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quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Restos humanos vistos por jornalistas norte-americanos em Klooga e Babi Yar

Em 6 de outubro de 1944, o New York Times publicou este relatório de Klooga, que havia sido arquivado por WH Lawrence quatro dias antes. O relatório começa assim:
Klooga, Estônia, 02 de out. (atrasado) Foi mostrada a correspondentes estrangeiros hoje o cenário das execuções alemãs em 19 de setembro - um ato que demonstrou conclusivamente que os alemães estão em uma retira de grande escala e são capazes de matar a sangue frio, mesmo quando isto não servirá para muita coisa, em caso de objetivos militares.

Aqui no campo de trabalho nazista de Klooga, construído originalmente para abrigar os últimos sobreviventes do Gueto de Vilna, vi e contei partes reconhecíveis de 438 corpos completos e parcialmente queimados de homens, mulheres e crianças, incluindo uma criança que não poderia ter mais de três meses de idade, mas cujo crânio havia sido quebrado por uma bala e que estava nos braços de sua mãe morta no frio, um país desolado no meio de uma floresta de pinheiros. Vi três enormes piras funerárias que primeiro foram construídos com troncos de pinheiro por prisioneiros, cujos captores, em seguida, atiraram neles e queimaram seus corpos. Perto dessas pilhas, agora quase completamente reduzidas a cinzas, contei partes reconhecíveis de pelo menos 215 corpos, e um número desconhecido de outros esqueletos que foram reduzidos a cinzas de ossos por um grande incêndio ocorrido pela queima de toras de pinheiros e corpos embebidos em gasolina. Num campo próximo... estavam os corpos de uma dúzia de outras pessoas que tentaram fugir mas foram abatidas por balas.

Prisioneiros queimados em Barracões

Vi os restos de barracões com oito quartos dos quais os alemães colocavam cerca de 700 pessoas, que foram baleadas. Os barracões depois foram incendiados e destruídos, cremando os corpos que permaneceram dentro. Paralelamente a esta construção havia uma fila de pelo menos 150 corpos, algumas das pessoas que obviamente haviam sido alvejadas durante a tentativa de escapar da construção.

Alguns tinham pequenas marcas de fogo, mas outros eram apenas esqueletos carbonizados e encolhidos de homens e mulheres. Dentro dos barracões, grandes montes de cinzas de ossos misturados com cinzas de madeira testemunham o grande número de outras pessoas que morreram naquele prédio. Na parte central do próprio acampamento havia uma outra cena medonha. Em um pátio eu contei os corpos de sessenta e quatro pessoas, incluindo homens, mulheres e crianças, e foi lá que eu vi um jovem bebê, vestido com um suéter vermelho, cueca de lã branca e uma camisa azul.

Esses foram os corpos de pessoas que haviam sido metralhadas até a morte dentro de um dos barracões centrais, mas que os alemães, em sua ansiedade para fugir antes que o Exército Vermelho se aproximar, não tiveram tempo de queimar.
O chefe da Associated Press na URSS, Eddy Gilmore, arquivou este relatório, que da mesma forma descrevia os corpos de crianças com buracos de bala atrás de suas cabeças. Gilmore tinha previamente arquivo este relatório sobre Babi Yar. As fotografias tiradas em Klooga foram publicadas na revista Life em 30 de outubro de 1944, e podem ser vistas aqui.

Fonte: Holocaust Controversies
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2011/01/bodies-seen-by-american-journalists-at.html
Texto: Jonathan Harrison
Título original: Human Remains Seen By American Journalists at Klooga and Babi Yar
Tradução: Roberto Lucena

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Babi Yar ou Babij Jar (o filme), massacre nazi na Ucrânia

A quem quiser assistir (aviso, o filme tem cenas fortes), esse filme nunca foi divulgado no Brasil e é pouco conhecido fora, filme sobre os massacres na ravina de Babi Yar (que tem mais de uma grafia, o que é problemático, mas essa é a mais usada) que ocorreu na Ucrânia, próximo à Kiev (capital), durante a ocupação da União Soviética pelos nazistas. Massacre em Babi Yar link1, link2.

Nos dois primeiros dias de massacres, cerca de 33.771 judeus ucranianos foram mortos nesta ravina, e no total da guerra, entre (estimativa) 110-150 mil pessoas (incluso o número de judeus mortos, Romanis/ciganos, cidadãos ucranianos e prisioneiros soviéticos) perderam a vida nesta ravina vitimados pelas forças de ocupação nazista (Einsatzgruppen).

