Ora, considerando que, segundo um dos estudos mais completos que existem sobre o assunto, só os Einsatzgruppen teriam abatido 2.200.000 de pessoas (judeus e não judeus), que unidades da Wehrmacht, das SS e da polícia também são acusadas de centos de milhares de assassinatos, e que – conforme já foi salientado – nem os soviéticos nem os polacos encontraram quaisquer valas em massa com sequer alguns poucos milhares de cadáveres, os 'Destacamentos Especiais 1005' devem ter exumado e queimado entre um milhão e meio e três milhões de corpos.
Questiono-me se a fonte de Mattogno, o estudo sobre os Einsatzgruppen publicado em 1981 pelos historiadores alemães H. Krausnick e Hans Heinrich Wilhelm, de facto atribuiu 2.200.000 mortes aos Einsatzgruppen, mas não é este o assunto de momento. O assunto é se a afirmação de Mattogno/Graf de que «nem os soviéticos nem os polacos encontraram valas em massa com sequer alguns poucos milhares de cadáveres» resiste à verificação.
A fim de averiguar isto, olhei para alguns relatórios de investigações soviéticas de locais de matanças que tenho à minha disposição. As partes pertinentes desses relatórios são traduzidas a seguir.
1. Extracto de O Veredicto do Povo: um relatório completo do procedimento nos julgamentos de atrocidades alemãs em Krasnodar e Kharkov– Ignatik Fedorovich Kladov; Ivan Fedorovich Kotomtsev, acusado; Reinhard Retzlaff, acusado; Wilhelm Langheld, acusado. (NY: 1943, 1944), páginas 110 – 111 (cortesia de Scott Smith, vide a minha mensagem de 20-Feb-2006 21:50 no fórum RODOH). Os destaques são meus:
Sessão da manhã, 17 de Dezembro de 1943.
Factos apurados pela Comissão de Peritos Médico-Legais:
"Em Kharkov e nas localidades circundantes os peritos médico-legais examinaram os locais dos crimes dos invasores fascistas alemães — os lugares onde estes efectuaram o extermínio de cidadãos soviéticos. Estes incluem o bloco queimado do hospital do exército, onde abateram e queimaram prisioneiros de guerra — pessoal do Exército Vermelho gravemente ferido; o local do fuzilamento em massa de pessoas saudáveis ou doentes, de crianças pequenas, adolescentes, pessoas jovens, homens e mulheres de idade no parque florestal de Sokolniki, perto da aldeia de Podvorki, na ravina de Dobritsky, e na colónia terapêutica de Strelechye. Nestes locais os peritos médico-legais examinaram as valas de sepultura e exumaram corpos de cidadãos soviéticos abatidos a tiro, envenenados, queimados ou de outra forma brutalmente exterminados.
"Os peritos médico-legais examinaram os lugares onde os invasores fascistas alemães queimaram corpos para destruir a evidência dos seus crimes — o envenenamento com monóxido de carbono. Este é o sítio da conflagração no terreno das barracas da fábrica de tractores de Kharkov. O exame dos terrenos onde os corpos foram queimados ou enterrados, o exame das valas de sepultura e das posições dos corpos dentro destas, e a comparação do material assim obtido com os dados do procedimento do Tribunal, dão razões para considerar que o número de corpos de cidadãos soviéticos chacinados em Kharkov e arredores chega às várias dezenas de milhares, enquanto o número de 33.000 cidadãos soviéticos indicado pelos acusados e algumas testemunhas é apenas uma aproximação e sem dúvida demasiado baixo.
