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segunda-feira, 21 de março de 2016

Planejando o extermínio e a necessidade do trabalho forçado

Nos territórios orientais ocupados, a Wehrmacht, a SS e a administração civil tiveram complexas relações de cooperação e tensão. Eles cooperaram em ações de matar, mas também tiveram conflitos acerca do quanto do trabalho judaico seria preservado em cada fase do genocídio. Abaixo estão duas citações contemporâneos de figuras alemãs de destaque na região da Bielorrússia que fornecem insights sobre esses processos.

O primeiro extrato vem do KdS de Minsk, Strauch, que já fora discutido nesses posts. Em abril, entre 08-10 de 1943, Strauch participou de uma reunião do conselho gebiedscommissies (comitê de área) em Minsk em que ele fez a seguinte declaração:
Quando a administração civil chegou já encontrou empreendimentos econômicos operados pela Wehrmacht, auxiliados por judeus. Numa altura em que os bielorrussos queriam matar os judeus, a Wehrmacht os explorava e preservava. Dessa forma os judeus chegaram a posições-chave e é difícil hoje removê-los completamente, porque as empresas são susceptíveis de ser destruídas, algo que não podemos nos permitir. Eu sou da opinião de que podemos dizer com confiança que dos 150.000, 130.000 já desapareceram. 22.000 ainda estão vivos na área da Gebietskommissariat [fonte: YV TR-10/808, citado por Cholawsky, pág.64].
Strauch sugeriu que a metade (11,000) poderia ser removida sem causar dificuldades indevidas:
Por isso, quero solicitar de você que, ao menos, o judeu desapareça a partir do lugar onde ele seja supérfluo. Não podemos concordar com mulheres judias polindo sapatos ... Vamos cortar o número pela metade sem causar dificuldades econômicas.
Strauch ficou frustrado pelo fato de que os judeus não poderiam ser removidos completamente mas ele ainda se sentiu confiante o suficiente para solicitar uma redução de 50% numa população que já tinha sido reduzida de 150.000 para 22.000.

Esta vontade de superar as restrições de trabalho forçado (escravo) foi também compartilhada por alguns líderes civis, que estavam sob pressão para reduzir as pressões sobre a oferta de alimentos. Houve um equilíbrio delicado entre ver os judeus como trabalhadores essenciais e os ver como comedores inúteis; e os administradores que eram mais alinhados fanaticamente ao dogma antissemita nazista estavam inclinados para finalmente chegar à última perspectiva. Isso é mais evidente no relatório escrito pelo Gebeitskommissar para Slonim, Gerhard Erren, em 25 de janeiro de 1942, onde declarou que:
[...] Após a minha chegada aqui, havia cerca de 25.000 judeus na área de Slonim, 16.000 na própria cidade, tornando-se mais de dois terços da população do total da cidade. Não foi possível a criação de um gueto, como nem arame farpado ou guardas de mão de obra estavam disponíveis. Então, imediatamente, comentei os preparativos para uma ação em larga escala. Primeiramente toda propriedade foi expropriada e todos os edifícios oficiais alemães, incluindo os bairros da Wehrmacht, foram equipados com o mobiliário e equipamentos que haviam sido disponibilizados ... os judeus foram então registrado com precisão de acordo com número, idade e profissão e todos os artesãos e trabalhadores com qualificações foram escolhidos e foram dados passes e alojamento separados para distingui-los dos outros judeus. A ação realizada pelo SD em 13 de Novembro livrou-me das bocas desnecessárias para alimentar. Os cerca de 7.000 judeus agora presentes na cidade de Slonim foram todos alocados em postos de trabalho. Eles estão trabalhando voluntariamente por causa do medo constante da morte. No início do próximo ano, eles serão rigorosamente verificados e classificados para uma redução adicional [...]

[...] O melhor dos trabalhadores qualificados entre os judeus serão obrigados a repassar suas habilidades para aprendizes inteligentes em minhas faculdades de artesanato, então os judeus finalmente serão dispensáveis no setor setor de comércio e ofícios especializados e poderão ser eliminados.
Erren não só viu a necessidade do trabalho judaico como temporária, ele tomou medidas proativas para assegurar que não-judeus seriam treinados no artesanato atualmente ocupados por judeus, "de modo que os judeus finalmente serão dispensáveis nos ofícios especializados e setor de comércio e poderão ser eliminados."

No caso de Slonim, portanto, o momento dos atos genocidas foi cuidadosamente planejado, e poderia ser implementado sem a resistência, porque a administração civil e a SS estavam de acordo. No caso de Minsk, pelo contrário, a SS (Strauch) teve de negociar com a administração civil (Kube), e a Wehrmacht, que era o principal empregador da comunidade judaica na região, e assim o ritmo da matança foi mais lento.

Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com.br/2009/04/extermination-planning-and-forced.html
Texto: Jonathan Harrison
Título original: Extermination Planning and Forced Labour Needs
Tradução: Roberto Lucena

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

O Fenômeno dos Voluntários (tropas multiétnicas do Terceiro Reich) - parte 03

Civis dinamarqueses dão boas-vindas aos
Free Corps Danmark, uma unidade da Waffen-SS,
depois do retorno do front no Leste em Agosto de 1942.
Cerca de 8 mil voluntários dinamarqueses lutaram
sob a bandeira dos Free Corps (Batalhão da Liberdade)
  e do 25º Regimento Motorizado.
Ideologia e raça: A Grande Alemanha

O ideal "germânico" que a propaganda da SS e outros bandos di regime nazi frequentemente promoviam emergia da panóplia de correntes ideológicas que rodam o fin de siècle europeu. Enraizado em conceitos do Völkisch, o pensamento germânico colocou valor preeminente sobre a pureza racial em uma sociedade. Com o tempo, essa ideologia tornou-se mutuamente não-cristã e antissemita. Cheio de romantismo, misticismo e utopismo, atraiu poucos seguidores como um movimento intelectual. No entanto, a sua influência sobre a população em geral, leia-se, população geral que lia textos germânicos ou outra literatura romântica refletindo o pensamento germânico, não pode ser avaliada. [15]

As próprias construções ideológicas de Hitler certamente favoreceram a inclusão dos ideais germânicos em qualquer programa do Estado nazista. Embora o Führer nunca articulou precisamente o seu pensamento, seus componentes principais permaneceram sendo o antissemitismo, a expansão territorial agressiva, e uma visão histórica abrangente que enfatizou a vida nacional como uma luta contínua pela sobrevivência. [16]

Hitler consistentemente identificou nacionalidade com "raça". O status racial do indivíduo permanecia inalterado; daí, nações inteiras tiveram seus destinos determinados com base em critérios raciais sob a ordem nazista das coisas. Hitler aceitava a raça germânica como claramente superior. Ele viu isso tendo que criar valores culturais únicos que valessem a pena, e, portanto, serem moralmente destinados a dominar o mundo. Sob a direção de Hitler, as forças armadas alemãs deixaria seu destino para o ocidente e sul e "retomaria o programa expansionista germânico onde ele havia parado 600 anos atrás, e pressionaria mais uma vez sobre as rotas das ordens medievais das cruzadas para as terras do leste." [17]

Quando isto se tornou a concreta expressão do pensamento e ação germânicas, Hitler se mostrou bastante indiferente para formar qualquer utopia germânica. Por exemplo, a ocupação da Dinamarca e da Noruega pela Alemanha ocorreu por motivos estratégicos, não por necessidade ideológica. Esta realidade não impediu que a propaganda nazista em usar doutrinas germânicas numa tentativa de impressionar noruegueses e dinamarqueses agora mantidos em cativeiro. Hitler e seu círculo até falaram da construção do Império germânico, mas o cinismo perspicaz de ingenuidade em tais assuntos permanecia quase impossível. 18

Em última análise, Heinrich Himmler tornou-se o defensor mais agressivo do Reich germânico, não Hitler. Este último insistiu que qualquer definição final, legal ou política, do mundo nazista, teria que esperar por uma conclusão bem sucedida da guerra. A política germânica de Himmler previu a coordenação e a anexação do Norte e Noroeste da Europa, usando partidos colaboracionistas e propaganda alemã no processo. Não provando ser muito atraente para as populações em cativeiro, que, mesmo assim, dobravam-se à letra da norma alemã, se não o espírito. Em último caso, as esperanças de Himmler de um Império Germânico repousava sobre os ombros dos voluntários estrangeiros, que, se recrutados em número suficiente, ganhariam apoio para uma associação Pangermânica com o Terceiro Reich. Serviram em conjunto contra o inimigo em comum - o frequentemente rotulado como "inimigo judeu-bolchevique do mundo" - ligados por braços comuns das SS, produziriam um quadro capaz de converter as populações pacatas em submissas em casa. [19] [20]

Mesmo após as primeiras ofensivas contra a Rússia terem falhado, Himmler continuou convencido de ambos, da vitória final e da realização final de um Império Germânico, com um exército SS multinacional guardando as marchas orientais do império contra as hordas asiáticas. Ele viu o Império Pan-germânico não meramente como uma extensão da antiga Grande Alemanha, mas como parte de um processo que conduziria a um Império "gótico-germânico" que se estende até os Urais, e talvez até mesmo a um "Império Gótico-Franco Carolíngio" cujas dimensões ainda não haviam sido estabelecidas! [20]

