Epílogo: o refúgio da latinidade
A ideologia do fascismo italiano encontrava, então, tantos obstáculos como variantes ou formas paralelas (nacional-populismo, fascismo "de esquerda", falangismo, nacional-socialismo), que concorriam com ele em um contexto onde predominava a busca pragmática de referentes externos. Não ajudavam as percepções confusas ou alteradas nos dois sentidos, tanto na Itália como na América Latina que ao se propagar distorciam a mensagem original. Os regimes castrenses, por seu lado "criaram um ambiente hostil para a propagação do fascismo numa forma não adulterada" [75].
Além disso, outro motivo fundamental da busca de uma hegemonia italiana, induzia a leituras superficiais. A "latinidade", um tema já importante para o nacionalismo italiano, significava o intento de extender até a América Latina uma primazia espiritual universal, que Roma reivindicava como "mãe" da Civilização Latina. [76] Este objetivo -característico de uma política externa italiana que desde sempre se expressava com linguagem de mitos - [77] implicava desvincular a maior área "latina", quer dizer, a América Latina, das influências não-latinas (anglossaxãs, eslavas e asiáticas) e se sobrepôr por cima das influências "derivadas", ou seja, luso-hispânicas. A latinidade se expressava também como o refúgio na cultura de uma política de expansão do fascismo italiano que encontrava limites e obstáculos formidáveis em outros campos.
A concorrência da latinidade com a cultura ibérica apontava a oferecer, a Roma, uma tradição alternativa de espiritualidade mais densa de significados com respeito ao mero laço genealógico e linguístico. Uma tradição antiga mas viva, renovada pelo fascismo e suscetível de desenvolvimento no tempo presente. A proposta italiana de latinidade, frequentemente, era caracterizada pela possibilidade de que "Roma" significasse um arraigo tradicional da modernidade e, pelo mesmo, um brio progressista diferente (como alternativa "espiritual") ao progressismo "plutocrático" e meramente materialista de Washington e Londres, e à tradição sem modernidade de Madrid e Lisboa. Os grupos e tendências "hispanistas" na América Latina, frequentemente, tinham geralmente uma forte matiz conservadora e religiosa, em consequência a hispanidade não podia se aproveitar do sentido modernizador. [78] Por outro lado, justamente por este motivo resultava mais próxima as forças oligárquicas, castrenses e conservadoras que predominavam na região e que foram atraídas depois de 1936 pela Espanha de Franco. [79] Frente a esta ventaja hispánica do lado conservador, Roma ostentava as boas relações do Regime com a Igreja, especificamente os Pactos Lateranenses de 1929 e, mais tarde, a defesa do catolicismo contra a República espanhola anticlerical e anticristã. A latinidade em fn supunha um esquema para integração nacional, uma fórmula para sair da "pouco clara e indefinível consistência étnica atual" e para superar "aquelas diferenças de classe que não deveriam existir em Nações em formação e que nececitam uma igualdade individual e coletiva", apontando, por outro lado, - segundo o modelo fascista italiano - a "uma entidade nacional toda harmônica, própria, que seja finalmente na concepção e na realidade dos fatos um País orgânico e formado, que pode aportar algo à comunidade dos povos civis" [80].
A latinidade, em poucas palavras, como estratégia cultural oposta à hispanidade conservadora e ao panamericanismo econômico, poderia compensar as debilidades e as insuficiências da penetração econômica e diplomática da Itália e os resultados incertos da expansão política e ideológica do fascismo.
Ainda assim a latinidade, contudo, tinha dificuldade para se impôr. Tinha, frequentemente, a debilidade de ser ao fim e ao cabo a expressão de um imperialismo europeu, mesmo débil e distante fosse (e sem antecedentes históricos na região). Isto suscitava a desconfiança em países que buscavam a construção e o fortalecimento de suas identidades nacionais e a defesa de sua soberania. México, em particular, considerado "bastão da latinidade" contra o mundo anglossaxão, parecia preferir a busca de suas razízes nacionais nas antigas civilizações pré-colombianas no lugar de Roma. [81]
Com a Guerra da Etiopia (1935-1936) não faltaram os temores de um intervencionismo italiano na região, apoiado em motivações culturais análogas - a "missão civilizadora" e a colonização "proletária" - as que havia legitimado a fundação do Império africano de Mussolini. A latinidade italiana, além disso, podia resultar incômoda porque relegava a herança ibérica a um papel secundário e desechaba as tradições indígenas como resíduos primitivos e lastres para a civilização. A primazia de Roma, como mito unificador interétnico e panlatino significava também Descartar os mitos alternativos de unidade continental mestiça e nativa, como a "raça cósmica" de Vasconcelos ou o "indoamericanismo" de Haya de la Torre e de Mariátegui [82]. Despois de sua estada de três anos na Itália, José Carlos Mariátegui retoma as críticas ao latinismo de Vasconcelos e conclui: "não somos latinos e não temos nenhum parentesco com Roma" [83].
O projeto político-cultural da latinidade era fundado, então, sobre bases precárias ao não possuir um apoio político suficiente, e era exposto à competencia, hostilidade e incompreensões. A partir de mediados dos anos trinta, a latinidade, reduzida a "um ideal que se está hundiendo paulatinamente" [84], mas não abandonado ainda pela propaganda italiana, enfrentará sobretudo o progresso da ideia panamericana, expressão da crescente potência geopolítica dos Estados Unidos na América Latina.
Os resultados decepcionantes da política cultura de "latinidade", enfim, simbolizavam a insuficiente penetração do fascismo italiano (ideológica, política e geopolítica) e, finalmente, a impossibilidade de avaliar positivamente (de um ponto de vista fascista) os efeitos de uma influência de cuatro lustros de penetração do modelo político italiano na região. O desencontro da Itália fascista com os "fascismos" latinoamericanos têm um dejo final de ironia, pois somente depois de que o regime de Mussolini cai (em 1943) um novo golpe militar na Argentina inicia um experimento político de tendências fascistas, que dará lugar mais tarde - ao finalizar a Guerra Mundial - ao "justicialismo" populista de Perón. O México, por seu lado, segue sua evolução nacional-populista autóctone e o Brasil abandona definitivamente os experimentos fascistas para desenvolver também sua forma peculiar de populismo. No mais, as muitas ilusões, especismos e equívocos recíprocos dos fascistas italianos e de seus homólogos latinoamericanos deixam um legado de incerteza semântica e interpretativa que perdura até hoje.
Notas
75 Grifn, The Nature, 148.
76 Cfr. Emilio Gentile, "L'emigrazione italiana in Argentina nella politica di espansione del nazionalismo e del fascismo", Storia Contemporanea XVII: 3 (Junio 1986): 355-396, aquí 394; Pietro Rinaldo Fanesi, "Le interpretazioni", 402-405.
77 Véase el ensayo de Richard J. B. Bosworth, "Mito e linguaggio nella politica estera italiana", en La politica estera italiana, 1860-1985, eds. R. J. B. Bosworth y S. Romano (Bologna: Il Mulino, 1991), 35-67.
78 Sobre el carácter no-moderno de la hispanidad, véase Bailey W. Dife, "The Ideology of Hispanidad", Hispanic American Historical Review XXII: 3 (Agosto 1943): 457-482. Cfr. también Frederick B. Pike, Hispanismo 1898-1936: Spanish Conservatives and Liberals and the Relations with Spanish America (Notre Dame: University of Notre Dame Press, 1971).
79 Por otro lado, justamente la victoria en la Guerra civil logrará matizar la rivalidad entre hispanidad y latinidad, en nombre de la lucha común contra "las pretensiones hegemónicas de los anglosajones": Erba, "Per una Spagna imperiale", Critica Fascista XVII: 18 (julio 1939): 290-291. La "hispanidad" de los años treinta (la de Serrano Suñer, Maetzu, Giménez Caballero, Pemartín, etc.) tiene, sin duda, infuencias fascistas.
80 Oreste Villa, L'America Latina, 99, 102. El significado ecuménico, cultural, de la latinidad, significaba también una ventaja frente al nacionalismo alemán, que era visto con recelo por su exclusivismo étnico y racial. "La cuestión de la raza" -escribe el embajador en Brasil a Ciano- "[...] debe entenderse como origen histórico [latino] de toda la nación [...]. Debe entenderse como idioma, que es neo-latín. Debe entenderse como forma mentis, que es mediterránea. Debe entenderse como concepción general de la moral y el derecho, que son romanos; como concepción de la familia, que es católica; como arte, arquitectura, estilo, oratoria, que son todas emparentadas con la cepa [cultural] ibérico-mediterránea". Lojacono a Ciano, Río de Janeiro, 27 de septiembre 1937, en Gianluca André, comp., DDI, s. VIII. Roma: Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato, 1997, Vol. 7, doc. 373, 450. La Latinidad, en suma, debería entenderse como herencia viva, histórica y cultural, no como comunidad etno-biológica.
81 Franco Savarino, "The Sentinel", 97-120.
82 Franco Savarino, "Apuntes sobre el fascismo", 105-106. Véase José Vasconcelos, La raza cósmica (Barcelona: Agencia Mundial de Librería, 1925). También la Brasilianidade promovida por la AIB se encontraba de facto en competencia con la latinidad itálica.
83 José Carlos Mariátegui, Lettere dall'Italia ed altri scritti (Roma: Editori Riuniti, 1973), 154.
84 Aldo Bizzarri, "America 'Latina'?", Critica Fascista XVIII: 22 (septiembre 1940): 372-373.
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Para visualizar toda a bibliografia do texto, acessar a página original: Link.
Fonte: Scielo
Texto: JOGO DE ILUSÕES: BRASIL, MÉXICO E OS "FASCISMOS" LATINOAMERICANOS FRENTE AO FASCISMO ITALIANO
Autor: Franco Savarino
http://www.scielo.org.co/scielo.php?pid=S0121-16172009000100009&script=sci_arttext
Tradução: Roberto Lucena
Observação: texto sem revisão.
Ver:
Jogo de ilusões: Brasil, México e os "fascismos" latinoamericanos frente ao fascismo italiano - Parte 03
Jogo de ilusões: Brasil, México e os "fascismos" latinoamericanos frente ao fascismo italiano - Parte 02
Jogo de ilusões: Brasil, México e os "fascismos" latinoamericanos frente ao fascismo italiano - Parte 01
Ver também:
O NSDAP no México: história e percepções, 1931-1940 - parte 1
O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939 - parte 01
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sexta-feira, 22 de março de 2013
Jogo de ilusões: Brasil, México e os "fascismos" latinoamericanos frente ao fascismo italiano - Parte 04
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sábado, 9 de março de 2013
Jogo de ilusões: Brasil, México e os "fascismos" latinoamericanos frente ao fascismo italiano - Parte 03
3. Jogos de influências: a "moda" fascista e as ditaduras
A influência fascista é mais notável e promissora nas classes dirigentes latinoamericanas, sobretudo entre os intelectuais e nas forças armadas, inclusive o clero - seguindo a linha flexível de Pio XI- não é exento da sedução fascista [58]. Diferente do socialismo, do anarquismo e do comunismo, que penetram "desde baixo" (nos setores operários e proletários, especialmente os de ascendência europeia), o fascismo se introduz geralmente "desde cima" e no setor médio da população (com a exceção das colônias italianas, onde representa um fator de identidade nacional) [59].
As classes dirigentes veem no fascismo um recetario para resolver os problemas nacionais e se ligar a uma ideologia "de moda", com um futuro que parece então promissor. A oferta de um modelo político modernizador (nacionalista, corporativo, mobilizador etc) capaz de fortalecer as comunidades nacionais, consolidar os Estados, fortalecer a liderança autoritária e propôr, além disso, uma mudança no equilíbrio geopolítico favorável tanto às potências emergentes como às "periferias" dependentes aparentava obviamente ser algo atrativo e em sintonia com problemáticas gerais e conjunturais (integração nacional, industrialização incipiente, crise econômica, imperialismo "plutocrático", rivalidades regionais, rezagos oligárquicos, debilidades institucionales). Nesta perspectiva, o fascismo é buscado de maneira pragmática e utilitarista para solucionar problemas específicos e encontrar uma saída. Um interesse, então, não por ideologia em si, senão pelos resultados positivos que se esperam do modelo de acordo com a leitura e reinterpretação que prevalesce na região. As classes médias urbanas sentem também esta atração e, além disso - respondendo a um impulso similar ao europeu - buscam no fascismo um referente que encaixa na ambisão de se promover como nova classe dominante, às custas das velhas oligarqias liberais e evitando o perigo proletário e rural. Tanto o pragmatismo da aproximação assim como a escassa consistência demográfica das classes médias urbanas e das elites intelectuais e castrenses mais sensíveis ao chamado fascista, ajudam a entender porque a ideologia fascista não consegue em nenhum lado se estabelecer como novo paradigma ideológico.
Contudo, justamente por esta penetração elitista em setores-chaves de cada país (intelligentsia, pequena e média burguesia, exército), o fascismo tem um impacto político mais visível e mais consistente, e é capaz de ocasionar o alarmismo norteamericano. Carleton Beals manifesta estes temores - que são bastante comuns nos Estados Unidos durante esta época - em 1938.
"No geral, na América hispânica os esforços diplomáticos, econômicos e políticos soviéticos terminaram quase sempre em fracasso. A tendência da maioria dos países é francamente fascista e pró-nazi. Os vários regimes ditatoriais expressam todos aberta ou secretamente simpatia por Hitler e Mussolini. Todos estão a favor de Franco, com exceção da Costa Rica, México e, em certa medida, a Colômbia" [60].
Naturalmente estas considerações expressam ante tudo um clima de nervosismo ou histerismo pré-bélico que faz ver "fascismos" em todas as partes, ainda que se trate de meros inventos propagandistas, de imitações superficiais ou de fenômenos francamente distintos. Os Estados Unidos além disso aproveita habilmente a "ameaça fascista" - exagerando o suposto perigo mediante a propaganda - para promover sua democracia, avançar na região e extender sua hegemonia econômica e política.
O que é sim é certo é a disponibilidade das ditaduras em adotar uma roupagem "fascista" para lhes dar alguma consistência ideológica e icônica "de moda" a regimes pessoais e de ordem (ou castrenses), para lhes dar brilho e legitimidade ao exercício autocrático do poder. Na Venezuela, Juan Vicente Gómez - um velho ditador tradicional - paquera com o fascismo e assume o formato de um "duce" bolivariano: os italianos naturalmente não mordem o anzuelo, mas aproveitam esses marabalismos imitativos para extender sua influência. Em Cuba, Batista é tentado a se inclicar ao fascismo, mas evita emulações por demais francas para não criar inimizade com os Estados Unidos. Na Guatemala, Ubico também dá um barniz "fascista" a sua ditadura, para estar na moda e proclamar a modernidade de seu regime. O México é um caso à parte, pois seus governantes em sentido estrito não são ditadores, aqui se respeitam formalmente os princípios democráticos (constituição, legalidade, eleições, alternância dos mandatários etc), mas há uma forte tendência estrutural para o fascismo, visível o corporativismo oficial, o partido único, o nacionalismo e a formato cesarista de alguns presidentes, especialmente de Elías Calles e Cárdenas.
Também o Chile apresenta uma situação insólita. Neste país o fascismo italiano desperta interesse desde o começo, mas é a partir de 1927, com a ascensão ao poder do coronel Carlos Ibáñez, que se podem perceber influências concretas. Seu regime autoritário se inclina ao controle dirigido da economia e a formas corporativas no campo social inspiradas no exemplo italiano. Contudo, com o carecer de uma base ideológica e organizativa (quer dizer, não sendo um verdadeiro fascismo) [61], cai repentinamente como consequência da crise econômica em 1931. A saída de Ibáñez propicia a formação (1932) de um novo agrupamento radical, o Movimiento Nacional Socialista (abreviado como "nacista" ao estilo alemão) inspirado mais no nacional-socialismo de Hitler ue no fascismo de Mussolini. Ao não conseguir se aproximar do poder, este movimento, liderado pelo advogado Jorge González von Marées e com o suporte teórico de Carlos Keller, na segunda metade da década de trinta sofrerá uma evolução errática ante à esquerda, até se aproximar de posições comunistas [62].
Na área andina se observa o surgimento de ditaduras efêmeras de inspiração "fascista". O Peru começa um breve experimento fascisitizante ou pseudo-fascista em 1936 com a ditadura de Óscar Benavides, um militar que conheceu pessoalmente Mussolini durante sua missão diplomática na Itália. Seu primeiro-ministro, José Riva Agüero, membro da velha aristocracia, teoriza um corporativismo autoritário de tendência católica e se convence de que o fascismo é uma reedição moderna do corporativismo medieval, capaz de enfrentar o perigo socialista. Outro teórico importante é Raúl Ferrero Rebagliati, filho de um italiano, que se encontra mais próximo do modelo fascista de Mussolini [63]. A favor do fascismo se expressa também o diretor do jornal de Lima El Comercio, Carlos Miró Quesada. Apesar da presença desses intelectuais, o "fascismo" da ditadura de Benavides é elitista, não tem uma base de apoio entre as massas. Estas são mais atraídas pela Alianza Popular Revolucionaria Americana (APRA - fundada em 1924 por Víctor Raúl Haya de la Torre). A APRA, que está na oposição, tem também alguns traços vagamente fascistas: socialismo nacional (como elementos marxistas), anti-americanismo, populismo, espírito revolucionário que "parece sugerir uma afinidade profunda com o fascismo de esquerda" [64]. Esta organização aponta o desenvolvimento de "uma forma de fascismo nacionalista para impedir a penetração econômica estrangeira e proteger sua própria [burguesia] capitalista e industrial incipiente" [65]. Existe, além disso, um pequeno movimento "fascista" popular, a Unión Revolucionaria, UR, fundada em 1931 por Juan Sánchez Cerro (presidente do Peru antes de Benavides), abertamente inspirado no fascismo italiano (em 1933 a UR forma uma legião juvenil de "camisas negras"). Neses anos o Peru vive, por assim dizer, uma situação paradoxal, com um governo autoritário (Benavides) que busca se dar um formato fascista e uma oposição com fisionomias fascistizantes (APRA), que, entretanto, qualifica-se por uma espécie de "marxismo" nacionalista e indigenista. As infuências italianas, por demais, são perceptíveis [66].
