PODEROSOS INTERESSES CONTRARIADOS
O golpismo de ontem e o golpismo de hoje
Essa história tem larga tradição entre nós. Ela funciona do mesmo modo desde o começo do século XX – quando o Brasil começou a se transformar em sociedade urbana e industrial – e reúne os mesmos elementos: imprensa conservadora, setores moralistas da classe média e interventores da ordem constitucional
por Jessé Souza
Durante todo o ano de 2015, o segundo mandato da presidenta Dilma foi marcado por intenso ataque, seja da mídia, seja do Congresso Nacional, e de suas chamadas “pautas bomba”. A presidenta eleita foi posta na defensiva e ameaçada por diversos pedidos de impeachment, além de ter sido pressionada para renunciar desde o início de seu segundo mandato. É que ela, no auge de sua popularidade, ao contrário da estratégia de conciliação de interesses contrários do presidente Lula, ousou se opor aos interesses do capital especulativo brasileiro. A intenção era parar a drenagem de recursos do excedente social de todos para o bolso da meia dúzia que controla a economia, a política e a mídia entre nós, e encaminhá-los para o setor produtivo. A estratégia não só foi sabotada pela elite, como a cobrança da fatura pela ousadia está vindo agora.
O mais importante aqui não é apenas a seletividade com a qual a questão da corrupção é abordada ao se concentrar apenas no PT e procurar atingir de qualquer modo o ex-presidente Lula, de modo a inviabilizar sua reeleição em 2018. Ainda que isso seja parte da verdade, não é, nem de longe, o ponto mais interessante dessa história. Inicialmente, o que fica evidente, como a luz do sol de meio-dia, nesta crise política, criada e manipulada midiaticamente, e tem levado a uma crise econômica em grande medida construída politicamente é o seguinte: o tema da corrupção só pode ser usado para enganar e manipular a população, porque a definição do que é corrupção é arbitrária e pode ser aplicada ao bel-prazer de quem realiza o ataque.
Recentemente, por exemplo, veiculou-se na imprensa que o ex-presidente Lula foi “lobista” da Odebrecht no exterior. Esse fato é corriqueiro em todos os países avançados onde os presidentes fazem constante pressão para conseguir contratos para grandes indústrias e prestadoras de serviço de seu país. Ao contrário de despertar desconfiança, esse fato é visto como engajamento dos dirigentes da nação pela manutenção da riqueza e dos empregos nacionais, e cada êxito é comemorado por todos. Como a noção de corrupção é vaga e indefinida, e pode ser aplicada seletivamente, vale tudo a favor dos amigos e tudo contra os inimigos.1 A estratégia passa a ser um “se pegar, pegou”, e manchetes diárias constroem a artilharia pesada contra governos com relações e compromissos – os quais no caso em apreço poderiam e deveriam ser, inclusive, bem mais profundos – com as classes populares.
O ataque tem de ser realizado contra o suposto e, na realidade, falso [2] “inchaço” e “aparelhamento” do Estado, sempre que este é usado não para ser privatizado pelo 1% mais rico, como sempre foi o caso, e sim para a maioria da população. A narrativa do Estado demonizado e do mercado virtuoso, primeiro construída “cientificamente”, como analisamos em detalhe no livro A tolice da inteligência brasileira,[3] publicado recentemente, e depois reproduzida de modo “naturalizado” e “autoevidente” como truísmo aceito por todos, seja nas práticas de todas as instituições, seja nas esquinas de todo o país, cria o pano de fundo perfeito para o assalto à inteligência nacional. Os próprios ministros de Estado do governo usam Raymundo Faoro e sua balela sobre o patrimonialismo para amparar seus discursos de defesa do Estado4 ou de ataque e de apelo ao desmonte estatal,5 finalmente aceito e colocado em prática pela própria presidenta, posta na defensiva por essa mesma narrativa.6 Maior prova de que essa interpretação de mundo tornada prática continua comandando nosso horizonte de pensamento e de ação é impossível.
Na verdade, a corrupção entendida como negação do fair play, ou seja, enganar com o fim de lucro, é endêmica ao capitalismo – e certamente endêmica a todas as outras formas históricas de apropriação do excedente social – em todos os lugares e em todas as épocas históricas. Assim como as classes endinheiradas brasileiras construíram uma ideologia antiestatal para melhor monopolizar e instrumentalizar o Estado a seu favor, os capitalistas históricos criaram uma ideologia do “mercado justo” para se autolegitimar. Max Weber, com sua extraordinária influência em todas as disciplinas sociais, contribuiu muito para isso ao vincular o capitalismo à temperança protestante. Com isso, construiu uma falsa oposição, hoje aceita por quase todos, entre “capitalismo aventureiro”, enquanto capitalismo do saque e dos grandes lucros eventuais, e “capitalismo moderno”, sóbrio, construído com a noção do lucro cotidiano, permanente, mas “justo” e “contido”. Assim, o capitalismo moderno é percebido não apenas como “ganho em racionalidade”, mas também como “ganho em moralidade”, perfazendo os dois grandes elementos da virtude e da perfeição humana como percebidas pelo Ocidente.
Nada mais falso. O “saque”, como o dos campos de petróleo do Oriente Médio sob a batuta das grandes petrolíferas no governo George W. Bush, continua um método cotidiano do capitalismo dito “moderno”, desde que seja exequível militar e politicamente. Quanto à sobriedade e à temperança, se de fato existiram algum dia, não resistem a nenhuma análise mais “sóbria”. O capitalismo monopolizado de hoje não só fabrica balanços falsos de empresas e países com interesse de lucro e cria a ilusão de que grandes empresas e bancos fraudulentos são “grandes demais para quebrar” (como ficou patente na crise financeira de 2008), como também estabelece o patamar de preços que deseja sem nenhuma relação racional com custos efetivos. Os produtores recebem uma ínfima parte do lucro, e os grandes atravessadores ganham até quarenta vezes mais sem nenhuma adição ao valor dos produtos pelo simples fato de controlarem monopolisticamente o mercado.7 Ou seja, a “corrupção” percebida como engano e falseamento da “troca justa” é o dia a dia do mercado em todo lugar, ainda que muito maior em um mercado tão mal regulado como o nosso.
No Brasil, porém, o superlucro é visto como “inteligência” e “esperteza” – esquecendo-se de que, se há um “esperto”, é porque há milhões de “tolos” –, e a corrupção é sempre estatal ou tem relação com o Estado. Uma ideia absurda ganhou o coração e a mente de todos indistintamente, independentemente de coloração política, e é hoje uma espécie de “segunda pele” de todo brasileiro. Ela se presta, antes de tudo, ao “sequestro da política” pelos donos do dinheiro. Em fases de crise, como agora, quando a “farofa é pouca se quer o seu pirão primeiro”, os mais ricos querem cortar os investimentos sociais e ficar com o Estado só para eles. E essa história tem larga tradição entre nós. Ela funciona do mesmo modo desde o começo do século XX – quando o Brasil começou a se transformar em sociedade urbana e industrial – e reúne os mesmos elementos: imprensa conservadora, setores moralistas da classe média e interventores da ordem constitucional.
