segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Presumível assassino em massa Demjanjuk poderá ser acusado na Alemanha

Um golpe espectacular dos investigadores alemães de crimes nacional–socialistas: conseguiram juntar suficiente material contra o guarda de campo de concentração Ivan Demjanjuk para poder requisitar a sua extradição dos Estados Unidos. O natural da Ucrânia terá participado no assassínio de quase trinta mil pessoas.

É um dos criminosos de guerra mais procurados: Ivan Demjanjuk, natural da Ucrânia, encontra-se há anos na mira dos caçadores de nazis. Agora é possível que Kurt Schrimm, o director do maior centro de investigação de crimes nacional-socialistas no mundo, tenha conseguido um verdadeiro golpe.

Depois de dispendiosas pesquisas no Israel, nos Estados Unidos e na Alemanha, Schrimm e os seus colegas juntaram suficiente material para poder trazer o presumível criminoso de guerra nazi Ivan John Demjanjuk, residente nos Estados Unidos, perante um tribunal – na Alemanha.

As acusações contra Demjanjuk são severas: segundo tem sido apurado até agora, o natural da Ucrânia foi treinado para "Wachmann" (guarda) no campo das SS em Trawniki, perto da cidade polaca de Lublin, que estava sob ocupação alemã. Entre fins de Março e meados de Setembro de 1943 terá feito o seu serviço no campo de extermínio de Sobibor no sudeste da Polónia. Entre Abril de 1942 e Outubro de 1943 um total de 250.000 pessoal foram mortas neste campo.

Assassínio de mulheres, crianças e velhos

Demjanjuk é acusado de ter participado, durante o seu tempo de serviço, no assassínio de pelo menos 29.000 judeus – a maioria deles mulheres, crianças e velhos. Quase todos estes foram mortos ainda no dia da sua chegada.
Entre as vítimas – o que é importante para uma eventual acusação na Alemanha – havia 1.900 judeus alemães. "Devido aos crimes de que é acusado estamos confiantes de poder leva-lo a julgamento na Alemanha", disse Schrimm. Pela primeira vez é possível, acrescentou, identificar as vítimas com o seu nome completo e a sua data de nascimento. A vítima mais velha que morreu nas câmaras de gás em 23 de Abril de 1943 terá sido um judeu de 99 anos proveniente da Holanda. Em todos os comboios de deportação, segundo Schrimm, havia bebés e crianças pequenas, que foram gaseadas imediatamente após a sua chegada a Sobibor.

O procurador chefe, de 59 anos, entregará na segunda feita um procedimento de investigação preliminar contra Demjanjuk à procuradoria de Munique: "Do nosso ponto de vista pode feita a acusação."


Omitiu crimes de guerra


Já em 1988 Ivan Demjanjuk tinha sido acusado em Israel. Num processo que durou 17 meses, cinco sobreviventes do campo de extermínio de Treblinka reconhecerem em Demjanjuk o guarda "Ivan o Terrível", que cortava o seios às mulheres e obrigou um carregador de cadáveres com o chicote a violar uma moça de 12 anos.

Não tendo sido possível esclarecer a sua identidade sem margem para dúvidas, contudo, o supremo tribunal de Israel anulou a sentença de morte contra Demjanjuk em 1993, depois de um processo de revisão de seis anos. Desde então Demjanjuk continua a viver nos Estados Unidos.

Schrimm espera que o governo federal alemão dirija um pedido de extradição aos Estados Unidos. Em termos políticos tal não é indisputado. Demjanjuk, que actualmente vive em Ohio, nasceu na Ucrânia e recebeu a cidadania americana em 1958. Esta foi-lhe finalmente retirada em Maio de 2008, após décadas de tentativa, porque aquando da sua entrada nos Estados Unidos Demjanjuk tinha indicado ter sido feito prisioneiro de guerra pelos alemães depois da batalha de Kerch. Omitiu o facto de que se tinha reportado para serviços voluntários às SS e que, como auxiliar dos nazis, tinha participado no assassínio de milhares de judeus.

"Os Estados Unidos têm um grande interesse em verem-se livres de Demjanjuk. A Ucrânia e outros estados também não o querem acolher. Esta é uma grande oportunidade de provar os crimes de Demjanjuk e responsabiliza-lo pelas suas atrocidades", salientou Schrimm.

Criminosos e testemunhas estão morrendo

O último grande processo contra um carrasco nazi na Alemanha teve lugar há 16 anos. Em 1992 o SS-Oberscharführer Josef Schwammberger foi condenado a prisão vitalícia por homicídio e assistência ao homicídio de mais de 650 pessoas pelo Tribunal Distrital de Estugarda. Schwammberger morreu na prisão em 2004.

A prossecução criminal de criminosos nacional-socialistas tinha sido deliberada pelos poderes vencedores antes do fim da guerra numa declaração conjunta em Novembro de 1943. Mas apenas com a criação da Entidade Central em 1958 a prossecução alemã de criminosos nazis começou a rolar. Esta entidade investigadora forneceu o material para inúmeros processos e foi quem tornou possível os grandes processos sobre Auschwitz em Frankfurt de 1963 a 1965 e de 1964 a 1966, bem como o processo de Majdanek em Düsseldorf entre 1975 e 1981.

Esta autoridade até agora iniciou procedimentos de investigação preliminar contra mais de 110.000 pessoas. Há cerca de 20 anos ainda trabalhavam cerca de 130 pessoas em Ludwigsburg, hoje são apenas 19. O maior inimigo da autoridade é o tempo: os criminosos e as testemunhas dos crimes estão a morrer. Desde os disparos, matanças e chacinas em massa passaram mais de 63 anos. Os suspeitos mais jovens tem mais de 80 anos de idade.


Fonte:
SPIEGEL online

Minha tradução.

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