A Bolívia, por seu lado, experimenta uma aproximação mais séria para o fascismo, devido à conjuntura que vive o país com a derrota na Guerra do Chaco (1932-1935). No pós-guerra entre os bolivianos cunde um clima de insatisfação similar ao da Itália e da Alemanha depois da Primeira Guerra Mundial. A agitação dos ex-combatentes favorece a condensação do protesto popular contra a oligarquia mineira responsável pela derrota e sob suspeita de servir a interesses internacionais. Além disso, as missões militares italiana e alemã deixam uma forte influência no exército (com destaque da presença de Ernst Röhm, chefe da SA alemã). Em 1936 com o nome de "revolução militar socialista" um golpe de estado leva ao poder uma junta militar. Primeiro o coronel David Toro, e depois o coronel Germán Busch, buscam atrair os setores populares e fundar (sem consegui-lo) um "partido socialista de Estado que se aproxima parcialmente do fascismo" [67]. O quadro ideológico do novo regime é o socialismo nacional, com um formato fascista de esquerda, que se assemelha em alguns aspectos ao modelo mexicano e parece antecipar o peronismo argentino. Busch olha com cuidado a Itália e a Alemanha e encarrega a recorganização das forças de polícia a uma missão italiana [68]. Os observadores italianos se entusiasmam com este jovem militar e saúdam a "Nova Bolívia [...] primeiro estado totalitário da América" [69]. Em 1938, como consequência de seus intentos de submeter a oligarquia, Busch perde o apoio de uma parte do exército e, por falta de apoios, resolve se suicidar. Um regime militar conservador lhe sucede, mas o legado do socialismo nacional de Busch perdura em dois novos partidos: a Falange Socialista Boliviana, FSB e o Movimiento Nacional Revolucionario, MNR70.
Além desses experimentos ambíguos e oscilantes entre militarismo, nacionalismo e socialismo, o fascismo italiano (no sentido estrito e completo da expressão) encontra outras limitaçõs em sua difusão. Uma destas é a influência paralela que exercem, desde 1933, o nacional-socialismo alemão e o falangismo espanhol. O primeiro se apresenta em pouco tempo como uma versão mais eficiente do fascismo, como expressão política de um país industrial com maior capacidade de penetração econômica na região e, por isso, com um peso específico muito maior nas relações internacionais [71]. Quando a Itália proclamava seu imperialismo lírico-político, a Alemanha além da cultura e ideias oferecia às pragmáticas classes dirigentes latinoamericanas, produtors, mercados e assistência técnica. O nacional-socialismo teve influências em vários movimentos, como, por exemplo, nos camisas verdes brasileiros e nos camisas douradas mexicanos, cujos uniformes recordam os da SA alemã e tendem ao antissemitismo. A bandeira da AIB - um Sigma negro num círculo branco sobre um fundo azul, é recalcada sobre a bandeira nacional-socialista. O segundo - desde que foi fundada a Falange na Espanha, por José Antonio Primo de Rivera - apareceu como a "versão hispânica" do fascismo: mais católica, menos modernista e menos socialista que o original italiano. E com toda projeção da Espanha nacionalista na América Latina, o falangismo tinha possibilidades de expansão consideráveis por ser mais próximo das raízes históricas e culturais do continente [72]. A difusão da falange foi notável e suscitou em seu momento as preocupações norteamericanas no âmbito do alarmismo quintacolunista pela influência do Eixo na América [73]. Outro obstáculo, enfim, era o próprio nacionalismo nativo, "um nacionalismo [...] em alguns casos tão intransigente que ofusca a vista" [74].
Notas:
58 Ver para el caso argentino Loris Zanatta, Del Estado liberal a la nación católica: Iglesia y ejército en los orígenes del peronismo; 1930-1943 (Buenos Aires: Universidad Nacional de Quilmes, 1996).
59 Ludovico Incisa di Camerana, I caudillos, 233.
60 Carleton Beals, The Coming Struggle for Latin America (Philadelphia: Lippincott, 1938), 156. Del mismo autor cfr. "Black Shirts in Latin America", Current History 49: 3 (Noviembre 1938): 32-34.
61 Según Oreste Villa, L'America Latina, 54. "Ibáñez en Chile debe recordarse [...] como una especie de dictador a las órdenes de la masonería. [...] Un dictador de esta índole tenía forzosamente que llevar Chile a esas consecuencias negativas que se manifestaron después con revoluciones y contrarrevoluciones".
62 Cfr. Víctor Farías, Los nazis en Chile (Barcelona: Seix Barral, 2000). En 1937 los nacionalsocialistas chilenos se declaran "democráticos", rompen públicamente con el nacionalsocialismo hitleriano y obtienen 3.5% de los votos en las elecciones.
63 José Ignacio López Soria, El pensamiento fascista, 1930-1945 (Lima: Mosca Azul, 1981).
64 Grifn, The Nature, 149.
65 James Earle K., "APRA's Appeal to Latin America", Current History 41: 1 (Octubre 1934): 39-44, aquí 44.
66 Cfr. Orazio Ciccarelli, "Fascism and Politics in Peru during the Benavides regime, 1933-39: The Italian Perspective", Hispanic American Historical Review LXX: 3 (Agosto 1990): 405-432.
67 ASMAE, AP 1937-40, Situazione Paesi, Quaderni segreti, Quaderno No. 8 (Bolivia), Situazione politica nel 1937, 5.
68 Lucilla Briganti, "I rapporti tra Italia e Bolivia dall'epoca del primo "socialismo militare" alla rottura delle relazioni diplomátiche (1936-1942)", Africana. Rivista di Studi Extraeuropei (1998): 71-96.
69 Lucio Angelini, "La Bolivia, primo stato totalitario d'America", Gerarchia XIX: 11 (noviembre 1939): 752-754.
70 La primera -corporativa, católica y autoritaria- es de inspiración falangista más que fascista. La segunda -fundada en 1941 por Víctor Paz Estenssoro- es más cercana al fascismo y es infuenciada en algunos aspectos por el nacionalsocialismo alemán (antisemitismo). En 1943, el MNR promueve un golpe de jóvenes oficiales del ejército que lleva al poder el mayor Gualberto Villaroel, que se mantiene en el poder hasta 1946. Paz Estensoro llegará al poder en 1951 y cumplirá con una revolución socialista nacional que logrará fnalmente derrotar a las oligarquías mineras y nacionalizar los recursos naturales del país.
71 Con respecto a la competencia entre Italia y Alemania, Ciano en 1936 recomendó al embajador Cantalupo que se trabajara para que en Brasil se entendiera "que Italia mantiene frme en su puño la vieja bandera de la lucha al comunismo y que hacia el fascismo -reacción primogénita al comunismo- tienen que dirigir sus miradas todas las fuerzas de orden, especialmente aquellas del mundo latino tan vinculado a Roma". Ciano a Cantalupo, Roma, 28 de diciembre 1936, en Gianluca André, comp., DDI, s. VIII. Roma: Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato, 1997, Vol. 5, doc. 684, 757. Un punto de fricción grave entre fascismo y nacionalsocialismo fue ocasionado, en efecto, justamente por la carrera para "orientar" hacia Roma o hacia Berlín el movimiento integralista, que ambas potencias consideraban como virtualmente fascista: cfr. Menzinger a Ciano, Rio de Janeiro, 12 de octubre 1936, en Gianluca André, comp., DDI, s. VIII. Roma: Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato, 1997, Vol. 5, doc. 202, 222, y Lojacono a Ciano, Rio de Janeiro, 27 de septiembre 1937. Vol. 7, doc. 373, 449-451, en Gianluca André, comp., DDI, s. VIII. Roma: Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato, 1997.
72 Justamente en el falangismo se inspiraba el mayor movimiento político latinoamericano de índole radical-conservadora: el Sinarquismo mexicano (Unión Nacional Sinarquista), que llegó a contar con 500,000 miembros.
73 Cfr. Allan Chase, Falange: The Axis Secret Army in the Americas (New York: G. P. Putnam's Sons, 1943).
74 Oreste Villa, L'America latina, 7. El nacionalismo nativo veía con desconfanza sobre todo el intento de retardar la naturalización de los emigrados y politizarlos en función de los intereses de la madre patria. Otros factores que explican la escasa difusión del fascismo italiano son descritos en Alistair Hennessy, "Fascism and Populism in Latin America", en Fascism, a Reader's Guide: Analyses, Interpretations, Bibliography, ed. Walter Laqueur (Berkeley: University of California Press, 1976), 255-262; Payne, Il fascismo, 345; y Franco Savarino, "Apuntes sobre el fascismo", 108.
Fonte: Scielo
Texto: JOGO DE ILUSÕES: BRASIL, MÉXICO E OS "FASCISMOS" LATINOAMERICANOS FRENTE AO FASCISMO ITALIANO
Autor: Franco Savarino
http://www.scielo.org.co/scielo.php?pid=S0121-16172009000100009&script=sci_arttext
Tradução: Roberto Lucena
Observação: texto sem revisão.
Ver:
Jogo de ilusões: Brasil, México e os "fascismos" latinoamericanos frente ao fascismo italiano - Parte 02
Jogo de ilusões: Brasil, México e os "fascismos" latinoamericanos frente ao fascismo italiano - Parte 01
Ver também:
O NSDAP no México: história e percepções, 1931-1940 - parte 1
O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939 - parte 01
A influência fascista é mais notável e promissora nas classes dirigentes latinoamericanas, sobretudo entre os intelectuais e nas forças armadas, inclusive o clero - seguindo a linha flexível de Pio XI- não é exento da sedução fascista [58]. Diferente do socialismo, do anarquismo e do comunismo, que penetram "desde baixo" (nos setores operários e proletários, especialmente os de ascendência europeia), o fascismo se introduz geralmente "desde cima" e no setor médio da população (com a exceção das colônias italianas, onde representa um fator de identidade nacional) [59].
As classes dirigentes veem no fascismo um recetario para resolver os problemas nacionais e se ligar a uma ideologia "de moda", com um futuro que parece então promissor. A oferta de um modelo político modernizador (nacionalista, corporativo, mobilizador etc) capaz de fortalecer as comunidades nacionais, consolidar os Estados, fortalecer a liderança autoritária e propôr, além disso, uma mudança no equilíbrio geopolítico favorável tanto às potências emergentes como às "periferias" dependentes aparentava obviamente ser algo atrativo e em sintonia com problemáticas gerais e conjunturais (integração nacional, industrialização incipiente, crise econômica, imperialismo "plutocrático", rivalidades regionais, rezagos oligárquicos, debilidades institucionales). Nesta perspectiva, o fascismo é buscado de maneira pragmática e utilitarista para solucionar problemas específicos e encontrar uma saída. Um interesse, então, não por ideologia em si, senão pelos resultados positivos que se esperam do modelo de acordo com a leitura e reinterpretação que prevalesce na região. As classes médias urbanas sentem também esta atração e, além disso - respondendo a um impulso similar ao europeu - buscam no fascismo um referente que encaixa na ambisão de se promover como nova classe dominante, às custas das velhas oligarqias liberais e evitando o perigo proletário e rural. Tanto o pragmatismo da aproximação assim como a escassa consistência demográfica das classes médias urbanas e das elites intelectuais e castrenses mais sensíveis ao chamado fascista, ajudam a entender porque a ideologia fascista não consegue em nenhum lado se estabelecer como novo paradigma ideológico.
Contudo, justamente por esta penetração elitista em setores-chaves de cada país (intelligentsia, pequena e média burguesia, exército), o fascismo tem um impacto político mais visível e mais consistente, e é capaz de ocasionar o alarmismo norteamericano. Carleton Beals manifesta estes temores - que são bastante comuns nos Estados Unidos durante esta época - em 1938.
"No geral, na América hispânica os esforços diplomáticos, econômicos e políticos soviéticos terminaram quase sempre em fracasso. A tendência da maioria dos países é francamente fascista e pró-nazi. Os vários regimes ditatoriais expressam todos aberta ou secretamente simpatia por Hitler e Mussolini. Todos estão a favor de Franco, com exceção da Costa Rica, México e, em certa medida, a Colômbia" [60].
Naturalmente estas considerações expressam ante tudo um clima de nervosismo ou histerismo pré-bélico que faz ver "fascismos" em todas as partes, ainda que se trate de meros inventos propagandistas, de imitações superficiais ou de fenômenos francamente distintos. Os Estados Unidos além disso aproveita habilmente a "ameaça fascista" - exagerando o suposto perigo mediante a propaganda - para promover sua democracia, avançar na região e extender sua hegemonia econômica e política.
O que é sim é certo é a disponibilidade das ditaduras em adotar uma roupagem "fascista" para lhes dar alguma consistência ideológica e icônica "de moda" a regimes pessoais e de ordem (ou castrenses), para lhes dar brilho e legitimidade ao exercício autocrático do poder. Na Venezuela, Juan Vicente Gómez - um velho ditador tradicional - paquera com o fascismo e assume o formato de um "duce" bolivariano: os italianos naturalmente não mordem o anzuelo, mas aproveitam esses marabalismos imitativos para extender sua influência. Em Cuba, Batista é tentado a se inclicar ao fascismo, mas evita emulações por demais francas para não criar inimizade com os Estados Unidos. Na Guatemala, Ubico também dá um barniz "fascista" a sua ditadura, para estar na moda e proclamar a modernidade de seu regime. O México é um caso à parte, pois seus governantes em sentido estrito não são ditadores, aqui se respeitam formalmente os princípios democráticos (constituição, legalidade, eleições, alternância dos mandatários etc), mas há uma forte tendência estrutural para o fascismo, visível o corporativismo oficial, o partido único, o nacionalismo e a formato cesarista de alguns presidentes, especialmente de Elías Calles e Cárdenas.
Também o Chile apresenta uma situação insólita. Neste país o fascismo italiano desperta interesse desde o começo, mas é a partir de 1927, com a ascensão ao poder do coronel Carlos Ibáñez, que se podem perceber influências concretas. Seu regime autoritário se inclina ao controle dirigido da economia e a formas corporativas no campo social inspiradas no exemplo italiano. Contudo, com o carecer de uma base ideológica e organizativa (quer dizer, não sendo um verdadeiro fascismo) [61], cai repentinamente como consequência da crise econômica em 1931. A saída de Ibáñez propicia a formação (1932) de um novo agrupamento radical, o Movimiento Nacional Socialista (abreviado como "nacista" ao estilo alemão) inspirado mais no nacional-socialismo de Hitler ue no fascismo de Mussolini. Ao não conseguir se aproximar do poder, este movimento, liderado pelo advogado Jorge González von Marées e com o suporte teórico de Carlos Keller, na segunda metade da década de trinta sofrerá uma evolução errática ante à esquerda, até se aproximar de posições comunistas [62].
Na área andina se observa o surgimento de ditaduras efêmeras de inspiração "fascista". O Peru começa um breve experimento fascisitizante ou pseudo-fascista em 1936 com a ditadura de Óscar Benavides, um militar que conheceu pessoalmente Mussolini durante sua missão diplomática na Itália. Seu primeiro-ministro, José Riva Agüero, membro da velha aristocracia, teoriza um corporativismo autoritário de tendência católica e se convence de que o fascismo é uma reedição moderna do corporativismo medieval, capaz de enfrentar o perigo socialista. Outro teórico importante é Raúl Ferrero Rebagliati, filho de um italiano, que se encontra mais próximo do modelo fascista de Mussolini [63]. A favor do fascismo se expressa também o diretor do jornal de Lima El Comercio, Carlos Miró Quesada. Apesar da presença desses intelectuais, o "fascismo" da ditadura de Benavides é elitista, não tem uma base de apoio entre as massas. Estas são mais atraídas pela Alianza Popular Revolucionaria Americana (APRA - fundada em 1924 por Víctor Raúl Haya de la Torre). A APRA, que está na oposição, tem também alguns traços vagamente fascistas: socialismo nacional (como elementos marxistas), anti-americanismo, populismo, espírito revolucionário que "parece sugerir uma afinidade profunda com o fascismo de esquerda" [64]. Esta organização aponta o desenvolvimento de "uma forma de fascismo nacionalista para impedir a penetração econômica estrangeira e proteger sua própria [burguesia] capitalista e industrial incipiente" [65]. Existe, além disso, um pequeno movimento "fascista" popular, a Unión Revolucionaria, UR, fundada em 1931 por Juan Sánchez Cerro (presidente do Peru antes de Benavides), abertamente inspirado no fascismo italiano (em 1933 a UR forma uma legião juvenil de "camisas negras"). Neses anos o Peru vive, por assim dizer, uma situação paradoxal, com um governo autoritário (Benavides) que busca se dar um formato fascista e uma oposição com fisionomias fascistizantes (APRA), que, entretanto, qualifica-se por uma espécie de "marxismo" nacionalista e indigenista. As infuências italianas, por demais, são perceptíveis [66].
A Bolívia, por seu lado, experimenta uma aproximação mais séria para o fascismo, devido à conjuntura que vive o país com a derrota na Guerra do Chaco (1932-1935). No pós-guerra entre os bolivianos cunde um clima de insatisfação similar ao da Itália e da Alemanha depois da Primeira Guerra Mundial. A agitação dos ex-combatentes favorece a condensação do protesto popular contra a oligarquia mineira responsável pela derrota e sob suspeita de servir a interesses internacionais. Além disso, as missões militares italiana e alemã deixam uma forte influência no exército (com destaque da presença de Ernst Röhm, chefe da SA alemã). Em 1936 com o nome de "revolução militar socialista" um golpe de estado leva ao poder uma junta militar. Primeiro o coronel David Toro, e depois o coronel Germán Busch, buscam atrair os setores populares e fundar (sem consegui-lo) um "partido socialista de Estado que se aproxima parcialmente do fascismo" [67]. O quadro ideológico do novo regime é o socialismo nacional, com um formato fascista de esquerda, que se assemelha em alguns aspectos ao modelo mexicano e parece antecipar o peronismo argentino. Busch olha com cuidado a Itália e a Alemanha e encarrega a recorganização das forças de polícia a uma missão italiana [68]. Os observadores italianos se entusiasmam com este jovem militar e saúdam a "Nova Bolívia [...] primeiro estado totalitário da América" [69]. Em 1938, como consequência de seus intentos de submeter a oligarquia, Busch perde o apoio de uma parte do exército e, por falta de apoios, resolve se suicidar. Um regime militar conservador lhe sucede, mas o legado do socialismo nacional de Busch perdura em dois novos partidos: a Falange Socialista Boliviana, FSB e o Movimiento Nacional Revolucionario, MNR70.
Além desses experimentos ambíguos e oscilantes entre militarismo, nacionalismo e socialismo, o fascismo italiano (no sentido estrito e completo da expressão) encontra outras limitaçõs em sua difusão. Uma destas é a influência paralela que exercem, desde 1933, o nacional-socialismo alemão e o falangismo espanhol. O primeiro se apresenta em pouco tempo como uma versão mais eficiente do fascismo, como expressão política de um país industrial com maior capacidade de penetração econômica na região e, por isso, com um peso específico muito maior nas relações internacionais [71]. Quando a Itália proclamava seu imperialismo lírico-político, a Alemanha além da cultura e ideias oferecia às pragmáticas classes dirigentes latinoamericanas, produtors, mercados e assistência técnica. O nacional-socialismo teve influências em vários movimentos, como, por exemplo, nos camisas verdes brasileiros e nos camisas douradas mexicanos, cujos uniformes recordam os da SA alemã e tendem ao antissemitismo. A bandeira da AIB - um Sigma negro num círculo branco sobre um fundo azul, é recalcada sobre a bandeira nacional-socialista. O segundo - desde que foi fundada a Falange na Espanha, por José Antonio Primo de Rivera - apareceu como a "versão hispânica" do fascismo: mais católica, menos modernista e menos socialista que o original italiano. E com toda projeção da Espanha nacionalista na América Latina, o falangismo tinha possibilidades de expansão consideráveis por ser mais próximo das raízes históricas e culturais do continente [72]. A difusão da falange foi notável e suscitou em seu momento as preocupações norteamericanas no âmbito do alarmismo quintacolunista pela influência do Eixo na América [73]. Outro obstáculo, enfim, era o próprio nacionalismo nativo, "um nacionalismo [...] em alguns casos tão intransigente que ofusca a vista" [74].