"Nas 13 valas de sepultura abertas em Kharkov e na sua vizinhança imediata foi encontrado um grande número de cadáveres. Na maioria das valas os corpos estavam deitados de forma extremamente desordenada, entrelaçados uns com os outros de maneira fantástica, emaranhados de forma indescritível. Os corpos estavam deitados de tal forma que se pode afirmar que não foram enterrados nas valas comuns, mas amontoados ou arremessados para dentro das valas. Em duas valas no parque florestal de Sokolniki os corpos foram encontrados deitados em filas rectas, com os braços dobrados no cotovelo e as mãos apertadas contra as faces ou os pescoços. Todos os corpos tinham feridas de bala nas suas cabeças. A posição dos corpos não era acidental. Prova que as vítimas foram forçadas a deitar-se com a cara para baixo e abatidas nessa posição. Nas valas em que os corpos se encontravam e nos lugares onde os corpos tinham sido queimados, os peritos médico-legais encontraram artigos de uso diário e efeitos pessoais, tais como malas, sacos, facas, tachos, canecas, óculos, fitas para sujeitar malas de mão de senhora, etc. O facto revelado pela investigação — nomeadamente, que antes de serem assassinados os cidadãos soviéticos foram privados do seu calçado — é plenamente confirmado pelos exame médico-legal: durante as exumações os peritos, na maior parte dos casos, descobriram corpos nus ou seminus.
"A fim de certificar quais os cidadãos soviéticos exterminados e de que forma, os peritos exumaram e examinaram 1.047 corpos em Kharkov e arredores, incluindo os corpos de 19 crianças e adolescentes, 429 mulheres e 599 homens. A idade dos mortos ia dos dois até aos 70 anos. O facto de terem sido descobertos os corpos de crianças, adolescentes, mulheres e homens de idade nas valas de sepultura, bem como artigos de uso doméstico e efeitos pessoais nos corpos ou perto destes, prova que as autoridades fascistas alemãs exterminaram cidadãos soviéticos independentemente do sexo ou da idade. Por outro lado, o facto de nos corpos de homens jovens e de meia idade terem sido encontradas vestimentas de corte militar utilizadas no Exército Vermelho, bem como artigos de equipamento militar (tachos, canecas, cintos, etc.) é evidência de que se trata de prisioneiros de guerra soviéticos.
[…]
"Com base em todos os dados dos seus procedimentos no seu conjunto, os peritos médico-legais estabeleceram o seguinte:
"(a) Um grande número de locais de sepultura na cidade de Kharkov e nas suas imediações.
"(b) Um grande número de corpos nas valas de sepultura.
"(c) Que em várias valas os corpos foram enterrados em alturas diferentes.
"(d) Vários graus de preservação dos corpos nas mesmas valas.
"(e) Distinção dos corpos por sexo e idade.
"(f) Uniformidade dos métodos de extermínio de seres humanos.
"Consideramos o acima exposto como prova do extermínio em massa sistemático, metodicamente organizado, de civis e prisioneiros de guerra soviéticos.
"Perito médico-legal chefe do Comissariado do Povo para Protecção da Saúde da U.R.S.S., Director do Instituto Estatal de Pesquisa de Medicina Forense do Comissariado do Povo para Protecção da Saúde da U.R.S.S., Prozorovsky.
"Professor de Medicina Forense do Segundo Instituto Médico de Moscovo, Doutor de Ciências Médicas Smolyaninov.
"Cientista sénior do quadro do departamento tanatológico do Instituto Estatal de Pesquisa de Medicina Forense do Comissariado do Povo para Protecção da Saúde da U.R.S.S., Dr. Semenovsky.
"Perito médico-legal chefe do 69º Exército, major do Serviço Médico Gorodnichenko.
"Anatomista – patologista Major do Serviço Médico Yakusha.
"Após tradução do relatório dos factos apurados pelos peritos médico-legais para a língua alemã, o Presidente, Juiz Major-General Miasnikov, declarou concluídos os procedimentos do Tribunal."
2. Extracto do relatório de uma comissão investigadora soviética em Zhitomir, 5 a 16.02.1944
Fonte: Ernst Klee/ Willi Dreßen, »Gott mit uns« Der deutsche Vernichtungskrieg im Osten 1939-1945 (»Deus está connosco« A guerra de extermínio alemã no leste 1939-1945), páginas 31 e seguintes. Referência: processo de julgamento criminal da Alemanha Federal Js 4/65 GstA Frankfurt/Main, ficheiros russos, Volume 1. Segue-se a minha tradução do texto alemão, que por sua vez é uma tradução do original em língua russa.
