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quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Espanha financiou ditadura argentina de Videla

Foto: Jorge Rafael Videla e o rei Juan Carlos da Espanha
Jornal afirma que o governo da Espanha financiou a ditadura argentina de Videla

"Arquivos secretos revelam que o rei Juan Carlos da Espanha, banqueiros e os principais funcionários do governo de Suárez assinaram acordos econômicos milionários com o sangrento regime argentino", indica o diário espanhol Público

A Espanha financiou a ditadura argentina de Jorge Rafael Videla, segundo publicou hoje o diário espanhol Público, que mostra arquivos secretos dos acordos assinados pelo rei Juan Carlos, banqueiros e funcionários do governo de Adolfo Suárez.

O rei Juan Carlos disse ao embaixador argentino na Espanha, Leandro Enrique Anaya, em 1976 que "A Espanha estava no melhor estado anímico para realizar operações comerciais e financeiras com a República Argentina", segundo os arquivos em poder do jornal Publico.

Quatro dias depois da reunião entre Anaya e o rei, a Argentina anunciava a assinatura de um convênio com a Espanha para retomar a venda de carne, paralisada há seis anos.

Além disso, segundo o Público, o então ministro da Economia argentino, José Alfredo Martínez de Hoz, e o ministro de Comércio espanhol, José Lladó, assinaram nesse mesmo ano um documento pelo qual ambos os estados concordavam em "pôr em prática um programa de cooperação econômica e financeira".

Por este acordo, a Espanha venderia a Argentina "bens de equipamentos, barcos com características especiais, dragas e outros elementos flutuantes, assim como equipamentos de carga e descarga para portos, locomotivas e demais materiais ferroviários e outros equipamentos e instalações industriais" por um valor total de 290 milhões de dólares. Fonte (ANSA).

Ver as notas completas em:
España financió a la dictadura de Videla
La dictadura de Videla y España intercambiaron apoyos, medallas y regalos
Los documentos secretos de los acuerdos comerciales de España con la dictadura de Videla
Los documentos secretos del intercambio de apoyos y condecoraciones de España con la dictadura de Videla

Fonte: Elonce.com
http://www.elonce.com/secciones/nacionales/390226-diario-afirma-que-el-gobierno-de-espaa-financi-la-dictadura-argentina-de-videla.htm
Tradução: Roberto Lucena
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Observação: o texto traduzido acima foi curto, embora conste os links do jornal Público (da Espanha) com todos os detalhes e os documentos que revelam todo o conteúdo das matérias. Tem texto melhor resumido nos links abaixo, caso alguém tenha interesse em ler (em espanhol), com citação do falecido dono do Santander, como neste trecho aqui:
Arquivos secretos revelam que o rei Juan Carlos, os principais funcionários do governo de Adolfo Suárez, e banqueiros como Emilio Botín (Santander) assinaram acordos econômicos milionários que engrossaram os cofres do governo militar, cujo plano de extermínio requeria centenas de milhares de dólares.
Extraído daqui: Los documentos que prueban que España financió la dictadura (Info News)

Ler mais aqui:
Revelan documentos que probarían cómo España financió a la dictadura de Videla (Clarín)
La España del Rey Juan Carlos financió a la dictadura argentina que encabezaba Videla (La Gaceta)

Como eu não cheguei a olhar (e por isso não posso afirmar, mas é algo que sempre aparece em destaque), não vi destaque algum no jornal El País sobre este assunto. O El País é (ainda) o principal jornal da Espanha, mas também comete os mesmos erros da mídia 'partidarizada' do Brasil, principalmente quando falam atualmente no Brasil.

O Público é um jornal com viés de esquerda na Espanha, mas na questão da memória histórica ele sempre faz muitas matérias sobre a ditadura franquista com muita informação.

Acho curioso que um colunista deste jornal El País (que tem uma edição em português agora), além dos comentários com 'certo' tom ofensivo e raso (por repetir o senso comum de certo público no Brasil sobre o país, sem profundidade alguma e cheio de estereótipos, que não mereceria nem comentário se a mídia idiotizada do Brasil não reproduzisse as baboseiras dele como "algo sério" pra justificar covardemente suas aversões ao próprio país), muitas vezes comparar a Espanha pós-Franco com o Brasil (ou usar isso como parâmetro), ignorando a História e potencial de cada país (e dimensões).