O moralismo da classe média no Brasil sempre foi extremamente seletivo e antidemocrático ao mesmo tempo. Sua seletividade implica ver o mal sempre “fora de si mesma” e nunca em sua própria ação cotidiana de exploração de outras classes, de quem ela rouba o tempo, a energia e qualquer possibilidade de redenção futura. O caráter antidemocrático que vemos nas manifestações recentes dos “coxinhas politizados” não tem nada de novo. Desde o tenentismo de 1922, a política e o sufrágio universal já eram percebidos como os empecilhos maiores da renovação verdadeira da sociedade brasileira. O moralismo de classe média sempre une o desprezo pela política em geral e a busca por uma “virtude idealizada”, que espelha por sua vez uma “vontade geral” indivisa, ilusão autoritária que foi o mote de toda revolta política com base de classe média – e de seus estratos pequeno-burgueses –, desde o jacobinismo francês até o fascismo europeu do século passado.
É esse caldo autoritário que tem de ser mobilizado pela imprensa conservadora – como verdadeiro partido da ordem dominante e de seus privilégios – sempre que a política tenda a sair do acordo de gabinete dos poderosos e endinheirados para o interesse da maioria da população. Isso aconteceu sem nenhuma exceção até hoje na história brasileira, sempre que o sufrágio universal conseguiu colocar no poder líderes identificados com as classes populares. Em todos os casos a classe média conservadora foi usada como massa de manobra na tentativa de derrubar os governos Vargas, Jango e agora Lula-Dilma, e conferir o “apoio popular” e a consequente legitimidade para esses golpes, sempre no interesse de meia dúzia de poderosos. A corrupção e sua vagueza conceitual são sempre o mote que galvaniza a solidariedade “emocional” das classes médias, que se imaginam moralmente superiores às outras,[8] e confere respeitabilidade moral e política a esses assaltos à soberania popular. Como já dissemos anteriormente, a corrupção, definida seletiva e arbitrariamente, é a única forma brasileira de transformar os interesses mais privados em supostos interesses universais.
A imprensa é fundamental nesse processo e primeiro elemento da estratégia de fabricar um golpe. Isso acontece posto que é necessário “legitimar” o assalto ao princípio da soberania popular como única fonte que permite vincular legalidade e legitimidade do regime democrático e representativo. Como a soberania popular consagrada no voto é a única fonte de legitimidade do poder moderno em todas as suas dimensões, inclusive das regras consagradas constitucionalmente,9 a imprensa conservadora sempre teve de fazer estripulias de contorcionista chinês para deslegitimar a única fonte de todo o Direito e de toda a vida democrática moderna. Para isso, sempre foi necessário (e ainda é, como veremos) produzir o segundo elemento da estratégia golpista; insuflar o público conservador cativo – o qual, em uma sociedade tão perversa e desigual como a nossa, é antipopular em sua essência – com referências a uma “vontade geral” indivisa,10 a qual, supostamente, seria mais importante que a vontade individual manifesta nas urnas. O terceiro elemento formal de toda estratégia golpista é, portanto, um ator institucional que possa incorporar a “vontade geral” pré-fabricada. Na verdade, é uma vontade de meia dúzia de endinheirados que manipulam sua tropa de choque formada por uma classe média infantilizada que se autoidealiza.
Falta, então, encontrar esse terceiro elemento formal presente em todos os golpes contra o princípio da soberania popular, o qual deve incorporar precisamente tal elemento “apolítico” que responde aos anseios da antipolítica moralista construída entre nós com foro de “ciência”. Esse terceiro elemento deve ser uma espécie de “rainha da Inglaterra”, ou seja, ser visto como neutro e acima dos interesses em disputa. Em parte, a própria imprensa conservadora no Brasil sempre posou de “neutra” e gosta de se vender como uma instituição de “interesse público”, como se não fosse uma empresa qualquer disposta a (quase) tudo para aumentar seu lucro. Como nunca houve regulação da imprensa entre nós, esse tipo de empresa peculiar – que lida com a informação e, portanto, com a possibilidade de manipular a informação para fins empresariais e políticos – sempre foi historicamente comprada por todo tipo de interesse econômico que pagasse o maior preço.11 A figura emblemática desse fenômeno histórico entre nós foi Assis Chateaubriand, uma espécie de “patrono da imprensa brasileira” e o mais puro exemplo – depois seguido por muitos outros – do uso político indiscriminado e truculento dos veículos de imprensa para auferir ainda mais dinheiro e poder.12
No entanto, sempre foi necessário que o terceiro elemento estivesse ancorado na própria ordem constitucional, que no caso brasileiro já tinha a tradição do “Poder Moderador” imperial. Assim, nessa “repartição de trabalho do golpismo”, cabia à imprensa “neutra” e “desinteressada” passar a “senha”, ou seja, criar o “convencimento” para o clima de “crise”, sempre com base na crítica seletiva da corrupção, para que a baioneta pudesse exercer sem peias seu papel. Essa repartição de trabalho do golpismo para a manutenção de uma sociedade para poucos foi reproduzida também na Constituição da “redemocratização” de 1946: seu artigo 177 garantia aos chefes militares a possibilidade de julgar se o presidente havia desrespeitado os demais poderes constitucionais, a lei e a ordem.13 Estava transposto no texto constitucional o princípio de uma espécie de “democracia tutelada”, ancorada nas Forças Armadas e em sua possibilidade expressa de intervir quando a “ordem pública” estivesse em perigo, ou seja, sempre que os interesses do 1% dominante e mais rico fossem ameaçados. Estava então consolidado o terceiro elemento formal de todo golpe de Estado entre nós, como princípio constitucional, baseando-se na ficção da existência de uma instituição acima da política e dos partidos.
O jogo da pseudodemocracia moderna brasileira estava armado: o aproveitamento consequente do moralismo de fachada dos setores médios baseado no ressentimento contra os de cima (sempre considerados corruptos, especialmente no Estado) e o ódio contra os de baixo, destinado a ser astuciosamente insuflado sempre que a imprensa, “neutra como o dinheiro”, visse seus interesses na ordem para poucos de algum modo ameaçado. Os dois juntos, “povo” (ainda que 80% estivessem de fora) e “imprensa neutra”, clamam pela intervenção do elemento “não político” e “não corrupto” (sic) das Forças Armadas, que incorporaria a “vontade geral” para o povo tutelado e submetido. No caso de Vargas, que refletia formas suaves de inclusão social-democrata perfeitamente compatíveis com um capitalismo dinâmico, a “corrupção seletiva” só dos líderes ligados aos setores populares já foi o mote principal para sua derrubada.14 Com Jango, as reformas de base foram interpretadas como comunismo, e o combate à corrupção, mais uma vez seletivo – e que seria muito maior nos governos militares sem nenhum controle –, foi o grande mote para a continuidade do regime de exceção.
