Responde Moa, um mês depois, na mesma revista digital sustentando, em primeiro lugar, que o assunto de que o bando recebeu mais e melhor ajuda militar é secundário "num debate sério em torno da guerra civil" e que não deveria distrair do verdadeiro assunto a discutir que seria como e quanto influiu a ajuda estrangeira para cada grupo. Moa responde em seguida: a ajuda ítalo-germânica não implicava nenhuma obediência de Franco a Hitler; por outro lado, a ajuda soviética submeteu a Frente Popular (que melhor se entregou voluntariamente) às diretrizes de Stálin. Os planos do ditador soviético haviam sido a instauração de um satélite bolchevique na Espanha para destruir os regimes democráticos da Europa Ocidental.
Portanto, a esperança de uma discussão historiográfica científica com base em fontes documentais fiáveis se esvazia desde o primeiro momento. Disse Moa:
Sustento que, em termos militares, a intervenção se equilibrou mais ou menos. (...) Mas não entrarei agora nesse debate, insisto que é secundário uma vez esclarecida a primeira tese [a influência de Stálin]. Admitirei, a princípio, que meu crítico [Moradiellos] pode ter razão em alguns dos dados parciais que maneja, mas sigo inclinado a crer num equilíbrio básico, inclusive com ligeira supremacia dos suministros recebidos pelas esquerdas.Moa escapa da discussão que Moradiellos tratava de apontar metodologicamente: medir a quantidade e qualidade de ajuda militar recebida por cada grupo e, com base nisso, determinar a influência sobre o resultado final da guerra. Moa, ao não possuir fontes que rebatessem Moradiellos, liquida a discussão invocando opiniões pessoais sem mais fundamento que sua crença pessoal, esse "mas sigo inclinado a crer" vem a dizer que seu preconceito é a prova de toda evidência contrária. O mais curioso do assunto é que um dos slogans publicitários que Moa mais utilizou para a venda de seus livros é que utilizou fontes de arquivos nunca descobertas ou desprezadas por outros historiadores "marxistas". Neste caso, privou-nos delas.
"Uma visão neostalinista da Guerra Civil", El Catoblepas, 16 (junho de 2003).
Alguns meses depois, Moa o resume da seguinte forma:
Creio que Moradiellos pode ter razão em algumas das críticas que me faz sobre fechas e volume da intervenção exterior, se bem que esses dados seguem sujeitos à revisão. Mas, como creio ter demonstrado, falha no fundamental, ou seja, no caráter qualitativamente distinto da intervenção soviética e da ítalo-germânica. Stálin "satelizou" a Frente Popular, enquanto que o apoio das potências fascistas não privou Franco de sua independência. Este é o ponto chave da intervenção externa (...).Parece que vai admitindo que sim, que fora possível que Franco recebesse mais ajuda militar de Hitler e Mussolini em relação ao que recebeu a República da URSS? Em todo caso, Moa segue afirmando que isto seria irrelevante para o desenvolvimento e desenlace da guerra.
"Errores en Los mitos de la Guerra Civil", Libertad Digital, 9 de janeiro de 2004.
Ele [Moradiellos] plantou sua crítica em torno das cifras das intervenções soviética, alemã e italiana, negando minha aseveración de que foram mais ou menos equivalentes, e pretendendo que o maior aporte ítalo-germânico havia decidido a guerra. Como lhe indiquei, a questão das cifras, ainda que seja interessante, não é fundamental. E sua fonte principal, o livro de Howson, resulta muito pouco fiável.Em tão-somente um par de meses voltou a carga sobre esse assunto (sobre o que deve alimentar alguma má consciência) e lançou sua opinião final a respeito:
"Los casos de Moradiellos y Viñas", Libertad Digital, 1 de janeiro de 2007
A quantidade de material e de tropas nunca determina o resultado de uma guerra ou de uma batalha. Tem sido frequente as guerras ganhas com inferioridade material..Em resumo:
"Un debate pueril", Libertad Digital, 14 de março de 2008.
- Primeiro afirmou que a ajuda militar recebida pela Frente Popular foi de maior quantidade e qualidade que a que receberam os franquistas. Isto exaltaria a vitória de Franco, enfrentando um inimigo superior, e desmorona ainda mais a República, dilapidadora das riquezas da Espanha, mal gastadora de sua vantagem militar.
- Mais tarde, depois que Moradiellos houvesse lhe mostrado a prova contrária que era mostrada pelos arquivos, Moa passa a se defender argumentando que a supremacia militar não é algo decisivo no desenlace de uma guerra (esta ideia não merece maior comentário que uma simples revisão dos resultados da intervenção alemã na GCE e o significado da supremacia aérea na guerra moderna).
Com respeito à influência de Stálin sobre a Frente Popular, Moradiellos replica de novo em "El Catoblepas" (a Moa e a outros habituais desta revista não faltará oportunidade de lhes citar em outro post) que a URSS nunca conseguiu impor seus ditadores ao governo da República (ainda que tenha penetrado por completo no PCE e, por isso, nos mandos policiais e militares inscritos no partido) e que sua influência só cresceu significativamente ao longo de 1938 quanto mais se distanciavam as potências democráticas da República. Cita para mostrar isso a Viñas, Sarda, Martín Aceña ou Varela Ortega, assim como os documentos citados pelo historiador norte-americano Ronald Radosh em sua obra "España traicionada", Barcelona, 2002.
Contudo, parece um esforço vão já que na seguinte resposta Moa, abundando em desqualificações (burlescamente chama a Moradiellos de "o ilustre professor" e o acusa de "retórica barroca" e de "divagações, nimiedades, justificações desnecessárias", etc) opõe como critério de autoridade para respaldar suas ideias que "para qualquer pessoa algo a par das circunstâncias, não pode admitir a menor dúvida no predomínio soviético na Espanha".
Moa, portanto, não está disposto a discutir no terreno da historiografia baseada em fontes documentais, com informações e dados escritos contrastáveis e discutíveis com critério. Moa pretende levar sempre a discussão unicamente para os terrenos ambíguos da discussão política, onde crê que pode demonstrar a máxima que anima toda sua produção bibliográfica: que a Esquerda é uma ideologia maligna e que a História da 2ª República e da GCE o demonstra.
Que a política de esquerdas seja uma ideologia maligna ou não, não deveria ofuscar o espírito crítico de nenhum historiador que investigue sobre ela. O dever de objetividade deve estar acima de qualquer preconceito pessoal. A não ser que nosso objetivo não seja escrever História, senão fazer propaganda.
Do último livro de Alberto Reig Tapia, "Revisionismo y Política: Pío Moa revisitado" (Madrid, 2008) extraio esta citação que explica este afã de propaganda em determinados leitores:
Determinada gente não busca a verdade (verdades) senão a aquilo ou aqueles que melhor defendam suas prévias tomadas de postura que, naturalmente, jamais "revisam".
Fonte: blog Fuentes para la Historia de la 2ª República, la Guerra Civil y el Franquismo (Espanha)
Título original: El revisionismo neofranquista (3): Moa al descubierto
http://fuentesguerracivil.blogspot.com/2008/07/el-revisionismo-neo-franquista-3-moa-al_12.html
Tradução: Roberto Lucena
Parte 1: O revisionismo neofranquista (1): guia de uso - Pío Moa
________________________________________
Observação: Sobre as siglas, como já ressaltado no começo.
GCE é sigla para Guerra Civil Espanhola.
PCE é sigla para Partido Comunista Espanhol.
Nenhum comentário:
Postar um comentário