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domingo, 15 de novembro de 2015

Hilmar Wäckerle, primeiro comandante de Dachau

Hilmar Wäckerle na batalha de
Grebbeberg, Países Baixos. Original
de waroverholland.nl
Hilmar Wäckerle nasceu em 24 de novembro de 1899 em Forchheim, no norte da Baviera. Aos catorze anos, já começava a Grande Guerra, entrou na escola de oficiais do exército bávaro. Depois de três anos, antes de completar os 18, foi destinado ao regimento de infantaria da Bavária nº2, "Príncipe herdeiro" em agosto de 1917, um dos regimentos mais prestigiados (e com maior índice de baixas) do antigo Reino da Bavária.

Em setembro de 1918, o alferes (Fähnrich) Wäckerle foi ferido gravemente. Recuperou-se do armistício no hospital, longe do front, compartilhando desta forma a mesma experiência de Hitler. No pós-guerra, depois de ingressar no Freikorps Oberland, de 1921 a 1924, estudou engenharia agrícola na Universidade Técnica de Munique, ainda que não consta se se relacionou com quem fora seu condiscípulo de 1919 a 1922, Heinrich Himmler, um ano mais jovem. Hilmar também ingressou no NSDAP um ano antes que Himmler, mas deixou de pagar as cotas e se distanciou da política ao terminar seus estudos. Não solicitou ingressar na SS até 1929, quando Heinrich já era seu Reichsführer. Depois de dois anos de teste, foi admitido como SS-Mann com o número 9.729. Também voltou a ingressar no NSDAP em 1 de maio de 1931, com o número de 500.715. Hilmar nesses momentos era administrador de uma propriedade agrícola em Kempten. Seu irmão, Emil, também era membro da SS.

Em fevereiro de 1933, com Hitler recém nomeado chanceler em 30 de janeiro, Wäckerle chega a SS-Hauptsturmführer (capitão). Em março, Freidrich Jeckeln, chefe da SS do sul da Alemanha, nomeia-o comandante do primeiro campo de concentração da SS, em Dachau. Desde 30 de janeiro, por toda a Alemanha proliferou todo tipo de cárceres "selvagens", casas ou prisões onde Gauleiters (chefes do partido) e grupos da SA detinham e torturaram seus inimigos políticos. Nesses momentos o cargo oficial de Himmler é o de chefe da polícia da Bavária, e decide criar um grande campo centralizado para "reeducar" esquerdistas e inimigos do Estado. A desculpa é o incêndio do Reichstag, que se supõe a um chamamento de um levante comunista. Na realidade quem se levanta são os homens do NSDAP, com o apoio de outros grupos de extrema-direita, como o Stahlhelm.

A primeira denúncia contra Hilmar Wäckerle, como comandante de Dachau, foi feita por Sophie Handschuch pela morte de seu filho. Outros prisioneiros que morreram nesses primeiros dias foram o doutor Rudolf Benario, Fritz Dressel, Sepp Götz, Ernest Goldmann, Arthur Kahn e Erwin Kahn, além de Karl Lehrburger e Wilhelm Aron, judeus. A promotoria também determinou que Herbert Hunglinge havia se suicidado por não poder aguentar as condições de sua reclusão. Em maio, as investigações do promotor se ampliaram para as mortes de Sbastian Nefzger, Leonard Hausmann, o doutor Alfred Strauss e Louis Schloss, esses dois últimos, judeus.

Supõe-se que Himmler destituiu Hilmar Wäckerle de seu cargo em Dachau por todas essas mortes, ainda que só o fez pra manter as aparências. Também é possível que influíra que se conseguisse fugir um deputado comunista, que publicou em agosto o primeiro escrito sobre a vida e morte nos campos de concentração da Alemanha. De todas as formas, Wäckerle foi elevado a SS-Sturmbannführer (comandante) em 01 de março de 1934, menos de um ano depois de sua destituição em Dachau.

Desenvolveu o resto de sua carreira na Waffen-SS, e teve seu momento de glória na invasão dos Países Baixos, em maio de 1940, ao comando do III batalhão do regimento Der F6uhrer. Disfarçou seus homens com uniformes holandeses para tomar pontes de surpresa, e utilizou prisioneiros de guerra como escudos humanos. Estima-se que uns cinquenta prisioneiros holandeses morreram por este tipo de tática. Foi ferido duas vezes, e ainda que fora indicado para a cruz de cavalheiro da cruz de ferro, teve que se conformar com a cruz de ferro de 1ª classe.

Morreu numa emboscada no começo da Barbarossa, no comando da SS-Infanterie-Regiment Westland, da SS-Division (mot) Wiking próximo da atual Lviv, Ucrânia (Lemberg para os alemães, Lvov para os poloneses), em 2 de julho de 1941. Sua morte desencadeou um pogrom em 9 de julho na zona, no qual soldados de sua unidade mataram a uns 600 judeus.

Notas:

1. Tom Segev: Soldiers of Evil, Berkley Books, 1991, pg. 64-68
2. George H. Stein, Las Waffen-SS, pg. 272
3. Richard Rhodes, Los amos de la muerte. Los Einsatzgruppen y la solución final, Seix Barral pg. 109-111
4. A descrição mais detalhada do massacre para vingar sua morte, em Pontolillo, pg. 162
5. Site: http://www.waroverholland.nl/index.php?page=chapter-11---myth-and-reality

Fonte: Blog Antirrevisionismo (Espanha)
https://antirrevisionismo.wordpress.com/2015/11/14/hilmar-wackerle-primer-comandante-de-dachau/
Título original: Hilmar Wäckerle, primer comandante de Dachau
Tradução: Roberto Lucena

domingo, 29 de março de 2015

Werner Heyde. A psiquiatria nos campos de concentração, os Totenkopf e a Aktion T4

Werner Heyde figura nos livros de história do III Reich por dois motivos. Nas histórias militares, ou das SS, é o jovem psiquiatra que sanou as dúvidas de Himmler sobre a cordura (tolerância) e sanidade de de Theodor Eicke. A raíz de seus relatórios, Eicke deixou de estar recluso em uma clínica psiquiátrica, para ser nomeado comandante do maior campo de concentração (KZ) da Alemanha, Dachau, a partir de junho de 1933.

A partir daí, Eicke desenvolveu uma singular carreira como organizador de todo o sistema de campos de concentração do III Reich, previu o assassinato de Ernst Röhm na chamada Noite dos longos punhais. Em 1940, abandonou essas responsabilidades para liderar uma divisão com o pessoal de seus campos. Terminou morrendo no front, quando seu Storch foi derrubado em 26 de fevereiro de 1943. Talvez devido a essa morte prematura, todo o pessoal dos KZ, nos julgamentos pós-guerra, atribuíram a sua formação, a crueldade e dureza do sistema. Eles só seguiam as ordens de Eicke. Nada além disso.

Mas regressemos a Werner Heyde.

Werner Heyde ingressa no NSDAP em 01-05-1933 pela recomendação de Eicke, e participou no desenho e na realização prática dos programas de esterilização e eugenia. Começou trabalhando dois dias na semana nas SS-Totenkopfverbände, como chefe das unidades psiquiátricas dos KZ, ao mesmo tempo que era professor associado da Universidade de Würzburg. SS-Hauptsturmführer (capitão) em 1936, de 1939 a dezembro de 1941 foi o diretor médico da Aktion T4. A Aktion T4 consistiu em matar, segundo suas próprias cifras, a 70.273 doentes mentais alemães entre 1939 e 1941, sem incluir outras mortes e seleções no KZ. Heyde também trabalhou nas esterilizações forçadas.