Notas:
58 Ver para el caso argentino Loris Zanatta, Del Estado liberal a la nación católica: Iglesia y ejército en los orígenes del peronismo; 1930-1943 (Buenos Aires: Universidad Nacional de Quilmes, 1996).
59 Ludovico Incisa di Camerana, I caudillos, 233.
60 Carleton Beals, The Coming Struggle for Latin America (Philadelphia: Lippincott, 1938), 156. Del mismo autor cfr. "Black Shirts in Latin America", Current History 49: 3 (Noviembre 1938): 32-34.
61 Según Oreste Villa, L'America Latina, 54. "Ibáñez en Chile debe recordarse [...] como una especie de dictador a las órdenes de la masonería. [...] Un dictador de esta índole tenía forzosamente que llevar Chile a esas consecuencias negativas que se manifestaron después con revoluciones y contrarrevoluciones".
62 Cfr. Víctor Farías, Los nazis en Chile (Barcelona: Seix Barral, 2000). En 1937 los nacionalsocialistas chilenos se declaran "democráticos", rompen públicamente con el nacionalsocialismo hitleriano y obtienen 3.5% de los votos en las elecciones.
63 José Ignacio López Soria, El pensamiento fascista, 1930-1945 (Lima: Mosca Azul, 1981).
64 Grifn, The Nature, 149.
65 James Earle K., "APRA's Appeal to Latin America", Current History 41: 1 (Octubre 1934): 39-44, aquí 44.
66 Cfr. Orazio Ciccarelli, "Fascism and Politics in Peru during the Benavides regime, 1933-39: The Italian Perspective", Hispanic American Historical Review LXX: 3 (Agosto 1990): 405-432.
67 ASMAE, AP 1937-40, Situazione Paesi, Quaderni segreti, Quaderno No. 8 (Bolivia), Situazione politica nel 1937, 5.
68 Lucilla Briganti, "I rapporti tra Italia e Bolivia dall'epoca del primo "socialismo militare" alla rottura delle relazioni diplomátiche (1936-1942)", Africana. Rivista di Studi Extraeuropei (1998): 71-96.
69 Lucio Angelini, "La Bolivia, primo stato totalitario d'America", Gerarchia XIX: 11 (noviembre 1939): 752-754.
70 La primera -corporativa, católica y autoritaria- es de inspiración falangista más que fascista. La segunda -fundada en 1941 por Víctor Paz Estenssoro- es más cercana al fascismo y es infuenciada en algunos aspectos por el nacionalsocialismo alemán (antisemitismo). En 1943, el MNR promueve un golpe de jóvenes oficiales del ejército que lleva al poder el mayor Gualberto Villaroel, que se mantiene en el poder hasta 1946. Paz Estensoro llegará al poder en 1951 y cumplirá con una revolución socialista nacional que logrará fnalmente derrotar a las oligarquías mineras y nacionalizar los recursos naturales del país.
71 Con respecto a la competencia entre Italia y Alemania, Ciano en 1936 recomendó al embajador Cantalupo que se trabajara para que en Brasil se entendiera "que Italia mantiene frme en su puño la vieja bandera de la lucha al comunismo y que hacia el fascismo -reacción primogénita al comunismo- tienen que dirigir sus miradas todas las fuerzas de orden, especialmente aquellas del mundo latino tan vinculado a Roma". Ciano a Cantalupo, Roma, 28 de diciembre 1936, en Gianluca André, comp., DDI, s. VIII. Roma: Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato, 1997, Vol. 5, doc. 684, 757. Un punto de fricción grave entre fascismo y nacionalsocialismo fue ocasionado, en efecto, justamente por la carrera para "orientar" hacia Roma o hacia Berlín el movimiento integralista, que ambas potencias consideraban como virtualmente fascista: cfr. Menzinger a Ciano, Rio de Janeiro, 12 de octubre 1936, en Gianluca André, comp., DDI, s. VIII. Roma: Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato, 1997, Vol. 5, doc. 202, 222, y Lojacono a Ciano, Rio de Janeiro, 27 de septiembre 1937. Vol. 7, doc. 373, 449-451, en Gianluca André, comp., DDI, s. VIII. Roma: Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato, 1997.
72 Justamente en el falangismo se inspiraba el mayor movimiento político latinoamericano de índole radical-conservadora: el Sinarquismo mexicano (Unión Nacional Sinarquista), que llegó a contar con 500,000 miembros.
73 Cfr. Allan Chase, Falange: The Axis Secret Army in the Americas (New York: G. P. Putnam's Sons, 1943).
74 Oreste Villa, L'America latina, 7. El nacionalismo nativo veía con desconfanza sobre todo el intento de retardar la naturalización de los emigrados y politizarlos en función de los intereses de la madre patria. Otros factores que explican la escasa difusión del fascismo italiano son descritos en Alistair Hennessy, "Fascism and Populism in Latin America", en Fascism, a Reader's Guide: Analyses, Interpretations, Bibliography, ed. Walter Laqueur (Berkeley: University of California Press, 1976), 255-262; Payne, Il fascismo, 345; y Franco Savarino, "Apuntes sobre el fascismo", 108.
Fonte: Scielo
Texto: JOGO DE ILUSÕES: BRASIL, MÉXICO E OS "FASCISMOS" LATINOAMERICANOS FRENTE AO FASCISMO ITALIANO
Autor: Franco Savarino
http://www.scielo.org.co/scielo.php?pid=S0121-16172009000100009&script=sci_arttext
Tradução: Roberto Lucena
Observação: texto sem revisão.
Ver:
Jogo de ilusões: Brasil, México e os "fascismos" latinoamericanos frente ao fascismo italiano - Parte 02
Jogo de ilusões: Brasil, México e os "fascismos" latinoamericanos frente ao fascismo italiano - Parte 01
Ver também:
O NSDAP no México: história e percepções, 1931-1940 - parte 1
O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939 - parte 01
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sábado, 9 de fevereiro de 2013
Jogo de ilusões: Brasil, México e os "fascismos" latinoamericanos frente ao fascismo italiano - Parte 02
2. Miragens fascistas: México e Brasil
Neste panorama se destacavam, contudo, alguns personagens e regimes de aspecto mais familiar. Num primeiro momento foi a Argentina que despertou algumas ilusões quando o general José Félix Uriburu estabeleceu uma ditadura com alguns traços "fascistas" [23]. Influenciado pelas ideias nacionalistas radicais de Leopoldo Lugones, Uriburu tentou estabelecer um regime nacional-corporativo ao desafiar a velha oligarquia liberal argentina. Apesar do apoio de uma intelectualidade que conseguiria moldar uma "esfera pública fascista" integrada com ligas e organizações militantes nacionalistas, o experimento não prosperou, e seria somente com a revolução militar de 1943 e com Perón que voltariam a se manifestar as tendências ante o fascismo em formas sui generis [24]. A atenção italiana recaiu então no regime nacional-corporativo de Vargas no Brasil, que deu inicialmente sinais positivos de aproximação com o fascismo. Também prestaram atenção ao regime nacionalista mexicano, com muitos caveat (avisos) de sua tendência demasiada esquerdista. Esses sucessos suscitaram finalmente esperanças de que pudesse surgir uma versão latinoamericana sui generis do fascismo com possíveis desenvolvimentos geopolíticos positivos.
O México foi uma realidade particular entre os experimentos políticos latinoamericanos. Produto de uma revolução nacional de massas (1910-1917) com tendências oscilantes entre o liberalismo democrático radical e um socialismo nacional ainda não influenciado pela experiência soviética. Concluído o processo revolucionário, durante os anos vinte o país foi considerado um laboratório de experimentos sociais (ejido), políticos (Estado social) e culturais (nacionalismo artístico, educação) avançados. No aspecto político, suscitou interesse o arranque - depois do assassinato de Obregón (1928) - do processo de institucionalização da revolução levado a cabo pelo "Chefe Máximo" Plutarco Elías Calles. Ele se orientou por um sistema corporativo de partido único - o Partido Nacional Revolucionário (1929) - que tinha diversos pontos em comum com o fascismo, fato que não passou desapercebido na Itália. [25] O PNR (mais tarde PRM e finalmente PRI) no transcurso dos anos trinta chegou a se parecer em certos aspectos com o Partido Nazionale Fascista (PNF) italiano, especialmente em sua estrutura dependente de uma liderança central forte, na ideologia corporativa e nacional-populista e em sua função de orgão de conexão entre a base popular e o establishment (classe dirigente) revolucionário [26].
As tendências fascistas no México - que incluíam uma inspiração não declarada aos modelos italianos - chegaram a seu apogeu durante os últimos anos do "Maximato" (o predomínio político de Elías Calles) e durante a presidência de Lázaro Cárdenas (1935-40), a quem compensava a índole de "fascismo de esquerda" de seu regime com uma retórica socialista e uma posição internacional antifascista [27]. Além da presença na pequena comunidade italiana [28], o fascismo em sentido completo, enfim, teve certa difusão entre os intelectuais, especialmente com dois: o escritor (e político) José Vasconcelos e o artista Gerardo Murillo.
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O "fascismo" de Vasconcelos é uma derivação coerente de sua tendência revolucionária cultural oposta ao mundo cosmopolita e materialista dominado pelos anglo-saxões. A conexão é a proposta fascista de acabar com este predomínio, ao buscar uma nova ordem mundial com os valores do espírito, a vontade e a excelência. Esta evolução intelectual de Vasconcelos se torna mais perceptível depois de 1929, quando a desilusão por sua derrota eleitoral (compete sem sucesso nas eleições nacionais) o empurra para posições mais críticas e mais pessimistas, e radicaliza suas ideias de palingenesia político-cultural. Em sua viagem à Italia (1924) havia observado com ceticismo a revolução fascista e o ressurgimento de Roma, em 1925 havia exaltado a "raça cósmica" com um marcado acento cosmopolita e nos anos trinta olhou com simpatia o fascismo. Em 1936 escreveu: "quem não se deixa inspirar com orgulho por esta nova Itália [fascista] não é digno de pertencer à civilização Latina" [29]. Durante a guerra, Vasconcelos será partidário do Chefe e diretor de uma revista pró-alemã. Murillo ("Dr. Atl"), por sua parte, também vê no fascismo italiano uma força espiritual e cultural capaz de derrubar a hegemonia anglo-saxã e fundar uma nova civilização humanista com um renovado brio vital. Seus artigos na imprensa expressam uma franca admiração por Mussolini - "verdadero condutor dos povos"- e, por sua vez, um desprezo visceral pelas finanças internacionais controladas pelos anglo-saxões e pelos judeus [30].
Os italianos, por seu lado, observavam com interesse a atração que exerce o fascismo entre os intelectuais, nos políticos e na classe média atemorizada pela deriva do Governo revolucionário ante o socialismo. Iludem-se sobre a possível força de pressão da opinião pública pró-fascista e detectam o armanezamento de informação sobre o fascismo que realiza com discrição o Governo mexicano, mas não têm nenhuma expectativa realista de que Elías Calles ou Cárdenas avancem abertamente para um modelo fascista [31].
Até finais dos anos trinta o país mais promissor para a Itália foi, certamente, o Brasil. O golpe de Getúlio Vargas em 1937, com a fundação do "Estado Novo", um regime nacional-corporativo com acentos fascistizantes, suscitou um grande interesse fortalecido pelas "simpatias" que o ditador tinha desde antes com a Itália fascista [32]. Este giro na política brasileira produziu um alvoroço de esperanças na Itália e, por sua vez, temores internacionais de que se estava assistindo ao primeiro experimento fascista na América Latina [33]. O novo Brasil autoritário foi apresentado por Mussolini como exemplo de capacidade de propagação do fascismo no mundo [34]. Muito rápido, contudo, Vargas esfriou os entusiasmos ao não se comprometer no aspecto ideológico e político com o fascismo e com a Itália. Esta, para o Brasil, era um sócio por demais débil para substituir o importante vínculo com Washington [35]. Vargas, de fato, freou a transformação em sentido fascista do Estado brasileiro e não quis fundar um partido nacional de massas: omissão especialmente criticada pelos observadores italianos [36]. O afastamento em relação ao fascismo por parte de Vargas culminou com a repressão da Ação Integralista Brasileira, AIB, que tinha traços fascistas [37].
A AIB é importante porque foi o único movimento político de massas autenticamente fascista em todo o Continente. O integralismo (como é conhecida a AIB) nasce no início dos anos trinta em São Paulo, capital da região cafeeira do sul do país e florescente centro cultural. Aqui com os sólidos laços econômicos transatlânticos e a forte imigração europeia (especialmente italiana) se desenvolve entre as elites intelectuais uma tendência vanguardista, modernista e nacionalista, na qual, mesclam-se motivos futuristas, vitalistas e decadentistas com uma forte influência italiana. Os intelectuais paulistas dessa época expressam sua fascinação pelos mitos de D'Annunzio e de Mussolini. Ronald de Carvalho rende homenagem à "indisciplina bárbara" e à força da fé do novo heroísmo italiano. Graça Aranha define o Duce da Itália como "a figura da lei, viril na concepção da ordem" [38]. Os intelectuais modernistas se expressam de forma parecida em suas publicações, evocando "o governo forte de um ditador [...] que represente a concentração de poder e consiga a estabilidade nacional" [39], mas não chegam a elaborar um verdadeiro projeto político. Há uma exceção: um poeta - membro da Academia Paulista de Letras -, a quem já em 1919 se expressa em formas "dannunzianas", filho de um "coronel" (caudilho) provinciano e de uma maestrina. Seu nome, Plínio Salgado, tornará-se famoso mais tarde como fundador e líder do integralismo brasileiro.
Salgado adquire pela primeira vez notoriedade com a publicação de duas novelas: O Estrangeiro (1926) e O Esperado (1931). Nestas obras expressa um nacionalismo ingênuo e rústico, inspirado num passado brasileiro idealizado ao redor das raízes indígenas, as tradições e a coesão espiritual da nação, como contraponto à moderna influência estrangeira e cosmopolita [40]. A segunda em particular se enfurece contra o mundo corrompido, submetido às finanças anglo-saxãs, e prega a figura de um salvador, que é "desejado" por um povo que se mobiliza e espera ansiosamente por uma direção. Salgado visita a Itália em 1930, antes de concluir o manuscrito, e é transformado por esta experiência. De Roma escreve a um amigo:
Fiel a seus propósitos e seguindo as recomendações de Mussolini, Salgado se dedica à elaboração ideológica para estabelecer uma base doutrinária ao movimento em formação. Em seus artigos louva o Estado fascista que "contém em si todas as fisionomias nacionais" [43]. A nova revista Hierarquia - inspirada na fascista "Gerarchia"- consegue em pouco tempo atrair um grande número de intelectuais e propagar as novas ideias. O salto para a formação de uma verdadeira organização política ocorre em outubro de 1933, quando Salgado anuncia a fundação da Ação Integralista Brasileira. Logo se incorporam várias organizações regionais com inspiração similar. Em dois anos a AIB ascende a 400.000 militantes inscritos, e em 1937 alcançará a assombrosa cifra de um milhão de membros, convertendo-se assim no primeiro "partido nacional e popular não proíbido no Brasil" [44] e um dos maiores partidos de massas de toda América Latina.
Este sucesso surpreendente se destaca especialmente nas classes medias, no exército, entre os jovens e entre os imigrantes de primeira e segunda generação. A AIB fez inclusive concorrência com os fasci entre os italianos e os filhos de italianos, muitos destes preferiram a camisa verde (cor do movimento) à camisa negra [45]. A AIB, de fato, adquire um grande número de elementos simbólicos diretamente do fascismo italiano: as camisas de estilo militar, a saudação romana, a divisão da Milícia integralista em Legiões, o agrupamento das mais pequenas unidades de "pliniananos" (similares aos balilla italianos), as marchas em formação militar, a invocação aos caídos ("appello ai caduti" na Itália), o grito de guerra (no lugar do italiano "eja, eja, alalá" se inventa um novo, "anauê, anauê, anauê", inspirado no suposto grito de guerra dos índios tupi), o lema "Deus, Pátria e Família". O emblema do movimento é a letra grega Sigma maiúscula no lugar do Fáscio littorio, e quer dizer, como aquele, união e "soma" de forças e valores. Há também cerimoniais e liturgias completamente novas, como, por exemplo, os "amanheceres de abril": a saudação ao sol a cada ano no dia 23 de abril pelos camisas verdes, com o braço estendido com a saudação romana para glorificar a vitória do Sigma. Um conjunto de ritos, signos e mitos em soma que cabe perfeitamente no perfil dessa "sacralização da política" que qualifica o fascismo italiano [46].
As analogias e as emulações do fascismo não se limitaram aos aspectos simbólicos e organizacionais, implicaram também em uma considerável proximidade teórica (isto, de passagem, distingue-se a AIB entre todos os movimentos semi-fascistas latinoamericanos, pois possuem uma "densidade" ideológica notavelmente inferior). O núcleo ideológico da AIB inclue o conceito de Brasilianidade (equivalente à "Italianità" e "Romanità" na Itália) e um radicalismo político-antropológico que "leva a marca inconfundível do mito ultranacionalista palingenésico" [47[. Os intelectuais integralistas - em primeiro lugar Plínio Salgado e Gustavo Barroso - buscam inspiração no corporativismo nacional-sindicalista, nas variantes do fascismo italiano, no salazarismo, no falangismo espanhol e no rexismo belga. Gustavo Barroso, inclusive, proclama que o integralismo é uma forma mais perfeita do fascismo:
As ações de Vargas decepcionaram os italianos, a quem lhe tinham cultivado num primeiro momento sérias esperanças de poder exercer influências no Estado Novo e, devido ao peso geopolítico do Brasil em toda a América meridional. Em uma publicação oficial (1937) se lê:
**Aparece muito raramente em alguns textos em espanhol a grafia "nacismo/nacista" para nazismo/nazista. A grafia mais usada é a com a letra "z".
