quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Vítimas negras (Holocausto). Alemães negros e o Terceiro Reich

Vítimas negras

Pergunta:

Sou um afro-britânico estudante de pós-graduação vivendo em Londres. Eu sei, de pesquisas sobre a experiência dos negros europeus, que houve muitos negros aqui antes da Segunda Guerra. Eu quero saber o que aconteceu com eles sob o Terceiro Reich. Poderia me esclarecer? Particularmente aprecio referências de qualquer livro ou sites que você considere que pode ser útil. Estou muito satisfeito que você seja tão determinado em educar as futuras gerações sobre o Holocausto, é uma lição que para todos nós, de qualquer origem "racial", não deva nunca esquecer ou permitir que seja negado ou trivializado por aqueles que não têm muito a aprender sobre a santidade que é a vida.

Harry W. Mazal OBE responde:

Eu sou um dos voluntários do Holocaust History que responde às perguntas de nossos leitores. É possível que você receba outras respostas de meus colegas.

Há um número de referências ao tratamento de negros pelos nazis, tanto por suas próprias publicações como também escritas por pesquisadores. O livro mais recente a chegar às minhas mãoes é:

The African-German Experience: Critical Essays (A experiência afro-alemã: ensaios críticos)
Carol Aisha Blackshire-Belay
c. 1996, Praeger Publishers (Westport CT)
ISBN 0-275-95079-4

O capítulo 5 é um ensaio de Susan Semples, "African Germans in the Third Reich" (Alemães africanos no Terceiro Reich). Você pode obter considerável informação sobre o assunto não apenas no texto dela, mas da vasta bibliografia que ela cita no final do capítulo. O primeiro parágrafo diz:
Embora as políticas raciais do Terceiro Reich em relação aos judeus sejam bem documentadas, o destino dos alemães africanos ou birraciais que viveram na Alemanha durante o Terceiro Reich não tem gerado muita atenção. A única exceção notável é o estudo seminal de Reiner Pommerin, o Sterilisierung der Rheinlandbastarde. Das Schicksal einer deutschen farbigen Minderheit 1918-1937 (1979), que examina a reação pública e política para estas crianças e documentos de sua esterilização forçada durante o Terceiro Reich. Mais recentemente em The Racial State: Germany 1933-1945 (O Estado Racial: Alemanha 1933-1945, de Michael Burleigh e Wolfgang Wipperman (1991) também discutiram brevemente a perseguição aos alemães negros da Renânia durante este período.
Ela prossegue dizendo (excerto):
[...] Os alemães birracais da Renânia tinham paternidade de negros (ou negros mestiços) das tropas francesas de ocupação colonial após a I Guerra Mundial que constituíram o maior grupo de alemães africanos. É comumente aceito que os negros alemães da Renânia eram em número de aproximadamente numerados entre 500 e 800 pessoas. Não existem números exatos para outros alemães africanos que foram espalhados por todo o Reich. Uma estimativa conservadora seria a de que o total combinado de todos os alemães africanos tenha sido de cerca de um mil.
Uma breve descrição da situação dos negros na Alemanha pode ser encontrado em:

The Other Victims: First Person Stories of Non-Jews Persecuted by the Nazis (As outras vítimas: primeiras histórias pessoais de não-judeus perseguidos pelos nazistas)
Ina R. Friedman
c. 1990, Houghton Mifflin (Boston)
ISBN 0-395-50212-8

O breve capítulo sobre os negros (pág. 91-93) é arrepiante. Ela começa com um comentário odioso feito por Adolf Hitler:
Os filhos mulatos surgiram do estupro ou pela mãe branca ser uma prostituta. Em ambos os casos, não há a mínima obrigação moral em relação a estes descendentes de uma raça estrangeira.
Três breves parágrafos deste capítulo:
Apesar de artistas negros terem sido populares na Alemanha antes de Hitler chegar ao poder, eles foram boicotados quando os nazistas tomaram o poder. Um livro intitulado Degenerate Music: An Accounting (Música degenerada: um conto) foi publicado em 1938. A capa mostra um músico negro com uma estrela judaica na sua lapela. O ódio de Hitler a negros foi estendido para atletas negros. Quando Jesse Owens, a estrela norte-americana das pistas, ganhou três medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de 1936 em Berlim, Hitler se recusou a estar presente quando as medalhas foram dadas.

Embora houvesse relativamente poucos negros na Alemanha, Hitler fazia distinção entre os prisioneiros de guerra negros e brancos. Soldados negros capturados durante a II Guerra Mundial foram separados de suas unidades e baleados.

