4.1938.

26. DÖW 4.969, Tobias Portschy, Die Zigeunerfrage, August 1938.

27. Em fevereiro de 1942, houve um terceiro transporte de deportação de cerca de 2000 Sinti do leste da Prússia para Bialystok e, no outono de 1942, de lá para o Gueto de Brest. Não sabemos muito sobre o plano de fundo destas deportações (Zimmermann, Rassenutopie, págs. 228–29).

Fonte: Intent, Failure of Plans, and Escalation: Nazi Persecution of the Gypsies1 in Germany and Austria, 1933–1942; Michael Zimmermann (USHMM)
http://deimos3.apple.com/WebObjects/Core.woa/DownloadTrackPreview/ushmm.org.1434142334.01434142337.1448216329.pdf
Tradução: Roberto Lucena

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Taiwan revela que diplomata salvou centenas de judeus

Um diplomata de Taiwan, Ho Feng-shan, salvou centenas de judeus na Áustria ocupada pelas tropas alemãs durante a Segunda Guerra Mundial, informou hoje o ministério das Relações Exteriores da ilha.

Ho Feng-shan, denominado como o Schindler chinês, desenvolveu uma política de ajuda aos judeus, que havia sido impulsionada pelo então presidente do parlamento de Taiwan, Sun Ke, e referendada pelo generalíssimo Chiang Kai-Shek, adiantou a diplomacia do país.

Documentos descobertos por acaso mostram que a República da China, o nome oficial de Taiwan, foi um dos poucos países do mundo que ajudou os judeus a escapar ao Holocausto nazi durante a Segunda Guerra Mundial, assinalou o diretor do departamento de Assuntos da Ásia Ocidental, Ali Yang.

A República da China, que nessa época controlava a China Continental, concedeu vistos a judeus nas zonas ocupadas pelas tropas de Hitler, mas muitos dos documentos ficaram em território da China quando Chiang Kai-dhek, o seu governo e as suas tropas se refugiaram em Taiwan, depois da derrota frente a Mao Zedong, em 1949.

Os documentos revelados recentemente mostram que Ho, que foi cônsul em Viena entre 1938 e 1940, concedeu vistos a todos os judeus que os requisitaram para facilitar a sua viagem para Xangai.

A iniciativa de Ho a favor dos judeus da Europa só foi tornada pública após a sua morte, em 1997, altura em que a organização judaica Yad Vashem lhe concedeu o título de “Justo entre Nações”.

A mesma honra foi atribuída por esta organização ao diplomata português Aristides de Sousa Mendes, em 1966.

Aristides de Sousa Mendes, que morreu em 1954, ignorou as ordens do Governo de Portugal na época e, enquanto cônsul em Bordéus, França, concedeu, em 1940, vistos a mais de trinta mil refugiados que tentavam escapar ao exército nazi, dos quais 12 mil eram judeus.

* Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

Fonte: Agência Lusa/IOnline (Portugal)
http://www.ionline.pt/conteudo/69079-ii-guerra-mundial-taiwan-revela-que-diplomata-salvou-centenas-judeus

domingo, 14 de março de 2010

Encontradas valas comuns de vítimas do nazismo na Áustria

Pelo menos duas valas comuns com dezenas de pessoas mortas pelos nazis foram descobertas numa propriedade usada pelo exército austríaco, revelaram hoje fontes governamentais.

Um relatório do exército sugere que alguns dos corpos pertençam a pilotos norte-americanos feitos prisioneiros durante a II Grande Guerra.

O Ministério do Interior planeia agora dialogar com os proprietários do local no sentido de exumarem os corpos, não sendo ainda claro se o terreno é propriedade do exército ou arrendado.

As valas comuns - localizadas sob um campo desportivo do exército na cidade de Graz - contêm cerca de 70 corpos de pessoas mortas pelas SS (tropas de Hitler), talvez para eliminar testemunhas das atrocidades nazis pouco antes da chegada das tropas soviéticas.

