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quarta-feira, 2 de setembro de 2015

As horríveis consequências dos experimentos secretos realizados em humanos pelos britânicos

Uma nova investigação desvelou que milhares de "voluntários" foram intoxicados com gás sarin ou drogas experimentais desde 1939.
Louis Hugelmann. Alguns pacientes faleceram e outros foram induzidos
à demência momentânea. Vários pilotos da RAF foram vítimas disso
Passou-se pouco mais de um mês no qual uma nova pesquisa histórica desvelou que o governo da Grã Bretanha utilizou, durante a Guerra Fria, milhares de seus cidadãos como cobaias humanas para provar todo tipo de substâncias potencialmente perigosas. Tudo isso, sem seu consentimento e causando severos danos em suas saúdes. Não obstante, agora acaba de ser revelado também que provas foram realizadas sobre uma multidão de militares de Wiltshire, os quais foram expostos a substâncias como gás sarin ou antraz sem sabê-lo, desde a Segunda Guerra Mundial.

Assim afirma um novo livro "Ciencia Secreta: Un siglo de guerras, veneno y experimentos humanos" ("Ciência Secreta: Um século de guerras, veneno e experimentos humanos") do qual foi feito eco na versão digital do "Daily Mail". Este, por sua vez, explica as terríveis repercussões que sofreram esses improvisados objetos de provas depois dos experimentos. Entre elas, destacam algumas tão impactantes como as de um jovem inglês que esteve convulsionando durante vários minutos, ou outro que, depois que fora injetada uma droga "incapacitante" no cérebro, esteve falando quatro horas com um amigo de sua escola qe havia falecido há quatro anos.

Concretamente, a investigação revelou as provas que os cientistas britânicos realizaram sobre mais de 21 mil militares de seu país desde 1939 (no começo da Segunda Guerra Mundial) até 1989, num centro científico de Wiltshire. Essas foram promovidas pelo Ministério da Defesa, que fez finca-pé de que aos "voluntários" não lhes deviam explicar as possíveis repercussões. Contudo, os investigadores acreditavam até então que os experimentos eram totalmente seguros, algo que não impediu que, no passado 2008, o governo se desculpasse com as vítimas e lhes pagasse uma volumosa indenização.

O pesquisador que trouxe à luz esses dados foi o historiador Ulf Schmidt, que expôs em seu livro casos como o do engenheiro da Força Aérea de Sua Majestade (RAF), Ronald Maddison, de 20 anos. Este foi exposto, sem sabê-lo, ao gás sarin, um agente nervoso que atualmente está classificado pela ONU como uma arma de destruição em massa. Segundo o historiador, o militar foi guiado a uma câmara na qual - junto a outros cinco sujeitos - aplicaram-lhe vinte gotas dessa substância. Morreu duas horas depois. E isso, apesar de que haviam lhe informado de que não correria perigo algum.

Assim o há corroborado o pesquisador Alfred Thornhill, que testemunhou o sucedido quando tinha 19 anos. "Vi que se levantava da cama e sua pele começou a ficar azul. Começou desde o tornozelo e se expandiu por sua perna. Foi como ver algo vindo do espaço exterior. Depois, os médicos lhe aplicaram a agulha maior que já vi e me disseram para me saísse", explica o antigo militar em declarações recolhidas pelo diário.

Outra dessas foi produzida durante a Segunda Guerra Mundial (1943) quando vários soldados foram expostos a vapor de nitrogênio durante cinco dias seguidos. Os seis voluntários tiveram finalmente que ser retirados do teste pois sofreram queimaduras químicas em suas axilas, escrotos e couro cabeludo. "Abriram a porta da câmara e todos estávamos no chão, gemendo e chorando. Fez-se eterno e foi horrível", assinalou ao historiador Harry Hogg quem participou da prova aos 20 anos.

Algo parecido sucedeu com o aviador de 19 anos Richard Skinner, a quem, em troca de uns xelins (shillings), submeteu-se em 1972 ao que os especialistas lhe haviam denominado de "uma leve dose de anestésico". Contudo, o que realmente lhe injetaram foi uma nova droga que incapacitava o cérebro humano. Num vídeo gravado do experimento se pode ver como o paciente fala durante quatro horas com um extintor de incêndio que, segundo crê, é um amigo de infância falecido há quatro anos.

Como eles, e tal e como assinala Schmidt, milhares de soldados foram fechados em câmaras de gás sob falsas promessas de dinheiro e bombardeados com todo tipo de toxinas potencialmente letais com o objetivo de provar os novos trajes químicos que estavam desenvolvendo na ocasião.

Abc.es@abc_es / Madrid
Día 08/08/2015 - 18.10h

Fonte: ABC (Espanha)
http://www.abc.es/cultura/20150808/abci-repercusiones-guerra-mundial-experimentos-201508081739.html
Título original: Las horribles consecuencias de los experimentos secretos realizados en humanos por los británicos
Tradução: Roberto Lucena

sábado, 22 de fevereiro de 2014

A psiquiatria de Franco. A mulher, intermediário entre criança e animal

Mulher, entre criança e animal
Rodolfo Serrano; Madrid, 7 de janeiro de 1996

Antonio Vallejo-Nágera,
psiquiatra franquista
As mulheres marxistas também foram objeto de estudo. Vallejo-Nágera e Eduardo M. Martínez, diretor da Clínica Psiquiátrica de Málaga e diretor da prisão desta cidade, analisaram 50 presas de guerra. O método foi similar ao empregado com os brigadistas; mas com uma exceção: para os homens foi realizado um estudo antropomórfico, mas "no sexo feminino", escreve Vallejo e Martínez, "carece de finalidade pela impureza dos contornos". O conceito que ambos professores tinham sobre a mulher é perfeitamente expresso em seus textos.

Para justificar o alto grau de participação feminina nas fileiras da República, recordam sua "debilidade mental" e asseguram que "como o psiquismo feminino tem muitos pontos de contato com o infantil e o animal", quando se rompem os freios sociais que contém a mulher "despertando-se no sexo feminino o instinto da crueldade e ultrapassa todas as possibilidades imaginadas, precisamente por lhes faltar inibições inteligentes e lógicas".

Em busca do 'gene vermelho'

Mas não só isso. Ambos os professores estavam convencidos de que "nas revoltas políticas" as mulheres têm oportunidade "de satisfazer seus apetites sexuais latentes". A sexualidade das presas é estudada com verdadeiro interesse.

Destacam sua libertinagem, - advertem que foram sinceras ao se pronunciar nos interrogatórios, salvo nas "infidelidades conjugais que nenhuma confessou" - e oferecem tabelas sobre virgindade e desfloração e sobre as perversões sexuais das presas. Mas neste último aspecto dizem que "são raras as marxistas malaguenhas (de Málaga), pois somente três delas conhecem toda classe de perversões sexuais". "O amor lésbico tampouco é muito frequente", escrevem, "já que só seis pessoas (das 50), uma delas virgem, mostrou tendência deste tipo".

Os professores concluem que a mulher quando se lança à política "não o faz arrastada por suas ideias, senão por seus sentimentos que alcançam proporções imoderadas, inclusive patológicas, devido à irritabilidade da personalidade feminina". E sublinham que a crueldade feminina "não fica satisfeita com a execução do crime, senão que aumenta durante sua realização".

Somente três presas, das estudadas, segundo ambos doutores, apresentava uma inteligência superior. E seis, boa. O resto oferecia inteligência média ou inferior. E duas eram débeis mentais, segundo o estudo. A conclusão dos autores era de que o marxismo espanhol se nutria das pessoas menos inteligentes da sociedade.

Fonte: El País (Espanha)
http://elpais.com/diario/1996/01/07/espana/820969221_850215.html
Tradução: Roberto Lucena
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Este texto estava em destaque como link no texto maior "Em busca do 'gene vermelho' ("ciência" fascista) - Vallejo Nágera", sobre um psiquiatra fascista espanhol. Quem quiser ler, segue abaixo:
http://holocausto-doc.blogspot.com/2014/02/em-busca-do-gene-vermelho-ciencia-fascista-vallejo-nagera-franquismo.html

Pra minha surpresa, a família desse psiquiatra fascista, Vallejo Nágera, ainda tem destaque na Espanha.

Ambos textos são de 1996 do jornal El País (Espanha), sobre bizarrices/aberrações da "ciência" (médica) do franquismo. O termo bizarro é por minha conta pois não há como qualificar isso de outra coisa. Percebe-se o quanto os fascistas espanhóis contribuíram para o progresso da ciência (conteúdo obviamente irônico) com sua misoginia (ódio ao sexo feminino) provavelmente oriunda de cultura religiosa.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Em busca do 'gene vermelho' ("ciência" fascista) - Vallejo-Nágera

Antonio Vallejo-Nágera dirigiu em 1938 um estudo sobre prisioneiros de guerra para determinar que malformação levava ao marxismo
Rodolfo Serrano; Madrid, 7 de janeiro de 1996

Antonio Vallejo-Nágera
Imagem da web
Os vermelhos, nascem ou se formam? Que malformações, psíquicas ou físicas, levam a um homem ou a uma mulher ao marxismo? O professor Antonio Vallejo-Nágera, chefe dos Serviços Psiquiátricos do Exército de Franco, buscou a resposta a estes e outros interrogantes, estudando mediante testes psicológicos e medições antropomórficas a prisioneiros de guerra, fundamentalmente procedentes das Brigadas Internacionais. Durante dezembro de 1938 e outro de 1939, II e III Ano Triunfal, o famoso psiquiatra publicou - com outros colaboradores seus - até cinco relatórios na Revista Espanhola de Medicina e Cirurgia de Guerra, com o título genérico de Biopsiquismo do Fanatismo Marxista. Em suas páginas analisou "as relações que possam existir entre as qualidades biopsíquicas do sujeito e o fanatismo político-democrático-comunista". Não se limitou a estudar somente homens, também realizou um estudo em mulheres prisioneiras de guerra - cujo psiquismo "tem muitos pontos de contato com o infantil e o animal", escreve Vallejo - buscando uma explicação "à ativíssima participação do sexo feminino na revolução marxista". A conclusão do professor e seus colaboradores foi que o marxismo espanhol se nutre das pessoas menos inteligentes da sociedade.

