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sábado, 22 de fevereiro de 2014

A psiquiatria de Franco. A mulher, intermediário entre criança e animal

Mulher, entre criança e animal
Rodolfo Serrano; Madrid, 7 de janeiro de 1996

Antonio Vallejo-Nágera,
psiquiatra franquista
As mulheres marxistas também foram objeto de estudo. Vallejo-Nágera e Eduardo M. Martínez, diretor da Clínica Psiquiátrica de Málaga e diretor da prisão desta cidade, analisaram 50 presas de guerra. O método foi similar ao empregado com os brigadistas; mas com uma exceção: para os homens foi realizado um estudo antropomórfico, mas "no sexo feminino", escreve Vallejo e Martínez, "carece de finalidade pela impureza dos contornos". O conceito que ambos professores tinham sobre a mulher é perfeitamente expresso em seus textos.

Para justificar o alto grau de participação feminina nas fileiras da República, recordam sua "debilidade mental" e asseguram que "como o psiquismo feminino tem muitos pontos de contato com o infantil e o animal", quando se rompem os freios sociais que contém a mulher "despertando-se no sexo feminino o instinto da crueldade e ultrapassa todas as possibilidades imaginadas, precisamente por lhes faltar inibições inteligentes e lógicas".

Em busca do 'gene vermelho'

Mas não só isso. Ambos os professores estavam convencidos de que "nas revoltas políticas" as mulheres têm oportunidade "de satisfazer seus apetites sexuais latentes". A sexualidade das presas é estudada com verdadeiro interesse.

Destacam sua libertinagem, - advertem que foram sinceras ao se pronunciar nos interrogatórios, salvo nas "infidelidades conjugais que nenhuma confessou" - e oferecem tabelas sobre virgindade e desfloração e sobre as perversões sexuais das presas. Mas neste último aspecto dizem que "são raras as marxistas malaguenhas (de Málaga), pois somente três delas conhecem toda classe de perversões sexuais". "O amor lésbico tampouco é muito frequente", escrevem, "já que só seis pessoas (das 50), uma delas virgem, mostrou tendência deste tipo".

Os professores concluem que a mulher quando se lança à política "não o faz arrastada por suas ideias, senão por seus sentimentos que alcançam proporções imoderadas, inclusive patológicas, devido à irritabilidade da personalidade feminina". E sublinham que a crueldade feminina "não fica satisfeita com a execução do crime, senão que aumenta durante sua realização".

Somente três presas, das estudadas, segundo ambos doutores, apresentava uma inteligência superior. E seis, boa. O resto oferecia inteligência média ou inferior. E duas eram débeis mentais, segundo o estudo. A conclusão dos autores era de que o marxismo espanhol se nutria das pessoas menos inteligentes da sociedade.

Fonte: El País (Espanha)
http://elpais.com/diario/1996/01/07/espana/820969221_850215.html
Tradução: Roberto Lucena
_______________________________________________

Este texto estava em destaque como link no texto maior "Em busca do 'gene vermelho' ("ciência" fascista) - Vallejo Nágera", sobre um psiquiatra fascista espanhol. Quem quiser ler, segue abaixo:
http://holocausto-doc.blogspot.com/2014/02/em-busca-do-gene-vermelho-ciencia-fascista-vallejo-nagera-franquismo.html

Pra minha surpresa, a família desse psiquiatra fascista, Vallejo Nágera, ainda tem destaque na Espanha.

Ambos textos são de 1996 do jornal El País (Espanha), sobre bizarrices/aberrações da "ciência" (médica) do franquismo. O termo bizarro é por minha conta pois não há como qualificar isso de outra coisa. Percebe-se o quanto os fascistas espanhóis contribuíram para o progresso da ciência (conteúdo obviamente irônico) com sua misoginia (ódio ao sexo feminino) provavelmente oriunda de cultura religiosa.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

As últimas horas do monstro nazista (Mengele)

Edição Brasil. el país. Política: As últimas horas do monstro nazista
Ex-cabo da Polícia Militar brasileira revela, 35 anos depois, detalhes da morte de Josef Mengele no litoral de São Paulo

Frederico Rosas Bertioga 7 FEV 2014 - 08:41 BRST

À esquerda, Josef Mengele (1911-1979). / Universal History Archive/Getty Images
Auschwitz Album
Na pequena cidade de Bertioga, no litoral do estado brasileiro de São Paulo, um monstro nazista vivia seus últimos momentos há 35 anos. De forma bem diferente da que muitos imaginariam após a descoberta de suas atrocidades, ele morreu em um banho de mar, possivelmente devido a um ataque cardíaco. Talvez o nome Josef Mengele, ou mesmo o seu apelido, Anjo da Morte, possam soar desconhecidos para as novas gerações. Mas o seu trabalho como médico do regime de Adolf Hitler simbolizou como poucos os horrores dos campos de concentração.

Um homem em particular jamais esquecerá o dia 7 de fevereiro de 1979. O brasileiro Espedito Dias Romão, então com pouco mais de 30 anos, era cabo da Polícia Militar do Estado de São Paulo e chegou ao local da ocorrência na praia da Enseada, próxima ao centro comercial de Bertioga, logo depois. No fim de uma tarde de sol, ele diz ter recebido uma chamada informando sobre um corpo na praia. Ao chegar ao local em uma viatura, ele afirma ter visto uma pequena aglomeração em volta de um senhor na areia.

Tratava-se do austríaco Wolfgang Gerhard, segundo constava na modelo 19, um documento antigo de identificação de estrangeiros no Brasil. “Quando cheguei, o corpo estava estirado na faixa de areia. Tudo indicava que ele foi retirado do mar já sem vida. Era um senhor bem branco e de bigode, e que não apresentava sinais de afogamento comuns, como vômitos e água expelida pelas laterais e pela boca. Fui levado a pensar que se tratava de um caso de mal súbito”, conta.

No boletim de ocorrência lavrado logo após a morte, e que apontava como naturezas do óbito um mal súbito e afogamento, informava-se que Wolfgang tinha 54 anos, era viúvo, trabalhava como técnico mecânico e residia no bairro do Brooklin Novo, em São Paulo. “Segundo apurado entre as testemunhas, a vítima banhava-se no mar, sentiu-se mal, vindo a perecer afogada, embora socorrida por populares”, afirma uma cópia do documento mostrada por Dias ao EL PAÍS.

Wolfgang era, na verdade, Mengele, segundo revelaria um intenso trabalho de pesquisa científica anos depois, mas que, ainda hoje, levanta polêmicas e suscita teorias de que o médico nazista teria como destino outros países, inclusive os Estados Unidos. Aquele homem encontrado morto na pequena Bertioga era um dos criminosos mais procurados do mundo desde o fim da Segunda Guerra, e teria passado por outros países da América Latina, como a Argentina, antes de aportar no Brasil.

Como médico em Auschwitz, além de capitão da força nazista SS, Mengele foi um dos responsáveis pela seleção dos prisioneiros que seguiriam para o trabalho forçado e os que morreriam nas câmaras de gás. Suas experiências em seres humanos, sobretudo crianças gêmeas judias e ciganas, foram responsáveis por alguns dos capítulos mais desumanos do século XX.

A morte de Mengele não foi presenciada por muitas pessoas no Brasil, ainda de acordo com o ex-cabo da PM. Não havia quase ninguém na praia no momento da ocorrência. Bertioga, que era um distrito da cidade de Santos até obter sua emancipação em 1991, possui atualmente cerca de 50 mil habitantes. Na época, Dias estima que o número de moradores se aproximasse de seis mil. “Estava tudo praticamente deserto e o mar, calmo. Parecia que só havia os três na Enseada”, recorda.

O ex-cabo da PM se refere, assim, ao casal de austríacos que acompanhava Mengele no passeio, Wolfram e Liselotte Bossert. Os três dividiam uma casa de temporada localizada a cerca de quatro quadras da praia, em uma área não asfaltada, ainda de acordo com Dias. Liselotte acabaria sendo processada em 1985 por falsidade ideológica no Brasil, após apresentar o documento falso de identidade de Mengeleno dia do óbito. Wolfram, por sua vez, é apontado como um ex-oficial do Exército nazista que morava no Brasil desde a década de 1950.

“O (Wolfram) Bossert acabou sendo levado para o Pronto Socorro por conta do esforço para tirar o Wolfgang da água. E ele tinha uma estrutura óssea bastante forte”, comenta Dias. O corpo de Wolfgang, por sua vez, foi encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML) de Santos para a realização de exames complementares. A causa oficial da morte segue um mistério.

Wolfgang acabaria enterrado no dia seguinte no cemitério do Rosário, na cidade de Embu, na região metropolitana de São Paulo.

Reviravolta

Em 1985, no entanto, uma reviravolta marcou o caso registrado por Dias naquela tarde ensolarada de fevereiro. A dimensão do fato assumiu contornos históricos e atraiu a atenção de diversos meios de comunicação brasileiros e internacionais. “Um repórter me ligou e começou a perguntar se havia sido eu quem tinha atendido uma ocorrência em 1979. Daí para frente tudo começou a vir à tona.”

Ele conta que teve início uma grande busca de informações a respeito do caso, inclusive por parte dos peritos, que acabariam exumando os ossos de Mengele - análises feitas através de exames de DNA confirmariam, em 1992, que os restos mortais seriam mesmo do monstro nazista. Entre inúmeras entrevistas concedidas, Dias foi convocado para relatar a ocorrência à Polícia Federal em São Paulo. O ex-cabo da PM lembra que, com a enorme repercussão do caso no Brasil e no exterior, Bertioga alterou sua rotina na época.