Os historiadores estão apenas começando a examinar os arquivos nazistas sobre negros. Muita da informação tem ainda de ser obtida e colocada à disposição do público. Até à data atual, as poucas publicações existentes estão disponíveis apenas em alemão.
Há uma série de livros sobre as teorias raciais alemãs que pintam um retrato cruel das minorias no país durante o Terceiro Reich. Estas incluem judeus, negros e ciganos - embora não os japoneses que foram "Arianos honorários". Um exemplo dos muitos na minha biblioteca é:

Lehrbuch der Rassenkunde (Study Book of Racial Science)
Otto Steche
c. 1933, Quelle & Mayer

Espero que esta informação seja útil em sua pesquisa.

Atenciosamente,

Harry W. Mazal OBE.

Fonte: The Holocaust History Project
Texto: Harry W. Mazal
http://www.holocaust-history.org/questions/blacks.shtml
Tradução: Roberto Lucena

7 comentários:

Daniel Moratori disse...

Eu postei uma foto de dois soldados alemães e um soldado negro no facebook do blog, ai apareceram alguns comentários. Como saiu esse post no blog, vou passar um link que talvez interessem a vocês, mas que infelizmente não é possível o acesso diretamente, pois é pago. Fiz um login para ver se da para ter um acesso maior ao artigo, mas até agora não deu em nada, nem aprovaram o login. O assunto é mais sobre os franceses, mas parece ser interessante. Talvez haja outra maneira de conseguir tais pdf's. Foi lá que peguei a foto. Tem outros artigos que parecem ser bons.

http://hgs.oxfordjournals.org/content/26/3/425.full.pdf+html

http://hgs.oxfordjournals.org/content/21/3/516.full?sid=dad584f4-f46b-48ed-a372-2207526dc99a

Roberto disse...

"Eu postei uma foto de dois soldados alemães e um soldado negro no facebook do blog, ai apareceram alguns comentários. Como saiu esse post no blog, vou passar um link que talvez interessem a vocês, mas que infelizmente não é possível o acesso diretamente, pois é pago. Fiz um login para ver se da para ter um acesso maior ao artigo, mas até agora não deu em nada, nem aprovaram o login. O assunto é mais sobre os franceses, mas parece ser interessante. Talvez haja outra maneira de conseguir tais pdf's. Foi lá que peguei a foto. Tem outros artigos que parecem ser bons."

Daniel, vou procurar pois às vezes o povo deixa esses PDFs soltos na web sem o nome do livro. Esse segundo link eu traduzi um texto sobre ele aqui no blog:

As vítimas africanas de Hitler: os massacres do exército alemão a soldados franceses negros em 1940

E tenho uns PDFs sobre o assunto (ebooks), só que não deu tempo de olhar com calma, tem muita coisa. Inclusive queria mencionar o caso do colonialismo alemão na Namíbia, que antecede o Holocausto.

O que achei engraçado é que quando você procura sobre colonialismo português em Angola e Moçambique, ao contrádio do caso alemão que tem várias referências inclusive em alemão, você não acha quase nada (nem as referências) que preste, muitos "panfletos" pró-Portugal, com a famoso ideia cínica de "imperalismo bonzinho" e tratando Portugal como vítima pelos massacres ocorridos nas lutas de libertação de Angola, os caras invadem o país dos outros e as vítimas são o invasor e não quem reage ao invasor (rs). Seria cômico se não fosse trágico e asqueroso.

Roberto disse...

Esse assunto dos negros, Holocausto e Alemanha nazi costuma ser explorado por alguns neos, é o ápice da cretinice deles, os caras querem angarias simpatias pruma ideologia racista supremacista que odeia negros e vários outros povos distorcendo os fatos sobre essas tropas multiétnicas nas Waffen-SS, aí quando a gente põe esses casos os caras ficam com aquela "frustração", rsrsrsrsrs.

Pior é quando eles afirmam que o assunto é "tabu" e "escondido" pela mídia só porque não é muito explorado ou não há muitos documentários de peso sobre o tema.

Daniel Moratori disse...

Não tinha percebido que você já tinha traduzido a materia, vou dar uma olhada.