Páginas obscuras

Pouco se sabe desses trabalhos que a comunidade científica preferiu manter em um piedoso esquecimento. Quase sessenta anos depois, os professores Javier Bandrés, da Universidade de Vigo, e Rafael Llavona, da Universidade Complutense, trouxeram à luz uma das páginas mais obscuras da psiquiatria espanhola. Seu trabalho - "A Psicologia nos campos de concentração de Franco" (La Psicología en los Campos de Concentración de Franco) -, que será publicado proximamente na revista especializada Psicothema, recolhe estudos e testemunhos de velhos brigadistas. San Pedro de Cardeña era em 1938 um velho monastério abandonado, a uns 13 quilômetros de Burgos. Para ali eram levados, à espera de sua execução, os brigadistas que foram feitos prisioneiros pelo exército de Franco. Conta-se que na entrada do campo havia uma estátua de El Cid com o braço levantado erguendo uma espada. A espada desapareceu um dia e o bom El Cid ficou só com o punho ao alto. Ao chegar, os brigadistas, levantavam seu punho respondendo àquele guerreiro que lhes recebia com a saudação revolucionária. As condições, tal como conta um dos que tiveram o amargo privilégio de passar por aquele campo, eram terríveis. "Ainda assim", conta Javier Bandrés, "os brigadistas tinham sorte se os comparassem com os prisioneiros espanhóis. Procurava-se manter os estrangeiros com vida para trocá-los por prisioneiros italianos nas mãos da República". Precisamente os que eram considerados piores eram os brigadistas italianos. Andreu Castells em seu livro "As Brigadas Internacionais na Guerra da Espanha" (Las Brigadas Internacionales en la Guerra de España) cita algo a este respeito e que é anotado no diário do genro de Benito Mussolini, o conde Ciano, em 22 de fevereiro de 1939. Conta que Franco está "limpando" a Catalunha. E aponta: "também foram detidos muitos italianos, anarquistas e comunistas: se digo ao Duce que me ordena que lhes fuzilem a todos. E acrescenta: os mortos não contam a história".

No campo de concentração de San Pedro de Cardeña, foi onde foram realizadas a maioria das pesquisas dirigidas por Vallejo-Nágera, através do Gabinete de Pesquisas Psicológicas da Inspeção de Campos de Concentração de Prisioneiros de Guerra. Bandrés e Llavona esclarecem que a ideia da criação do gabinete possivelmente não fora inteiramente de Vallejo. Alguns prisioneiros sobreviventes recordam que no campo estiveram membros da Gestapo "que tomavam medições antropométricas e interrogavam os prisioneiros". Também recordam que em San Pedro chegaram dois cientistas alemães que fizeram diversos testes nos reclusos.

Antonio Vallejo-Nágera, nascido em 1889 e falecido em 1960, pai do psiquiatra autor de numerosos livros de divulgação, Juan Antonio Vallejo-Nágera, ingressou no corpo de Saúde Militar em 1910. Durante a primeira guerra mundial esteve como agregado militar na embaixada espanhola em Berlim. E desde então teve oportunidade de trabalhar nos campos de prisioneiros de guerra. Ao estourar a guerra civil espanhola, ele era professor de psiquiatria na Academia de Saúde Militar. Foi nomeado chefe dos Serviços Psiquiátricos do Exército de Franco e criou em 1938 o já citado gabinete que dirigiu pessoalmente. Já no pós-guerra, tirou de sua cátedra o doutor López Ibor, que ele considerava "pouco afeito ao regime".

O próprio Vallejo explica os postulados de seu projeto de Biopsiquismo do fanatismo Marxista impulsionado do Gabinete de Pesquisas Psicológicas, "relação entre determinada personalidade biopsíquica e a predisposição constitucional ao marxismo", a "alta incidência do fanatismo marxista nos deficientes mentais" e a "presença de psicopatas antissociais nas massas marxistas".

Dividiu em cinco grupos as pessoas estudadas: prisioneiros das Brigadas Internacionais em San Pedro de Cardeña, presos espanhóis varões processados por atividades políticas, presas espanholas processadas pelas mesmas razões, separatistas bascos e marxistas catalães. Esses dois últimos grupos revestiam um especial interesse. Os bascos porque "se produz o curioso fenômeno do fanatismo político unido ao religioso" e os catalães porque "se une o fanatismo marxista e o anti-espanhol".

Bandrés e Llavona explicam que, utilizando suas próprias palavras, Vallejo "denomina revolucionários natos como esquizoides místicos políticos e sujeitos que induzidos por suas qualidades biopsíquicas constituintes e tendências instintivas, movidos por complexos de rancor e sentimento ou por fracasso em suas aspirações, possuem propensão, de certo modo congênito, a transtornar a ordem social.

Regenerar os prisioneiros

Vallejo-Nágera tentou inclusive regenerar os marxistas. Em seus trabalhos explica esses objetivos: "A reação social mais interessante ao objeto de nosso estudo é a transformação político-social do fanático marxista". É bem verdade que unicamente ensaiou seu programa de reeducação com os prisioneiros espanhóis. "Com os prisioneiros estrangeiros eu creio que as conclusões de Vallejo foram tão pessimistas que esse objetivo foi descartado", afirma Bandrés. Mas os marxistas espanhóis deviam ser duros de coração porque não parece que o projeto regenerador funcionou muito. Na realidade, a reeducação se limitava a lhes obrigar a desfilar, entoar gritos franquistas e a dar um curso religioso de seis semanas que ninguém conseguia superar e que, como consequência, repetia-se continuamente durante o período de cativeiro. Exemplo dos resultados de Vallejo são as conclusões sobre os prisioneiros norte-americanos, um grupo de 72 brigadistas, quase todos pertencentes à brigada Abraham Lincoln. Curiosamente, nenhum dos estudados deu uma inteligência alta no teste. E só um 19.44 mereceu a qualificação de boa. Ele leva ao psiquiatra afirmar que apesar de pertencer "a uma nação que se preza como inteligente e culta" - "sem sê-la", aclara Vallejo, as inteligências de grau inferior superam em muito as bem dotadas.

O professor Vallejo, contudo, reconhece surpreendido que a maioria dos brigadistas haviam vindo à Espanha para ajudar à democracia e que muitos dels confessavam com orgulho suas ideias antifascistas e democráticas e seu entusiasmo em defender a República. Mas inclusive este orgulho lhe fazia deduzir que "no fundo nos os temos como comunistóides, sem que falte uma elevada percentagem de reformadores idealistas e de revolucionários natos".

Antonio Vallejo-Nágera, que nos anos da guerra fria colaboraria num texto estadunidense sobre a psicopatologia das relações internacionais, não tem inibição alguma em afirmar ante o alto grau de revolucionários natos existe entre esses prisioneiros que "tampouco pode nos chocar o grande número de imbecis sociais, já que o meio ambiente cultural e social norte-americano favorece a formação de tal tipo de personalidade".

Alto grau de libertinagem

Também no estudo se tinha em conta fatores como o fracasso pessoal, o alcoolismo - no que encontra uma incidência altíssima entre os brigadistas -, simpatias pelo Exército e vida sexual. As conclusões de Vallejo neste sentido falam de que a frustração social levava ao marxismo, que tinha um esaso entusiasmo pelo Exército "típico de qualquer país democrático" - e que entre os marxistas havia um alto índice de temperamentos degenerativos e indivíduos oligofrênicos". Aos brigadistas hispanoamericanos ele os colocava contra a parede. São pouco inteligentes, incultos, bêbados e com uma religiosidade deprimente. E sim, reconhece que nenhum deles se sentia fracassado sexualmente.

A libertinagem sexual parece um elemento comum. Vallejo disse que "constitui a tônica dos marxistas norte-americanos" e assegura que os britânicos - nos que incluem escoceses, irlandeses, galeses e canadenses - superam em libertinagem sexual os demais grupos. Ao contrário dos ingleses.

Bandrés e Llavona concluem com uma amarga reflexão: "enquanto que um grupo de psicólogos norte-americanos mostravam sua solidariedade com a República, sobre a base de que o fascismo e a psicologia científica eram incompatíveis, Vallejo lançava a mensagem de que a psicologia científica podia se pôr ao serviço de qualquer ideologia, inclusive das totalitárias".