É algo que sempre constrange (pelos erros que ele comete) a atitude dele, quando a única coisa comparável nos dois países é o grau de irracionalidade/fanatismo, estupidez, autoritarismo, submissão/entreguismo da direita desses dois países e o completo desprezo das elites da Espanha e do Brasil (ou de parte delas) pelo próprio povo. Por sinal, essa semelhança bizarra é uma das coisas que mais tem chamado minha atenção sobre a Espanha, e em parte por eu ter lido muita coisa da história daquele país, que em termos históricos é um país rico, mas com histórias não muito gloriosas pro próprio povo pelo caráter elitista, autoritário, retrógrado, religioso extremado e de pouca visão da elite daquele país.

Queria ver o que ele teria a dizer desse "primor" de "valores democráticos" da Monarquia espanhola ajudando uma das ditaduras mais sangrentas do continente americano no século XX, já que vive dando pitaco ou sugerindo pra "brasileiros agirem assim e assado" quando deveria olhar mais pras falhas autoritárias do seu próprio país, que não é um modelo de democracia como ele costuma "exaltar". Isso pra não entrar em detalhes sobre a história do "desenvolvimento" da Espanha pós-Franco.

1. A quem achar estranho a razão deste meu comentário acima sobre o jornal, ler este post aqui. Eu disse que não iria 'aliviar' nas críticas por conta da hostilidade do jornal. Vejam pelo seguinte ângulo: é um escárnio um jornal estrangeiro vir a outro país ficar se intrometendo e sugerindo, com tom arrogante, de como o povo deve agir, com matérias partidárias em prol de determinado partido em período eleitoral. Não dá pra simplesmente ser cordial com um comportamento imperialista (apesar da falta de relevância militar e cultural da Espanha com o Brasil), grosseiro e hostil desses. Mas sou justo, eu também critico outras publicações (pelo mesmo motivo), mas o tom hostil deste jornal chama atenção.

2. A quem achar estranho o assunto "ditadura argentina", ler este outro post aqui. Não lembro se detalhei nele (acho que não), ou em algum outro post perdido que, em virtude do desconhecimento profundo de boa parte das pessoas sobre a história do país, isso abre caminho fértil pro negacionismo e outros tipos de "revisionismos". A ditadura no país vizinho deve ser lida até pra se ter dimensão sobre todo processo de implementação de ditaduras na América do Sul que não foi algo isolado (restrito ao Brasil).

Voltando ao que discutíamos... infelizmente, uma parte dos brasileiros é muito ingênua e padece daquele velho "complexo de vira-latas" de achar que tudo fora é "perfeito" e tudo no Brasil é ruim, ou que o comentário de um colunista desses é "bom" por ser "de fora" quando idiotice nunca foi "privilégio" de brasileiros, o que acaba incentivando esse tipo de postura hostil desses cronistas de fora. Ou desses brasileiros acharem tolamente que todo e qualquer jornal é um "poço de isenção"/"neutralidade" (crer nisso é algo que beira a idiotice) e seriedade.

Em outras palavras, essas pessoas por não saberem confrontar o problema da intromissão jornalística externa, por sua submissão em demasia, acabam incentivando esse tipo de comportamento hostil desses "colunistas" e jornais, e isto gera atritos, pois nem todo brasileiro compartilha deste sentimento de submissão e parte, inevitavelmente, pro revide. Ou seja, quem costuma criar esse tipo de atrito quase sempre é a turma do "complexo de vira-latas" submissa, com suas desculpas ridículas e esfarrapadas pra justificar os atos hostis e não a parte que revida. A parte que revida é tão somente consequência do problema, nunca a origem do mesmo.

Quero deixar claro que qualquer pessoa pode emitir crítica sobre qualquer país, sociedade etc, não existe país especial que ninguém não possa opinar ou criticar, o Brasil incluso, só que ao se fazer críticas pelo menos deveriam fazê-las com mais precisão e seriedade, sem estereótipos, sem que o comentário soe como pitaco, chute ou mesmo agressões, principalmente quando se trata de uma postura vinda da própria imprensa.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Resenha: Mussolini e a ascensão do fascismo (livro)

Segue abaixo a resenha do livro "Mussolini e a ascensão do fascismo", lançado em português em 2009, um livro importante pra compreender o fascismo como movimento e a chegada do mesmo ao poder na Itália.

