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Eu havia lido sobre isso (filossemitismo) há muito tempo, justamente porque vi postura (criando problemas, pra variar) desse tipo no Orkut, e sempre deixava a ideia pendente pra tentar postar em alguma ocasião porque o tema é delicado já que quem se enquadra no rótulo provavelmente não quererá carregá-lo, mesmo com o problema existindo. Quem nutre idolatria achará que não faz "nada demais"
O filossemitismo seria um primo não muito reconhecido do antissemitismo. Por que chamo os dois de "primos"? Um é o extremo oposto do outro, teoricamente, só que o filossemitismo acaba, conscientemente ou não, provocando reações de antissemitismo pelo ato de idolatria ou exaltação em relação a judeus. As pessoas em geral não veem com bons olhos idolatria a países e grupos sem qualquer motivo relevante aparente. A etimologia (definição do termo) de filossemita literalmente seria: filo (partidário/amigo)+semita (relativo a judeus, embora o termo seja mais amplo a "povos semitas", mas é mais usado em relação a judeus nas Américas e Europa). O "filo" também pode se comportar como sufixo como em americanófilo (em relação a norte-americanos), germanófilo (em relação a alemães), francófilo (a franceses), anglófilo (a ingleses) etc, que são os correlatos do filossemitismo só que em relação a outras nacionalidades.
Os links que coloquei acima não citam o termo como idolatria, mas eu cito o termo filossemitismo neste sentido porque é como vejo o comportamento de quem nutre isso se manifestar, não só referente ao filossemitismo como a outros países. A própria germanofilia é muito semelhante a esse comportamento (uma idolatria pela Alemanha), e muitos "revis" são germanófilos e não afirmam ou "acham" que são, chegando a confundir nazismo (ideologia política) como se fosse sinônimo de "nacionalidade alemã", não conseguindo avaliar de forma fria o papel político-histórico da Alemanha, não só no período nazista. Esse tipo de idolatria lembra aqueles fãs de banda de rock endeusando seus "ídolos", os comportamentos são bastante semelhantes.
Mas feita essas considerações, traduzo abaixo um trecho onde dois autores, totalmente distintos ideologicamente, concordam em relação a este problema que citei acima, e cito os dois pois concordo integralmente com eles neste ponto. A citação deste trecho, se eu não estiver enganado, encontrava-se no verbete da Wikipedia em inglês e foi removido dela, mas como eu lembro do trecho mais ou menos decorado, consegui achá-lo facilmente. Então segue abaixo o comentário do N. Finkelstein concordando com o Daniel Goldhagen sobre o que representa o filossemitismo pra eles:
Tirado daqui: Counterfeit Courage: Reflections on “political correctness” in Germany
Texto original:
Such venomous attacks on a Jew and the son of Holocaust survivors are altogether unique in German public life which is otherwise ever so tactful and discreet on all things Holocaust. One can’t but wonder what accounts for them. In fact, the Holocaust has proven to be a valuable commodity for politically correct Germans. By “defending” Holocaust memory and Jewish elites against any and all criticism, they get to play-act at moral courage. What price do they actually pay, what sacrifice do they actually make, for this “defense”? Given Germany’s prevailing cultural ambience and the overarching power of American Jewry, such courage in fact reaps rich rewards. Pillorying a Jewish dissident costs nothing – and provides a “legitimate” outlet for latent prejudice. It happens that I agree with Daniel Goldhagen’s claim in Hitler’s Willing Executioners that philo-Semites are typically anti-Semites in “sheep’s clothing.” The philo-Semite both assumes that Jews are somehow “different” and almost always secretly harbors a mixture of envy of and loathing for this alleged difference. Philo-Semitism thus presupposes, but also engenders a frustrated version of, its opposite. A public, preferably defenseless, scapegoat is then needed to let all this pent-up ugliness ooze out.Minha tradução:
