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sábado, 30 de novembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos de congelamento em Dachau

Publicado em 15 junho, 2012

Os experimentos de congelamento ocorreram em Dachau entre agosto de 1942 e maio de 1943, aproximadamente, para proveito da Luftwaffe. Tratava-se de investigar como tratar pessoas que haviam sofrido hipotermia ou haviam estado submetidas a um frio intenso.

Realizaram experimentos em água gelada e terra seca que reproduziam as condições de frio extremo que padeciam os pilotos alemães cujos aviões se chocavam no mar, ou as tropas do exército alemão que lutavam a temperaturas abaixo de zero em meio a grossa capa de neve. Tinham como objetivo pôr a prova distintos modos de reanimar os aviadores e soldados alemães.

Os acusados Karl Brandt, Handloser, Schroeder, Gebhardt, Rudolf Brandt, Mrugowsky, Poppendick, Sievers, Becker-Freyseng e Weltz foram acusados de conduta criminosa por dirigir esses experimentos.

A acusação partiu para o Departamento de Medicina da Aviação, a quem era responsável o então imputado Becker-Freyseng.

(…)

Nos experimentos com água gelada (entre 360 e 400) utilizaram-se uns 280 ou 300 presos políticos, cidadãos estrangeiros e prisioneiros de guerra. Morreram entre 80 e 90 sujeitos. Rascher conduziu os experimentos adicionais, servindo-se de outros 50 ou 60 sujeitos. Deles, morreram entre 15 e 18.

Não há melhor modo de descrever esses experimentos que acudir as declarações da testemunha Walter Neff, um prisioneiro do campo de concentração que atuou como auxiliar. Neff foi interrogado entre 17 e 18 de dezembro de 1946 pelo promotor James McHaney.

(…)

Testemunha: – a banheira de experimentação estava cheia de madeira. Tinha dois dois metros de comprimento por dois de largura. Erguia-se a uns cinquenta centímetros do chão e ficava no barracão número 5. Tanto na câmara de experimentação como na banheira havia muitas lâmpadas e outros aparatos que eram usados para tomar medidas (…)

Testemunha: – as banheiras se enchiam de água e se acrescentava gelo até que a água alcançasse uma temperatura de 3º C, e os sujeitos da experimentação iam vestidos com traje de voo, ou os colocavam nus na água gelada. (…) Quando os sujeitos da experimentação estavam conscientes, passava algum tempo até se manifestar a chamada narcose por congelamento. A temperatura era tomada pelo reto e pelo estômago, mediante o galvanômetro. A queda de temperatura corporal até 32º C era terrível para o sujeito da experimentação. A 32º C, o sujeito perdia a consciência. Essas pessoas eram congeladas até alcançar os 25º C de temperatura corporal, e para que se compreenda o problema, eu gostaria de lhes dizer algo acerca da época de Holzloehner e Finke. (…) não morreu nenhum sujeito da experimentação na água. A morte ocorria porque durante a reanimação a temperatura caia todavia mais e se produzia uma parada cardíaca. Isto ocorria porque também a terapia era mal aplicada (…) Mas as coisas mudaram quando Rascher ficou responsável pessoalmente dos experimentos. Naquela época, muitas das pessoas que tomaram parte nos experimentos eram mantidas na água até que morressem.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/15/doctores-del-infierno-experimentos-de-congelacion-en-dachau/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 131-135; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Doutores do inferno: mulheres utilizadas para reanimação

Publicado em 16 junho, 2012

As mulheres do campo de concentração que eram utilizadas para reanimação nos experimentos de congelamento recebiam o nome de "prostitutas". Em um memorando datado de 5 de novembro de 1942, o doutor Rascher escreveu:

"Para os experimentos de reanimação mediante calor animal depois do congelamento, tal e qual ordenou o Reichsführer-SS, quatro mulheres do campo de concentração de Ravensbrück assinaram". (…)

O que se segue é uma carta de Rascher a Himmler datada de 17 de fevereiro de 1943. A carta resume a eficácia do processo de reanimação humana.