[…]A comissão de peritos em medicina forense, composta pelo professor Voronyj Ju. e os médicos Stoliza, B., Iskra F.I., Skalkij M.N., na presença do Representante da Comissão Estatal Extraordinária, Candidato em Direito Vjel’nikov D.G, dos membros do Comité de Apoio Regional de Zhitomir, Reverendo Padre Feodot Tysljukjevich, Kharchenko, K.S., Coronel Shapovalov, Roshanchuk N.M., e um grande número de habitantes locais, estabeleceram que os ocupadores alemães fascistas e os seus ajudantes abateram a tiro habitantes locais nos seguintes lugares:
1) 500 metros a sul da fábrica de Dovshik, que se encontra na floresta a 10 quilómetros da cidade de Zhitomir, foram encontrados dois locais de fuzilamento e enterramento de cadáveres. Primeiro foram encontrados dois locais ao longo do caminho que conduz da estrada N.-Volynsk ao quilómetro 9 a partir da fábrica Dovshik. Foram encontradas seis sepulturas, das quais foram desenterrados 962 cadáveres humanos de ambos os sexos e várias idades. Logo, no caminho que conduz da fábrica até à estrada no quilómetro 8, foi encontrada uma área de dois hectares que estava vedada por arame com uma altura de três metros que tinha sido entrelaçado com grossos ramos de carvalho para impedir a vista de fora. Nesta área foram encontradas 13 sepulturas, com as medidas de 16 x 2 x 2,5 metros. Quando as sepulturas foram abertas encontrou-se um cadáver masculino, os restos de um cadáver parcialmente devorado pelo fogo e grande número de ossos humanos. Durante a exumação notava-se um forte cheiro a cadáveres.
As testemunhas presentes na exumação afirmaram que no local vistoriado cidadãos civis tinham sido abatidos e também enterrados no decurso dos anos 1941/42. Em Julho de 1943 esta área tinha sido vedada, e tinham sido colocados guardas. As testemunhas tinham observado que durante um mês tinha saído fumo do local vedado, que tinha um cheiro extremamente desagradável e se tinha espalhado de tal forma que ainda se lhe podia sentir nas casas da fábrica de Dovshik, a 500 – 600 metros do local.
A comissão de peritos em medicina forense chegou à conclusão de que na referida área tinham sido enterrados e logo desenterrados e queimados cadáveres humanos, em número não inferior a 20.000.
2) A sul da estrada de N.-Volynsk, a 8 quilómetros de Zhitomir, na floresta ao longo do caminho que conduz à aldeia de Barachevka, foram encontradas 28 sepulturas e duas valas descobertas. Quando se abriu as sepulturas foram encontrados 14.110 cadáveres. Foi encontrada uma sepultura inteira cheia de corpos que estavam completamente despidos. Numa das sepulturas foi encontrado o cadáver de uma mulher que tinha uma liga com uma grande cruz vermelha no seu braço. Uma grande parte dos corpos tinha as suas mãos atadas com arame ou tiras.[meu ênfase – RM] Numa das valas descobertas foram encontrados quatro cadáveres bem conservados, 3 homens e uma mulher. Nas roupas do cadáver masculino foram encontrados papéis com o nome de Vlassov, F.I., residente em Zhitomir, Proviantskaja 13/14. A esposa do homem morto, Sra. Vlassova A.C., afirmou que ele tinha sido detido pela Gestapo em Dezembro de 1943 sob suspeita de ter escondido judeus e guardado uma espingarda no seu apartamento.[…]
3. Extracto de um Comunicado da Comissão Estatal Extraordinária Soviética sobre a Liquidação de Prisioneiros de Guerra e Civis em Smolensk e Arredores de Julho de 1941 a Setembro de 1943 (minha tradução da tradução alemã do russo, que se encontra no livro de Paul Kohl, Der Krieg der deutschen Wehrmacht und der Polizei 1941 – 1944 (A guerra da Wehrmacht e da polícia alemãs 1941 – 1944), páginas 269 e seguintes)
