Segue abaixo a resenha do livro "Mussolini e a ascensão do fascismo", lançado em português em 2009, um livro importante pra compreender o fascismo como movimento e a chegada do mesmo ao poder na Itália.
Como muita gente melindra com a palavra nazismo ao invés de tentar entender o assunto (infelizmente essa é a reação mais frequente que a gente se depara na web brasileira, uma reação que satura e aborrece pela repetição, independente das pessoas se darem conta disso), acaba soterrando (deixando em segundo plano) a origem do fascismo na Itália e o impacto desse movimento nos outros fascismos europeus e do mundo (caso do Integralismo no Brasil) na primeira metade do século XX, e como esta corrente política influencia até hoje os grupos de extrema-direita de cunho fascista. É um livro importante pra entender a ascensão do Fascismo na Itália, o movimento precursor da segunda guerra mundial e que ajudou a modelar o nazismo (fascismo alemão).
Mussolini e a ascensão do fascismo
Sassoon, Donald. Mussolini e a ascensão do fascismo. Trad. Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Agir, 2009.
por: Andreza Maynard*
A Editora Agir lançou no Brasil o livro “Mussolini e a ascensão do fascismo”, escrito pelo egípcio Donald Sassoon. O trabalho aborda as condições que permitiram ao fascismo ter projeção nacional e fazer do seu líder o primeiro-ministro da Itália, em 1922. A despeito disso, Sassoon destaca que não ocorrem milagres na história real, e se Benito Mussolini chegou ao poder isso dependeu das oportunidades oferecidas pela própria história. O livro discute como o Duce chegou ao poder, pois de acordo com o autor a ascensão do fascismo era uma possibilidade, poderia ter acontecido ou não.
O primeiro ponto abordado pela obra foi o discurso largamente difundido de que o fascismo italiano estava destinado a tomar o poder pela violência. Tese rebatida por Sassoon. Segundo este, o Duce jurou fidelidade ao rei e à constituição, e sua chegada ao poder foi legal. Percebendo que o poder estava ao seu alcance, Mussolini traçou um plano e estabeleceu vínculos com forças políticas e sociais a exemplo dos industriais, da monarquia e da Igreja. Mussolini demonstrou respeito pelas instituições e isso supostamente confirmava que ele seria capaz de manter os camisas negras sob controle. Apesar disso Sasson afirma que as velhas elites e intelectuais lhe desprezavam a origem humilde, a retórica populista e rude, mas por outro lado eles reconheciam que o Duce podia conter a esquerda e os sindicatos. Os socialistas eram vistos como problema social, não os fascistas.
Sassoon acredita que Mussolini não teria chegado ao poder de outra forma, pois no episódio da marcha sobre Roma, em outubro de 1922, a tropa dos fascistas não era forte o suficiente, os camisas negras e mesmo Mussolini poderia ter sido detido a qualquer momento, Roma estava bem guardada e o exército controlava o avanço dos fascistas sobre a cidade. Para o autor, a marcha sobre Roma teria sido apenas uma encenação simbólica para marcar a chegada do Duce ao poder, um mito fundador do novo sistema político.
A participação dos italianos na 1ª Guerra Mundial foi, na opinião do autor, o fator mais decisivo na ascensão do fascismo. A experiência acabou fornecendo uma consciência nacional para a Itália. O país havia se mantido neutro até decidir lutar ao lado da França e Inglaterra, em troca de benefícios que não chegaram. Isso fez que a Itália se sentisse traída. E as expectativas em torno da guerra continuaram a ser discutidas pelos italianos após o fim do conflito, inclusive entre aqueles que lutaram e que não viram seu esforço reconhecido pelo país. No entanto os motivos da insatisfação dos veteranos e a relação destes com o Duce poderiam ter sido mais explorados no texto.