Como muita gente melindra com a palavra nazismo ao invés de tentar entender o assunto (infelizmente essa é a reação mais frequente que a gente se depara na web brasileira, uma reação que satura e aborrece pela repetição, independente das pessoas se darem conta disso), acaba soterrando (deixando em segundo plano) a origem do fascismo na Itália e o impacto desse movimento nos outros fascismos europeus e do mundo (caso do Integralismo no Brasil) na primeira metade do século XX, e como esta corrente política influencia até hoje os grupos de extrema-direita de cunho fascista. É um livro importante pra entender a ascensão do Fascismo na Itália, o movimento precursor da segunda guerra mundial e que ajudou a modelar o nazismo (fascismo alemão).

Mussolini e a ascensão do fascismo
Sassoon, Donald. Mussolini e a ascensão do fascismo. Trad. Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Agir, 2009.

por: Andreza Maynard*

A Editora Agir lançou no Brasil o livro “Mussolini e a ascensão do fascismo”, escrito pelo egípcio Donald Sassoon. O trabalho aborda as condições que permitiram ao fascismo ter projeção nacional e fazer do seu líder o primeiro-ministro da Itália, em 1922. A despeito disso, Sassoon destaca que não ocorrem milagres na história real, e se Benito Mussolini chegou ao poder isso dependeu das oportunidades oferecidas pela própria história. O livro discute como o Duce chegou ao poder, pois de acordo com o autor a ascensão do fascismo era uma possibilidade, poderia ter acontecido ou não.

O primeiro ponto abordado pela obra foi o discurso largamente difundido de que o fascismo italiano estava destinado a tomar o poder pela violência. Tese rebatida por Sassoon. Segundo este, o Duce jurou fidelidade ao rei e à constituição, e sua chegada ao poder foi legal. Percebendo que o poder estava ao seu alcance, Mussolini traçou um plano e estabeleceu vínculos com forças políticas e sociais a exemplo dos industriais, da monarquia e da Igreja. Mussolini demonstrou respeito pelas instituições e isso supostamente confirmava que ele seria capaz de manter os camisas negras sob controle. Apesar disso Sasson afirma que as velhas elites e intelectuais lhe desprezavam a origem humilde, a retórica populista e rude, mas por outro lado eles reconheciam que o Duce podia conter a esquerda e os sindicatos. Os socialistas eram vistos como problema social, não os fascistas.

Sassoon acredita que Mussolini não teria chegado ao poder de outra forma, pois no episódio da marcha sobre Roma, em outubro de 1922, a tropa dos fascistas não era forte o suficiente, os camisas negras e mesmo Mussolini poderia ter sido detido a qualquer momento, Roma estava bem guardada e o exército controlava o avanço dos fascistas sobre a cidade. Para o autor, a marcha sobre Roma teria sido apenas uma encenação simbólica para marcar a chegada do Duce ao poder, um mito fundador do novo sistema político.

A participação dos italianos na 1ª Guerra Mundial foi, na opinião do autor, o fator mais decisivo na ascensão do fascismo. A experiência acabou fornecendo uma consciência nacional para a Itália. O país havia se mantido neutro até decidir lutar ao lado da França e Inglaterra, em troca de benefícios que não chegaram. Isso fez que a Itália se sentisse traída. E as expectativas em torno da guerra continuaram a ser discutidas pelos italianos após o fim do conflito, inclusive entre aqueles que lutaram e que não viram seu esforço reconhecido pelo país. No entanto os motivos da insatisfação dos veteranos e a relação destes com o Duce poderiam ter sido mais explorados no texto.

O autor indica que embora Mussolini fosse um político diferente devido a sua origem humilde, sua participação na 1ª guerra como um simples soldado, seu carisma, seu rompimento com os socialistas em favor de um caráter cada vez mais nacionalista, o Duce não era uma liderança forte. No início de 1919 Mussolini não tinha um partido e seu único instrumento político era o jornal Il Popolo d’Italia. Em 23 de março de 1919 menos de 200 pessoas se reuniram na Piazza San Sepolcro em Milão para lançar o movimento fascista. O acesso deste homem ao mais alto escalão do poder na Itália não seria justificado apenas por seus méritos individuais.