Fonte: El País (Espanha)
Título original: En busca del 'gen rojo'
http://elpais.com/diario/1996/01/07/espana/820969222_850215.html
Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

As últimas horas do monstro nazista (Mengele)

Edição Brasil. el país. Política: As últimas horas do monstro nazista
Ex-cabo da Polícia Militar brasileira revela, 35 anos depois, detalhes da morte de Josef Mengele no litoral de São Paulo

Frederico Rosas Bertioga 7 FEV 2014 - 08:41 BRST

À esquerda, Josef Mengele (1911-1979). / Universal History Archive/Getty Images
Auschwitz Album
Na pequena cidade de Bertioga, no litoral do estado brasileiro de São Paulo, um monstro nazista vivia seus últimos momentos há 35 anos. De forma bem diferente da que muitos imaginariam após a descoberta de suas atrocidades, ele morreu em um banho de mar, possivelmente devido a um ataque cardíaco. Talvez o nome Josef Mengele, ou mesmo o seu apelido, Anjo da Morte, possam soar desconhecidos para as novas gerações. Mas o seu trabalho como médico do regime de Adolf Hitler simbolizou como poucos os horrores dos campos de concentração.

Um homem em particular jamais esquecerá o dia 7 de fevereiro de 1979. O brasileiro Espedito Dias Romão, então com pouco mais de 30 anos, era cabo da Polícia Militar do Estado de São Paulo e chegou ao local da ocorrência na praia da Enseada, próxima ao centro comercial de Bertioga, logo depois. No fim de uma tarde de sol, ele diz ter recebido uma chamada informando sobre um corpo na praia. Ao chegar ao local em uma viatura, ele afirma ter visto uma pequena aglomeração em volta de um senhor na areia.

Tratava-se do austríaco Wolfgang Gerhard, segundo constava na modelo 19, um documento antigo de identificação de estrangeiros no Brasil. “Quando cheguei, o corpo estava estirado na faixa de areia. Tudo indicava que ele foi retirado do mar já sem vida. Era um senhor bem branco e de bigode, e que não apresentava sinais de afogamento comuns, como vômitos e água expelida pelas laterais e pela boca. Fui levado a pensar que se tratava de um caso de mal súbito”, conta.

No boletim de ocorrência lavrado logo após a morte, e que apontava como naturezas do óbito um mal súbito e afogamento, informava-se que Wolfgang tinha 54 anos, era viúvo, trabalhava como técnico mecânico e residia no bairro do Brooklin Novo, em São Paulo. “Segundo apurado entre as testemunhas, a vítima banhava-se no mar, sentiu-se mal, vindo a perecer afogada, embora socorrida por populares”, afirma uma cópia do documento mostrada por Dias ao EL PAÍS.

Wolfgang era, na verdade, Mengele, segundo revelaria um intenso trabalho de pesquisa científica anos depois, mas que, ainda hoje, levanta polêmicas e suscita teorias de que o médico nazista teria como destino outros países, inclusive os Estados Unidos. Aquele homem encontrado morto na pequena Bertioga era um dos criminosos mais procurados do mundo desde o fim da Segunda Guerra, e teria passado por outros países da América Latina, como a Argentina, antes de aportar no Brasil.

Como médico em Auschwitz, além de capitão da força nazista SS, Mengele foi um dos responsáveis pela seleção dos prisioneiros que seguiriam para o trabalho forçado e os que morreriam nas câmaras de gás. Suas experiências em seres humanos, sobretudo crianças gêmeas judias e ciganas, foram responsáveis por alguns dos capítulos mais desumanos do século XX.

A morte de Mengele não foi presenciada por muitas pessoas no Brasil, ainda de acordo com o ex-cabo da PM. Não havia quase ninguém na praia no momento da ocorrência. Bertioga, que era um distrito da cidade de Santos até obter sua emancipação em 1991, possui atualmente cerca de 50 mil habitantes. Na época, Dias estima que o número de moradores se aproximasse de seis mil. “Estava tudo praticamente deserto e o mar, calmo. Parecia que só havia os três na Enseada”, recorda.

O ex-cabo da PM se refere, assim, ao casal de austríacos que acompanhava Mengele no passeio, Wolfram e Liselotte Bossert. Os três dividiam uma casa de temporada localizada a cerca de quatro quadras da praia, em uma área não asfaltada, ainda de acordo com Dias. Liselotte acabaria sendo processada em 1985 por falsidade ideológica no Brasil, após apresentar o documento falso de identidade de Mengeleno dia do óbito. Wolfram, por sua vez, é apontado como um ex-oficial do Exército nazista que morava no Brasil desde a década de 1950.

“O (Wolfram) Bossert acabou sendo levado para o Pronto Socorro por conta do esforço para tirar o Wolfgang da água. E ele tinha uma estrutura óssea bastante forte”, comenta Dias. O corpo de Wolfgang, por sua vez, foi encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML) de Santos para a realização de exames complementares. A causa oficial da morte segue um mistério.

Wolfgang acabaria enterrado no dia seguinte no cemitério do Rosário, na cidade de Embu, na região metropolitana de São Paulo.

Reviravolta

Em 1985, no entanto, uma reviravolta marcou o caso registrado por Dias naquela tarde ensolarada de fevereiro. A dimensão do fato assumiu contornos históricos e atraiu a atenção de diversos meios de comunicação brasileiros e internacionais. “Um repórter me ligou e começou a perguntar se havia sido eu quem tinha atendido uma ocorrência em 1979. Daí para frente tudo começou a vir à tona.”

Ele conta que teve início uma grande busca de informações a respeito do caso, inclusive por parte dos peritos, que acabariam exumando os ossos de Mengele - análises feitas através de exames de DNA confirmariam, em 1992, que os restos mortais seriam mesmo do monstro nazista. Entre inúmeras entrevistas concedidas, Dias foi convocado para relatar a ocorrência à Polícia Federal em São Paulo. O ex-cabo da PM lembra que, com a enorme repercussão do caso no Brasil e no exterior, Bertioga alterou sua rotina na época.

“A cidade, que era mais tranquila, pacata, sofreu um impacto muito grande”, diz. “Eu ficava pensando depois quantas vezes ele (Mengele) pode ter passado por mim ainda em vida”, acrescenta. Isso porque Dias havia trabalhado também em uma base da PM em um dos pontos de entrada da cidade, a balsa que a liga ao município do Guarujá.

Hoje, o ex-cabo é chefe de fiscalização do setor de trânsito e transporte do município de Bertioga, após entrar na reserva da PM como primeiro-sargento. Aos 68 anos, o mineiro que chegou à cidade ainda no fim da década de 1960 como policial rodoviário, se dedica aos desafios da ocupação do sistema viário. E, de forma singela, mas ao mesmo tempo muito objetiva, resume o seu sentimento em torno do caso Mengele, antes de retornar à sua ocupação pública.

“Fica o sentimento de compaixão das pessoas que perderam a vida de forma tão trágica. Hoje o mundo é um lugar melhor.”

Fonte: El País (Edição Brasil)
http://brasil.elpais.com/brasil/2014/02/07/politica/1391769715_190054.html

domingo, 29 de dezembro de 2013

Doutores do inferno: o horror do barracão 46 de Buchenwald

Publicado em 5 junho, 2012

Arthur Dietzsch
[Testemunho de Eugen Kogon, prisioneiro de Buchenwald, durante o processo médico pertencente aos julgamentos de Nuremberg]:

[…] No campo todo mundo sabia que o barracão 46 era um lugar temível. Muito poucas pessoas no campo tinham uma ideia exata do que se passava no barracão 46. O medo se apoderava de todo aquele que tinha que se relacionar de algum modo com esse barracão. Se escolhiam pessoas e as levavam do barracão 46 para a enfermaria, sabiam que a coisa era fatal. O horror indescritível que rodeava esse barracão piorava ainda mais as coisas. (…)

À parte disso, no campo se sabia que o Kapo Arthur Dietzsch impunha uma disciplina férrea no barracão 46. Ali quem mandava era o chicote. Todo o que ia para o barracão 46 como sujeito de experimentação não só esperava, portanto, a morte, e em certas circunstâncias uma morte muito demorada e penosa, senão também ser torturado e sofrer a privação completa dos últimos vestígios de sua liberdade pessoal.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/05/doctores-del-infierno-el-horror-del-barracon-46-de-buchenwald/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, pág. 241; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

sábado, 28 de dezembro de 2013

Doutores do inferno: eutanásia com fenol em Buchenwald

Dr. Schuler-Ding
Publicado em 7 junho, 2012

A prova 283 de acusação é uma declaração jurada do doutor Erwin Schuler: o célebre "doutor Ding". Como testemunha de aplicação da eutanásia mediante fenol puro sem diluir em Buchenwald, declarou:
"Um a um foram entrando quatro ou cinco prisioneiros. Entravam com a parte superior do tronco nua para que não se distinguisse a insígnia de sua nacionalidade (na roupa). Eram de idade avançada e estavam em más condições físicas. Não recordo do diagnóstico pelo qual iriam lhes aplicar a eutanásia, mas seguramente tampouco o perguntei.

Sentaram-se tranquilamente em uma cadeira, ou seja, sem nenhum nervosismo, próximos a uma luz. Um enfermeiro pressionava a veia do braço, e o doutor Hoven (Waldemar Hoven, médico chefe de Buchenwald) injetava rapidamente o fenol. Morriam com uma convulsão imediata e total, durante a aplicação da injeção, sem nenhum outro sinal de dor. Calculo que o tempo transcorrido entre o início da injeção e a morte era de meio segundo. O resto da dose se injetava como medida de precaução, ainda que para provocar a morte bastasse apenas uma dose da injeção. (Calculo que cerca de 5 cc.)

Os enfermeiros levavam o morto a uma habitação antiga. Eu calculo que estive ali uns dez minutos".