Cartaz de recrutamento da Waffen-SS
nos países da Escandinávia, Holanda
e Bélgica para a luta contra o
'inimigo judeu-bolchevique'
Essas noções excitavam tanto os líderes da SS que eles tão facilmente confundiam ovo com galinha. Assim Berger, o chefe de recrutamento, afirmou em um discurso perante generais da Wehrmacht que, "a SS viu o Reich Germânico como seu objetivo final desde 1929, quando o Reichsführer SS [Himmler] assumiu o comando." De acordo com esta visão do passado, a SS então, mais ou menos, empreendeu a missão de "construir um Reich germânico para o Führer". [21]

A SS ficou firme na vanguarda do movimento pangermânico, usando seu prestígio, influência e instituições para dar impulso à agenda germânica. O sucesso de Himmler em estabelecer escritórios administrativos a uma "polícia superior e a SS" na Noruega, Dinamarca, Holanda e Bélgica, deram a ele muito mais da mesma influência que ele recebia no Reich. Algumas medidas concretas em consonância com a ideologia pangermânica surgiram com a conquista em direção ao leste e o assentamento planificado da terra por colonos alemães começara. Nos países de origem, os líderes nativos dos partido e muitos de seus seguidores receberam a classificação da SS. Organizações da SS nativas foram formadas em todos os países nórdicos ocupados se estendendo do Sul à Valônia belga, que recebeu tardiamente o status de "Germânica" em 1943. [22]

Através da própria direção do movimento germânico, a SS revelaram suas fraquezas fatais. Na forma típica da mão pesada, a SS insistiu que o pangermanismo significava a subordinação total ao Terceiro Reich e a suas hierarquias. Qualquer noção de igualdade pangermânica manteve-se operacional apenas em teoria, ou nos sonhos dos colaboradores. Políticas nacionais não tiveram qualquer papel no império definido pela SS, o que reduziu os estados nórdicos ocupados ao patamar de Gaue (províncias) dentro do Terceiro Reich. Veremos que noções germânicas da ideologia pouco afetaram os métodos pelos quais a Alemanha e especialmente a SS iriam tratar as populações em cativeiro da Europa. [23]

Notas:

Nota 15: George L. Mosse, The Crisis of German Ideology: Intellectual Origins of the Third Reich (New York: Grossett and Dunlap, 1963), 13-125, passim; Hans-Dietrich Loock, "Zur 'Grossgermanischen Politik' des Dritten Reiches," Vierteljahrshefte für Zeitgeschichte 8:1 (January 1960): 38. University courses in Germanic Philology, such as those offered before the war at Louvain, may have influenced students and had some impact on the volunteer movement; Interviews with Franz Vierendeels, Groot-Bijaarden, Belgium, 29 May 1982 and Léon Degrelle, Madrid, 8 June 1982.

Nota 16: Eberhard Jäckel, Hitler's Weltanschauung: A Blueprint for Power (Middletown, CT: Wesleyan University Press, 1972), 117-21.

Nota 17: Rich, Hitler's War Aims, vol. 1, Ideology, the Nazi State, and the Course of Expansion (New York: W. W. Norton, 1973),, xlii, 4-7.

Nota 18: Loock, "Zur 'Grossgermanischen Politik,'" 39. See also his Quisling, Rosenberg und Terboven (Stuttgart: Deutsche Verlags-Anstalt, 1970), 263.

Nota 19: Loock, "Zur 'Grossgermanischen Politik'," 40-56.

Nota 20: Bernd Wegner, "Der Krieg Gegen des Sowjetunion 1942/43" (esp. subsection "Germanische und Volksdeutsche Freiwillige") in Horst Boog, et al., Der Global Krieg: Die Ausweitung zur Weltkrieg und der Wechsel der Initiative, 1941-1943 (Stuttgart: Deutsche Verlags-Anstalt, 1990), 836.

Nota 21: Loock, "Zur 'Grossgermanischen Politik,'" 56.

Nota 22: Ibid., 57; Rich, Hitler's War Aims, 2: 348-93. Wegner, Waffen-SS, 334.

Nota 23: Loock, "Zur 'Grossgermanischen Politik,'" 62-63; Wegner, Waffen-SS, 332-39.

Fonte: A European Anabasis — Western European Volunteers in the German Army and SS, 1940-1945; Gutenberg-e (Columbia University Press)
Autor: Kenneth W. Estes
http://www.gutenberg-e.org/esk01/frames/fesk01.html
Fonte de uma das fotos: Pinterest
https://www.pinterest.com/pin/560487116102599333/
Tradução: Roberto Lucena

Anterior:: O Fenômeno dos Voluntários (tropas multiétnicas do Terceiro Reich) - parte 02

sábado, 22 de março de 2014

Von Rundstedt, o Marechal profissional

Von Rundstedt em Nuremberg
Gerd Von Rundstedt é um desses oficiais prussianos, mestres da blitzkrieg, daqueles que admiramos da Wehrmacht e quiseram atribuir a etiqueta de "apolítico", que no fundo depreciava esses adventícios nazis. Em que pese que ele foi um dos comandantes com maior sucesso nas ofensivas sobre a Polônia, França e o início da Barbarossa. Ele é um dos oficiais que foi retirado do comando em dezembro de 1941, por se opor às ideias de Hitler de defesa até a morte, assim que a partir daqui se supõe que é um oficial "apolítico" e que não obedece cegamente ao Führer.
Comando Supremo

Quartel General

Grupo de Exércitos Sul

24 de setembro de 1941.

Ic/AO (Abw. III)

Ref: Combatendo elementos anti-Reich.

A investigação e o combate contra os elementos inimigos do Reich (comunistas, judeus e seus simpatizantes) na medida em que não tenham se incorporado ao exército inimigo, são só de responsabilidade dos Sonderkommandos, da Polícia de Segurança e do SD nas áreas ocupadas. Os Sonderkommandos têm a responsabilidade exclusiva para tomar as medidas necessárias para seus fins.

As ações sem autorização por parte de membros individuais da Wehrmacht, ou a participação de membros da Wehrmacht nos excessos da população ucraniana contra os judeus estão proibidas, assim como o ato de contemplar ou fotografar as ações dos Sonderkommandos.

Esta proibição deve ser comunicada a membros de todas as unidades. Os superiores de todos os rangos são responsáveis de se assegurar que se cumpra esta proibição. No caso que se viole esta ordem, a causa será examinada para determinar se o superior não cumpriu com seu dever de fazer cumprir esta ordem. Se em caso positivo, será castigado severamente.

(Assinado) Von Rundstedt.
The Good Old Days. The Holocaust as Seen by Its Perpetrators and Bystanders. Klee, E; Dressen, W; e Riess, V., editores. (traduzido do alemão por Deborah Burnstone). Konecky e Konecky Old Saybrook, 1991. pág. 116. Referência de arquivo pág. 285 NOKW-541.

Haverá quem seja capaz de ler nesta ordem algo "apolítico". Já é mais duvidoso que se siga dizendo que as matanças dos Einsatzgruppen não ocorriam à vista de todos, e que não havia pessoal na Werhmacht que gostava de olhar... e inclusive participar nos massacres por iniciativa própria, até o ponto do mesmíssimo comandante do Grupo de Exércitos ordenar que oficiais e suboficiais sejam impedidos de fazer isso. Porque em caso contrário ele lhes culpará.

O VI Exército de Von Reichenau estava sob seu comando quando emitiu sua famosa ordem de 10 de outubro, que Von Rundstedt distribuiu ao resto das tropas sob seu comando em 17 de outubro. Pelo visto, pode-se ser apolítico ao mesmo tempo em que se justifica e "compreende" o assassinato de civis suspeitos de ser comunistas ou judeus, ou bem simpatizar com eles. Sempre e quando não se comprometa a disciplina das unidades.

Foto Wikipedia.

Fonte: blog antirrevisionismo (Espanha)
http://antirrevisionismo.wordpress.com/2011/08/29/von-rundstedt-mariscal-profesional/
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
Ordem de von Rundstedt - As ações da Wehrmacht e dos Einsatzgruppen: A luta contra elementos hostis ao Reich (blog Avidanofront)

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

O Fenômeno dos Voluntários (tropas multiétnicas do Terceiro Reich) - parte 02

Mão-de-obra das Forças Armadas e o recrutamento da SS

Soldado da Legião "Freies Arabien"
"Legião Árabe Livre"
No início da guerra na Europa, a organização Waffen-SS que acabaria por implantar a maior parte da mão de obra estrangeira usada na guerra, apenas recentemente havia ganho o reconhecimento oficial como uma força militar. A SS (Schutzstaffel) originou-se na década de 1920 como uma força especial de segurança do Partido Nazista, que protegia Hitler e seus principais funcionários quando eles excursionavam pela Alemanha. Com a elevação de Heinrich Himmler como chefe dos 280 homens da SS em 1929, seu caráter final começou a tomar forma. Após a tomada do poder pelos nazistas e a derrubada da milícia revolucionária nazi (SA) pela SS em 1934 , esta organização se institucionalizou como a guardiã do movimento e começaram a demonstrar sua influência, como tentáculos, através da hierarquia nazista e dos quadros econômicos, jurídicos , sociais e educacionais da nova Alemanha. [06]

Funções quase militares dentro do já crescente SS debruçavam-se sobre um largo guarda-costas, o Verfügungstruppen (tropas especiais de impostos), que havia formado quatro regimentos de infantaria motorizada em 1938. Rigorosamente selecionados pela maleabilidade política e ideológica e características raciais corretas, estas tropas exerceram funções cerimoniais de rotina, mas não tinha nenhuma função militar clara. [07] A única base legal para sua existência decorre do decreto de Hitler de 17 de Agosto de 1938, que lhes designou como uma unidade militar ativa obediente a sua direção e independente da Wehrmacht ou da polícia alemã.