As sepulturas foram identificadas através de fotos do tempo da guerra, feitas por pilotos de bombardeiros norte-americanos, mostrando covas abertas e corpos.

As autoridades norte-americanas disponibilizaram as imagens a pedido de historiadores austríacos encarregados pelo ministro da Defesa, Norbert Darabos, há dois anos, de pesquisar documentos sobre crimes de guerra naquele local, já que o mesmo fora usado pelas SS durantes a II Grande Guerra.

Um documento difundido hoje pelo exército austríaco na sua página de Internet revela que 219 pessoas foram massacradas no local nos últimos dias do conflito, com vista a apagar vestígios das atrocidades ali cometidas.

Entre outros aspetos, a investigação pretende "descobrir mais sobre a identidade e o paradeiro de pessoas mortas nos derradeiros dias do conflito".

"A violência sistemática da Gestapo visava sobretudo a resistência, prisioneiros de guerra, pessoas dos campos de concentração ou em trabalhos forçados, mas também foram abatidos pilotos dos EUA", diz o relatório.

No local terão estado centenas de vítimas, que foram deslocadas por um responsável militar que receava vir a ser inculpado pela matança. Porém, não foi possível mover todos os corpos devido à aproximação do exército soviético.

De acordo com o exército austríaco, a investigação identificou dois suspeitos da chacina, que à data terão conseguido voar para a Alemanha e que ainda podem estar vivos.

Fonte: Agência Lusa(Portugal, 12.03.2010)
Créditos também ao Holocaust Controversies(blog) por ter indicado a matéria aqui(em inglês):
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2010/03/mass-grave-in-braz.html

terça-feira, 9 de março de 2010

Áustria: candidata presidencial levanta-se contra proibição do Partido Nazista

De Sim Sim Wissgott (AFP)

VIENA, Áustria — A candidata de extrema direita à presidência da Áustria se declarou contrária à lei que proíbe o Partido Nazista, gerando dúvidas sobre a capacidade do país de assumir seu sombrio passado sob o nazismo.

Barbara Rosenkranz, de 51 anos, mãe de dez filhos e líder do partido populista de extrema direita FPO, será a única candidata da oposição no dia 25 de abril no duelo contra o atual chefe de Estado, o social-democrata Heinz Fischer, cujo papel é fundamentalmente honorífico e moral.

Ainda que não tenha nenhuma possibilidade de ser eleita - as pesquisas apontam que ela possui de 15% a 20% dos votos - suas posições reavivam o espectro de uma nova degradação da imagem da Áustria no exterior.

A lei de proibição de 1947 (Verbotsgesetz) prevê uma pena máxima de 20 anos de prisão para quem recriar o partido nazista ou uma organização similar, propagar sua ideologia ou negar os crimes nazistas contra a humanidade, especialmente o holocausto.

Entretando, Barbara Rosenkranz - cujo marido é um antigo fundador do Partido Neonazista NPD - questiona em nome da "liberdade de expressão" os artigos do Verbotsgesetz, já que reprimem "simples opiniões".

Assim, a candidata afirmou que a negação do holocausto por um deputado de seu partido está incluída nesta "liberdade de expressão".

Sua candidatura gerou ampla oposição, que vai do Partido Social-Democrata (SPO), aliado no poder com os Democratas-Cristãos (OVP) à comunidade judaica, passando pela Igreja católica.

O cardeal-bispo de Viena, Christoph Schonbord, opinou que "tal pessoa era inelegível". No SPO, o ministro da Defesa, Norbert Darabos, afirmou que Rosenkranz "pisava no fundamento antifascista da República".

A candidata de extrema direita foi assim perdendo os apoios que ganhou inicialmente, inclusive em seu próprio partido: durante uma coletiva de imprensa convocada às pressas no dia 5 de março, o presidente do FPO, Heinz-Christian Strache, afirmou que Barbara Rosenkranz "poderia escolher melhor suas palavras" e que "de nenhuma maneira se trata de modificar o Verbotsgesetz".