Notas:
23 Sobre las manifestaciones ultranacionalistas y fascistas en Argentina (y especialmente durante el régimen de Uriburu, que generó toda una mitología en los nacionalistas argentinos) véase Christhian Buchrucker, Nacionalismo y peronismo. La Argentina en la crisis ideológica mundial (1927-1955) (Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 1987); Fernando Devoto, Nacionalismo, fascismo y tradicionalismo en la Argentina moderna. Una historia (Buenos Aires: Siglo XXI, 2002); Federico Finchelstein, Fascismo, liturgia e imaginario: El mito del general Uriburu y la Argentina nacionalista (Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2002); y del mismo autor La Argentina fascista (Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 2008). Sobre el fascismo entre las comunidades italianas véase Ronald C. Newton, "Ducini, Prominenti, Antifascisti: Italian Fascism and the Italo-Argentine Collectivity, 1922-1945", The Americas 51:1 (Julio 1994): 41-66.
24 Cfr. Alberto Spektorowski, The Origins of Argentina's Revolution of the Right (Notre Dame: University of Notre Dame Press, 2003). Sobre las ideas y los debates políticos e ideológicos de la época véase también Tulio Halperin Donghi, Argentina y la tormenta del mundo (Buenos Aires: Siglo XXI, 2003).
25 Varios periodistas y escritores italianos que visitaron México en esa época -especialmente Mario Appelius (en 1928)- dejaron manifesta su admiración por el país y su atormentada revolución nacional.
26 "Messico", en Enciclopedia Italiana (Roma: Istituto dell'Enciclopedia Italiana, 1933 - supplemento 1938), 836. Aquí se califica al PNR -con indudable exageración- como "idéntico" al PNF italiano y al NSDAP alemán.
27 Ludovico Incisa di Camerana, I caudillos, 191. Sobre México véase Franco Savarino, "The Sentinel of the Bravo: Italian Fascism in Mexico, 1922-35", en International Fascism, eds. G. Sorensen y R. Mallet (London-Portland: Frank Cass, 2002), 97-120; y Franco Savarino, México e Italia. Política y diplomacia en la época del fascismo 1922-1942 (México: Secretaría de Relaciones Exteriores, 2003). La política mexicana aun con las reconocidas similitudes con el fascismo (corporativismo, nacional-populismo, "espíritu latino", etc.) era sin embargo criticada por la infuencia de la masonería, por las tendencias a un socialismo con tintes "bolcheviques" y por el característico nacionalismo "indigenista" con implicaciones antieuropeas. Los "hombres fuertes", mexicanos en fn, que se movían en un medio institucional de matriz aún esencialmente liberal, no se podían considerar dictadores en el sentido completo de la palabra.
28 Cfr. Franco Savarino, "Bajo el signo del "Littorio". La comunidad italiana en México y el fascismo (1924-1941)", Revista Mexicana de Sociología, LXIV: 2 (abril-junio 2002): 113-139.
29 José Vasconcelos, ¿Qué es el Comunismo? (México: Ediciones Botas, 1936), 91.
30 "Mussolini tiene tres cualidades que lo elevan sobre todos los hombres de públicos de nuestros tiempos: su poder de reconcentración mental, su audacia y la extraordinaria frmeza de carácter [...]. El dictador romano es un verdadero conductor de pueblos y el primero, desde Napoleón, que sobrepasa las fronteras de su propio país para llevar al exterior los principios de su política". Gerardo Murillo, "Benito Mussolini", Excélsior, Ciudad de México, 21 de septiembre 1935, en La defensa de Italia en México por el Dr. Atl (México: Edición de la Colonia Italiana, 1936), 43-44.
31 Franco Savarino, México e Italia, 95-121.
32 Ya en 1936 en un informe de la Embajada se señalaban las "simpatías de Vargas por Italia y su solidaridad moral [...] con el régimen fascista". Cantalupo a Ciano, Río de Janeiro,12 de junio 1936, en Gianluca André, comp., DDI, s. VIII. Roma: Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato, 1997, Vol. 4, doc. 720, 792. Para contextualizar el varguismo es imprescindible la lectura de Daryle Williams, Culture Wars in Brazil: The First Vargas Regime, 1930-1945 (Durham: Duke University Press, 2001).
33 Mario Da Silva, "Il nuovo regime brasiliano", Critica Fascista, XVI: 4 (diciembre 1937): 58-60. En los Estados Unidos además "la prensa [...] se puso a gritar histéricamente que Brasil se había vuelto fascista". Suvich a Ciano, Washington, 12 de noviembre 1937, en Gianluca André, comp., DDI, s. VIII. Roma: Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato, 1997, Vol. 7, doc. 557, 658-660.
34 Benito Mussolini, "Europa e fascismo", Il Popolo d'Italia, Roma, 6 de octubre, 1937.
35 Ciano llegó a calificar Brasil como "una especie de longa manus de los Estados Unidos" en Sudamérica. Ciano a Lojacono, Roma, 26 de abril 1937, en Gianluca André comp., DDI, s. VIII. Roma: Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato, 1997, Vol. 6, doc. 515, 650-651.
36 Véase por ejemplo la entrada "Brasil" en la "Enciclopedia Italiana" (supplemento 1938), 315, donde es criticada la renuencia de Vargas a formar un partido político, condición esencial para concretar un "parentesco formal" de su régimen con el fascismo. Cfr. también Vinicio Araldi, Il Brasile sotto la presidenza di Getulio Vargas (Rio de Janeiro: s. e., 1937); André Carrazzoni, Getulio Vargas (Padova: CEDAM, 1941); y Roberto Cantalupo, Brasile Euro-americano (Milano: ISPI, 1941).
37 Las esperanzas iniciales de Ciano después del golpe de noviembre disminuyeron rápidamente en cuanto se vio que Vargas se mostraba cauteloso y falto de "coraje fascista" en la construcción del Estado Novo: Galeazzo Ciano, Diario 1937-1943 (Milano: Rizzoli, 1999), 56, 59 y 120. Las relaciones brasileñas con la Italia fascista, siempre matizadas por dudas e incertidumbres y por el dilema de apoyar o no a Vargas o a Salgado, comenzaron a enfriase entre marzo y mayo de 1938, en consecuencia de la represión desencadenada contra la AIB y la vigilancia puesta a las colonias italianas sospechosas de simpatías con ella. Sobre este tema véase Mario Toscano, "Il fascismo e l'Estado Novo", en L'emigrazione italiana in Brasile, 1800-1978, ed. Renzo De Felice (Torino: Fondazione G. Agnelli, 1980), 235-270; Marco Mugnaini, L'Italia, 222-227; y Amado Luíz Cervo, Le relazioni diplomatiche fra Italia e Brasile dal 1861 ad oggi (Torino: Fondazione G. Agnelli, 1994), 129-154.
38 Antonio Aroni Prado, 1922 -Itinerário de una falsa vanguarda. Os disidentes, a Semana e o Integralismo (San Pablo: Brasiliense, 1983), 46-47.
39 Antonio Aroni Prado, 1922, 41.
40 Cit. en Hélgio Trinidade, Integralismo. O fascismo brasileiro na década de 30 (San Pablo-Río de Janeiro: Difel, 1979), 5 y ss.
41 Hélgio Trinidade, Integralismo, 75.
42 Hélgio Trinidade, Integralismo, 75.
43 Plinio Salgado, "A Federaçao e o Sufragio", A Razao, San Pablo, 3 de febrero, 1931.
44 Sandra McGee Deutsch, Las derechas, 248.
45 Cfr. Joao Fábio Bertonha, O Fascismo e os inmigrantes italianos no Brasil (Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001).
46 Cfr. Emilio Gentile, Il culto del littorio. La sacralizzazione Della politica nell'Italia fascista (Roma-Bari: Laterza, 1993).
47 Roger Grifn, The Nature, 151.
48 Gustavo Barroso, O Integralismo e o Mundo (Río de Janeiro: Civilizaçao Brasileira, 1936), 15.
49 "Mutamento di regime in Brasile", en Autores Varios, Annuario di Politica Internazionale (1937) (Milano, ISPI, 1938), 354-358, aquí 357.
50 Joao Fábio Bertonha, O Fascismo, 69.
51 Archivio Storico del Ministero degli Afari Esteri (ASMAE), Afari Politici (AP) 1937-40, Situazione Paesi, Quaderni Segreti, Quaderno 9 (Brasile). Situazione politica nel 1937, 2.
52 Ciano a Lojacono, Roma, 26 de abril 1937, en Gianluca André comp., DDI, s. VIII. Roma: Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato, Vol. 6, doc. 515, 649-654. Ciano esperó inicialmente que la AIB serviría "para la labor de divulgación y difusión de las ideas del Fascismo entre los diversos estratos de la población" (654). Sin embargo prevaleció la cautela y el programa de la AIB fue considerado "una copia mal hecha del Fascismo italiano". Relazione riservata del MAE, "Movimenti fascisti esteri" (1934), cit. en Renzo Santinon, I fasci italiani all'estero (Roma: Settimo Sigillo, 1991), 135. Sobre las relaciones Italia-AIB véase también Angelo Trento, "Relaçoes entre fascismo e integralismo: o ponto de vista do Ministério dos Negocios Estrangeiros italiano", Ciencia e Cultura XXXIV: 12 (1982): 1601-1613; y Ricardo Seitenfus, "Ideology and Diplomacy: Italian Fascism and Brazil (1935-1938)", Hispanic American Historical Review LXIV: 3 (1984): 503-534. Joao Fábio Bertonha señala que la AIB era también vista como un centro de reclutamiento político de los descendientes de italianos en función pro-fascista y proItalia. En Joao Fábio Bertonha, "O Brasil, os inmigrantes italianos e a política externa fascista, 1922-1943", Revista Brasileira de Política Internacional 40: 2 (1997): 106-130, pero la integración, por su lado, contrastaba con el objetivo de mantener la italianidad (Amado Luíz Cervo, Le relazioni, 147).
53 Renzo Santinon, I fasci, 129-197. En este largo documento, preparado en 1934 por encargo del MAE, son descritos los diferentes grupos de Argentina, Brasil, Chile, Cuba, Panamá y Perú (sin embargo, falta México). Ninguno de estos se merece el calificativo de "fascista" y peor, son descritos como faltos de programas, de espíritu, de liderazgo y de capacidad política. Con la excepción de la AIB y del pequeño Partido Fascista de Chile, todos estos grupos supuestamente fascistas son criticados duramente o simplemente ignorados. Consideraciones idénticas se merecen los movimientos mexicanos (la ARM o "Camisas doradas" y el Partido Social Democrático de México) en otros documentos oficiales: cfr. Franco Savarino, México e Italia; y Franco Savarino, "Apuntes sobre el fascismo", 108. Véase también Stanley Payne, Il Fascismo, 345-354 y Mario Da Silva (ya mencionado anteriormente) quien encuentra "en estos "fascismos" una gran confusión de ideas [...] y, en general, muy poca visión verdaderamente fascista, romana, de la realidad" (Mario Da Silva, "'Fascismi' latino-americani", 46).
54 "Cuando en el mes de agosto los llamados 'Camisas Doradas' [...] que alguien estúpidamente creía incluso poder defnir como los Fascistas de México [...] volvió a llamar la atención [...] el Gobierno procedió tranquilamente a su disolución [...]. Los 'Camisas Doradas' desaparecieron sin gloria de la escena política, como sin gloria habían vivido". ASMAE, AP 1937-40, Situazione Paesi, Quaderni Segreti, Quaderno segreto No 43 (Messico), Situazione politica nel 1935-36, 9.
55 Cfr. Eugenia Scarzanella, "Il fascismo italiano in Argentina: al servizio degli afari", en Eugenia Scarzanella (ed.) Fascisti in Sud America, 113-174, aquí 133. Un informe diplomático señala (1937) que "los grupos nacionalistas de tendencia fascista son: la 'Legión Cívica Argentina' [...]; el 'Partido Fascista Argentino', organización que cuenta pocos inscritos y es dirigida por personas de buena fe pero de escaso nivel y sin prestigio; la 'Federación Fascista de la Provincia de Santa Fe' [...]; la 'Defensa Social Argentina', compuesta en su mayoría por funcionarios de policía jubilados, altos oficiales y jueces jubilados [...]; la 'Acción Nacionalista Argentina' que tiene su sede en Buenos Aires y Mendoza y un periodiquillo (Aduna) pero entre todo cuenta con menos de mil adherentes y de 'acción' solo tiene el nombre. 'Restauración' es un nuevo grupo formado en 1937 con muchos buenos propósitos pero ninguna posibilidad de confar en las personas que lo integran para realizarlos. La agrupación 'Nacionalismo argentino' que es un nombre sin sustancia [...]. [...Todas estas organizaciones adolecen] de unidad de acción, de coordinación, de desinterés y capacidad organizativa de los jefes, de espíritu de sacrificio y de voluntad de acción de los militantes": ASMAE, AP 1937-40, Situazione Paesi, Quaderni Segreti, Quaderno No 5 (Argentina), Situazione politica nel 1937, 9-10. Opiniones negativas italianas sobre la Legión Cívica son también señaladas por Marcus Klein, "The Legión Cívica Argentina and the Radicalization of Argentine Nacionalismo during the Década Infame", Estudios Interdisciplinarios de América Latina y el Caribe 13: 2 (julio-diciembre 2002), http://www.tau.ac.il/eial/XIII_2/klein.html (fecha de consulta: mayo 2008).
56 Franco Savarino, México e Italia, 116-118 y passim.
57 ASMAE, AP 1937-40, Situazione Paesi, Quaderni Segreti, Quaderno No 12 (Cile), Situazione politica nel 1937, 11. Este movimiento hacia la izquierda es analizado por Mario Sznajder en "El Movimiento Nacional Socialista: Nacismo a la chilena", Estudios Interdisciplinarios de América Latina y el Caribe 1: 1 (enero-junio 1990), http://www.tau.ac.il/eial/I_1/sznajder.htm (fecha de consulta: mayo 2008).
Fonte: Scielo
Texto: JOGO DE ILUSÕES: BRASIL, MÉXICO E OS "FASCISMOS" LATINOAMERICANOS FRENTE AO FASCISMO ITALIANO*
Autor: Franco Savarino
http://www.scielo.org.co/scielo.php?pid=S0121-16172009000100009&script=sci_arttext
Tradução: Roberto Lucena
Post do dia: 1 de mar de 2013
Ver:
Jogo de ilusões: Brasil, México e os "fascismos" latinoamericanos frente ao fascismo italiano - Parte 01
Jogo de ilusões: Brasil, México e os "fascismos" latinoamericanos frente ao fascismo italiano - Parte 03
Ver também:
O NSDAP no México: história e percepções, 1931-1940 - parte 1
O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939 - parte 01
Neste panorama se destacavam, contudo, alguns personagens e regimes de aspecto mais familiar. Num primeiro momento foi a Argentina que despertou algumas ilusões quando o general José Félix Uriburu estabeleceu uma ditadura com alguns traços "fascistas" [23]. Influenciado pelas ideias nacionalistas radicais de Leopoldo Lugones, Uriburu tentou estabelecer um regime nacional-corporativo ao desafiar a velha oligarquia liberal argentina. Apesar do apoio de uma intelectualidade que conseguiria moldar uma "esfera pública fascista" integrada com ligas e organizações militantes nacionalistas, o experimento não prosperou, e seria somente com a revolução militar de 1943 e com Perón que voltariam a se manifestar as tendências ante o fascismo em formas sui generis [24]. A atenção italiana recaiu então no regime nacional-corporativo de Vargas no Brasil, que deu inicialmente sinais positivos de aproximação com o fascismo. Também prestaram atenção ao regime nacionalista mexicano, com muitos caveat (avisos) de sua tendência demasiada esquerdista. Esses sucessos suscitaram finalmente esperanças de que pudesse surgir uma versão latinoamericana sui generis do fascismo com possíveis desenvolvimentos geopolíticos positivos.
O México foi uma realidade particular entre os experimentos políticos latinoamericanos. Produto de uma revolução nacional de massas (1910-1917) com tendências oscilantes entre o liberalismo democrático radical e um socialismo nacional ainda não influenciado pela experiência soviética. Concluído o processo revolucionário, durante os anos vinte o país foi considerado um laboratório de experimentos sociais (ejido), políticos (Estado social) e culturais (nacionalismo artístico, educação) avançados. No aspecto político, suscitou interesse o arranque - depois do assassinato de Obregón (1928) - do processo de institucionalização da revolução levado a cabo pelo "Chefe Máximo" Plutarco Elías Calles. Ele se orientou por um sistema corporativo de partido único - o Partido Nacional Revolucionário (1929) - que tinha diversos pontos em comum com o fascismo, fato que não passou desapercebido na Itália. [25] O PNR (mais tarde PRM e finalmente PRI) no transcurso dos anos trinta chegou a se parecer em certos aspectos com o Partido Nazionale Fascista (PNF) italiano, especialmente em sua estrutura dependente de uma liderança central forte, na ideologia corporativa e nacional-populista e em sua função de orgão de conexão entre a base popular e o establishment (classe dirigente) revolucionário [26].
As tendências fascistas no México - que incluíam uma inspiração não declarada aos modelos italianos - chegaram a seu apogeu durante os últimos anos do "Maximato" (o predomínio político de Elías Calles) e durante a presidência de Lázaro Cárdenas (1935-40), a quem compensava a índole de "fascismo de esquerda" de seu regime com uma retórica socialista e uma posição internacional antifascista [27]. Além da presença na pequena comunidade italiana [28], o fascismo em sentido completo, enfim, teve certa difusão entre os intelectuais, especialmente com dois: o escritor (e político) José Vasconcelos e o artista Gerardo Murillo.
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O "fascismo" de Vasconcelos é uma derivação coerente de sua tendência revolucionária cultural oposta ao mundo cosmopolita e materialista dominado pelos anglo-saxões. A conexão é a proposta fascista de acabar com este predomínio, ao buscar uma nova ordem mundial com os valores do espírito, a vontade e a excelência. Esta evolução intelectual de Vasconcelos se torna mais perceptível depois de 1929, quando a desilusão por sua derrota eleitoral (compete sem sucesso nas eleições nacionais) o empurra para posições mais críticas e mais pessimistas, e radicaliza suas ideias de palingenesia político-cultural. Em sua viagem à Italia (1924) havia observado com ceticismo a revolução fascista e o ressurgimento de Roma, em 1925 havia exaltado a "raça cósmica" com um marcado acento cosmopolita e nos anos trinta olhou com simpatia o fascismo. Em 1936 escreveu: "quem não se deixa inspirar com orgulho por esta nova Itália [fascista] não é digno de pertencer à civilização Latina" [29]. Durante a guerra, Vasconcelos será partidário do Chefe e diretor de uma revista pró-alemã. Murillo ("Dr. Atl"), por sua parte, também vê no fascismo italiano uma força espiritual e cultural capaz de derrubar a hegemonia anglo-saxã e fundar uma nova civilização humanista com um renovado brio vital. Seus artigos na imprensa expressam uma franca admiração por Mussolini - "verdadero condutor dos povos"- e, por sua vez, um desprezo visceral pelas finanças internacionais controladas pelos anglo-saxões e pelos judeus [30].