[…]O material examinado, o número de cadáveres nas valas em massa abertas e o exame dos locais de valas em massa levam à conclusão de que nos locais examinados da cidade de Smolensk e seus arredores o número de cidadãos soviéticos que foram assassinados ou morreram durante a ocupação temporária alemã excede os 135.000. Este número distribui-se pelos vários locais como segue:
1. Na área da antiga estação de rádio de Smolensk junto à vila de
Gedeonowka cerca de 5 000 cadáveres
2. Na área das aldeias de Magalenchina e Vjasowenka 3 500 "
3. Na área do jardim de frutos e vegetais junto à aldeia de Readowka 3 000 "
4. Na área do jardim (de pinheiros) Pionerski 500 "
5. Na área da Casa do Exército Vermelho 1 500 "
6. Na área do grande campo de concentração 126 45 000 "
7. Na área do pequeno campo de concentração 126 15 000 "
8. Na área de Medgorodka 1 500 "
9. Na área da aldeia de Jassenaja 1 000 "
10. Na área do antigo hospital alemão para prisioneiros de guerra e da residência de estudantes da Universidade de Medicina, Avenida Roslawl 30 000 "
11. Na área da serralharia e da fábrica de licores 500 "
12. Na área do campo de concentração junto à aldeia de Petcherskaja 16 000 "
13. Na área da aldeia de Rakitnja 2 500 "
14. Na área da fábrica de aviões 35 à volta da estação ferroviária de Krasny
Bor, do terreno estatal Passowa, da aldeia de Alexandrovskaja, do aqueduto, dos estabelecimentos de Serebrjanka e Dubrovenka 12 000 cadáveres
São estes apenas três de entre os muitos locais de matança investigados pelos soviéticos (segundo o livro de Alan Bullock Hitler and Stalin. Parallel Lives., Londres 1993, página 818 e seguintes, os documentos reunidos pela Comissão Soviética para Investigação dos Crimes Alemães abrangem cerca de dois milhões de páginas), e o relatório soviético sobre cada um destes locais desmente a afirmação de Mattogno/Graf de que «nem os soviéticos nem os polacos encontraram valas em massa com sequer alguns poucos milhares de cadáveres», uma vez que a primeira fonte aponta para, no mínimo, 33.000 corpos na área de Kharkov, a segunda para 14.110 corpos «a sul da estrada N.-Volynsk, a 8 quilómetros de Zhitomir» e a terceira para mais de 135.000 corpos encontrados em valas em massa na área de Smolensk.
É certo que os relatórios soviéticos acima citados podem estar afectados por exageros, tais como os que salienta o historiador alemão Christian Gerlach, a respeito de valas em massa na área de Minsk na Bielorússia, no seu livro Kalkulierte Morde, do qual foram tirados os seguintes extractos.
Nota de rodapé 1471 na página 770 (minha tradução)
O número e o tamanho das valas em massa não é bem claro; apenas algumas foram abertas. Geralmente o seu número em Blagovshchina é dado como sendo de 34 (Rübe e Heuser falaram em 15-18, vide interrogatório referido na nota anterior), das quais, contudo, e contrariamente à descrição de Kohl, página 97, apenas algumas tinham até 50 metros de comprimento, em vez de todas terem tido um comprimento de 60 metros. O seu volume, portanto, era consideravelmente inferior do que 25.000 metros cúbicos (os quais, considerando um máximo de 6 corpos por metro cúbico, teriam correspondido a até 150.000 pessoas chacinadas), mas não pode ser indicado exactamente. Até o tamanho original das valas em massa dificilmente podia ser determinado já em 1944, uma vez que o Destacamento Especial 1005 tinha efectuado trabalhos de terra com máquinas de construção. Vide "A Evidência Recolhida em Minsk", Documento de Nuremberga USSR-38, Arquivos Federais em Freiburg 16030; dados sobre Trostinets no Arquivo Central do Estado em Minsk 845-I-62, páginas 1-48, especialmente página 1, e interrogatório sem data de W.A. Buzewich, páginas 27-32; Acta da Cidade de Minsk datada de 13.08.1944, Arquivos Especiais Moscovo 1525-1-1473, páginas 309-316, ver também: Beluga (editor), páginas 224-226.
