segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Poloneses: Vítimas da Era Nazista, 1933-1945

Poloneses: Vítimas da Era Nazista

Durante a II Guerra Mundial, a Polônia sofreu muito sob cinco anos de ocupação alemã. A ideologia nazista via os "poloneses" - a maioria étnica predominantemente católica romana - como "sub-humanos", ocupando terras vitais à Alemanha. Como parte da política de destruir a resistência polonesa, os alemães mataram muitos dos líderes políticos, religiosos e intelectuais nacionais. Eles também sequestraram crianças julgadas racialmente adequadas para adoção por alemães e confinaram poloneses em dúzias de prisões e campos de concentração e trabalhos forçados, onde muitos pereceram.

A INVASÃO E OCUPAÇÃO DA POLÔNIA

As forças alemãs invadiram a Polônia em 1º de setembro de 1939. Soldados poloneses lutaram bravamente apesar, de diante de forças muito melhor equipadas, com violentos combates ao redor de Varsóvia. Sem comida e água, a capital assediada rendeu-se em 27 de setembro, e a luta do exército regular polonês terminou no início de outubro.

O pretexto de Hitler para expansão militar no sentido leste era a "necessidade" de mais Lebensraum, "espaço vital", para a nação alemã. Na véspera da invasão, diz-se que ele afirmou numa reunião de altos oficiais:
"Eu dei a ordem, e eu mandarei executar por pelotão de fuzilamento qualquer um que disser uma só palavra de crítica, que nosso propósito na guerra não consiste em alcançar certas linhas, mas na destruição do inimigo. Por essa razão, eu posicionei minhas formações Totenkopf em prontidão - por enquanto só no leste - com ordens para mandar para a morte sem piedade e sem compaixão, homens, mulheres e crianças de origem e língua polonesa. Só assim nós ganharemos o espaço vital de que necessitamos."
Em 1939, a Alemanha anexou diretamente a região fronteiriça oeste e norte da Polônia, terras disputadas onde muitos alemães étnicos (Volksdeutsche) residiam. Em contraste, as áreas mais amplas, central e sul, foram dispostas num "Governo Geral" separado, que era governado pelo administrador civil alemão Hans Frank. Cracóvia tornou-se a capital do Governo Geral, enquanto os alemães planejavam transformar a capital polonesa de Varsóvia numa cidade atrasada. Depois que a Alemanha invadiu a União Soviética em 1941, a Alemanha também capturou a parte oriental da Polônia. (Este território havia sido invadido e ocupado pelos soviéticos em setembro de 1939, de acordo com o Pacto Germano-Soviético de Não-Agressão de Agosto de 1939, que dividiu a Polônia entre a Alemanha e a União Soviética.)

Um aspecto da política alemã na Polônia conquistada propunha-se a prevenir que sua população etnicamente diversa se unisse contra a Alemanha. "Nós precisamos dividir [os muitos grupos étnicos diferentes da Polônia] em tantas partes e grupos menores quanto possível", escreveu Heinrich Himmler, chefe da SS, em um memorando altamente confidencial, "O Tratamento de Estranhos Raciais no Leste", datado de 25 de maio de 1940. De acordo com o censo de 1931 por língua, 69% da população que totalizava 35 milhões de habitantes falavam polonês como sua língua materna. (A maioria deles eram católicos romanos). Quinze por cento eram ucranianos, 8,5% judeus, 4,7% bielo-russos, e 2,2% Alemães. Cerca de três quartos da população eram camponeses ou trabalhadores agrícolas, e outro quinto, trabalhadores industriais. A Polônia tinha uma pequena classe média e alta de profissionais, empreendedores e proprietários
rurais bem instruída.

Em contraste com a política genocida nazista que se dirigia a todos os 3,3 milhões de homens, mulheres e crianças judias da Polônia, os planos nazistas para a maioria católica polonesa apontava no assassinato ou supressão de líderes políticos, religiosos e intelectuais. Esta política tinha dois objetivos: primeiro, evitar que as elites polonesas organizassem resistência ou mesmo reagrupassem numa classe governante; segundo, explorar a falta de líderes da Polônia, a maioria de camponeses e operários menos instruídos como trabalhadores não especializados na agricultura e
indústria.