(…) "Atualmente estou tentando demonstrar através de experimentos com seres humanos que é possível reanimar pessoas congeladas com frio seco com a mesma rapidez que pessoas congeladas por imersão na água fria. O Gruppenführer doutor Grawitz, do Serviço Médico da SS, duvidava muito que isto fosse possível (…) Até agora congelei umas trinta pessoas as deixando desnudas e sujeitas à intempérie por nove e catorze horas, a temperaturas entre 0 e -1º C. Passada uma hora de paroxismo, colocava os ditos sujeitos em uma banheira de água quente. De momento, todos os pacientes se recuperaram no prazo de uma hora, no máximo; ainda que alguns deles tenham as mãos e os pés brancos pelo congelamento. Em alguns casos, observou-se uma leve fatiga e uma febre ligeira no dia seguinte do experimento. Não se observou nenhum resultado fatal como consequência de um aquecimento tão rápido ao extremo. De momento não se pode levar a cabo nenhuma reanimação na sauna, como você me ordenou, meu caro Reichsführer (…)"

O documento adjunto, classificado como "secreto", diz o seguinte:

"Experimentos para a reanimação mediante calor animal de seres humanos submetidos a frio intenso.

A. A propósito dos experimentos:

Comprovar se a reanimação de pessoas submetidas a frio intenso mediante calor animal (ou seja, calor de animais ou de seres humanos) é tão boa ou melhor que a reanimação mediante meios físicos ou médicos.

B. Metodologia dos experimentos:

Esfriava-se os sujeitos da experimentação pelo modo habitual (com roupa ou sem ela), em água fria, com temperaturas que variavam entre 4º C e 9º C. A temperatura retal de cada um dos sujeitos era registrada por meios termelétricos. A queda da temperatura se manifestava no intervalo de tempo habitual, dependendo do estado físico geral do sujeito da experimentação e da temperatura da água. Tirava-se da água os sujeitos da experimentação quando sua temperatura retal alcançava os 30º C. Chegado a esse ponto, todos os sujeitos haviam perdido a consciência. Em oito casos, foram colocados os sujeitos entre duas mulheres desnudas, em uma cama espaçosa. As mulheres deviam ficar o mais próximo possível da pessoa gelada. Depois, eram cobertos os três com mantas. Não se tentava acelerar o processo de reanimação com o uso de lâmpadas ou remédios.

C. Resultados:

1. Chama a atenção que, quando se tomava a temperatura do sujeito, havia ocorrido uma nova queda de até 3º C, ou seja, uma queda maior da que fora visto em qualquer outro método de reanimação. Observou-se, contudo, que o sujeito recuperava antes a consciência, ou seja, a uma temperatura corporal mais baixa que com outros métodos de reaquecimento. Uma vez que o sujeito recuperasse a consciência, não voltava a perdê-la e em seguida compreendia a situação e se aproximava junto às mulheres desnudas. A partir de então, a subida de temperatura corporal era produzida com a mesma rapidez com a qual sujeitos de experimentação haviam sido reanimados lhes cobrindo com mantas. Houve quatro exceções nas quais os sujeitos da experimentação efetuaram ato sexual a temperaturas corporais entre 30º C e 32º C. Com esses sujeitos, a temperatura subiu muito rapidamente depois do ato sexual, o que podia ser comparado com a subida rápida da temperatura em uma banheira de água quente.

2. Outra série de experimentos girou em torno da reanimação de pessoas submetidas a frio intenso valendo-se de uma só mulher. Em todos esses casos a reanimação foi notavelmente mais rápida que a conseguida por duas mulheres. (…)
D. Conclusão:

Os experimentos de reanimação de sujeitos submetidos a frio intenso demonstraram que a reanimação mediante calor animal é muito lenta. (…) Dado que a exposição física prolongada a baixas temperaturas implica num risco de lesões internas, há de se escolher o método de reanimação que garanta a atenuação mais veloz de temperaturas perigosamente baixas. Este método, segundo nossa experiência, é o subministrado rápido e massivo de calor mediante um banho quente. (…)

Dachau, 12 de fevereiro de 1943.

Assinado: Doutor S. Rascher

Hauptssturmführer-SS


Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/16/doctores-del-infierno-mujeres-utilizadas-para-la-reanimacion/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (edição espanhola)
(livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 140-145; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

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