Heyde perdeu seu cargo a frente da T4 ao ser acusado pelo SD de atividades homossexuais, que pelo visto reconheceu, alegando traumas infantis. Himmler considerou que era valioso demais para as SS e não o expulsou da organização. Tendo em conta seu enfoque prático nessas questões, sem dúvida pesou a favor de Heyde o fato de que estava casado desde 1927, de forma que sua homossexualidade não o impedia de ter filhos para o Reich. Heyde chegou a SS-Obersturmbannführer (tenente coronel), e no pós-guerra seguiu trabalhando como médico e perito judicial sob nome falso. Descoberto e acusado, suicidou-se na prisão de Butzbach em 13-02-1964.

Bibliografia:

Michael Burleigh: Death and Deliverance. Euthanasia in Germany 1900-1945. Pan Books, Londres 2002, pg. 116-120. (1º ed. 1994 Cambridge University Press).

French MacLean: The Camp Men, Schiffer Militay History, Atglen, PA, 1999. Pg. 108.

Verbete da Wikipedia alemã (a Wikipedia inglesa, consultada em 16-02-15 contém muitos erros).


Werner Heyde no momento de sua detenção em 1959. Fonte: http://historyofmentalhealth.com/

Fonte: blog Antirrevisionismo (Espanha)
Título original: Werner Heyde. La psiquiatría en los campos de concentración, los Totenkopf y la Aktion T4
https://antirrevisionismo.wordpress.com/2015/02/16/werner-heyde-la-psiquiatria-en-los-campos-de-concentracion-los-totenkopf-y-la-aktion-t4/
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Doutores do inferno: os acusados do caso médico

Publicado em 13 junho, 2012
Sessão do julgamento dos médicos em Nuremberg, 1946.

Na imagem aparem 23 acusados no caso médico dos julgamentos de Nuremberg.
Na parte inferior aparecem os advogados da defesa e na parte direita superior os tradutores.

Em muitos casos, os acusados eram destacados cientistas alemães, médicos e cirurgiões-chefes em clínicas, institutos médicos, hospitais e universidades de toda a Alemanha. Foram os médicos e auxiliares médicos dos campos de concentração que levaram a cabo ou participaram dos truculentos experimentos médicos de Auschwitz, Dachau, Buchenwald, Ravensbrück, Sachsenhausen, Natzweiler, Bergen-Belsen, Treblinka e outros.

O que segue abaixo é uma breve descrição de cada um dos acusados:

1. Karl Brandt, general de divisão da SS; médico pessoal de Hitler e artífice principal do programa que converteu médicos em torturadores e assassino, em que pese haver comprometido tratar e curar mediante o juramento hipocrático.

2. Siegfried Handloser, tenente general, Serviços Médicos.

3. Paul Rostock, cirurgião chefe da Clínica de Cirurgia de Berlim

4. Oskar Schroeder, chefe de Serviços Médicos da Luftwaffe (Força Aérea alemã)

5. Karl Genzen, chefe do Departamento Médico da Waffen-SS.

6. Karl Gebhardt, general de divisão da Waffen-SS e presidente da Cruz Vermelha alemã.

7. Kurt Blome, plenipotenciário para Investigação Oncológica.

8. Rudolf Brandt, secretário pessoal do Reichführer SS Heinrich Himmler.

9. Joachim Mrugowsky, higienista chefe do Serviço Médico da SS.

Herta Oberheuser
10. Helmut Poppendick, chefe do Corpo Médico da SS.

11. Wolfram Sievers, diretor da Sociedade Ahnenerbe.

12. Gerhard Rose, general de brigada do Serviço Médico da Força Aérea.

13. Siegfried Ruff, diretor do departamento para Medicina de Aviação do Instituto Experimental.

14. Hans Wolfgam Romberg, médico do Instituto Experimental Alemão para Aviação.

15. Viktor Brack, chefe de administração da Chancelaria do Führer.

16. Herman Becker-Freyseng, chefe do Departamento para Medicina da Aviação.

17. George August Weltz, chefe do Instituto para Medicina da Aviação.

18. Konrad Schaefer, médico do Instituto para Medicina da Aviação.

19. Waldemar Hoven, médico chefe do campo de concentração de Buchenwald.

20. Wilhem Beiglboeck, assessor médico da Força Aérea.

21. Adolf Pokorny, médico especialista em enfermidades de pele e doenças venéreas.

Mengele
22. Herta Oberheuser, doutora do campo de concentração de Ravesnsbrück.

23. Fritz Fischer, auxiliar médico do acusado Gebhardt.

Dos acusados que se sentaram no banco dos réus, vinte eram médicos e três não: Rudolf Brandt, Wolfram Sievers e Vicktor Brack. Os acusados podiam ser divididos em três grupos principalmente. Oito eram membros do serviço médico da Força Aérea alemã. Sete pertenciam ao serviço médico da SS. Oito (incluídos os três que não eram doutores) ocupavam posições relevantes dentro da hierarquia médica.

(…)

Dos cerca de 350 médicos que se estima terem cometido delitos contra a saúde, só esses vinte doutores e três auxiliares foram levados ante a justiça e se sentaram no banco dos réus no caso médico de.

Houve outros médicos processados, chegando a ser condenados e sentenciados à morte na forca em outros julgamentos militares norte-americanos celebrados em Dachau. Muitos escaparam, contudo; entre eles, o mais célebre e perverso, o doutor Josef Mengele, o Anjo da Morte, que realizou experimentos com crianças (frequentemente gêmeos) e os matou em Auschwitz. Mengele conseguiu se esconder na Baviera até que pode fugir para a América do Sul.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/13/doctores-del-infierno-los-acusados-del-caso-medico/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 95-99; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena
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Observação: muitos negacionistas (pró-nazis e fascistas ou simpatizantes, a extrema-direita fáscio), e diria que a maioria plena deles, contorcem-se quando citam este julgamento dizendo que houve um "linchamento" em Nuremberg ou algo parecido a um "linchamento", quando na verdade houve uma tremenda impunidade (dos estimados 350 médicos envolvidos em crimes, menos de 23 sentaram no banco dos réus e boa parte dos condenados foram soltos). Fico pasmo como muitas pessoas aceitam passivamente esse tipo de afirmação falsa quando algum desses "revis" bradam coisas desse tipo.

A maioria dos médicos nazistas e auxiliares que participaram de experiências (atrocidades) com humanos não chegaram a sentar no banco dos réus (ficaram livres) e muitos dos que sentaram foram soltos logo depois na Alemanha Ocidental (que era a parte alinhada ao bloco capitalista, da Alemanha dividida na Guerra Fria, a Alemanha Oriental era alinhada obviamente ao Bloco Socialista).

Há inclusive um livro do "revi" Carlos Whitlock Porter com o título cínico de "Não culpados em Nuremberg" (aviso que o site do Porter contém várias imagens e textos antissemitas, pra variar... depois os "revis" ainda negam que sejam antissemitas), com distorções de cima abaixo e as abobrinhas habituais de apologistas do nazismo.

Inclusive muitos "revis" (pra confirmar que a maioria não sabe nada de segunda guerra) desconhecem os Julgamentos de Tóquio (link1, link2) pra julgar atrocidades japonesas na segunda guerra, sendo que este julgamento foi um festival de impunidade ainda pior que o de Nuremberg. Muitos "revis" acham que só ocorreram julgamentos com nazistas, nunca ou quase nunca citam os julgamentos de Tóquio.

