Maria Luiza Rolim(http://www.expresso.pt/), com agências
Quinta feira, 10 de Fevereiro de 2011
Em Crianças de Hitler, Monika Goth diz que perguntou à mãe quantos judeus o pai, Amon Goth, matou |
Pela primeira vez, num mesmo filme, as gerações pós-guerra encontram-se. O palco dos confrontos é Auschwitz. O filme "Crianças de Hitler" estará concluído até ao final deste ano. Os interessados poderão participar na sua produção, bastando para isso comprar, por antecipação, uma cópia do documentário, em suporte DVD, que será enviada posteriormente pela Maya Productions.
"Fascinantes familiaridades"
Chanoch Zeevi, realizador também de "Nadia's Friends", confessa ter encontrado "fascinantes familiaridades" entre os filhos da segunda geração do Holocausto. Ou seja, entre os descendentes dos líderes nazis - um pequeno grupo de homens e mulheres alemães que aceitaram falar sobre a vergonha pelos crimes cometidos pelos seus pais, tios e avós, e sobre como descobriram a verdade sobre o Holocausto -, e os que descendem das vítimas do genocídio.
Chanooch Zeevi, cujos avós morreram num campo de concentração nazi, diz que quando teve a ideia do filme "nessa noite não consegui pregar o olho. Sentia-me como uma criança que levou uma tareia. Primeiro, tentamos fazer algo para minorar a dor, mas depois tomamos consciência de que é preciso ir atrás de quem nos bateu. Entendemos que devemos sempre ouvir o outro lado. Os sobreviventes podem não ter forças para o fazer. mas os descendentes têm. E esses encontros ajudam-nos a seguir em frente".
O realizador Chanoch Zeevi prevê que o seu filme vá ser duramente criticado em Israel. "Muitas pessoas defendem que nos devemos concentrar apenas nas vítimas. Nunca ouvi nenhuma história do lado nazi, qual era o papel exato de cada líder, quais eram as sua responsabilidades e quanta influência Hitler tinha sobre eles, Na minha ótica, é impossível entender o Holocausto sem tentar ver de onde vieram as raízes do mal e como elas cresceram".
Zeevi confessa que não foi fácil conseguir pessoas dispostas a dar a cara. "Muitas, simplesmente desligaram o telefone. Ainda há quem se orgulhe desse passado e defenda a ideia nazi".
Descendente nazi casa com judeu
Mais de 60 anos depois da II Guerra Mundial, outro dos protagonistas do documentário, Ricardo, filho de Adolf Eichmann, disse que simplesmente não consegue compreender porque o seu pai se tornou o "arquiteto" do Holocausto.
O passado também dominou a vida de Niklas Frank, que também dá o seu depoimento. O afilhado de Hitler e filho de Hans Frank - que foi chefe do governo na parte ocupada da Polónia e responsável pelos campos de extermínio no país -, dedicou boa parte do seu tempo a pesquisar e a escrever sobre o seu pai, e hoje faz conferências e palestras sobre o tema para jovens alemães.
"Sinto-me responsável pelas ações do meu pai, envergonho-me delas. Não posso amar um pai que fez o que ele fez. Existem duas maneiras de sobreviver como filho de um criminoso de guerra: defendê-lo até ao fim como o fazem os meus irmãos mais velhos, ou confrontar as suas ações e admitir: sim, o nosso pai foi um assassino", diz Niklas Frank no documentário.
O filme mostra, ainda, o confronto de Monika Hertwig, filha de Amon Goeth -chefe de Plaszów, campo de concentração, imortalizado no filme "Lista de Schindler", de Ralf Fiennes -, com um homem que lhe diz que o seu pai matou mulheres e crianças "por desporto". Durante muito tempo, ela acreditava que o pai tinha sido um soldado comum, que morrera no front russo. Amon Goeth foi julgado em 1946 e condenado à forca. Monika conta, ainda, como conheceu, aos 13 anos, o primeiro judeu.
Muitas outras histórias de vida são mostradas no documentário de Zeevi. Como a de Katrin Himmler, sobrinha-neta de Heirich Himmler, o segundo na lista abaixo de Hitler no Terceiro Reich.
Katrin casou-se com um judeu, israelita, filho de sobreviventes polacos, e confessa que isso ainda hoje provoca admiração.
Betina Goering, que laqueou as trompas aos 30 anos por não desejar ter filhos que perpetuassem o sangue nazi, disse que o seu pai, falecido em 1981, nunca conversou com ela sobre o Holocausto. Nem sobre o seu tio, Hermann Goering, condenado à morte em 1946 junto com outros 11 pelo Tribunal de Nuremberga, mas que acabou por se suicidar.
Já a sua avó, Edda Goering, afilhada de Hitler, adorava o pai. "Recordo-me de estarmos a assistir a um documentário na televisão sobre o Holocausto e de ela ter dito que (o genocídio) não passava de uma mentira, que nada daquilo tinha acontecido", acrescentou Betina, que vive atualmente em Santa Fé, Novo México, onde é naturopata.
Fonte: Expresso(Portugal)
http://aeiou.expresso.pt/descendentes-de-nazis-e-do-holocausto-reunidos-no-mesmo-filme=f631127
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