Nota de rodapé 1472 nas páginas 770/771 (minha tradução)
Havia um número de outros locais de extermínio nas redondezas de Minsk. Além das sepulturas de Glinishchi no noroeste com cerca de 66.000 e em Urechye com cerca de 12.500 (oficialmente 30.000) prisioneiros de guerra destruídos havia a vala de Drosdy (10.000 mortos civis) e as sepulturas de Petrashkevichi (14.000 a 20.000 mortos civis; oficialmente 25.000 segundo uma fonte, 54.000 segundo outra) e em Tuchinka, no cemitério judaico, no parque cultural, etc. Vide supra e Kohl, nota 132, páginas 264 e seguintes. As referidas diferenças entre a minha estimativa e as cifras oficiais resultam parcialmente – não sempre – das medidas das valas em massa, desde que conhecidas. Relativamente a outros locais de matança em Minsk vide Kohl, páginas 77-90; Schlootz, página 75; interrogatório de Eberhard Herf em 26.12.1945, ZStl 202 AR-Z 184/67, Volume 1, página 67.
Páginas 852 e seguintes (minha tradução)
Na área de Minsk o maior fuzilamento de prisioneiros de guerra soviéticos em solo bielorusso teve lugar em Janeiro de 1943. Segundo os depoimentos de várias testemunhas, especialmente o executor alemão Alois Heterich, o 3º Batalhão do Regimento de Infantaria 595 foi descarregado em Minsk em Janeiro de 1943 durante o transporte da 327ª Divisão de Infantaria para Krasnodar, e tinha ordem para abater 10.000 pessoas, na sua maioria prisioneiros de guerra do campo na estação de comboios de mercadoria, a alguns quilómetros de distância, durante três noites no fim de Janeiro e início de Fevereiro de 1943. Só o pelotão de Heterich terá executado 1.500 pessoas. Alegadamente houve mais chacinas em massa com camiões de gaseamento nos próximos dias. As vítimas (entre elas, segundo o resultado da exumação, também um número reduzido de civis, incluindo mulheres) foram abatidas com um tiro na nuca e portavam uniformes das forças blindadas soviéticas. O número de mortos na vala em massa de Urechye, 6 quilómetros a leste de Minsk, que as autoridades soviéticas estimaram em 30.000 tendo em conta os depoimentos de testemunhas, era de 12.500 segundo a descrição das valas em massa. [Nota de rodapé: Havia 10 valas em massa com uma área de 24 por 5 metros, onde os corpos foram encontrados em três filas e sete camadas uns encima dos outros. Vide Acta de 13.8.1944, Cidade de Minsk, Arquivo Especial Moscovo 1525-I-473, páginas 309-316; "A Evidência Recolhida em Minsk", Documento de Nuremberga USSR-38, Arquivos Federais em Freiburg 16030.
No entanto, mesmo as estimativas mais baixas que Gerlach faz do conteúdo das valas em massa que menciona ainda apontam para muito mais do que apenas alguns poucos milhares de corpos em cada uma destas valas.
Portanto, será que os relatórios de investigação soviéticos são necessariamente tão inexactos, ou até fraudulentos, como Mattogno/Graf gostariam que fossem?
Uma forma de estabelecer isto consiste em comparar os relatórios soviéticos sobre um dado local de chacina em massa com outra evidência relativa às matanças naquele local, à qual os soviéticos não tinham acesso ou sobre a qual não tinham influência.
Considere-se, por exemplo, a descrição dos corpos nas valas em massa de Kharkov, na primeira das fontes acima citadas:
Nas 13 valas de sepultura abertas em Kharkov e na sua vizinhança imediata foi encontrado um grande número de cadáveres. Na maioria das valas os corpos estavam deitados de forma extremamente desordenada, entrelaçados uns com os outros de maneira fantástica, emaranhados de forma indescritível. Os corpos estavam deitados de tal forma que se pode afirmar que não foram enterrados nas valas comuns, mas amontoados ou arremessados para dentro das valas. Em duas valas no parque florestal de Sokolniki os corpos foram encontrados deitados em filas rectas, com os braços dobrados no cotovelo e as mãos apertadas contra as faces ou os pescoços. Todos os corpos tinham feridas de bala nas suas cabeças. A posição dos corpos não era acidental. Prova que as vítimas foram forçadas a deitar-se com a cara para baixo e abatidas nessa posição.