O diretor do influente jornal popular Kronen Zeitung, Hans Dichand, após ser convocado a votar por Barbara Rosenkranz, exigiu "uma clara condenação do nazismo e do holocausto", sob pena de ela vir a ser "desqualificada".

Como consequência, Rosenkranz se viu obrigada na segunda-feira ante a imprensa em Viena a fazer uma declaração sob juramento, na qual garante "condenar os crimes do nacional-socialismo" e "repudiar sua ideologia".

Entretanto, se recusou a responder a perguntas dos jornalistas sobre suas declarações públicas anteriores, especialmente aquela - realizada novamente na semana passada - em que sustenta que a negação de holocausto é uma questão de "liberdade de expressão".

Barbara Rosenkranz foi lançada pelo próprio presidente do FPO à corrida presidencial, precisamente porque era uma figura da ala mais conservadora do partido, claramente anti-imigrante e antieuropeia.

Todos os seus dez filhos têm nomes germânicos, como Mechthild, Hildrun, Arne ou Sonnhild. Mas sua imagem de defensora dos valores tradicionais da família foi afetada, após a revelação de que abandonou a igreja e que nenhum de seus herdeiros chegou a ser batizado.

Fonte: AFP
http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5gAv06sY2anIAuGUSATBq5rhwgPgA

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Morre austríaca que salvou diários de Anne Frank

Morre austríaca que salvou diários de Anne Frank

Miep Gies
"Só fiz o que achava necessário", costumava dizer Miep Gies quando indagada sobre a ajuda que prestou à família Frank em Amsterdã, durante o nazismo. Salvadora dos diários de Anne Frank morre aos 100 anos.

A mulher que salvou o famoso diário de Anne Frank quando jovem faleceu aos 100 anos. Miep Gies, austríaca residente há tempos na Holanda, morreu na noite de segunda-feira (11/01) em Hoorn, no norte do país. A Fundação Anne Frank, em Amsterdã, recebeu cartas de condolência do mundo inteiro. Até o fim da vida, Gies – nascida em 1909 em Viena – mantinha correspondência com quem lhe escrevesse para perguntar sobre sua relação com Anne Frank.

Correndo risco de vida, Miep Gies, sua irmã e seus pais ajudaram inúmeros judeus fugidos da Alemanha para a Holanda durante o nazismo. Sua corajosa atuação na Amsterdã sob ocupação alemã começou em julho de 1942. Gies trabalhava como secretária do pai de Anne, Otto Frank, dono de uma loja de produtos alimentícios.

"Quando ele perguntou se ela podia ajudá-lo e à sua família, ela não hesitou um instante", confirma a Fundação Anne Frank. Gies costumava dizer que não se sentia nenhuma heroína: "Nunca quis estar no centro das atenções. Só fiz o que achava necessário".

Após as oito pessoas escondidas terem sido denunciadas e presas no dia 4 de agosto de 1944, Gies entrou mais uma vez no esconderijo no fundo da casa e salvou os diários de Anne da Gestapo. Anne Frank morreu de tifo no campo de concentração de Bergen-Belsen, antes de completar 16 anos. Isso foi no início de março de 1945, ou seja, poucas semanas antes de terminar a Segunda Guerra.

Após a guerra, Gies entregou os diários de Anne ao pai, único sobrevivente da família Frank. Em 1947, ele publicou os diários da filha, que vieram a se tornar um dos livros mais lidos do mundo, traduzido para mais de 60 línguas.

SL/dpa/afp
Revisão: Rodrigo Rimon

Fonte: Deutsche Welle(Alemanha, 12.01.2010)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,5118053,00.html

Ler mais:
iInformação(Portugal); EFE; Jornal Digital; BBC Brasil/Último Segundo

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Joãozinho não gostará desta notícia - Áustria condena negacionista a 5 anos de prisão

Viena, 27 abr (EFE).- Um tribunal de Viena condenou hoje a cinco anos de prisão o austríaco Gerd Honsik, que nega que tenha existido o Holocausto nazista e havia sido detido em agosto de 2007 na Espanha.