Ficha do filme, com ajuda da Wikipedia (tradução):

Título: Babiy Yar ou Babij Jar
Dirigido por Jeff Kanew
Estrelando: Michael Degen
Lançado em 3 de julho, 2003
Duração: 112 min.
País: EUA; Idioma: inglês

Filmado na Europa e com lançamento limitado nos cinemas, o filme narra os assassinatos em massa de setembro de 1941, de milhares de judeus, prisioneiros soviéticos (POWs), comunistas, ciganos (Romanis), nacionalistas ucranianos e outros civis por Divisões da SS alemã neste local, uma ravina de Kiev (capital da Ucrânia).

Sinopse do filme (em inglês): Babij Jar (2003), NYTimes

Cena do massacre (reconstituição do filme), caso tenha sensibilidade com imagens fortes ou cenas desse tipo, não assista:


Atualização de link (01.10.2018):
https://www.youtube.com/watch?v=g_gttjKFJDo
https://youtu.be/g_gttjKFJDo


segunda-feira, 5 de agosto de 2013

A relação problemática da Ucrânia com o Holocausto. Ambos: vítimas e perpetradores - Parte 01

Publicado em balticworlds.com em 1 de agosto de 2011.

Ilustração: Katrin Stenmark
Por várias razões, a relação da Ucrânia com o Holocausto e os judeus tem sido ofuscada pela situação similar, mas mais impressionante na Alemanha e na Polônia. A questão merece atenção, no entanto, porque ela ainda é um dilema moral e político sério na Ucrânia, intimamente relacionada com esforço do país para a construção de uma identidade nacional. O dilema é claramente refletido na historiografia ucraniana e na política atual, apesar de museus e monumentos públicos no oeste da Ucrânia também testemunham os vestígios do Holocausto - ou à falta dele.

Estas palavras são, em parte, baseadas na pesquisa histórica ocidental sobre o Holocausto na Ucrânia e como ela tem sido tratada [01], e em parte - principalmente - em pesquisa material reunida durante duas visitas à Kiev e Lviv em 2007 e 2010. [02]

Cenário

De acordo com algumas estimativas, mais de 900.000 judeus morreram na Ucrânia Soviética entre 1941 e 1944 como resultado das políticas genocidas da Alemanha nazista e de seus capangas ucranianos. Este valor representa, na verdade, o maior número de vítimas em qualquer outro país além da Polônia, onde o número de vítimas é estimado em 3,3 milhões. [03] vítimas do Holocausto incluem os judeus da Galícia Oriental, que a União Soviética pegou da Polônia em 1939 no Pacto Molotov-Ribbentrop. Ela era composta por uma minoria relativamente grande (em 1931, 639.000, ou 9,3 por cento), e o antissemitismo era bem disseminado. [04] Durante o período pós-guerra, especialmente depois de 1991, muitos dos judeus restantes emigraram, principalmente para Israel. De acordo com o censo de 2001, apenas cerca de 80.000 judeus (0,2% da população total) permaneceu pela Ucrânia, e apenas 12.000-15.000 no que hoje é agora a Ucrânia ocidental. [05] A rica cultura, que ao longo dos séculos moldou partes da Ucrânia e da Polônia, desapareceu quase totalmente ou foi esquecida.

A historiografia ucraniana sobre o Holocausto

Como Johan Dietsch demonstrou numa dissertação em 2006 [06], a história oficial da Ucrânia soviética do pós-guerra não era particularmente interessada nos judeus como um grupo étnico ou no terrível destino que eles sofreram durante a guerra. Em vez disso, os judeus restantes foram submetidos às campanhas soviéticas contra os "sionistas" e "cosmopolitas" que foram considerados aliados dos imperialistas ocidentais, e da historiografia sobre a guerra dirigida principalmente à vitória do povo soviético unido, sobre o fascismo alemão, que serviu como uma nova e forte base para legitimar o sistema socialista. No processo, a Organização dos Nacionalistas Ucranianos (OUN) e seu exército rebelde (UPA), que queria um Estado independente, foram atacados por ajudar os ocupantes nazistas, e a diáspora ucraniana anticomunista na América do Norte que defendeu os nacionalistas, foi condenada. [07]