Tais ataques venenosos contra um judeu e filho de sobreviventes do Holocausto são absolutamente únicos na vida pública alemã, que é de outra maneira sempre tão delicada e discreta em todas as coisas sobre o Holocausto. Não podemos deixar de pensar o que pesa sobre eles. Na verdade, o Holocausto provou ser uma mercadoria valiosa para os alemães politicamente corretos. Ao "defender" a memória do Holocausto e as elites judaicas contra toda e qualquer crítica, eles conseguiram uma atuação de coragem moral. Qual o preço que eles realmente pagam, que sacrifício eles realmente fazem por esta "defesa"? Dado o prevalecente ambiente cultural da Alemanha e o abrangente poder global dos judeus norte-americanos, tal coragem, de fato, colhe recompensas. Desqualificar um dissidente judeu não custa nada - e fornece uma saída "legítima" para o preconceito latente. Acontece que eu concordo com a afirmação de Daniel Goldhagen no livro "Os carrascos voluntários de Hitler" de que filossemitas são tipicamente antissemitas em "pele de cordeiro." O filossemita assume que os judeus são de alguma forma "diferentes" e quase sempre secretamente abrigam uma mistura de inveja e de ódio para esta alegada diferença. O filossemitismo pressupõe, portanto, mas também forma uma versão frustrada disso, do seu oposto. Um público, de preferência indefeso e bode expiatório, é então necessário para deixar toda essa feiura reprimida escorrer pra fora (extravasar).Não preciso comentar de novo que não concordo com todo posicionamento do Finkelstein (tem posts sobre ele no blog) mas acho que as acusações que fazem contra ele, por exemplo, de antissemitismo, sendo ele filho de sobreviventes do Holocausto, é politicagem grosseira. O Goldhagen também é atacado porque o livro dele, "Os carrascos voluntários de Hitler", faz uma acusação dizendo, de forma resumida (você pode ler umaa crítica do livro aqui) que qualquer alemão na Alemanha nazi seria um potencial carrasco antissemita.
Pois bem, e onde entra o filossemitismo e os cristãos-novos nisso?
Saiu recentemente uma matéria no El País, edição brasileira, que toca nesse tipo de assunto (filossemitismo) sem citar o termo filossemitismo. Antes de prosseguir, adianto que não acho que tenha havido qualquer má fé na matéria e a matéria foi informativa (cumpriu o que pretendia), mas há alguns erros sobre essas questões e há uma não citação do que ocasiona esse problema do filossemitismo no Brasil no texto e da disseminação dessa ideia em torno de sobrenomes na internet, pois ficou incompleto comentar o fato na matéria (a procura de nacionalidade espanhola por descendência sefardita), sem apontar de onde surgiu esse "interesse" dessas pessoas. Mas isso poderia ser tratado noutra matéria.
A matéria a que me refiro é essa: Seu sobrenome também está na lista (falsa) para obter o passaporte espanhol? .O assunto circulou muito no Facebook, não propriamente esta matéria do El País mas matérias correlatas (com o mesmo assunto).
Por curiosidade, quando a gente procura por genealogia na web ou mesmo o assunto cristãos-novos, logo de cara se depara com sites evangélicos (alguns até se passam por "judeus", são o que chamam ou se autodenominam como "judeus messiânicos", mas são seitas evangélicas) com sobrenomes supostamente de cristãos-novos (sobrenomes portugueses e espanhóis, alguns sobrenomes são comuns aos dois países) relatando erroneamente que quem tem sobrenome tal pode ser ou é descendente de judeus, cristãos-novos etc. Sem nem contextualizar a História. Da primeira vez que vi isso havia muitos sites religiosos (evangélicos) com isso, agora a coisa se proliferou.
A procura em demasia em torno disso se deu por conta dessa divulgação na web de forma equivocada desses sites. Isso não foi mencionado na matéria. Como eu disse acima, não era tema central dizer a origem do problema por isso pode ter sido deixado de lado essa informação que estou citando. Como a gente sabe disso? O que chegava de gente enchendo o saco no Orkut com esse bla bla bla era algo bizarro. É esse o problema da web, não dá pra se ter uma estimativa do alcance de um boato até surgir algo que atice a reação das pessoas em torno disso. Pela quantidade de procura (narrada na matéria) dá pra ver que o percentual de gente que andou lendo isso não é tão pequeno, leem e disseminam.
Há pilhas de erros nestes sites, além de raramente surgir um esclarecimento bom ao alcance de muita gente, daí a perpetuação do boato. Um dos erros desses sites é o de não comentar que muitos cristãos-novos que se converteram, ficaram de vez no cristianismo (a maioria) não retornando ao judaísmo. Sentiam-se portugueses ou espanhóis ou nativos das colônias onde se alojaram e estavam totalmente assimilados culturalmente a esses países não retornando ao judaísmo e nem se denominavam marranos, porque não seguiam o judaísmo escondidos.
Curiosamente este erro é repetido por antissemitas e neofascistas "revis", com a distorção habitual deles vendo "judeus" em tudo. Não preciso repetir que "revis" são obcecados com judeus e com as crendices antissemitas em torno desses mitos cultuados pelos "revis".