“A cidade, que era mais tranquila, pacata, sofreu um impacto muito grande”, diz. “Eu ficava pensando depois quantas vezes ele (Mengele) pode ter passado por mim ainda em vida”, acrescenta. Isso porque Dias havia trabalhado também em uma base da PM em um dos pontos de entrada da cidade, a balsa que a liga ao município do Guarujá.

Hoje, o ex-cabo é chefe de fiscalização do setor de trânsito e transporte do município de Bertioga, após entrar na reserva da PM como primeiro-sargento. Aos 68 anos, o mineiro que chegou à cidade ainda no fim da década de 1960 como policial rodoviário, se dedica aos desafios da ocupação do sistema viário. E, de forma singela, mas ao mesmo tempo muito objetiva, resume o seu sentimento em torno do caso Mengele, antes de retornar à sua ocupação pública.

“Fica o sentimento de compaixão das pessoas que perderam a vida de forma tão trágica. Hoje o mundo é um lugar melhor.”

Fonte: El País (Edição Brasil)
http://brasil.elpais.com/brasil/2014/02/07/politica/1391769715_190054.html

domingo, 29 de dezembro de 2013

Doutores do inferno: o horror do barracão 46 de Buchenwald

Publicado em 5 junho, 2012

Arthur Dietzsch
[Testemunho de Eugen Kogon, prisioneiro de Buchenwald, durante o processo médico pertencente aos julgamentos de Nuremberg]:

[…] No campo todo mundo sabia que o barracão 46 era um lugar temível. Muito poucas pessoas no campo tinham uma ideia exata do que se passava no barracão 46. O medo se apoderava de todo aquele que tinha que se relacionar de algum modo com esse barracão. Se escolhiam pessoas e as levavam do barracão 46 para a enfermaria, sabiam que a coisa era fatal. O horror indescritível que rodeava esse barracão piorava ainda mais as coisas. (…)

À parte disso, no campo se sabia que o Kapo Arthur Dietzsch impunha uma disciplina férrea no barracão 46. Ali quem mandava era o chicote. Todo o que ia para o barracão 46 como sujeito de experimentação não só esperava, portanto, a morte, e em certas circunstâncias uma morte muito demorada e penosa, senão também ser torturado e sofrer a privação completa dos últimos vestígios de sua liberdade pessoal.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/05/doctores-del-infierno-el-horror-del-barracon-46-de-buchenwald/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, pág. 241; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

sábado, 28 de dezembro de 2013

Doutores do inferno: eutanásia com fenol em Buchenwald

Dr. Schuler-Ding
Publicado em 7 junho, 2012

A prova 283 de acusação é uma declaração jurada do doutor Erwin Schuler: o célebre "doutor Ding". Como testemunha de aplicação da eutanásia mediante fenol puro sem diluir em Buchenwald, declarou:
"Um a um foram entrando quatro ou cinco prisioneiros. Entravam com a parte superior do tronco nua para que não se distinguisse a insígnia de sua nacionalidade (na roupa). Eram de idade avançada e estavam em más condições físicas. Não recordo do diagnóstico pelo qual iriam lhes aplicar a eutanásia, mas seguramente tampouco o perguntei.

Sentaram-se tranquilamente em uma cadeira, ou seja, sem nenhum nervosismo, próximos a uma luz. Um enfermeiro pressionava a veia do braço, e o doutor Hoven (Waldemar Hoven, médico chefe de Buchenwald) injetava rapidamente o fenol. Morriam com uma convulsão imediata e total, durante a aplicação da injeção, sem nenhum outro sinal de dor. Calculo que o tempo transcorrido entre o início da injeção e a morte era de meio segundo. O resto da dose se injetava como medida de precaução, ainda que para provocar a morte bastasse apenas uma dose da injeção. (Calculo que cerca de 5 cc.)

Os enfermeiros levavam o morto a uma habitação antiga. Eu calculo que estive ali uns dez minutos".

[…]
Durante a realização do programa de eutanásia, descrito mais adiante, foram assassinados milhares de pessoas mediante injeções de fenol. A cifra dos assassinados por este método ascendeu a mais de vinte mil pessoas.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/07/doctores-del-infierno-eutanasia-con-fenol-en-buchenwald/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 264-265; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos com tifo

Publicado em 12 junho, 2012

O tifo se converteu num problema médico de primeira magnitude no outono de 1941, depois que a Alemanha atacou a Rússia. Como naquele momento escasseavam as vacinas, só se imunizavam contra o tifo o pessoal de saúde sanitária que ocupava postos de risco.

Entre dezembro de 1941 e março de 1942, iniciou-se um perverso e mortífero programa de experimentação médica usando reclusos dos campos de concentração de Buchenwald e Natzweiler. Seu propósito era avaliar diversas vacinas contra o tifo, a febre amarela, a varíola, a febre paratifoide A e B, o cólera e a difteria. Esperava-se com ele produzir um soro de convalescente para combater o tifo.

Durante o processo foi demonstrado que 729 presos foram submetidos a experimentos com tifo, dos quais 154 morreram. (…)

Ainda que os imputados Handloser, Schroeder, Genzken, Rudolf Brandt, Mrugowsky, Sievers, Rose e Hoven fossem condenados por experimentos com tifo que constituíam delito criminoso, a maioria dos experimentos realizados em Buchenwald foi conduzido por um médico de sinistra fama, conhecido como o doutor Ding (Schuler), que se suicidou ao término da guerra e, portanto, não pode ser conduzido à justiça. O diário profissional do doutor Ding sobreviveu e, passado um tempo, foi entregue ao magistrado chefe para crimes de guerra, o general norte-americano Telford Taylor, e passou a ser uma das 1471 provas documentais preparadas pelos alemães. Desempenhou papel essencial na hora de condenar os médicos depravados.

Doutor Eugen Haagen
O doutor Eugen Haagen, oficial do Serviço Médico da Força Aérea e professor da universidade de Estrasburgo (França) durante a ocupação alemã, dirigiu experimentos com tifo em Natzweiler.

(…)

O melhor modo de descrever esses experimentos é recorrer ao testemunho do doutor Eugen Kogon, prisioneiro de um campo de concentração e testemunha de acusação, que foi interrogado pelo promotor McHaney:

Promotor McHaney: – O Sr. poderia, por favor, explicar ao tribunal, com suas próprias palavras, como foram efetuados esses experimentos com tifo?

Testemunho de Kogon: – Depois que se destinou para uma série de experimentos entre quarenta e sessenta pessoas (às vezes até cento e vinte), separava-se a um terço delas, e os dois terços restantes lhes vacinavam com um tratamento protetor ou lhes administravam de outro modo, se era um tratamento químico. (…) O contágio se efetuava de diversas maneiras. Transferia-se o tifo mediante o sangue injetado por via intravenosa ou intramuscular. No princípio também se fazia arranhando a pele, ou praticando uma pequena incisão no braço. (…)

Para manter os cultivos de tifo, utilizavam uma terceira categoria de sujeitos de experimentação. Eram as chamadas "pessoas de trânsito", entre três e cinco pessoas por mês. Elas eram contaminadas unicamente com o fim de assegurar um fornecimento constante de sangue infectado de tifo. Quase todas essas pessoas morreram. Não creio exagerar se digo que 95 por cento delas morreram.

Promotor: – A testemunha quer alegar que contaminavam premeditadamente com tifo entre três e cinco pessoas ao mês só para terem vírus vivos e disponíveis no sangue?

Testemunha: – Só com essa finalidade concreta.

[…]

Promotor: – Pode dizer ao tribunal se esses sujeitos de experimentação sofreram de forma apreciável no transcurso dos experimentos com tifo?

Testemunha: – […] os sujeitos de experimentação esperavam na enfermaria dia ou noite que lhes fizessem algo; não sabiam o que seria, mas adivinhavam que seria uma morte espantosa.

Se lhes vacinavam, às vezes ocorriam as cenas mais horrendas, porque os pacientes temiam que as injeções fossem letais. O Kapo tinha que restabelecer a ordem com mão de ferro.

Passado certo tempo depois da infecção, quando a enfermidade havia se manifestado, apareciam os sintomas normais do tifo, que, como é bem conhecido, é uma das enfermidades mais graves que existem. A infecção, como já foi descrito, havia se fortalecido muito durante anos e mais uma metade de ano anteriores na qual o tifo começou a aparecer em sua forma mais terrível. Havia casos de loucura furiosa, delírios, pessoas que se negavam a comer e uma grande porcentagem delas morria.

Os que sofriam a enfermidade em uma forma mais benigna, talvez porque fossem mais fortes de constituição ou porque a vacina surtia efeito, tinham que assistir constantemente a agonia dos outros. E isto ocorria em um ambiente que dificilmente poderia se imaginar. Durante o período da convalescência, os que sobreviviam ao tifo não sabiam o que seria deles. Seguiram no barracão 46 para serem utilizados para outros fins? Os utilizariam como ajudantes? Temeriam que eles como testemunhas sobreviventes dos experimentos com seres humanos e os matariam, portanto? Eles não sabiam, e ele agravava as condições desses experimentos.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/12/doctores-del-infierno-experimentos-con-tifus/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 239-242; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O médico da SS, Dr. Horst Schumann (Eutanásia em doentes mentais, Aktion T4)

Dr. Horst Schumann, médico da SS
Envolvido no programa de Eutanásia
O Dr. Horst Schumann (tenente superior da Força Aérea e Sturmbannführer da SS) nasceu em 1906 em Halle an der Saale, filho de um médico de medicina general. Desde 1930 afiliado ao NSDAP com o número 190 002 e desde 1932 membro da SA. Schumann se formou em medicina em 1933 em Halle, e em 1934 trabalhou para Saúde Pública em Halle e quando estourou a guerra em 1939 foi recrutado como médico adjunto da Força Aérea.