Esta diáspora ucraniana procurou preservar a sua identidade nacional valorizando a tradição dos cossacos ucranianos que remonta o século XVII, a partir de líderes cossacos como Bohdan Chmelnitsky, aos líderes da luta pela independência como Symon Petliura, durante a I Guerra Mundial, e o chefe da UPA Stepan Bandera, no início da II Guerra Mundial. Seu antissemitismo, o que levou a vários pogroms, foi convenientemente varrido para debaixo do tapete. Em vez de o Holocausto, a diáspora ucraniana estava particularmente interessada no Holodomor, na política intencional de fome intencional de Stalin na Ucrânia (1932-1933), que foi considerado um genocídio dirigido ao povo ucraniano. Alegou-se que mais ucranianos morreram no Holodomor que judeus no Holocausto e que judeus eram representantes proeminentes no serviço da polícia secreta soviética, o NKVD, e foram cúmplices no Holodomor. A diáspora elogiou as lutas da UPA e OUN pela liberdade, e alguns até mesmo consideraram que a repressão soviética antes da guerra justificou a colaboração de alguns ucranianos com a Alemanha nazista durante a guerra. [08]

Partes deste historiografia foi adotada quando a Ucrânia se tornou independente em 1991. A busca em construir uma identidade ucraniana agora enfatizava a luta nacional pela liberdade desde 1600 e antes disso. Estátuas de Lênin nas regiões ocidentais do país foram substituídas por monumentos dos líderes cossacos e nacionalistas. Desde os anos 1990, os líderes políticos da Ucrânia tentaram em várias ocasiões, para obter o reconhecimento internacional do Holodomor como genocídio contra os ucranianos, que a fome fosse tratada como um equivalente ucraniano do Holocausto. [09] Embora os livros oficiais de história muitas vezes não enfatizem "a responsabilidade dos judeus comunistas judeus pelo Holodomor", a literatura antissemita é publicada e vendida em todos os lugares hoje na Ucrânia, incluindo o Mein Kampf de Hitler. A maior instituição privada de ensino superior da Ucrânia, a MAUP, com 30.000 estudantes, publicou uma série de tais obras. [10]

Ao mesmo tempo que a interpretação oficial da história da Ucrânia contemporânea destaca a luta nacional contra o poder soviético, também sublinha, como nos tempos soviéticos, a luta ativa da Ucrânia contra a Alemanha nazista e as atrocidades nazistas. A enorme monumento da vitória Rodina-Mat ainda está de pé em Kiev, e o 09 de maio é ainda celebrado. A Ucrânia é, portanto, considerada como uma vítima de dois regimes totalitários que entraram na Pacto Molotov-Ribbentrop. De acordo com um livro, de 1994, embora muitas pessoas saudaram a ocupação soviética do leste da Galiza em 1939 como libertação da Polônia, que também levou a sovietização e deportações para o leste, levou muitas pessoas a acolher a posterior invasão alemã. Quando a ocupação da Alemanha nazista tornou-se ainda pior que a dos soviéticos, partisans ucranianos começaram a resistir. [11] Raramente é observado que os ucranianos podem ser encontrados em ambos os lados das linhas de frente.

A verdade sobre o assassinato em massa de judeus pelos nazistas na Ucrânia já não é suprimida, mas é principalmente associada à Babi Yar em 1941 (veja abaixo). A ideologia racial nazista não é explicada e a tragédia dos judeus ainda é ofuscada pelo sofrimento dos ucranianos. Por exemplo, outro livro de 2004 admitiu que os judeus em particular, sofreram no massacre de Babi Yar, e acrescentou que cada cidade teve seu próprio Babi Yar. Os nazistas pressionaram os ucranianos a não ajudar os judeus, mas muitos alegam ter ajudado de qualquer forma e depois executados, e, então, homenageados postumamente por Israel. O metropolita Sheptytsky da Igreja Greco-Católica Ucraniana foi mencionado em particular. [12] É difícil deixar claro que os nacionalistas ucranianos ajudaram no extermínio dos judeus. [13] Viktor Yushchenko, que como primeiro-ministro participou da Conferência do Holocausto em Estocolmo, em 2000, declarou que a experiência de milhões de ucranianos como vítimas de seu próprio Holocausto significa que os ucranianos entendem muito bem o calvário dos judeus. [14] Quando Yushchenko foi eleito presidente em 2004, após a chamada Revolução Laranja, ele foi apoiado principalmente por nacionalistas e grupos de orientação Ocidental no oeste e na região central da Ucrânia.