O júri considerou de forma unânime que o acusado era culpado do delito de negação do genocídio judeu durante a Segunda Guerra Mundial e de questionar a existência das câmaras de gás, um fato constitutivo de delito na Áustria, informou a rádio pública local "ORF".

O austríaco já havia sido condenado por acusações similares em 1992, mas conseguiu escapar da justiça e se radicar na Espanha, onde o delito pelo qual era perseguido na Áustria não existia.

Após ter sido expedida uma ordem de captura internacional, ele acabou detido em 23 agosto de 2007 na Espanha e extraditado à Áustria.

"É um dos líderes ideológicos da cena neonazista", assegurou o promotor Stefan Apostol.

A Áustria fez parte do III Reich entre 1938-45 e vários líderes nazistas, incluindo o próprio Adolf Hitler, eram austríacos.

Fonte: EFE/Último Segundo
http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2009/04/27/austria+condena+a+5+anos+de+prisao+homem+que+nega+holocausto+5797917.html

Ver também: Joãozinho gostará desta notícia - aumento da extrema-direita em Portugal

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Chanceler britânico pede combate ao anti-semitismo

O ministro de Assuntos Exteriores britânico, David Miliband, lembrou neste domingo os ataques nazistas contra os judeus e ressaltou a necessidade de combater todas as formas de anti-semitismo.

Em um breve comunicado oficial divulgado por ocasião do 70º aniversário da "Noite dos Cristais" ("Kristallnacht"), Miliband disse que "esses fatos horrorosos" não deveriam ser esquecidos "nunca".

"Nosso dever como cidadãos deste mundo é nos manter em guarda contra o anti-semitismo e todas as formas de racismo que se infiltrem em nossas sociedades", disse o chefe da diplomacia britânica.

Ele destacou que o mundo tem que fazer "todo o possível para que horrores semelhantes não voltem a ocorrer no futuro".

Na "Noite dos Cristais", que ocorreu em 9 de novembro de 1938, militantes de diferentes grupos paramilitares nazistas deram origem a uma onda de violência contra os cidadãos judeus.

Nesse dia, mais de mil sinagogas de toda a Alemanha e a Áustria foram queimadas, enquanto 300 templos ficaram reduzidos a cinzas, 7,5 mil lojas de judeus foram devastadas e mais de mil pessoas foram assassinadas essa noite.

No dia seguinte, cerca de 30 mil judeus foram detidos e enviados a campos de concentração, número que, ao término da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), chegaria aos milhões.

Fonte: EFE/Terra
http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI3317968-EI8142,00-Chanceler+britanico+pede+combate+ao+antisemitismo.html

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Gray Matter(Massa Cinzenta) - documentário

Arquivado como: Crítica
Gray Matter(Massa Cinzenta)
Dirigido por: Joe Berlinger

Mas quando você pensa que todos os horrores do Holocausto foram expostos, em 2002 os cérebros de cerca de setecentas crianças foram finalmente entregues para um enterro adequado em Viena. Como resultou, os cérebros vieram de crianças deficientes que não se deram contas de estar envolvidas num inacreditável experimento Nazi para determinar a causa das deformidades e de cortá-las na raiz. Onde está Indiana Jones quando você precisa dele? Documentário aclamado do diretor Joe Berlinger que viajou até Viena em 2002 para documentar o grande enterro e fazer alguma investigação dentro daquilo que é uma das mais alarmantes histórias vindas do Holocausto.

Neste ponto, Berlinger é provavelmente melhor conhecido por seu criticamente aclamado documentário Paradise Lost(Paraíso Perdido), no qual sua investigação em cima da convicção de três adolescentes que levantaram algumas sérias questões sobre a falta de evidência que puseram suspeitos de assassinos de crianças atrás das grades. E mais recentemente, "Metallica: Some Kind of Monster" dirigido para entretenimento até de não-fãs do Metallica. Entretanto Gray Matter foi feito para TV e ajustado para ser apresentado em menos de uma hora, trata do objeto do tema com muito respeito e além disso, como o roteiro do Metallica e a gravação de St.Anger, é uma bom trabalho a propósito.