TERROR CONTRA A INTELIGÊNCIA E O CLERO

Durante a invasão alemã de 1939 contra a Polônia, esquadrões de ações especiais da SS e da polícia (os Einsatzgruppen) foram posicionados na retaguarda, prendendo ou matando os civis que eram pegos resistindo aos alemães ou considerados capazes de fazê-lo conforme determinado pela sua posição ou status social. Dezenas de milhares de proprietários ricos, clérigos, e membros das inteligências das autoridades governamentais, professores, médicos, dentistas, oficiais, jornalistas, e outros (tanto poloneses quanto judeus) - eram ou assassinados em execuções em massa ou enviados para prisões e campos de concentração. Unidades do exército alemão e forças de "autodefesa" compostas de Volksdeutsche também participavam nas execuções de civis. Em muitos casos, essas execuções eram ações de represália que consideravam comunidades inteiras coletivamente responsáveis pela morte de alemães.

Durante o verão de 1940, a SS capturou membros da inteligência no Governo Geral. Nessa chamada Ação A-B (Operação Extraordinária de Pacificação), vários milhares de professores universitários, professores, padres, e outros foram fuzilados. Os assassinatos em massa ocorreram do lado de fora de Varsóvia, na floresta Kampinos próxima a Palmiry, e dentro da cidade na prisão Pawiak.

Como parte de esforços mais amplos para destruir a cultura polonesas, os alemães fecharam e destruíram universidades, escolas, museus, bibliotecas, e laboratórios científicos. Eles demoliram centenas de monumentos a heróis nacionais. Para prevenir o nascimento e uma nova geração de poloneses educados, funcionários alemães decretaram que o sistema escolar para crianças polonesas terminasse alguns anos após o curso primário. "O único objetivo desse sistema escolar é ensiná-los aritmética simples, nada acima do número 500; escrever o próprio nome; e a doutrina de que é lei
divina obedecer aos alemães. . . . Eu não acho que ler é desejável", escreveu Himmler em seu memorando de maio de 1940.

Nas terras anexadas, o objetivo dos nazistas era a completa "germanização" para assimilar os territórios política, cultural, social e economicamente dentro do Reich alemão. Eles aplicaram esta política mais rigorosamente nos territórios ocidentais incorporados - o chamado Warthegau. Lá, os alemães fecharam até mesmo escolas primárias onde o polonês era a linguagem de ensino. Eles renomearam ruas e cidades de tal forma que Lodz tornara-se Litzmannstadt, por exemplo. Eles também capturaram dezenas de milhares de empresas polonesas, de grandes firmas industriais a pequenas lojas, sem pagamento aos proprietários. Avisos postados em locais públicos alertavam "Entrada proibida para poloneses, judeus e cães."

A Igreja Católica Romana foi suprimida em toda a Polônia porque, historicamente, ela havia levado forças nacionalistas polonesas a lutar pela independência da Polônia contra o domínio externo. Os alemães tratavam a Igreja mais duramente nas regiões anexadas, enquanto fechavam sistematicamente igrejas nesses locais; a maioria dos padres foram mortos, presos ou deportados para o Governo Geral. Os alemães também fecharam seminários e conventos, perseguindo monges e freiras. Entre 1939 e 1945, calcula-se que 3.000 membros do clero polonês foram mortos; destes, 1.992 morreram em campos de concentração, 787 deles em Dachau.

EXPULSÕES E SEQUESTRO DE CRIANÇAS

A germanização das terras anexadas também incluía um programa ambicioso para reassentar alemães do Báltico e outras regiões em fazendas e outras moradias antes ocupadas por poloneses e judeus. Desde outubro de 1939, a SS começou a expulsar poloneses e judeus do Warthegau e do corredor de Dantzig e transportá-los para o Governo Geral. Pelo final de 1940, a SS havia expulsado 325.000 pessoas sem aviso e saqueado suas propriedades e pertences. Muitos idosos e crianças morreram durante a viagem ou em campos de passagem provisórios, tais como os das cidades de Potulice, Smukal e Torun. Em 1941, os alemães expulsaram mais 45.000 pessoas, mas eles reduziram o programa depois da invasão da União Soviética no final de junho de 1941. Trens usados para o reassentamento foram necessitados com urgência para o transporte de soldados e suprimentos para o front.

No final de 1942 e em 1943, a SS também executou expulsões maciças no Governo Geral, arrancando 110.000 poloneses de 300 vilarejos na região de Zamosc-Lublin. Famílias foram destruídas enquanto adolescentes e adultos fisicamente sadios eram levados para trabalhos forçados e velhos, jovens e pessoas incapacitadas eram movidos para outras localidades. Dezenas de milhares também eram aprisionados nos campos de concentração de Auschwitz ou Majdanek.