Johan Dietsch conclui que a imagem oficial dos ucranianos como ambos, heróis e vítimas, não permite que outras pessoas tenham sofrido mais que os ucranianos ou que os ucranianos foram cúmplices no extermínio dos judeus na Ucrânia. No entanto, os livros de história da Ucrânia, que abordam outros países, retratam o Holocausto de forma mais objetiva como um genocídio especificamente dirigido contra os judeus e o rotulam como um trauma puramente europeu. Também deve ser mencionado que, durante uma visita de Estado à Alemanha, em 2007, Yushchenko desviou-se do protocolo ao visitar um campo de concentração onde seu pai havia sido prisioneiro. Desta forma, os ucranianos contornam o problema da sua participação no Holocausto em sua própria casa e apresentam uma impressão de que a Ucrânia compartilha dos valores europeus e está em sintonia com a comunidade europeia. [15]

Por Ingmar Oldberg - Pesquisador associado ao programa da Rússia do Instituto Sueco de Assuntos Internacionais (Estocolmo).

Referências

[01] For contemporary overviews of both Hitler’s and Stalin’s genocides, see Timothy Snyder, Bloodlands: Europe between Hitler and Stalin, London 2010, and Kristian Gerner and Klas-Göran Karlsson, Folkmordens historia [The history of genocide], Stockholm 2005.

[02] A previous version of this article was published in Swedish in Inblick Östeuropa 1—2:2010.

[03] Lucy Dawidowich, The War Against the Jews, Middlesex & New York 1975, pp. 477—480. Betsy Gidwitz cites 1,850,000 victims in Ukraine; see “Jewish Life in Ukraine at the Dawn of the Twenty-first Century: Part One”, Jerusalem Letter no. 451, April 2001, www.jspa.org/jl/jl1351.htm (accessed 2010-09-01), p. 4

[04] For regional distribution, see Father Patrick Desbois, The Holocaust by Bullets, New York 2008, pp. 234 f.

[05] John Grabowski, “Antisemitism i det oranga Ukraina”, [Antisemitism in Orange Ukraine] SKMA newsletter (Swedish Committee Against Anti-Semitism) newsletter, November 2005, www.skma.se/2005/nov.2005.pdf (accessed 2010-05-19).

[06] Making Sense Of Suffering: Holocaust and Holodomor in Ukrainian Historical Culture, Lund 2006.

[07] Dietsch, pp. 69, 97—110.

[08] Dietsch, op. cit., pp. 122—136. See also Taras Hunczak, “Ukrainian-Jewish Relations During the Soviet and Nazi Occupations”, in Yury Boshyk (ed.), Ukraine during World War II, Edmonton 1986, pp. 40—45.

[09] Dietsch, op. cit., pp. 216—226.

[10] Grabowski, op. cit., p. 4.

[11] Dietsch, op. cit., pp. 155 f.

[12] V. A. Smolij (ed.), Istorija Ukrainy XX-pochatku XXI stolittja, Kyiv 2004, pp. 115 f. See also Hunczak, pp. 49—51.

[13] It can be added that Father Patrick Desbois and those whom he interviews in The Holocaust by Bullets clearly ascribe the guilt to the Nazis, without any mention of Ukrainian anti-Semitism.

[14] Dietsch, op. cit., pp. 160 f.

[15] Ibid., pp. 227—234.

Fonte: Baltic Worlds (Revista acadêmica trimestral e revista de notícias). Do Centro de Estudos do Báltico e Leste Europeu (CBEES) da Universidade Södertörn, de Estocolmo
Texto: Ingmar Oldberg
Both Victim and perpetrator - Ukraine’s problematic relationship to the Holocaust
http://balticworlds.com/ukraine%E2%80%99s-problematic-relationship-to-the-holocaust/
Tradução: Roberto Lucena

Próximo: Ambos: vítimas e perpetradores. A relação problemática da Ucrânia com o Holocausto - Parte 02

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Ucrânia: massacre de Babiy Yar foi há 70 anos

Babiy Yar é um local com uma conotação trágica. Há exatamente 70 anos, nesta ravina perto da capital ucraniana, Kiev, as forças nazis cometiam um dos maiores massacres do Holocausto.