Armados, treinados, e estabelecidos como formações militares convencionais, as tropas da SS receberam armas, equipamentos, munições e publicações de doutrina e tática do Exército. Eles estavam sujeitos à mobilização, mas até aquele momento o Exército poderia exercer sua autoridade de inspeção só em matéria de treinamento com armas e somente com a permissão de Himmler. Além disso, o serviço nos regimentos da SS, eventualmente, contavam para cumprimento da obrigação de serviço militar de um cidadão alemão. [08] Como "exército" pessoal de Hitler, os regimentos Verfügungstruppen lutaram nas primeiros campanhas da Blitzkrieg, subordinados aos comandantes de campo da Wehrmacht, mas administrativamente independentes, sob a burocracia de Himmler.

 Essa dicotomia foi parcialmente corrigida quando negociações estendidas com o Alto Comando das Forças Armadas sobre a composição, formação e papel da força militar SS culminou na ordem de 2 de Março de 1940, que designou, pela primeira vez, os regimentos de guarda, divisões recém-formadas e unidades de apoio como a "Waffen (Armada)-SS". Este ato foi o mais próximo que a SS armada viria a ser oficialmente designada como membro de direito da Wehrmacht. Embora a Waffen-SS continuou a operar taticamente sob o comando do Exército e da Wehrmacht e seu recrutamento, formação, equipamento e doutrina permaneceram em conformidade com as normas da Wehrmacht, Himmler ainda controlava a atual administração e treinamento da força para o momento em que as unidades individuais fossem usadas no front. [09] [10]

Acadêmicos há muito tempo pensaram que a exclusão da Waffen-SS de ter um status militar oficial frustrou a busca de Himmler por seu reconhecimento como "o quarto ramo da Wehrmacht." Sabemos agora que as ambições de Himmler excedeu em muito essa meta, e que ele procurou substituir as forças armadas convencionais por uma ordem superior, ideologicamente preparada e revolucionária. Sua principal luta foi centrada no recrutamento e expansão. Desde o início de seu serviço de campo eficaz na era da Blitzkrieg, a Waffen-SS procurou ter um papel como uma força armada de elite e permanente postura como tropa de choque do partido. Os líderes da SS imaginaram a eventual substituição das forças armadas regulares como um desenvolvimento necessário para a transformação da Alemanha para no "Reich de Mil Anos" da Nova Ordem, que só poderia ser policiado por uma força militar politicamente doutrinada. Tais motivos dificilmente poderiam ser admitidos nos primeiros dias, especialmente quando Hitler tinha prometido consistentemente a cada um dos diversos serviços militares, a responsabilidade exclusiva pela defesa do Estado alemão. [10]

A obtenção de mão de obra para as novas divisões Waffen-SS tornou-se a principal responsabilidade do brigadeiro-general da SS Gottlob Berger, um homem de considerável capacidade de organização, que no final de 1939 estabeleceu um escritório nacional de recrutamento na sede da SS em Berlim para coordenar as atividades dos escritórios locais de vários distritos militares. Com o apoio entusiasmado de Himmler, Berger explorou brechas deixadas para a SS pelo Alto Comando das Forças Armadas (OKW). Este último tinha alocado recrutas para 1940 entre o Exército, Marinha e Força Aérea na relação 66-9-25. O recrutamento da Waffen-SS não foi levado em consideração nesta alocação. Pelo contrário, a SS recebeu autoridade simplesmente para preencher divisões especificamente autorizadas, regimentos e tropas de apoio necessários. Berger e seus assessores impiedosamente exploraram este acordo de cavalheiros, no qual o OKW não fiscalizou a execução detalhada da política da SS. Os recrutadores da SS ignoraram todos os limites implícitos e pegaram tantos voluntários em idade de recrutamento quanto a propaganda poderia atrair. [12]

Não contente com tais subterfúgios burocráticos, Berger também procurou fontes de mão de obra não diretamente controladas pelo OKW, incluindo homens que não eram cidadãos do Reich alemão. Alemães étnicos, ou Volksdeutsche, a partir de territórios anexados ou ocupados mostravam-se como promessa para um pool de recrutamento, especialmente quando a guerra deixou partes da Europa Oriental sob controle alemão. Finalmente, os chamados povos "nórdicos" do norte da Europa, finlandeses, suecos, dinamarqueses, noruegueses e holandeses poderiam cumprir as exigências raciais dos recrutadores da SS e, ao se tornarem voluntários, não constariam das estatísticas de recrutamento do OKW. Cem desses países nórdicos tinham entrado no serviço da SS em 1940. Depois de abril do mesmo ano, os escritórios de recrutamento de Berger foram atrás deles a sério. [12]

Sem os frutos do combate, no entanto, a Waffen-SS não poderia ter crescido em mão de obra e quantidade de material como o fez. As ações de um Verfügungsdivision e vários regimentos motorizados na Batalha da França, como parte da ponta de lança mecanizada, estabeleceu o seu valor na visão de Hitler, que era o mais importante. A justificação para uma maior expansão foi encontrada na campanha em curso contra a Rússia, de modo que a força de campo da SS dobrou entre a queda da França e o início da ofensiva da "Barbarossa", como a invasão da União Soviética era conhecida. [13]

Dada essa expansão, os planos megalomaníacos de Himmler e seu chefe de recrutamento pareceram um pouco viáveis. Ao final de 1941, a Waffen- SS tinha emergido como um segundo exército, e, graças à sua formação ideológica, constituiu "uma alternativa nacional-socialista intransigente ao tradicional estabelecimento militar". Contanto que ele perseguiu um papel ativo no cumprimento confiável da "missão histórica" de Hitler, como um instrumento pessoal de seu destino, a Waffen-SS podia se sentir segura. A imagem cultivada pela SS como um corpo ideológico único, separado do Exército, e mais estreitamente ligada à autoridade política e do partido, seria proteger ainda mais a sua posição após a tentativa de assassinato em 20 de julho de 1944 sobre Hitler, no qual vários oficiais do Exército alemão participaram. Esta tentativa manchou o Exército aos olhos de Hitler e fez com que Himmler elevasse a SS ao status de único braço viável portador da nação, apesar do fato de que a guerra foi a seguir chegando a seu final, e por sua vez, com a fatal derrota alemã. [14]

Notas:

Nota 6: Gerald Reitlinger, The SS: Alibi of a Nation 1922-1945 (New York: Viking Press, 1957) has been supplanted by Robert Koehl's The Black Corps as the standard authority. However, its narrow concept of the Waffen-SS as an armed formation designed for internal security must be replaced by notions of the SS as an emerging revolutionary state in its own right, and the Waffen-SS as its future army, as asserted by Bernd Wegner, The Waffen-SS: Organization, Ideology, and Function. (Oxford: Basil Blackwell, 1990), 360-65. Back.

Nota 7: Stein, Waffen-SS, xxv-xxxii.

Nota 8: Ibid., 22; Alfred Schickel, "Wehrmacht und SS," Wehrwissenschaftliche Rundschau 19:5 (May 1969): 247-50.

Nota 9: Stein, Waffen-SS, 49; Schickel, "Wehrmacht und SS," 257; Helmut Krausnick, Hans Buchheim, Martin Broszat and Hans-Adolph Jacobsen, Anatomy of the SS State (New York: Walker, 1968), 260-74.

Nota 10: Stein, Waffen-SS, 48. Wegner, Waffen-SS, 128-29.

Nota 11: Stein, Waffen-SS, 35-36, 48; Wegner, Waffen-SS, 209 ff. On the organization of Berger's office, see Gerhard Rempel, "Gottlob Berger and Waffen-SS Recruitment, 1939-1945," Militärgeschichtliche Mitteilungen (MGM) 27:1 (1980): 107-22. General Alfred Jodl, Chief of Staff, OKW, commented in his diary entry for 25 May 1940, "the plan for a limitless expansion of the SS is alarming." Schickel, "Wehrmacht und SS," 260. Berger became head of the SS Central Office in August of 1940, but this only added duties of overseeing ideological training; Wegner, 209-12.

Nota 12: The OSS estimated that some 442,000 Volksdeutsche, including Alsatians, were available for military service, with 15,000 more coming of age each year. National Archives and Records Administration, Military Records Division, Record Group 226, OSS (R & A) document 1238, 25 September 1943. Luxemburgers and some Alsatians were considered citizens of the Reich under a complex set of rules. See Norman Rich, Hitler's War Aims, vol. 2, The Establishment of the New Order (New York: W. W. Norton, 1974), 23-35, 166; Willard A. Fletcher, "The German Administration in Luxemburg, 1940-42," The Historical Journal 13:3 (March 1970): 533-44. Bernd Wegner, "Auf dem Wege zur pangermanischen Armee," MGM 28 (1980): 101-3. For a statistical breakdown of early volunteers by nationality, see Kurt G. Klietmann, Die Waffen-SS: eine Dokumentation (Osnabrück: Munin, 1965), 501.