Poucos veem hoje em dia a continuidade desse processo antipopular de intervenção antidemocrática no “golpismo branco”. A única mudança realmente efetiva nos processos de golpes anteriores, fato que ainda não foi percebido no debate brasileiro atual sempre muito preso à conjuntura, pobre teoricamente e sem perspectiva histórica, em relação ao atual em curso é mais aparente que real. Como os militares perderam a legitimidade de “guardiões da ordem” – primeiro pela violência das torturas e depois pelos próprios casos de corrupção entre os militares no poder ou acobertados por eles –, surge a necessidade de outro “justiceiro” para incorporar a “vontade geral” acima da política, para fazer justiça com as próprias mãos, bem ao gosto de nossa classe média que aprova, por exemplo, a matança indiscriminada de pobres pela polícia.[15]
O candidato perfeito para ocupar o lugar vazio deixado pelos militares surge no aparato de órgãos de controle do Executivo e do Judiciário criados pela Constituição de 1988, que reúne ambiguamente não apenas a tentativa de universalizar direitos, mas também a desconfiança na política – criada entre nós por meios pseudocientíficos, como vimos – e a necessidade de instaurar um novo “poder tutelar”, de modo a resguardar os interesses do 1% mais rico e poderoso.
Esses órgãos não apenas recrutam seus quadros prioritariamente na classe média conservadora e moralista. Todos os interesses materiais e ideais dessas corporações – com alguns dos mais altos salários da República, além de benesses e privilégios de todos os tipos, aliados ao prestígio social, especialmente em sua classe de origem, reservado aos que lutam contra a corrupção – ganham com o projeto de substituir as Forças Armadas como nova instância do “Poder Moderador” da pseudodemocracia brasileira. São os órgãos de controle, como Tribunal de Contas da União, Ministério Público e Polícia Federal, aliados aos “juízes justiceiros”, incensados pela mídia conservadora como os novos “heróis do povo” (leia-se, da classe média conservadora), como os novos representantes da “vontade geral” (ou seja, os interesses econômicos do 1% mais rico); supostamente “acima da política”, que são os novos candidatos a incorporar o “Poder Moderador” da pseudodemocracia tutelada brasileira.
O “Direito” moderno, cuja única grandeza é ser reflexo e incorporação da soberania popular na sociedade moderna, é o primeiro a perder com a substituição do juiz sóbrio e objetivo16 pela figura narcísica do “justiceiro”, que aceita incorporar e teatralizar a “vontade geral” pré-fabricada. A própria definição do Direito formal moderno, marcada pelo respeito ao procedimento legal e como garantidor do contraditório como meio de se assegurar previsibilidade e segurança jurídica, tende a ser substituído pelo que Max Weber chamava de “justiça do Kadi”. Ou seja, um padrão de justiça material, construída sob o comando de aspectos extrajurídicos ditados pela conjuntura, sujeita a todo tipo de pressão emocional e de interesse de ocasião.17
Na lama desse “Direito de ocasião” se engalfinham agências de controle e Poder Judiciário para aumentar seu poder relativo dentro do aparelho de Estado e virtualmente “governar”. Além do interesse político em ocupar espaços de poder, todos os interesses materiais e ideais dos operadores jurídicos militam por essa expansão de jurisdição. Na condição de paladinos anticorrupção, podem exigir salários ainda melhores e ainda mais regalias de toda espécie.
A recente ofensiva do deputado federal Eduardo Cunha vem de outra senda do espectro político. Ela não se traveste de “interesse geral” e não assume a forma do protagonismo “jurídico” que se oferece desejoso de sepultar e substituir a política. Ela assume a forma da negociata à luz do dia, sem usar vestes e sem “enganar” o público. O fracasso das recentes manifestações do dia 13 de dezembro de 2015 mostra que o público precisa ser enganado e manipulado em seu ressentimento e em sua desesperança, que são reais. O sucesso da estratégia de Cunha seria um retrocesso de consequências imprevisíveis até para os oportunistas, como o PSDB, o qual se põe como herdeiro fiel do golpismo oportunista dos udenistas, que irresponsavelmente apoia. A crise tem sempre a virtude de mostrar os interesses mais vis agindo à luz do dia.
Como a política, no entanto, precisa da hipocrisia, acho que são os “golpes jurídicos” que têm maior chance de sucesso. São os “juízes justiceiros” incensados pela mídia conservadora e com o poder de fazer de tudo, muito especialmente jogar no lixo o que o desenvolvimento civilizacional construiu nos últimos 2 mil anos na esfera do Direito. O “superjuiz” só precisa da mentira repetida todos os dias, a qual diz que existem pessoas acima dos interesses dos partidos e acima dos interesses econômicos e políticos. Assim, pode-se inclusive torturar legalmente pessoas jogadas em cadeias sem culpa formada e sem razão jurídica comprovada – um tipo de tortura psíquica certamente tão cruel como o pau de arara dos militares.
Mudam-se as vestes e as fantasias, “moderniza-se” o golpe, substitui-se o argumento das armas pelo argumento “pseudojurídico”, amplia-se a aparência de “neutralidade”, sai de cena a baioneta e entra no palco da ópera bufa a toga arrogante e arcaica do operador jurídico, mas preserva-se o principal. Quem continua mandando de verdade em toda a encenação do teatro de marionetes é o mesmo 1% que controla a riqueza e o poder, e instrumentaliza a informação a seu bel-prazer. Os outros 99% ou são manipulados diretamente, como a classe média “coxinha”, ou assistem de longe, bestializados, a um espetáculo pelo qual, como sempre, vão ter de pagar sem participar do banquete.
Jessé Souza
*Jessé Souza é professor titular de Ciência Política da UFF e presidente do Ipea. Autor de A tolice da inteligência brasileira, recentemente lançado pela Leya. Este artigo é uma versão atualizada e modificada do último capítulo dessa obra.
Ilustração: Eugêni
1 Aécio Neves, por exemplo, teve sua menção no escândalo da Lava Jato simplesmente silenciada pela imprensa.
2 Segundo trabalho do técnico do Ipea, Felix Garcia Lopez, as despesas líquidas com pessoal em relação à receita líquida da União diminuíram entre 1995 e 2014, negando um suposto “inchaço” do Estado. Ao mesmo tempo, apenas 13,1% de todos os cargos de Direção e Assessoramento Superior (DAS) têm alguma relação partidária, negando a tese do aparelhamento. Ver Felix Garcia Lopez, “Evolução e origem dos nomeados para cargos DAS na administração pública federal no período 1992 a 2014”, Brasília, Ipea, 2015.
