terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

CCB: Nazismo pode voltar - João Paulo Cotrim

Esta é uma das interrogações lançada pelo consultor do ciclo, João Paulo Cotrim que, em declarações à Agência Lusa, sublinhou a importância de reflectir sobre uma realidade histórica "da qual, infelizmente, não estamos livres de nos voltar a acontecer".

Filmes, uma exposição sobre a arquitectura nazi, um concerto, conferências e uma ópera criada num campo de concentração, vão ser apresentados no âmbito deste projecto do CCB que decorre até 01 de Março.

Sobre a forma como lidaram as figuras da cultura alemã durante o regime nazi, João Paulo Cotrim citou os casos de criadores que combateram o regime, como Viktor Ullmann e Peter Kien, que acabaram por ser executados, e, por outro lado, da polémica actriz e realizadora Leni Riefenstahl, cujo génio foi considerado crucial para a ascensão do regime.

"Quando a cultura é dominada pela política, deixa de ser cultura e passa a ser propaganda?", é outras das questões que o consultor do ciclo considera que deve ser suscitada e debatida.

Por outro lado, comentou que talvez este tenha sido o momento histórico em que a cultura terá perdido a inocência: "aqui se verificou como uma nação com um povo culto ficou na histórica como palco de uma barbárie. Afinal, um homem culto poderia ser, ao mesmo tempo, apreciador de Schumann [compositor] e dar ordens para queimar seres humanos".

"Além do extermínio de seres humanos, é assustador como um país culto consegue destruir parte do seu património por um determinado delírio", comentou ainda sobre os 20 mil livros queimados e outras obras de arte como escultura e pintura destruídas por serem consideradas degeneradas.

Questionado sobre o impacto do regime na cultura portuguesa na época, João Paulo Cotrim observou que, apesar do nazismo ter contribuído para um fechamento cultural na Alemanha, em Portugal "pode ter contribuído para uma abertura devido ao cosmopolistismo que se viveu, sobretudo na capital".

Com a posição simpatizante do regime mas oficialmente neutra de Salazar, Lisboa foi ponto de passagem de milhares de pessoas fugidas ao regime nazi.

O ciclo "O Nazismo e a Cultura: Confrontações" inclui a apresentação, a 07 e 08 de Fevereiro, da ópera "Der Kaiser von Atlantis/O Imperador de Atlântida ou a Abdicação da Morte" (1944), composta por Viktor Ullmann, com libreto de Peter Kien.

A Orquestra de Câmara Portuguesa tocará a 15 de Fevereiro "Verboten/Nicht Verboten" (Proibido/Não Proibido), interpretando obras de Hartmann, Strauss, Klein, Wagner e Haas.

Um ciclo de cinema atravessará o evento com a exibição de seis filmes que percorrem um período desde 1955 até 1993, desde "Noite e Nevoeiro", de Alain Resnais, "O Ovo da Serpente", de Ingmar Bergman (1977), "A Vida Maravilhosa e Horrível de Leni Riefenstahl", de Ray Müller (1993), e "O Triunfo da Vontade", película histórica da polémica realizadora Leni Riefenstahl (1935).

Fonte: Lusa
http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/495600

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