Viktor Brack, chefe da oficina da aktion T4 (no qual se praticava a eutanásia dos doentes mentais, os doentes crônicos, os judeus e os assim chamados antissociais) lhe pediu em 1939 que participasse como médico nesta ação de eutanásia, ao que Schumann aceitou pouco tempo depois. Em janeiro de 1940 foi nomeado chefe da clínica de eutanásia de Grafeneck em Württemberg; ali a eutanásia consistia em assassinar as pessoas mediante gases de escape. No verão de 1940 foi nomeado diretor da clínica Sonnenstein próxima de Pirna na Saxônia.

Depois que Hitler houvesse ordenado oficialmente a aniquilação dos assim chamados "doentes incuráveis", pondo-a sob o nome de código "14 f 13" também os presos dos campos de concentração, Schumann fez parte das comissões de médicos que selecionavam os presos incapacitados para trabalhar, assim como os presos extremamente débeis nos campos de concentração de Auschwitz, Buchenwald, Dachau, Flossenburg, Groß-Rosen (Gross-Rosen), Mauthausen, Neuengamme e Niederhangen, para serem transportados às clínicas de eutanásia, onde eram gaseados.

Em 28 de julho de 1941 Schumann chegou pela primeira vez a Auschwitz, onde selecionou 575 presos que foram transportados para a clínica de eutanásia em Sonnenstein próxima de Pirna, onde foram assassinados. A partir de agosto de 1941, a SS prosseguiu com sua ação "14 f 13", agora com os presos doentes lhes era injetado fenol diretamente no coração. Um ano e meio mais tarde, Schumann voltou a Auschwitz para pôr a prova um método "econômico e rápido", com raios-X, para esterilização em massa de homens e mulheres. Quase nenhuma de suas numerosas vítimas sobreviveu; sendo as causas dessas mortes as queimaduras sofridas, as "intervenções complementares" (extirpação de ovários e testículos), o esgotamento físico e o choque psíquico. Em 1944 Schumann abandonou Auschwitz. Em outubro de 1945 apareceu em Gladbeck, onde se deu alta no Registro e onde também foi nomeado médico desportivo.

Mediante um crédito que se concedia exclusivamente aos refugiados (!), abriu em 1949 sua própria clínica, e até 1951 as autoridades pertinentes não se deram conta de que na realidade se tratava de um criminoso nacional-socialista procurado. Schumann pode fugir. Nos anos seguintes, segundo suas declarações, exerceu medicina em um barco, trabalhou a partir de 1955 no Sudão, de onde fugiu em 1959, via Nigéria e Líbia, para Gana. Até 1966, Schumann não havia sido extraditado para a República Federal da Alemanha. Em setembro de 1970 foi aberto o processo contra Schumann, interrompido em abril do ano seguinte pela hipertensão arterial do acusado. Em 29 de julho de 1972 foi posto em liberdade, fato que passou desapercebido do grande público. Passou o resto de seus dias em Frankfurt, onde faleceu em 5 de maio de 1983, onze anos depois de haver sido posto em liberdade. Graças aos certificados médicos pode se livrar de uma condenação e até da prisão.

Fonte: Institut fuer Sozial- und Wirtschaftsgeschichte - Uni Linz (Áustria)
http://www.wsg-hist.uni-linz.ac.at/auschwitz/htmlesp/Schumann.html
http://www.wsg-hist.uni-linz.ac.at/auschwitz/htmld/Schumann.html
Foto: Arquivo Yad Vashem (http://collections.yadvashem.org/photosarchive/en-us/1059_12880.html)
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
Experimentos Médicos - Oberhauser e Schumann
Tag Cobaias Humanas

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos em altitudes elevadas

Publicado em 14 junho, 2012

Os experimentos relativos a altitudes elevadas tinham como objetivo pôr a prova os limites da resistência e da vida humanas em altitudes extremamente elevadas, com e sem oxigênio. Isto foi conduzido pela Força Aérea alemã no campo de concentração de Dachau entre março e agosto de 1942, aproximadamente. Tinham como propósito reproduzir as condições atmosféricas que o piloto alemão poderia encontrar em combate ao cair de grandes distâncias sem paraquedas e sem fonte de oxigênio. Esses experimentos foram realizados colocando a vítima numa câmara hermética de baixa pressão provida pela Luftwaffe, e simulando as condições atmosféricas e de pressão de altitudes até num máximo de vinte mil metros.

A iniciativa partiu do médico da Luftwaffe Sigmund Rascher, que em 15 de maio de 1941 propôs ao chefe da SS, Heinrich Himmler, levar a cabo este tipo de experimentos criminosos. Himmler autorizou os experimentos de boa vontade. Os experimentos de combate aeronáutico e naval, assim como os experimentos de resgate, centraram-se principalmente nessas provas de simulação de altitudes elevadas (acima de dez mil metros, assim como em provas de exposição ao frio e relativas à capacidade humana de metabolizar água marinha tratada (…)

Nos documentos, os seres humanos da experimentação aparecem mencionados com as siglas VP (Versuchsperson, que quer dizer, "sujeito de experimentação"). Os cerca de duzentos sujeitos foram escolhidos aleatoriamente. Entre os selecionados havia civis russos, prisioneiros de guerra russos, poloneses, judeus de diversas nacionalidades e presos políticos alemães. Desses duzentos, não mais que quarenta haviam sido condenados à morte. (O fato de que os sujeitos dos experimentos houvessem sido sentenciados à pena capital foi esgrimido como argumento pelos imputados para justificar suas mortes.) Setenta e oito pessoas morreram como consequência dos experimentos. O doutor Rascher prometeu a alguns reclusos que, se se oferecessem como voluntários, seriam liberados; por conta disto alguns se ofereceram voluntariamente. Só que a tal promessa nunca foi cumprida.

Um relatório redigido em maio de 1942 descreve como em alguns desses testes se utilizaram delinquentes habituais judeus que haviam sido condenados por Rassenschande, ou seja, literalmente, "vergonha racial". A vergonha racial, tal e como definiam os alemães, era o matrimônio ou a relação carnal entre os arianos e os não-arianos (entendendo por "arianos" os alemães de "sangue puro").

O acusado Weltz tinha jurisdição sobre as atividades do doutor Rascher. É interessante anotar que Weltz havia se colocado em contato com os renomados especialistas no campo da medicina aeronáutica, o doutor Lutz e o doutor Wendt, para que tomassem parte nesses experimentos. Ambos se negaram por motivos morais e afirmaram que as diferenças de comportamento entre seres humanos e animais não bastavam para justificar a realização de perigosos experimentos com pessoas.

George August Weltz, chefe do instituto de medicina
para aviação em Munique. Foi declarado inocente
da acusação de ser responsável dos experimentos
com grande altitude e congelamento. Fonte: USHMM
(…)

Os imputados Weltz, Ruff, Romberg, Rudolf Brandt e Sievers participaram nos experimentos de simulação de queda de paraquedas. A câmara de baixa pressão móvel na qual se obrigava a entrar os seres da experimentação foi transportada do instituto do acusado Ruff em Berlim, até Dachau. As vítimas eram fechadas uma a uma no habitáculo hermético e circular. Prontamente a pressão variava para reproduzir as condições atmosféricas até um máximo de 20.670 metros de altitude. Podia-se ou não subministrar oxigênio adicional às cobaias.

(…)

Os documentos fotográficos exibidos como provas não respaldavam o argumento dos acusados segundo o qual, ainda que os experimentos pudessem provocar a morte da pessoa, não implicavam em tortura física nem sofrimento. Algumas filmagens confiscadas pelos alemães que mostravam convulsões espasmódicas e expressões de sofrimento e dor contradizem por completo este argumento.

(…)

Outro argumento esgrimido pelos acusados foi a “necessidade do Estado” (…)

Até que ponto foram científicos os experimentos de simulação em altitudes elevadas? Na prova 66 da acusação relativa a "Experimentos de simulação em altitudes elevadas", um relatório assinado pelo doutor Rascher e o imputado Romberg, afirmava:

“Posto que era evidente a urgência de resolver o problema, sobretudo tendo em conta as condições dadas do experimento, foi necessário prescindir naquele momento do esclarecimento total sobre questões puramente científicas".

Esta afirmação demonstra que os acusados sabiam que os experimentos não eram científicos e que não cumpriam o que era estipulado pelos protocolos médicos a respeito da voluntariedade do sujeito da experimentação. Resumindo, entre 180 e 200 vítimas foram submetidas a este experimento, com o resultado de graves lesões físicas e entre 70 e 80 mortes.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/14/doctores-del-infierno-experimentos-con-altitudes-elevadas/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 113-129; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Doutores do inferno: o "campo pequeno" de Buchenwald

Publicado em 6 junho, 2012

O doutor Eugen Kogon, ex-recluso de Buchenwald e testemunha de acusação, declarou que o doutor Mrugowsky, um dos acusados, "selecionava sistematicamente a inválidos e pessoas mais velhas, especialmente franceses, que estavam no chamado "campo pequeno" de Buchenwald a fim de lhes extrair sangue para usá-lo na preparação de plasma sanguíneo.

Quando lhe foi perguntado se algum desses doadores de sangue do "campo pequeno" morreram por consequência disso, Kogon contestou: "O caso é que fica muito difícil formar uma ideia clara do "campo pequeno" de Buchenwald. Ali as pessoas morriam em massa. Pela noite havia
cadáveres nus estendidos pelos barracões porque os demais prisioneiros os arrancavam das camas para se ter um pouco mais de espaço. Os que queriam sobreviver lhes arrancavam até a menor peça de roupa. É impossível determinar se morreu alguém como consequência direta e imediata dessas extrações de sangue, porque muita gente caia e morria enquanto andava pelo "campo pequeno".