3 Jessé Souza, A tolice da inteligência brasileira, Leya, São Paulo, 2015.
4 O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, lembrou na imprensa, quando estourou o escândalo da Lava Jato, que todos os brasileiros, na verdade, usam o “jeitinho”, como ensinado por Faoro e Roberto DaMatta, na vida cotidiana.
5 O ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy, em sua posse, citou Faoro, cuja “teoria” não vale um vintém furado, como mostramos aqui, para legitimar o Estado mínimo.
6 O trabalho de Felix Lopez, citado anteriormente, mostra que toda essa discussão do “inchaço” e do “aparelhamento” estatal não guarda nenhuma relação com a realidade.
7 Ver Ladislau Dowbor, “Produtores, intermediários e consumidores: o enfoque da cadeia de preços”, Revista Econômica do Nordeste, v.45, n.3, p.7-16.
8 O fato de estar no “meio da sociedade” implica submissão ressentida aos poderosos acima dela e ódio pelos de “baixo”. A superioridade “fabricada” com relação aos que têm poder é baseada na ilusão de que estes são sempre “corruptos”, transformando a inferioridade econômica e social real em superioridade “moral” fantasiada. Como diz Max Weber, a primeira necessidade das pessoas não é ver a verdade, mas, ao contrário, “legitimar” a vida que efetivamente levam como a melhor possível.
9 Ver sobre isso o clássico de Jürgen Habermas, Faktizität und Geltung [Entre facticidade e validade], Suhrkamp, 1992.
10 Pierre Rosanvallon, La Légitimité démocratique. Impartialité, réflexivité, proximité [A legitimidade democrática. Imparcialidade, reflexividade, proximidade], Éditions du Seuil, Paris, 2008.
11 Ver Paulo Henrique Amorim, O quarto poder, Hedra, São Paulo, 2015; e Fernando Morais, Chatô, o rei do Brasil, Companhia das Letras, São Paulo, 1994.
1 Ibidem.
13 José Murilo de Carvalho, Forças Armadas e a política no Brasil, Zahar, Rio de Janeiro, 2005.
14 Ver a excelente trilogia de Lira Neto, Getúlio, volumes I, II e III, Companhia das Letras, São Paulo, 2014.
15 A matança de pobres, com ou sem a desculpa do tráfico, no Brasil, é uma “política pública informal” com alto apoio popular.
16 É patente a diferença entre um juiz alemão, por exemplo, sempre sóbrio e discreto, com o desavergonhado “narcisismo midiático” de vários juízes brasileiros, em todas as instâncias, em uma função na qual a distância das paixões políticas é precondição para seu bom desempenho.
17 Max Weber, “Rechtssoziologie” [Sociologia do Direito]. In: Wirtschaft und Gesellschaft [Economia e sociedade], J.C.B., Mohr, 1985, p.471.
04 de Janeiro de 2016. Palavras chave: conservadorismo, congresso, câmara, política, PMDB, golpe, democracia, governo, Dilma, Getúlio Vargas, ditadura
Fonte: Le Monde Diplomatique Brasil
http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=2011
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terça-feira, 8 de março de 2016
segunda-feira, 17 de novembro de 2014
O separatismo dos magoados
O título é provocativo até porque se fosse citar todo idiota que propôs idiotices após o término das eleições (isso está se tornando uma "tradição"... no pior sentido do termo), iria chover prints e mais prints de idiotas dando seus espetáculos de crianças mimadas.
Mas quando a coisa ocorre em jornais ou revistas de maior alcance, a coisa sai do "anedótico" do anônimo inconsequente pro chamado "formador de opinião" (ou 'deformador de opinião', conforme sua visão) pregando crimes, pois separatismo é ilegal no Brasil conforme está escrito na Constituição, com previsão de punição. Isso mesmo que você leu, quem prega, com grande alcance a ponto de incitar multidões, está cometendo crime, podem ler direto na fonte mas vou copiar as partes que interessam pra cá:
LEI Nº 7.170, DE 14 DE DEZEMBRO DE 1983.
Eu tinha salvo esse print de outro link, mas pra achar de novo acabei encontrando no Viomundo, então segue com esse mesmo.
E teve mais aqui:
Deputado do PSDB pede independência do Sul e do Sudeste
Mais um aqui e aqui.
Eu só iria comentar o caso do Constantino, mas pra não ser injusto com ele, citei os outros dois pra mostrar que não foi um caso de idiotice isolada. Andei vendo que uma parte da "turma extremada" anda desconversando sobre a ideia de "separação" pregada no dia do resultado da eleição ou logo após (devem ter sido alertados do 'tranco' da coisa). Mas sem essa, quem pregou assuma que o fez ou se retrate, sem conversa mole.
O mais grave disso é um militar pregar separatismo pois se há uma coisa que é consenso no Brasil entre direita, esquerda, centro etc, após o período de turbulência do século XIX onde houve vários movimentos de desmembramento que surgiram provocados pela presença da Coroa Portuguesa no Brasil, e que são movimentos separatistas dependendo do ângulo por qual você trata pois se separar de Portugal (o território do país ainda pertencia à Coroa Portuguesa e seus descendentes) não seria propriamente separatismo como no caso da Guerra de Secessão nos EUA ou recentemente a Escória querendo retomar sua soberania pois é uma nação, com língua própria etc. Mas como dizia, se há uma coisa que é compartilhada em comum entre os mais variados setores políticos do país é a da não divisão do território do país. Isso é um consenso, pelo menos da grande maioria (pra não dizer maioria absoluta). Talvez por isso que alguns extremistas, sabendo do eco negativo no país e nas Forças Armadas, pararam com o discurso de criança birrenta/mimada.
Quem tentar enveredar por este caminho da separação seria/será reprimido duramente, não só por civis mas principalmente pelas Forças Armadas, que boa parte desses "revoltosos" de ocasião adoram exaltar ignorando o histórico da mesma sobre o separatismo no Brasil.
O mais ridículo é esse mesmo grupo acusar quem é contrário a eles de estar fomentando "separatismos" e o discursinho chantagista emocional e apelativo de "nós contra eles". Ou seja, vejam a "lógica" bizarra dessas figuras, os caras pregam separação, fazem agressões verbais à regiões e depois não assumem o que pregam e ficam acusando os outros de fomentarem isso. É muita cara de pau e covardia prum grupo só.
A consequência disso desembocou nisso aqui, essa foi a mais recente do último dia 15 de novembro:
Marcha golpista volta a pedir intervenção militar
Estou tendo que colocar links dos blogs pois não quero colocar link de jornal golpista (a não ser que seja necessário) e não tá fácil de achar o conteúdo semanas após o ocorrido pois fica misturado pela web com as outras 'marchinhas' inconsequentes desses extremistas. Essa foi a terceira este ano, todas um completo fiasco e um espetáculo de gente visivelmente perturbada e surfando em delírios incitados pela mídia irresponsável e inconsequente do país.