Os italianos, por seu lado, observavam com interesse a atração que exerce o fascismo entre os intelectuais, nos políticos e na classe média atemorizada pela deriva do Governo revolucionário ante o socialismo. Iludem-se sobre a possível força de pressão da opinião pública pró-fascista e detectam o armanezamento de informação sobre o fascismo que realiza com discrição o Governo mexicano, mas não têm nenhuma expectativa realista de que Elías Calles ou Cárdenas avancem abertamente para um modelo fascista [31].
Até finais dos anos trinta o país mais promissor para a Itália foi, certamente, o Brasil. O golpe de Getúlio Vargas em 1937, com a fundação do "Estado Novo", um regime nacional-corporativo com acentos fascistizantes, suscitou um grande interesse fortalecido pelas "simpatias" que o ditador tinha desde antes com a Itália fascista [32]. Este giro na política brasileira produziu um alvoroço de esperanças na Itália e, por sua vez, temores internacionais de que se estava assistindo ao primeiro experimento fascista na América Latina [33]. O novo Brasil autoritário foi apresentado por Mussolini como exemplo de capacidade de propagação do fascismo no mundo [34]. Muito rápido, contudo, Vargas esfriou os entusiasmos ao não se comprometer no aspecto ideológico e político com o fascismo e com a Itália. Esta, para o Brasil, era um sócio por demais débil para substituir o importante vínculo com Washington [35]. Vargas, de fato, freou a transformação em sentido fascista do Estado brasileiro e não quis fundar um partido nacional de massas: omissão especialmente criticada pelos observadores italianos [36]. O afastamento em relação ao fascismo por parte de Vargas culminou com a repressão da Ação Integralista Brasileira, AIB, que tinha traços fascistas [37].
A AIB é importante porque foi o único movimento político de massas autenticamente fascista em todo o Continente. O integralismo (como é conhecida a AIB) nasce no início dos anos trinta em São Paulo, capital da região cafeeira do sul do país e florescente centro cultural. Aqui com os sólidos laços econômicos transatlânticos e a forte imigração europeia (especialmente italiana) se desenvolve entre as elites intelectuais uma tendência vanguardista, modernista e nacionalista, na qual, mesclam-se motivos futuristas, vitalistas e decadentistas com uma forte influência italiana. Os intelectuais paulistas dessa época expressam sua fascinação pelos mitos de D'Annunzio e de Mussolini. Ronald de Carvalho rende homenagem à "indisciplina bárbara" e à força da fé do novo heroísmo italiano. Graça Aranha define o Duce da Itália como "a figura da lei, viril na concepção da ordem" [38]. Os intelectuais modernistas se expressam de forma parecida em suas publicações, evocando "o governo forte de um ditador [...] que represente a concentração de poder e consiga a estabilidade nacional" [39], mas não chegam a elaborar um verdadeiro projeto político. Há uma exceção: um poeta - membro da Academia Paulista de Letras -, a quem já em 1919 se expressa em formas "dannunzianas", filho de um "coronel" (caudilho) provinciano e de uma maestrina. Seu nome, Plínio Salgado, tornará-se famoso mais tarde como fundador e líder do integralismo brasileiro.
Salgado adquire pela primeira vez notoriedade com a publicação de duas novelas: O Estrangeiro (1926) e O Esperado (1931). Nestas obras expressa um nacionalismo ingênuo e rústico, inspirado num passado brasileiro idealizado ao redor das raízes indígenas, as tradições e a coesão espiritual da nação, como contraponto à moderna influência estrangeira e cosmopolita [40]. A segunda em particular se enfurece contra o mundo corrompido, submetido às finanças anglo-saxãs, e prega a figura de um salvador, que é "desejado" por um povo que se mobiliza e espera ansiosamente por uma direção. Salgado visita a Itália em 1930, antes de concluir o manuscrito, e é transformado por esta experiência. De Roma escreve a um amigo:
"Estudei atentamente o fascismo: não é exatamente o regime que necessitamos, mas é algo que se parece próximo disto. O fascismo chegou aqui no momento oportuno e mudou o centro da gravidade política da metafísica jurídica de instituições que descansam nas realidades determinantes [...] o fascismo não é propiamente uma ditadura, é um regime. Acredito que o Ministério das Corporações é o mecanismo mais útil. O trabalho está perfeitamente organizado e o capital estupendamente controlado" [41].Salgado resolve mudar na direção do fascismo ao regressar ao Brasil, "ágil para organizar as forças intelectuais dispersas para coordená-las, dar-lhes uma direção, iniciando um apostolado". Sua determinação é fortificada depois de um encontro pessoal com Mussolini, a quem aprova suas ideias e seus planos, e lhe sugere que "antes de um partido, é necessário um movimento de ideias" que reforce o nacionalismo e imponha a supremacia do Brasil na América do Sul [42].
Fiel a seus propósitos e seguindo as recomendações de Mussolini, Salgado se dedica à elaboração ideológica para estabelecer uma base doutrinária ao movimento em formação. Em seus artigos louva o Estado fascista que "contém em si todas as fisionomias nacionais" [43]. A nova revista Hierarquia - inspirada na fascista "Gerarchia"- consegue em pouco tempo atrair um grande número de intelectuais e propagar as novas ideias. O salto para a formação de uma verdadeira organização política ocorre em outubro de 1933, quando Salgado anuncia a fundação da Ação Integralista Brasileira. Logo se incorporam várias organizações regionais com inspiração similar. Em dois anos a AIB ascende a 400.000 militantes inscritos, e em 1937 alcançará a assombrosa cifra de um milhão de membros, convertendo-se assim no primeiro "partido nacional e popular não proíbido no Brasil" [44] e um dos maiores partidos de massas de toda América Latina.
Este sucesso surpreendente se destaca especialmente nas classes medias, no exército, entre os jovens e entre os imigrantes de primeira e segunda generação. A AIB fez inclusive concorrência com os fasci entre os italianos e os filhos de italianos, muitos destes preferiram a camisa verde (cor do movimento) à camisa negra [45]. A AIB, de fato, adquire um grande número de elementos simbólicos diretamente do fascismo italiano: as camisas de estilo militar, a saudação romana, a divisão da Milícia integralista em Legiões, o agrupamento das mais pequenas unidades de "pliniananos" (similares aos balilla italianos), as marchas em formação militar, a invocação aos caídos ("appello ai caduti" na Itália), o grito de guerra (no lugar do italiano "eja, eja, alalá" se inventa um novo, "anauê, anauê, anauê", inspirado no suposto grito de guerra dos índios tupi), o lema "Deus, Pátria e Família". O emblema do movimento é a letra grega Sigma maiúscula no lugar do Fáscio littorio, e quer dizer, como aquele, união e "soma" de forças e valores. Há também cerimoniais e liturgias completamente novas, como, por exemplo, os "amanheceres de abril": a saudação ao sol a cada ano no dia 23 de abril pelos camisas verdes, com o braço estendido com a saudação romana para glorificar a vitória do Sigma. Um conjunto de ritos, signos e mitos em soma que cabe perfeitamente no perfil dessa "sacralização da política" que qualifica o fascismo italiano [46].
As analogias e as emulações do fascismo não se limitaram aos aspectos simbólicos e organizacionais, implicaram também em uma considerável proximidade teórica (isto, de passagem, distingue-se a AIB entre todos os movimentos semi-fascistas latinoamericanos, pois possuem uma "densidade" ideológica notavelmente inferior). O núcleo ideológico da AIB inclue o conceito de Brasilianidade (equivalente à "Italianità" e "Romanità" na Itália) e um radicalismo político-antropológico que "leva a marca inconfundível do mito ultranacionalista palingenésico" [47[. Os intelectuais integralistas - em primeiro lugar Plínio Salgado e Gustavo Barroso - buscam inspiração no corporativismo nacional-sindicalista, nas variantes do fascismo italiano, no salazarismo, no falangismo espanhol e no rexismo belga. Gustavo Barroso, inclusive, proclama que o integralismo é uma forma mais perfeita do fascismo:
"Entre todos os movimentos de caráter fascista, o integralismo é o que contém a maior dose de espiritualidade e o corpo doutrinário mais perfeito, desde a concepção do mundo e do homem à formação de grupos naturais e a solução dos grandes problemas materiais" [48].o enorme sucesso do integralismo é também, paradoxalmente, a primeira causa de seu fracasso. Getúlio Vargas não provém de suas fileiras e temia sua influência popular no exército. Além disso, seu pragmatismo lhe impedia de olhar para a Itália ou Alemanha como possíveis 'partners' e referentes geopolíticos para o pais (é o mesmo cálculo de realpolitik que no México induziu Cárdenas e Ávila Camacho, por cima de toda consideração ideológica, a preferir finalmente o velho zorro, os Estados Unidos, no lugar do Eixo). Depois do golpe de 10 de novembro de 1937, Vargas num primeiro momento faz crer que está disposto a negociar e alimenta as esperanças de Salgado de que a AIB se converterá na coluna vertebral do novo regime e que o mesmo seria nomeado Ministro da Educação. A nova constituição do Estado Novo, que contém fortes elementos nacional-corporativos, suscita o entusiasmo dos militantes integralistas. A ilusão, contudo, dura pouco: em dezembro deste ano a AIB é dissolvida por decreto. Alguns meses depois, com o pretexto de um falido intento de golpe integralista, muitos dirigentes são presos ou obrigados a se exilar, entre eles o próprio Salgado (que ficará em Portugal até a anistia de 1946).
As ações de Vargas decepcionaram os italianos, a quem lhe tinham cultivado num primeiro momento sérias esperanças de poder exercer influências no Estado Novo e, devido ao peso geopolítico do Brasil em toda a América meridional. Em uma publicação oficial (1937) se lê:
"A Itália tem a honra de haver proporcionado ao novo Brasil, além do magnífico aporte de energias humanas no século passado, também de algumas ideias fundamentais sobre as quais descansa a nova ordem. Pois se o regime brasileiro atual não é "fascista" - como o próprio presidente Vargas declarou explicitamente - ele está inspirado, sem dúvidas, em grande medida no nosso ordenamento estatal e social" [49].O entusiasmo italiano desaparece rapidamente, conforme se torna mais evidente que a orientação "fascista" do novo regime é mais de fachada que substancial e cheia de ambiguidades. A proscrição da AIB, em particular, é lamentada amargamente por ser o único movimento latinoamericano de importância que tivera um autêntico caráter fascista e, portanto, um "interlocutor" privilegiado para extender a influência fascista na região. [50] Um relatório secreto do MAE em 1937 descreve o "Partido Integralista" como:
"Inspirado nos ideais do Fascismo com a guia de um homem e um Diretório de grande valor intelectual e moral, mas desgraçadamente com falta do dom de decisão e do sentido de oportunidade, e esperteza para se atrever [a atuar] quando já não era o caso e incapazes de ousar por pouco que fosse o caso" [51].O conde Ciano, por seu lado, considerava o integralismo brasileiro como "a primeira expressão séria no Continente americano de um movimiento inspirado nos princípios do fascismo", ainda que também criticasse a falta de maturidade e a incapacidade política do mesmo. [52] Fora do Brasil, o panorama é ainda menos alentador. Os movimentos semi-fascistas ou reputados como tais, que surgem em muitos países no transcurso dos anos trinta, tais como o Partido Fascista Argentino (1932), o Movimento Nacional Socialista de Chile (1932) e a Acción Revolucionaria Mexicanista (1934) suscitaram mais pessimismo que esperanças nos observadores italianos [53]. A dissolução dos "Camisas douradas" mexicanos na metade de 1936 é inclusive saudada com alívio num relatório diplomático. [54] Acontece o mesmo em todas as partes. Na Argentina, por exemplo, não existe nem um só partido ou movimento que obtenha um bom olhar de Roma, nem sequer julgamentos positivos ou palavras esperançosas. Isto não é só por razões de oportunidade, senão por um julgamento negativo do conjunto sobre sua força numérica, sua coordenação, seu uso da violência e sua consistência ideológica. Assim, os supostos "partidos irmãos" como são a Legião Cívica Argentina e o Partido Nacional Fascista nunca obtiveram um reconhecimento oficial italiano. [55] No México o panorama é ainda mais desolador: os movimentos supostamente fascistas locais (a ARM, a Confederação da Classe Média e o Partido Social Democrático Mexicano) resultaram em ser más imitações ou meros disfarces de interesses ou de facções, e o sinarquismo - movimento nacionalista católico de massas inspirado no falangismo - nem sequer é levado em consideração. [56] Mais confusa a situação no Chile, onde o Movimiento Nacional Socialista ("nacista"**) parece se encaminhar "para o comunismo!".
"O 'nacismo' que com a proclamação dos princípios fascistas havia conseguido atrair um número considerável de adeptos, especialmente entre os jovens, foi se comprometendo nas alianças mais híbridas com a extrema-esquerda e com a maçonaria. Fundamentando sua ação na mais desenfreada demagogia, este partido se proclama hoje fiel aos princípios sagrados da democracia e renega suas origens. Seus chefes afirmam que seguem esta via com um propósito tático. Mas sua pouca seriedade não inspira confiança e é provável que não possam impedir que seus seguidores migrem para o comunismo que é para onde os empurra" [57].Resumindo, os grupos, movimentos e partidos supostamente "fascistas" ou inspirados no fascismo resultaram ser uma completa decepção e deixaram desconcertados os observadores italianos. Não era possível confiar de nenhuma forma nesses sujeitos políticos precários, aproximativos ou toscamente miméticos, para extender o raio de ação da política fascista na região.
**Aparece muito raramente em alguns textos em espanhol a grafia "nacismo/nacista" para nazismo/nazista. A grafia mais usada é a com a letra "z".
Notas:
23 Sobre las manifestaciones ultranacionalistas y fascistas en Argentina (y especialmente durante el régimen de Uriburu, que generó toda una mitología en los nacionalistas argentinos) véase Christhian Buchrucker, Nacionalismo y peronismo. La Argentina en la crisis ideológica mundial (1927-1955) (Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 1987); Fernando Devoto, Nacionalismo, fascismo y tradicionalismo en la Argentina moderna. Una historia (Buenos Aires: Siglo XXI, 2002); Federico Finchelstein, Fascismo, liturgia e imaginario: El mito del general Uriburu y la Argentina nacionalista (Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2002); y del mismo autor La Argentina fascista (Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 2008). Sobre el fascismo entre las comunidades italianas véase Ronald C. Newton, "Ducini, Prominenti, Antifascisti: Italian Fascism and the Italo-Argentine Collectivity, 1922-1945", The Americas 51:1 (Julio 1994): 41-66.
24 Cfr. Alberto Spektorowski, The Origins of Argentina's Revolution of the Right (Notre Dame: University of Notre Dame Press, 2003). Sobre las ideas y los debates políticos e ideológicos de la época véase también Tulio Halperin Donghi, Argentina y la tormenta del mundo (Buenos Aires: Siglo XXI, 2003).
25 Varios periodistas y escritores italianos que visitaron México en esa época -especialmente Mario Appelius (en 1928)- dejaron manifesta su admiración por el país y su atormentada revolución nacional.
26 "Messico", en Enciclopedia Italiana (Roma: Istituto dell'Enciclopedia Italiana, 1933 - supplemento 1938), 836. Aquí se califica al PNR -con indudable exageración- como "idéntico" al PNF italiano y al NSDAP alemán.
27 Ludovico Incisa di Camerana, I caudillos, 191. Sobre México véase Franco Savarino, "The Sentinel of the Bravo: Italian Fascism in Mexico, 1922-35", en International Fascism, eds. G. Sorensen y R. Mallet (London-Portland: Frank Cass, 2002), 97-120; y Franco Savarino, México e Italia. Política y diplomacia en la época del fascismo 1922-1942 (México: Secretaría de Relaciones Exteriores, 2003). La política mexicana aun con las reconocidas similitudes con el fascismo (corporativismo, nacional-populismo, "espíritu latino", etc.) era sin embargo criticada por la infuencia de la masonería, por las tendencias a un socialismo con tintes "bolcheviques" y por el característico nacionalismo "indigenista" con implicaciones antieuropeas. Los "hombres fuertes", mexicanos en fn, que se movían en un medio institucional de matriz aún esencialmente liberal, no se podían considerar dictadores en el sentido completo de la palabra.
28 Cfr. Franco Savarino, "Bajo el signo del "Littorio". La comunidad italiana en México y el fascismo (1924-1941)", Revista Mexicana de Sociología, LXIV: 2 (abril-junio 2002): 113-139.
29 José Vasconcelos, ¿Qué es el Comunismo? (México: Ediciones Botas, 1936), 91.
30 "Mussolini tiene tres cualidades que lo elevan sobre todos los hombres de públicos de nuestros tiempos: su poder de reconcentración mental, su audacia y la extraordinaria frmeza de carácter [...]. El dictador romano es un verdadero conductor de pueblos y el primero, desde Napoleón, que sobrepasa las fronteras de su propio país para llevar al exterior los principios de su política". Gerardo Murillo, "Benito Mussolini", Excélsior, Ciudad de México, 21 de septiembre 1935, en La defensa de Italia en México por el Dr. Atl (México: Edición de la Colonia Italiana, 1936), 43-44.
31 Franco Savarino, México e Italia, 95-121.
32 Ya en 1936 en un informe de la Embajada se señalaban las "simpatías de Vargas por Italia y su solidaridad moral [...] con el régimen fascista". Cantalupo a Ciano, Río de Janeiro,12 de junio 1936, en Gianluca André, comp., DDI, s. VIII. Roma: Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato, 1997, Vol. 4, doc. 720, 792. Para contextualizar el varguismo es imprescindible la lectura de Daryle Williams, Culture Wars in Brazil: The First Vargas Regime, 1930-1945 (Durham: Duke University Press, 2001).
33 Mario Da Silva, "Il nuovo regime brasiliano", Critica Fascista, XVI: 4 (diciembre 1937): 58-60. En los Estados Unidos además "la prensa [...] se puso a gritar histéricamente que Brasil se había vuelto fascista". Suvich a Ciano, Washington, 12 de noviembre 1937, en Gianluca André, comp., DDI, s. VIII. Roma: Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato, 1997, Vol. 7, doc. 557, 658-660.
34 Benito Mussolini, "Europa e fascismo", Il Popolo d'Italia, Roma, 6 de octubre, 1937.
35 Ciano llegó a calificar Brasil como "una especie de longa manus de los Estados Unidos" en Sudamérica. Ciano a Lojacono, Roma, 26 de abril 1937, en Gianluca André comp., DDI, s. VIII. Roma: Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato, 1997, Vol. 6, doc. 515, 650-651.