De fato não houve justiça em Nuremberg, mas não a "injustiça" alegada pelos "revis" (coxinhas de suástica) e sim impunidade pela não punição adequada a pilhas de criminosos nazistas.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos em altitudes elevadas

Publicado em 14 junho, 2012

Os experimentos relativos a altitudes elevadas tinham como objetivo pôr a prova os limites da resistência e da vida humanas em altitudes extremamente elevadas, com e sem oxigênio. Isto foi conduzido pela Força Aérea alemã no campo de concentração de Dachau entre março e agosto de 1942, aproximadamente. Tinham como propósito reproduzir as condições atmosféricas que o piloto alemão poderia encontrar em combate ao cair de grandes distâncias sem paraquedas e sem fonte de oxigênio. Esses experimentos foram realizados colocando a vítima numa câmara hermética de baixa pressão provida pela Luftwaffe, e simulando as condições atmosféricas e de pressão de altitudes até num máximo de vinte mil metros.

A iniciativa partiu do médico da Luftwaffe Sigmund Rascher, que em 15 de maio de 1941 propôs ao chefe da SS, Heinrich Himmler, levar a cabo este tipo de experimentos criminosos. Himmler autorizou os experimentos de boa vontade. Os experimentos de combate aeronáutico e naval, assim como os experimentos de resgate, centraram-se principalmente nessas provas de simulação de altitudes elevadas (acima de dez mil metros, assim como em provas de exposição ao frio e relativas à capacidade humana de metabolizar água marinha tratada (…)

Nos documentos, os seres humanos da experimentação aparecem mencionados com as siglas VP (Versuchsperson, que quer dizer, "sujeito de experimentação"). Os cerca de duzentos sujeitos foram escolhidos aleatoriamente. Entre os selecionados havia civis russos, prisioneiros de guerra russos, poloneses, judeus de diversas nacionalidades e presos políticos alemães. Desses duzentos, não mais que quarenta haviam sido condenados à morte. (O fato de que os sujeitos dos experimentos houvessem sido sentenciados à pena capital foi esgrimido como argumento pelos imputados para justificar suas mortes.) Setenta e oito pessoas morreram como consequência dos experimentos. O doutor Rascher prometeu a alguns reclusos que, se se oferecessem como voluntários, seriam liberados; por conta disto alguns se ofereceram voluntariamente. Só que a tal promessa nunca foi cumprida.

Um relatório redigido em maio de 1942 descreve como em alguns desses testes se utilizaram delinquentes habituais judeus que haviam sido condenados por Rassenschande, ou seja, literalmente, "vergonha racial". A vergonha racial, tal e como definiam os alemães, era o matrimônio ou a relação carnal entre os arianos e os não-arianos (entendendo por "arianos" os alemães de "sangue puro").

O acusado Weltz tinha jurisdição sobre as atividades do doutor Rascher. É interessante anotar que Weltz havia se colocado em contato com os renomados especialistas no campo da medicina aeronáutica, o doutor Lutz e o doutor Wendt, para que tomassem parte nesses experimentos. Ambos se negaram por motivos morais e afirmaram que as diferenças de comportamento entre seres humanos e animais não bastavam para justificar a realização de perigosos experimentos com pessoas.

George August Weltz, chefe do instituto de medicina
para aviação em Munique. Foi declarado inocente
da acusação de ser responsável dos experimentos
com grande altitude e congelamento. Fonte: USHMM
(…)

Os imputados Weltz, Ruff, Romberg, Rudolf Brandt e Sievers participaram nos experimentos de simulação de queda de paraquedas. A câmara de baixa pressão móvel na qual se obrigava a entrar os seres da experimentação foi transportada do instituto do acusado Ruff em Berlim, até Dachau. As vítimas eram fechadas uma a uma no habitáculo hermético e circular. Prontamente a pressão variava para reproduzir as condições atmosféricas até um máximo de 20.670 metros de altitude. Podia-se ou não subministrar oxigênio adicional às cobaias.

(…)

Os documentos fotográficos exibidos como provas não respaldavam o argumento dos acusados segundo o qual, ainda que os experimentos pudessem provocar a morte da pessoa, não implicavam em tortura física nem sofrimento. Algumas filmagens confiscadas pelos alemães que mostravam convulsões espasmódicas e expressões de sofrimento e dor contradizem por completo este argumento.

(…)

Outro argumento esgrimido pelos acusados foi a “necessidade do Estado” (…)

Até que ponto foram científicos os experimentos de simulação em altitudes elevadas? Na prova 66 da acusação relativa a "Experimentos de simulação em altitudes elevadas", um relatório assinado pelo doutor Rascher e o imputado Romberg, afirmava:

“Posto que era evidente a urgência de resolver o problema, sobretudo tendo em conta as condições dadas do experimento, foi necessário prescindir naquele momento do esclarecimento total sobre questões puramente científicas".

Esta afirmação demonstra que os acusados sabiam que os experimentos não eram científicos e que não cumpriam o que era estipulado pelos protocolos médicos a respeito da voluntariedade do sujeito da experimentação. Resumindo, entre 180 e 200 vítimas foram submetidas a este experimento, com o resultado de graves lesões físicas e entre 70 e 80 mortes.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/14/doctores-del-infierno-experimentos-con-altitudes-elevadas/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 113-129; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

sábado, 30 de novembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos de congelamento em Dachau

Publicado em 15 junho, 2012

Os experimentos de congelamento ocorreram em Dachau entre agosto de 1942 e maio de 1943, aproximadamente, para proveito da Luftwaffe. Tratava-se de investigar como tratar pessoas que haviam sofrido hipotermia ou haviam estado submetidas a um frio intenso.

Realizaram experimentos em água gelada e terra seca que reproduziam as condições de frio extremo que padeciam os pilotos alemães cujos aviões se chocavam no mar, ou as tropas do exército alemão que lutavam a temperaturas abaixo de zero em meio a grossa capa de neve. Tinham como objetivo pôr a prova distintos modos de reanimar os aviadores e soldados alemães.

Os acusados Karl Brandt, Handloser, Schroeder, Gebhardt, Rudolf Brandt, Mrugowsky, Poppendick, Sievers, Becker-Freyseng e Weltz foram acusados de conduta criminosa por dirigir esses experimentos.

A acusação partiu para o Departamento de Medicina da Aviação, a quem era responsável o então imputado Becker-Freyseng.

(…)

Nos experimentos com água gelada (entre 360 e 400) utilizaram-se uns 280 ou 300 presos políticos, cidadãos estrangeiros e prisioneiros de guerra. Morreram entre 80 e 90 sujeitos. Rascher conduziu os experimentos adicionais, servindo-se de outros 50 ou 60 sujeitos. Deles, morreram entre 15 e 18.

Não há melhor modo de descrever esses experimentos que acudir as declarações da testemunha Walter Neff, um prisioneiro do campo de concentração que atuou como auxiliar. Neff foi interrogado entre 17 e 18 de dezembro de 1946 pelo promotor James McHaney.