Quando falo de jornal golpista, alguém acha normal que um dono de jornal mande um país "se foder" por extremismo? Pois bem, deem uma olhada:
Cartaz
Mas deixemos a consideração do que ocorreria em caso extremo (em caso dessas figuras pararem com o lero-lero e partirem pruma separação de fato, que dificilmente eles irão fazer), pra se ater na motivação da manifestação idiota.
Um dos motivos é o rancor já discutido aqui abaixo (no link), com o post sobre o bovino Mainardi e sua "ideia de Nordeste", que não é comum dele, apenas ele (há de reconhecer) foi mais sincero que os outros:
A mídia brasileira expele preconceito abertamente sem regulação ou punição. O caso Mainardi
Eu me segurei pra não criticar este cidadão da Veja antes (o Constantino), porque haviam me passado um texto dele, pra adiantar, o texto era uma cópia de blog estrangeiro (ele não cita a fonte de onde relatam uma suposta "moeda nazi-comunista", mas acha-se fácil na web), que vou tratar em outro post.
Evitei retrucar o texto da "moeda" pois iria parecer pirraça e ataque pessoal quando não é. Apenas não deveriam passar esse tipo de conteúdo sem antes perguntar o que a pessoa pensa de revista "x", mas o povo (em geral) não enxerga a coisa dessa forma e acaba passando sem refletir, sem avaliar o conteúdo, porque partem do princípio equivocado de que por A ou B ser contra o negacionismo que automaticamente "gostará" de revista/jornal A ou B como a Veja (e publicações afins) e não é por aí.
Quando eu digo que a Revista Veja (da Ed. Abril) e esses jornais de maior tiragem do país são de extrema-direita, é porque são de extrema-direita, alguém consegue conceber um colunista de um jornal ou revista estrangeira (BBC, Spiegel, New York Times etc) pregando separatismo sem ser dispensado por esses jornais e revistas logo após? Creio que não.
A não ser que o jornal/revista endosse essa visão. Só no Brasil que pessoas publicam esse tipo de asneira e não são rechaçadas pela tal "grande mídia" (mídia oligopolizada) do país, que faz vista grossa a esses ataques e casos graves e que aparentemente envereda por um caminho sem volta (pra ela) do radicalismo, que jogará essa mídia no descrédito.
Mas aí vem uma questão: qual o sentido do povo ser contrário a "revis" ficar repetindo panfletagem desse tipo de revista, jornal?
No mínimo é incoerência.
Mas não vou entrar no mérito disso, lê esses panfletos quem quer, só que obviamente não irei repetir as baboseiras desses panfletos aqui a não ser pra apontar os erros desse tipo de publicação, como é feito com textos "revisionistas".
Mas voltando o assunto, depois da declaração separatista do 'Constantã', a objeção que eu fiz sobre não comentar nada sobre ele, já era. Paciência tem limite.
Eu já vi as baboseiras que esse cara prega desde o Orkut, onde havia até comunidade em "homenagem" a ele ironizando as "maluquices" que ele pregava/prega. Agora, vir uma revista e amplificar o alcance desse arsenal de esgoto/detrito, é demais.
A proposição de separação desse pessoal é tão esdrúxula que a primeira coisa a se perguntar é: como iriam fazer isso sem uma guerra?
Só inconsequente acha que irá propor uma maluquice dessas ignorando o histórico de repressão e represálias a movimentos do passado, que ao contrário dos atuais, uma parte tinha legitimidade de defender certas posições como por exemplo o de não se submeter a uma potência estrangeira, no caso, Portugal representado pela Coroa Portuguesa. Não é o caso atual.
Essas terras pertencem ao país, então aos "separatistas magoados" vão pedir auxílio externo pra separação, pois interno não há.
E por falar em pedir auxílio externo, agentes externos já operam neste sentido no país pra desestabilizar o Brasil, o surgimento de Black Blocs e demais arruaceiros (virtuais ou não) das marchas de 2013 etc precisa ser esclarecido, como também a atuação de ONGs estrangeiras de olho na Amazônia brasileira e apoiando candidatos entreguistas nas eleições do país como a Marina Silva que se valem de um discurso "ecológico" despolitizado se valendo do culto à figura "santa" dela, uma mitificação e construção política.
Esse tipo de ação de desestabilização política "não vem do nada", isso costuma ter dedo externo (dedo, mão, braço etc) com os lacaios internos históricos.
Armando Boito: Marina representa o casamento do Itaú com a WWF
A história de Marina Silva, as ONGs da Amazônia e os EUA
A segunda é sobre os recursos do país, uma vez que a entrada de empresas multinacionais em determinados estados tiveram dedo do governo federal, em caso extremo desses bocós quererem fazer levante separatista, muitas dessas empresas de determinados estados ese espalhariam pelos outros por segurança e não voltariam mais a esses estados. Ou seja, a demência deles custaria caro pros próprios estados deles que empobreceriam com as retaliações da União que não seriam poucas começando pelo corte ou taxação do fornecimento de gás e petróleo que estrangularia a economia desse "novo país", que venderia seus produtos pra quem? E como se chamaria como? Sudeste? República Federativa do Sudeste? Só rindo, rs.
Fora o problema militar da coisa. Se em 1932, no último confronto civil aberto do país, São Paulo foi trucidado pela União com o armamento da época, imagina com o armamento atual o que aconteceria a um levante desses. Fora que nem todos os cidadãos desses estados são a favor disso, haveria um racha nesses estados e consequente desmembramento em um ou dois estados como represália.
Pernambuco perdeu metade do território ainda no século XIX por represália da Coroa Portuguesa e isso pesa economicamente até hoje passados mais de 150 anos do ocorrido. Cito este caso pois foi o único desmembramento de Estado por represália da História do país, e justamente por ser parte disso que a gente sabe (mais do que o resto do país) o quanto pesa um conflito desse tipo ao contrário desses energúmenos citados que ficam delirando em "lutas imaginárias" sem avaliar o peso do que pregam.
Quem quiser seguir os erros ou infortúnios do passado, fiquem à vontade, mas depois não vale chorar e ficar se lamuriando (se houver "depois").