Nota 13: Schickel, "Wehrmacht und SS," 260.

Nota 14: Ibid., 262-64; Wegner, "Auf dem Wege," 103, 113n; Stein, Waffen-SS, 17. Wegner later enlarged and detailed the Himmler vision of a new army decisively in his masterly Waffen-SS; see especially 346-59.

Fonte: A European Anabasis — Western European Volunteers in the German Army and SS, 1940-1945; Gutenberg-e (Columbia University Press)
Autor: Kenneth W. Estes
http://www.gutenberg-e.org/esk01/frames/fesk01.html
Tradução: Roberto Lucena

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Fotos: Legion Freies Arabien (http://de.wikipedia.org/wiki/Legion_Freies_Arabien)
Free Arabian Legion (http://en.wikipedia.org/wiki/Free_Arabian_Legion)
Category:Legion "Freies Arabien"
(http://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Legion_%22Freies_Arabien%22)

Comentário: Eu acho desnecessário repetir o comentário que fiz no primeiro post desse texto, mas... como sei que muita gente nem lê os links (com a parte 01), acho melhor repetir aqui já que o texto está dividido em várias partes.

A escolha da foto do post foi intencional pois a mesma costuma aparecer em sites "revisionistas" (e similares de extrema-direita, neonazis etc) espalhando informações distorcidas intencionalmente sobre o assunto, como propaganda para insinuar que o regime nazi não era racista por conta do uso destas tropas de voluntários da Waffen-SS, sem qualquer explicação do contexto de como essas tropas foram montadas (como é explicado na tradução acima e no site com o texto completo de Kenneth W. Estes).

Já vi "revi" alegar que este assunto é "escondido", afirmação esta que beira a comédia e pura má fé, pois como podem ver acima, o que não falta na web (e fora da web) são informações sobre o assunto, livros etc, mas obviamente que nenhum revimané vai procurar algo que preste pra ler a não ser a literatura batida deles com distorções e mentiras de extremistas. Basta a pessoa saber procurar o assunto e não cair no comodismo e preguiça (ou devido a uma certa credulidade no que o credo revimané diz) de sair repetindo como papagaio o primeiro texto distorcido que lê em sites "revis" na web. Se impressionar porque desconhece um assunto é uma coisa, agir como idiota sem procurar saber do que se trata é outra coisa completamente diferente, não caiam na segunda opção.

A foto do post anterior foi tirada do site Axis History Factbook da seção sobre os voluntários estrangeiros da subsseção Deutsche-Arabische Bataillon Nr 845. A bibliografia está no site, ou estava, pois mudaram as páginas do Axisforum, numa sequência tentarei atualizar isso. As fotos acima foram dessa vez tiradas da Wikipedia em alemão e inglês.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

As vítimas esquecidas da anatomia nazista

As vítimas esquecidas da anatomia nazi
Victoria Gill. BBC; Segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Liane Berkowitz

Liane Berkowitz foi executada pelos nazis
e seu corpo foi utilizado para experimentação
de cientistas anatomistas.
Liane Berkowitz tinha só 19 anos quando foi executada pelos nazis.

Foi presa em 1942 pela Gestapo, a polícia secreta, quando pegava cartazes com mensagens contra a propaganda nazi.

Estava grávida, mas isto só postergou sua execução até depois que desse a luz a seu bebê.

A sombria história de Liane não acabou com sua morte. Seu corpo foi um dos milhares que foram dissecados por anatomistas e utilizados para seus experimentos.

A identidade destas vítimas do horror nazi agora sai a luz graças aos pesquisadores que rastreiam os registros legais para identificar quem acabou nas mesas de trabalho de anatomistas do regime.

Liane foi uma das 182 pessoas cujos cadáveres foram analisados por Hermann Stieve, que naquele momento era um renomado especialista da Universidade de Berlim.

Os nomes completos da chamada "lista de Stieve" – composta principalmente por mulheres – acabam de ser publicados por Sabine Hildebrant, una anatomista alemã que trabalha na Universidade de Michigan.

"O mesmo Stieve elaborou esta lista em 1946", explica a doutora Hildebrant, que levou uma década pesquisando a história da anatomia alemã. O detalhado registro de Stieve com seu macabro trabalho permitiu identificar suas vítimas.

Hildebrant centrou seus esforços para contra as histórias dessas pessoas.

"Queria saber quem eram", disse a pesquisadora consultada pela BBC, "queria que fossem conhecidas outra vez".

Trauma e estresse

Vera Obolensky e Libertas Schulze-Boysen


Muitas das vítimas da lista de Stieve eram mulheres
e membros da resistência, como Vera Obolensky
e Libertas Schulze-Boysen.
Stieve estava interessado especialmente na anatomia reprodutiva. Por isso a maioria de suas vítimas foram mulheres.

"Antes de 1933 podia se estudar os cadáveres de homens que haviam sido executados, mas não mulheres, já que a Alemanha não executava mulheres".

"Mas repentinamente, durante o Terceiro Reich, começaram a fazê-lo".

Cerca da metade dessas mulheres, entre elas Liane Berkowitz, foram condenadas a morte acusadas de traição.

Algumas foram denunciadas à Gestapo por outros cidadãos depois de expressar suas ideias políticas contrárias ao nazismo.

William Seidelman, ex-professor de medicina da Universidade de Toronto, Canadá, também dedicou anos à pesquisa dos laços entre a "medicina e o "assassinato" no Terceiro Reich.

Num artigo acadêmico de 1999 publicado em "Dimensions: A Journal of Holocaust Studies", Seidelman revelou alguns detalhes sobre como Stieve trabalhou em estreita colaboração com a prisão berlinense na qual se realizava as execuções.

"Quando uma mulher em idade reprodutiva ia ser executada, informavam a Stieve, escolhia-se uma data e era comunicada à prisioneira quando ela iria morrer", escreveu o professor Seidelman.

"Stieve estava particularmente interessado nos efeitos do estresse e do trauma psicológico nos ciclos menstruais das mulheres condenadas".

Depois da execução, os órgãos pélvicos da mulher eram extraídos para ser examinados. Stieve publicou relatórios baseados nesses estudos sem nenhum remorso ou desculpa", disse Seidelman.

Stieve se referia aos órgãos que analisava como "material". Suas publicações de então foram as primeiras a sugerir que o estresse - encarnado em nada menos que uma sentença de morte - interrompia o ciclo menstrual.

Em sua missão de revelar a vida das pessoas por detrás desse "material", a doutora Hildebrandt revisou os arquivos pessoais das vítimas de Stieve, que são guardados no museu do Monumento à Resistência Alemã de Berlim.

Hildebrant analisou cada arquivo junto a uma cópia da lista de Stieve que é mantida no Ministério de Justiça alemão, e identificou a cada uma das pessoas.

Comprovou os nomes de 174 mulheres e oito homens da lista, as datas exatas de nascimento e óbito, as nacionalidades, as razões de sua execução e qualquer outra informação pessoal que pode encontrar.

Alguns dos arquivos contém cartas que expressam os últimos desejos dos prisioneiros condenados, como os de "se reunir com seus entes queridos na morte", segundo explica a pesquisadora.

Uma dessas cartas era de Libertas Schulze-Boysen, que havia sido membro do partido nazi, mas em 1937 se uniu à resistência alemã e documentou e coletou evidências fotográficas dos crimes do nacional-socialismo.

Libertas foi presa em setembro de 1942 e condenada à morte por traição em dezembro do mesmo ano.

Numa carta para sua mãe, escreveu: "Como último desejo pedi que lhe entreguem minha 'substância material' (restos mortais). Se for possível, enterrem-me em um lugar bonito, ensolarado e rodeado pela natureza".

EXPERIMENTOS NAZIS

De acordo com o historiador médico Paul Weindling, quase 25.000 vítimas dos experimentos científicos nazis foram identificadas.

Weindling disse que houve distintas "fases" desses experimentos". A primeira esteve ligada à eugenia e à esterilização forçada.

A segunda fase coincidiu com o início da guerra. "Os doutores começaram a experimentar com pacientes de hospitais psiquiátricos", escreveu o professor Weindling em uma reportagem à BBC. "Fizeram experimentos esporádicos em campos de concentração como o de Sachsenhausen, próximo de Berlim, e observações antropológicas em Dachau."

A terceira fase começou em 1942, quando a SS (a polícia militar nazi) e o exército alemão tomaram o controle da experimentação científica. Aumentou o número de provas nos quais se inocularam doenças mortais como malária e tifo, esta uma doença epidêmica para milhares de vítimas.

Durante uma quarta fase em 1944-45, explica o doutor Weindling, "os cientistas sabiam que a guerra estava perdida mas continuaram com seus experimentos".