[…]
Durante a realização do programa de eutanásia, descrito mais adiante, foram assassinados milhares de pessoas mediante injeções de fenol. A cifra dos assassinados por este método ascendeu a mais de vinte mil pessoas.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/07/doctores-del-infierno-eutanasia-con-fenol-en-buchenwald/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 264-265; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos com tifo

Publicado em 12 junho, 2012

O tifo se converteu num problema médico de primeira magnitude no outono de 1941, depois que a Alemanha atacou a Rússia. Como naquele momento escasseavam as vacinas, só se imunizavam contra o tifo o pessoal de saúde sanitária que ocupava postos de risco.

Entre dezembro de 1941 e março de 1942, iniciou-se um perverso e mortífero programa de experimentação médica usando reclusos dos campos de concentração de Buchenwald e Natzweiler. Seu propósito era avaliar diversas vacinas contra o tifo, a febre amarela, a varíola, a febre paratifoide A e B, o cólera e a difteria. Esperava-se com ele produzir um soro de convalescente para combater o tifo.

Durante o processo foi demonstrado que 729 presos foram submetidos a experimentos com tifo, dos quais 154 morreram. (…)

Ainda que os imputados Handloser, Schroeder, Genzken, Rudolf Brandt, Mrugowsky, Sievers, Rose e Hoven fossem condenados por experimentos com tifo que constituíam delito criminoso, a maioria dos experimentos realizados em Buchenwald foi conduzido por um médico de sinistra fama, conhecido como o doutor Ding (Schuler), que se suicidou ao término da guerra e, portanto, não pode ser conduzido à justiça. O diário profissional do doutor Ding sobreviveu e, passado um tempo, foi entregue ao magistrado chefe para crimes de guerra, o general norte-americano Telford Taylor, e passou a ser uma das 1471 provas documentais preparadas pelos alemães. Desempenhou papel essencial na hora de condenar os médicos depravados.

Doutor Eugen Haagen
O doutor Eugen Haagen, oficial do Serviço Médico da Força Aérea e professor da universidade de Estrasburgo (França) durante a ocupação alemã, dirigiu experimentos com tifo em Natzweiler.

(…)

O melhor modo de descrever esses experimentos é recorrer ao testemunho do doutor Eugen Kogon, prisioneiro de um campo de concentração e testemunha de acusação, que foi interrogado pelo promotor McHaney:

Promotor McHaney: – O Sr. poderia, por favor, explicar ao tribunal, com suas próprias palavras, como foram efetuados esses experimentos com tifo?

Testemunho de Kogon: – Depois que se destinou para uma série de experimentos entre quarenta e sessenta pessoas (às vezes até cento e vinte), separava-se a um terço delas, e os dois terços restantes lhes vacinavam com um tratamento protetor ou lhes administravam de outro modo, se era um tratamento químico. (…) O contágio se efetuava de diversas maneiras. Transferia-se o tifo mediante o sangue injetado por via intravenosa ou intramuscular. No princípio também se fazia arranhando a pele, ou praticando uma pequena incisão no braço. (…)

Para manter os cultivos de tifo, utilizavam uma terceira categoria de sujeitos de experimentação. Eram as chamadas "pessoas de trânsito", entre três e cinco pessoas por mês. Elas eram contaminadas unicamente com o fim de assegurar um fornecimento constante de sangue infectado de tifo. Quase todas essas pessoas morreram. Não creio exagerar se digo que 95 por cento delas morreram.

Promotor: – A testemunha quer alegar que contaminavam premeditadamente com tifo entre três e cinco pessoas ao mês só para terem vírus vivos e disponíveis no sangue?

Testemunha: – Só com essa finalidade concreta.

[…]

Promotor: – Pode dizer ao tribunal se esses sujeitos de experimentação sofreram de forma apreciável no transcurso dos experimentos com tifo?

Testemunha: – […] os sujeitos de experimentação esperavam na enfermaria dia ou noite que lhes fizessem algo; não sabiam o que seria, mas adivinhavam que seria uma morte espantosa.

Se lhes vacinavam, às vezes ocorriam as cenas mais horrendas, porque os pacientes temiam que as injeções fossem letais. O Kapo tinha que restabelecer a ordem com mão de ferro.

Passado certo tempo depois da infecção, quando a enfermidade havia se manifestado, apareciam os sintomas normais do tifo, que, como é bem conhecido, é uma das enfermidades mais graves que existem. A infecção, como já foi descrito, havia se fortalecido muito durante anos e mais uma metade de ano anteriores na qual o tifo começou a aparecer em sua forma mais terrível. Havia casos de loucura furiosa, delírios, pessoas que se negavam a comer e uma grande porcentagem delas morria.

Os que sofriam a enfermidade em uma forma mais benigna, talvez porque fossem mais fortes de constituição ou porque a vacina surtia efeito, tinham que assistir constantemente a agonia dos outros. E isto ocorria em um ambiente que dificilmente poderia se imaginar. Durante o período da convalescência, os que sobreviviam ao tifo não sabiam o que seria deles. Seguiram no barracão 46 para serem utilizados para outros fins? Os utilizariam como ajudantes? Temeriam que eles como testemunhas sobreviventes dos experimentos com seres humanos e os matariam, portanto? Eles não sabiam, e ele agravava as condições desses experimentos.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/12/doctores-del-infierno-experimentos-con-tifus/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 239-242; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O médico da SS, Dr. Horst Schumann (Eutanásia em doentes mentais, Aktion T4)

Dr. Horst Schumann, médico da SS
Envolvido no programa de Eutanásia
O Dr. Horst Schumann (tenente superior da Força Aérea e Sturmbannführer da SS) nasceu em 1906 em Halle an der Saale, filho de um médico de medicina general. Desde 1930 afiliado ao NSDAP com o número 190 002 e desde 1932 membro da SA. Schumann se formou em medicina em 1933 em Halle, e em 1934 trabalhou para Saúde Pública em Halle e quando estourou a guerra em 1939 foi recrutado como médico adjunto da Força Aérea.

Viktor Brack, chefe da oficina da aktion T4 (no qual se praticava a eutanásia dos doentes mentais, os doentes crônicos, os judeus e os assim chamados antissociais) lhe pediu em 1939 que participasse como médico nesta ação de eutanásia, ao que Schumann aceitou pouco tempo depois. Em janeiro de 1940 foi nomeado chefe da clínica de eutanásia de Grafeneck em Württemberg; ali a eutanásia consistia em assassinar as pessoas mediante gases de escape. No verão de 1940 foi nomeado diretor da clínica Sonnenstein próxima de Pirna na Saxônia.

Depois que Hitler houvesse ordenado oficialmente a aniquilação dos assim chamados "doentes incuráveis", pondo-a sob o nome de código "14 f 13" também os presos dos campos de concentração, Schumann fez parte das comissões de médicos que selecionavam os presos incapacitados para trabalhar, assim como os presos extremamente débeis nos campos de concentração de Auschwitz, Buchenwald, Dachau, Flossenburg, Groß-Rosen (Gross-Rosen), Mauthausen, Neuengamme e Niederhangen, para serem transportados às clínicas de eutanásia, onde eram gaseados.

Em 28 de julho de 1941 Schumann chegou pela primeira vez a Auschwitz, onde selecionou 575 presos que foram transportados para a clínica de eutanásia em Sonnenstein próxima de Pirna, onde foram assassinados. A partir de agosto de 1941, a SS prosseguiu com sua ação "14 f 13", agora com os presos doentes lhes era injetado fenol diretamente no coração. Um ano e meio mais tarde, Schumann voltou a Auschwitz para pôr a prova um método "econômico e rápido", com raios-X, para esterilização em massa de homens e mulheres. Quase nenhuma de suas numerosas vítimas sobreviveu; sendo as causas dessas mortes as queimaduras sofridas, as "intervenções complementares" (extirpação de ovários e testículos), o esgotamento físico e o choque psíquico. Em 1944 Schumann abandonou Auschwitz. Em outubro de 1945 apareceu em Gladbeck, onde se deu alta no Registro e onde também foi nomeado médico desportivo.

Mediante um crédito que se concedia exclusivamente aos refugiados (!), abriu em 1949 sua própria clínica, e até 1951 as autoridades pertinentes não se deram conta de que na realidade se tratava de um criminoso nacional-socialista procurado. Schumann pode fugir. Nos anos seguintes, segundo suas declarações, exerceu medicina em um barco, trabalhou a partir de 1955 no Sudão, de onde fugiu em 1959, via Nigéria e Líbia, para Gana. Até 1966, Schumann não havia sido extraditado para a República Federal da Alemanha. Em setembro de 1970 foi aberto o processo contra Schumann, interrompido em abril do ano seguinte pela hipertensão arterial do acusado. Em 29 de julho de 1972 foi posto em liberdade, fato que passou desapercebido do grande público. Passou o resto de seus dias em Frankfurt, onde faleceu em 5 de maio de 1983, onze anos depois de haver sido posto em liberdade. Graças aos certificados médicos pode se livrar de uma condenação e até da prisão.

