O ideal "germânico" que a propaganda da SS e outros bandos di regime nazi frequentemente promoviam emergia da panóplia de correntes ideológicas que rodam o fin de siècle europeu. Enraizado em conceitos do Völkisch, o pensamento germânico colocou valor preeminente sobre a pureza racial em uma sociedade. Com o tempo, essa ideologia tornou-se mutuamente não-cristã e antissemita. Cheio de romantismo, misticismo e utopismo, atraiu poucos seguidores como um movimento intelectual. No entanto, a sua influência sobre a população em geral, leia-se, população geral que lia textos germânicos ou outra literatura romântica refletindo o pensamento germânico, não pode ser avaliada. [15]
As próprias construções ideológicas de Hitler certamente favoreceram a inclusão dos ideais germânicos em qualquer programa do Estado nazista. Embora o Führer nunca articulou precisamente o seu pensamento, seus componentes principais permaneceram sendo o antissemitismo, a expansão territorial agressiva, e uma visão histórica abrangente que enfatizou a vida nacional como uma luta contínua pela sobrevivência. [16]
Hitler consistentemente identificou nacionalidade com "raça". O status racial do indivíduo permanecia inalterado; daí, nações inteiras tiveram seus destinos determinados com base em critérios raciais sob a ordem nazista das coisas. Hitler aceitava a raça germânica como claramente superior. Ele viu isso tendo que criar valores culturais únicos que valessem a pena, e, portanto, serem moralmente destinados a dominar o mundo. Sob a direção de Hitler, as forças armadas alemãs deixaria seu destino para o ocidente e sul e "retomaria o programa expansionista germânico onde ele havia parado 600 anos atrás, e pressionaria mais uma vez sobre as rotas das ordens medievais das cruzadas para as terras do leste." [17]
Quando isto se tornou a concreta expressão do pensamento e ação germânicas, Hitler se mostrou bastante indiferente para formar qualquer utopia germânica. Por exemplo, a ocupação da Dinamarca e da Noruega pela Alemanha ocorreu por motivos estratégicos, não por necessidade ideológica. Esta realidade não impediu que a propaganda nazista em usar doutrinas germânicas numa tentativa de impressionar noruegueses e dinamarqueses agora mantidos em cativeiro. Hitler e seu círculo até falaram da construção do Império germânico, mas o cinismo perspicaz de ingenuidade em tais assuntos permanecia quase impossível. 18
Em última análise, Heinrich Himmler tornou-se o defensor mais agressivo do Reich germânico, não Hitler. Este último insistiu que qualquer definição final, legal ou política, do mundo nazista, teria que esperar por uma conclusão bem sucedida da guerra. A política germânica de Himmler previu a coordenação e a anexação do Norte e Noroeste da Europa, usando partidos colaboracionistas e propaganda alemã no processo. Não provando ser muito atraente para as populações em cativeiro, que, mesmo assim, dobravam-se à letra da norma alemã, se não o espírito. Em último caso, as esperanças de Himmler de um Império Germânico repousava sobre os ombros dos voluntários estrangeiros, que, se recrutados em número suficiente, ganhariam apoio para uma associação Pangermânica com o Terceiro Reich. Serviram em conjunto contra o inimigo em comum - o frequentemente rotulado como "inimigo judeu-bolchevique do mundo" - ligados por braços comuns das SS, produziriam um quadro capaz de converter as populações pacatas em submissas em casa. [19] [20]
Mesmo após as primeiras ofensivas contra a Rússia terem falhado, Himmler continuou convencido de ambos, da vitória final e da realização final de um Império Germânico, com um exército SS multinacional guardando as marchas orientais do império contra as hordas asiáticas. Ele viu o Império Pan-germânico não meramente como uma extensão da antiga Grande Alemanha, mas como parte de um processo que conduziria a um Império "gótico-germânico" que se estende até os Urais, e talvez até mesmo a um "Império Gótico-Franco Carolíngio" cujas dimensões ainda não haviam sido estabelecidas! [20]