Mas voltando ao assunto. Qual a razão pros cristãos-novos ou convertidos não retornarem ao judaísmo? A principal seria: qual o interesse de uma pessoa, numa época de perseguição intensa a judeus, por motivos religiosos predominantemente, de continuar a seguir um credo religioso só por tradição, quando estas pessoas poderiam se integrar a esses países totalmente se tornando um cristão numa sociedade profundamente cristã (carola)? É isto que ocorre em Portugal e Espanha na época da expansão marítima e na colonização das Américas quando eram Impérios mercantis e marítimos (militares).
A mudança de visão de boa parte das pessoas (brasileiros) sobre judeus e judaísmo em relação a essas questões (cristãos-novos) é algo recente, não é algo antigo, por sinal, antes da internet esse tipo de assunto não devia causar qualquer "fascínio" no povo. Passaram-se séculos reprimindo a história por conta da própria assimilação, por isso é errado dizer que esse assunto era algo oculto, apenas não chamava atenção. Boa parte das pessoas não tinha acesso ou interesse nisso porque não via nada de relevante em ser ou não judeu.
Eu só ouvi falar nessa questão desses grupos evangélicos explorando esse assunto na própria internet. Assusta a abordagem dele em torno disso pois há uma mistura de crença religiosa (já citei isso em outro post) com história, o que acaba mitificando as coisas já que essas pessoas não têm interesse histórico nos assuntos e só querem "confirmar" suas crendices através da História. Essa postura deles vem de uma pregação que ocorre nos EUA dessas denominações que misturam apoio político (com destaque a Israel) com credo religioso, alguns rotulam isso nos EUA de sionismo cristão. A meu ver uma mistura bem perigosa pois se este mesmo grupo que apoia ou idolatra judeus hoje, amanhã se enfezar por algum motivo banal qualquer (quem pensa que controla fanatismo religioso quase sempre quebra a cara), tornarão-se os inimigos mais cascas-grossas que poderão se deparar.
Voltando ao assunto, a presença de cristãos-novos nas Américas, não só no Brasil, é um fato. Acabei lendo sobre isso paralelamente, pois quando a gente lê sobre Holocausto acaba checando temas correlatos pra tentar entender a razão do ódio a judeus, sendo que esse assunto tem a ver com a formação do Brasil e acho relevante que o povo entenda a história do país pra não sair propagando abobrinha fascista datada da segunda guerra. A meu ver o ódio religioso (antissemitismo religioso) teve e tem um peso considerável (a maior parte dele) na propagação do antissemitismo e estereótipos racistas até hoje.
Já vi textos de cristãos-novos no México, Peru, Venezuela, Brasil, de memória me lembro disso. O autor antissemita integralista Gustavo Barroso adora fazer firula do assunto em livros dele como "História secreta do Brasil" como se fosse algo "escondido" ou que só ele soubesse disso (mais uma desonestidade intelectual dele) distorcendo pra criar um bode expiatório (judeus) pra "explicar" com coitadismo os insucessos do país. Não é algo original, os próprios nazis faziam isso pra alimentar o ódio, mediante crenças, entre o povo.
Voltando de novo ao assunto cristãos-novos, alguns desses conversos acabavam aderindo de vez à religião nova (catolicismo) e outros mantinham a crença no judaísmo de forma oculta, uma minoria, tanto que o grupo que se denomina como marranos até hoje é muito pequeno (eu pensei que nem existiam). Os que continuavam seguindo o judaísmo ocultamente eram rotulados de cripto-judeus e/ou marranos. Mas marranos eram os que continuavam seguindo o judaísmo (escondido) não os que deixaram de vez o judaísmo, são coisas distintas. Sempre "esquecem" deste "detalhe" quando fazem matérias sobre esses temas, pelo menos das que eu já li e lembro.
Caso alguém tenha preguiça de ver o link do El País: o que acaba ocorrendo e é citado na matéria do jornal espanhol é a procura exacerbada por passaportes espanhóis (nacionalidade espanhola), por brasileiros, por conta dessas abobrinhas (bobagens) espalhadas na internet sobre conversos e sobrenomes.