Fonte: Institut fuer Sozial- und Wirtschaftsgeschichte - Uni Linz (Áustria)
http://www.wsg-hist.uni-linz.ac.at/auschwitz/htmlesp/Schumann.html
http://www.wsg-hist.uni-linz.ac.at/auschwitz/htmld/Schumann.html
Foto: Arquivo Yad Vashem (http://collections.yadvashem.org/photosarchive/en-us/1059_12880.html)
Tradução: Roberto Lucena

Ver mais:
Experimentos Médicos - Oberhauser e Schumann
Tag Cobaias Humanas

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos em altitudes elevadas

Publicado em 14 junho, 2012

Os experimentos relativos a altitudes elevadas tinham como objetivo pôr a prova os limites da resistência e da vida humanas em altitudes extremamente elevadas, com e sem oxigênio. Isto foi conduzido pela Força Aérea alemã no campo de concentração de Dachau entre março e agosto de 1942, aproximadamente. Tinham como propósito reproduzir as condições atmosféricas que o piloto alemão poderia encontrar em combate ao cair de grandes distâncias sem paraquedas e sem fonte de oxigênio. Esses experimentos foram realizados colocando a vítima numa câmara hermética de baixa pressão provida pela Luftwaffe, e simulando as condições atmosféricas e de pressão de altitudes até num máximo de vinte mil metros.

A iniciativa partiu do médico da Luftwaffe Sigmund Rascher, que em 15 de maio de 1941 propôs ao chefe da SS, Heinrich Himmler, levar a cabo este tipo de experimentos criminosos. Himmler autorizou os experimentos de boa vontade. Os experimentos de combate aeronáutico e naval, assim como os experimentos de resgate, centraram-se principalmente nessas provas de simulação de altitudes elevadas (acima de dez mil metros, assim como em provas de exposição ao frio e relativas à capacidade humana de metabolizar água marinha tratada (…)

Nos documentos, os seres humanos da experimentação aparecem mencionados com as siglas VP (Versuchsperson, que quer dizer, "sujeito de experimentação"). Os cerca de duzentos sujeitos foram escolhidos aleatoriamente. Entre os selecionados havia civis russos, prisioneiros de guerra russos, poloneses, judeus de diversas nacionalidades e presos políticos alemães. Desses duzentos, não mais que quarenta haviam sido condenados à morte. (O fato de que os sujeitos dos experimentos houvessem sido sentenciados à pena capital foi esgrimido como argumento pelos imputados para justificar suas mortes.) Setenta e oito pessoas morreram como consequência dos experimentos. O doutor Rascher prometeu a alguns reclusos que, se se oferecessem como voluntários, seriam liberados; por conta disto alguns se ofereceram voluntariamente. Só que a tal promessa nunca foi cumprida.

Um relatório redigido em maio de 1942 descreve como em alguns desses testes se utilizaram delinquentes habituais judeus que haviam sido condenados por Rassenschande, ou seja, literalmente, "vergonha racial". A vergonha racial, tal e como definiam os alemães, era o matrimônio ou a relação carnal entre os arianos e os não-arianos (entendendo por "arianos" os alemães de "sangue puro").

O acusado Weltz tinha jurisdição sobre as atividades do doutor Rascher. É interessante anotar que Weltz havia se colocado em contato com os renomados especialistas no campo da medicina aeronáutica, o doutor Lutz e o doutor Wendt, para que tomassem parte nesses experimentos. Ambos se negaram por motivos morais e afirmaram que as diferenças de comportamento entre seres humanos e animais não bastavam para justificar a realização de perigosos experimentos com pessoas.

George August Weltz, chefe do instituto de medicina
para aviação em Munique. Foi declarado inocente
da acusação de ser responsável dos experimentos
com grande altitude e congelamento. Fonte: USHMM
(…)

Os imputados Weltz, Ruff, Romberg, Rudolf Brandt e Sievers participaram nos experimentos de simulação de queda de paraquedas. A câmara de baixa pressão móvel na qual se obrigava a entrar os seres da experimentação foi transportada do instituto do acusado Ruff em Berlim, até Dachau. As vítimas eram fechadas uma a uma no habitáculo hermético e circular. Prontamente a pressão variava para reproduzir as condições atmosféricas até um máximo de 20.670 metros de altitude. Podia-se ou não subministrar oxigênio adicional às cobaias.

(…)

Os documentos fotográficos exibidos como provas não respaldavam o argumento dos acusados segundo o qual, ainda que os experimentos pudessem provocar a morte da pessoa, não implicavam em tortura física nem sofrimento. Algumas filmagens confiscadas pelos alemães que mostravam convulsões espasmódicas e expressões de sofrimento e dor contradizem por completo este argumento.

(…)

Outro argumento esgrimido pelos acusados foi a “necessidade do Estado” (…)

Até que ponto foram científicos os experimentos de simulação em altitudes elevadas? Na prova 66 da acusação relativa a "Experimentos de simulação em altitudes elevadas", um relatório assinado pelo doutor Rascher e o imputado Romberg, afirmava:

“Posto que era evidente a urgência de resolver o problema, sobretudo tendo em conta as condições dadas do experimento, foi necessário prescindir naquele momento do esclarecimento total sobre questões puramente científicas".

Esta afirmação demonstra que os acusados sabiam que os experimentos não eram científicos e que não cumpriam o que era estipulado pelos protocolos médicos a respeito da voluntariedade do sujeito da experimentação. Resumindo, entre 180 e 200 vítimas foram submetidas a este experimento, com o resultado de graves lesões físicas e entre 70 e 80 mortes.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/14/doctores-del-infierno-experimentos-con-altitudes-elevadas/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 113-129; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Doutores do inferno: o "campo pequeno" de Buchenwald

Publicado em 6 junho, 2012

O doutor Eugen Kogon, ex-recluso de Buchenwald e testemunha de acusação, declarou que o doutor Mrugowsky, um dos acusados, "selecionava sistematicamente a inválidos e pessoas mais velhas, especialmente franceses, que estavam no chamado "campo pequeno" de Buchenwald a fim de lhes extrair sangue para usá-lo na preparação de plasma sanguíneo.

Quando lhe foi perguntado se algum desses doadores de sangue do "campo pequeno" morreram por consequência disso, Kogon contestou: "O caso é que fica muito difícil formar uma ideia clara do "campo pequeno" de Buchenwald. Ali as pessoas morriam em massa. Pela noite havia
cadáveres nus estendidos pelos barracões porque os demais prisioneiros os arrancavam das camas para se ter um pouco mais de espaço. Os que queriam sobreviver lhes arrancavam até a menor peça de roupa. É impossível determinar se morreu alguém como consequência direta e imediata dessas extrações de sangue, porque muita gente caia e morria enquanto andava pelo "campo pequeno".

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/06/doctores-del-infierno-el-campo-pequeno-de-buchenwald/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, pág. 245; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

sábado, 30 de novembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos de congelamento em Dachau

Publicado em 15 junho, 2012

Os experimentos de congelamento ocorreram em Dachau entre agosto de 1942 e maio de 1943, aproximadamente, para proveito da Luftwaffe. Tratava-se de investigar como tratar pessoas que haviam sofrido hipotermia ou haviam estado submetidas a um frio intenso.

Realizaram experimentos em água gelada e terra seca que reproduziam as condições de frio extremo que padeciam os pilotos alemães cujos aviões se chocavam no mar, ou as tropas do exército alemão que lutavam a temperaturas abaixo de zero em meio a grossa capa de neve. Tinham como objetivo pôr a prova distintos modos de reanimar os aviadores e soldados alemães.

Os acusados Karl Brandt, Handloser, Schroeder, Gebhardt, Rudolf Brandt, Mrugowsky, Poppendick, Sievers, Becker-Freyseng e Weltz foram acusados de conduta criminosa por dirigir esses experimentos.

A acusação partiu para o Departamento de Medicina da Aviação, a quem era responsável o então imputado Becker-Freyseng.

(…)

Nos experimentos com água gelada (entre 360 e 400) utilizaram-se uns 280 ou 300 presos políticos, cidadãos estrangeiros e prisioneiros de guerra. Morreram entre 80 e 90 sujeitos. Rascher conduziu os experimentos adicionais, servindo-se de outros 50 ou 60 sujeitos. Deles, morreram entre 15 e 18.

Não há melhor modo de descrever esses experimentos que acudir as declarações da testemunha Walter Neff, um prisioneiro do campo de concentração que atuou como auxiliar. Neff foi interrogado entre 17 e 18 de dezembro de 1946 pelo promotor James McHaney.

(…)

Testemunha: – a banheira de experimentação estava cheia de madeira. Tinha dois dois metros de comprimento por dois de largura. Erguia-se a uns cinquenta centímetros do chão e ficava no barracão número 5. Tanto na câmara de experimentação como na banheira havia muitas lâmpadas e outros aparatos que eram usados para tomar medidas (…)

Testemunha: – as banheiras se enchiam de água e se acrescentava gelo até que a água alcançasse uma temperatura de 3º C, e os sujeitos da experimentação iam vestidos com traje de voo, ou os colocavam nus na água gelada. (…) Quando os sujeitos da experimentação estavam conscientes, passava algum tempo até se manifestar a chamada narcose por congelamento. A temperatura era tomada pelo reto e pelo estômago, mediante o galvanômetro. A queda de temperatura corporal até 32º C era terrível para o sujeito da experimentação. A 32º C, o sujeito perdia a consciência. Essas pessoas eram congeladas até alcançar os 25º C de temperatura corporal, e para que se compreenda o problema, eu gostaria de lhes dizer algo acerca da época de Holzloehner e Finke. (…) não morreu nenhum sujeito da experimentação na água. A morte ocorria porque durante a reanimação a temperatura caia todavia mais e se produzia uma parada cardíaca. Isto ocorria porque também a terapia era mal aplicada (…) Mas as coisas mudaram quando Rascher ficou responsável pessoalmente dos experimentos. Naquela época, muitas das pessoas que tomaram parte nos experimentos eram mantidas na água até que morressem.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/15/doctores-del-infierno-experimentos-de-congelacion-en-dachau/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 131-135; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos com malária

Publicado em 18 junho, 2012

Mais de 1084 acusados de diversas nacionalidades, inclusive sacerdotes católicos, foram submetidos a experimentos com malária (testes de imunização e tratamento diversos). Esses experimentos ocorreram no campo de concentração de Dachau entre fevereiro de 1942 e abril de 1945, aproximadamente, e foram concluídos apenas antes da rendição da Alemanha, em 8 de maio de 1945.

