Reuters | 03/05/2013 17:33:09 - Atualizada às 04/05/2013 09:43:50
AP. Ministra italiana da Integração, Cecile Kyenge, é vista na câmara baixa do Parlamento, em Roma (29/04) |
Cecile Kyenge, uma oftalmologista e cidadã italiana originária da República Democrática do Congo (RDC), foi nomeada ministra da Integração pelo primeiro-ministro Enrico Letta no sábado, sendo uma das sete mulheres no novo governo.
Desde então, tem sido alvo de provocações em sites de extrema direita que a têm rotulado com nomes como "macaco congolês", "Zulu" e "a negra anti-italiana".
Ela também enfrentou insultos com toques de racismo de Mario Borghezio, membro da Liga do Norte no Parlamento Europeu, que no passado foi aliado do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi .
Em referência a Cecile, Borghezio chamou a coalizão de Letta de "governo bonga bonga" - uma brincadeira com o termo "bunga, bunga", atribuído a Berlusconi - e disse que ela parecia ser "uma boa dona de casa, mas não uma ministra".
Cecile rejeitou os comentários, que a presidente da Câmara dos Deputados do país, Laura Boldrini, qualificou como "vulgaridades racistas". Cecile planeja pressionar por uma legislação, a qual a Liga se opõe, que permitiria às crianças nascidas na Itália de pais imigrantes obter a cidadania automática em vez de ter de esperar até os 18 anos para reivindicá-la.
"Cheguei sozinha à Itália aos 18 anos, e não acredito em desistir diante de obstáculos", disse Cecile, que deixou o Congo para que pudesse prosseguir os seus estudos em Medicina.
Ela também rejeitou o termo "de cor", usado para descrevê-la em muitos matérias na imprensa italiana, dizendo: "Não sou colorida, sou negra e digo isso com orgulho."
Cecile, que é casada com um italiano, disse não ver a Itália como um país particularmente racista e acreditava que as atitudes hostis derivavam principalmente da ignorância.
Laura declarou a um jornal nesta sexta que recebe ameaças de morte online diariamente e um fluxo de mensagens contendo imagens sexualmente ofensivas. "Quando uma mulher ocupa um cargo público, a agressão sexista dispara contra ela, sejam simples fofocas ou violentas... sempre usam o mesmo vocabulário de humilhação e submissão", disse Laura ao jornal La Repubblica.
Fonte: Reuters/IG
http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2013-05-03/primeiro-ministra-negra-da-italia-enfrenta-ofensas-racistas.html
Observação: a declaração que o senador racista italiano fez foi esta "Senador italiano compara ministra negra a orangotango", comparou a ministra a um "macaco", insulto clássico racista em relação a negros. E obviamente que essas "desculpas" dele são balela.
Como o assunto acima remete à Itália, acho que é oportuno falar da questão do racismo nesses países do Mediterrâneo (Grécia, Itália, Portugal, Espanha) e da possível conexão disso com o Brasil e os grupos de extrema-direita de cunho fascista. Boa parte dos grupos de extrema-direita tem presença relevante de descendentes de italianos de posicionamento ideológico fascista ou ultraconservador, digo isso em cma do que observei da presença deles no Orkut e pela web (e deveria ter tirado print de cada perfil pra mostrar a quantidade). Tenho o hábito de sempre prestar atenção aos sobrenomes e origem dos mesmos e a presença de sobrenomes italianos nesses grupos é considerável, ao contrário do que a mídia brasileira divulga erroneamente (por conta das "fontes" que usa como referência) apontando o fenômeno do neonazismo no Brasil como algo ligado estritamente a descendentes de alemães e a região Sul do país. Foi por conta disto que fiz questão de colocar a entrevista do historiador René Gertz comentando essa distorção.
A mídia brasileira, ou quem apura isso, não sei se por ignorância, estupidez ou pra mascarar o problema, sempre direciona o problema pra uma direção (região Sul do país) e deixa de lado o foco do problema de que o maior volume dessa extrema-direita se situa no estado de São Paulo e não na região Sul, fora os problemas de preconceito regional que estão totalmente ligados a este problema como também da proliferação de antissemitismo e de outros preconceitos. Mas isso é assunto pra outro post, a discussão sobre essa questão da extrema-direita brasileira. Ainda há um texto da DW sobre o problema a ser colocado.
E pra deixar claro pois alguém desavisado (ou por má fé) pode interpretar mal a observação porque é um assunto delicado e que o governo brasileiro (de todas as esferas) e mídia não falam abertamente na questão mesmo sabendo que existe, com o famoso "vamos fazer de conta que não existe nada e que o Brasil é o paraíso da "democracia racial" e que problemas desse tipo é coisa da Europa", o problema não é quanto a descendente de qualquer grupo no país e sim sobre como esse problema pode se formar e da ligação com os setores de extrema-direita. Eu ia publicar um texto que achei de historiadores falando dessa questão (dos nichos étnicos e imigração pro Brasil), mas acabei deixando de lado e pra achar no rascunho não está fácil, mas um dia quando encontrar de novo os textos, tentarei publicar.
Ver mais:
Primeira ministra negra da Itália enfrenta ofensas racistas (Terra)
Itália: ministra vítima de racismo diz que não pedirá demissão de político (EFE/Terra)
Itália: senador pede perdão no Parlamento por insulto racista à ministra (AFP/Terra)
Premiê italiano pede fim de insultos racistas contra ministra negra (Reuters)
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