O pessoal de fora do Brasil que lê o blog vai achar estranho ver chamar de extremista de direita alguns separatistas de ocasião quando na maior parte dos países a extrema-direita adota o discurso nacional extremado de exaltação do país (França, Alemanha, Suécia etc), mas no Brasil existe esse ranço cultivado no eixo econômico do país, incutido pela mídia oligopolizada que incita essas ideias, principalmente através do futebol, que aflora mais no Estado de São Paulo onde existe uma apropriação distorcida daquela revolta de 1932. E há uma mania desse mesmo povo ficar achincalhando o próprio país. Só deixam de lado o achincalhe pra esses espetáculos caricatos de "amor a pátria" como aquela babaquice que rolou na Copa do Mundo com a torcida abastada nos estádios cantando hino nacional pra "mostrar" que "ama" o país quando é tudo balela, aquele pessoal é o que mais achincalha o Brasil (a maioria), malharam a Copa e ainda pagaram ingresso caro pra ver jogo e o lastimável 7x1. Deve ter sido castigo mesmo aquele jogo pois vendo por esse ângulo, esses caras mereceram, não o povo, mas essa casta que achincalha o país e fica protagonizando esses espetáculos teatrais "patrióticos ufanistas" vazios pois não têm a mínima noção do que é gostar do país, que não é algo forçado, caricatural, você simplesmente gosta e pronto.
A postura dessas pessoas é um misto de ignorância e prepotência de gente visivelmente descontrolada, radical, e que ignora a História do país.
Quando eu disse que uma das fontes pra proliferação do "revisionismo" era a ignorância sobre a História do Brasil, eu não errei, e disse isso antes mesmo desses surtos coletivos pipocarem em junho de 2013 (post de 14.03.2013):
História do Brasil e "revisionismo" (negacionismo) do Holocausto
Mantenho a afirmação anterior do post acima, a ignorância sobre o país leva a proliferação desse tipo de grupelhos.
Alguém acha normal que um indivíduo no Brasil fique exaltando a Alemanha hitlerista ignorando o racismo do nazismo (que não era só direcionado a judeus) ignorando o próprio país que nasceu? Quando falo de ignorar o racismo hitlerista é que boa parte desses que defendem isso nem sequer são descendentes de alemães, como já tentaram generalizar a coisa.
Por que friso a questão de ser descendente de alemão? Porque o nazismo original era voltado para alemães ou quem se enquadrava naquele biotipo "ariano" (nórdico) cultuado/idealizado pelos nazis. Ou seja, boa parte desses "revis" brasileiros não se encaixariam nas definições "raciais" do nazismo. E não só o nazismo era racista, os outros fascismos também manifestavam racismos, só que em menor escala, talvez por isso que o nazismo chame mais atenção, principalmente pela destruição que a Alemanha nazi provocou, mas houve legislação racista na Itália com aquelas mitomanias típicas de fascistas.
Antes da 'mídia crítica' ficar só apontando o fenômeno do extremismo, deveria também informar mais o povo sobre História do Brasil, pois o povo precisa ser educado já que o ensino do país apresenta falhas nessa questão que geram esse tipo de aberração.
Eu iria fazer esse post na mesma semana que estourou isso mas esse pessoal enche a paciência, é tanta cretinice e estupidez juntas que enchem o saco e assustam pela quantidade de gente repetindo essas idiotices. Mas fica pra outro post o rebate ao texto da "moeda nazi" do Constantã, e a origem desse outro extremismo de direita no Brasil que já vem sendo citado aqui:
Murray Rothbard, Lew Rockwell e o "Racismo científico" (Libertários/Liberais)
As divisões da Direita Norte-americana: Direita Anticomunista, Racista, Cristã e Neoconservadora
Importaram esse discurso "neocon" (abreviação de neoconservador liberal) dos EUA pro Brasil e adaptaram as peculiaridades locais e deformações políticas desses grupelhos. Em geral esses grupos não se dão com grupos nacionalistas nativos, teoricamente, a única coisa que os une ou faz um usar o outro como bucha de canhão é a propaganda de "comunismo" da Guerra Fria, que adaptam pro governo federal.
Mas quando a coisa ocorre em jornais ou revistas de maior alcance, a coisa sai do "anedótico" do anônimo inconsequente pro chamado "formador de opinião" (ou 'deformador de opinião', conforme sua visão) pregando crimes, pois separatismo é ilegal no Brasil conforme está escrito na Constituição, com previsão de punição. Isso mesmo que você leu, quem prega, com grande alcance a ponto de incitar multidões, está cometendo crime, podem ler direto na fonte mas vou copiar as partes que interessam pra cá:
LEI Nº 7.170, DE 14 DE DEZEMBRO DE 1983.
Define os crimes contra a segurança nacional, a ordem política e social, estabelece seu processo e julgamento e dá outras providências.E prossegue: CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o CONGRESSO NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
TÍTULO I
Disposições Gerais
Art. 1º - Esta Lei prevê os crimes que lesam ou expõem a perigo de lesão:
I - a integridade territorial e a soberania nacional;
Il - o regime representativo e democrático, a Federação e o Estado de Direito;
Ill - a pessoa dos chefes dos Poderes da União.
TíTULO II
Dos Crimes e das Penas
Art. 8º - Entrar em entendimento ou negociação com governo ou grupo estrangeiro, ou seus agentes, para provocar guerra ou atos de hostilidade contra o Brasil.
Pena: reclusão, de 3 a 15 anos.
Parágrafo único - Ocorrendo a guerra ou sendo desencadeados os atos de hostilidade, a pena aumenta-se até o dobro.
Art. 9º - Tentar submeter o território nacional, ou parte dele, ao domínio ou à soberania de outro país.
Pena: reclusão, de 4 a 20 anos.
Art. 11 - Tentar desmembrar parte do território nacional para constituir país independente.
Pena: reclusão, de 4 a 12 anos.
CAPÍTULO VI. DA INTERVENÇÃOApós mostrar o conteúdo acima, o que dizer disto abaixo?
Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:
I - manter a integridade nacional;
II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra;
Eu tinha salvo esse print de outro link, mas pra achar de novo acabei encontrando no Viomundo, então segue com esse mesmo.
E teve mais aqui:
Deputado do PSDB pede independência do Sul e do Sudeste
Mais um aqui e aqui.
Eu só iria comentar o caso do Constantino, mas pra não ser injusto com ele, citei os outros dois pra mostrar que não foi um caso de idiotice isolada. Andei vendo que uma parte da "turma extremada" anda desconversando sobre a ideia de "separação" pregada no dia do resultado da eleição ou logo após (devem ter sido alertados do 'tranco' da coisa). Mas sem essa, quem pregou assuma que o fez ou se retrate, sem conversa mole.
O mais grave disso é um militar pregar separatismo pois se há uma coisa que é consenso no Brasil entre direita, esquerda, centro etc, após o período de turbulência do século XIX onde houve vários movimentos de desmembramento que surgiram provocados pela presença da Coroa Portuguesa no Brasil, e que são movimentos separatistas dependendo do ângulo por qual você trata pois se separar de Portugal (o território do país ainda pertencia à Coroa Portuguesa e seus descendentes) não seria propriamente separatismo como no caso da Guerra de Secessão nos EUA ou recentemente a Escória querendo retomar sua soberania pois é uma nação, com língua própria etc. Mas como dizia, se há uma coisa que é compartilhada em comum entre os mais variados setores políticos do país é a da não divisão do território do país. Isso é um consenso, pelo menos da grande maioria (pra não dizer maioria absoluta). Talvez por isso que alguns extremistas, sabendo do eco negativo no país e nas Forças Armadas, pararam com o discurso de criança birrenta/mimada.