Sobre a colonização alemã na Namíbia, geralmente quase niguem toca no assunto, acho que o Holocausto o abafou. Mas pegando um link sobre os alemães e a Africa, na 1ª Guerra, a guerrilha que eles fizeram nesse continente foi extraordinaria, e usaram negros pró-alemães(askaris), que por sinal, foram excelentes soldados. Agora é "engraçado" Hitler não ter citado isso em seus discursos, que enquanto a Alemanha perdeu a guerra, só os alemães que lutavam lado a lado com soldados negros, sem a ajuda do seu próprio país, que resistiram até o final, se rendendo somente pela rendição da Alemanha...rsrsrs...
Tem o livro da Renes sobre essa guerrilha: Alemães na África, de Roger Sibley.

Vale a pena ler, a leitura é otima.

Sobre a distorção dessas tropas multi-etnicas na 2ªGM, o que disse é mais do que certo. Sempre as mesmas fotos, com os mesmos textos de sempre, copia-e-cola usados pelos neos.

Voltando ao assunto da colonização portuguesa, terei de dar uma olhada, pois não estou por dentro do assunto. Mas não me espanto com o que disse.

Daniel Moratori disse...

Aproveitando, o numero que é comentado no texto de 500 a 800 negros na Remânia me deixou espantado, pensei que era maior.

Roberto disse...

"Agora é "engraçado" Hitler não ter citado isso em seus discursos, que enquanto a Alemanha perdeu a guerra, só os alemães que lutavam lado a lado com soldados negros, sem a ajuda do seu próprio país, que resistiram até o final, se rendendo somente pela rendição da Alemanha...rsrsrs..."

Daniel, e o cabo Adolfo sabia disso? rsrsrsrs. Só do cara propagar a ideia de "raça ariana pura" dá bem a dimensão da estupidez de Hitler.

"Tem o livro da Renes sobre essa guerrilha: Alemães na África, de Roger Sibley. Vale a pena ler, a leitura é otima."

Vou anotar o autor, eu separei vários textos sobre essa passagem do colonialismo da Alemanha na África, e em particular essa questão da Namíbia. Vamos ver a reação dos neos quando der pra postar isso, fora que faz tempo que um post sobre essas tropas multiétnicas deveria sair (novamente quero ver os chiliques que eles vão dar com o post, rsrsrsrsrs).

"Sobre a distorção dessas tropas multi-etnicas na 2ªGM, o que disse é mais do que certo. Sempre as mesmas fotos, com os mesmos textos de sempre, copia-e-cola usados pelos neos."

Ninguém nesses grupos revimanés do país lê coisa alguma a não ser essas cretinices antissemitas e teorias da conspiração de site "revi", o nível de discussão com esse pessoal é muito baixao fora a agressividade da manada no Brasil, que por incrível que pareça são mais agressivos que os de fora do país.

Roberto disse...

"Voltando ao assunto da colonização portuguesa, terei de dar uma olhada, pois não estou por dentro do assunto. Mas não me espanto com o que disse."

Eu procurei sobre a colonização e independência de Angola e Moçambique, tem até série de TV ou um documentário pró-colonização portuguesa em Angola (o documentário ou série era muito branda com o racismo e colonização dos portugueses na África), e isso espanta pois você acaba usando os textos, documentários dos EUA e Alemanha e fica chocado como cada um trata do assunto de atrocidades e racismo, Portugal tenta empurrar cinicamente a sujeira pra debaixo do tapete do mesmo jeito que o Brasil faz quando se toca no assunto racismo.

É vergonhoso, você não acha quase nada sério (sem ser apologético ou tentando diminuir as atrocidades do governo português) em português sobre colonialismo de Portugal na África. Pior foi ver um vídeo ou texto naquele blog "revi" de Portugal detonando os grupos anti-colonialistas em Angola como se as tropas de Portugal lá fossem um bando de "anjos" invadindo o país dos outros, é uma moral distorcida que deixa qualquer pessoa sã chocada.

Só que ia postar sobre o assunto também pra dar umas alfinetadas nesses "revis" d'Além Mar, só pra ver a reação dos caras (os chiliques, rsrsrsrsrsrsrs) negando as atrocidades, como fazem sempre os "revis"/fascistas.

"Aproveitando, o numero que é comentado no texto de 500 a 800 negros na Remânia me deixou espantado, pensei que era maior."

Tem mais textos sobre isso no blog, pode clicar na tag negros que aparece os outros textos. O número varia, tem texto que indica que havia uns 1000, mas não são muitos, embora todos tenham se ferrado literalmente com o regime sendo esterilizados. Que falta faz a legenda praquele documentário francês sobre os negros nos campos de concentração.

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