Berlinger põe seu talento investigativo no trabalho em sua procura por Heinrich Gross, o mentor e doutor do Nazi experimento no Hospital Mental Spiegelgrund no qual estes experimentos tomaram lugar. Como resultado, Gross não está apenas ainda vivo como bem, mas aparentemente vive confortavelmente sem apoio financeiro do governo austríaco. Enquanto procurava o doutor prova-se mais difícil que o experado, Berlinger tenta se conduzir para adquirir algum accesso excepcional ao agora reformado Hospital Spiegelgrund, incluindo as salas nas quais os atuais cérebros foram mantidos. Uma série de entrevistas e análise de evidência conduziu a crença de que a experimentação com os cérebros proseguiu até fins de 1998.

A diferença entre este e o trabalho anterior de Berlinger é que ele atua por um período de tempo muito maior no filme, aparecendo com a câmara na maior parte do filme. Acompanhamos ele como um diretor em sua jornada para confrontar Dr.Gross. Suponho que você poderia dizer que é um estilo Michael Moore de investigação, entretanto a diferença é que não havia realmente dois lados da história. Não havia nenhuma dúvida de que Gross teve parte na horrível atrocidade e permanece sem punição pelo que fez, além do fato de que o governo não apenas o apoiou mas ocasionalmente o usa como um expert(especialista)forense em julgamentos da suprema corte, é algo igualmente muito chocante.

Eu acho que é difícil de dizer que filmes sobre o Holocausto são requentados. É uma parte da história, e os filmes produzidos deveriam ser vistos mais como documentação do que como formas de entretenimento. Enquanto histórias como esta continuarem a aparecer, haverá sempre espaço para filmes como Gray Matter(Massa Cinzenta)nos lembrar do que pessoas são capazes de fazer. — Jay C.

Fonte: The Documentary Blog(in english)
http://www.thedocumentaryblog.com/index.php/2005/07/01/gray-matter/
Publicado por Jay C em 1 de Julho, 2005
Tradução(português): Roberto Lucena

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

"Ninguém pode imaginar o que é um campo de concentração"

David Moyano: no lenço, as cores da bandeira republicana espanhola

David Moyano lutou contra Franco na Guerra Civil Espanhola, combateu os nazistas com o exército francês na Segunda Guerra e sobreviveu a um campo de concentração alemão. Aos 86 anos, ele recebeu DW-WORLD.DE em Bruxelas.

"Vou usar um distintivo para que você saiba que sou espanhol", dissera David Moyano ao telefone, quando combinávamos um ponto de encontro na estação de trem de Bruxelas. "Não se preocupe, você vai logo ver que sou espanhol", assegurou, quando tentei obter mais detalhes.

Eis que me encontrava na abarrotada estação de Bruxelas, tentando identificar um espanhol no meio da massa de gente. O que distingue um espanhol dos outros? Nos campos de concentração nazistas, era o triângulo azul com um "S" que portavam sobre a camisa do uniforme. "S" de "Spanier", "espanhol" em alemão.

O espanhol ainda tem o lenço azul com o 'S' que indicava sua nacionalidade no campo de concentração de Mauthausen

No campo de concentração de Mauthausen, na Áustria, onde Moyano ficou entre 1941 e 1945, o emblema salvou sua vida. Acusado de um furto tão insignificante quanto improvável, ele foi espancado pelos SS alemães até ser dado por morto. Inconsciente, foi largado às portas do crematório, um corpo na neve. Alguém viu o "S" em seu uniforme e, percebendo que estava vivo, avisou outros espanhóis. Os compatriotas o resgataram.