A obra tenta mostrar que a crise política foi outro fator que possibilitou a vitória dos fascistas. Os nacionalistas consideravam que a nação se dividia no parlamento. As eleições de 1919 mostraram a vitória dos socialistas e católicos, que não se uniam, piorando a situação política do país. De acordo com Sassoon, o principal objetivo dos representantes eleitos era conseguir recursos do governo para distribuir entre seus seguidores. No segundo semestre de 1920 o fascismo ainda ocupava uma posição marginal, até que Mussolini se uniu ao influente político italiano Giovanni Giolitti. Em maio de 1921 Giolitti legitimou os fascistas, incluindo-os em sua lista eleitoral, o bloco nazionale. O político astuto acreditava que os fascistas eram fogo de palha e o parlamento precisava de maioria. Além disso, parecia impossível conter a violência fascista, tarefa que cabia a Mussolini. As classes médias, por sua vez, não amavam a democracia e os fascistas ganhavam popularidade, inclusive entre os habitantes do meio rural e estudantes.

Sassoon acredita que a crise política italiana favoreceu a imagem conciliatória ostentada pelos fascistas. No início de 1922 as lideranças católicas e socialistas continuavam se recusando a estabelecer uma aliança nacional. Os liberais não conseguiam mudar o país, já que sua única preocupação era se manter no poder. Por outro lado, o partido fascista recebia grande número de adesões e parecia evidente que eles deveriam se aproximar do Estado para fortalecê-lo, ou substituí-lo. Mussolini fez o que julgou necessário e assumiu a responsabilidade pela violência. Mas durante o governo fascista a Itália era mantida sob controle. Nomeado 1º ministro, Mussolini exibiu a imagem de um homem firme e decidido. Seu governo atingiu maioria incomum, deixando apenas a esquerda de fora.

Combinando violência e procedimentos legais, os inimigos do fascismo eram eliminados, espancados ou presos. A falta de resistências a tais práticas causou espanto aos próprios fascistas. E quando o 1º ministro Luigui Facta preparou o decreto instituindo o estado de sítio e impondo a lei marcial, o rei Vitor Emanuel III não assinou o documento. Ao invés disso convidou Mussolini para formar um novo governo, em outubro de 1922.

Ninguém deu muita atenção quando Mussolini fundou seu movimento em 1919, mas em fins de 1922 o Duce tornou-se forte demais para ser ignorado. Segundo Sassoon, a opinião pública liberal e as elites sabiam que era necessário negociar com os fascistas. E entre as opções que tinha o rei escolheu Mussolini, que ao contrário dos socialistas, fez questão de sinalizar favoravelmente à monarquia.

Sassoon realizou um trabalho de fôlego ao mostrar que a Itália se revelou um Estado fracassado e que não podia ser governado à maneira tradicional. Em meio à crise dos anos 20 os italianos desejavam paz e o fascismo oferecia uma saída: a violência. Esta se justificava pela existência de um estado fraco e caótico. A análise realizada sob um prisma social e político parece ter discutido pouco as relações entre Mussolini, os fascistas e as classes menos elitizadas da sociedade. As querelas entre os políticos que integravam o parlamento são abordadas com maiores detalhes que a relação entre os camisas negras e os proprietários de terra, ou entre Mussolini e os veteranos da 1ª guerra.

As discussões apresentadas são pertinentes por tratarem de um sistema político que difundiu ideias que se tornaram populares no mundo até a 2ª guerra mundial. O trabalho destaca aspectos importantes da sociedade italiana, seus problemas e necessidades, e de que maneira isso possibilitou aos fascistas chegarem ao poder de forma quase heroica.

* (Mestre em História pela UFPE, Coordenadora da Especialização em Ensino de História da Faculdade São Luís de França, membro do GET/UFS – Grupo de Estudos do Tempo Presente).

MAYNARD, Andreza. RESENHA - SASSOON, David. Mussolini e a ascensão do fascismo. Rio de Janeiro: Revista Eletrônica Boletim do TEMPO, Ano 4, Nº 24, Rio, 2009 [ISSN 1981-3384]

Fonte: site da Revista Eletrônica Tempo Presente
http://www.tempopresente.org/index.php?option=com_content&view=article&id=5115:resenha-mussolini-e-a-ascensao-do-fascismo&catid=13&Itemid=129

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