Cartaz de recrutamento da Waffen-SS nos países da Escandinávia, Holanda e Bélgica para a luta contra o 'inimigo judeu-bolchevique' |
A SS ficou firme na vanguarda do movimento pangermânico, usando seu prestígio, influência e instituições para dar impulso à agenda germânica. O sucesso de Himmler em estabelecer escritórios administrativos a uma "polícia superior e a SS" na Noruega, Dinamarca, Holanda e Bélgica, deram a ele muito mais da mesma influência que ele recebia no Reich. Algumas medidas concretas em consonância com a ideologia pangermânica surgiram com a conquista em direção ao leste e o assentamento planificado da terra por colonos alemães começara. Nos países de origem, os líderes nativos dos partido e muitos de seus seguidores receberam a classificação da SS. Organizações da SS nativas foram formadas em todos os países nórdicos ocupados se estendendo do Sul à Valônia belga, que recebeu tardiamente o status de "Germânica" em 1943. [22]
Através da própria direção do movimento germânico, a SS revelaram suas fraquezas fatais. Na forma típica da mão pesada, a SS insistiu que o pangermanismo significava a subordinação total ao Terceiro Reich e a suas hierarquias. Qualquer noção de igualdade pangermânica manteve-se operacional apenas em teoria, ou nos sonhos dos colaboradores. Políticas nacionais não tiveram qualquer papel no império definido pela SS, o que reduziu os estados nórdicos ocupados ao patamar de Gaue (províncias) dentro do Terceiro Reich. Veremos que noções germânicas da ideologia pouco afetaram os métodos pelos quais a Alemanha e especialmente a SS iriam tratar as populações em cativeiro da Europa. [23]
Notas:
Nota 15: George L. Mosse, The Crisis of German Ideology: Intellectual Origins of the Third Reich (New York: Grossett and Dunlap, 1963), 13-125, passim; Hans-Dietrich Loock, "Zur 'Grossgermanischen Politik' des Dritten Reiches," Vierteljahrshefte für Zeitgeschichte 8:1 (January 1960): 38. University courses in Germanic Philology, such as those offered before the war at Louvain, may have influenced students and had some impact on the volunteer movement; Interviews with Franz Vierendeels, Groot-Bijaarden, Belgium, 29 May 1982 and Léon Degrelle, Madrid, 8 June 1982.
Nota 16: Eberhard Jäckel, Hitler's Weltanschauung: A Blueprint for Power (Middletown, CT: Wesleyan University Press, 1972), 117-21.
Nota 17: Rich, Hitler's War Aims, vol. 1, Ideology, the Nazi State, and the Course of Expansion (New York: W. W. Norton, 1973),, xlii, 4-7.
Nota 18: Loock, "Zur 'Grossgermanischen Politik,'" 39. See also his Quisling, Rosenberg und Terboven (Stuttgart: Deutsche Verlags-Anstalt, 1970), 263.
Nota 19: Loock, "Zur 'Grossgermanischen Politik'," 40-56.
Nota 20: Bernd Wegner, "Der Krieg Gegen des Sowjetunion 1942/43" (esp. subsection "Germanische und Volksdeutsche Freiwillige") in Horst Boog, et al., Der Global Krieg: Die Ausweitung zur Weltkrieg und der Wechsel der Initiative, 1941-1943 (Stuttgart: Deutsche Verlags-Anstalt, 1990), 836.
Nota 21: Loock, "Zur 'Grossgermanischen Politik,'" 56.
Nota 22: Ibid., 57; Rich, Hitler's War Aims, 2: 348-93. Wegner, Waffen-SS, 334.
Nota 23: Loock, "Zur 'Grossgermanischen Politik,'" 62-63; Wegner, Waffen-SS, 332-39.
Fonte: A European Anabasis — Western European Volunteers in the German Army and SS, 1940-1945; Gutenberg-e (Columbia University Press)
Autor: Kenneth W. Estes
http://www.gutenberg-e.org/esk01/frames/fesk01.html
Fonte de uma das fotos: Pinterest
https://www.pinterest.com/pin/560487116102599333/
Tradução: Roberto Lucena
Anterior:: O Fenômeno dos Voluntários (tropas multiétnicas do Terceiro Reich) - parte 02
Nenhum comentário:
Postar um comentário