O MACABRO ATLAS DE PERNKOPF

Eduard Pernkopf, diretor de Anatomia da Universidade de Viena entre 1933 e 1945 e membro do Partido Nazi, utilizou cadáveres de prisioneiros executados para seus estudos e registrou isso em seu atlas de anatomia.

As detalhadas ilustrações que ele detinha o fizeram famoso entre os estudantes de anatomia.

Pernkopf trabalhou 18 horas diárias dissecando cadáveres enquanto uma equipe de artistas criava as imagens. Levou mais de vinte anos para terminar seu livro.

Tal como Sabine Hildebrandt escreveu em um artigo de 2006 na publicação Clinical anatomy, este projeto revelou "o traslado de ao menos 1.377 corpos de pessoas executadas no Instituto Anatômico de Viena" durante o Terceiro Reich.

"O possível uso desses cadáveres como modelos não se pode descartar em ao menos metade das quase 800 lâminas do atlas".

História obscura

Hildebrant disse que sua investigação deixou "dolorosamente" em evidência o pouco que interessava então a anatomistas o destino das pessoas cujos corpos estavam dissecando.

Por associação, é uma mancha na pesquisa anatômica alemã.

Dos 31 departamentos de anatomia na Alemanha e nos territórios ocupados entre 1933 e 1945, a especialista descobriu que "em todos eles, sem exceção, receberam cadáveres das câmaras de execução".

Este tema no chamou a atenção pública senão há apenas duas décadas.

O professor Seidelman conta que em 1989 um acadêmico anatomista da Universidade de Tubinga indicou em uma conferência que os espécimes que estavam mostrando eram de trabalhadores escravos poloneses e russos executados durante o Terceiro Reich.

Segundo explicou Seidelman à BBC, "os estudantes estavam comocionados e exigiram uma explicação".

A universidade iniciou uma investigação formal. Todas as mostras anatômicas de "origem incerta ou suspeita" foram sepultadas em uma seção especial do cemitério de Tubinga e em 8 de julho de 1990 foi realizada uma cerimônia comemorativa.

Várias universidades realizaram pesquisas formais sobre a obtenção de corpos durante o auge do nazismo em seus próprios departamentos de anatomia.

Instituições da Áustria estiveram envolvidas.

"A Universidade de Viena teve um bonde fúnebre especial que transportava os cadáveres da sala de execução do tribunal regional para o instituto de anatomia", disse o professor Seidelman.

Eduard Pernkopf, que foi diretor de anatomia entre 1933 e 1945, deixou um legado impresso em um tomo acadêmico de duvidosa fama. Muitas das ilustrações incrivelmente detalhadas do atlas de Pernkopf retratam os corpos de vítimas do terror nazi.

Seidelman disse que os pesquisadores estão ainda em "uma fase muito prematura do processo de revelar as histórias daquelas pessoas que se converteram em 'material experimental'".

"Converteram-se em objetos inanimados", disse.

Hildebrant afirma que este tema ainda projeta uma sombra sobre a ciência anatômica e opina que "a anatomia alemã do pós-guerra foi construída em parte sobre os corpos das vítimas".

"É hora de devolver os nomes aos números, de dar rostos e biografias às vítimas da anatomia do Terceiro Reich para recordar sua humanidade e as injustiças que tiveram que enfrentar", conclui.

Fonte: BBC Mundo (em espanhol)
Título original: Las víctimas olvidadas de la anatomía nazi
http://www.bbc.co.uk/mundo/noticias/2013/02/130128_historia_victimas_anatomistas_nazis_np.shtml
Tradução: Roberto Lucena

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos com água marinha

Publicado em 21 junho, 2012

Dachau foi o cenário dos experimentos com água marinha dirigidos principalmente pela Força Área e Exército alemães. Esses experimentos tinham como propósito desenvolver um método para tornar potável a água marinha mediante sua dessalinização. Os pilotos da Luftwaffe que se lançavam ao mar ou caíam nele, assim como os marinheiros alemães que sobreviviam ao bombardeio e ao afundamento de seus barcos, tinham que sobreviver durante longos períodos no mar.

Entre julho e setembro de 1944 se levou a cabo uma série de experimentos para os quais foram utilizados quarenta e quatro sujeitos de idades compreendidas entre os dezesseis e quarenta e nove anos, em sua maioria ciganos alemães, tchecos e poloneses, que eram privados de alimentos entre cinco e nove dias. Pediram reclusos de outros campos que se oferecessem como voluntários para "serviços de limpeza" em Dachau, onde haviam ouvido falar que as condições de vida eram melhores, e por isso aceitaram ir. (…)

Beiglboeck lhes havia prometido rações extras e um trabalho fácil. Só que nunca cumpriu essas promessas. (…)

Os sujeitos de experimentação foram divididos em quatro grupos. O primeiro não recebeu água. O segundo bebeu água marinha comum. O terceiro bebeu água marinha processada mediante o método Berka, chamado Berkatit [água marinha processada para ocultar seu sabor, sem alterar seu conteúdo salino]. O quarto bebeu água marinha tratada para extrair o sal.

Durante o experimento, os designados no "terceiro grupo" não receberam nenhum alimento. Os demais, subministravam para eles rações de emergência marítima: a dieta de naufrágio, consistente de uma onça (28 gramas) de bolachas ao dia, leite condensado e edulcorado, manteiga, gordura ou margarina e chocolate.

[Testemunho de Karl Hoellenrainer, cigano mestiço alemão]

“… Éramos quarenta homens. Então veio um doutor da Luftwaffe e nos examinou. Tivemos que tirar a roupa e ficar em fila. Logo nos disse: "Bem, vão lhes dar boa coisa para comer, como não comeram jamais antes, e logo depois não será dado nenhum alimento e terão que beber água do mar." Um preso que se chamava Rudi Taubmann se levantou em um salto e se negou. Já havia passado por um experimento com água fria, e não queria passar por mais isso. O médico da Luftwaffe então disse: “Se você não se calar e continuar protestando, darei um tiro agora mesmo em você". O doutor da Luftwaffe sempre andava com uma pistola e logo ficamos todos calados. (…)

Havia três classes de água: água branca e água amarela (duas classes); e eu bebi da amarela. Depois de alguns dias a gente começou a ficar louco; saia espuma pela boca. O médico da Luftwaffe veio com um sorriso cínico e nos disse que era de fazer as punções no fígado (…)

As punções no fígado eram feitas pelo próprio médico da Luftwaffe. Em algumas pessoas eram feitas uma punção no fígado e ao mesmo tempo uma punção na medula espinhal. Ele mesmo as fazia. Era muito doloroso. Ao mesmo tempo te corria algo pelas costas. Era água ou algo assim. Não sei o que era."

(…)

As testemunhas de acusação demonstraram que as vítimas desses experimentos sofreram dores agudas, diarreia, convulsões, alucinações, que espumaram pela boca e que, finalmente, na maioria dos casos, acabaram loucos ou faleceram.

(…)

Os imputados Schroeder, Gebhardt, Sievers, Becker-Freyseng e Beiglboeck foram condenados por sua responsabilidade destacada e por suas participações em experimentos com água marinha constitutivos de delito.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/21/doctores-del-infierno-experimentos-con-agua-marina/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 199 a 212; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

quarta-feira, 13 de março de 2013

Ewald-Heinrich von Kleist - Morre último protagonista de atentado frustrado contra Hitler em 1944

Morre último protagonista de atentado frustrado contra Hitler em 1944

Von Kleist havia sido recrutado pessoalmente
para cometer o atentado Foto: AP
Ewald Heinrich von Kleist, o último protagonista sobrevivente do atentado frustrado contra contra Adolf Hitler em 1944, cometido por oficiais da Wehrmacht em Rastenburg (na atual Polônia), morreu aos 90 anos, informa o jornal Die Welt. Von Kleist faleceu na sexta-feira passada, segundo o jornal, que cita parentes do ex-oficial.

Em 20 de julho de 1944, oficiais da Wehrmacht, incluindo o carismático conde Claus Schenk von Stauffenberg, à frente de uma rede com contatos na resistência civil, integrada por políticos conservadores e de esquerda, tentaram eliminar Hitler em Rastenburg, na Prússia Oriental, para tentar derrubar o regime nazista.

Von Kleist havia sido recrutado pessoalmente por Von Stauffenberg para cometer o atentado, o mais espetacular de todos os executados contra o Führer, que sobreviveu a todos os ataques.

Hitler ficou ferido na explosão e os principais autores do atentado planejado por von Stauffenberg, o general Friedrich Olbricht, o coronel Albrecht Ritter Mertz von Quirnheim e o tenente Werner von Haeften, foram detidos pouco depois e executados.

Ewald-Heinrich von Kleist foi detido no Endlerblock de Berlim, o edifício no qual foi planejado o atentando e que atualmente é um anexo do ministério da Defesa, antes de ser enviado ao campo de concentração de Ravensbrück, na Alemanha.

Fonte: AFP/Terra
http://noticias.terra.com.br/mundo/europa/morre-ultimo-protagonista-de-atentado-frustrado-contra-hitler-em-1944,4b11ca25fde5d310VgnCLD2000000dc6eb0aRCRD.html

terça-feira, 12 de março de 2013

A lista da morte" de Karl Jäger (Holocausto)

Especial: "A lista da morte" de Karl Jäger

Um burocrata como assassino de milhares de pessoas. O homem que saiu da Alemanha para cumprir uma missão: exterminar os judeus lituanos. Na cidade onde passou a morar no pós-guerra, ninguém queria saber de seu passado.

