segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Uma questão polêmica - beatificação de Pio XII

Bento XVI quer que Pio XII seja beatificado

CIDADE DO VATICANO (AFP) - O papa Bento XVI expressou nesta quinta-feira seu desejo de que Pio XII seja beatificado, durante uma missa no Vaticano em memória do falecido chefe da Igreja católica há 50 anos, uma figura historicamente controvertida por sua atitude frente ao extermínio dos judeus.

O Papa, que celebrou uma missa por 50º aniversário da morte de Pio XII, não disse, no entanto, quando assinará o decreto que abre caminho para a beatificação.

O processo de beatificação de Pio XII (1938-1958) foi aberto na década de 60 pelo Vaticano, sem que até agora tenha obtido resultados.

"O Papa ainda não assinou esse decreto porque considera oportuno que haja um tempo de reflexão", explicou o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi.

Bento XVI declarou, em sua homilia, que Pio XII sempre atuou "de maneira secreta e silenciosa porque, à luz das situações concretas desse momento histórico complexo, teve a intuição de que era o único meio de poder evitar o pior e salvar o maior número possível de judeus".

O Sumo Pontífice lamentou que o debate histórico sobre Pio XII "ainda não tenha sido sereno".

"Ele foi corajoso e paciente durante seu ministério pontifício, que transcorreu nos árduos anos do segundo conflito mundial e período seguinte, não menos complexo, da reconstrução e das difíceis relações internacionais, conhecido como 'Guerra Fria'", afirmou o Papa.

Esta semana o jornal do Vaticano, L'Osservatore Romano, dedicou um editorial e dois grandes artigos ao pontífice que liderou a Igreja Católica de 1939 a 1958, para combater a "lenda negra" da qual foi vítima depois de ter sido taxado de "insensível ante o Holocausto e favorável aos nazistas".

"A História absolverá Pio XII", escreveu o editorialista e historiador italiano Paolo Mieli, que considera que o "papa Pacelli pagou por ser anticomunista".

O processo para a beatificação de Pio XII foi aberto na década de 60 pelo Vaticano, sem obter resultados até o momento.

A homilia do Papa era muito esperada pela comunidade judaica e representa uma espécie de desagravo às críticas feitas na segunda-feira no Vaticano pelo rabino de Haifa (Israel), principal religioso judeu convidado a fazer um pronunciamento durante o Sínodo de Bispos que é realizado no Palácio Apostólico.

O grande rabino de Haifa (Israel), Shear Yshuv Cohen, expressou as reservas de muitos judeus ante o processo de beatificação de Pio XII.

O rabino Shear Yshuv Cohen pediu que Pio XII "não seja tomado como modelo e não seja beatificado porque não ergueu sua voz contra o Holocausto", disse.

O Vaticano divulgou na segunda-feira um texto do cardeal Tarcisio Bertone, número dois da Santa Sé, no qual considera que é "profundamente injusto estender um véu oprobrioso sobre a obra de Pio XII, esquecendo o contexto histórico e seu enorme trabalho caritativo" em favor dos judeus.

Os defensores do Papa italiano evocam os planos elaborados pelo Vaticano ante os nazistas e atribuem a Pio XII todas as ações realizadas pelos religiosos para se opor às deportações de judeus.

O mesmo Bento XVI declarou no dia 18 de setembro que Pio XII "não economizou esforços" para salvar milhares de judeus do extermínio.

Bento XVI, de nacionalidade alemã, já havia assegurado em março passado que Pio XII havia sido um "dom" para o século XX porque "defendeu o povo alemão durante a grande catástrofe que a guerra representou".

Fonte: AFP
http://br.noticias.yahoo.com/s/afp/081009/mundo/vaticano_religi__o_papa

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