Quem tentar enveredar por este caminho da separação seria/será reprimido duramente, não só por civis mas principalmente pelas Forças Armadas, que boa parte desses "revoltosos" de ocasião adoram exaltar ignorando o histórico da mesma sobre o separatismo no Brasil.
O mais ridículo é esse mesmo grupo acusar quem é contrário a eles de estar fomentando "separatismos" e o discursinho chantagista emocional e apelativo de "nós contra eles". Ou seja, vejam a "lógica" bizarra dessas figuras, os caras pregam separação, fazem agressões verbais à regiões e depois não assumem o que pregam e ficam acusando os outros de fomentarem isso. É muita cara de pau e covardia prum grupo só.
A consequência disso desembocou nisso aqui, essa foi a mais recente do último dia 15 de novembro:
Marcha golpista volta a pedir intervenção militar
Estou tendo que colocar links dos blogs pois não quero colocar link de jornal golpista (a não ser que seja necessário) e não tá fácil de achar o conteúdo semanas após o ocorrido pois fica misturado pela web com as outras 'marchinhas' inconsequentes desses extremistas. Essa foi a terceira este ano, todas um completo fiasco e um espetáculo de gente visivelmente perturbada e surfando em delírios incitados pela mídia irresponsável e inconsequente do país.
Quando falo de jornal golpista, alguém acha normal que um dono de jornal mande um país "se foder" por extremismo? Pois bem, deem uma olhada:
Cartaz
Mas deixemos a consideração do que ocorreria em caso extremo (em caso dessas figuras pararem com o lero-lero e partirem pruma separação de fato, que dificilmente eles irão fazer), pra se ater na motivação da manifestação idiota.
Um dos motivos é o rancor já discutido aqui abaixo (no link), com o post sobre o bovino Mainardi e sua "ideia de Nordeste", que não é comum dele, apenas ele (há de reconhecer) foi mais sincero que os outros:
A mídia brasileira expele preconceito abertamente sem regulação ou punição. O caso Mainardi
Eu me segurei pra não criticar este cidadão da Veja antes (o Constantino), porque haviam me passado um texto dele, pra adiantar, o texto era uma cópia de blog estrangeiro (ele não cita a fonte de onde relatam uma suposta "moeda nazi-comunista", mas acha-se fácil na web), que vou tratar em outro post.
Evitei retrucar o texto da "moeda" pois iria parecer pirraça e ataque pessoal quando não é. Apenas não deveriam passar esse tipo de conteúdo sem antes perguntar o que a pessoa pensa de revista "x", mas o povo (em geral) não enxerga a coisa dessa forma e acaba passando sem refletir, sem avaliar o conteúdo, porque partem do princípio equivocado de que por A ou B ser contra o negacionismo que automaticamente "gostará" de revista/jornal A ou B como a Veja (e publicações afins) e não é por aí.
Quando eu digo que a Revista Veja (da Ed. Abril) e esses jornais de maior tiragem do país são de extrema-direita, é porque são de extrema-direita, alguém consegue conceber um colunista de um jornal ou revista estrangeira (BBC, Spiegel, New York Times etc) pregando separatismo sem ser dispensado por esses jornais e revistas logo após? Creio que não.
A não ser que o jornal/revista endosse essa visão. Só no Brasil que pessoas publicam esse tipo de asneira e não são rechaçadas pela tal "grande mídia" (mídia oligopolizada) do país, que faz vista grossa a esses ataques e casos graves e que aparentemente envereda por um caminho sem volta (pra ela) do radicalismo, que jogará essa mídia no descrédito.
Mas aí vem uma questão: qual o sentido do povo ser contrário a "revis" ficar repetindo panfletagem desse tipo de revista, jornal?
No mínimo é incoerência.
Mas não vou entrar no mérito disso, lê esses panfletos quem quer, só que obviamente não irei repetir as baboseiras desses panfletos aqui a não ser pra apontar os erros desse tipo de publicação, como é feito com textos "revisionistas".
Mas voltando o assunto, depois da declaração separatista do 'Constantã', a objeção que eu fiz sobre não comentar nada sobre ele, já era. Paciência tem limite.
Eu já vi as baboseiras que esse cara prega desde o Orkut, onde havia até comunidade em "homenagem" a ele ironizando as "maluquices" que ele pregava/prega. Agora, vir uma revista e amplificar o alcance desse arsenal de esgoto/detrito, é demais.
A proposição de separação desse pessoal é tão esdrúxula que a primeira coisa a se perguntar é: como iriam fazer isso sem uma guerra?
Só inconsequente acha que irá propor uma maluquice dessas ignorando o histórico de repressão e represálias a movimentos do passado, que ao contrário dos atuais, uma parte tinha legitimidade de defender certas posições como por exemplo o de não se submeter a uma potência estrangeira, no caso, Portugal representado pela Coroa Portuguesa. Não é o caso atual.
Essas terras pertencem ao país, então aos "separatistas magoados" vão pedir auxílio externo pra separação, pois interno não há.
E por falar em pedir auxílio externo, agentes externos já operam neste sentido no país pra desestabilizar o Brasil, o surgimento de Black Blocs e demais arruaceiros (virtuais ou não) das marchas de 2013 etc precisa ser esclarecido, como também a atuação de ONGs estrangeiras de olho na Amazônia brasileira e apoiando candidatos entreguistas nas eleições do país como a Marina Silva que se valem de um discurso "ecológico" despolitizado se valendo do culto à figura "santa" dela, uma mitificação e construção política.
Esse tipo de ação de desestabilização política "não vem do nada", isso costuma ter dedo externo (dedo, mão, braço etc) com os lacaios internos históricos.
Armando Boito: Marina representa o casamento do Itaú com a WWF
A história de Marina Silva, as ONGs da Amazônia e os EUA
A segunda é sobre os recursos do país, uma vez que a entrada de empresas multinacionais em determinados estados tiveram dedo do governo federal, em caso extremo desses bocós quererem fazer levante separatista, muitas dessas empresas de determinados estados ese espalhariam pelos outros por segurança e não voltariam mais a esses estados. Ou seja, a demência deles custaria caro pros próprios estados deles que empobreceriam com as retaliações da União que não seriam poucas começando pelo corte ou taxação do fornecimento de gás e petróleo que estrangularia a economia desse "novo país", que venderia seus produtos pra quem? E como se chamaria como? Sudeste? República Federativa do Sudeste? Só rindo, rs.