A lista não passa despercebida: ela está pendurada bem na entrada do pequeno Museu Judaico de Vilnius, um modesto prédio em madeira, que abriga documentos do horror e do desespero, mas também de atos heroicos e de solidariedade.

Durante a ocupação alemã, entre 1941 e 1944, houve muitos algozes nazistas em ação na Lituânia: Helmut Rauca, Bruno Kittel, Franz Stahlecker. E ainda Karl Jäger, comandante da SS, diretor da polícia de segurança e arquivista da morte.

Detalhadamente, ele listava quem, onde e quando ia sendo assassinado depois que os alemães invadiram a Lituânia. "Sob as minhas ordens e sob meu comando", escreveu Jäger num papel hoje amarelado, mas ainda legível. Nascido em 1888, na pequena cidade de Waldkirch, na Floresta Negra, filho de um professor de música, ele acabou se tornando conhecido na Lituânia pelas atrocidades que cometeu.

Carteira de identidade de Karl Jäger

"Biografia exemplar"

Jäger tocava piano e violino. Mais tarde, viria a construir instrumentos musicais mecânicos, tendo se casado com a herdeira da fábrica de órgãos da cidadezinha onde vivia. Participou da Primeira Guerra Mundial e entrou para o partido nazista, o NSDAP, já em 1923. E se transformou de amante da música em assassino de milhares de judeus.

O historiador Wolfram Wette, autor de um livro sobre Jäger, explica: "Ele era um cidadão comum, uma personalidade agradável de Waldkirch, tido como exemplar, brilhante, correto e culto, e muito admirado pelas mulheres. Aos domingos, marchava orgulhoso com 100 companheiros da SS pelas ruas da cidade".

Contabilidade detalhada de assassinatos

Pouco depois da invasão alemã à União Soviética, no dia 22 de junho de 1941, Jäger seguiu para a Lituânia como membro da Wehrmacht, o exército alemão, na função de comandante e com a clara incumbência de exterminar a população de judeus do país. Meio ano depois, ele já havia executado a missão.

Em fins de novembro, segundo a lista que deixou, já haviam sido mortas 133.346 pessoas. Orgulhoso, ele registrava: "Toda a Lituânia está limpa de judeus". Colaboradores locais contribuíram para o extermínio, tendo atacado os conterrâneos judeus com extrema brutalidade: um capítulo horrível e ainda tabu na história da Lituânia.
Memorial às vítimas mortas

O inferno na terra

Somente em Paneriai, nas proximidades de Vilnius, foram mortos 70 mil judeus pelos chamados grupos de ação nazista. Há relatos de testemunhas sobre os tiros, a fumaça, os gritos das vítimas, os latidos dos cachorros e o último caminho trilhado pelas mulheres, homens e crianças rumo aos campos de extermínio nos bosques de Paneriai.

Para os poucos sobreviventes, restou uma certeza: o inferno era ali. Hoje, o bosque é um lugar de silêncio em memória dos mortos. À sombra das árvores estão memoriais. Os lugares onde ocorreram os assassinatos em massa estão marcados.
Local dos assassinatos em massa

Depois da Guerra: assunto reprimido

Jäger voltou em 1945 para sua cidade natal. Ali, ninguém o bombardeou com perguntas desconfortáveis. No entanto, para maior segurança, ele se mudou para as proximidades de Heidelberg, onde jurou sua filiação a organizações nazistas e viveu 15 anos com seu nome verdadeiro como se fosse um cidadão comum e homem íntegro.

"Isso implica obviamente um questionamento a respeito do estado da sociedade alemã naquela época", diz o historiador Wolfram Wette. Somente em fins dos anos 1950 é que o nome de Jäger apareceu nas investigações sobre crimes nazistas. Ele foi então detido e inquirido durante semanas, mas não compareceu mais ao grande julgamento marcado na época, tendo se suicidado em sua cela na prisão.

O último capítulo: defesa e silêncio

O historiador Wolfram Wette

Em Waldkirch, o comportamento das pessoas não era diferente daquele de outras regiões da Alemanha: ninguém queria saber do passado. "Nas cidadezinhas do país, preferia-se, depois de 1945, ignorar que Jäger tivesse até mesmo existido", analisa Wette. Ninguém queria se lembrar do assassino de milhares de pessoas: nem os descendentes dele, nem os políticos locais , nem os cidadãos comuns e nem a Igreja.

Quando Wolfram Wette publicou suas pesquisas, no ano de 1989, aconteceram protestos na cidade. O historiador passou 20 anos coletando informações disponíveis sobre o caso. Em 2011, publicou seu livro sobre Karl Jäger. E as reações foram devastadoras: "Eu recebia telefonemas e cartas anônimas", conta Wette.

A ética do historiador

A geração mais jovem, contudo, rompeu com o silêncio. Na escola de ensino médio da cidade, há projetos históricos voltados para o tema. Testemunhas foram convidadas para fazer palestras e exposições foram planejadas. E os sobreviventes lituanos viajaram até a cidade. A discussão se tornou mais objetiva.

E Wolfram Wette, que tanto incomodou Waldkirch com suas pesquisas, diz: "Acho que há uma ética do historiador, uma obrigação frente ao esclarecimento histórico. Para mim, essa obrigação é ainda maior quando sei que outros estão ignorando o assunto".

No pequeno Museu Judaico de Vilnius, o número de visitantes é grande. Eles vêm dos EUA, da Alemanha, da Itália. E observam com atenção as fotos, além de lerem os textos que acompanham a mostra. A frieza da lista de Jäger e de tantos outros documentos ainda hoje deixa os visitantes atônitos.

Autora: Cornelia Rabitz (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer

Fonte: Deutsche Welle (Alemanha)
http://www.dw.de/a-lista-da-morte-de-karl-j%C3%A4ger/a-16620343

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Richard Rhodes - Mestres da morte: a invenção do holocausto pela SS nazista (livro)

MESTRES DA MORTE: OS EINSATZGRUPPEN E A ORIGEM DO HOLOCAUSTO* – Richard Rhodes

Os Einsatzgruppen eram os "batalhões da morte" que seguiam a Wehrmacht (de muito, muito perto) durante a invasão da URSS em 1941, e até a partida do sistema dos campos de extermínio em 1942, depois da Conferência de Wannsee. Estavam divididos em quatro grupos, enunciados de A a D, que operavam em distintos setores do Front, desdobrando-se de Norte a Sul. Por sua vez, cada Einsatzgruppe era dividido em vários Einsatzkommandos, que atuavam com bastante autonomia em relação ao grupo originário. Liderados por profissionais com diploma (sobretudo advogados, mas também arquitetos, economistas e médicos), menos de cinco mil homens (e sim, apoiados pontualmente em suas matanças por forças das Waffen-SS, a Polícia e milícias locais) acabaram com mais de um milhão de vidas em pouco mais de um ano. Como isso pode ser possível?

Bem, a essa pergunta trata de responder, precisamente, este livro. A primeira coisa que quero dizer é que, em que pese o título, não se trata de uma obra sensacionalista. Pelo contrário, o autor, depois de expor alguns fatos nos quais o horror é o fator dominante, tenta racionalizar as posturas de "uns" e outros, e entender como aqueles se comportaram como uns calejados assassinos, e como os outros se "deixaram apanhar" sem maior resistência.

Assim que, para o comportamento dos criminosos, adota-se uma teoria que fala do paulatino embrutecimento de quem se vê imerso em uma situação de máxima violência, explicando como tropas que num princípio se sentiam totalmente incapazes de matar a sangue frio, chegam a assassinar sem maiores problemas mulheres e crianças inocentes (e eu acrescento, mudaria algo se fossem culpados?). Assinala que em muitos casos não havia ocorrido nesses "soldados" uma conduta violenta prévia ou uma predisposição para isto. Bem, a teoria, obviamente, não é tão compacta como a expus aqui agora, e pode se aceitar ou não como explicação, mas certamente, para mim, parece-me razoável.

Por outra parte, para ele, em geral, o comportamento pacífico dos judeus nesta fase do extermínio,pesa o fato de virem de lares em geral muito mais educados e pacíficos que a média da Europa da época, algo que influiu um pouco nesta conduta. A isto, segundo Rhodes, há que unir o desconcerto, o temor, os golpes, os cachorros, os homens armados, a incapacidade de assumir a situação até o último momento... tudo isto anula, de cara, qualquer atitude de heroísmo ou rebeldia, e leva a um compreensível comportamento submisso, tão humano, como bem assinala o autor, e digno de empatia como o mais galhardo dos gestos desafiantes à morte. Ao falar da surpresa de Eichmann quando contemplou como alguns judeus se atiravam sem que ninguém os empurrasse para a fossa, a esperar ali o “Genickschüssen” descarregado com postura germânica, o autor assinala a igual incongruência dos jovens lançados a uma carreira suicida ante as metralhadoras inimigas para tomar a trincheira seguinte. Acredito que uma boa comparação, é que provavelmente ambas condutas respondam ao mesmo princípio psicológico.