O autor indica que embora Mussolini fosse um político diferente devido a sua origem humilde, sua participação na 1ª guerra como um simples soldado, seu carisma, seu rompimento com os socialistas em favor de um caráter cada vez mais nacionalista, o Duce não era uma liderança forte. No início de 1919 Mussolini não tinha um partido e seu único instrumento político era o jornal Il Popolo d’Italia. Em 23 de março de 1919 menos de 200 pessoas se reuniram na Piazza San Sepolcro em Milão para lançar o movimento fascista. O acesso deste homem ao mais alto escalão do poder na Itália não seria justificado apenas por seus méritos individuais.
A obra tenta mostrar que a crise política foi outro fator que possibilitou a vitória dos fascistas. Os nacionalistas consideravam que a nação se dividia no parlamento. As eleições de 1919 mostraram a vitória dos socialistas e católicos, que não se uniam, piorando a situação política do país. De acordo com Sassoon, o principal objetivo dos representantes eleitos era conseguir recursos do governo para distribuir entre seus seguidores. No segundo semestre de 1920 o fascismo ainda ocupava uma posição marginal, até que Mussolini se uniu ao influente político italiano Giovanni Giolitti. Em maio de 1921 Giolitti legitimou os fascistas, incluindo-os em sua lista eleitoral, o bloco nazionale. O político astuto acreditava que os fascistas eram fogo de palha e o parlamento precisava de maioria. Além disso, parecia impossível conter a violência fascista, tarefa que cabia a Mussolini. As classes médias, por sua vez, não amavam a democracia e os fascistas ganhavam popularidade, inclusive entre os habitantes do meio rural e estudantes.
Sassoon acredita que a crise política italiana favoreceu a imagem conciliatória ostentada pelos fascistas. No início de 1922 as lideranças católicas e socialistas continuavam se recusando a estabelecer uma aliança nacional. Os liberais não conseguiam mudar o país, já que sua única preocupação era se manter no poder. Por outro lado, o partido fascista recebia grande número de adesões e parecia evidente que eles deveriam se aproximar do Estado para fortalecê-lo, ou substituí-lo. Mussolini fez o que julgou necessário e assumiu a responsabilidade pela violência. Mas durante o governo fascista a Itália era mantida sob controle. Nomeado 1º ministro, Mussolini exibiu a imagem de um homem firme e decidido. Seu governo atingiu maioria incomum, deixando apenas a esquerda de fora.
Combinando violência e procedimentos legais, os inimigos do fascismo eram eliminados, espancados ou presos. A falta de resistências a tais práticas causou espanto aos próprios fascistas. E quando o 1º ministro Luigui Facta preparou o decreto instituindo o estado de sítio e impondo a lei marcial, o rei Vitor Emanuel III não assinou o documento. Ao invés disso convidou Mussolini para formar um novo governo, em outubro de 1922.
Ninguém deu muita atenção quando Mussolini fundou seu movimento em 1919, mas em fins de 1922 o Duce tornou-se forte demais para ser ignorado. Segundo Sassoon, a opinião pública liberal e as elites sabiam que era necessário negociar com os fascistas. E entre as opções que tinha o rei escolheu Mussolini, que ao contrário dos socialistas, fez questão de sinalizar favoravelmente à monarquia.
Sassoon realizou um trabalho de fôlego ao mostrar que a Itália se revelou um Estado fracassado e que não podia ser governado à maneira tradicional. Em meio à crise dos anos 20 os italianos desejavam paz e o fascismo oferecia uma saída: a violência. Esta se justificava pela existência de um estado fraco e caótico. A análise realizada sob um prisma social e político parece ter discutido pouco as relações entre Mussolini, os fascistas e as classes menos elitizadas da sociedade. As querelas entre os políticos que integravam o parlamento são abordadas com maiores detalhes que a relação entre os camisas negras e os proprietários de terra, ou entre Mussolini e os veteranos da 1ª guerra.
As discussões apresentadas são pertinentes por tratarem de um sistema político que difundiu ideias que se tornaram populares no mundo até a 2ª guerra mundial. O trabalho destaca aspectos importantes da sociedade italiana, seus problemas e necessidades, e de que maneira isso possibilitou aos fascistas chegarem ao poder de forma quase heroica.