Esses sites apologéticos evangélicos sobre sobrenomes de cristãos-novos, difundem de forma errônea, como já comentei, esse tipo de assunto e acabam causando mais confusão com essa questão do que esclarecendo as pessoas, que hoje, pelo antissemitismo não ser o mesmo de décadas, séculos atrás, acham que ter alguma origem judaica ao invés da portuguesa causa algum tipo de distinção, o que é uma bobagem. Pelo menos eu considero.
Este comportamento de "vergonha de ter algo com Portugal" não é um fenômeno exclusivo de brasileiros descendentes de portugueses no Brasil, há um comportamento oriundo do complexo de vira-latas onde boa parte do povo parece que tem vergonha de se dizer ou ser descendente de português e eu diria que também em relação à ascendência espanhola, só que esse em menor escala. É um comportamento que beira a idiotice (e é um complexo de inferioridade) mas existe, a matéria do El País não errou quando comentou sobre esse comportamento.
Pra frustração dessas pessoas "adeptas" do complexo de vira-latas, é bom elas entenderem o Brasil como um "Grande Portugal" (culturalmente falando), pro "bem ou pro mal". Podem ralhar e chiar à vontade, essa falta de entendimento sobre o que seja o Brasil gera esse tipo de complexo doentio e auto-depreciativo com os famosos dizeres de "Eu odeio o Brasil" etc, algo que enche o saco, essa auto-piedade não "comove" ninguém. Há mais semelhanças entre o Brasil e Portugal do que muita gente pensa, não é só pelo idioma e pela cultura herdada e pelos milhões de brasileiros descendentes de portugueses, mas isso não é assunto do post, citei a questão pra mostrar o quão é tosco essa mentalidade alienada de parte do país procurando por "raízes nobres" pra ver se levantam a "auto-estima", algo ridículo. O outro extremo desse complexo de vira-latas é o ufanismo exacerbado, dois comportamentos repulsivos e idiotas.
Voltando ao assunto (de novo), nem toda pessoa que possui algum sobrenome nessas listas tem necessariamente um ancestral judeu (converso) pois os conversos adotavam algum sobrenome de "cristãos-velhos" pra esconder a origem judaica. Havia uma distinção de grupos cristãos na época em que ocorreu essas divisões, uma espécie de preconceito que deu origem a ideia de "pureza de sangue" que os nazis séculos depois adotaram, que era a divisão entre cristãos-velhos e cristãos-novos (agora entendem porque o termo surgiu). Os cristãos-novos acabavam sendo assimilados à sociedade como cristão caso adotassem de vez o catolicismo.
Esta "busca" por retorno ao judaísmo só vai interessar a quem de fato sente alguma "necessidade espiritual/cultural" ou "identitária" de procurar raízes judaicas em épocas remotas (na colonização do Brasil etc), não creio que a maioria das pessoas sinta isso. Grupos evangélicos que cultuam o filossemitismo acabam espalhando esse tipo de informação totalmente distorcida como comentei acima.
Como dizia acima, com o tempo as pessoas esqueciam a origem judaica, até porque o biotipo das pessoas (judeus, portugueses, espanhóis), dos ditos "povos do Mediterrâneo" (da região que abrange o Mar Mediterrâneo) é próximo/semelhante e ajuda nessa assimilação étnica (pelo biotipo, aparência física). Não é tão difícil que uma pessoa vinda dessa região se assimile a qualquer país do Mediterrâneo hoje ou numa época mais remota, um italiano não teria dificuldade em "virar" português e vice-versa, um judeu ou libanês idem. Fisicamente esses povos possuem biotipos semelhantes.
Então, resumindo, as pessoas que procuraram de forma tresloucada nacionalidade espanhola por conta desses leituras enviesadas de sobrenomes supostamente de "judeus convertidos", que leram nesse tipo de site evangélico, vão em geral quebrar a cara.
Eu acho essa procura algo repulsivo pois a maioria dessas pessoas só está indo atrás da nacionalidade espanhola, porque adquirindo a nacionalidade daquele país acabam tendo acesso à União Europeia (como é dito na matéria). O interesse é meramente mercantil/material e não de busca de raízes de antepassados sefarditas (judeus ibéricos) e bla bla bla.
Não acho só a demanda/procura por isso algo repulsivo, a própria "oferta" da Espanha não é algo que eu chamaria de 'louvável' ou "nobre", parece que está se prestando um favor ou um "ato nobre" quando não há favor ou ato nobre algum, não há reparo histórico algum com essa atitude (e nem creio nisso, a meu ver estão dando por outras razões) pois as vidas tiradas de pessoas por questões religiosas e de preconceito no passado (e põe passado nisso, mais de 500 anos) não serão recuperadas com um gesto com um "atraso" de mais de meio milênio. Demoraram muito pra "reparar" erros do passado, era melhor que ficasse num discurso de perdão e uma mudança de postura com o preconceito (que há também contra brasileiros), que já estaria de bom tamanho.