Wolfram Sievers
Infectava-se premeditadamente com malária os reclusos que eram considerados sãos, servindo-se de mosquitos infectados ou mediante injeção de sangue infectado com malária. Para manter uma provisão constante de sangue infectado, todos os meses se contaminava artificialmente com malária entre três e cinco reclusos, de modo que seu sangue pudesse ser usado para infectar outros.

(…)

Os imputados Karl Brandt, Handloser, Rostock, Gebhardt, Blome, Rudolf Brandt, Mrugowsky, Poppendick e Sievers foram acusados de responsabilidade especial e participaram na conduta criminosa devido a esses experimentos, mas só Sievers foi condenado neste julgamento. Sievers negou haver tomado parte nos experimentos com malária.

(…)

Em Dachau, um tribunal militar estadunidense nomeado em 2 de novembro de 1945, ajuizou quarenta médicos e assistentes no caso Estados Unidos contra Martin Gottfried Weiss, Friedrich Wilhelm Ruppert, et al. Entre os imputados se encontrava o doutor Claus Karl Schilling. (…)

Schilling foi o principal responsável pelos experimentos levados a cabo em Dachau, dado que esteve perfeitamente disposto a utilizar os métodos de experimentação nazi servindo-se de acusados do campo numa época em que outros médicos e cientistas alemães se negaram a tomar parte deles ou fugiram do país. Schilling acreditava que era seu dever humanitário encontrar a cura para a malária, à margem de que seus métodos ameaçavam a vida de reclusos do campo submetidos à experimentação contra sua vontade.

Claus Karl Schilling
Antes do julgamento, em 30 de outubro de 1945, o doutor Schilling efetuou, de seu próprio punho, uma declaração jurada ante o subtenente Werner Conn. Esta declaração foi admitida como indício provatório com o número 122 das provas da acusação. Schilling afirmava haver inoculado pessoalmente entre novecentos e mil prisioneiros. (…)

Muitos dos internos infectados com malária morreram de tuberculose, disenteria e tifo. Segundo sua declaração, Schilling assistiu a autopsia de uma das vítimas e solicitou o cérebro, o fígado, o rim, o baço e um pedaço do estômago.

No julgamento de Dachau, um sacerdote católico preso, o padre Koch, declarou que primeiro lhe fizeram radiografias e posteriormente o enviaram para sala de malária. Metido em um quarto pequeno, teve que segurar uma caixa de mosquitos durante meia hora todos os dias pelo intervalo de uma semana. Cada tarde lhe colocavam outra caixa de mosquitos entre as pernas enquanto estava na cama. Todas as manhãs lhe tiravam uma amostra de sangue da orelha.

O padre Koch saiu do hospital passados dezessete dias. Oito meses depois teve um ataque de malária que voltou a se manifestar a cada três semanas durante seis meses. Sofria de febre alta, calafrios e dores articulares. Infectou-se assim mesmo prisioneiros poloneses e russos mediante injeções procedentes dos próprios mosquitos ou com extratos de glândulas mucosas dos mosquitos. A malária foi a causa direta de trinta mortes, enquanto que as complicações derivadas dela ocasionaram entre trezentas e quatrocentas mortes, um terço das 1200 vítimas submetidas a esses experimentos.

(…)

Durante seu julgamento em Dachau, o doutor Schilling se defendeu alegando que seu trabalho era parte de seus deveres; que ficou inacabado; e que o tribunal de Dachau devia fazer o que pudesse para ajudá-lo a concluir seus experimentos em benefício da ciência.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)

http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/18/doctores-del-infierno-experimentos-con-malaria/

Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 147-156; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Doutores do inferno: mulheres utilizadas para reanimação

Publicado em 16 junho, 2012

As mulheres do campo de concentração que eram utilizadas para reanimação nos experimentos de congelamento recebiam o nome de "prostitutas". Em um memorando datado de 5 de novembro de 1942, o doutor Rascher escreveu:

"Para os experimentos de reanimação mediante calor animal depois do congelamento, tal e qual ordenou o Reichsführer-SS, quatro mulheres do campo de concentração de Ravensbrück assinaram". (…)

O que se segue é uma carta de Rascher a Himmler datada de 17 de fevereiro de 1943. A carta resume a eficácia do processo de reanimação humana.

(…) "Atualmente estou tentando demonstrar através de experimentos com seres humanos que é possível reanimar pessoas congeladas com frio seco com a mesma rapidez que pessoas congeladas por imersão na água fria. O Gruppenführer doutor Grawitz, do Serviço Médico da SS, duvidava muito que isto fosse possível (…) Até agora congelei umas trinta pessoas as deixando desnudas e sujeitas à intempérie por nove e catorze horas, a temperaturas entre 0 e -1º C. Passada uma hora de paroxismo, colocava os ditos sujeitos em uma banheira de água quente. De momento, todos os pacientes se recuperaram no prazo de uma hora, no máximo; ainda que alguns deles tenham as mãos e os pés brancos pelo congelamento. Em alguns casos, observou-se uma leve fatiga e uma febre ligeira no dia seguinte do experimento. Não se observou nenhum resultado fatal como consequência de um aquecimento tão rápido ao extremo. De momento não se pode levar a cabo nenhuma reanimação na sauna, como você me ordenou, meu caro Reichsführer (…)"

O documento adjunto, classificado como "secreto", diz o seguinte:

"Experimentos para a reanimação mediante calor animal de seres humanos submetidos a frio intenso.

A. A propósito dos experimentos:

Comprovar se a reanimação de pessoas submetidas a frio intenso mediante calor animal (ou seja, calor de animais ou de seres humanos) é tão boa ou melhor que a reanimação mediante meios físicos ou médicos.

B. Metodologia dos experimentos:

Esfriava-se os sujeitos da experimentação pelo modo habitual (com roupa ou sem ela), em água fria, com temperaturas que variavam entre 4º C e 9º C. A temperatura retal de cada um dos sujeitos era registrada por meios termelétricos. A queda da temperatura se manifestava no intervalo de tempo habitual, dependendo do estado físico geral do sujeito da experimentação e da temperatura da água. Tirava-se da água os sujeitos da experimentação quando sua temperatura retal alcançava os 30º C. Chegado a esse ponto, todos os sujeitos haviam perdido a consciência. Em oito casos, foram colocados os sujeitos entre duas mulheres desnudas, em uma cama espaçosa. As mulheres deviam ficar o mais próximo possível da pessoa gelada. Depois, eram cobertos os três com mantas. Não se tentava acelerar o processo de reanimação com o uso de lâmpadas ou remédios.

C. Resultados:

1. Chama a atenção que, quando se tomava a temperatura do sujeito, havia ocorrido uma nova queda de até 3º C, ou seja, uma queda maior da que fora visto em qualquer outro método de reanimação. Observou-se, contudo, que o sujeito recuperava antes a consciência, ou seja, a uma temperatura corporal mais baixa que com outros métodos de reaquecimento. Uma vez que o sujeito recuperasse a consciência, não voltava a perdê-la e em seguida compreendia a situação e se aproximava junto às mulheres desnudas. A partir de então, a subida de temperatura corporal era produzida com a mesma rapidez com a qual sujeitos de experimentação haviam sido reanimados lhes cobrindo com mantas. Houve quatro exceções nas quais os sujeitos da experimentação efetuaram ato sexual a temperaturas corporais entre 30º C e 32º C. Com esses sujeitos, a temperatura subiu muito rapidamente depois do ato sexual, o que podia ser comparado com a subida rápida da temperatura em uma banheira de água quente.

2. Outra série de experimentos girou em torno da reanimação de pessoas submetidas a frio intenso valendo-se de uma só mulher. Em todos esses casos a reanimação foi notavelmente mais rápida que a conseguida por duas mulheres. (…)
D. Conclusão:

Os experimentos de reanimação de sujeitos submetidos a frio intenso demonstraram que a reanimação mediante calor animal é muito lenta. (…) Dado que a exposição física prolongada a baixas temperaturas implica num risco de lesões internas, há de se escolher o método de reanimação que garanta a atenuação mais veloz de temperaturas perigosamente baixas. Este método, segundo nossa experiência, é o subministrado rápido e massivo de calor mediante um banho quente. (…)

Dachau, 12 de fevereiro de 1943.

Assinado: Doutor S. Rascher

Hauptssturmführer-SS


Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/16/doctores-del-infierno-mujeres-utilizadas-para-la-reanimacion/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (edição espanhola)
(livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 140-145; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos com veneno

Publicado em 23 junho, 2012

Os experimentos com veneno praticados nos campos de concentração de Buchenwald e Sachsenhausen no tinham o propósito científico de sanar, sino que se utilizaram para cronometrar quanto tardavam para sobreviver à morte e observar a dor e o sofrimento que o veneno provocava até o último momento. Os médicos alemães estavam estudando diversos métodos para matar seres humanos e o tempo que estes métodos requeriam.