(…)

Testemunha: – a banheira de experimentação estava cheia de madeira. Tinha dois dois metros de comprimento por dois de largura. Erguia-se a uns cinquenta centímetros do chão e ficava no barracão número 5. Tanto na câmara de experimentação como na banheira havia muitas lâmpadas e outros aparatos que eram usados para tomar medidas (…)

Testemunha: – as banheiras se enchiam de água e se acrescentava gelo até que a água alcançasse uma temperatura de 3º C, e os sujeitos da experimentação iam vestidos com traje de voo, ou os colocavam nus na água gelada. (…) Quando os sujeitos da experimentação estavam conscientes, passava algum tempo até se manifestar a chamada narcose por congelamento. A temperatura era tomada pelo reto e pelo estômago, mediante o galvanômetro. A queda de temperatura corporal até 32º C era terrível para o sujeito da experimentação. A 32º C, o sujeito perdia a consciência. Essas pessoas eram congeladas até alcançar os 25º C de temperatura corporal, e para que se compreenda o problema, eu gostaria de lhes dizer algo acerca da época de Holzloehner e Finke. (…) não morreu nenhum sujeito da experimentação na água. A morte ocorria porque durante a reanimação a temperatura caia todavia mais e se produzia uma parada cardíaca. Isto ocorria porque também a terapia era mal aplicada (…) Mas as coisas mudaram quando Rascher ficou responsável pessoalmente dos experimentos. Naquela época, muitas das pessoas que tomaram parte nos experimentos eram mantidas na água até que morressem.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/15/doctores-del-infierno-experimentos-de-congelacion-en-dachau/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 131-135; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos com malária

Publicado em 18 junho, 2012

Mais de 1084 acusados de diversas nacionalidades, inclusive sacerdotes católicos, foram submetidos a experimentos com malária (testes de imunização e tratamento diversos). Esses experimentos ocorreram no campo de concentração de Dachau entre fevereiro de 1942 e abril de 1945, aproximadamente, e foram concluídos apenas antes da rendição da Alemanha, em 8 de maio de 1945.

Wolfram Sievers
Infectava-se premeditadamente com malária os reclusos que eram considerados sãos, servindo-se de mosquitos infectados ou mediante injeção de sangue infectado com malária. Para manter uma provisão constante de sangue infectado, todos os meses se contaminava artificialmente com malária entre três e cinco reclusos, de modo que seu sangue pudesse ser usado para infectar outros.

(…)

Os imputados Karl Brandt, Handloser, Rostock, Gebhardt, Blome, Rudolf Brandt, Mrugowsky, Poppendick e Sievers foram acusados de responsabilidade especial e participaram na conduta criminosa devido a esses experimentos, mas só Sievers foi condenado neste julgamento. Sievers negou haver tomado parte nos experimentos com malária.

(…)

Em Dachau, um tribunal militar estadunidense nomeado em 2 de novembro de 1945, ajuizou quarenta médicos e assistentes no caso Estados Unidos contra Martin Gottfried Weiss, Friedrich Wilhelm Ruppert, et al. Entre os imputados se encontrava o doutor Claus Karl Schilling. (…)

Schilling foi o principal responsável pelos experimentos levados a cabo em Dachau, dado que esteve perfeitamente disposto a utilizar os métodos de experimentação nazi servindo-se de acusados do campo numa época em que outros médicos e cientistas alemães se negaram a tomar parte deles ou fugiram do país. Schilling acreditava que era seu dever humanitário encontrar a cura para a malária, à margem de que seus métodos ameaçavam a vida de reclusos do campo submetidos à experimentação contra sua vontade.

Claus Karl Schilling
Antes do julgamento, em 30 de outubro de 1945, o doutor Schilling efetuou, de seu próprio punho, uma declaração jurada ante o subtenente Werner Conn. Esta declaração foi admitida como indício provatório com o número 122 das provas da acusação. Schilling afirmava haver inoculado pessoalmente entre novecentos e mil prisioneiros. (…)

Muitos dos internos infectados com malária morreram de tuberculose, disenteria e tifo. Segundo sua declaração, Schilling assistiu a autopsia de uma das vítimas e solicitou o cérebro, o fígado, o rim, o baço e um pedaço do estômago.

No julgamento de Dachau, um sacerdote católico preso, o padre Koch, declarou que primeiro lhe fizeram radiografias e posteriormente o enviaram para sala de malária. Metido em um quarto pequeno, teve que segurar uma caixa de mosquitos durante meia hora todos os dias pelo intervalo de uma semana. Cada tarde lhe colocavam outra caixa de mosquitos entre as pernas enquanto estava na cama. Todas as manhãs lhe tiravam uma amostra de sangue da orelha.

O padre Koch saiu do hospital passados dezessete dias. Oito meses depois teve um ataque de malária que voltou a se manifestar a cada três semanas durante seis meses. Sofria de febre alta, calafrios e dores articulares. Infectou-se assim mesmo prisioneiros poloneses e russos mediante injeções procedentes dos próprios mosquitos ou com extratos de glândulas mucosas dos mosquitos. A malária foi a causa direta de trinta mortes, enquanto que as complicações derivadas dela ocasionaram entre trezentas e quatrocentas mortes, um terço das 1200 vítimas submetidas a esses experimentos.

(…)

Durante seu julgamento em Dachau, o doutor Schilling se defendeu alegando que seu trabalho era parte de seus deveres; que ficou inacabado; e que o tribunal de Dachau devia fazer o que pudesse para ajudá-lo a concluir seus experimentos em benefício da ciência.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)

http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/18/doctores-del-infierno-experimentos-con-malaria/

Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 147-156; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Doutores do interno: experimentos com infecções

Publicado em 25 junho, 2012

Em Dachau e Auschwitz, no outono de 1942 foram levados a cabo experimentos com inflamação e infecção simulando feridas de guerra e intervenções cirúrgicas. Infectava-se artificialmente com pus a reclusos dos campos de concentração, procedimento este que produzia terríveis dores. A metade recebeu tratamentos bioquímicos, e a outra metade foi tratada com sulfanilamida. Os casos de maior gravidade as pessoas se negavam a tomar os comprimidos bioquímicos porque era pedido que elas tomassem isso a cada cinco minutos, durante todo o dia e toda a noite; um tratamento terapêutico desumano.

Numa série de experimentos se usou vinte reclusos alemães, dos quais sete morreram. Numa segunda série, infectou-se quarenta sacerdotes de diversas nacionalidades, morreram doze.

Testemunho de acusação de Heinrich W. Stoehr, enfermeiro e recluso do campo de concentração de Dachau, feito em 17 de dezembro de 1946.

(…)
"Principalmente se tratava o flemón (gangrena). Era muito comum no campo. Ou seja, o flemón (gangrena) era a típica enfermidade do campo. O tratamento era conduzido da seguinte maneira: observavam-se três casos parecidos. A um deles se dava tratamento alopático, a outro o bioquímico e o terceiro recebia só o tratamento cirúrgico normal. Ou seja, o terceiro não recebia nenhum remédio e se tratava a ferida de maneira habitual, com bandagens etc (…)

Durante o outono, um tal de doutor Schuetz disse ao médico do campo, que se chamava Babo, que ele infectara a várias pessoas com pus. (…)"
Os imputados Poppendick, Oberheuser e Fischer foram absolvidos desta acusação. Gebhardt, outro dos acusados, declarou não ter conhecimento prévio desses experimentos ao ser interrogado por seu advogado. Contudo, ele se declarou culpado das segundas acusações (crimes de guerra), terceiras (crimes contra a humanidade) e quarta (pertencia à SS) do texto de acusação, devido a sua implicação não só nesses experimentos com gangrenas, senão com outros doze experimentos já descritos. Foi sentenciado a morrer na forca.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/25/659/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 255-259; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos com água marinha

Publicado em 21 junho, 2012

Dachau foi o cenário dos experimentos com água marinha dirigidos principalmente pela Força Área e Exército alemães. Esses experimentos tinham como propósito desenvolver um método para tornar potável a água marinha mediante sua dessalinização. Os pilotos da Luftwaffe que se lançavam ao mar ou caíam nele, assim como os marinheiros alemães que sobreviviam ao bombardeio e ao afundamento de seus barcos, tinham que sobreviver durante longos períodos no mar.