36 Véase por ejemplo la entrada "Brasil" en la "Enciclopedia Italiana" (supplemento 1938), 315, donde es criticada la renuencia de Vargas a formar un partido político, condición esencial para concretar un "parentesco formal" de su régimen con el fascismo. Cfr. también Vinicio Araldi, Il Brasile sotto la presidenza di Getulio Vargas (Rio de Janeiro: s. e., 1937); André Carrazzoni, Getulio Vargas (Padova: CEDAM, 1941); y Roberto Cantalupo, Brasile Euro-americano (Milano: ISPI, 1941).
37 Las esperanzas iniciales de Ciano después del golpe de noviembre disminuyeron rápidamente en cuanto se vio que Vargas se mostraba cauteloso y falto de "coraje fascista" en la construcción del Estado Novo: Galeazzo Ciano, Diario 1937-1943 (Milano: Rizzoli, 1999), 56, 59 y 120. Las relaciones brasileñas con la Italia fascista, siempre matizadas por dudas e incertidumbres y por el dilema de apoyar o no a Vargas o a Salgado, comenzaron a enfriase entre marzo y mayo de 1938, en consecuencia de la represión desencadenada contra la AIB y la vigilancia puesta a las colonias italianas sospechosas de simpatías con ella. Sobre este tema véase Mario Toscano, "Il fascismo e l'Estado Novo", en L'emigrazione italiana in Brasile, 1800-1978, ed. Renzo De Felice (Torino: Fondazione G. Agnelli, 1980), 235-270; Marco Mugnaini, L'Italia, 222-227; y Amado Luíz Cervo, Le relazioni diplomatiche fra Italia e Brasile dal 1861 ad oggi (Torino: Fondazione G. Agnelli, 1994), 129-154.
38 Antonio Aroni Prado, 1922 -Itinerário de una falsa vanguarda. Os disidentes, a Semana e o Integralismo (San Pablo: Brasiliense, 1983), 46-47.
39 Antonio Aroni Prado, 1922, 41.
40 Cit. en Hélgio Trinidade, Integralismo. O fascismo brasileiro na década de 30 (San Pablo-Río de Janeiro: Difel, 1979), 5 y ss.
41 Hélgio Trinidade, Integralismo, 75.
42 Hélgio Trinidade, Integralismo, 75.
43 Plinio Salgado, "A Federaçao e o Sufragio", A Razao, San Pablo, 3 de febrero, 1931.
44 Sandra McGee Deutsch, Las derechas, 248.
45 Cfr. Joao Fábio Bertonha, O Fascismo e os inmigrantes italianos no Brasil (Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001).
46 Cfr. Emilio Gentile, Il culto del littorio. La sacralizzazione Della politica nell'Italia fascista (Roma-Bari: Laterza, 1993).
47 Roger Grifn, The Nature, 151.
48 Gustavo Barroso, O Integralismo e o Mundo (Río de Janeiro: Civilizaçao Brasileira, 1936), 15.
49 "Mutamento di regime in Brasile", en Autores Varios, Annuario di Politica Internazionale (1937) (Milano, ISPI, 1938), 354-358, aquí 357.
50 Joao Fábio Bertonha, O Fascismo, 69.
51 Archivio Storico del Ministero degli Afari Esteri (ASMAE), Afari Politici (AP) 1937-40, Situazione Paesi, Quaderni Segreti, Quaderno 9 (Brasile). Situazione politica nel 1937, 2.
52 Ciano a Lojacono, Roma, 26 de abril 1937, en Gianluca André comp., DDI, s. VIII. Roma: Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato, Vol. 6, doc. 515, 649-654. Ciano esperó inicialmente que la AIB serviría "para la labor de divulgación y difusión de las ideas del Fascismo entre los diversos estratos de la población" (654). Sin embargo prevaleció la cautela y el programa de la AIB fue considerado "una copia mal hecha del Fascismo italiano". Relazione riservata del MAE, "Movimenti fascisti esteri" (1934), cit. en Renzo Santinon, I fasci italiani all'estero (Roma: Settimo Sigillo, 1991), 135. Sobre las relaciones Italia-AIB véase también Angelo Trento, "Relaçoes entre fascismo e integralismo: o ponto de vista do Ministério dos Negocios Estrangeiros italiano", Ciencia e Cultura XXXIV: 12 (1982): 1601-1613; y Ricardo Seitenfus, "Ideology and Diplomacy: Italian Fascism and Brazil (1935-1938)", Hispanic American Historical Review LXIV: 3 (1984): 503-534. Joao Fábio Bertonha señala que la AIB era también vista como un centro de reclutamiento político de los descendientes de italianos en función pro-fascista y proItalia. En Joao Fábio Bertonha, "O Brasil, os inmigrantes italianos e a política externa fascista, 1922-1943", Revista Brasileira de Política Internacional 40: 2 (1997): 106-130, pero la integración, por su lado, contrastaba con el objetivo de mantener la italianidad (Amado Luíz Cervo, Le relazioni, 147).
53 Renzo Santinon, I fasci, 129-197. En este largo documento, preparado en 1934 por encargo del MAE, son descritos los diferentes grupos de Argentina, Brasil, Chile, Cuba, Panamá y Perú (sin embargo, falta México). Ninguno de estos se merece el calificativo de "fascista" y peor, son descritos como faltos de programas, de espíritu, de liderazgo y de capacidad política. Con la excepción de la AIB y del pequeño Partido Fascista de Chile, todos estos grupos supuestamente fascistas son criticados duramente o simplemente ignorados. Consideraciones idénticas se merecen los movimientos mexicanos (la ARM o "Camisas doradas" y el Partido Social Democrático de México) en otros documentos oficiales: cfr. Franco Savarino, México e Italia; y Franco Savarino, "Apuntes sobre el fascismo", 108. Véase también Stanley Payne, Il Fascismo, 345-354 y Mario Da Silva (ya mencionado anteriormente) quien encuentra "en estos "fascismos" una gran confusión de ideas [...] y, en general, muy poca visión verdaderamente fascista, romana, de la realidad" (Mario Da Silva, "'Fascismi' latino-americani", 46).
54 "Cuando en el mes de agosto los llamados 'Camisas Doradas' [...] que alguien estúpidamente creía incluso poder defnir como los Fascistas de México [...] volvió a llamar la atención [...] el Gobierno procedió tranquilamente a su disolución [...]. Los 'Camisas Doradas' desaparecieron sin gloria de la escena política, como sin gloria habían vivido". ASMAE, AP 1937-40, Situazione Paesi, Quaderni Segreti, Quaderno segreto No 43 (Messico), Situazione politica nel 1935-36, 9.
55 Cfr. Eugenia Scarzanella, "Il fascismo italiano in Argentina: al servizio degli afari", en Eugenia Scarzanella (ed.) Fascisti in Sud America, 113-174, aquí 133. Un informe diplomático señala (1937) que "los grupos nacionalistas de tendencia fascista son: la 'Legión Cívica Argentina' [...]; el 'Partido Fascista Argentino', organización que cuenta pocos inscritos y es dirigida por personas de buena fe pero de escaso nivel y sin prestigio; la 'Federación Fascista de la Provincia de Santa Fe' [...]; la 'Defensa Social Argentina', compuesta en su mayoría por funcionarios de policía jubilados, altos oficiales y jueces jubilados [...]; la 'Acción Nacionalista Argentina' que tiene su sede en Buenos Aires y Mendoza y un periodiquillo (Aduna) pero entre todo cuenta con menos de mil adherentes y de 'acción' solo tiene el nombre. 'Restauración' es un nuevo grupo formado en 1937 con muchos buenos propósitos pero ninguna posibilidad de confar en las personas que lo integran para realizarlos. La agrupación 'Nacionalismo argentino' que es un nombre sin sustancia [...]. [...Todas estas organizaciones adolecen] de unidad de acción, de coordinación, de desinterés y capacidad organizativa de los jefes, de espíritu de sacrificio y de voluntad de acción de los militantes": ASMAE, AP 1937-40, Situazione Paesi, Quaderni Segreti, Quaderno No 5 (Argentina), Situazione politica nel 1937, 9-10. Opiniones negativas italianas sobre la Legión Cívica son también señaladas por Marcus Klein, "The Legión Cívica Argentina and the Radicalization of Argentine Nacionalismo during the Década Infame", Estudios Interdisciplinarios de América Latina y el Caribe 13: 2 (julio-diciembre 2002), http://www.tau.ac.il/eial/XIII_2/klein.html (fecha de consulta: mayo 2008).
56 Franco Savarino, México e Italia, 116-118 y passim.
57 ASMAE, AP 1937-40, Situazione Paesi, Quaderni Segreti, Quaderno No 12 (Cile), Situazione politica nel 1937, 11. Este movimiento hacia la izquierda es analizado por Mario Sznajder en "El Movimiento Nacional Socialista: Nacismo a la chilena", Estudios Interdisciplinarios de América Latina y el Caribe 1: 1 (enero-junio 1990), http://www.tau.ac.il/eial/I_1/sznajder.htm (fecha de consulta: mayo 2008).
Fonte: Scielo
Texto: JOGO DE ILUSÕES: BRASIL, MÉXICO E OS "FASCISMOS" LATINOAMERICANOS FRENTE AO FASCISMO ITALIANO*
Autor: Franco Savarino
http://www.scielo.org.co/scielo.php?pid=S0121-16172009000100009&script=sci_arttext
Tradução: Roberto Lucena
Post do dia: 1 de mar de 2013
Ver:
Jogo de ilusões: Brasil, México e os "fascismos" latinoamericanos frente ao fascismo italiano - Parte 01
Jogo de ilusões: Brasil, México e os "fascismos" latinoamericanos frente ao fascismo italiano - Parte 03
Ver também:
O NSDAP no México: história e percepções, 1931-1940 - parte 1
O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939 - parte 01
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terça-feira, 20 de novembro de 2012
Jogo de ilusões: Brasil, México e os "fascismos" latinoamericanos frente ao fascismo italiano - Parte 01
RESUMO
Neste ensaio se analiza a relação entre a experiência original do fascismo italiano e suas expressões homólogas na América Latina (especialmente os casos do Brasil e do México) no período entreguerras. O objetivo principal é expôr as muitas ambiguidades, incertezas e leituras equivocadas que ocorreram em ambos sentidos durante essa época, em particular desde o lado italiano. Assim se chega a desenhar um mapa de encontros e sobretudo desencontros, que matizam a infuência e "difusão" do fascismo de origem italiana na América Latina, abarcando entre outros aspectos alguns elementos culturais e ideológicos. Avança-se assim para detectar os limites de expressão e propagação de um fascismo verdadeiro com respeito a outros fenômenos "nativos" da América Latina tais como as ditaduras e alguns movimentos políticos nacionalistas, e a marcar dessa forma um âmbito mais preciso de utilização da categoria "fascismo" na região.
PALAVRAS CHAVE: Fascismo, nacionalismo, Itália, América Latina, entreguerras.
Artigo recebido: 4 de fevereiro de 2008; Aprovado: 7 de julho de 2008; Modificado: 30 de setembro de 2008.
Introdução
A presença de um modelo político fascista ou semifascista na América Latina foi objeto de discussões e estudos ao longo das últimas quatro décadas, especialmente com relação aos regimes nacional-populistas, as ditaduras militares e alguns grupos nacionalistas radicais e "de direita" [01]. Um dos denominadores comuns das investigações foi o uso extensivo do qualificativo "fascismo" para cobrir um espectro amplo de fenômenos, entre fatos e personagens, oscilando desde o populismo da direita conservadora e autoritária, e passando por forças castrenses (com o modelo prototípico do ditador chileno Augusto Pinochet). A aplicação imprudente e excessiva do termo foi, além disso, característica dos ambientes políticos de esquerda os quais se cultivou por um longo tempo a ideia errônea de que a América Latina foi "a guarida do fascismo em suas formas mais abertamente contrarrevolucionárias e ditatoriais" [02]. Este uso polêmico, genérico e superficial da palavra, pela imprecisão, ou escasso rigor científico e o risco de graves erros de interpretação, foram denunciados por vários investigadores do fenômeno fascista, como Gilbert Allardyce, Stanley Payne e Emilio Gentile [03]. Cabe se perguntar de onde se origina esta ambiguidade ou incertidão semântica ao redor de um fenômeno fundamental do século XX. Neste ensaio se investigará uma das causas originais (não a única, mas sem dúvida importante) no "jogo de ilusões" entre as manifestações latinoamericanas do fascismo e a Itália fascista.
Naturalmente, para qualquer observador atento, na América Latina resultam de imediato evidentes as diferenças a respeito do fascismo europeu, se de "fascismo" se pode falar. Aqui não há movimentos de massas impulsionados pela classe média, líderes messiânicos, "religiões políticas" ou ideologias palingenésicas e poderosos partidos únicos, tampouco se percebe essa difura atmosfera intelectual voluntarista, vanguardista, soreliana e nietzcheana atiçada pelos mitos da guerra mundial, que constitui a base reativa para a formação da filosofia política do fascismo. Stanley Payne assinala a respeito que "a fragilidade ou bem a ausência de um fascismo verdadeiro na América Latina" se deve à "taxa geralmente baixa de mobilização política; um atraso mais que geracional em relação aos países mais atrasados da Europa; o caráter não competitivo do nacionalismo [...]; o controle tradicional elitista-patronal dos procedimentos políticos e portanto, a capacidade dos grupos dominantes e menos radicais [...] para reprimir o nacionalismo revolucionário; a composição multirracial de muitas associações latinoamericanas [...]; o predomínio político da casta militar [...] a debilidade da esquerda revolucionária [...]; a tendência dos nacionalistas latinoamericanos depois de 1930 a rechaçar tanto a Europa como a América do Norte e orientados para um nativismo populista ou de tradição hispânica; a insuficiência da economia social-nacional sindicalista do Estado em países dependientes [...]; o desenvolvimento, enfim, de um modo característico de nacionalismo radical na forma de movimentos populistas [...]" [04].
Na América Latina, contudo, existem também elementos comuns ou facilmente reconhecíveis para quem está familiarizado com os "modelos" europeus: a crise do liberalismo, a crítica à democracia parlamentar, o rechaço às oligarquias tradicionais, os impulsos à modernização nacional, a oposição ao imperialismo anglo-saxão (e a ideia de uma "nova ordem" mundial com a liderança de potências emergentes), a reação contra o "perigo" comunista (mais imaginário que real, ou bem distante geograficamente) e a busca de um sistema de tipo corporativo. O repertório de semelhanças é, sem dúvida, suficiente para perguntarmos não somente sobre a presença e extensão do fenômeno fascista - como assinalou em um momento Hélgio Trinidade - [05] senão precisamente indagar sobre as características das variantes regionais do mesmo. A este "fascismo" não teremos qualificativos tais como o "fascismo de esquerda" (Lipset, Incisa di Camerana) [06] ou o "fascismo desde cima/de direita" (Torcuato di Tella) [07], limitaremo-nos a descrever algumas peculiaridades das formas "fascistas" ou próximas ao fascismo presentes na América Latina, ao dar por certo que este constitui uma fenomenologia de alcance mundial com uma notável variação regional. O que faz falta por agora é, em primeiro lugar, incorporar as tendências mais recentes da investigação internacional sobre o fascismo, que lhe tirou a centralidade de questões tais como as classes sociais (fascismo=mobilização ou revolução das classes médias), as peculiaridades nacionais (fascismo=revanche de países humilhados ou ambiciosos) e a oposição às forças de esquerda (fascismo=anticomunismo), ou a relação com o modelo econõmico (fascismo=ditadura da burguesia ou fascismo=corporativismo) no que se enfoca melhor na ideología, na cultura, na morfologia institucional e na geopolítica [08]. Em segundo lugar é preciso abordar o problema da relação que existe entre todo fascismo e seu modelo original, que é sem dúvida alguma o italiano.
As investigações na Itália, na realidade, nunca perderam a consciência de que o fascismo fora essencialmente um produto "Made in Italy", uma perspectiva excessivamente limitada que em alguns casos (De Felice) dificultava ver os caracteres fascistas presentes em outras experiências extra-italianas, quer dizer, negar que o fascismo fora um fato de alcance mundial e de época. A atenção para a América Latina era óbvia, porque aqui se observavam fenômenos parecidos com características em parte similares e em partes diferentes a respeito do modelo transatlântico, o que criava confusão. Por outro lado, existia também uma linha de estudos que sem exagerar o alcance do "fascismo" como ideologia ou modelo político, destacava a influência do regime de Benito Mussolini como exemplo de Estado forte, autoritário e modernizador. Assim chegavam a ver erroneamente ou superficialmente como um "sucesso" da ditadura italiana tanto a função desta como um modelo, assim como o entrelaçar de contatos entre esta e os regimes latinoamericanos [09]. Este erro se deve em grande medida à falta de distinção entre a influência política e geopolítica por um lado (que foram menos consistentes do que se crê), e a influência ideológica por outro lado (ainda mais débil, muito além das imitações superficiais e as sugestões ocasionais e de toda toda forma, inferior às expectativas) [10].
A confusão dos âmbitos de influências, por demais, está presente já na produção escrita da época especialmente na Espanha e América Latina, onde se lia o fascismo no sentido conservador e autoritário, perdendo de vista ou mal interpretando os aspectos revolucionários, modernistas e progressivos da ideologia fascista [11], o que se levou a incluir apressadamente o fascismo entre "as direitas" [12]. Cabe mencionar além disso o hitlerismo antifascista que se propaga em muitos países entre as organizações trabalhistas e em círculos governamentais (no México), e alcança níveis de alarmismo exacerbado em fins da década de trinta e durante a Guerra, com as denúncias - em grande medida inverossímeis ou francamente exageradas - da presença de uma ubíqua "quinta coluna" fascista em todo o continente [13]. O aspecto mais surpreendente desta falta de entendimento ou alteração perceptiva - como se queira chamar - ao redor da presença fascista na América é talvez a confusão entre o verdadeiro fascismo (italiano) e suas imitações ou formas homólogas latinoamericanas. Os países que talvez podem exemplificar melhor estas confusões são México e Brasil: o primeiro, ao desenvolver um regime populista revolucionário de partido único com várias características em comum com o fascismo (mas derivadas do desenvolvimento autônomo) e o segundo, por ser o berço do movimento popular mais próximo ao fascismo de toda a América Latina. A estes dois casos nacionais lhes dedicaremos mais espaço em nosso percurso pelas formas e as manifestações políticas próximas ou paralelas ao fascismo na região.
O objetivo principal deste ensaio é mostrar através da profunda desilusão italiana pela escassa difusão ideológica e política do fascismo na América Latina, o desencontro com os movimentos, regimes e figuras políticas e intelectuais que se diziam fascistas ou simpatizantes (ou bem tinham esta reputação ou pareciam alinhados), para pôr em evidência como em grande parte da região se experimenta trajetórias político-ideológicas peculiares que, ao se extinguir abruptamente os fascismos "clássicos" europeus em 1945 (e ao mudar, em consequência, o clima ideológico mundial), manifestaram-se mais francamente nos modelos autóctenes de nacional-populismo. Desde o olhar italiano se chegara a descobrir finalmente o jogo de miragens e equívocos que contribuiu para originar a escassa ou errônea compreensão do que foi (e é) o fascismo na região [14].