Essa questão de dupla-nacionalidade também ocorreu quando a Itália e outros países nos anos oitenta ou antes, atrás de mão-de-obra no Brasil (de gente "etnicamente semelhante"), começaram a fazer esse "resgate" dos descendentes daqueles (imigrantes) que foram "expelidos" desses países por serem o "excedente" da sociedade (ou seja, a sobra, o resto, o estorvo, eram um "peso" pra esses países lá pelos idos do século XIX e até século XX).
Essas questões sempre são curiosas pois acabam discutindo aspectos da nossa própria identidade como povo. Vê-se no Brasil muita gente com "orgulho" de ter origem em "país tal" (geralmente dos que estão em boa condição social e econômica hoje, pois quando não estavam ninguém sentia "orgulho" e queriam só ser "brasileiros"), ignorando o fato de que o vovô ou tataravô (ou avó, ou tataravó) foi "expelido" desses países como "excesso ou sobra". No lugar dessas pessoas eu teria asco ou nojo de um país desses que expulsou um antepassado meu como lixo se viessem "oferecer" esse "pacote de bondades", só por uma questão biológica (de cunho racista) por alguém ser descendente de alguém vindo desses países. Essa oferta de "excesso de carinho e bondade" é no mínimo algo repulsivo (opinião pessoal). É uma questão de orgulho, não vejo com bons olhos isso, até porque o intuito disso é meramente econômico, estão atrás de mão-de-obra "etnicamente" parecida com esses países pra evitarem choques culturais por não terem muita tolerância com imigrantes de outros países.
Há um erro na matéria quando cita um caso sobre procura de nacionalidade da Polônia como se houvesse uma comparação com essa busca pela nacionalidade espanhola (decorrente do caso dos cristãos-novos etc). São coisas distintas.
Não existiu a questão dos cristãos-novos/marranos e cripto-judeus na Polônia ou no leste europeu ou mesmo em outros países europeus, esta questão dos cristãos-novos é uma questão portuguesa e espanhola por conta de suas inquisições, formação de Estado-nação (nacionalismo exacerbado) e formação de Império transnacional quando judeus acabaram sendo expulsos desses países e os que se converteram foram assimilados (a grande maioria) e só uma minoria ínfima manteve ocultamente o credo judaico. Poucos países colonizaram as Américas, o destaque fica por conta de Portugal mas mais ainda a Espanha que tinha terra do Sul até a grande parte territorial do que hoje são os Estados Unidos.
O fenômeno dos marranos/cristãos-novos e cripto-judeus são parte da História de Portugal e Espanha e principalmente de suas respectivas colônias nas Américas. Alguns grupos de conversos também fugiram pra Turquia e Norte da África, caso alguém queira ler sobre isso e algum outro país, mas sem serem algo expressivo numericamente.
O fato é que a cultura judaica na Espanha e em Portugal praticamente se extinguiu. Não houve um extermínio físico em massa, mas houve um "extermínio" cultural. É tanto que se tem a impressão que esses países nunca tiveram judeus.
Outro trecho da matéria que destaco é esse:
"“Há uma crença, de que todos os judeus são gente culta e exitosa. Isto é: ter uma origem sefardita é muito valorizado, mais ainda se a isso se soma a possibilidade de adquirir a nacionalidade europeia [...] Há como que um sentimento de orgulho em se imaginar descendente de cristãos-novos". O professor adverte ainda, que se confunde ser sefardita ou descendente de sefarditas com ser descendente de cristãos-novos que assumiram o cristianismo enquanto professavam o judaísmo em segredo (os cripto-judeus), o que pode ter aumentado o alcance da proposta."Isto é outro estereótipo reproduzido e perigoso, sendo que não há uma distinção por parte do povo de asquenazis e sefarditas, pro povo em geral (senso comum) são "tudo uma coisa só" (judeus).