Entre julho e setembro de 1944 se levou a cabo uma série de experimentos para os quais foram utilizados quarenta e quatro sujeitos de idades compreendidas entre os dezesseis e quarenta e nove anos, em sua maioria ciganos alemães, tchecos e poloneses, que eram privados de alimentos entre cinco e nove dias. Pediram reclusos de outros campos que se oferecessem como voluntários para "serviços de limpeza" em Dachau, onde haviam ouvido falar que as condições de vida eram melhores, e por isso aceitaram ir. (…)

Beiglboeck lhes havia prometido rações extras e um trabalho fácil. Só que nunca cumpriu essas promessas. (…)

Os sujeitos de experimentação foram divididos em quatro grupos. O primeiro não recebeu água. O segundo bebeu água marinha comum. O terceiro bebeu água marinha processada mediante o método Berka, chamado Berkatit [água marinha processada para ocultar seu sabor, sem alterar seu conteúdo salino]. O quarto bebeu água marinha tratada para extrair o sal.

Durante o experimento, os designados no "terceiro grupo" não receberam nenhum alimento. Os demais, subministravam para eles rações de emergência marítima: a dieta de naufrágio, consistente de uma onça (28 gramas) de bolachas ao dia, leite condensado e edulcorado, manteiga, gordura ou margarina e chocolate.

[Testemunho de Karl Hoellenrainer, cigano mestiço alemão]

“… Éramos quarenta homens. Então veio um doutor da Luftwaffe e nos examinou. Tivemos que tirar a roupa e ficar em fila. Logo nos disse: "Bem, vão lhes dar boa coisa para comer, como não comeram jamais antes, e logo depois não será dado nenhum alimento e terão que beber água do mar." Um preso que se chamava Rudi Taubmann se levantou em um salto e se negou. Já havia passado por um experimento com água fria, e não queria passar por mais isso. O médico da Luftwaffe então disse: “Se você não se calar e continuar protestando, darei um tiro agora mesmo em você". O doutor da Luftwaffe sempre andava com uma pistola e logo ficamos todos calados. (…)

Havia três classes de água: água branca e água amarela (duas classes); e eu bebi da amarela. Depois de alguns dias a gente começou a ficar louco; saia espuma pela boca. O médico da Luftwaffe veio com um sorriso cínico e nos disse que era de fazer as punções no fígado (…)

As punções no fígado eram feitas pelo próprio médico da Luftwaffe. Em algumas pessoas eram feitas uma punção no fígado e ao mesmo tempo uma punção na medula espinhal. Ele mesmo as fazia. Era muito doloroso. Ao mesmo tempo te corria algo pelas costas. Era água ou algo assim. Não sei o que era."

(…)

As testemunhas de acusação demonstraram que as vítimas desses experimentos sofreram dores agudas, diarreia, convulsões, alucinações, que espumaram pela boca e que, finalmente, na maioria dos casos, acabaram loucos ou faleceram.

(…)

Os imputados Schroeder, Gebhardt, Sievers, Becker-Freyseng e Beiglboeck foram condenados por sua responsabilidade destacada e por suas participações em experimentos com água marinha constitutivos de delito.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/21/doctores-del-infierno-experimentos-con-agua-marina/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 199 a 212; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Minúcias do Holocausto (Arnost Tauber; Dov Paisikovic)

O documento de Nuremberg NI-4829 é o depoimento de um certo Arnost Tauber, que afirma (ênfase minha):
Fui preso em duas ocasiões. A primeira vez em maio de 1939 pela distribuição de illegal leaflets. Fui preso por 77 dias. Em setembro de 1939 fui preso pela segunda vez no in the course of the hostage actions and levado a Dachau por meio da prisão em Pankratz, e de lá para Buchenwald. De Buchenwald fui transferido para o campo principal de Auschwitz em outubro de 1942, e uma semana mais tarde fui enviado de lá para Monowitz com o primeiro transporte. Permaneci em Monowitz até agosto de 1944, quando fui transferido para Treblinka.
E durante o interrogatório:
Pergunta: Então você foi enviado para Treblinka em 4 de agosto de 1944, correto?

Resp. Sim.
Mas o que se passa aqui? Treblinka está claramente fora de lugar neste testemunho.

Mas tente lembrar de um campo diretamente relacionado a Auschwitz com um nome semelhante. Se você pensou em Trzebinia, você acertou. Permitam-me citar o livro 'Auschwitz Chronicle' de D. Czech (pág. 787):
Os prisioneiros são evacuados do campo auxiliar de Trzebinia e aqueles capazes de marchar são conduzidos a Auschwitz. [...] Arnost Tauber, Abraham Piasecki e Karl Broszio escaparam durante a marcha a pé.
________________________________________________
Às vezes, os "revisionistas" podem ser úteis. Assim, um "revi" de nick "polardude" encontrou uma discrepância entre uma lista de transporte de Westerbork e o livro 'Auschwitz Chronicle' de Czech. A lista na pág. 51 da edição crítica revisada do Diário de Anne Frank, 453 judeus partem para Auschwitz em 19 de maio de 1944, entre eles 199 homens, 220 mulheres e 34 crianças.

Por outro lado, Czech lista 453 judeus que chegam de Westerbork em 21 de maio de 1944, assim: 250 homens receberam numeração A-2846-A-3095, 100 mulheres recebem numeração A-5242-A5341. 103 judeus não registrados foram gaseados. Como esse negacionista aponta, mesmo com todas as crianças do sexo masculino, haveria apenas 233 homens sobre este transporte. Agora, obviamente, Czech está errado.

Mas essa correção também nos permite endereçar uma suspeita a Carlo Mattogno sobre Dov Paisikovic, que ele citou em seus livros sobre os Bunkers e as incinerações ao ar livre:
Em 17 de outubro de 1963, em Viena, Dov Paisikovic escreveu um relatório sobre sua experiência como membro da então chamada unidade especial de Auschwitz. Como ele afirma com freqüência, Paisikovic (nascido em Rakowec, então na Tchecoslováquia, em 1 de abril de 1924) foi deportado para Auschwitz do gueto em Munkacs (Hungria) em Maio de 1944 e foi registrado com a ID de número A-3076. No entanto, de acordo com a o livro de Danuta Czech, os números de identificação de A-2846 até A-3095 foram atribuídos a 250 judeus holandeses vindos do campo de Westerbork.
Agora que sabemos que Czech estava errado, não há nenhum mistério - o número de Paisikovic é de fato legítimo.

Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Sergey Romanov
http://holocaustcontroversies.blogspot.com.br/2006/08/holocaust-minutiae-arnost-tauber-dov.html
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Chanceler britânico pede combate ao anti-semitismo

O ministro de Assuntos Exteriores britânico, David Miliband, lembrou neste domingo os ataques nazistas contra os judeus e ressaltou a necessidade de combater todas as formas de anti-semitismo.

Em um breve comunicado oficial divulgado por ocasião do 70º aniversário da "Noite dos Cristais" ("Kristallnacht"), Miliband disse que "esses fatos horrorosos" não deveriam ser esquecidos "nunca".