Durante as expulsões de Zamosc, os alemães tiraram muitas crianças de seus pais para serem racialmente avaliados para possível adoção por pais alemães no programa SS Lebensborn ("Fonte de Vida"). Nada menos que 4.454 crianças escolhidas para germanização receberam nomes alemães, foram proibidas de falar polonês, e reeducadas em outras instituições SS ou nazistas, onde muitas morreram de fome e doenças. Poucas viram seus pais novamente. Um número maior de crianças foram rejeitadas como inadequadas para germanização depois de não passarem nos critérios dos cientistas raciais para estabelecer uma ancestralidade "ariana"; elas foram mandados para lares infantis ou mortas, algumas delas em Auschwitz, através de injeções de fenol. Um total calculado em 50.000 crianças foram sequestradas na Polônia, a maioria levadas de orfanatos e lares adotivos nos territórios anexados. Crianças nascidas de mães polonesas deportadas para Alemanha como trabalhadoras rurais e industriais também eram normalmente tiradas de suas mães e submetidas à germanização. (Se um exame do pai e da mãe sugerisse que uma criança "racialmente valiosa" não poderia resultar da união, o aborto era compulsório.)

As expulsões de Zamosc motivaram intensa resistência enquanto os poloneses começavam a temer que eles fossem sofrer o mesmo destino dos judeus - deportação sistemática para campos de extermínio. Ataques contra colonos alemães étnicos por membros da resistência polonesa, cujas fileiras estavam cheias de camponeses ameaçados, por sua vez, provocaram execuções em massa ou outras formas de terror alemão.

Através da ocupação, os alemães aplicaram uma política de retaliação dura, numa tentativa de destruir a resistência. Enquanto a resistência polonesa tornava-se mais forte em 1943 depois da derrota alemã em Stalingrado, esforços de represália alemã degringolavam-se. Os alemães destruíram dezenas de vilarejos, matando homens, mulheres e crianças. Execuções públicas por enforcamento ou fuzilamento em Varsóvia e outras cidades ocorriam diariamente. Durante a guerra, os alemães destruíram no mínimo 300 vilarejos na Polônia.

TRABALHO FORÇADO E O TERROR DOS CAMPOS

Entre 1939 e 1945, pelo menos 1,5 milhões de cidadãos poloneses foram transportados para o Reich para trabalhar, a maioria deles contra a própria vontade. Muitos eram garotos e garotas adolescentes. Embora a Alemanha também usasse trabalhadores forçados da Europa Ocidental, os poloneses, junto com outros europeus orientais vistos como inferiores, eram submetidos a medidas discriminatórias especialmente brutais. Eles eram forçados a usar a letra "P" púrpura identificadora em suas roupas, eram submetidos a um toque de recolher, e proibidos no transporte público. Enquanto o real tratamento combinado a trabalhadores braçais de fábricas ou fazendas muitas vezes variasse dependendo de cada empregador, trabalhadores poloneses como via de regra eram forçados a trabalhar mais tempo por menores salários que os trabalhadores europeus, e em muitas cidades eles viviam em alojamentos segregados atrás de arame farpado. Relações sociais com alemães fora do trabalho eram proibidas, e relações sexuais com eles eram considerados como "profanação racial", punível com morte. Durante a guerra, centenas de homens poloneses foram executados por suas relações com mulheres alemãs.

Poloneses foram prisioneiros em quase todos os campos no amplo sistema de campos na Polônia ocupada pelos alemães e no Reich. Um importante complexo de campos em Stutthof, a leste de Dantzig, existiu de 2 de setembro de 1939 até o final da guerra, e estima-se que 20.000 poloneses lá morreram como resultado de execuções, trabalhos pesados, e condições duras. Auschwitz (Oswiecim) tornou-se o principal campo de concentração para poloneses depois da chegada naquele local, em 14 de junho de 1940, de 728 homens transportados de uma prisão superlotada em Tarnow. Em março de 1941, 10.900 prisioneiros foram registrados no campo, a maioria deles poloneses.
Em setembro de 1941, 200 prisioneiros doentes, a maioria deles poloneses, junto com 650 prisioneiros soviéticos de guerra, foram mortos nos primeiros experimentos com gás em Auschwitz. A partir de 1942, a população carcerária de Auschwitz tornou-se muito mais diversificada, enquanto judeus e outros "inimigos de estado" de todas as regiões da Europa ocupada eram deportados para o campo.

O estudioso polonês Franciszek Piper, historiador chefe de Auschwitz, estima que de 140.000 a 150.000 poloneses foram trazidos para aquele campo entre 1940 e 1945, e que de 70.000 a 75.000 lá morreram como vítimas de execuções, de experimentos médicos cruéis, e de fome e doenças. Cerca de 100.000 poloneses foram deportados para Majdanek, e dezenas de milhares deles morreram naquele local. Estima-se que 20.000 poloneses morreram em Sachsenhausen, 20.000 em Gross-Rosen, 30.000 em Mauthausen, 17.000 em Neuengamme, 10.000 em Dachau, e 17.000 em Ravensbrück. Além disso, vítimas totalizando dezenas de milhares foram executadas ou morreram nos milhares de outros campos - incluindo-se os campos especiais para crianças, tais como Lodz e seu subcampo, Dzierzazn - e em prisões e outros locais de detenção dentro e fora da Polônia.