Perto de 34 mil judeus – homens, mulheres e crianças – foram mortos numa única operação militar.

Menos de trinta pessoas escaparam com vida. Raisa Maistrenko é uma dessas pessoas. Na altura tinha três anos e lembra-se de estar “de mão dada com a avó, que gritava: ‘Sou russa!’. Um colaborador nazi aproximou-se, disse: ‘Porque gritas? Aqui todos são judeus!’ e tentou agredi-la com uma arma. Caíram ambas no chão e um soldado aproximou-se e empurrou-as novamente para a multidão. Durante todo esse tempo, a avó nunca lhe largou a mão”.

O massacre de Babiy Yar, entre 29 e 30 de Setembro de 1941, marcou o início do Holocausto em território ucraniano, que resultou na eliminação quase completa de uma população de um milhão e meio de judeus.

Fonte: Euronews
http://pt.euronews.net/2011/09/30/ucrania-massacre-de-babiy-yar-foi-ha-70-anos/

Ler tudo que já foi publicado no blog sobre o massacre de Babiy Yar aqui e aqui.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Porque é negação e não revisionismo. Parte VIII: Os Massacres de Simferopol

Nas páginas 210 e seguintes do livro Treblinka. Extermination Camp or Transit Camp? ("Treblinka. Campo de Extermínio ou Campo de Passagem?"), escrito pelos nossos clientes regulares Carlo Mattogno e Jürgen Graf, lê-se o seguinte (minha tradução):
d. Simferopol e o julgamento de Manstein
O General Marechal de Campo Erich von Manstein era Comandante do Décimo – Primeiro Exército e combatia no Mar Negro e na Crimeia. Em 1949, foi levado perante um tribunal militar britânico em Hamburgo sob acusação de cumplicidade com os massacres cometidos pelo Einsatzgruppe D. Seu advogado de defesa era o inglês Reginald T. Paget, quem escreveu um livro – traduzido para alemão no ano seguinte – sobre o julgamento em 1951. Nesse livro, reporta o seguinte a respeito das actividades do Einsatzgruppe D na Crimeia:
"A mim, os números declarados pelo SD pareciam-me completamente impossíveis. Companhias individuais de cerca de 100 homens com cerca de 8 veículos eram declarados como tendo morto 10.000 a 12.000 judeus em dois ou três dias. Uma vez que, como se recordará, os judeus acreditavam no seu realojamento e consequentemente levavam as suas pertenças consigo, o SD não pode ter transportado mais do que vinte ou trinta judeus respectivamente num camião. Por cada veículo, considerando o carregamento, 10 quilómetros de percurso, descarregamento e retorno, deve ter passado um tempo estimado de duas horas. O dia de Inverno na Rússia é curto e não se podia conduzir à noite. A fim de matar 10.000 judeus, teriam sido necessárias pelo menos três semanas.
Em um dos casos fomos capazes de verificar os números. O SD afirmava ter morto 10.000 judeus em Simferopol em Novembro e declarou a cidade livre de judeus em Dezembro. Através de uma séria de verificações, formos capazes de provar que o fuzilamento de judeus em Simferopol tinha ocorrido num único dia, especificamente em 16 de Novembro. Havia apenas uma única companhia do SD em Simferopol. O local de execução situava-se a 15 quilómetros da cidade. O número de vítimas não pode ter sido superior a 300, e esses 300 provavelmente não eram apenas judeus, mas uma colecção de diversos elementos que estavam sob suspeita de pertencer ao movimento de resistência. O caso de Simferopol foi amplamente difundido pelo público aquando do julgamento, uma vez que tinha sido mencionado pela única testemunha viva para esta acusação, um soldado austríaco com o nome de Gaffal. Este alegou que tinha ouvido a operação contra os judeus ser mencionada na cantina dos sapadores, onde era o homem da ordenança, e que tinha passado pelo local da execução perto de Simferopol. Depois de este depoimento recebemos uma quantidade de cartas e fomos capazes de apresentar várias testemunhas que tinham ficado junto de famílias judias no quarteirão e reportaram sobre os serviços religiosos na sinagoga bem como o mercado judeu, onde tinham comprado ícones e velharias – até à altura em que Manstein partiu da Crimeia e mesmo depois. Não havia qualquer dúvida de que a comunidade judaica em Simferopol tinha continuado a existir abertamente, e embora alguns dos nossos opositores tivessem ouvido rumores de violência contra os judeus em Simferopol, parecia mesmo assim que a comunidade judaica não estava consciente de nenhum perigo em particular."