"Nosso dever como cidadãos deste mundo é nos manter em guarda contra o anti-semitismo e todas as formas de racismo que se infiltrem em nossas sociedades", disse o chefe da diplomacia britânica.

Ele destacou que o mundo tem que fazer "todo o possível para que horrores semelhantes não voltem a ocorrer no futuro".

Na "Noite dos Cristais", que ocorreu em 9 de novembro de 1938, militantes de diferentes grupos paramilitares nazistas deram origem a uma onda de violência contra os cidadãos judeus.

Nesse dia, mais de mil sinagogas de toda a Alemanha e a Áustria foram queimadas, enquanto 300 templos ficaram reduzidos a cinzas, 7,5 mil lojas de judeus foram devastadas e mais de mil pessoas foram assassinadas essa noite.

No dia seguinte, cerca de 30 mil judeus foram detidos e enviados a campos de concentração, número que, ao término da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), chegaria aos milhões.

Fonte: EFE/Terra
http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI3317968-EI8142,00-Chanceler+britanico+pede+combate+ao+antisemitismo.html

domingo, 13 de julho de 2008

Deutsches Ahnenerbe e o racismo "esotérico" nazista

A seguir a tradução de um texto do Shoah Resource Center, que consta como link do site do Yad Vashem(Museu do Holocausto em Israel) sobre uma sociedade racista do Terceiro Reich encabeçada pelo chefe das SS, Heinrich Himmler.

Os ditos "revisionistas"(ou negadores)do Holocausto, que são formados por grupos de extrema-direita e outros grupos antissemitas radicais, divulgam impunimente no site de relacionamentos da Google, Orkut, versões falsas negando o caráter racista da tal sociedade Ahnenerbe, fora diversos materiais de caráter antissemita(racista), negacionista(do Holocausto)e de apologia ao nazismo. Abaixo segue o texto sobre todo o retrospecto racista da tal sociedade e de sua participação em experimentos "médicos" sádicos em vítimas(cobaias humanas)no campo de Dachau.

A "Deutsches Ahnenerbe"

(Studiengesellschaft fuer Geistesurgeschichte Deutsches Ahnenerbe), a Sociedade para Pesquisa das Raízes Espirutuais da Herança Ancestral da Alemanha.

A Ahnenerbe foi fundada em Berlim em 1 de Julho de 1935 pelo chefe das SS Heinrich Himmler, pelo ideólogo nazista Richard Walther Darre e pelo prof. de Alemão-Holandês Herman Wirth.

O propósito da sociedade era o de estabelecer suporte ao culto ao "Germandom" de Wirth ao se estudar aspectos da espiritualidade germânica e sua herança histórica. Entretanto, desde o início, a sociedade se aprofundou em toda a sorte de objetos esotéticos que não têm muita ou qualquer base científica, tais como a pesquisa das letras do antigo alfabeto germânico e da interpretação de símbolos germânicos, como a Suástica.

Himmler ocupou o cargo da Ahnenerbe em 1937. Todos os novos projetos foram iniciados, incluindo a listagem de "Cientistas judeus ou cientistas ligados a judeus por casamento", e o confisco de bibliotecas judaicas. Era totalmente difícil de dizer quais os projetos que tinham motivação científica, quais os que tinham motivação política, e quais eram absolutamente ridículos.

Em 1942 a Ahnenerbe começou financiando alguns experimentos médicos pseudo-científicos que eram realizados em vítimas nos campos de concentração. Entre esses experimentos, incluíam-se congelamento e experimentos em alta altitude conduzidos pelo Dr. Sigmund Rascher em Dachau, e o extermínio de Judeus e Ciganos de Auschwitz de modo que seus crânios pudessem ser estudados pelo Dr. August Hirt como exemplos do "protótipo sub-humano."

Fonte: Shoah Resource Center(Yad Vashem)
http://www1.yadvashem.org/odot_pdf/Microsoft%20Word%20-%205718.pdf
Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

66 Perguntas e Respostas sobre o Holocausto - Pergunta 4

Traduzido por Leo Gott

4. Se Dachau estava na Alemanha e inclusive Simon Wiesenthal disse que não era um campo de extermínio,por que milhares de veteranos americanos dizem que era?

O IHR diz:

Porque depois que os aliados capturaram Dachau, chegaram milhares de soldados americanos ali e eles ensinaram que os vários edifícios eram câmaras de gás, e porque a mídia informou, ampla mas falsamente, que Dachau era um campo de "gaseamento".

Nizkor responde:

No sentido de deixar no pior estado de sofrimento milhares de pessoas e esporadicamente matar alguns, sim, Dachau foi um campo da morte.

Talvez o termo "campo de extermínio" não deveria aplicar-se a Dachau, devido a que geralmente se utiliza para referir-se AOS GRANDES CAMPOS DA POLÔNIA OCUPADA onde se realizaram gaseamentos em massa (ver Pergunta 3).

O que não se põe em dúvida é que as câmaras de gás existiram.

Os aliados capturaram um relatório enviado pelo Dr. Sigmund Rascher, de Dachau, a Himmler (ver Kogon et al., Nazi Mass Murder, 1993, p. 202):

Como você sabe, estamos construindo as mesmas instalações [câmaras de gás] no
campo de concentração de Dachau, igual a Linz [
Hartheim]. Devido a que os
"transportes não válidos" acabam de todas as maneiras em certas câmaras, me pergunto se não poderíamos experimentar alguns dos tipos de gases de combate, pois dispomos de pessoas concretas implicadas na ação. Até agora somente experimentamos com animais ou através de mortes por acidente durante a fabricação destes gases.

Devido a este parágrafo, ele classificou esta carta como "secreta".

Um jornalista americano gravou um filme em que se vê a câmara de gás muito pouco tempo depois da captura do campo, mostrando o que estava rotulado como "Brausebad" ("duchas") embora não houvesse ali nenhuma ducha.

A dúvida de que se pode provar que se usou a câmara de gás não tem sido aclarada definitivamente. Alguns historiadores dizem que não existe nenhuma dúvida: nunca se usou.

Outros dizem que ainda é um assunto aberto, baseando-se em dois testemunhos: o de um Oficial britânico chamado Payne-Best que disse que ouviu o Dr.Rascher falar de gaseamentos, e outro do Dr. Franz Blaha, que declarou sob juramento que se realizaram gaseamentos experimentais.

Para mais informações, ver Kogon et al., op. cit., pp. 202-204, e o testemunho de Blaha em Trial of the Major War Criminals, 1947, vol. V, pp. 167-199.

O Dr. Charles Larson, um expert em medicina forense, também examinou as vítimas de gaseamentos no campo, declarando que "só uns poucos prisioneiros que examinei pessoalmente em Dachau foram assassinados desta maneira".

Os negadores do Holocausto, por exemplo, só apresentam o ponto de vista segundo o qual nunca se usou a câmara de gás. Citam com freqüência uma carta escrita em 1960 pelo diretor do Institut für Zeitgeschichte (Instituto de História Contemporânea), de Munich (ver Die Zeit, 19 de agosto de 1960, p. 16):


Nenhum gaseamento em Dachau
Não gasearam nem judeus nem outros prisioneiros
em Dachau, em Bergen-Belsen e nem em Buchenwald.