(…)

O argumento da defesa em sua argumentação final na acusação de Mrugowsky foi que o uso de balas envenenadas por parte dos russos "havia feito aumentar o temor de que logo se utilizassem na frente (…) e de quanto tempo tardariam para estar disponíveis os antídotos para sua administração caso fossem necessários".

Em dezembro de 1943 se realizou a primeira série de experimentos para determinar a dose fatal de veneno do grupo dos alcaloides (substâncias orgânicas básicas contidas nas plantas). Administrou-se o veneno na comida de quatro prisioneiros russos, sem seu conhecimento. Os médicos alemães se colocaram atrás de uma cortina para observar suas reações. Os quatro sobreviveram, mas foram estrangulados lhes colocando em ganchos de parede de um crematório do campo de concentração para poder fazer a autopsia...

(…)

A prova 290 da acusação é um relatório de Mrugowsky, datado de 12 de setembro de 1944, no qual ele descreve os experimentos levados a cabo com cinco presos aos quais lhes foram disparados balas que continham veneno cristalizado:
"Aos sujeitos da experimentação, colocados na horizontal, foi-lhes disparado na parte superior do músculo esquerdo. Em dois deles as balas atravessaram limpamente o músculo. Depois não se observou efeito algum do veneno. Esses dois sujeitos da experimentação foram portanto liberados (…). Os sintomas dos três condenados mostraram um parecer surpreendente. A princípio não se manifestou nenhum traço peculiar. Transcorridos entre vinte e vinte e cinco minutos se manifestou certa agitação motora e um ligeiro ptialismo [secreção de saliva], que acabou novamente. Passados entre quarenta e quarenta e cinco minutos se manifestou uma salivação maior. As pessoas envenenadas tragavam saliva repetidamente, mas posteriormente o fluxo de saliva aumentou até o ponto que não se remediar tragando. Saia saliva espumosa da boca. Depois começaram as náuseas e o afogamento.

Passados quarenta e oito minutos, já não se sentia o pulso de dois deles (…). Uma das pessoas envenenadas tentou vomitar. (…)

Os outros dois sujeitos da experimentação já tinham a cara pálida. Os demais sintomas eram iguais. A agitação motora aumentou tanto que as pessoas saltavam, moviam os olhos em círculos e faziam movimentos sem sentido com braços e mãos. Finalmente, a agitação diminuiu, as pupilas se dilataram ao máximo e os condenados ficaram imóveis (…) A morte veio passados 121, 123 e 129 minutos depois da entrada do projétil".
Demorou até duas horas e nove minutos para assassinar essas pessoas.

Ainda que oss imputados Genzken, Gebhardt, Mrugowsky e Poppendick tenham sido acusados por conduta criminosa relativa a este experimento, só Mrugowsky foi condenado.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/23/doctores-del-infierno-experimentos-con-veneno/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 247-250; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

As vítimas esquecidas da anatomia nazista

As vítimas esquecidas da anatomia nazi
Victoria Gill. BBC; Segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Liane Berkowitz

Liane Berkowitz foi executada pelos nazis
e seu corpo foi utilizado para experimentação
de cientistas anatomistas.
Liane Berkowitz tinha só 19 anos quando foi executada pelos nazis.

Foi presa em 1942 pela Gestapo, a polícia secreta, quando pegava cartazes com mensagens contra a propaganda nazi.

Estava grávida, mas isto só postergou sua execução até depois que desse a luz a seu bebê.

A sombria história de Liane não acabou com sua morte. Seu corpo foi um dos milhares que foram dissecados por anatomistas e utilizados para seus experimentos.

A identidade destas vítimas do horror nazi agora sai a luz graças aos pesquisadores que rastreiam os registros legais para identificar quem acabou nas mesas de trabalho de anatomistas do regime.

Liane foi uma das 182 pessoas cujos cadáveres foram analisados por Hermann Stieve, que naquele momento era um renomado especialista da Universidade de Berlim.

Os nomes completos da chamada "lista de Stieve" – composta principalmente por mulheres – acabam de ser publicados por Sabine Hildebrant, una anatomista alemã que trabalha na Universidade de Michigan.

"O mesmo Stieve elaborou esta lista em 1946", explica a doutora Hildebrant, que levou uma década pesquisando a história da anatomia alemã. O detalhado registro de Stieve com seu macabro trabalho permitiu identificar suas vítimas.

Hildebrant centrou seus esforços para contra as histórias dessas pessoas.

"Queria saber quem eram", disse a pesquisadora consultada pela BBC, "queria que fossem conhecidas outra vez".

Trauma e estresse

Vera Obolensky e Libertas Schulze-Boysen


Muitas das vítimas da lista de Stieve eram mulheres
e membros da resistência, como Vera Obolensky
e Libertas Schulze-Boysen.
Stieve estava interessado especialmente na anatomia reprodutiva. Por isso a maioria de suas vítimas foram mulheres.

"Antes de 1933 podia se estudar os cadáveres de homens que haviam sido executados, mas não mulheres, já que a Alemanha não executava mulheres".

"Mas repentinamente, durante o Terceiro Reich, começaram a fazê-lo".

Cerca da metade dessas mulheres, entre elas Liane Berkowitz, foram condenadas a morte acusadas de traição.

Algumas foram denunciadas à Gestapo por outros cidadãos depois de expressar suas ideias políticas contrárias ao nazismo.

William Seidelman, ex-professor de medicina da Universidade de Toronto, Canadá, também dedicou anos à pesquisa dos laços entre a "medicina e o "assassinato" no Terceiro Reich.

Num artigo acadêmico de 1999 publicado em "Dimensions: A Journal of Holocaust Studies", Seidelman revelou alguns detalhes sobre como Stieve trabalhou em estreita colaboração com a prisão berlinense na qual se realizava as execuções.

"Quando uma mulher em idade reprodutiva ia ser executada, informavam a Stieve, escolhia-se uma data e era comunicada à prisioneira quando ela iria morrer", escreveu o professor Seidelman.

"Stieve estava particularmente interessado nos efeitos do estresse e do trauma psicológico nos ciclos menstruais das mulheres condenadas".

Depois da execução, os órgãos pélvicos da mulher eram extraídos para ser examinados. Stieve publicou relatórios baseados nesses estudos sem nenhum remorso ou desculpa", disse Seidelman.

Stieve se referia aos órgãos que analisava como "material". Suas publicações de então foram as primeiras a sugerir que o estresse - encarnado em nada menos que uma sentença de morte - interrompia o ciclo menstrual.

Em sua missão de revelar a vida das pessoas por detrás desse "material", a doutora Hildebrandt revisou os arquivos pessoais das vítimas de Stieve, que são guardados no museu do Monumento à Resistência Alemã de Berlim.

Hildebrant analisou cada arquivo junto a uma cópia da lista de Stieve que é mantida no Ministério de Justiça alemão, e identificou a cada uma das pessoas.

Comprovou os nomes de 174 mulheres e oito homens da lista, as datas exatas de nascimento e óbito, as nacionalidades, as razões de sua execução e qualquer outra informação pessoal que pode encontrar.

Alguns dos arquivos contém cartas que expressam os últimos desejos dos prisioneiros condenados, como os de "se reunir com seus entes queridos na morte", segundo explica a pesquisadora.

Uma dessas cartas era de Libertas Schulze-Boysen, que havia sido membro do partido nazi, mas em 1937 se uniu à resistência alemã e documentou e coletou evidências fotográficas dos crimes do nacional-socialismo.

Libertas foi presa em setembro de 1942 e condenada à morte por traição em dezembro do mesmo ano.

Numa carta para sua mãe, escreveu: "Como último desejo pedi que lhe entreguem minha 'substância material' (restos mortais). Se for possível, enterrem-me em um lugar bonito, ensolarado e rodeado pela natureza".

EXPERIMENTOS NAZIS

De acordo com o historiador médico Paul Weindling, quase 25.000 vítimas dos experimentos científicos nazis foram identificadas.

Weindling disse que houve distintas "fases" desses experimentos". A primeira esteve ligada à eugenia e à esterilização forçada.

A segunda fase coincidiu com o início da guerra. "Os doutores começaram a experimentar com pacientes de hospitais psiquiátricos", escreveu o professor Weindling em uma reportagem à BBC. "Fizeram experimentos esporádicos em campos de concentração como o de Sachsenhausen, próximo de Berlim, e observações antropológicas em Dachau."

A terceira fase começou em 1942, quando a SS (a polícia militar nazi) e o exército alemão tomaram o controle da experimentação científica. Aumentou o número de provas nos quais se inocularam doenças mortais como malária e tifo, esta uma doença epidêmica para milhares de vítimas.

Durante uma quarta fase em 1944-45, explica o doutor Weindling, "os cientistas sabiam que a guerra estava perdida mas continuaram com seus experimentos".

O MACABRO ATLAS DE PERNKOPF

Eduard Pernkopf, diretor de Anatomia da Universidade de Viena entre 1933 e 1945 e membro do Partido Nazi, utilizou cadáveres de prisioneiros executados para seus estudos e registrou isso em seu atlas de anatomia.

As detalhadas ilustrações que ele detinha o fizeram famoso entre os estudantes de anatomia.

Pernkopf trabalhou 18 horas diárias dissecando cadáveres enquanto uma equipe de artistas criava as imagens. Levou mais de vinte anos para terminar seu livro.