Aquilo que a comissão considerou provado dada à posição dos corpos, i.e. que as vítimas tinham sido forçadas a deitar-se face abaixo e abatidas nessa posição, também resulta aparente dos depoimentos de dois participantes nas execuções à volta de Kharkov (Karl G., antigo membro do batalhão de polícia 314, e Viktor T., antigo membro do destacamento especial Sonderkommando 4 a) perante autoridades de justiça penal da República Federal Alemã na década de 1960, cuja transcrição e tradução para inglês se encontram na minha mensagem de 25-Jul-2005 11:01 no fórum RODOH. Segue-se a tradução para português:
Karl G.
Os judeus tiveram que se despir e deitar-se junto à aberturas no solo ou dentro das mesmas. As aberturas eram naturais e não valas contra tanques ou outras escavações. Nestas valas of judeus foram abatidos a tiro pelo SD [Sicherheitsdienst – Serviço de Segurança, n.d.t.].
Viktor T.
Recebi ordens de juntar-me ao destacamento de execução. O destacamento de execução, composto por 10 homens, entrou na abertura que ia cerca de 20 metros para dentro da montanha. Os judeus foram conduzidos para dentro em grupos de 20-25 pessoas e tiveram que deitar-se no solo. Foram abatidos com disparos na nuca de pistolas–metralhadoras.
Outra convergência existe entre o número de judeus executado na chamada "Ravina Drobizk" perto de Kharkov segundo a Acta da Comissão Estatal Extraordinária Para A Cidade de Kharkov Para Investigar os Crimes Lá Cometidos, e o número que resulta do depoimento de Phillip F., antigo membro da 297ª Divisão de Infantaria, em 23 de Marco de 1961 perante a Procuradoria da Cidade de Hamburgo. Ambas fontes também são citadas na minha mensagem no fórum RODOH atrás referida. Segue-se a tradução para português:
Acta da Comissão Estatal Extraordinária Para A Cidade de Kharkov Para Investigar os Crimes Lá Cometidos
[...]Segundo dados incompletos, nos meses de Dezembro de 1941 e Janeiro de 1942, perto das fábricas de Rogan, a 8 quilómetros de Kharkov, na chamada "Ravina Drobizk", foram abatidos a tiro mais de 15.000 judeus, habitantes da cidade de Kharkov. Estes crimes monstruosos contra a população pacífica são confirmados pelos depoimentos de testemunhas, o relatório de medicina forense e outro material documental. [...]
Em 14 de Dezembro de 1941 o comandante militar alemão da cidade de Kharkov emitiu uma ordem segundo a qual toda a população judaica devia trasladar-se para a periferia da cidade dentro de dois dias, para as barracas das instalações de uma fábrica de máquinas. Na ordem constava que as pessoas que não obedecessem esta ordem seriam abatidas. Assim, alguns dias depois uma multidão de muitos milhares de pessoas idosas, mulheres e crianças se deslocava através das ruas da cidade em direcção ao local de realojamento. Uma vez que era proibido andar pela cidade depois das 16ºº horas, mas muitos daqueles a serem realojados ainda estavam a caminho nessa altura, o movimento parou. Estas pessoas passaram a noite na rua, sob o frio glacial. Devido a isto muitos morreram já no caminho. [...]
Depoimento de Phillip F.