A carta, por exemplo, confirma que os gaseamentos em massa aconteceram nos campos maiores. Mas os negadores do Holocausto não gostam de mencionar esta parte. Tampouco eles gostam de mencionar que, desde 1960, o Instituto tem realizado mais investigações e tem chegado a uma nova conclusão:

Agora dizem:

...se construiu uma câmara de gás [em Dachau] ... realizaram uns poucos
gaseamentos experimentais, segundo tem confirmado investigações mais
recentes.

Finalmente, a "mídia", em sua maioria, afirma os fatos reais: que Dachau foi usado para gaseamentos em uma escala muito pequena. A questão de se o termo "campo de gaseamento" é apropriado dependeria provavelmente do contexto.

Se o IHR pode apresentar uma citação em um jornal ou revista em que foi impresso algo incorreto, que apresentem.

Não será a primeira vez, nem a última, que algo foi impresso incorretamente.

Se os negadores do Holocausto crêem que os erros nos jornais ajudam a demonstrar que o Holocausto não ocorreu, estão muito equivocados.

66 Perguntas e Respostas sobre o Holocausto - Pergunta 3

Traduzido por Leo Gott


3. Simon Wiesenthal afirmou por escrito que "não havia campos de extermínio em solo alemão"?

O IHR disse (edição original):

Sim. Na edição de abril de 1975 de Books and Bookmen. Ele afirma que o "gaseamento" de judeus teve lugar na Polônia.

E na edição revisada:

Sim. O famoso "caçador de nazistas" escreveu isto na edição de 24 de janeiro de 1993 da revista Stars and Stripes. Também afirmou que os "gaseamentos" de judeus aconteceram somente na Polônia.



Nizkor responde:

A carta ao editor de 1975 de Wiesenthal dizia:

Dado que não havia campos de extermínio em solo alemão, os neonazistas estão
utilizando isto como prova de que estes crimes não aconteceram [...]

Que irônico é isso, ele não só disse a verdade, sendo que ademais suas palavras foram manipuladas precisamente da maneira em que o descrevia.

Ambas respostas são corretas em si: Wiesenthal certamente disse em 1975 e em 1993 que não havia campos de extermínio onde agora é Alemanha. Embora a manipulação de suas palavras parece ser inocente, leva o leitor a pensar que de certa forma está admitindo que o Holocausto foi algo muito mais limitado do que se tem afirmado até agora e que a verdade por fim está saindo à luz.

Frases como a de Wiesenthal são de fato a base em que se apoiam os negadores para proclamar que sua pressão está fazendo que a verdade surja apesar da resistência dos historiadores.

A verdade é que os historiadores, e outras pessoas como Wiesenthal, tem tentado repetidamente durante anos desmentir certos mitos sobre o Holocausto: por exemplo, o da produção em massa de sabão à partir de gordura humana.

Outro conceito errôneo que tem tratado de aclarar é o que afirma que a maior parte do processo de extermínio dos judeus tiveram lugar na própria Alemanha - ou, falando com propriedade, no "Altreich", dentro das fronteiras alemãs de pré-guerra. Embora houveram câmaras de gás e se praticaram gaseamentos no Altreich, a escala foi muito menor se comparada com os gaseamientos que tiveram lugar nos campos da Polônia ocupada pelos nazistas, como Belzec, Sobibor, Treblinka, Kulmhof/Chelmno, Maidanek/Majdanek, e Auschwitz-Birkenau.

Uns 3 milhões de pessoas foram gaseadas, quase todos judeus. Os gaseamentos no Altreich possivelmente só ceifou a vida de algumas milhares de pessoas, quase com certeza uns 10 mil. Aparte destes gaseamentos "a pequena escala" que houve em lugares como Dachau, Sachsenhausen, Stutthof, Neuengamme, e Ravensbrück, a outra campanha de gaseamentos que teve lugar no Altreich foi o programa de "eutanásia" com o qual assassinaram cerca de 5 mil pessoas, a maioria não-judeus.

Os nazistas tinham ao menos 2 razões para construir os campos de extermínio fora da Alemanha:

Em primeiro lugar, assim era mais fácil mantê-los longe do povo alemão devido às caóticas condições por causa da guerra que havia nos territórios que rodeavam o Altreich, era maiss fácil mantê-los ocultos ali.

Em segundo lugar, a grande maioria dos judeus assassinados eram procedentes de território conquistado no leste e no sul - por que se preocupar em levar até à Alemanha? Eles não os estavam “deportando” para o leste? (Ver as estatísticas no final da Pergunta 1.)

O que os negadores do Holocausto não reconhecem é que o que Wiesenthal disse é exatamente o que os historiadores mais respeitáveis estão dizendo desde os últimos 50 anos, começando talvez com o Instituto de História Contemporânea de Münich, em 1950.

A esta parcialidade podemos chamar simples e seguramente de mentir recorrendo a omissões e insinuações sem fundamento algum.

As Testemunhas de Jeová e o Holocausto

Testemunhas de Jeová: Vítimas da Era Nazista

As testemunhas de Jeová enfrentaram perseguição intensa sob o regime nazista. Ações contra o grupo religioso e seus membros individuais duraram entre os anos nazistas de 1933 a 1945. Diferentemente dos judeus e dos sinti e roma ("ciganos"), perse-guidos e mortos em virtude de seu nascimento, as testemunhas de Jeová tiveram a oportunidade de escapar da perseguição e dano pessoal renunciando às suas crenças religiosas. A coragem da vasta maioria, mostrada ao se recusarem a fazer isso, apesar da tortura, maus tratos em campos de concentração, e às vezes execução, ganhou o respeito de muitos contemporâneos.

Fundada nos Estados Unidos na década de 1870, a organização das Testemunhas de Jeová enviou missionários à Alemanha à procura de convertidos na década de 1890. No início dos anos 30, somente 20.000 alemães (de uma população total de 65 milhões) eram testemunhas de Jeová, normalmente conhecidos à época como "Estudantes da Bíblia
Internacionais".

Mesmo antes de 1933, apesar de seu pequeno número, a pregação de porta em porta e a identificação das testemunhas de Jeová como hereges pelas igrejas dominantes protestante e católica renderam-lhes poucos amigos. Estados alemães e autoridades locais com freqüência procuraram limitar as atividades de proselitismo do grupo com acusações de comércio ilegal. Havia também proibições totais à literatura religiosa das testemunhas de Jeová, que incluíam os folhetos Torre de Vigia e A Era Dourada. Os tribunais, em contraste, muitas vezes decidiam em favor da minoria religiosa. Enquanto isso, no início dos anos 30, tropas de assalto camisas-marrons nazistas, agindo fora da lei, terminavam encontros de estudos bíblicos e espancavam as próprias testemunhas.

Depois que os Nazistas chegaram ao poder, a perseguição às testemunhas de Jeová intensificou-se. O movimento, pequeno como era, oferecia uma "ideologia rival" e um "centro rival de lealdade" ao movimento nazista, nas palavras da estudiosa Christine King. Embora honestos e obedientes à lei tanto quanto suas crenças reli-giosas permitiam, as testemunhas de Jeová viam a si mesmos como cidadãos do Reino de Jeová; eles recusaram-se a jurar fidelidade a qualquer governo temporal. Eles não eram pacifistas, mas como soldados do exército de Jeová, eles não lutariam por nenhuma nação.