1. Percepções e Realidades
Para abordar o tema, poderíamos começar por assinalar que o fascismo, ao contrário do comunismo, não é uma ideologia com vocação internacional. Ou melhor, ela o é somente na medida em que os objetivos nacionais se conjugam com as tarefas de elevar o status da "Civilização" (ocidental) e com a luta contra os inimigos desta (bolchevismo, liberalismo, individualismo, cosmopolitismo) e, em geral, contra a "decadência" (que é um conceito axial para todos os fascismos). Cada fascismo expressa, com efeito, um impulso de sua própria realidade nacional, surge - por assim dizer - de cada contexto com características peculiares e únicas, e só secundariamente se entrelaça com a fenomenologia ideológica e política mundial. Com estas exceções pode-se falar de "internacionalismo fascista" (especialmente nos anos vinte), e se pode detetar intenções de buscar laços e sinergias entre os movimentos fascistas internacionais e apregoar um "fascismo universal" (como o fizeram os CAUR [15] e alguns intelectuais italianos na década dos anos trinta). Contudo, todos os intentos de unir os esforços dos movimentos e regimes de tipo fascista se subordinam sempre ao princípio dos interesses nacionais. Não existe - nunca existiu em nenhuma parte - algo assim como uma forma de solidariedade espontânea com consequências políticas, como a que existiu entre os movimentos socialistas e comunistas mundiais e que favoreceu a formação do Komintern no período entreguerras. E fora isto, finalmente, a debilidade fatal do fascismo.
Os observadores contemporâneos mais atentos não se deixaram enganar e expressaram juízos céticos ou negativos sobre o conteúdo "fascista" das ditaduras latinoamericanas [16]. A influente revista Crítica Fascista em 1937 adverte a seus leitores que não tem como se entusiasmar por essas ditaduras e arriscar a fazer "de toda a erva uma só" [17]. O Conde Ciano (Ministro de Relações Exteriores e genro de Mussolini) observou nesse mesmo ano que:
É certo também que a percepção italiana da realidade latinoamericana tinha suas limitações. Os fascistas italianos tão sencíveis em conceder o título de "fascista" a movimentos e regimes estrangeiros, especialmente se eram do tipo militar, personalista ou conservador, não souberam reconhecer os fenômenos paralelos (nacional-populistas) ou francamente próximos (fascismo "de esquerda", se aceitamos a expressão de Lipset e Incisa di Camerana) que se manifestavam na distância das terras americanas. O fascismo italiano tinha um componente populista, mas o populismo como fenômeno político em sentido estrito e completo é em si uma forma política autônoma, quer dizer, como o fascismo é autônomo em relação ao nacionalismo ou ao socialismo (que são suas duas principais raízes históricas) [22]. Os fascistas italianos simplesmente não souberam detetar o populismo. Além disso - enquanto estiveram dispostos a reconhecer formas políticas sui generis - não perceberam ou rechaçaram as formas mais esquerdistas e peculiares de fascismo que também nasciam, com a influência do modelo italiano mas respondendo a uma causalidade local diferente. A luta para construir a nação, derrubar as oligarquias decimonónicas (do séc. XIX) e romper com a dependência das potências anglo-saxãs levou a vários casos à formação de movimentos e regimes de tipo fascistizantes (Brasil, México, Bolívia), que não foram entendidos completamente pela Itália fascista, que os viu como algo exótico, distante e confuso.
Notas
* Este artigo é resultado do projeto de pesquisa do autor entitulado "Nación y nacionalismo", financiado pelo Instituto Nacional de Antropologia e Historia, INAH, do México.
[01] Ver entre os numerosos estudos, Theotonio Dos Santos, Socialismo o fascismo: el nuevo carácter de la dependencia y el dilema latinoamericano (Buenos Aires: Periferia, 1974); René Zavaleta Mercado, "Nota sobre fascismo, dictadura y coyuntura de disolución", Revista Mexicana de Sociología 41:1 (enero-marzo 1979): 75-85; David Viñas, Qué es el fascismo en Latinoamérica (Barcelona: La Gaya Ciencia, 1977); Hélgio Trinidade, "El tema del fascismo en América Latina", Revista de Estudios Políticos 30 (1982): 111-142. Geralmente estes autores se adscriben à teoria marxista e aos modelos de "dependência".
[02 Roger Grifn, The Nature of Fascism (New York: Routledge, 1991), 148.
[03 Cfr. Franco Savarino, "La ideología del fascismo entre pasado y presente", em Diálogos entre la historia social y la historia cultural, eds. Franco Savarino et al. (México: INAH-AHCALC, 2005), 253-272.
[04 Stanley G. Payne, Il fascismo (Roma: Newton, 1999), 345.
[05 Helgio Trinidade, "El tema del fascismo", 111.
[06 Seymour Martin Lipset, El hombre político. Las bases sociales de la politica (México: REI, 1993); Ludovico Incisa di Camerana, I caudillos. Biografia di un continente (Milano: Corbaccio, 1994).
[07 Torcuato S. Di Tella, "Fascismo desde arriba" en Diccionario de las ciencias sociales y políticas, eds. Torcuato S. Di Tella et al. (Buenos Aires: Emecé, 2001), 271-272.
[08 Em particular as influentes investigações de George Mosse, Zeev Sternhell, Roger Grifn e Emilio Gentile que marcam um "giro" cultural (e institucional) nos estudos sobre o fascismo. Gentile define o fascismo como "um fenômeno político moderno, nacionalista e revolucionário, antiliberal e antimarxista, organizado por um partido milícia, como uma concepção totalitária do Estado, com uma ideologia ativista e antiteorética, com um fundamento mítico, viril e anti-hedonista, sacralizada como uma religião laica que afirma a supremacia absoluta da nação ao que se entende como uma comunidade orgânica etnicamente homogênea e hierarquicamente organizada em um Estado corporativo com uma vocação belicista a favor de uma política de grandeza, de poder e de conquista encaminhando à criação de uma nova ordem e de uma nova civilização". Emilio Gentile, Fascismo, historia e interpretación (Madrid: Alianza, 2004), 19.
9 Por exemplo, em Pietro Rinaldo Fanesi, "Le interpretazioni storiografiche e politiche dell'America Latina nel periodo fascista", en Ruggiero Romano. L'Italia, l'Europa, l'America, ed. A. Filippi (Camerino: Università di Camerino, 1999), 395-405. Mas é uma interpretaçaõ comum. Mugnaini por seu lado, Marco Mugnaini, "L'Italia e l'America latina (1930-1936): alcuni aspetti della politica estera fascista", Storia delle Relazioni Internazionali 2 (1986): 199-244 interpreta o encontro do fascismo com os regimes castrenses em termos de simpatias, interesses e instrumentalizações políticas (203-207).
10 Vê-se uma evaluación bastante precisa destas influências contraditórias em Stanley Payne, Il Fascismo, 345-354; e cfr. Franco Savarino, "Apuntes sobre el fascismo italiano en América Latina (1922-1940)", Reflejos 9 (2000-2001): aquí 107-109. Sobre la infuencia del fascismo entre las comunidades italianas (que se encontra fora do alcance deste estudo) existe já uma boa bibliografia: véase, entre otros a Joao Fábio Bertonha, "A migraçao internacional como Fator de Política Externa: os emigrantes italianos, a Expansâo Imperialista e a Politica Exterior da Itàlia, 1870-1943", Contexto Internacional, XXI: 1 (Enero-junio 1999): 123-64; Emilio Franzina y Matteo Sanflippo eds., Il fascismo e gli emigrati (Roma-Bari: Laterza, 2004); y Eugenia Scarzanella (ed.), Fascisti in Sud America (Firenze: Le Lettere, 2005).
11 Por exemplo, na Espanha um observador contemporâneo (1934) escreve: "Empiezan a existir en España grupos fascistas. Oír a la mayoría de quienes los componen, encoleriza. Se titulan fascistas por haber llegado a la cómoda conclusión de que orden y fascismo son términos sinónimos. Impórtanle un adarme la médula sindicalista, tan en pugna con la tesis conservadora, ni su carácter de doctrina en plena evolución. Ellos lo que quieren es orden, no justicia". Cesar Juarrós, Atalayas sobre el fascismo (Madrid: Ma. Yagües Editor, 1934), 42.
12 Que el fascismo fuera una revolución moderna (al lado y en rivalidad con la comunista) es un hecho aceptado por la mayoría de las investigaciones científicas actuales. El fallecido George Mosse titula significativamente su último líbro The Fascist Revolution. Toward a General Theory of Fascism (New York: Howard Fertig, 1999). La colocación del fascismo sobre el eje derecha-izquierda es más problemática, posiblemente la mejor opción sería asignarle un lugar "central" ("ni derecha ni izquierda" es el título de un famoso estudio de Zeev Sternhell), reconociendo la posibilidad de oscilar en los dos sentidos y marcando una distinción especialmente de las derechas con las cuales suele ser confundido. Cfr. Sandra McGee Deutsch, Las Derechas: The Extreme Right in Argentina, Brazil, and Chile, 1890-1939 (Stanford: Stanford University Press, 1999).
13 Un ejemplo de esta literatura alarmista es la obra de Hugo Fernández Artucio, La organización secreta nazi en Sudamérica (México: Minerva, 1943). Es posible leer retrospectivamente la obsesión por el fascismo internacional de esa época a la luz de la obsesión contemporánea por el "peligro" islámico.
14 Para um exame mais geral e de corte geopolítico das relações italianas com a América Latina remeto a Franco Savarino, "En busca de un "Eje" latino: la política latinoamericana de Italia entre las dos guerras mundiales", Anuario del Centro de Estudios Históricos "Prof. Carlos A. Segretti" 6 (2006): 239-261.
15 Comitati d'Azione per l'Universalità di Roma. Véase Mario Cuzzi, L'internazionale delle camicie nere. I CAUR 1933-1939 (Milano: Mursia, 2005).
16 Oreste Villa (agregado comercial en la Legación italiana en México en los años treinta) critica severamente todos los dictadores latinoamericanos con la excepción de Juan Vicente Gómez. Cfr. Oreste Villa, L'America Latina, problema fascista (Roma: Nuova Europa, 1933), 50-58.
17 Mario Da Silva, "'Fascismi' latino-americani", Critica Fascista, XVI: 3 (diciembre 1937): 44-47. En italiano es un juego de palabras: "fare di tutta l'erba un fascio" (haz=fascio).
18 Ciano a Lojacono, Roma, 26 de abril 1937, en Gianluca André comp., Documenti Diplomatici Italiani (DDI), s. VIII. Roma: Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato, 1997, Vol. 6, doc. 515, 653. Las palabras de Ciano son también indicativas de lo difícil que era para los fascistas comprender los fenómenos políticos característicos de la región, como el populismo, o reconocer aquí elementos familiares en la maraña de formaciones autoritarias y auto-reivindicaciones o imitaciones del modelo italiano con ninguno o escaso espesor ideológico.
19 Marco Mugnaini, "L'Italia", 208-211.
20 Aldo Albonico, Italia y América (Madrid: MAPFRE, 1994), 166 y cfr. Folco Testena, "Sguardo sommario sulla situazione dell'America di lingua latina", Civiltá Fascista (Agosto 1942): 653-657. Sobre las dictaduras sudamericanas véase Ludovico Incisa di Camerana, I caudillos, 195-245. Los regímenes militares latinoamericanos resultaron ser menos permeables de lo esperado a las infuencias fascistas, también por la incompatibilidad fundamental existente entre el militarismo y el fascismo. Stanley Payne, Fascism. Comparision and definition (Madison: The University of Wisconsin Press, 1980), 19 y 167-175.
21 Aldo Albonico, "Immagine e destino delle comunità italiane in America latina attraverso la stampa fascista degli anni trenta", Studi Emigrazione XIX:65 (marzo 1982): 43.
22 Sobre el populismo hay una vasta literatura que resultaría imposible reportar aquí. Véase entre los clásicos: Octavio Ianni, La formación del Estado populista en América Latina (México: ERA, 1975); Ernesto Laclau, Política e ideología en la teoría marxista (Madrid: Siglo XXI, 1978); Margaret Canovan, Populism (New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1981). Ver también María M. Mackinnon y Mario A. Petrone (eds.), Populismo y neopopulismo en América Latina (Buenos Aires: Eudeba, 1998); y cfr. Franco Savarino, "Populismo: perspectivas europeas y latinoamericanas", Espiral XIII:37 (septiembre-diciembre 2006): 77-94.
Fonte: Scielo
Texto: JOGO DE ILUSÕES: BRASIL, MÉXICO E OS "FASCISMOS" LATINOAMERICANOS FRENTE AO FASCISMO ITALIANO
Autor: Franco Savarino
http://www.scielo.org.co/scielo.php?pid=S0121-16172009000100009&script=sci_arttext
Link alternativo: http://historiacritica.uniandes.edu.co/view.php/573/index.php?id=573
Tradução: Roberto Lucena
Ver:
Jogo de ilusões: Brasil, México e os "fascismos" latinoamericanos frente ao fascismo italiano - Parte 02
Jogo de ilusões: Brasil, México e os "fascismos" latinoamericanos frente ao fascismo italiano - Parte 03
Ver também:
O NSDAP no México: história e percepções, 1931-1940 - parte 1
O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939 - parte 01
Neste ensaio se analiza a relação entre a experiência original do fascismo italiano e suas expressões homólogas na América Latina (especialmente os casos do Brasil e do México) no período entreguerras. O objetivo principal é expôr as muitas ambiguidades, incertezas e leituras equivocadas que ocorreram em ambos sentidos durante essa época, em particular desde o lado italiano. Assim se chega a desenhar um mapa de encontros e sobretudo desencontros, que matizam a infuência e "difusão" do fascismo de origem italiana na América Latina, abarcando entre outros aspectos alguns elementos culturais e ideológicos. Avança-se assim para detectar os limites de expressão e propagação de um fascismo verdadeiro com respeito a outros fenômenos "nativos" da América Latina tais como as ditaduras e alguns movimentos políticos nacionalistas, e a marcar dessa forma um âmbito mais preciso de utilização da categoria "fascismo" na região.
PALAVRAS CHAVE: Fascismo, nacionalismo, Itália, América Latina, entreguerras.
Artigo recebido: 4 de fevereiro de 2008; Aprovado: 7 de julho de 2008; Modificado: 30 de setembro de 2008.
Introdução
A presença de um modelo político fascista ou semifascista na América Latina foi objeto de discussões e estudos ao longo das últimas quatro décadas, especialmente com relação aos regimes nacional-populistas, as ditaduras militares e alguns grupos nacionalistas radicais e "de direita" [01]. Um dos denominadores comuns das investigações foi o uso extensivo do qualificativo "fascismo" para cobrir um espectro amplo de fenômenos, entre fatos e personagens, oscilando desde o populismo da direita conservadora e autoritária, e passando por forças castrenses (com o modelo prototípico do ditador chileno Augusto Pinochet). A aplicação imprudente e excessiva do termo foi, além disso, característica dos ambientes políticos de esquerda os quais se cultivou por um longo tempo a ideia errônea de que a América Latina foi "a guarida do fascismo em suas formas mais abertamente contrarrevolucionárias e ditatoriais" [02]. Este uso polêmico, genérico e superficial da palavra, pela imprecisão, ou escasso rigor científico e o risco de graves erros de interpretação, foram denunciados por vários investigadores do fenômeno fascista, como Gilbert Allardyce, Stanley Payne e Emilio Gentile [03]. Cabe se perguntar de onde se origina esta ambiguidade ou incertidão semântica ao redor de um fenômeno fundamental do século XX. Neste ensaio se investigará uma das causas originais (não a única, mas sem dúvida importante) no "jogo de ilusões" entre as manifestações latinoamericanas do fascismo e a Itália fascista.
Naturalmente, para qualquer observador atento, na América Latina resultam de imediato evidentes as diferenças a respeito do fascismo europeu, se de "fascismo" se pode falar. Aqui não há movimentos de massas impulsionados pela classe média, líderes messiânicos, "religiões políticas" ou ideologias palingenésicas e poderosos partidos únicos, tampouco se percebe essa difura atmosfera intelectual voluntarista, vanguardista, soreliana e nietzcheana atiçada pelos mitos da guerra mundial, que constitui a base reativa para a formação da filosofia política do fascismo. Stanley Payne assinala a respeito que "a fragilidade ou bem a ausência de um fascismo verdadeiro na América Latina" se deve à "taxa geralmente baixa de mobilização política; um atraso mais que geracional em relação aos países mais atrasados da Europa; o caráter não competitivo do nacionalismo [...]; o controle tradicional elitista-patronal dos procedimentos políticos e portanto, a capacidade dos grupos dominantes e menos radicais [...] para reprimir o nacionalismo revolucionário; a composição multirracial de muitas associações latinoamericanas [...]; o predomínio político da casta militar [...] a debilidade da esquerda revolucionária [...]; a tendência dos nacionalistas latinoamericanos depois de 1930 a rechaçar tanto a Europa como a América do Norte e orientados para um nativismo populista ou de tradição hispânica; a insuficiência da economia social-nacional sindicalista do Estado em países dependientes [...]; o desenvolvimento, enfim, de um modo característico de nacionalismo radical na forma de movimentos populistas [...]" [04].
Na América Latina, contudo, existem também elementos comuns ou facilmente reconhecíveis para quem está familiarizado com os "modelos" europeus: a crise do liberalismo, a crítica à democracia parlamentar, o rechaço às oligarquias tradicionais, os impulsos à modernização nacional, a oposição ao imperialismo anglo-saxão (e a ideia de uma "nova ordem" mundial com a liderança de potências emergentes), a reação contra o "perigo" comunista (mais imaginário que real, ou bem distante geograficamente) e a busca de um sistema de tipo corporativo. O repertório de semelhanças é, sem dúvida, suficiente para perguntarmos não somente sobre a presença e extensão do fenômeno fascista - como assinalou em um momento Hélgio Trinidade - [05] senão precisamente indagar sobre as características das variantes regionais do mesmo. A este "fascismo" não teremos qualificativos tais como o "fascismo de esquerda" (Lipset, Incisa di Camerana) [06] ou o "fascismo desde cima/de direita" (Torcuato di Tella) [07], limitaremo-nos a descrever algumas peculiaridades das formas "fascistas" ou próximas ao fascismo presentes na América Latina, ao dar por certo que este constitui uma fenomenologia de alcance mundial com uma notável variação regional. O que faz falta por agora é, em primeiro lugar, incorporar as tendências mais recentes da investigação internacional sobre o fascismo, que lhe tirou a centralidade de questões tais como as classes sociais (fascismo=mobilização ou revolução das classes médias), as peculiaridades nacionais (fascismo=revanche de países humilhados ou ambiciosos) e a oposição às forças de esquerda (fascismo=anticomunismo), ou a relação com o modelo econõmico (fascismo=ditadura da burguesia ou fascismo=corporativismo) no que se enfoca melhor na ideología, na cultura, na morfologia institucional e na geopolítica [08]. Em segundo lugar é preciso abordar o problema da relação que existe entre todo fascismo e seu modelo original, que é sem dúvida alguma o italiano.