David Moyano sobreviveu a Mauthausen. Eu o encontrei, andando pela estação central de Bruxelas, com um lenço no pescoço. Era um triângulo azul com um "S" estampado. Reconheci-o imediatamente.

"Não sou um desertor"

Hoje, David Moyano tem 86 anos e vive em um residência belga para idosos que lhe custa toda a sua pensão, comenta indignado. Da França, ele ainda recebe uma pequena renda pelos tempos que lutou ao lado do Exército na Segunda Guerra Mundial, "e esta é toda para mim". Ele tira do bolso um saquinho de plástico para mostrar seu documento de ex-combatente e sua identidade de deportado político, herança de sua militância durante a Guerra Civil Espanhola. "Não preciso de passaporte. Quando vou à França, mostro isso e basta. Não me fazem mais perguntas", diz, orgulhoso.

Moyano sempre carrega seu documento francês de ex-combatente e deportado político

Moyano e os demais republicanos espanhóis são curiosos heróis que perderam todas as batalhas. Eles foram derrotados na Guerra Civil. Na Segunda Guerra Mundial, ainda que os melhores tenham vencido, a permanência do ditador Francisco Franco no poder fez o gosto de fracasso prevalecer. A Espanha de Franco os despiu de sua nacionalidade por terem lutado contra as tropas nacionalistas. E, no entanto, a convicção de haver arriscado a vida pelo justo e o correto lhes concede a aura de quem triunfou em cada batalha.

"Eu tinha acabado de completar 14 anos quando me alistei no exército republicano. Foi na 118ª bateria, e nos mandaram para o Campo da Bota." Lá deveriam estar forças da União Soviética, que havia se engajado no apoio às tropas republicanas no combate às forças nacionalistas de Franco. Mas os soviéticos já haviam recuado, e a bateria de Moyano foi substituí-los. Os aviões que vinham bombardeá-los tampouco eram espanhóis: eram alemães ou italianos, aliados da guerra de Franco.

A Guerra Civil Espanhola durou três anos, de 1936 a 1939. O apoio que o chamado "Movimiento Nacional" obteve dos regimes fascistas da Alemanha e da Itália era o dobro do apoio oferecido aos republicanos pela União Soviética. Este não foi o único nem o principal motivo, mas os republicanos não puderam defender suas posições. "Eu tinha um tio no governo, e um dia ele me disse que naquela noite eles fugiriam, que eu não deveria voltar à bateria porque os falangistas estavam chegando. Mas eu não sou um desertor."

Da pátria perdida para a luta contra Hitler

O encontro com ex-companheiros na luta republicana foi registrado nesta foto

Mas a guerra estava perdida. David Moyano acabou atravessando a fronteira e se refugiando na França, como tantos outros. "Na França nos disseram: 'os que quiserem juntar-se a Franco, fiquem à direita; os que quiserem ficar aqui, à esquerda.' Os que foram para a direita foram mandados para a Espanha. Já nós ficamos, com a República."

A Segunda Guerra Mundial acabara de começar e o exército francês pediu voluntários para lutar contra a Alemanha nazista. Moyano e seus companheiros ingressaram no Batalhão Alpino. "Fomos para a montanha construir uma estrada militar e tínhamos que ir até a fronteira com a Itália. Ha ha ha! Aquilo era o máximo! Éramos todos jovens e valia a pena fazer tudo aquilo."

Após a queda da Linha Maginot, os nazistas ocuparam a França

"Mas então nos mandaram para a Linha Maginot." A Linha Maginot deveria proteger as fronteiras francesas, mas quando foi quebrada pelos nazistas, em 1940, o caminho para Paris ficou escancarado. "Estávamos rodeados. Nosso capitão disse 'salve-se quem puder', e nós, que éramos só algumas dúzias, fugimos para a montanha. Acho que eu me tremia dos pés à cabeça de medo dos alemães."