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/06/doctores-del-infierno-el-campo-pequeno-de-buchenwald/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, pág. 245; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

sábado, 30 de novembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos de congelamento em Dachau

Publicado em 15 junho, 2012

Os experimentos de congelamento ocorreram em Dachau entre agosto de 1942 e maio de 1943, aproximadamente, para proveito da Luftwaffe. Tratava-se de investigar como tratar pessoas que haviam sofrido hipotermia ou haviam estado submetidas a um frio intenso.

Realizaram experimentos em água gelada e terra seca que reproduziam as condições de frio extremo que padeciam os pilotos alemães cujos aviões se chocavam no mar, ou as tropas do exército alemão que lutavam a temperaturas abaixo de zero em meio a grossa capa de neve. Tinham como objetivo pôr a prova distintos modos de reanimar os aviadores e soldados alemães.

Os acusados Karl Brandt, Handloser, Schroeder, Gebhardt, Rudolf Brandt, Mrugowsky, Poppendick, Sievers, Becker-Freyseng e Weltz foram acusados de conduta criminosa por dirigir esses experimentos.

A acusação partiu para o Departamento de Medicina da Aviação, a quem era responsável o então imputado Becker-Freyseng.

(…)

Nos experimentos com água gelada (entre 360 e 400) utilizaram-se uns 280 ou 300 presos políticos, cidadãos estrangeiros e prisioneiros de guerra. Morreram entre 80 e 90 sujeitos. Rascher conduziu os experimentos adicionais, servindo-se de outros 50 ou 60 sujeitos. Deles, morreram entre 15 e 18.

Não há melhor modo de descrever esses experimentos que acudir as declarações da testemunha Walter Neff, um prisioneiro do campo de concentração que atuou como auxiliar. Neff foi interrogado entre 17 e 18 de dezembro de 1946 pelo promotor James McHaney.

(…)

Testemunha: – a banheira de experimentação estava cheia de madeira. Tinha dois dois metros de comprimento por dois de largura. Erguia-se a uns cinquenta centímetros do chão e ficava no barracão número 5. Tanto na câmara de experimentação como na banheira havia muitas lâmpadas e outros aparatos que eram usados para tomar medidas (…)

Testemunha: – as banheiras se enchiam de água e se acrescentava gelo até que a água alcançasse uma temperatura de 3º C, e os sujeitos da experimentação iam vestidos com traje de voo, ou os colocavam nus na água gelada. (…) Quando os sujeitos da experimentação estavam conscientes, passava algum tempo até se manifestar a chamada narcose por congelamento. A temperatura era tomada pelo reto e pelo estômago, mediante o galvanômetro. A queda de temperatura corporal até 32º C era terrível para o sujeito da experimentação. A 32º C, o sujeito perdia a consciência. Essas pessoas eram congeladas até alcançar os 25º C de temperatura corporal, e para que se compreenda o problema, eu gostaria de lhes dizer algo acerca da época de Holzloehner e Finke. (…) não morreu nenhum sujeito da experimentação na água. A morte ocorria porque durante a reanimação a temperatura caia todavia mais e se produzia uma parada cardíaca. Isto ocorria porque também a terapia era mal aplicada (…) Mas as coisas mudaram quando Rascher ficou responsável pessoalmente dos experimentos. Naquela época, muitas das pessoas que tomaram parte nos experimentos eram mantidas na água até que morressem.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/15/doctores-del-infierno-experimentos-de-congelacion-en-dachau/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 131-135; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos com malária

Publicado em 18 junho, 2012

Mais de 1084 acusados de diversas nacionalidades, inclusive sacerdotes católicos, foram submetidos a experimentos com malária (testes de imunização e tratamento diversos). Esses experimentos ocorreram no campo de concentração de Dachau entre fevereiro de 1942 e abril de 1945, aproximadamente, e foram concluídos apenas antes da rendição da Alemanha, em 8 de maio de 1945.

Wolfram Sievers
Infectava-se premeditadamente com malária os reclusos que eram considerados sãos, servindo-se de mosquitos infectados ou mediante injeção de sangue infectado com malária. Para manter uma provisão constante de sangue infectado, todos os meses se contaminava artificialmente com malária entre três e cinco reclusos, de modo que seu sangue pudesse ser usado para infectar outros.

(…)

Os imputados Karl Brandt, Handloser, Rostock, Gebhardt, Blome, Rudolf Brandt, Mrugowsky, Poppendick e Sievers foram acusados de responsabilidade especial e participaram na conduta criminosa devido a esses experimentos, mas só Sievers foi condenado neste julgamento. Sievers negou haver tomado parte nos experimentos com malária.

(…)

Em Dachau, um tribunal militar estadunidense nomeado em 2 de novembro de 1945, ajuizou quarenta médicos e assistentes no caso Estados Unidos contra Martin Gottfried Weiss, Friedrich Wilhelm Ruppert, et al. Entre os imputados se encontrava o doutor Claus Karl Schilling. (…)

Schilling foi o principal responsável pelos experimentos levados a cabo em Dachau, dado que esteve perfeitamente disposto a utilizar os métodos de experimentação nazi servindo-se de acusados do campo numa época em que outros médicos e cientistas alemães se negaram a tomar parte deles ou fugiram do país. Schilling acreditava que era seu dever humanitário encontrar a cura para a malária, à margem de que seus métodos ameaçavam a vida de reclusos do campo submetidos à experimentação contra sua vontade.

Claus Karl Schilling
Antes do julgamento, em 30 de outubro de 1945, o doutor Schilling efetuou, de seu próprio punho, uma declaração jurada ante o subtenente Werner Conn. Esta declaração foi admitida como indício provatório com o número 122 das provas da acusação. Schilling afirmava haver inoculado pessoalmente entre novecentos e mil prisioneiros. (…)

Muitos dos internos infectados com malária morreram de tuberculose, disenteria e tifo. Segundo sua declaração, Schilling assistiu a autopsia de uma das vítimas e solicitou o cérebro, o fígado, o rim, o baço e um pedaço do estômago.

No julgamento de Dachau, um sacerdote católico preso, o padre Koch, declarou que primeiro lhe fizeram radiografias e posteriormente o enviaram para sala de malária. Metido em um quarto pequeno, teve que segurar uma caixa de mosquitos durante meia hora todos os dias pelo intervalo de uma semana. Cada tarde lhe colocavam outra caixa de mosquitos entre as pernas enquanto estava na cama. Todas as manhãs lhe tiravam uma amostra de sangue da orelha.

O padre Koch saiu do hospital passados dezessete dias. Oito meses depois teve um ataque de malária que voltou a se manifestar a cada três semanas durante seis meses. Sofria de febre alta, calafrios e dores articulares. Infectou-se assim mesmo prisioneiros poloneses e russos mediante injeções procedentes dos próprios mosquitos ou com extratos de glândulas mucosas dos mosquitos. A malária foi a causa direta de trinta mortes, enquanto que as complicações derivadas dela ocasionaram entre trezentas e quatrocentas mortes, um terço das 1200 vítimas submetidas a esses experimentos.

(…)

Durante seu julgamento em Dachau, o doutor Schilling se defendeu alegando que seu trabalho era parte de seus deveres; que ficou inacabado; e que o tribunal de Dachau devia fazer o que pudesse para ajudá-lo a concluir seus experimentos em benefício da ciência.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)

http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/18/doctores-del-infierno-experimentos-con-malaria/

Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 147-156; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Doutores do inferno: mulheres utilizadas para reanimação

Publicado em 16 junho, 2012

As mulheres do campo de concentração que eram utilizadas para reanimação nos experimentos de congelamento recebiam o nome de "prostitutas". Em um memorando datado de 5 de novembro de 1942, o doutor Rascher escreveu:

"Para os experimentos de reanimação mediante calor animal depois do congelamento, tal e qual ordenou o Reichsführer-SS, quatro mulheres do campo de concentração de Ravensbrück assinaram". (…)

O que se segue é uma carta de Rascher a Himmler datada de 17 de fevereiro de 1943. A carta resume a eficácia do processo de reanimação humana.

(…) "Atualmente estou tentando demonstrar através de experimentos com seres humanos que é possível reanimar pessoas congeladas com frio seco com a mesma rapidez que pessoas congeladas por imersão na água fria. O Gruppenführer doutor Grawitz, do Serviço Médico da SS, duvidava muito que isto fosse possível (…) Até agora congelei umas trinta pessoas as deixando desnudas e sujeitas à intempérie por nove e catorze horas, a temperaturas entre 0 e -1º C. Passada uma hora de paroxismo, colocava os ditos sujeitos em uma banheira de água quente. De momento, todos os pacientes se recuperaram no prazo de uma hora, no máximo; ainda que alguns deles tenham as mãos e os pés brancos pelo congelamento. Em alguns casos, observou-se uma leve fatiga e uma febre ligeira no dia seguinte do experimento. Não se observou nenhum resultado fatal como consequência de um aquecimento tão rápido ao extremo. De momento não se pode levar a cabo nenhuma reanimação na sauna, como você me ordenou, meu caro Reichsführer (…)"

O documento adjunto, classificado como "secreto", diz o seguinte:

"Experimentos para a reanimação mediante calor animal de seres humanos submetidos a frio intenso.

A. A propósito dos experimentos:

Comprovar se a reanimação de pessoas submetidas a frio intenso mediante calor animal (ou seja, calor de animais ou de seres humanos) é tão boa ou melhor que a reanimação mediante meios físicos ou médicos.