As investigações na Itália, na realidade, nunca perderam a consciência de que o fascismo fora essencialmente um produto "Made in Italy", uma perspectiva excessivamente limitada que em alguns casos (De Felice) dificultava ver os caracteres fascistas presentes em outras experiências extra-italianas, quer dizer, negar que o fascismo fora um fato de alcance mundial e de época. A atenção para a América Latina era óbvia, porque aqui se observavam fenômenos parecidos com características em parte similares e em partes diferentes a respeito do modelo transatlântico, o que criava confusão. Por outro lado, existia também uma linha de estudos que sem exagerar o alcance do "fascismo" como ideologia ou modelo político, destacava a influência do regime de Benito Mussolini como exemplo de Estado forte, autoritário e modernizador. Assim chegavam a ver erroneamente ou superficialmente como um "sucesso" da ditadura italiana tanto a função desta como um modelo, assim como o entrelaçar de contatos entre esta e os regimes latinoamericanos [09]. Este erro se deve em grande medida à falta de distinção entre a influência política e geopolítica por um lado (que foram menos consistentes do que se crê), e a influência ideológica por outro lado (ainda mais débil, muito além das imitações superficiais e as sugestões ocasionais e de toda toda forma, inferior às expectativas) [10].
A confusão dos âmbitos de influências, por demais, está presente já na produção escrita da época especialmente na Espanha e América Latina, onde se lia o fascismo no sentido conservador e autoritário, perdendo de vista ou mal interpretando os aspectos revolucionários, modernistas e progressivos da ideologia fascista [11], o que se levou a incluir apressadamente o fascismo entre "as direitas" [12]. Cabe mencionar além disso o hitlerismo antifascista que se propaga em muitos países entre as organizações trabalhistas e em círculos governamentais (no México), e alcança níveis de alarmismo exacerbado em fins da década de trinta e durante a Guerra, com as denúncias - em grande medida inverossímeis ou francamente exageradas - da presença de uma ubíqua "quinta coluna" fascista em todo o continente [13]. O aspecto mais surpreendente desta falta de entendimento ou alteração perceptiva - como se queira chamar - ao redor da presença fascista na América é talvez a confusão entre o verdadeiro fascismo (italiano) e suas imitações ou formas homólogas latinoamericanas. Os países que talvez podem exemplificar melhor estas confusões são México e Brasil: o primeiro, ao desenvolver um regime populista revolucionário de partido único com várias características em comum com o fascismo (mas derivadas do desenvolvimento autônomo) e o segundo, por ser o berço do movimento popular mais próximo ao fascismo de toda a América Latina. A estes dois casos nacionais lhes dedicaremos mais espaço em nosso percurso pelas formas e as manifestações políticas próximas ou paralelas ao fascismo na região.
O objetivo principal deste ensaio é mostrar através da profunda desilusão italiana pela escassa difusão ideológica e política do fascismo na América Latina, o desencontro com os movimentos, regimes e figuras políticas e intelectuais que se diziam fascistas ou simpatizantes (ou bem tinham esta reputação ou pareciam alinhados), para pôr em evidência como em grande parte da região se experimenta trajetórias político-ideológicas peculiares que, ao se extinguir abruptamente os fascismos "clássicos" europeus em 1945 (e ao mudar, em consequência, o clima ideológico mundial), manifestaram-se mais francamente nos modelos autóctenes de nacional-populismo. Desde o olhar italiano se chegara a descobrir finalmente o jogo de miragens e equívocos que contribuiu para originar a escassa ou errônea compreensão do que foi (e é) o fascismo na região [14].
1. Percepções e Realidades
Para abordar o tema, poderíamos começar por assinalar que o fascismo, ao contrário do comunismo, não é uma ideologia com vocação internacional. Ou melhor, ela o é somente na medida em que os objetivos nacionais se conjugam com as tarefas de elevar o status da "Civilização" (ocidental) e com a luta contra os inimigos desta (bolchevismo, liberalismo, individualismo, cosmopolitismo) e, em geral, contra a "decadência" (que é um conceito axial para todos os fascismos). Cada fascismo expressa, com efeito, um impulso de sua própria realidade nacional, surge - por assim dizer - de cada contexto com características peculiares e únicas, e só secundariamente se entrelaça com a fenomenologia ideológica e política mundial. Com estas exceções pode-se falar de "internacionalismo fascista" (especialmente nos anos vinte), e se pode detetar intenções de buscar laços e sinergias entre os movimentos fascistas internacionais e apregoar um "fascismo universal" (como o fizeram os CAUR [15] e alguns intelectuais italianos na década dos anos trinta). Contudo, todos os intentos de unir os esforços dos movimentos e regimes de tipo fascista se subordinam sempre ao princípio dos interesses nacionais. Não existe - nunca existiu em nenhuma parte - algo assim como uma forma de solidariedade espontânea com consequências políticas, como a que existiu entre os movimentos socialistas e comunistas mundiais e que favoreceu a formação do Komintern no período entreguerras. E fora isto, finalmente, a debilidade fatal do fascismo.
Os observadores contemporâneos mais atentos não se deixaram enganar e expressaram juízos céticos ou negativos sobre o conteúdo "fascista" das ditaduras latinoamericanas [16]. A influente revista Crítica Fascista em 1937 adverte a seus leitores que não tem como se entusiasmar por essas ditaduras e arriscar a fazer "de toda a erva uma só" [17]. O Conde Ciano (Ministro de Relações Exteriores e genro de Mussolini) observou nesse mesmo ano que:
"em todo o continente há uma tendência a considerar como "fascistas" as muitas medidas de caráter autoritário que são, na realidade, as ações de somente ditaduras militares ou semimilitares características desses países [...] para proveito pessoal [...]. O "Fascismo", na realidade, não é conhecido em suas verdadeiras finalidades e em sua essência no continente americano. [...] Em geral, quando se fala de "fascismo" na América do Sul se fala desta ou daquela pessoa que têm tendências de caráter fascista. Todos os demais homens políticos ignoram quase completamente o que são a teoria e práxis fascista" [18].Os ditadores latinoamericanos, efetivamente, não se ajustavam ao perfil de Mussolini. Ainda que estes homens admirassem o Duce e o fascismo, eram por demais nacionalistas para reconhecer dúvidas a um modelo estrangeiro ou tolerar intromissões políticas externas [19]. Eram, sobretudo, bastante conservadores para aceitar o componente socialista, populista e revolucionário do fascismo. Deste eles tinham, como todo mundo, uma visão parcial e deformada. Por seu lado, o regime fascista não se inclinava a aceitar por princípio o caráter reacionário dos ditadores que eram a expressão de interesses castrenses, oligárquicos e pessoais, ao invés de serem a manifestação autêntica das massas nacionais [20]. Na imprensa fascista era frequente que se dessem "lições" a homens fortes latinoamericanos, para "impedir que alguns simples reacionários ou caudilhos militares exagerassem em se atribuir credenciais ilegítimas do fascismo" [21].
É certo também que a percepção italiana da realidade latinoamericana tinha suas limitações. Os fascistas italianos tão sencíveis em conceder o título de "fascista" a movimentos e regimes estrangeiros, especialmente se eram do tipo militar, personalista ou conservador, não souberam reconhecer os fenômenos paralelos (nacional-populistas) ou francamente próximos (fascismo "de esquerda", se aceitamos a expressão de Lipset e Incisa di Camerana) que se manifestavam na distância das terras americanas. O fascismo italiano tinha um componente populista, mas o populismo como fenômeno político em sentido estrito e completo é em si uma forma política autônoma, quer dizer, como o fascismo é autônomo em relação ao nacionalismo ou ao socialismo (que são suas duas principais raízes históricas) [22]. Os fascistas italianos simplesmente não souberam detetar o populismo. Além disso - enquanto estiveram dispostos a reconhecer formas políticas sui generis - não perceberam ou rechaçaram as formas mais esquerdistas e peculiares de fascismo que também nasciam, com a influência do modelo italiano mas respondendo a uma causalidade local diferente. A luta para construir a nação, derrubar as oligarquias decimonónicas (do séc. XIX) e romper com a dependência das potências anglo-saxãs levou a vários casos à formação de movimentos e regimes de tipo fascistizantes (Brasil, México, Bolívia), que não foram entendidos completamente pela Itália fascista, que os viu como algo exótico, distante e confuso.
Notas
* Este artigo é resultado do projeto de pesquisa do autor entitulado "Nación y nacionalismo", financiado pelo Instituto Nacional de Antropologia e Historia, INAH, do México.
[01] Ver entre os numerosos estudos, Theotonio Dos Santos, Socialismo o fascismo: el nuevo carácter de la dependencia y el dilema latinoamericano (Buenos Aires: Periferia, 1974); René Zavaleta Mercado, "Nota sobre fascismo, dictadura y coyuntura de disolución", Revista Mexicana de Sociología 41:1 (enero-marzo 1979): 75-85; David Viñas, Qué es el fascismo en Latinoamérica (Barcelona: La Gaya Ciencia, 1977); Hélgio Trinidade, "El tema del fascismo en América Latina", Revista de Estudios Políticos 30 (1982): 111-142. Geralmente estes autores se adscriben à teoria marxista e aos modelos de "dependência".
[02 Roger Grifn, The Nature of Fascism (New York: Routledge, 1991), 148.
[03 Cfr. Franco Savarino, "La ideología del fascismo entre pasado y presente", em Diálogos entre la historia social y la historia cultural, eds. Franco Savarino et al. (México: INAH-AHCALC, 2005), 253-272.
[04 Stanley G. Payne, Il fascismo (Roma: Newton, 1999), 345.
[05 Helgio Trinidade, "El tema del fascismo", 111.
[06 Seymour Martin Lipset, El hombre político. Las bases sociales de la politica (México: REI, 1993); Ludovico Incisa di Camerana, I caudillos. Biografia di un continente (Milano: Corbaccio, 1994).
[07 Torcuato S. Di Tella, "Fascismo desde arriba" en Diccionario de las ciencias sociales y políticas, eds. Torcuato S. Di Tella et al. (Buenos Aires: Emecé, 2001), 271-272.
[08 Em particular as influentes investigações de George Mosse, Zeev Sternhell, Roger Grifn e Emilio Gentile que marcam um "giro" cultural (e institucional) nos estudos sobre o fascismo. Gentile define o fascismo como "um fenômeno político moderno, nacionalista e revolucionário, antiliberal e antimarxista, organizado por um partido milícia, como uma concepção totalitária do Estado, com uma ideologia ativista e antiteorética, com um fundamento mítico, viril e anti-hedonista, sacralizada como uma religião laica que afirma a supremacia absoluta da nação ao que se entende como uma comunidade orgânica etnicamente homogênea e hierarquicamente organizada em um Estado corporativo com uma vocação belicista a favor de uma política de grandeza, de poder e de conquista encaminhando à criação de uma nova ordem e de uma nova civilização". Emilio Gentile, Fascismo, historia e interpretación (Madrid: Alianza, 2004), 19.
9 Por exemplo, em Pietro Rinaldo Fanesi, "Le interpretazioni storiografiche e politiche dell'America Latina nel periodo fascista", en Ruggiero Romano. L'Italia, l'Europa, l'America, ed. A. Filippi (Camerino: Università di Camerino, 1999), 395-405. Mas é uma interpretaçaõ comum. Mugnaini por seu lado, Marco Mugnaini, "L'Italia e l'America latina (1930-1936): alcuni aspetti della politica estera fascista", Storia delle Relazioni Internazionali 2 (1986): 199-244 interpreta o encontro do fascismo com os regimes castrenses em termos de simpatias, interesses e instrumentalizações políticas (203-207).
10 Vê-se uma evaluación bastante precisa destas influências contraditórias em Stanley Payne, Il Fascismo, 345-354; e cfr. Franco Savarino, "Apuntes sobre el fascismo italiano en América Latina (1922-1940)", Reflejos 9 (2000-2001): aquí 107-109. Sobre la infuencia del fascismo entre las comunidades italianas (que se encontra fora do alcance deste estudo) existe já uma boa bibliografia: véase, entre otros a Joao Fábio Bertonha, "A migraçao internacional como Fator de Política Externa: os emigrantes italianos, a Expansâo Imperialista e a Politica Exterior da Itàlia, 1870-1943", Contexto Internacional, XXI: 1 (Enero-junio 1999): 123-64; Emilio Franzina y Matteo Sanflippo eds., Il fascismo e gli emigrati (Roma-Bari: Laterza, 2004); y Eugenia Scarzanella (ed.), Fascisti in Sud America (Firenze: Le Lettere, 2005).
11 Por exemplo, na Espanha um observador contemporâneo (1934) escreve: "Empiezan a existir en España grupos fascistas. Oír a la mayoría de quienes los componen, encoleriza. Se titulan fascistas por haber llegado a la cómoda conclusión de que orden y fascismo son términos sinónimos. Impórtanle un adarme la médula sindicalista, tan en pugna con la tesis conservadora, ni su carácter de doctrina en plena evolución. Ellos lo que quieren es orden, no justicia". Cesar Juarrós, Atalayas sobre el fascismo (Madrid: Ma. Yagües Editor, 1934), 42.
12 Que el fascismo fuera una revolución moderna (al lado y en rivalidad con la comunista) es un hecho aceptado por la mayoría de las investigaciones científicas actuales. El fallecido George Mosse titula significativamente su último líbro The Fascist Revolution. Toward a General Theory of Fascism (New York: Howard Fertig, 1999). La colocación del fascismo sobre el eje derecha-izquierda es más problemática, posiblemente la mejor opción sería asignarle un lugar "central" ("ni derecha ni izquierda" es el título de un famoso estudio de Zeev Sternhell), reconociendo la posibilidad de oscilar en los dos sentidos y marcando una distinción especialmente de las derechas con las cuales suele ser confundido. Cfr. Sandra McGee Deutsch, Las Derechas: The Extreme Right in Argentina, Brazil, and Chile, 1890-1939 (Stanford: Stanford University Press, 1999).
13 Un ejemplo de esta literatura alarmista es la obra de Hugo Fernández Artucio, La organización secreta nazi en Sudamérica (México: Minerva, 1943). Es posible leer retrospectivamente la obsesión por el fascismo internacional de esa época a la luz de la obsesión contemporánea por el "peligro" islámico.
14 Para um exame mais geral e de corte geopolítico das relações italianas com a América Latina remeto a Franco Savarino, "En busca de un "Eje" latino: la política latinoamericana de Italia entre las dos guerras mundiales", Anuario del Centro de Estudios Históricos "Prof. Carlos A. Segretti" 6 (2006): 239-261.
15 Comitati d'Azione per l'Universalità di Roma. Véase Mario Cuzzi, L'internazionale delle camicie nere. I CAUR 1933-1939 (Milano: Mursia, 2005).
16 Oreste Villa (agregado comercial en la Legación italiana en México en los años treinta) critica severamente todos los dictadores latinoamericanos con la excepción de Juan Vicente Gómez. Cfr. Oreste Villa, L'America Latina, problema fascista (Roma: Nuova Europa, 1933), 50-58.
17 Mario Da Silva, "'Fascismi' latino-americani", Critica Fascista, XVI: 3 (diciembre 1937): 44-47. En italiano es un juego de palabras: "fare di tutta l'erba un fascio" (haz=fascio).
18 Ciano a Lojacono, Roma, 26 de abril 1937, en Gianluca André comp., Documenti Diplomatici Italiani (DDI), s. VIII. Roma: Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato, 1997, Vol. 6, doc. 515, 653. Las palabras de Ciano son también indicativas de lo difícil que era para los fascistas comprender los fenómenos políticos característicos de la región, como el populismo, o reconocer aquí elementos familiares en la maraña de formaciones autoritarias y auto-reivindicaciones o imitaciones del modelo italiano con ninguno o escaso espesor ideológico.
19 Marco Mugnaini, "L'Italia", 208-211.
20 Aldo Albonico, Italia y América (Madrid: MAPFRE, 1994), 166 y cfr. Folco Testena, "Sguardo sommario sulla situazione dell'America di lingua latina", Civiltá Fascista (Agosto 1942): 653-657. Sobre las dictaduras sudamericanas véase Ludovico Incisa di Camerana, I caudillos, 195-245. Los regímenes militares latinoamericanos resultaron ser menos permeables de lo esperado a las infuencias fascistas, también por la incompatibilidad fundamental existente entre el militarismo y el fascismo. Stanley Payne, Fascism. Comparision and definition (Madison: The University of Wisconsin Press, 1980), 19 y 167-175.
21 Aldo Albonico, "Immagine e destino delle comunità italiane in America latina attraverso la stampa fascista degli anni trenta", Studi Emigrazione XIX:65 (marzo 1982): 43.
22 Sobre el populismo hay una vasta literatura que resultaría imposible reportar aquí. Véase entre los clásicos: Octavio Ianni, La formación del Estado populista en América Latina (México: ERA, 1975); Ernesto Laclau, Política e ideología en la teoría marxista (Madrid: Siglo XXI, 1978); Margaret Canovan, Populism (New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1981). Ver también María M. Mackinnon y Mario A. Petrone (eds.), Populismo y neopopulismo en América Latina (Buenos Aires: Eudeba, 1998); y cfr. Franco Savarino, "Populismo: perspectivas europeas y latinoamericanas", Espiral XIII:37 (septiembre-diciembre 2006): 77-94.
Fonte: Scielo
Texto: JOGO DE ILUSÕES: BRASIL, MÉXICO E OS "FASCISMOS" LATINOAMERICANOS FRENTE AO FASCISMO ITALIANO
Autor: Franco Savarino
http://www.scielo.org.co/scielo.php?pid=S0121-16172009000100009&script=sci_arttext
Link alternativo: http://historiacritica.uniandes.edu.co/view.php/573/index.php?id=573
Tradução: Roberto Lucena
Ver:
Jogo de ilusões: Brasil, México e os "fascismos" latinoamericanos frente ao fascismo italiano - Parte 02
Jogo de ilusões: Brasil, México e os "fascismos" latinoamericanos frente ao fascismo italiano - Parte 03
Ver também:
O NSDAP no México: história e percepções, 1931-1940 - parte 1
O Partido Alemão Nacional-Socialista na Argentina, Brasil e Chile frente às comunidades alemãs: 1933-1939 - parte 01
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