Fora o problema militar da coisa. Se em 1932, no último confronto civil aberto do país, São Paulo foi trucidado pela União com o armamento da época, imagina com o armamento atual o que aconteceria a um levante desses. Fora que nem todos os cidadãos desses estados são a favor disso, haveria um racha nesses estados e consequente desmembramento em um ou dois estados como represália.
Pernambuco perdeu metade do território ainda no século XIX por represália da Coroa Portuguesa e isso pesa economicamente até hoje passados mais de 150 anos do ocorrido. Cito este caso pois foi o único desmembramento de Estado por represália da História do país, e justamente por ser parte disso que a gente sabe (mais do que o resto do país) o quanto pesa um conflito desse tipo ao contrário desses energúmenos citados que ficam delirando em "lutas imaginárias" sem avaliar o peso do que pregam.
Quem quiser seguir os erros ou infortúnios do passado, fiquem à vontade, mas depois não vale chorar e ficar se lamuriando (se houver "depois").
O pessoal de fora do Brasil que lê o blog vai achar estranho ver chamar de extremista de direita alguns separatistas de ocasião quando na maior parte dos países a extrema-direita adota o discurso nacional extremado de exaltação do país (França, Alemanha, Suécia etc), mas no Brasil existe esse ranço cultivado no eixo econômico do país, incutido pela mídia oligopolizada que incita essas ideias, principalmente através do futebol, que aflora mais no Estado de São Paulo onde existe uma apropriação distorcida daquela revolta de 1932. E há uma mania desse mesmo povo ficar achincalhando o próprio país. Só deixam de lado o achincalhe pra esses espetáculos caricatos de "amor a pátria" como aquela babaquice que rolou na Copa do Mundo com a torcida abastada nos estádios cantando hino nacional pra "mostrar" que "ama" o país quando é tudo balela, aquele pessoal é o que mais achincalha o Brasil (a maioria), malharam a Copa e ainda pagaram ingresso caro pra ver jogo e o lastimável 7x1. Deve ter sido castigo mesmo aquele jogo pois vendo por esse ângulo, esses caras mereceram, não o povo, mas essa casta que achincalha o país e fica protagonizando esses espetáculos teatrais "patrióticos ufanistas" vazios pois não têm a mínima noção do que é gostar do país, que não é algo forçado, caricatural, você simplesmente gosta e pronto.
A postura dessas pessoas é um misto de ignorância e prepotência de gente visivelmente descontrolada, radical, e que ignora a História do país.
Quando eu disse que uma das fontes pra proliferação do "revisionismo" era a ignorância sobre a História do Brasil, eu não errei, e disse isso antes mesmo desses surtos coletivos pipocarem em junho de 2013 (post de 14.03.2013):
História do Brasil e "revisionismo" (negacionismo) do Holocausto
Mantenho a afirmação anterior do post acima, a ignorância sobre o país leva a proliferação desse tipo de grupelhos.
Alguém acha normal que um indivíduo no Brasil fique exaltando a Alemanha hitlerista ignorando o racismo do nazismo (que não era só direcionado a judeus) ignorando o próprio país que nasceu? Quando falo de ignorar o racismo hitlerista é que boa parte desses que defendem isso nem sequer são descendentes de alemães, como já tentaram generalizar a coisa.
Por que friso a questão de ser descendente de alemão? Porque o nazismo original era voltado para alemães ou quem se enquadrava naquele biotipo "ariano" (nórdico) cultuado/idealizado pelos nazis. Ou seja, boa parte desses "revis" brasileiros não se encaixariam nas definições "raciais" do nazismo. E não só o nazismo era racista, os outros fascismos também manifestavam racismos, só que em menor escala, talvez por isso que o nazismo chame mais atenção, principalmente pela destruição que a Alemanha nazi provocou, mas houve legislação racista na Itália com aquelas mitomanias típicas de fascistas.
Antes da 'mídia crítica' ficar só apontando o fenômeno do extremismo, deveria também informar mais o povo sobre História do Brasil, pois o povo precisa ser educado já que o ensino do país apresenta falhas nessa questão que geram esse tipo de aberração.
Eu iria fazer esse post na mesma semana que estourou isso mas esse pessoal enche a paciência, é tanta cretinice e estupidez juntas que enchem o saco e assustam pela quantidade de gente repetindo essas idiotices. Mas fica pra outro post o rebate ao texto da "moeda nazi" do Constantã, e a origem desse outro extremismo de direita no Brasil que já vem sendo citado aqui:
Murray Rothbard, Lew Rockwell e o "Racismo científico" (Libertários/Liberais)
As divisões da Direita Norte-americana: Direita Anticomunista, Racista, Cristã e Neoconservadora
Importaram esse discurso "neocon" (abreviação de neoconservador liberal) dos EUA pro Brasil e adaptaram as peculiaridades locais e deformações políticas desses grupelhos. Em geral esses grupos não se dão com grupos nacionalistas nativos, teoricamente, a única coisa que os une ou faz um usar o outro como bucha de canhão é a propaganda de "comunismo" da Guerra Fria, que adaptam pro governo federal.
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
Com FHC, Lula visita exposição em memória às vítimas do Holocausto
(Foto) O presidente Lula acompanhado da ministra Dilma, do ex-presidente da República, Fernando Herique Cardoso, e do governador de SP, José Serra, visitam exposição em memória às vítimas do Holocausto
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a afirmar nesta terça-feira (27), durante solenidade que marcou o Dia Internacional em Memória às Vítimas do Holocausto, que o Brasil pode atuar como mediador no conflito entre judeus e palestinos no Oriente Médio.
“A paz só tem a ganhar com a participação de países como o Brasil na luta pelo fim dos conflitos no Oriente Médio. O Brasil tem condições e credenciais para participar, junto com outros países, e chegar a um consenso para superar a violência e a irracionalidade”, disse o presidente, que afirmou que o país não aceita "a escalada da violência como solução para os conflitos".
Antes da solenidade, Lula, acompanhado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) e do governador de São Paulo, José Serra, visitou uma exposição em homenagem às vítimas. O presidente acendeu uma das seis velas que lembras os 6 milhões de judeus mortos no Holocausto.
“A intolerância e a xenofobia ainda não foram totalmente extintas", disse Lula, que destacou a eleição do presidente Barack Obama nos Estados Unidos, um país onde "há poucas décadas, negros e bancos não tinham os mesmos direitos".
"O Brasil não aceita discriminação. Judeus e árabes, sejam religiosos ou não, convivem pacífica e harmoniosamente em nossas cidades. Por isso, o conflito entre Israel e palestinos, no Oriente Médio, atinge os corações e as mentes de todos e nos obriga a evitar que o ódio contamine o nosso país", disse.
Fonte: Tempo Real(Brasília, 28.01.2009)
http://www.emtemporeal.com.br/index.asp?area=2&dia=28&mes=01&ano=2009&idnoticia=68360
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