Outro aspecto que me impactou do livro é, não por ser mais conhecida mas não menos aterradora, a profunda implicação da população local nas execuções em massa (link: Holocausto na Letônia). À parte do clássico exemplo do jovem lituano que matou a golpes muitos judeus em Kaunas, posando a continuação do ato orgulhoso no meio dos cadáveres, destaca o fato de que em várias ocasiões bastava os alemães conclamar à "vingança" os habitantes não-judeus para lhes desencadear uma terrível matança. Isso para não falar do recrutamento de milícias e polícias locais e sua entusiasta colaboração com os Einsatzgruppen.

Enfim, um livro impactante e que se tira muitíssimo dele. Altamente recomendável para "amadores" e conhecedores.

Publicado por Germánico

Fonte: hislibros
http://www.hislibris.com/amos-de-la-muerte-los-einsatzgruppen-y-el-origen-del-holocausto-richard-rhodes/
Tradução: Roberto Lucena

*Observação: o título original em inglês do livro é Masters of Death: The SS-Einsatzgruppen and the Invention of the Holocaust (tradução livre: Mestres da Morte: Os SS-Einsatzgruppen e a invenção do Holocausto), em português o título omite a palavra Einsatzgruppen. A tradução da crítica é do espanhol onde o título é o traduzido logo no início do texto.

Ver também:
Ranking de livros em português sobre o Holocausto (Bibliografia)

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Himmler e suas Waffen-SS

Desde 1934 estava claro que Himmler preparava sua SS para criar seu próprio exército privado, uma guarda pretoriana acima da autoridade da Wehrmacht, com capacidade de combate e apenas leal ao seu führer. Ninguém devia acusar seus policiais, ou os guardas dos campos de concentração, de escapulir do front.

O começo dessa "elite" não foi muito prometedor, mas o que lhe faltava em experiência ou adestramento o supriram com seu entusiasmo, sofrendo mais baixas que outras unidades. Na Polônia, em que pese seu entusiasmo (ou por conta dele mesmo) o regimento motorizado da guarda de Hitler (o Leibstandarte de Sepp Dietrich) foi cercado e teve que ser resgatado por uma vulgar infantaria. Ao estar submetidos à disciplina do exército, este se empenhou em julgar um policial e um soldado de artilharia da SS por assassinar um de cinquenta judeus. Foram condenados a três anos. Mas não tiveram que cumprir um só dia, já que houve uma anistia geral para todos os casos deste tipo de "indisciplina" antes da campanha da França.

Exaustos no front, em 27 de maio de 1940 uma companhia da Totenkopf sob comando do tenente Fritz Knöchlein fuzilou a uma centena de prisioneiros britânicos do 2º regimento de Norfolk em Le Paradis, depois de haver sofrido baixas sob seu fogo. Em 28 o segundo batalhão da Leibstandarte fez o mesmo com uns oitenta prisioneiros desarmados em um celeiro próximo de Wormhoudt, em Flandes.

Os 18.000 SS armados de 1939 haviam se convertido em 100.000 em maio de 1940. Além disso, já não estavam submetidos à polícia militar do exército alemão.

Himmler ante os oficiais da Leibstandarte SS Adolf Hitler, outono de 1940
[...] Onde com uma temperatura de quarenta graus abaixo de zero tivermos que trasladar, a milhares, a dezenas de milhares, a centenas de milhares, onde tivermos que ter dureza de, e que vão escutar e depois esquecer imediatamente, matar a tiros centenas de dirigentes poloneses, onde tivermos que ser extremamente duros porque, caso contrário se voltarão contra a gente depois. Em muitos casos, é muito mais simples entrar na batalha com uma companhia de infantaria que suprimir uma população obstrutora de baixa cultura ou executar pessoas ou removê-las.
Notas:

Lang, the divided Self, 1966. pg 121 Citado por Padfield, Peter: Himmler, el líder de las SS y de la Gestapo. (Himmler, Reichführer SS, Nueva York 1990), Tradução de Ana Mendoza, La Esfera de los Libros, Madrid 2003. pg. 358.

Para referência dos primeiros crimes de guerra das Waffen-SS na França, em maio de 1940:
Lumsden, Robin: Historia secreta de las SS (Hitler’ Black Order, 1997) Tradução de Alejandra Devoto. La Esfera de los Libros, Madrid 2003. pp. 292-293.

Padfield, Peter: Himmler, el líder de las SS y de la Gestapo. (Himmler, Reichführer SS, 1990), Tradução de Ana Mendoza, La Esfera de los Libros, Madrid 2003. pg. 372-73.

Wykes, Alan: Guardia de Hitler, SS Leibstandarte (SS Leibstandarte, 1970.Tradução Lázaro Minué). Editora San Martín, Madrid 1977. pg. 95-99.

Elting, John R; Steinn, George: Las SS (The SS, 1990 Tradução de Domingo Santos) Editora Rombo, Barcelona 1995 pg. 155-156.

Fonte: blog antirrevisionismo. El III Reich y la Wehrmacht
http://antirrevisionismo.wordpress.com/2007/07/26/himmer-y-sus-waffen-ss/
Tradução: Roberto Lucena

domingo, 16 de outubro de 2011

22 de junho de 1941 (Fotos do genocídio nazi na União Soviética) - parte 3

Continuação da parte 2 da postagem sobre fotos do genocídio nazista na União Soviética. Com ajuda adicional do próprio Roberto Muehlenkamp com a postagem dos links.

A postagem original foi dividida em três partes devido a quantidade de fotos contidas na texto original, cerca de 289 fotos mais os links adicionais.

Fotos, da 201 até a 289:

201 Proskurov, Ucrânia, corpos de residentes judeus assassinados, 1942-1944.

202 Kovno, Lituânia, corpos de judeus que foram assassinados por nacionalistas lituanos na oficina Lietukis em 27/06/1941.

203 Kovno, Lituânia, corpos de judeus queimados vivos no gueto.

204 Kovno, Lituânia, soldados alemães e lituanos olhando os corpos de judeus assassinados por nacionalistas lituanos na oficina Lietukis em 27/06/1941.

205 Kovno, Lituânia, corpos de cerca de 70 judeus assassinados por lituanos.

206 Kovno, Lituânia, cadáveres de crianças judias no gueto 30/08/1944.

207 Kaunas, Lituânia, cadáveres.

208 Kovno, Lituânia, soldados alemães atirando em três cidadãos na borda de uma cova, 1941.

209 Lituânia, 1941, corpos de judeus mortos próximos ao Sétimo Forte.

210 Siauliai, Lituânia, restos de ossos do assassínio nas covas em florestas ao redor, Pós-guerra.

211 Letônia, uma pilha de cerca de 4000 corpos de vítimas mortas. [Provavelmente prisioneiros de guerra soviéticos (POWs*)]

212 Stalino, Ucrânia, corpos de homens e mulheres.

213 Stalino, Ucrânia, restos de corpos.

214 Stalino, Ucrânia, mulheres com corpos de seus kin, que foram assassinados por alemães.

215 Stalino, Ucrânia, restos de cadáveres dentro de uma cave.

216 Stalino, Ucrânia, cadáveres que foram exumadas de uma mina.

217 Stalino, Ucrânia, corpo de um garoto que foi morto com tiro na cabeça.

218 Krym, Rússia, corpos de judeus assassinados em Kerch, janeiro de 1942.

219
Kerch, Ucrânia, um soldado soviético próximo a corpos de seus membros familiares.

220 Kerch, URSS, mulheres que foram mortas por alemães em valas comuns, fevereiro de 1942.

221 Ucrânia, Gaysin, corpos depois da exumação. Entre eles os avós dos subjugados e suas três crianças, março de 1944.

222 Vitebsk, Bielorrússia, corpos de pessoas assassinadas.

223 Vitebsk, Bielorrússia, cadáveres de judeus próximos a uma cerca de arame farpado.

224 Vitebsk, Bielorrússia, cadáveres de judeus em uma rua do gueto.

225 Vitebsk, Bielorrússia, cadáveres de vítimas assassinadas.

226 Vitebsk, Bielorrússia, cadáver de um homem judeu no gueto fotografado por um policial alemão.

227 Bogdanovka, Ucrânia, restos de corpos.

228 Bogdanovka, Ucrânia, 1944, restos de cadáveres de cidadãos soviéticos que foram torturados até a morte por romenos e alemães durante a ocupação nazista.

229 Bogdanovka, Ucrânia, cadáveres de cidadãos soviéticos que foram torturados até a morte por romenos e alemães durante a ocupação nazista.

230 Bogdanovka, Ucrânia, ossos.

231 URSS, uma pilha de cadáveres, provavelmente de cativos russos.

232 Skede, Letônia, um policial letão conhecido como um "chutador" andando ao redor da beirada de uma vala comum cheia de corpos de mulheres e crianças que haviam acabado de ser executados, 15/12/1942.