* (Mestre em História pela UFPE, Coordenadora da Especialização em Ensino de História da Faculdade São Luís de França, membro do GET/UFS – Grupo de Estudos do Tempo Presente).
MAYNARD, Andreza. RESENHA - SASSOON, David. Mussolini e a ascensão do fascismo. Rio de Janeiro: Revista Eletrônica Boletim do TEMPO, Ano 4, Nº 24, Rio, 2009 [ISSN 1981-3384]
Fonte: site da Revista Eletrônica Tempo Presente
http://www.tempopresente.org/index.php?option=com_content&view=article&id=5115:resenha-mussolini-e-a-ascensao-do-fascismo&catid=13&Itemid=129
5 comentários:
Desculpem perguntar, pois talvez não seja o post apropriado. Gostaria de saber se os membros do blog debatem com os revisionistas ou se acham melhor evitar discutir com eles.
"Desculpem perguntar, pois talvez não seja o post apropriado. Gostaria de saber se os membros do blog debatem com os revisionistas ou se acham melhor evitar discutir com eles."
João, fique à vontade pra discutir e perguntar, não há nenhum problema aqui com isso. Os posts (não sei se viu) que fiz criticando alguns postantes por fazerem um "leva-e-traz" de briga com "revis" praqui foi algo à parte.
Isso se deu porque esse pessoal, ao invés de postar de forma mais séria usando o perfil normal pra defender suas posições, na verdade estavam trazendo brigas pessoais com esses "revis" pra meter a gente no meio da briga pessoal, e em briga pessoal eu não me meto, pois isso não é querela política, quando uma suposta disputa política vira algo pessoal apenas, acabou qualquer discussão. E era o que estavam fazendo.
Muitas vezes parece que estou falando com o "vento" ou alguma "entidade fantasma" nos posts, criticando "seres invisíveis", mas é por conta dessa postura desse pessoal se esconder com fakes, embora leiam o que é postado aqui (pra malhar, de preferência).
Eu discuto com "revis", sem problema, a questão é que não vejo sentido em ir nas malocas deles (refiro-me aos "revis" brasileiros) pois eles só ficam por lá protegidos (por medo) e podem apagar a discussão quando bem quiserem, manipulando o "debate".
Faziam isso no Orkut direto, manipular discussão e explorar o pânico de algumas pessoas contrárias a eles que mordiam a isca e iam bater boca com eles sem perceber que estavam sendo feitos de idiotas, até porque a maioria que ia discutir com eles era saco de pancada desses caras.
Os "revis" nos baniam mas mantinham esse pessoal cordial ("bonzinho") com eles pra alimentar discussão nas comunidades "revis" do Orkut e as manterem "vivas", em evidência. Fazem o mesmo aí na web, ou faziam, já que teve site "sumindo" sem muita explicação.
O mesmo grupo "revi" que circulou no Orkut é a maioria que circula nesses blogs na web (dos poucos que sobraram).
Tentarei ser direto, eu acho que só deve ir discutir com eles quem pelo menos sabe rebater as baboseiras desses caras. Se for aquele pessoal "bem intencionado" que toma toco fácil, é melhor passar longe pois vão servir de "sparring" desses caras.
Se esse pessoal que acaba virando "sparring" de "revi" acha que irá dobrá-los via convencimento e sentimentalismo, podem desistir disso, a posição desses caras sobre fascismo, ódio a judeus etc é algo arraigado, bem definido, é tolice do povo que adota essa postura "sentimental", achando que eles irão "ter pena" se forem com discurso amistoso, que irão sensibilizar e mudar a posição desse tipo de radical de direita
E o pior é que você pode falar mil vezes a mesma coisa que esse pessoal ignora o que você diz e vai lá servir de saco de pancadas (sparring) dessa fascistada. Por isso que nem discuto mais com quem adota esse tipo de postura. Se querem dar uma de "porta" ignorando o que a gente diz, então a postura a adotar com eles será a mesma.