Na Linha Maginot, Moyano e seus companheiros foram aprisionados. No dia 25 de janeiro de 1941, eles foram deportados para o campo de concentração Mauthausen, perto da cidade de Linz, na Áustria. "Eu me lembro bem, porque o dia que nos fizeram ir à estação e disseram que não tínhamos que levar nada porque nos dariam roupas no lugar para onde iríamos, era meu aniversário."

Em casa, o passado do campo de concentração nas paredes

David Moyano entre as recordações do passado que guarda em casa

"Rendezvous", escreveu Moyano no calendário, marcando o dia para o qual nosso encontro estava marcado. O "rendezvous" era eu. Custa-lhe lembrar as coisas atuais; a memória, ele a guarda para não se esquecer do passado. No presente, Moyano vive com sua mulher num asilo, num pequeno apartamento. Um banheiro, uma pequena cozinha, uma sala e um quarto de dormir. A porta que dá para o corredor está sempre aberta, e por lá circula sem cessar um exército de enfermeiras.

A casa de Moyano parece um museu de Mauthausen. Em cada canto há uma foto, um recorte de jornal, um livro sobre o campo de concentração. Ele passou quatro anos em Mauthausen, que ficou conhecido como "o campo dos espanhóis". Sete mil de seus compatriotas foram deportados para lá. Mais de 4.300 morreram. "Ninguém pode imaginar o que é isso", diz, e conta histórias que mostram o quão dramáticos podem se tornar o frio e a fome.

A escada da morte: os prisioneiros carregavam blocos de pedra por seus 186 degraus e 31 metros

Os nazistas escolheram aquela região para construir Mauthausen, conta ele, porque "a pedra lá era boa". Os presos extraíam granito de uma pedreira, e a rocha era então usada para recobrir ruas de Viena e de cidades alemãs. Com os blocos de pedra nas costas, eles subiam a escada da morte: 31 metros e 186 degraus. Os SS se divertiam ao fazê-los cair.

"Eu sobrevivi ao campo porque era jovem, e porque não passei todo aquele tempo na pedreira", diz Moyano. Quando as tropas norte-americanas libertaram Mauthausen, em 5 de maio de 1945, ele já não trabalhava no campo. Alguns presos eram enviados a fábricas vizinhas para servir de mão-de-obra gratuita.

"Estou morto para a Espanha"

Heinrich Himmler, comandante-chefe das SS, em visita a Mauthausen

"Depois da guerra, fomos obrigados a ir para a França", lembra Moyano. "Lá nos trataram bem, fomos atendidos por médicos. Eu tinha perdido alguns dentes nas derrotas e tinha sido operado de uma úlcera em Mauthausen. O médico me perguntou onde eu tinha sido operado, e eu respondi que no campo de concentração. Ele já não disse mais nada."

O médico certamente terá pensado no mau hábito nazista de fazer experimentos médicos com presos no campo de concentração. Mauthausen ficou especialmente conhecido por esta prática.

Moyano guarda livros e fotos sobre Mauthausen; na foto, um preso sendo levado para a execução

Depois da Segunda Guerra Mundial, a França se encarregou da maior parte das vítimas espanholas do nazismo. A Espanha, que não havia feito nada para impedir o envio de seus cidadãos para campos nazistas, aprovou, em 1951, um decreto que os despia definitivamente de sua nacionalidade espanhola. Os afetados foram todos aqueles que haviam sido deportados, ou os que haviam lutado com os exércitos aliados na Segunda Guerra e as chamadas "crianças da guerra" – os menores que a República havia mandado para fora do país durante a Guerra Civil Espanhola para que permanecessem a salvo.

Recuperado de seus anos no campo de concentração, Moyano se mudou para a Bélgica, onde enfim teve tempo para aprender a ler e a escrever. Hoje, é eletricista aposentado e cidadão belga. Na Espanha, as leis que anularam sua nacionalidade permanecem vigentes. "Da Espanha, não espero nada", diz. "Estou morto para eles."

Luna Bolívar Manaut (jc)

Fonte: Deutsche Welle
http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,3649025,00.html

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