[...] Foi em meados de Dezembro de 1941, quando passei várias semanas em Kharkov. Ainda me lembro exactamente que foi no dia 15.12.1941 que vi em Kharkov como uma procissão de vários quilómetros de comprimento, de judeus em longas filas com carros de mão e bagagem, se movia da cidade para leste em direcção à fábrica de tractores. A fábrica de tractores se encontra a cerca de 15 quilómetros do centro da cidade. Entre os judeus havia homens, mulheres e crianças. Alguns carros eram puxados por pequenos cavalos que às vezes caíam sob o peso. Encima dos carros havia às vezes crianças pequenas, mulheres e pessoas doentes, sentados na bagagem. O frio era de cerca de 15 graus (centígrados) abaixo de zero. Vi os judeus a passar durante uma hora inteira, e ainda a procissão não terminava. Estimo o número de judeus que nesse dias foram conduzidos de Kharkov para a fábrica de tractores em cerca de 15.000 pessoas.
Ainda me lembro que a procissão estava segredada e guardada por homens de uniforme. Já não consigo lembrar-me, contudo, se estes eram membros das SS ou polícias auxiliares ucranianos de uniforme. Não observei nenhuns maus tratos aos judeus durante este processo. Quando no próxima dia conduzi com o meu carro de Kharkov para Tshugev, utilizei a mesma estrada que os judeus tinham utilizado no dia anterior. À direita e à esquerda da estrada vi várias vezes cadáveres que eram da procissão dos judeus. Não posso dizer se estes judeus tinham morrido de maus tratos ou sido abatidos a tiro, ou se tinham sucumbido à exaustão. Os cadáveres estavam lá abandonados e ninguém se preocupava com eles.
A razão pela qual sei exactamente que os judeus foram conduzidos à fábrica de tractores em 15.12.41 é que naquela altura havia cartazes em língua alemã e russa pendurados em todo lado na cidade, em que os judeus eram chamados a reunir-se num certo local da cidade a fim de serem levados para fora. Já não me lembro qual foi o serviço que colocou esses cartazes. Mas ainda lembro exactamente que os cartazes referiam o dia 15.12.1941 como sendo o dia da congregação. [...]
As ênfases nas citações supra são minhas e destacam as semelhanças entre a informação contida nestas duas fontes, que são tão independentes uma da outra como os depoimentos de Karl G. e Viktor T. são independentes do relatório dos Factos apurados pela Comissão de Peritos Médico-Legais, acima citado, relativamente às valas em massa na área de Kharkov. Estas convergências tornam improvável a hipótese de que as comissões de investigação soviéticas tenham manipulado os seus relatórios, e as duas fotografias relativas à "Drobitski Yar perto de Kharkov" mostradas na minha mensagem de 25-Jul-2005 11:01 no fórum RODOH reforçam a conclusão de que, ao menos neste caso, os soviéticos não recorreram a uma alegada prática manipulativa da qual Mattogno/Graf os acusam nas páginas 218 e seguintes do seu livro, a de fotografar um número relativamente reduzido de corpos encontrados num local de matança desde vários ângulos por forma a criar a impressão de que o número de corpos encontrados era muito maior. (Não faz sentido, por acaso, tomar o número de corpos fotografados como indicação do número de corpos encontrados. É difícil ter havido uma investigação de chacina em massa mais publicitada e utilizada para efeitos de propaganda do que a investigação alemã da massacre soviética de prisioneiros de guerra polacos em Katyn, e no entanto estas fotografias, que parecem ser a maior parte das 80 fotografias que, segundo Mattogno, acompanhavam o relatório de investigação dos nazis, parecem mostrar no máximo algumas poucas centenas dos cerca de 4.000 corpos encontrados.)
No que respeita às valas em massa na área de Minsk mencionadas por Gerlach, quem duvidar que houve matanças com dezenas de milhares de vítimas naquela área durante a ocupação alemã apenas precisa de ler o memorando secreto datado de 31 de Julho de 1942, enviado por Kube, o governador comissionado da Ruténia Branca, para o Gauleiter Hinrich Lohse, governador comissionado dos Territórios Orientais, ou a tradução daquele documento apresentada, junto com outra evidência, no julgamento das Einsatzgruppen em Nuremberga. As chacinas em massa na área de Minsk não estavam de forma alguma concluídas quando aquele memorando foi escrito.