É algo tão equivocado que quando eu disse que não tomaria partido nessas querelas avulsas, e que deixassem esse pessoal se "pegar" sozinhos, continuaram tentando conduzir a gente, via exaustão, a discutir com eles.
Mas mantive a posição inicial e ela estava correta, a maioria desses sites sumiram. Se alguém fosse lá bater boca daria munição (ódio) pra esse pessoal ficar enchendo o saco.
A maioria desses "revis" brasileiros são fracos se comparar com os "revis" de fora, e isso não é um elogio aos "revis" de fora, é só constatação. Esses "revis" brasileiros (e também os de Portugal) não detém um conhecimento razoável sobre segunda guerra.
O "apogeu" (por assim dizer, quando o assunto saiu mais na mídia) deles foi o Orkut, que finalmente acabou. Se eles querem fazer uma revolução fascista via internet, com esse discurso ridículo (sem base), é caso de cretinice aguda.
Tratar isso da mesma forma que um grupo de extrema-direita organizado estrangeiro, é dar publicidade em excesso a esses caras sem ponderar sobre o poder real deles e sobre os tipos de extremismo político no país como o fomentado pela mídia brasileira (parte dela).
Há outro problema que, por conta do espaço, não deu pra citar acima.
Costuma rolar divergências pesadas políticas entre as pessoas que são contrárias a esses grupos "revis". Há os que são de esquerda e os que são de direita. E com a radicalização política do país, provocada pela mídia corporativa, a coisa chegou a um ponto de que cada um fique "na sua" porque se rolar discussão partidária vai sair briga.
Há também a questão israelense. A maioria aqui não aprova a conduta de Israel e o pessoal de direita faz vista grossa à posição israelense. Em outros países dá até pra ter discussão sobre isso, mas no Brasil, sem chance. Nível de radicalismo desse pessoal de direita chegou num patamar insuportável.
Os de direita geralmente são sectários com os de esquerda, o que provoca automaticamente uma rejeição da outra parte, até porque ninguém é obrigado a aturar o pessoal que chega repetindo essas maluquices conspiracionistas que espalham pela web e outras distorções.
Sua pergunta foi oportuna pois a gente fica com certas coisas entaladas justamente porque quando a gente critica isso pode notar que não aparece "um" pra vir discutir, mas certamente não gostam.
Eu não discuto com "revis" com um sectário de direita por perto enchendo o saco e misturando Oriente Médio com Holocausto e "revisionismo". No Orkut isso aparecia muito e a gente até "relevava", mas aqui não dá.
Eu não costumava adotar essa postura mais "radical" com a esse pessoal, mas depois de algumas posturas que vi e não concordo (no Orkut e pela web), com sectário eu não discuto mais a não ser se for pra rebater como os "revis".
Não vejo sentido em radical de direita ficar discutindo com outro radical de direita só por esse ser fascistoide e antissemita. Ou seja, se o radicalzinho não fosse antissemita e fascista, "tava tudo bem" pra facção que se diz "liberal-conservadora", e não é por aí.
Pra virem com baboseira de Olavo de Carvalho e afins (Revista Veja e esse tipo de entulho panfletário, com tinturas de teoria da conspiração), é melhor eles levarem as teorias da conspiração a sério pois estão no mesmo nível disso.
Voltando ao assunto inicial, a maioria dos "revis" correm daqui. Já sugeri fórum neutro pra eles e eles não foram (porque têm medo de discussão). Se quisessem teriam ido.
Poucos foram os "revis" que vieram aqui discutir, dois integralistas e dois de Portugal que eu lembro (um que só fazia trollar e dar uma de "autista" e o outro que perdeu a calma e saiu xingando e obviamente leu comentários não muito "amistosos" como resposta).
O resto se esconde ou passa longe bradando "valentia" nas malocas deles.
Roberto,
agradeço os esclarecimentos e concordo com o que exposto por vocês. Cheguei a ver no orkut algumas das coisas que você mencionou, principalmente em uma comunidade de historia cheia de fakes e revisionistas.
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