Tal como Sabine Hildebrandt escreveu em um artigo de 2006 na publicação Clinical anatomy, este projeto revelou "o traslado de ao menos 1.377 corpos de pessoas executadas no Instituto Anatômico de Viena" durante o Terceiro Reich.

"O possível uso desses cadáveres como modelos não se pode descartar em ao menos metade das quase 800 lâminas do atlas".

História obscura

Hildebrant disse que sua investigação deixou "dolorosamente" em evidência o pouco que interessava então a anatomistas o destino das pessoas cujos corpos estavam dissecando.

Por associação, é uma mancha na pesquisa anatômica alemã.

Dos 31 departamentos de anatomia na Alemanha e nos territórios ocupados entre 1933 e 1945, a especialista descobriu que "em todos eles, sem exceção, receberam cadáveres das câmaras de execução".

Este tema no chamou a atenção pública senão há apenas duas décadas.

O professor Seidelman conta que em 1989 um acadêmico anatomista da Universidade de Tubinga indicou em uma conferência que os espécimes que estavam mostrando eram de trabalhadores escravos poloneses e russos executados durante o Terceiro Reich.

Segundo explicou Seidelman à BBC, "os estudantes estavam comocionados e exigiram uma explicação".

A universidade iniciou uma investigação formal. Todas as mostras anatômicas de "origem incerta ou suspeita" foram sepultadas em uma seção especial do cemitério de Tubinga e em 8 de julho de 1990 foi realizada uma cerimônia comemorativa.

Várias universidades realizaram pesquisas formais sobre a obtenção de corpos durante o auge do nazismo em seus próprios departamentos de anatomia.

Instituições da Áustria estiveram envolvidas.

"A Universidade de Viena teve um bonde fúnebre especial que transportava os cadáveres da sala de execução do tribunal regional para o instituto de anatomia", disse o professor Seidelman.

Eduard Pernkopf, que foi diretor de anatomia entre 1933 e 1945, deixou um legado impresso em um tomo acadêmico de duvidosa fama. Muitas das ilustrações incrivelmente detalhadas do atlas de Pernkopf retratam os corpos de vítimas do terror nazi.

Seidelman disse que os pesquisadores estão ainda em "uma fase muito prematura do processo de revelar as histórias daquelas pessoas que se converteram em 'material experimental'".

"Converteram-se em objetos inanimados", disse.

Hildebrant afirma que este tema ainda projeta uma sombra sobre a ciência anatômica e opina que "a anatomia alemã do pós-guerra foi construída em parte sobre os corpos das vítimas".

"É hora de devolver os nomes aos números, de dar rostos e biografias às vítimas da anatomia do Terceiro Reich para recordar sua humanidade e as injustiças que tiveram que enfrentar", conclui.

Fonte: BBC Mundo (em espanhol)
Título original: Las víctimas olvidadas de la anatomía nazi
http://www.bbc.co.uk/mundo/noticias/2013/02/130128_historia_victimas_anatomistas_nazis_np.shtml
Tradução: Roberto Lucena

sábado, 16 de novembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos com sulfanilamida

Publicado em junho, 2012

Depois das baixas, em grande número, que a gangrena gasosa causou na frente russa no inverno de 1941-1942, a raiz do ataque alemão à Rússia conduziram experimentos com sulfanilamida para avaliar se o dito remédio poderia ser usado com os soldados no campo de batalha a fim de melhorar suas possibilidades de sobrevivência durante os longos traslados aos hospitais de base. Os Aliados chamavam a sulfanilamida de "medicamento milagroso". Os soldados alemães, que ouviram falar disto, perguntavam a seus oficiais médicos porque eles não a usavam. Se não podiam curar as feridas no campo de batalha, era preciso dispor de hospitais de campanha para intervi cirurgicamente nos soldados na frente.

Para comprovar a efetividade da sulfanilamida em infecções, realizaram experimentos no campo de concentração feminino de Ravensbrück entre 20 de julho de 1942 e agosto de 1943.

Quinze reclusos homens e sessenta reclusas de nacionalidade polonesa foram submetidos aos experimentos, (…)

Era feito no músculo uma incisão de uns dez centímetros de largura, introduziam bactérias infecciosas na ferida e posteriormente se colocava lascas de madeira. Depois de cada experimento inicial, procurava-se agravar a infecção gangrenosa. (…) Nesses experimentos se interrompia a circulação de sangue pelos músculos na zona de infecção amarrando os músculos por ambos os lados. Esta série de experimentos resultaram em infecções muito graves e várias mortes. (…)

Quatro mulheres poloneses submetidas a esses experimentos testemunharam ante o tribunal. Só foram usadas reclusas sãs, nenhuma delas voluntária.(…)

Todas as reclusas sofreram fortíssimas dores. O tribunal pode ver as mutilações as quais foram submetidas as mulheres poloneses que atuaram como testemunhas. Contribuíram como provas, fotografias de suas cicatrizes que passaram a fazer parte permanente do sumário.

A imputada Oberheuser ordenou que não dessem remédios, nem morfina, a muitas das vítimas. As bandagens só eram colocadas de vez em quando, o que causava um espantoso odor de pus nas habitações.



Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/20/doctores-del-infierno-experimentos-con-sulfanilamida/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (edição espanhola)
(livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 183-186; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Doutores do inferno: experimentos com bombas incendiárias

Publicado em 24 junho, 2012

O doutor Ding-Schuler dirigiu os experimentos com bombas incendiárias em Buchenwald. O propósito desses experimentos era comprovar a eficácia de um preparado com dissolvente líquido de tetracloreto de carbono, denominado R-17, e outros líquidos ou pomadas dermatológicas para combater as feridas e queimaduras de guerra causadas pelas bombas incendiárias arrojadas no campo de batalha. Se tivessem sucesso, essas pomadas seriam distribuídas em ambulatórios de socorro contra ataques aéreos a todas as vítimas potenciais dessas bombas.

Entre 19 e 25 de novembro de 1943, o doutor Ding selecionou "cinco sujeitos para experimentação [os quais] foram queimados premeditadamente com fósforo prendido extraído de uma bomba incendiária. As queimaduras resultantes foram muito severas, as vítimas sofreram dores atrozes e lesões permanentes". [Nuremberg Military Tribunals: The Medical Case, vol. 1 pág. 640].

(…)

Em seu testemunho, o doutor Mrugowsky afirmou:
- Depois de um tempo considerável sem notícias do oficial médico, e a propósito dar a conhecer o remédio R-17 aos ambulatórios de socorro contra ataques aéreos, perguntei-lhe a respeito em uma reunião. Ele me disse então que não podia introduzir o remédio porque só possuía propriedades de dissolução do fósforo, mas não contribuía diretamente para a cura das queimaduras.

Ainda que os imputados Genzken, Gebhardt, Mrugowsky e Poppendick fossem acusados de responsabilidade destacada e participação em experimentos com bombas incendiárias constitutivos de delito criminoso, todos eles foram absolvidos.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/24/655/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno"
(livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 251-254; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Doutores do interno: experimentos com infecções

Publicado em 25 junho, 2012

Em Dachau e Auschwitz, no outono de 1942 foram levados a cabo experimentos com inflamação e infecção simulando feridas de guerra e intervenções cirúrgicas. Infectava-se artificialmente com pus a reclusos dos campos de concentração, procedimento este que produzia terríveis dores. A metade recebeu tratamentos bioquímicos, e a outra metade foi tratada com sulfanilamida. Os casos de maior gravidade as pessoas se negavam a tomar os comprimidos bioquímicos porque era pedido que elas tomassem isso a cada cinco minutos, durante todo o dia e toda a noite; um tratamento terapêutico desumano.

Numa série de experimentos se usou vinte reclusos alemães, dos quais sete morreram. Numa segunda série, infectou-se quarenta sacerdotes de diversas nacionalidades, morreram doze.

Testemunho de acusação de Heinrich W. Stoehr, enfermeiro e recluso do campo de concentração de Dachau, feito em 17 de dezembro de 1946.

(…)
"Principalmente se tratava o flemón (gangrena). Era muito comum no campo. Ou seja, o flemón (gangrena) era a típica enfermidade do campo. O tratamento era conduzido da seguinte maneira: observavam-se três casos parecidos. A um deles se dava tratamento alopático, a outro o bioquímico e o terceiro recebia só o tratamento cirúrgico normal. Ou seja, o terceiro não recebia nenhum remédio e se tratava a ferida de maneira habitual, com bandagens etc (…)

Durante o outono, um tal de doutor Schuetz disse ao médico do campo, que se chamava Babo, que ele infectara a várias pessoas com pus. (…)"
Os imputados Poppendick, Oberheuser e Fischer foram absolvidos desta acusação. Gebhardt, outro dos acusados, declarou não ter conhecimento prévio desses experimentos ao ser interrogado por seu advogado. Contudo, ele se declarou culpado das segundas acusações (crimes de guerra), terceiras (crimes contra a humanidade) e quarta (pertencia à SS) do texto de acusação, devido a sua implicação não só nesses experimentos com gangrenas, senão com outros doze experimentos já descritos. Foi sentenciado a morrer na forca.

Fonte: extraído do blog El Viento en la Noche (Espanha)
http://universoconcentracionario.wordpress.com/2012/06/25/659/
Trecho do livro (citado no blog): "Doctores del Infierno" (livro original em inglês, Doctors from Hell), Tempus, 2009, págs. 255-259; de Vivien Spitz
Tradução: Roberto Lucena

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