B. Metodologia dos experimentos:

Esfriava-se os sujeitos da experimentação pelo modo habitual (com roupa ou sem ela), em água fria, com temperaturas que variavam entre 4º C e 9º C. A temperatura retal de cada um dos sujeitos era registrada por meios termelétricos. A queda da temperatura se manifestava no intervalo de tempo habitual, dependendo do estado físico geral do sujeito da experimentação e da temperatura da água. Tirava-se da água os sujeitos da experimentação quando sua temperatura retal alcançava os 30º C. Chegado a esse ponto, todos os sujeitos haviam perdido a consciência. Em oito casos, foram colocados os sujeitos entre duas mulheres desnudas, em uma cama espaçosa. As mulheres deviam ficar o mais próximo possível da pessoa gelada. Depois, eram cobertos os três com mantas. Não se tentava acelerar o processo de reanimação com o uso de lâmpadas ou remédios.

C. Resultados:

1. Chama a atenção que, quando se tomava a temperatura do sujeito, havia ocorrido uma nova queda de até 3º C, ou seja, uma queda maior da que fora visto em qualquer outro método de reanimação. Observou-se, contudo, que o sujeito recuperava antes a consciência, ou seja, a uma temperatura corporal mais baixa que com outros métodos de reaquecimento. Uma vez que o sujeito recuperasse a consciência, não voltava a perdê-la e em seguida compreendia a situação e se aproximava junto às mulheres desnudas. A partir de então, a subida de temperatura corporal era produzida com a mesma rapidez com a qual sujeitos de experimentação haviam sido reanimados lhes cobrindo com mantas. Houve quatro exceções nas quais os sujeitos da experimentação efetuaram ato sexual a temperaturas corporais entre 30º C e 32º C. Com esses sujeitos, a temperatura subiu muito rapidamente depois do ato sexual, o que podia ser comparado com a subida rápida da temperatura em uma banheira de água quente.

2. Outra série de experimentos girou em torno da reanimação de pessoas submetidas a frio intenso valendo-se de uma só mulher. Em todos esses casos a reanimação foi notavelmente mais rápida que a conseguida por duas mulheres. (…)
D. Conclusão:

Os experimentos de reanimação de sujeitos submetidos a frio intenso demonstraram que a reanimação mediante calor animal é muito lenta. (…) Dado que a exposição física prolongada a baixas temperaturas implica num risco de lesões internas, há de se escolher o método de reanimação que garanta a atenuação mais veloz de temperaturas perigosamente baixas. Este método, segundo nossa experiência, é o subministrado rápido e massivo de calor mediante um banho quente. (…)

Dachau, 12 de fevereiro de 1943.

Assinado: Doutor S. Rascher

Hauptssturmführer-SS


Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/16/doctores-del-infierno-mujeres-utilizadas-para-la-reanimacion/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (edição espanhola)
(livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 140-145; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos com veneno

Publicado em 23 junho, 2012

Os experimentos com veneno praticados nos campos de concentração de Buchenwald e Sachsenhausen no tinham o propósito científico de sanar, sino que se utilizaram para cronometrar quanto tardavam para sobreviver à morte e observar a dor e o sofrimento que o veneno provocava até o último momento. Os médicos alemães estavam estudando diversos métodos para matar seres humanos e o tempo que estes métodos requeriam.

(…)

O argumento da defesa em sua argumentação final na acusação de Mrugowsky foi que o uso de balas envenenadas por parte dos russos "havia feito aumentar o temor de que logo se utilizassem na frente (…) e de quanto tempo tardariam para estar disponíveis os antídotos para sua administração caso fossem necessários".

Em dezembro de 1943 se realizou a primeira série de experimentos para determinar a dose fatal de veneno do grupo dos alcaloides (substâncias orgânicas básicas contidas nas plantas). Administrou-se o veneno na comida de quatro prisioneiros russos, sem seu conhecimento. Os médicos alemães se colocaram atrás de uma cortina para observar suas reações. Os quatro sobreviveram, mas foram estrangulados lhes colocando em ganchos de parede de um crematório do campo de concentração para poder fazer a autopsia...

(…)

A prova 290 da acusação é um relatório de Mrugowsky, datado de 12 de setembro de 1944, no qual ele descreve os experimentos levados a cabo com cinco presos aos quais lhes foram disparados balas que continham veneno cristalizado:
"Aos sujeitos da experimentação, colocados na horizontal, foi-lhes disparado na parte superior do músculo esquerdo. Em dois deles as balas atravessaram limpamente o músculo. Depois não se observou efeito algum do veneno. Esses dois sujeitos da experimentação foram portanto liberados (…). Os sintomas dos três condenados mostraram um parecer surpreendente. A princípio não se manifestou nenhum traço peculiar. Transcorridos entre vinte e vinte e cinco minutos se manifestou certa agitação motora e um ligeiro ptialismo [secreção de saliva], que acabou novamente. Passados entre quarenta e quarenta e cinco minutos se manifestou uma salivação maior. As pessoas envenenadas tragavam saliva repetidamente, mas posteriormente o fluxo de saliva aumentou até o ponto que não se remediar tragando. Saia saliva espumosa da boca. Depois começaram as náuseas e o afogamento.

Passados quarenta e oito minutos, já não se sentia o pulso de dois deles (…). Uma das pessoas envenenadas tentou vomitar. (…)

Os outros dois sujeitos da experimentação já tinham a cara pálida. Os demais sintomas eram iguais. A agitação motora aumentou tanto que as pessoas saltavam, moviam os olhos em círculos e faziam movimentos sem sentido com braços e mãos. Finalmente, a agitação diminuiu, as pupilas se dilataram ao máximo e os condenados ficaram imóveis (…) A morte veio passados 121, 123 e 129 minutos depois da entrada do projétil".
Demorou até duas horas e nove minutos para assassinar essas pessoas.

Ainda que oss imputados Genzken, Gebhardt, Mrugowsky e Poppendick tenham sido acusados por conduta criminosa relativa a este experimento, só Mrugowsky foi condenado.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/23/doctores-del-infierno-experimentos-con-veneno/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 247-250; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

As vítimas esquecidas da anatomia nazista

As vítimas esquecidas da anatomia nazi
Victoria Gill. BBC; Segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Liane Berkowitz

Liane Berkowitz foi executada pelos nazis
e seu corpo foi utilizado para experimentação
de cientistas anatomistas.
Liane Berkowitz tinha só 19 anos quando foi executada pelos nazis.

Foi presa em 1942 pela Gestapo, a polícia secreta, quando pegava cartazes com mensagens contra a propaganda nazi.

Estava grávida, mas isto só postergou sua execução até depois que desse a luz a seu bebê.

A sombria história de Liane não acabou com sua morte. Seu corpo foi um dos milhares que foram dissecados por anatomistas e utilizados para seus experimentos.

A identidade destas vítimas do horror nazi agora sai a luz graças aos pesquisadores que rastreiam os registros legais para identificar quem acabou nas mesas de trabalho de anatomistas do regime.

Liane foi uma das 182 pessoas cujos cadáveres foram analisados por Hermann Stieve, que naquele momento era um renomado especialista da Universidade de Berlim.

Os nomes completos da chamada "lista de Stieve" – composta principalmente por mulheres – acabam de ser publicados por Sabine Hildebrant, una anatomista alemã que trabalha na Universidade de Michigan.

"O mesmo Stieve elaborou esta lista em 1946", explica a doutora Hildebrant, que levou uma década pesquisando a história da anatomia alemã. O detalhado registro de Stieve com seu macabro trabalho permitiu identificar suas vítimas.

Hildebrant centrou seus esforços para contra as histórias dessas pessoas.

"Queria saber quem eram", disse a pesquisadora consultada pela BBC, "queria que fossem conhecidas outra vez".

Trauma e estresse

Vera Obolensky e Libertas Schulze-Boysen


Muitas das vítimas da lista de Stieve eram mulheres
e membros da resistência, como Vera Obolensky
e Libertas Schulze-Boysen.
Stieve estava interessado especialmente na anatomia reprodutiva. Por isso a maioria de suas vítimas foram mulheres.

"Antes de 1933 podia se estudar os cadáveres de homens que haviam sido executados, mas não mulheres, já que a Alemanha não executava mulheres".

"Mas repentinamente, durante o Terceiro Reich, começaram a fazê-lo".

Cerca da metade dessas mulheres, entre elas Liane Berkowitz, foram condenadas a morte acusadas de traição.

Algumas foram denunciadas à Gestapo por outros cidadãos depois de expressar suas ideias políticas contrárias ao nazismo.

William Seidelman, ex-professor de medicina da Universidade de Toronto, Canadá, também dedicou anos à pesquisa dos laços entre a "medicina e o "assassinato" no Terceiro Reich.

Num artigo acadêmico de 1999 publicado em "Dimensions: A Journal of Holocaust Studies", Seidelman revelou alguns detalhes sobre como Stieve trabalhou em estreita colaboração com a prisão berlinense na qual se realizava as execuções.

"Quando uma mulher em idade reprodutiva ia ser executada, informavam a Stieve, escolhia-se uma data e era comunicada à prisioneira quando ela iria morrer", escreveu o professor Seidelman.

"Stieve estava particularmente interessado nos efeitos do estresse e do trauma psicológico nos ciclos menstruais das mulheres condenadas".

Depois da execução, os órgãos pélvicos da mulher eram extraídos para ser examinados. Stieve publicou relatórios baseados nesses estudos sem nenhum remorso ou desculpa", disse Seidelman.

Stieve se referia aos órgãos que analisava como "material". Suas publicações de então foram as primeiras a sugerir que o estresse - encarnado em nada menos que uma sentença de morte - interrompia o ciclo menstrual.

Em sua missão de revelar a vida das pessoas por detrás desse "material", a doutora Hildebrandt revisou os arquivos pessoais das vítimas de Stieve, que são guardados no museu do Monumento à Resistência Alemã de Berlim.

Hildebrant analisou cada arquivo junto a uma cópia da lista de Stieve que é mantida no Ministério de Justiça alemão, e identificou a cada uma das pessoas.