233 Liepaja, Letônia, ossos encontrados numa exumação em 1959.

234 Zbaraz, Polônia, pessoas ao lado de uma cova cheia de restos de corpos.

235 Bereznigovatoye, Ucrânia, enterro de 814 pessoas locais que receberam tiros até morrerem, em 14/09/1941.

236 Bereznigovatoye, Ucrânia, enterro de 814 pessoas locais que receberam tiros até morrerem, em 14/09/1941.

237 Rússia, uma execução.

238 URSS, uma pilha de cadáveres, provavelmente de cativos russos.

239 Riga, Letônia, cadáveres.

240 Riga, Letônia, ossos espalhados.

241 Smolensk, URSS, cadáveres, no tempo de libertação.[Possivelmente uma fotografia previamente tirada por um soldado alemão.]

242 Smolensk, URSS, cadáveres, no tempo da liberação.[Possivelmente uma fotografia previamente tirada por um soldado alemão.]

243 Smolensk, URSS, uma mulher morta, no tempo da libertação.

244 URSS, 1941, Operação Barbarossa - cadáveres de crianças locais estiradas na neve depois de serem executadas pelo exército alemão.

245 Kolomyja, Polônia, policiais alemães próximos aos cadáveres de judeus que foram fuzilados até a morte.

246 Moscou, URSS, cadáveres de pessoas enforcadas por alemães, 19/01/1942. [A localização não é Moscou mas uma cidade na região de Moscou, provavelmente Mozhaysk ou Wolokolamsk.]

247 Kalinkovichi, Bielorrúsia, cadáveres de crianças, 1943.

248 Lyady, Bielorrússia, cadáveres, 1943.

249 Konstantinovka, Ucrânia, cadáveres que foram exumados de uma mina da cidade.

250 Bobruisk, Bielorrússia, cadáveres, provavelmente de prisioneiros de guerra(POWs) soviéticos em Dulag 131, inverno de 1941.

251 Kamenka, Bielorrússia, sacos cheios de ossos de vítimas dos nazistas, antes do reenterro.

252 Bobruysk, Bielorrússia, um grupo de pessoas próximas a sacos cheios de ossos de vítimas de nazistas, antes do reenterro.

253 Bobruysk, Bielorrússia, Meir Zeliger próximo a sacos cheios de crânios de vítimas de nazistas, antes do reenterro.

254 Bobruysk, Bielorrússia, cercando uma vala comum para prevenir sua profanação.

255 Bobruysk, Bielorrússia, um grupo de homens coletando ossos de vítimas de nazistas com o propósito de reenterrá-las numa vala comum no cemitério judaico.

256 Krasny Bor, Rússia, cadáveres das vítimas dos assassinatos.

257 Outono de 1943, cadáveres de judeus russos que tentaram escapar de um campo.

258 Rússia, um policial alemão em pé ao lado de cadáveres.

259 Idritsa, URSS, cadáveres numa vala comum.

260 Jekabpils, Letônia, pós-guerra, novo enterro de cadáveres de pessoas da cidade que pereceram no Holocausto.

261 USSR, 1941, Operação Barbarossa - cadáveres de quinze jovens locais enforcados pelo exército alemão.

262 Utena, 1945, soldados russos e homens locais ao lado de cadáveres, antes de seus reenterros.

263 Utena, Lituânia, restos humanos que foram tirados de suas valas e trazidos por membros de família para enterro no local, depois da guerra.

264 Nadworna, Polônia, soldados alemães em pé próximos a dois cadáveres enforcados num mastro.

265 Skalat, Polônia, um comitê soviético durante a exumação dos cadáveres daqueles assassinados por alemães em 20/04/1944.

266 Rostow, Russia, Winter 1943, The Gestapo jail courtyard.

267 Resse, Lithuania, November 1944, The exhumation of corpses of Jews murdered at the site.

268 Russia, 1955, Sacks filled with bones before burial in a mass grave. [Another caption of same photo: Chausy, Belorussia, Transport of bags filled with bones to burial in mass graves, 1941.]

269 Chausy, Belorussia, Bags filled with bones, in an open mass grave, 1941. [Another caption of same photo: Russia, 1955, Sacks filled with bones in a mass grave. ]

270 Grozovo, Belorussia, Coffins containing bones of Jews murdered in March 1943.

271 Kuziai, Lithuania, 1974, Bones and shoes.

272 Celo Dobroye, Ukraine, Postwar, Exhumation of bones from a mass grave for reburial.

273 Celo Dobroye, Ukraine, 1961, A ceremony marking the reburial of bones in a mass grave.

274 Kornitz, Poland, Jews transporting a cart laden with sacks of bones of murdered Jews for burial in a mass grave.
[Kornitz is probably Kurenets, Belarus.]

275 Iwje, Poland, An exhumation.

276 Iwje, Poland, People standing around a mass grave of local Jews, during an exhumation.

277 Yeloviki, Belorussia, A group of people at the rims of a pit during reburial of Nazis' victims.

278 Belorussia, The body of a young woman shot in the head.

279 Balti, Romania, Jews who were shot to death by a unit of the Einsatzgruppen in July, 1941.

280 Polowce, Poland, Bodies of prisoners who had been shot, aligned in rows in the snow.

281 Chernovtsy, Russia, 1944, A mass grave of Soviet citizens shot by the Germans. [The place is probably http://en.wikipedia.org/wiki/Chernivtsi">Chernivtsi, Ukraine. ]

282 Zelechow, Poland, Bodies of Soviet citizens who were shot to death in 1944. [The place is probably Zolochiv, Ukraine, Polish: Złoczów. According to Klee and Dreßen, »Gott mit uns«. Der deutsche Vernichtungskrieg im Osten 1941-1945, the photo was found in the archives of the Gestapo in Złoczów (spelled "Zloczew" by the authors).]

283 Ukraine, People searching for bodies of loved ones among the bodies of citizens who were shot to death, after the liberation.

284 Dubossary, Ukraine, Members of Einsatzgruppe D shooting Jews, 14/09/1941.

285 Drohobycz, Poland, Removing corpses in a truck.

286 Vinnitsa, Ukraine, An SS man shooting a man's head over a mass grave, probably 1941.

287 Einsatzgruppen soldiers shooting Jews who are in a ditch.

288 Uruczje, Belorussia, Members of a Soviet invesigation committee investigating a mass grave.

289 Janowska, Poland, corpses of inmates killed shortly before the liberation. [The corpses seem to be older than that.]

Os eventos em alguns dos locais mostrados acima nas fotografias são mencionados em vários artigos deste blog, incluindo os seguintes (blogs listados em ordem alfabética ou menção dos lugares, começando com o massacre de Babi Yar e terminando com Zolochiv/Złoczów):

• Série That's why it is denial, not revisionism., partes III [tradução para português], IV [tradução para português], V [tradução para português], VI [tradução para português], VII [tradução para português] VIII [tradução para português], IX (1) [tradução para português], IX (3), IX(4)
Vasily Grossman's Letters and Notebooks
How Many Perpetrators in the USSR? - Part One: Overview
How Many Perpetrators in the USSR? - Part Four: Ukraine 1941
How Many Perpetrators in the USSR? - Part Five: Ukraine 1942
How Many Perpetrators in the USSR? - Part Eight: Baltic States [tradução para português]
How Many Perpetrators in the USSR? - Part Nine: Denier Deceit
One might think that … [tradução para português]
Wehrmacht Complicity in the Holocaust in Ukraine
The Atrocities committed by German-Fascists in the USSR (2)
"... otherwise you’ll think that I’m bloodthirsty"
Mass Graves in the Polesie [tradução para português]
The Atrocities committed by German-Fascists in the USSR (1)
Drobitski Yar
Neither the Soviets nor the Poles have found any mass graves with even only a few thousand bodies … [tradução para português]
More Misrepresentations from Graf: Lithuania
«Evidence for the Presence of "Gassed" Jews in the Occupied Eastern Territories» (3, 2)
French Military Witness in Kaunas (Kovno)
Belzec Mass Graves and Archaeology: My Response to Carlo Mattogno (4,1)
More «Evidence for the Presence of "Gassed" Jews in the Occupied Eastern Territories» (2)
Human Remains Seen By American Journalists at Klooga and Babi Yar
Galicia
Belzec Mass Graves and Archaeology: My Response to Carlo Mattogno (5,2)
Thomas Dalton responds to Roberto Muehlenkamp and Andrew Mathis (2)
«Evidence for the Presence of "Gassed" Jews in the Occupied Eastern Territories» (3, 3)
More «Evidence for the Presence of "Gassed" Jews in the Occupied Eastern Territories» (1)
"Thereafter Kube had shown the Italians a gas chamber in which the killing of the Jews was allegedly carried out."
Austrian Gas Vans Trial
Thomas Kues and Isak Grünberg
Photographic Evidence of Mass Shootings: 1. Sdolbunov
Kudos to Mr. Wilfried Heink
Nazi crimes in Soviet footage
The Road to Vyazma
Photographic Evidence of Mass Shootings: 2. Ponary
Photos from the German East [tradução para português]
Notes from a Transit Camp [tradução para português]
Liepaja (Part 1) [tradução para português]
Liepaja (Part 2)
What it was like

[Fotos 01 a 101 - parte 1]
[Fotos 101 a 201 - parte 2]

Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Roberto Muehlenkamp
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2011/06/22-june-1941.html
Tradução: Roberto Lucena

*POW = abreviação em inglês de "prisoner of war" (prisioneiro de guerra)

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