As testemunhas de Jeová, tanto na Alemanha quanto nos Estados Unidos, recusaram-se a lutar na Primeira Guerra Mundial. Esta posição contribuiu para a hostilidade contra eles numa Alemanha ainda ferida pela derrota naquela guerra e fervorosamente nacionalista, tentando reclamar seu status mundial anterior. Na Alemanha nazista, as testemunhas de Jeová recusaram-se a erguer seus braços na saudação "Heil, Hitler!"; eles não votaram nas eleições; eles não entrariam no exército ou na Frente de Trabalho Alemã (uma afiliada nazista, na qual todos os empregados assalariados deveriam entrar depois de 1934).

As testemunhas de Jeová foram denunciadas por seus laços internacionais e com os Estados Unidos, pelo tom aparentemente revolucionário de seu milenialismo (crença no governo celestial pacífico de 1000 anos de Cristo sobre a Terra, precedido pela batalha do Armageddon), e suas supostas conexões com o judaísmo, além de uma dependência em partes da Bíblia que compreendiam escrituras judaicas (o "Velho Testa-mento" cristão). Muitas dessas acusações foram feitas contra mais de 40 outros grupos religiosos, mas nenhum desses foi perseguido na mesma intensidade. A dife-rença crucial era a intensidade que as testemunhas demonstravam em recusar a dar lealdade ou obediência final ao estado.

Em abril de 1933, quatro meses depois de Hitler se tornar chanceler, as testemunhas de Jeová foram banidas na Bavária e, no verão, na maior parte da Alemanha. Por duas vezes em 1933, os policiais ocuparam os escritórios das testemunhas e sua gráfica em Magdeburg, e confiscaram literatura religiosa. Testemunhas desafiaram as proibições nazistas, continuando a se encontrar e distribuir sua literatura, muitas vezes às escondidas. Foram feitas cópias de folhetos, trazidos clandestinamente, principal-mente da Suíça.

Inicialmente, as testesmunhas de Jeová tentaram defender-se dos ataques nazistas emitindo uma carta ao governo em outubro de 1934, explicando suas crenças religiosas e neutralidade política. Esta declaração não conseguiu convencer o regime nazista quanto ao caráter inofensivo do grupo. Por desafiar a proibição às suas atividades, muitas testemunhas foram presas e enviadas para prisões e campos de concentração. Eles perderam seus empregos como funcionários públicos ou empregados em indústrias particulares, e seus benefícios contra desemprego, bem-estar social e pensão.

De 1935 em diante, as testemunhas de Jeová enfrentaram uma campanha de quase total perseguição. Em 1º de abril de 1935, o grupo foi banido nacionalmente por lei. Naquele mesmo ano, a Alemanha reintroduziu o serviço militar compulsório. Por se recusarem a se alistar ou realizar trabalho relativo à guerra, e por continuarem a se encontrar, as testemunhas de Jeová eram presas e encarceradas em prisões e campos de concentração. Em 1936, cerca de 400 testemunhas de Jeová foram presas no campo de concentração de Sachsenhausen.

Em 1936, uma unidade especial da Gestapo (Polícia Secreta do Estado)começou a compilar um registro de todas as pessoas que se acreditava serem testemunhas de Jeová, e agentes infiltraram-se nos encontros de estudos bíblicos. Em 1939, apro-ximadamente 6.000 testemunhas (incluindo os da Áustria e Tchecoslováqua incor-poradas) foram detidas em prisões ou campos. Algumas testemunhas foram torturadas pela polícia na tentativa de fazê-las assinar uma declaração renunciando à sua fé, mas poucas se renderam.

Em resposta aos esforços nazistas para destruí-los, a organização mundial das testemunhas de Jeová tornou-se um centro de resistência espiritual contra os nazistas. Uma convenção internacional de testemunhas, ocorrida em Lucerna, Suíça, em setembro de 1936, emitiu uma resolução condenando todo o regime nazista. Nesse texto e em outra literatura trazida para a Alemanha, escritores acusavam amplamente o Terceiro Reich. Artigos denunciavam com veemência a perseguição dos judeus alemães, a "selvageria" nazista com relação aos comunistas, a remilitarização da Alemanha, a nazificação das escolas e universidades, a propaganda nazista, e o assalto do regime às igrejas dominantes.

Os filhos das testemunhas de Jeová também sofreram. Em salas de aula, professores ridicularizavam crianças que se recusavam a fazer a saudação "Heil, Hilter!" ou cantar canções patrióticas. Colegas de classe evitavam e batiam em jovens teste-munhas. Diretores os expulsavam das escolas. Famílias foram destruídas quando as autoridades tomavam filhos de seus pais e os enviavam para reformatórios, orfanatos, ou casas particulares, para que crescessem como nazistas.

Depois de 1939, a maioria das testemunhas de Jeová ativas foram encarceradas em prisões ou campos de concentração. Alguns haviam fugido da Alemanha. Nos campos, todos os prisioneiros usavam marcações de vários formatos e cores, para que os guardas e oficiais dos campos pudessem identificá-los por categoria. As testemunhas de Jeová eram marcados por distintivos triangulares roxos. Mesmo nos campos, eles continuavam a se encontrar, orar, e fazer conversões. No campo de concentração de Buchenwald, eles criaram uma gráfica clandestina e distribuíram panfletos religiosos.

As condições nos campos nazistas eram geralmente duras para todos os prisioneiros, muitos dos quais morriam de fome, doença, exaustão, exposição ao frio, e tratamento brutal. Mas, como o psicanalista Bruno Bettelheim e outros notaram, as testemunhas de Jeová foram sustentadas singularmente nos campos pelo apoio que davam uns aos outros e pela sua crença de que seu sofrimento era parte de seu trabalho para Deus. Testemunhas individuais surpreendiam seus guardas com sua recusa em obedecer às rotinas do tipo militar, como chamadas ou enrolar bandagens para soldados do front. Ao mesmo tempo, as testemunhas, de maneira incomum, eram consideradas confiáveis, porque elas se recusavam a escapar dos campos ou resistir aos seus guardas. Por esta razão, as testemunhas eram muitas vezes usadas como serventes domésticos por oficiais e guardas nazistas.

De acordo com Rudolf Höss, comandante de Auschwitz, o chefe da SS, Heinrich Himmler, freqüentemente usava a "fé fanática" das testemunhas de Jeová como um exemplo para suas próprias tropas SS. Em sua visão, os homens da SS tinham que ter a mesma "fé inabalável" no ideal nacional-socialista e em Adolf Hitler que as testemunhas tinham em Jeová. Somente quando todos os homens da SS acreditassem tão fanaticamente em sua própria filosofia é que o estado de Adolf Hitler estaria permanentemente assegurado.

Nos anos do nazismo, cerca de de 10.000 testemunhas de Jeová, a maioria delas de nacionalidade alemã, forma aprisionados em campos de concentração. Depois de 1939, pequenos números de testemunhas da Áustria, Bélgica, Tchecoslováquia, Países Baixos, Noruega e Polônia (alguns dos quais refugiados da Alemanha) foram presos e deportados
para Dachau, Bergen-Belsen, Buchenwald, Sachsenhausen, Ravensbrück, Auschwitz, Mauthausen, e outros campos de concentração.

Cerca de 2.500 a 5.000 testemunhas morreram em campos ou prisões. Mais de 200 homens foram julgados pelo Tribunal de Guerra Alemão e executados por renegarem o serviço militar.

Fonte: USHMM
http://www.ushmm.org/education/resource/jehovahs/jehovahsw.php?menu=/export/home/www/doc_root/education/foreducators/include/menu.txt&bgcolor=CD9544
Tradução: Marcelo Oliveira (na lista holocausto-doc)
http://br.groups.yahoo.com/group/Holocausto-Doc/message/6288

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