No que respeita ao relatório da comissão de investigação soviética na área de Zhitomir, a evidência independente corroborativa de que tenho conhecimento – e que abrange apenas uma parte do período de ocupação nazi naquela área – provém dos Relatórios de Situação Operacional URSS dos Einsatzgruppen, em que se basearam as alegações adiante traduzidas, incluídas na acusação do "Caso dos Einsatzgruppen" em Nuremberga:
(A) Durante o período de 22 de Junho de 1941 a 3 de Novembro de 1941, nos arredores de Zhitomir, Novo Ukrainka e Kiev, o Einsatzgruppe C assassinou mais de 75.000 judeus.
(B) Em 19 de Setembro de 1941, em Zhitomir, o Einsatzgruppe C assassinou 3.145 judeus e confiscou a sua roupa e objectos de valor.
(C) Durante o período de 22 de Junho de 1941 a 29 de Julho de 1941, nos arredores de Zhitomir, o Sonderkommando 4a assassinou 2.531 pessoas.
Relativamente às valas em massa na área de Smolensk, mencionadas pela Comissão Estatal Extraordinária soviética, desafortunadamente não tenho à minha disposição evidência independente das investigações soviéticas que permita sequer a verificação por alto da exactidão dos dados soviéticos que fiz nos outros casos, fora do que sei em geral, principalmente através de fontes alemãs utilizadas pelos historiadores Christian Streit e Christian Gerlach, sobre o tratamento que os nazis deram aos prisioneiros de guerra soviéticos, que perfaziam uma grande parte das vítimas encontradas na área de Smolensk.
Penso que, a fim de fazer uma avaliação mais ou menos fiável do grau em que os relatórios das comissões soviéticas sobre a investigação de locais de matança nazis podem ser considerados fiáveis, seria necessário comparar os respectivos relatórios de investigação soviéticos com evidência independente dos mesmos relativamente ao maior número possível de locais de matança nazis. Este tipo de trabalho de pesquisa histórica – do qual o artigo de Nick Terry, Mass Graves in the Polesie [tradução para português], é um brilhante exemplo – não é, desde logo, o que se pode esperar de pessoas como Mattogno & Graf, que parecem felizes em concluir, com base num um único alegado exemplo (o do campo de Osarichi, discutido nas páginas 218 e seguintes do seu livro; no que respeita a Babi Yar fazem uma barafunda ridícula, seguida por uma conclusão non-sequitur do tipo "poderiam ter feito, deveriam ter feito, portanto teriam feito" derivada do facto de os soviéticos terem publicado fotografias da escassa evidência física que sobreviveu à operação de encobrimento dos nazis), que os relatórios de investigação soviéticos em geral tendem a enfermar de manipulações e conter cifras e outras conclusões baseadas em pouca ou nenhuma evidência.
Como era de esperar neste contexto, Mattogno/Graf vêem manipulações não apenas do lado soviético, mas também do lado dos próprios assassinos nazis, que supostamente exageraram desmedidamente o tamanho das suas massacres e até inventaram algumas. Mattogno/Graf fazem tais alegações não apenas em relação a Babi Yar (vide os artigos de Sergey Romanov a este respeito ou as respectivas traduções para português: Porque é negação e não revisionismo, Partes III a IV: negadores e o massacre de Babiy Yar III(1), IV (2), V (3), VI (4) ), mas também (páginas 223 e seguintes) no que respeita ao massacre de 5.090 judeus pelo Einsatzkommando 3 em Marijampole em 1 de Setembro de 1941 (partilhando assim a vergonha da pesquisa desleixada de Germar Rudolf, salientada no artigo de Sergey Romanov Deniers and the graves of Marijampole (tradução para português: Porque é negação e não revisionismo. Parte II: negadores e as valas de Marijampole)) e o massacre de 10.000 a 12.000 judeus em Simferopol (páginas 210 e seguintes). A última destas alegações, em relação à qual Mattogno cita o advogado de defesa de Manstein, Reginald T. Paget, é abordada no meu artigo The Simferopol Massacres [versão em português].
[Tradução adaptada do meu artigo Neither the Soviets nor the Poles have found any mass graves with even only a few thousand bodies … no blog Holocaust Controversies]
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