Comprovou os nomes de 174 mulheres e oito homens da lista, as datas exatas de nascimento e óbito, as nacionalidades, as razões de sua execução e qualquer outra informação pessoal que pode encontrar.

Alguns dos arquivos contém cartas que expressam os últimos desejos dos prisioneiros condenados, como os de "se reunir com seus entes queridos na morte", segundo explica a pesquisadora.

Uma dessas cartas era de Libertas Schulze-Boysen, que havia sido membro do partido nazi, mas em 1937 se uniu à resistência alemã e documentou e coletou evidências fotográficas dos crimes do nacional-socialismo.

Libertas foi presa em setembro de 1942 e condenada à morte por traição em dezembro do mesmo ano.

Numa carta para sua mãe, escreveu: "Como último desejo pedi que lhe entreguem minha 'substância material' (restos mortais). Se for possível, enterrem-me em um lugar bonito, ensolarado e rodeado pela natureza".

EXPERIMENTOS NAZIS

De acordo com o historiador médico Paul Weindling, quase 25.000 vítimas dos experimentos científicos nazis foram identificadas.

Weindling disse que houve distintas "fases" desses experimentos". A primeira esteve ligada à eugenia e à esterilização forçada.

A segunda fase coincidiu com o início da guerra. "Os doutores começaram a experimentar com pacientes de hospitais psiquiátricos", escreveu o professor Weindling em uma reportagem à BBC. "Fizeram experimentos esporádicos em campos de concentração como o de Sachsenhausen, próximo de Berlim, e observações antropológicas em Dachau."

A terceira fase começou em 1942, quando a SS (a polícia militar nazi) e o exército alemão tomaram o controle da experimentação científica. Aumentou o número de provas nos quais se inocularam doenças mortais como malária e tifo, esta uma doença epidêmica para milhares de vítimas.

Durante uma quarta fase em 1944-45, explica o doutor Weindling, "os cientistas sabiam que a guerra estava perdida mas continuaram com seus experimentos".

O MACABRO ATLAS DE PERNKOPF

Eduard Pernkopf, diretor de Anatomia da Universidade de Viena entre 1933 e 1945 e membro do Partido Nazi, utilizou cadáveres de prisioneiros executados para seus estudos e registrou isso em seu atlas de anatomia.

As detalhadas ilustrações que ele detinha o fizeram famoso entre os estudantes de anatomia.

Pernkopf trabalhou 18 horas diárias dissecando cadáveres enquanto uma equipe de artistas criava as imagens. Levou mais de vinte anos para terminar seu livro.

Tal como Sabine Hildebrandt escreveu em um artigo de 2006 na publicação Clinical anatomy, este projeto revelou "o traslado de ao menos 1.377 corpos de pessoas executadas no Instituto Anatômico de Viena" durante o Terceiro Reich.

"O possível uso desses cadáveres como modelos não se pode descartar em ao menos metade das quase 800 lâminas do atlas".

História obscura

Hildebrant disse que sua investigação deixou "dolorosamente" em evidência o pouco que interessava então a anatomistas o destino das pessoas cujos corpos estavam dissecando.

Por associação, é uma mancha na pesquisa anatômica alemã.

Dos 31 departamentos de anatomia na Alemanha e nos territórios ocupados entre 1933 e 1945, a especialista descobriu que "em todos eles, sem exceção, receberam cadáveres das câmaras de execução".

Este tema no chamou a atenção pública senão há apenas duas décadas.

O professor Seidelman conta que em 1989 um acadêmico anatomista da Universidade de Tubinga indicou em uma conferência que os espécimes que estavam mostrando eram de trabalhadores escravos poloneses e russos executados durante o Terceiro Reich.

Segundo explicou Seidelman à BBC, "os estudantes estavam comocionados e exigiram uma explicação".

A universidade iniciou uma investigação formal. Todas as mostras anatômicas de "origem incerta ou suspeita" foram sepultadas em uma seção especial do cemitério de Tubinga e em 8 de julho de 1990 foi realizada uma cerimônia comemorativa.

Várias universidades realizaram pesquisas formais sobre a obtenção de corpos durante o auge do nazismo em seus próprios departamentos de anatomia.

Instituições da Áustria estiveram envolvidas.

"A Universidade de Viena teve um bonde fúnebre especial que transportava os cadáveres da sala de execução do tribunal regional para o instituto de anatomia", disse o professor Seidelman.

Eduard Pernkopf, que foi diretor de anatomia entre 1933 e 1945, deixou um legado impresso em um tomo acadêmico de duvidosa fama. Muitas das ilustrações incrivelmente detalhadas do atlas de Pernkopf retratam os corpos de vítimas do terror nazi.

Seidelman disse que os pesquisadores estão ainda em "uma fase muito prematura do processo de revelar as histórias daquelas pessoas que se converteram em 'material experimental'".

"Converteram-se em objetos inanimados", disse.

Hildebrant afirma que este tema ainda projeta uma sombra sobre a ciência anatômica e opina que "a anatomia alemã do pós-guerra foi construída em parte sobre os corpos das vítimas".

"É hora de devolver os nomes aos números, de dar rostos e biografias às vítimas da anatomia do Terceiro Reich para recordar sua humanidade e as injustiças que tiveram que enfrentar", conclui.

Fonte: BBC Mundo (em espanhol)
Título original: Las víctimas olvidadas de la anatomía nazi
http://www.bbc.co.uk/mundo/noticias/2013/02/130128_historia_victimas_anatomistas_nazis_np.shtml
Tradução: Roberto Lucena

sábado, 16 de novembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos com sulfanilamida

Publicado em junho, 2012

Depois das baixas, em grande número, que a gangrena gasosa causou na frente russa no inverno de 1941-1942, a raiz do ataque alemão à Rússia conduziram experimentos com sulfanilamida para avaliar se o dito remédio poderia ser usado com os soldados no campo de batalha a fim de melhorar suas possibilidades de sobrevivência durante os longos traslados aos hospitais de base. Os Aliados chamavam a sulfanilamida de "medicamento milagroso". Os soldados alemães, que ouviram falar disto, perguntavam a seus oficiais médicos porque eles não a usavam. Se não podiam curar as feridas no campo de batalha, era preciso dispor de hospitais de campanha para intervi cirurgicamente nos soldados na frente.

Para comprovar a efetividade da sulfanilamida em infecções, realizaram experimentos no campo de concentração feminino de Ravensbrück entre 20 de julho de 1942 e agosto de 1943.

Quinze reclusos homens e sessenta reclusas de nacionalidade polonesa foram submetidos aos experimentos, (…)

Era feito no músculo uma incisão de uns dez centímetros de largura, introduziam bactérias infecciosas na ferida e posteriormente se colocava lascas de madeira. Depois de cada experimento inicial, procurava-se agravar a infecção gangrenosa. (…) Nesses experimentos se interrompia a circulação de sangue pelos músculos na zona de infecção amarrando os músculos por ambos os lados. Esta série de experimentos resultaram em infecções muito graves e várias mortes. (…)

Quatro mulheres poloneses submetidas a esses experimentos testemunharam ante o tribunal. Só foram usadas reclusas sãs, nenhuma delas voluntária.(…)

Todas as reclusas sofreram fortíssimas dores. O tribunal pode ver as mutilações as quais foram submetidas as mulheres poloneses que atuaram como testemunhas. Contribuíram como provas, fotografias de suas cicatrizes que passaram a fazer parte permanente do sumário.

A imputada Oberheuser ordenou que não dessem remédios, nem morfina, a muitas das vítimas. As bandagens só eram colocadas de vez em quando, o que causava um espantoso odor de pus nas habitações.



Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/20/doctores-del-infierno-experimentos-con-sulfanilamida/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (edição espanhola)
(livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 183-186; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos com bombas incendiárias

Publicado em 24 junho, 2012

O doutor Ding-Schuler dirigiu os experimentos com bombas incendiárias em Buchenwald. O propósito desses experimentos era comprovar a eficácia de um preparado com dissolvente líquido de tetracloreto de carbono, denominado R-17, e outros líquidos ou pomadas dermatológicas para combater as feridas e queimaduras de guerra causadas pelas bombas incendiárias arrojadas no campo de batalha. Se tivessem sucesso, essas pomadas seriam distribuídas em ambulatórios de socorro contra ataques aéreos a todas as vítimas potenciais dessas bombas.

Entre 19 e 25 de novembro de 1943, o doutor Ding selecionou "cinco sujeitos para experimentação [os quais] foram queimados premeditadamente com fósforo prendido extraído de uma bomba incendiária. As queimaduras resultantes foram muito severas, as vítimas sofreram dores atrozes e lesões permanentes". [Nuremberg Military Tribunals: The Medical Case, vol. 1 pág. 640].

(…)

Em seu testemunho, o doutor Mrugowsky afirmou:
- Depois de um tempo considerável sem notícias do oficial médico, e a propósito dar a conhecer o remédio R-17 aos ambulatórios de socorro contra ataques aéreos, perguntei-lhe a respeito em uma reunião. Ele me disse então que não podia introduzir o remédio porque só possuía propriedades de dissolução do fósforo, mas não contribuía diretamente para a cura das queimaduras.

Ainda que os imputados Genzken, Gebhardt, Mrugowsky e Poppendick fossem acusados de responsabilidade destacada e participação em experimentos com bombas incendiárias constitutivos de delito criminoso, todos eles foram absolvidos.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/24/655/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno"
(livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 251-254; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Doutores do interno: experimentos com infecções

Publicado em 25 junho, 2012

Em Dachau e Auschwitz, no outono de 1942 foram levados a cabo experimentos com inflamação e infecção simulando feridas de guerra e intervenções cirúrgicas. Infectava-se artificialmente com pus a reclusos dos campos de concentração, procedimento este que produzia terríveis dores. A metade recebeu tratamentos bioquímicos, e a outra metade foi tratada com sulfanilamida. Os casos de maior gravidade as pessoas se negavam a tomar os comprimidos bioquímicos porque era pedido que elas tomassem isso a cada cinco minutos, durante todo o dia e toda a noite; um tratamento terapêutico desumano.