RESISTÊNCIA POLONESA

Em resposta à ocupação alemã, os poloneses organizaram um dos maiores movimentos de resistência na Europa, com mais de 300 grupos e subgrupos políticos e militares amplamente apoiados. Apesar da derrota militar, o próprio governo polonês nunca se rendera. Em 1940, um governo polonês no exílio passou a basear-se em Londres. Grupos de resistência dentro da Polônia estabeleceram tribunais clandestinos para julgar colaboradores e outros e escolas clandestinas em resposta ao fechamento pelos alemães de muitas instituições educacionais. As universidades de Varsóvia, Cracóvia e Lvov operavam todas clandestinamente. Oficiais do exército regular polonês lideraram uma força armada clandestina, o "Exército Nacional" (Armia Krajowa-AK). Depois de atividades organizacionais preliminares, incluindo o treinamento de combatentes e esconderijo de armamentos, o AK ativou unidades guerrilheiras em muitas partes da Polônia em 1943. Um movimento clandestino comunista, a "Guarda do Povo" (Gwardia Ludowa), também foi formada em 1942, mas sua força militar e influência eram comparativamente fracas.

Com a aproximação iminente do exército soviético, o AK lançou uma revolta em Varsóvia contra o exército alemão em 1º de agosto de 1944. Depois de 63 dias de luta encarniçada, os alemães debelaram a insurreição. O exército soviético forneceu pouca assistência aos poloneses. Cerca de 250.000 poloneses, a maioria deles civis, perderam suas vidas. Os alemães deportaram centenas de milhares de homens, mulheres e crianças para campos de concentração. Muitos outros foram transportados para o Reich para trabalhos forçados. Agindo sob ordens de Hitler, as forças alemãs reduziram a cidade a escombros, ampliando em muito a destruição iniciada durante a supressão da revolta armada anterior dos combatentes judeus, que resistiram à deportação do Gueto de Varsóvia em abril de 1943.

CONCLUSÃO

O terror nazista foi, nas palavras do estudioso Norman Davie, "muito mais agressivo e mais duradouro na Polônia do que em qualquer outro lugar na Europa". Estatísticas confiáveis sobre o total de poloneses que morreram como resultado das políticas nazistas alemãs não existem. Muitos outros foram vítimas da ocupação soviética de 1939-1941 na Polônia oriental e de deportações para a Ásia Central e Sibéria. Os registros estão incompletos, e o controle soviético da Polônia por 50 anos depois da guerra impediram pesquisas independentes.

As mudanças de fronteiras e composição étnica da Polônia, assim como as vastas movimentações populacionais durante e depois da guerra, também complicaram a tarefa de calcular perdas.

No passado, muitas estimativas de perdas foram baseadas num relatório polonês de 1947 demandando reparações dos alemães; este documento citado com frequência conferia perdas populacionais de 6 milhões para todos os "nacionais" poloneses (Poloneses, judeus e outras minorias). Subtraindo-se 3 milhões de vítimas judaicas, o relatório alegava 3 milhões de não-judeus vítimas do terror nazista, incluindo perdas civis e militares da guerra.

A documentação continua fragmentada, mas hoje estudiosos da Polônia independente acreditam que de 1,8 a 1,9 milhão de civis poloneses(não-judeus) foram vítimas das políticas de ocupação alemã e da guerra. Este total aproximado inclui poloneses mortos em execuções ou que morreram em prisões, trabalhos forçados e campos de concentração. Também inclui um número estimado de 225.000 vítimas civis da revolta de Varsóvia de 1944, mais de 50.000 civis que morreram durante a invasão de 1939 e do cerco a Varsóvia, e um número relativamente pequeno mas desconhecido de civis mortos durante a campanha militar aliada de 1944-45 para libertar a Polônia.

Fonte: site do USHMM
Link novo: http://www.ushmm.org/learn/students/learning-materials-and-resources/poles-victims-of-the-nazi-era
Link alternativo: https://fcit.usf.edu/holocaust/PEOPLE/USHMMPOL.HTM
Link velho: http://www.ushmm.org/education/resource/poles/poles.php?menu=/export/home/www/doc_root/education/foreducators/include/menu.txt&bgcolor=CD9544
Título original: Poles: Victims of the Nazi Era, 1933-1945
Tradução: Marcelo Oliveira
http://br.groups.yahoo.com/group/Holocausto-Doc/message/6256

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