Mas vou citar 'causos' que vi no Orkut que põe em cheque totalmente esse tipo de visão. Boa parte dos judeus que vi no Orkut participando de comunidades de discussão não eram "cultos" como diz o trecho acima, pelo contrário, era o extremo oposto disto. Não chega a ser algo que me espanta pois não dou a mínima pra estereótipos, sou cético com estereótipos mesmo, não acredito em mitificações sobre pessoas. Houve uma vez uma discussão entre mim e o ex-dono de uma comuna sobre Oriente Médio (o cara era pró-Israel e chegou a dizer que iria se converter ao judaísmo) em que ele desabafando atordoado porque só via os caras tomarem "toco" dos pró-palestinos na rede (quem puxou a discussão foi ele), isto se dava pelo fato de que essas pessoas não liam praticamente nada sobre Oriente Médio pra discutirem e mesmo assim iam pra discussão, eram "vidradas" nisso mas não liam nada a não ser folhetos e sites com viés político declarado. A maioria só repetia discursos que saem em sites ligados a essas questões e fica por aí, não vão muito além disso.
Essa afirmação dele procede? Infelizmente sim. O pessoal no site do Google (Orkut) meio que se escorava em quem rebatia, no geral ficavam nisso. Não liam nada de relevante sobre o assunto a não ser cartilha ideológica de jornais ou revistas manjadas (de alinhamento à direita) e um ou outro lia algum livro mas pra reforçar pregação política, não pra discutir de fato o assunto pois quem ignora os problemas do conflito não está discutindo e sim tentando criar uma nuvém de fumaça sobre o assunto.
O que se via é que as pessoas em geral não se interessavam em se aprofundar nos assuntos, ficavam em pânico com qualquer crítica a alguma "verdade" estabelecida (na cabeça deles) enquanto o lado pró-palestino geralmente lia boa parte dos livros que saia no Brasil sobre essas questões, sendo em grande maioria composto por alguns descendentes de árabes e outros não (engajados na coisa). Ou seja, a parte intelectualizada da "peleja" era do lado pró-palestino. Por isso que toda vez que leio algo com esse tipo de afirmação de "crença de que todos os judeus são cultos" isso e aquilo, fico perplexo como levam a sério estereótipos.
Esse mito de "judeus são cultos" (de forma genérica), é mito mesmo, o certo seria dizer "alguns judeus são cultos", como existe gente culta em todo tipo de grupo. Essa exacerbação de grupos como "especiais" acaba fatalmente provocando algum preconceito. Esse tratamento como "algo especial" resvala no filossemitismo que é o problema inicial citado no post. Quase toda a discussão e citações do post são atreladas à questão do filossemitismo e os problemas derivados dele no Brasil (principalmente), apesar deu não citar o termo muitas vezes no decorrer do post após a explicação inicial.
Vejam o problema que a disseminação de informações falsas ou distorcidas (com meias verdades) podem causar. Como já disse acima, acho vergonhosa a demanda de gente atrás desses passaportes ou nacionalidade como já comentei acima (não irei repetir o comentário).
E discordo de uma parte da matéria que fala da "vontade do brasileiro em ganhar uma nacionalidade europeia", eu não tenho vontade alguma disso. E já que falaram no assunto, eu não sou muito favorável e simpático à questão da dupla nacionalidade que há no Brasil (posso estar enganado, mas acho que foi a bancada fluminense que fez isso no congresso por conta das ligações de vários deles com Portugal e da mudança que houve quando Portugal passou a ser parte da União Europeia), mas isso só pode ser mudado com outra constituição. Encontrei o ano da modificação disso, 1994, governo Itamar Franco, ler a parte de dupla nacionalidade.
Acho um absurdo haver tratamento diferenciado (discriminatório) favorável a portugueses na Constituição/legislação como se fossem nacionais, brasileiros. Não é nada contra os portugueses ou a qualquer grupo estrangeiro, a culpa não é deles, quem fez essa legislação bizarra e étnica foram brasileiros, mas se trata de uma legislação racista feita por governos de caráter nacionalista de direita (Vargas e mantida após a saída dele do poder) e mantida na constituinte de 86-88 ou acrescentada depois (ler o caso da dupla nacionalidade acima), algo com um forte apego étnico/eugênico pois ao darem privilégios a um povo em detrimento de todos os outros, há uma conotação étnica implicada nisso.
O país costuma vender como imagem no exterior a imagem de "nação multiétnica" etc, tudo balela, basta ver esses "detalhes" pra ver como a História do Brasil, principalmente quando há o deslocamento do eixo econômico do país pro Rio e depois São Paulo (séculos XIX e XX), é muito apegada a essas questões étnicas (racistas), mais do que a população em geral pensa (a maioria no fundo tem noção sobre isso).
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