Numa série de experimentos se usou vinte reclusos alemães, dos quais sete morreram. Numa segunda série, infectou-se quarenta sacerdotes de diversas nacionalidades, morreram doze.

Testemunho de acusação de Heinrich W. Stoehr, enfermeiro e recluso do campo de concentração de Dachau, feito em 17 de dezembro de 1946.

(…)
"Principalmente se tratava o flemón (gangrena). Era muito comum no campo. Ou seja, o flemón (gangrena) era a típica enfermidade do campo. O tratamento era conduzido da seguinte maneira: observavam-se três casos parecidos. A um deles se dava tratamento alopático, a outro o bioquímico e o terceiro recebia só o tratamento cirúrgico normal. Ou seja, o terceiro não recebia nenhum remédio e se tratava a ferida de maneira habitual, com bandagens etc (…)

Durante o outono, um tal de doutor Schuetz disse ao médico do campo, que se chamava Babo, que ele infectara a várias pessoas com pus. (…)"
Os imputados Poppendick, Oberheuser e Fischer foram absolvidos desta acusação. Gebhardt, outro dos acusados, declarou não ter conhecimento prévio desses experimentos ao ser interrogado por seu advogado. Contudo, ele se declarou culpado das segundas acusações (crimes de guerra), terceiras (crimes contra a humanidade) e quarta (pertencia à SS) do texto de acusação, devido a sua implicação não só nesses experimentos com gangrenas, senão com outros doze experimentos já descritos. Foi sentenciado a morrer na forca.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/25/659/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 255-259; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos com fenol

Publicado em 26 junho, 2012

Foi este o terceiro grupo de experimentos que não aparecia descritos expressamente no texto de acusação, mas que ainda assim foram ajuizados devido à existência de provas que colocavam de manifesto a comissão de atos desumanos e atrocidades.

O propósito deste experimento consistia em comprovar a tolerância do soro composto de fenol em soldados afetados com gangrena gasosa. Tanto nos campos de concentração como no exército, buscava-se métodos preventivos contra a gangrena gasosa.

O fenol é um potente veneno corrosivo, e sua solução aquosa, o ácido carbólico, é utilizado como antisséptico. As injeções de fenol se converteram assim mesmo no método clínico para o assassinato em massa dentro do programa de eutanásia, sem o objetivo científico de sanar, senão o de melhor "restabelecer" a saúde do Volk alemão mediante a erradicação de todos os "elementos inferiores". Esta categoria laxa (larga) incluía a judeus, ciganos e eslavos; "vidas indignadas de serem vividas": enfermos, retardados, deficientes mentais, epiléticos, enfermos mentais, cegos e pessoas deformes; e "indesejáveis": delinquentes, homossexuais, alcoólicos e outros grupos.

(…)

O doutor Hoven, um dos acusados, testemunho em 24 de outubro de 1946 como médico chefe de Buchenwald (prova 281 da acusação):
"Em alguns casos supervisionei a morte desses reclusos imprestáveis mediante injeções de fenol, a petição dos reclusos. As mortes ocorreram no hospital de campo e vários reclusos me ajudaram. Em uma ocasião, o doutor Ding foi ao hospital assistir as mortes com fenol e disse que não estavam sendo feitas corretamente, assim que ele mesmo deu algumas injeções. Naquela ocasião foram mortas três pessoas com injeções de fenol, e os três morreram em menos de um minuto.

O número total de traidores que foram mortos fora de uns cento e cinquenta, dos quais sessenta morreram por injeções de fenol administradas por mim pessoalmente ou sob minha supervisão no hospital de campo, e os demais presos foram foram mortos de diversas maneiras; por espancamento, por exemplo"
As surras as quais se referia o doutor Hoven ocorriam porque alguns presos recebiam tratamento preferencial. Os reclusos aos quais eram dados postos-chaves no campo, normalmente eram encarcerados por motivos não "políticos", desfrutavam frequentemente de melhores condições de vida. Isso gerava inveja entre os reclusos menos favorecidos que provocavam represálias, inclusive o assassinato. Tal comportamento era comum nos campos de concentração. Hoven usa a palavra "traidor" para dar a entender que os sujeitos da experimentação eram presos políticos.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/26/doctores-del-infierno-experimentos-con-fenol/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 262 a 263; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

domingo, 3 de novembro de 2013

O julgamento dos médicos em Nuremberg

Os réus neste caso são acusados ​​de assassinatos, torturas e outras atrocidades cometidas em nome da ciência médica. As vítimas desses crimes são estimadas na ordem das centenas de milhares. Só um punhado ainda está vivo, alguns dos sobreviventes vão aparecer neste tribunal. Mas a maioria dessas vítimas miseráveis ​​foram abatidos em definitivo ou morreram no decorrer das torturas a que foram submetidos.

Para a maioria eles são mortos sem nome. Para seus assassinos, essas pessoas miseráveis ​​não eram considerados indivíduos. Eles vieram em lotes por atacado e foram tratados de forma pior que animais.*
Dessa forma o julgamento dos médicos começou. Este foi o início da declaração de abertura para a acusação, entregue pelo General de Brigada Telford Taylor em 9 de dezembro de 1946, que apresentou ao mundo as experiências terríveis e desnecessárias que foram realizadas por médicos nazistas. No julgamento estavam 22 homens e uma mulher acusados de participação nesses experimentos. A maioria eram médicos, apenas três não eram. Alguns haviam sido médicos eminentes, poucos eram produtos de sua geração. Como essas pessoas poderiam se voltar contra a humanidade?

Embora muitas vezes conhecido como o "Julgamento dos Médicos" e de "Caso Médico", o julgamento foi oficialmente designado de Estados Unidos da América vs. Karl Brandt. Realizado no Palácio da Justiça em Nuremberg, na Alemanha, o julgamento começou em 9 de Dezembro de 1946. Quatro juízes norte-americanos presidiram a sessão - Walter Beals, Johnson Crawford, Harold Sebring, e Victor Swearingen. O julgamento descreveu e documentou alguns dos experimentos médicos mais terríveis e dolorosos, incluindo os de tifo, água do mar, testes de alta altitude, o transplante de ossos, frio extremo, esterilização, balas envenenadas e a coleta de esqueletos.

Depois de ouvir 85 testemunhas e examinar 1.471 documentos que foram apresentados, o julgamento foi pronunciado em 19 de agosto de 1947, com a condenação seguindo no dia seguinte. Dos 23 acusados, sete foram condenados à morte por enforcamento (realizada na prisão de Landsberg), nove foram condenados à prisão e sete foram inocentados.

Réu
Hermann Becker-Freyseng
Wilhelm Beiglböck
Kurt Blome
Viktor Brack
Karl Brandt
Rudolf Brandt
Fritz Fischer
Karl Gebhardt
Karl Genzken
Siegfried Handloser
Waldemar Hoven
Joachim Mrugowsky
Herta Oberheuser
Adolf Pokorny
Helmut Poppendick
Hans Wolfgang Romberg
Gerhard Rose
Paul Rostock
Siegfried Ruff
Konrad Schäfer
Oskar Schröder
Wolfram Sievers
Georg August Weltz
Sentença
Prisão - 20 anos
Prisão - 15 anos
Inocentado
Morte - enforcamento
Morte - enforcamento
Morte - enforcamento
Prisão perpétua
Morte - enforcamento
Prisão perpétua
Prisão perpétua
Morte - enforcamento
Morte - enforcamento
Prisão - 20 anos
Inocentado
Prisão - 10 anos
Inocentado
Prisão perpétua
Inocentado
Inocentado
Inocentado
Prisão perpétua
Morte - enforcamento
Inocentado
Resultado final
Prisão - 10 anos
Prisão - 10 anos
Absolvido
Executado em 2 de junho, 1948
Executado em 2 de junho, 1948
Executado em 2 de junho, 1948
Prisão - 15 anos
Executado em 2 de junho, 1948
Prisão - 20 anos
Prisão - 20 anos
Executado em 2 de junho, 1948
Executado em 2 de junho, 1948
Solta em abril de 1952
Absolvido
Solto em 31 de janeiro, 1951
Absolvido
Prisão - 15 anos
Absolvido
-
Absolvido
Prisão - 15 anos
Executado em 2 de junho, 1948
-

* Declaração de abertura do julgamento pelo General de Brigada Telford Taylor como citado em George J. Annas e Michael A. Grodin, The Nazi Doctors and the Nuremberg Code [Os médicos nazistas e o Código de Nuremberg] (New York: Oxford University Press, 1992), página 67.

Todas as fotografias são cortesia do Museu Memorial do Holocausto dos EUA (Fotos de arquivo)

Fotografia da coleção de Hedy Epstein, cortesia dos Arquivos de foto do USHMM.
Descrição da foto: Médicos nazistas como réus no julgamento dos médicos (Caso #1 dos Processos Subsequentes de Nuremberg) estão sentados no local dos prisioneiros numa sessão do julgamento. (09 de dezembro de 1946 a 20 de agosto de 1947)


Bibliografia:

- Annas, George J. and Michael A. Grodin. The Nazi Doctors and the Nuremberg Code: Human Rights in Human Experimentation. New York: Oxford University Press, 1992.

- Gutman, Israel (ed.). Encyclopedia of the Holocaust. 4 Vols. New York: Simon and Schuster, 1995.

Fonte: Site about.com (20th Century History)
Título original: The Doctors' Trial
http://history1900s.about.com/library/holocaust/aa052998.htm
Tradução: Roberto Lucena

Observação: o comentário que estava aqui sobre cobaias de laboratório foi removido para este post
Sobre cobaias de laboratório e humanos, e o caldo da segunda guerra

domingo, 4 de novembro de 2012

Quem foi Joseph Mengele?

