Tem gente que nega isso, cinicamente ou não (no caso, quem nega cinicamente sabe que o problema existe mas não quer vê-lo resolvido, e há os que negam por ignorância, esse segundo caso ainda dá pra dar um "desconto"... até quando, não sei). E por que digo isso? Porque volta ou outra sempre aparece um desses fascistas ou "reaças" negando um monte de fatos, ideologicamente, sempre chamando todo mundo que retrata o problema de "comunista" etc e tal. Aliás, é bem conveniente pra esse pessoal chiliquento dizer que todo mundo é comunista pra nunca discutir a questão, deixar tudo como está, tem sido esse um dos artifícios de discurso da elite brasileira pra empurrar os problemas graves do país (o mais sério deles, disparado, é o da desigualdade de renda e regional) pra debaixo do tapete.
Não falo com certeza pois não há registro disso sobre a música (não achei na web) e lembro vagamente, mas se eu não estiver enganado (caso alguém saiba de mais detalhes e queira comentar), esse clipe de "Alagados" mostra imagens da Favela da Maré (Rio de Janeiro capital) e parece (não tenho certeza, portanto, caso não tenha sido nem levem a sério essa parte) o clipe foi trocado na TV por outra versão de clipe mais leve com a música (vocês acham no Youtube, eu já assisti no Youtube por isso me veio à mente a questão).
A dedução de segregação "racial" (ou étnica) é minha, vendo as imagens do clipe hoje dá pra ter uma leitura melhor da coisa, embora não seja algo novo pra ninguém. A letra da música compara a situação de três grandes favelas, Alagados (Salvador, Bahia, link1 link2), Trenchtown (Kingston, Jamaica) e Favela da Maré (Rio de Janeiro capital), que são cidades conhecidas por serem "festivas" embora a realidade "oculta" dessas cidades (pra maioria da população delas) seja bem diferente. A alegria acaba se transformando em uma forma de mascarar as desgraças (mazelas sociais).
O clipe de "Alagados" era e continua chocante (atual) pois mostra sem retoques coisas que a própria TV brasileira tenta negar diariamente perpetuando o estado de segregação brasileiro que lembra muito o quadro da África do Sul. Quando não é isso, é fomentando atrito regional pra camuflar problemas.
Talvez a diferença dos dois modelos de segregação seja que a segregação na África do Sul era escancarada, explícita, em pleno século XX (onde houve muitos registros gráficos) quando não se tolerava mais isto, enquanto no Brasil se adotou o discurso cínico do "lusotropicalismo", depois de extinguirem a segregação estatal no século XIX aplicando a eugenia pra branquear a população como política de Estado da Monarquia "brasileira", sendo essa segregação da ideologia do "lusotropicalismo" mais silenciosa, "oculta", feita na surdina usando o discurso de que "somos todos mestiços" então "racismo não existe" ("ignorando" que o racismo é uma construção social). E agora há gente insuflando um monte de gente simpática (e idiota) a escancarar os preconceitos, adotando um discurso não mais mascarado de segregação racial com slogans como "os brancos estão sendo perseguidos" e coisas desse tipo. No fundo eu fico me perguntando se essas pessoas ao dizerem isso acha que vão convencer alguém de que a segregação não existe, pois mesmo o país não querendo resolver o problema, pelo menos muita gente sabe que existe. Negacionistas são sempre escrotos.
Seguem as duas músicas, "Cinema Mudo", em homenagem especialmente pro Lobão (os 'fortes' entenderão o porquê da homenagem, rsrsrsrs) e o clipe de "Alagados" (1986) que é chocante até hoje, a banda grava em locações da própria Favela da Maré e aparece um baile da época na favela onde a banda visita o baile e grava com a população dela, Bi Ribeiro, João Barone e Herbert Vianna, os Paralamas do Sucesso.
Não lembrava do quanto essa música era boa pros que acham que brasileiro não sabe fazer música (desliguem a TV um pouco e parem de assistir besteira na TV aberta, tem conteúdo de sobra na web basta ter curiosidade e saber procurar). Realidade nua e crua que causa mal estar e fúria na elite segregadora do país.
Pra não perder viagem no post, segue um bônus com Vital que acabou deixando a bateria por sua moto. Essa música é demais e a edição do clipe ficou fantástica. Mais uma dedicada ao Lobão (hahahaha), #partiuLobão
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