O impacto causado pelos revisionistas é difícil de se avaliar e certamente não pode ser medido. Entretanto, uma coisa fica clara quando nos ocupamos mais de perto desses autores. Seus objetivos não são genuinamente histórico-científícos, como querer saber e averiguar o que realmente ocorreu. Seus objetivos são políticos, porque eles querem provar que não foi assim.
Através do questionamento, da negação, da colocação em dúvida, eles querem reabilitar Hitler e o nacional-socialismo. Ou seja, o que eles querem é a volta do totalitarismo. Porque se Auschwitz não foi assim como acreditamos que foi, o que restaria então da condenação do nazismo, da culpa da Alemanha, da autocompreensão da democracia depois da guerra? Tudo isto teria sido construído sobre areia e a História teria que ser fundamentalmente rescrita e revisada. Por isso, eles se chamam, coerentemente, de revisionistas. O que eles querem é causar insegurança e - é o que supomos - é o que eles fazem.
As alegações dos revisionistas também não podem ser recusadas apressadamente, porque se desconsiderarmos, por um momento, o conteúdo do que eles defendem, veremos que eles utilizam uma certa metodologia e o grau com que eles o fazem deve ser examinado com rigor. Pode-se dizer que tais métodos, cuja aplicação é preciso analisar caso a caso obviamente, possuem níveis de eficácia, à primeira vista. Isto porque o questionamento, a dúvida, a objeção racional, a exigência de documentações inequívocas de fatos e de testemunhos parecem depor em seu favor. Qual é o cientista que, em princípio, não gosta de ouvir este tipo de linguagem?
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Os revisionistas também se fazem passar por perseguidos pelos meios de comunicação cooptados e manipulados pelos "políticos". Eles gostam de referir-se a si próprios como pessoas cuja voz estaria sendo silenciada, como mártires da verdade e do direito, paladinos do preceito jurídico que diz "que seja ouvida também a outra parte". Provavelmente o impacto causado por esses autores é considerável. Assim, é preciso fazer frente a eles e isto deve ser feito com argumentos. O que ocorre é que não se pode fazer frente às pessoas que negam a existência de câmaras de gás e do extermínio em massa, ignorando-os ou simplesmente manifestando indignação.
Faz-se necessário um esclarecimento dos fatos ocorridos nos campos de extermínio. Em muitos casos, coisas que já foram há muito tempo esclarecidas, devem ser mais uma vez tornadas acessíveis à opinião pública. Na conclusão de Denying the Holocaust, Deborah Lipstadt afirma:
Antigamente eu era uma defensora declarada da atitude de ignorar. Quando comecei a trabalhar neste livro, o que me perseguiu foi antes o temor de que eu iria consolidar a credibilidade dos revisionistas, se eu me ocupasse com as fantasias que eles produzem. Entretanto, depois de ter me aprofundado nas maquinações dessas pessoas, estou convicta de que a mera desconsideração não representa uma alternativa. A época na qual se poderia esperar que eles se dissipariam por si mesmos como poeira já passou. Muitos de meus alunos já me dirigiram as seguintes perguntas: de onde nós sabemos que houve realmente câmaras de gás? Os diários de Anne Frank são uma invenção? Existem documentos dos quais se pode concluir que os nazistas planejaram o extermínio dos judeus? Alguns desses alunos sabem que perguntas deste tipo são colocadas em circulação pelas pessoas que negam o Holocausto. Outros, porém, não estão conscientes disto. Eles ouviram tais objeções em algum lugar e se sentem inseguros. (Lipstadt, 1994: 453)Dificilmente teremos condições de discutir com os próprios defensores da negação, dado o ponto ao qual eles chegaram, enterrando a si próprios numa atitude de isolamento e encapsulamento. Tendo em vista essa atitude, pouco temos a dizer aos revisionistas; e, certamente, pelas razões que já expus, pouco ou quase nada eles têm a dizer-nos, pesquisadores do tema do Holocausto e do nacional-socialismo.
Entretanto, visto que a dúvida e a insegurança são disseminadas pelas perguntas que eles formulam, mesmo que tais perguntas não sejam reconhecidas, faz-se necessário, no contexto da formação política e histórica, acionar uma argumentação clara em contraposição a esses defensores da negação.
É perfeitamente concebível que, no futuro, os neonazistas venham a escolher outros campos para o seu trabalho de agitação. As sentenças emitidas pelos tribunais por causa da negação de Auschwitz, têm-lhes infringido penas de prisão consideráveis. Por isso, é de se esperar que, num futuro breve, o fantasma da mentira da culpa pela guerra, segundo o qual a II Guerra Mundial teria sido imposta ao Reich alemão pelos aliados ou por Stalin, venha a ser reabilitado. Publicações que apontam nessa direção já estão disponíveis no mercado. (19)
Embora essa tese seja, a partir das fontes, aparentemente mais simples de ser defendida, também nesse caso, temos a obrigação de refutar tal tolice, caso a mesma venha a obter alguma repercussão junto ao público; e devemos fazê-lo, sempre com base em argumentos.
Texto destacado e selecionado por Leo Gott (25/06/07)
Fonte: Neonazismo, negacionismo e extremismo político (Livro)
(Coord. Luis Milman e Paulo Fagundes Vizentini)
http://www.derechos.org/nizkor/brazil/libros/neonazis/cap8.html
Texto completo de: Díetfrid Krause-Vilmar
Universidade de Kassel, Alemanha
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