Algumas das imagens mais marcantes de Auschwitz são as terríveis cenas da chegada de transportes de judeus para aquele campo de concentração. Em meio ao caos e o desespero estava uma figura solitária em imaculados uniformes e luvas brancas impecáveis,  inspecionando os presos e acenando um de cada vez para um lado ou para o outro com o seu chicote. De um lado estava a fome, a brutalidade e a privação, mas também uma chance de sobrevivência. Do outro lado, a morte instantânea nas câmaras de gás. A figura assustadora que frequentemente tomava esta decisão, era Josef Mengele, um dos médicos designados para Auschwitz. Ele passou a simbolizar a maneira que a medicina tornou como uma ferramenta para o genocídio.

Mengele nasceu na Baviera, pouco antes da Primeira Guerra Mundial em uma família de classe média alta que tinha um negócio de máquinas e ferramentas. Foi um estudante promissor, foi enviado a Munique em 1920, onde ele foi atraído pelas teorias raciais de Alfred Rosenberg, o "filósofo" do nacional-socialismo. Como Mengele tornou-se um adepto da ideologia nacional-socialista, ele mudou-se para Frankfurt-am-Main, onde recebeu seu diploma de medicina estudando com Otmar von Verschuer, o diretor do Instituto de Higiene Racial na Universidade de Frankfurt. A ênfase principal de sua pesquisa foi a importância da hereditariedade no contexto de "ciência racial" nazista. No momento em que terminou seus estudos, Mengele era tanto membro do Partido Nacional-Socialista como das SS. Ele era um fanático anti-semita e odiava os Roma e Sinti (ciganos), muito além do que ele odiava os judeus.

No início da Segunda Guerra Mundial, Mengele estava engajado com a Waffen-SS. Ele serviu como médico em várias unidades na invasão da União Soviética, recebendo quatro medalhas por sua ação. Depois de ser ferido e declarado impróprio para o serviço ativo, Mengele foi nomeado para servir como médico em Auschwitz, em maio de 1943. Mengele não era o médico-chefe de Auschwitz - que foi Eduard Wirths - mas Mengele tinha seu próprio laboratório em um bloco, financiamento independente e uma equipe de médicos presos que ele supervisionava.

Mais do que qualquer outro médico da SS designado para Auschwitz, Mengele parecia confortável com o regime cruel e com o processo de assassinato no campo. Mengele foi designado - como foram os outros médicos de Auschwitz – para supervisionar as "escolhas" na chegada dos transportes. Essas seleções determinavam quais seriam enviados imediatamente para as câmaras de gás, e quem iria se tornar prisioneiro do campo. Ao contrário de vários dos outros médicos, no entanto, ele parecia glorificado com o poder que lhe deram. Mengele carregava um chicote com que ele indicava vida ou morte para os presos que chegavam. Ele sempre usou a cultura sobre os prisioneiros e há relatos de uso de sua pistola para matar prisioneiros desobedientes. Ao contrário dos outros médicos, Mengele frequentemente estava presente nas rampas de chegada, quando ele não estava programado, ele certificava que suas ordens sobre os gêmeos que seriam enviados para o seu "laboratório" fossem realizadas.

Mengele, de acordo com outros médicos que serviram em Auschwitz, estava totalmente de acordo com a brutal administração de Auschwitz. Ele acreditava claramente que os prisioneiros eram menos humanos e colocou em prática essa crença. Há vários casos conhecidos onde Mengele pessoalmente assassinou presos com sua pistola ou com injeções fatais de fenol. A medida em que ele desviou dos padrões éticos da medicina é ilustrada por seu tratamento às 600 mulheres doentes que encontrou no "hospital" em sua chegada à Auschwitz. Ele ordenou que todas elas fossem imediatamente enviadas para as câmaras de gás. Mas não foi apenas a sua administração do departamento médico de Auschwitz que mereceu sua inclusão como um dos piores criminosos de Auschwitz. Foram as experiências que ele realizou em infelizes presos indefesos.

A paixão que atraiu Mengele para as rampas de chegada era a sua "coleção" de gêmeos. Tal como o seu mentor, o Dr. Verschuer, Mengele acreditava que se pares de gêmeos sem defeitos hereditários fossem cuidadosamente analisados, ​​um pesquisador poderia sintetizar uma determinação completa e confiável da hereditariedade e da relação "entre a doença, tipos raciais, e miscigenação." Esta pesquisa foi entusiasticamente apoiada pelo Dr. Verschuer que arranjou ajuda financeira para Mengele receber por seu trabalho. Mengele continuou sua cuidadosa medição nos gêmeos mesmo depois da interrupção de outros experimentos em Auschwitz.

A “coleção” de gêmeos de Mengele ficava alojada em um bloco especial onde os outros médicos da prisão o ajudavam - incluía um radiologista, um antropólogo, e um patologista – que cuidadosamente mediam e analisavam ​​os gêmeos. Os arquivos foram cuidadosamente dispostos e o último documento, o relatório da dissecção da vítima, sempre no topo. Principalmente porque Mengele considerava sua "base de dados" de grande valor científico, os gêmeos foram muitas vezes mais bem tratados do que outros prisioneiros em Auschwitz. Mengele os protegia das atribuições de trabalho duras e garantia que eles tivessem refeições adequadas, mas não importa o quão bem eles foram tratados, nunca Mengele pensava neles como pessoas. Eles sempre foram apenas sujeitos de sua pesquisa. E o passo final era de que a investigação sempre era um exame post-mortem. Mengele não teve pudores sobre tudo pessoalmente matando gêmeos como a etapa final de sua pesquisa. Ele é conhecido por ter matado gêmeos apenas para resolver uma discussão sobre o diagnóstico com outro médico.

O interesse experimental de Mengele não se limitou aos gêmeos. Além de sua pesquisa sobre os gêmeos, Mengele mantinha uma "coleção" de anões e pessoas (especialmente os judeus) com anormalidades genéticas que ele encontrava nas rampas de chegada. Ele estava especialmente interessado em uma condição chamada "noma", que é uma condição gangrenosa do rosto e boca, devido à debilitação extrema. Embora seja claro que esta doença rara foi causada, em Auschwitz, pelas condições do campo, Mengele tentou encontrar causas raciais e genética para a doença.

A última área de experimentação que Mengele atuou foi sua tentativa de mudar a cor dos olhos. Estes experimentos foram inteiramente de natureza racial. Começando com um interesse em prisioneiros com olhos de cores diferentes e presos com cabelo loiro e olhos castanhos, Mengele começou a injetar vários produtos químicos nos olhos de seus súditos experimentais. Cientificamente, é claro, não existe possibilidade de que a injeção de azul de metileno, pode alterar a cor dos olhos. O resultado foi só dor e infecções. Muitas das crianças eventualmente recuperavam da injeção, mas conduziam à morte num caso e, em outro na cegueira.

Além de suas experiências, Mengele assiduamente recolhia "espécimes" para o Dr. Verschuer. Sete pares de gêmeos com cores de olhos diferentes, por exemplo, foram mortos com injeções de fenol e, após a dissecção, os olhos enviados para seu mentor. Em 1944, Verschuer, enviou para o Instituto de Antropologia Kaiser Wilhelm uma proposta de nova pesquisa no qual ele afirmou:

Meu assistente, o Dr. Mengele juntou-me nesse ramo de pesquisa. Ele atualmente é Hauptsturmführer e médico do campo de concentração de Auschwitz. Investigações antropológicas sobre os mais diversos grupos raciais deste campo de concentração estão sendo realizadas com a permissão do Reichsführer SS [Himmler], as amostras de sangue são enviadas para análise no meu laboratório.

Na verdade, houve um fluxo constante de tais espécimes com os olhos acima mencionados para o Dr. Verschuer.

Com o fim da guerra Mengele se tornou um fugitivo. Ele nunca trabalhou como médico de novo. Ele eventualmente fugiu para a América do Sul - provavelmente com a ajuda de sua família - onde viveu como um homem caçado. Em 1985, quando morava no Brasil, ele sofreu um acidente vascular cerebral ao nadar e se afogou. Sua obra, como os outros "experimentos" realizados por outros médicos em Auschwitz, morreu com ele. Suas anotações e arquivos sobre os gêmeos nunca foram encontrados e o que se sabe é que eram cientificamente e clinicamente inútil.

Por onde começar sua pesquisa

O livro mais completo sobre como Josef Mengele e outros médicos foram afetados pela filosofia nazista é:

Robert Jay Lifton, The Nazi Doctors, Basic Books (1986)

Narrativas pessoais por gêmeos que sobreviveram experimentos de Mengele estão em:

Benno Muller-Hill, Murderous Science, Oxford University Press (1988)

Disputas contemporâneas de bioética nas áreas de genética médica, experimentação humana e eutanásia são explicados em:

Arthur L. Caplan (Ed.), When Medicine Went Mad, Humana Press (1992)

Relatos pessoais de experiências médicas realizadas em Auschwitz:

Lore Shelley (Ed.), Criminal Experiments on Human Beings in Auschwitz & War Research Lab, Mellen Research (1991)
Lucette Lagnado, Children of the Flames, William Morrow (1991).
Duas memórias de prisioneiros que fisicamente trabalharam com o Dr. Mengele:

Miklos Nyisli, Auschwitz: A Doctor's Eyewitness Account, Arcade Paperbacks (1960)
Gisella Perl, I Was a Doctor in Auschwitz, I.U.P. (1948)

Um site mantido por vítimas de experimentos médicos em Auschwitz:



Fonte: The Holocaust History Project
Tradução: Leo Gott

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