Mattogno & Graf citam o advogado de defesa de Manstein, Reginald T. Paget, no contexto da sua tentativa de demonstrar que os "Relatórios de Situação Operacional URSS" dos Einsatzgruppen, esquadrões da morte do Sicherheitsdienst(Serviço de Segurança) de Reinhard Heydrich, que se contam entre a evidência mais directa e condenatória das chacinas em massa nazis e podem ser parcialmente lidas em tradução inglesa sob este link, foram muito exagerados pelos seus autores e que o número real de execuções levado a cabo por estes esquadrões da morte era muito inferior do que aquele que resulta dos referidos relatórios. Os superiores dos comandantes dos Einsatzgruppen, até ao nível dos próprios Heydrich e Himmler, devem ter sido fulanos muito ingénuos e confiantes que não consideraram necessário implementar qualquer mecanismo de controlo para verificar a exactidão daquilo que lhes era reportado sobre a execução das suas ordens, ou então não se importavam com a medida em que as suas ordens eram de facto executadas, enquanto os comandantes das Einsatzgruppen, por outro lado, supostamente não levavam o seu trabalho muito a sério e rotineiramente enganavam os seus superiores alegando logros muita para além do que tinham realmente conseguido.

Paget, o advogado de Manstein, parece ter acreditado neste cenário bastante improvável, ou então foi o que contou aos seus leitores no livro que escreveu sobre o julgamento de Manstein. Seguidamente vamos examinar a consistência e exactidão das alegações de Paget.

Começamos pelas dúvidas gerais de Paget sobre a possibilidade logística de executar massacres do tamanho e dentro do tempo reportados.

Paget alega que existem relatórios em que « cerca de 100 homens com cerca de 8 veículos eram declarados como tendo morto 10.000 a 12.000 judeus em dois ou três dias». Isto é impossível, afirma Paget, porque o transporte das vítimas para o local de execução era uma estreiteza que não podia ser ultrapassada já que os destacamentos especiais do SD tinham demasiado poucos veículos e não podiam enche-los até ao limite da sua capacidade com pessoas porque os judeus destinados a serem executados levavam consigo as suas pertenças, acreditando que iriam ser realojados.

O pressuposto subjacente a esta alegação de Paget é que as vítimas eram levadas com veículos motorizados das cidades ou aldeias onde viviam para locais de execução isolados a alguma distância daí. Isto não era necessariamente o caso. No massacre de Babi Yar em 29/30 de Setembro de 1941, por exemplo, as mais de 30.000 vítimas tiveram que caminhar em longas filas para uma ravina perto da cidade de Kiev, onde foram abatidas a tiro. Em Kharkov, em meados de Dezembro de 1941, cerca de 15.000 judeus tiveram que marchar a pé até uma fábrica de tractores fora da cidade, na qual foram concentrados e perto da qual foram posteriormente abatidos a tiro, nos primeiros dias de Janeiro de 1942. No meu artigo Neither the Soviets nor the Poles have found any mass graves with even only a few thousand bodies ... [versão em português], é apresentada alguma evidência relativa a este massacre.

No entanto, mesmo quando as vítimas eram levadas em veículos motorizados para um local de matança fora da sua cidade ou vila e abatidos assim que chegavam àquele local, as limitações invocadas por Paget não se aplicavam necessariamente.

Por um lado, os Einsatzgruppen, como veremos no que respeita ao massacre que será descrito mais detalhadamente neste artigo, podiam contar com veículos disponibilizados pela Wehrmacht alemã, incluindo camiões inimigos capturados e autocarros civis requisitados, a fim de ter uma capacidade de transporte adequada ao tamanho e duração pretendidos da respectiva operação de matança.

O espaço de transporte disponível podia ainda ser alargado estipulando uma limitação ao montante de pertences que era permitido aos judeus levar consigo para a alegada deportação, ou ordenando-lhes que deixassem atrás todos os seus pertences, que alegadamente lhes seriam enviados mais tarde. Este procedimento foi aplicado nas matanças com camiões de gaseamento, vide Kogon, Langbein, Rückerl e outros, Nationalsozialistische Massentötungen durch Giftgas ("Matanças em massa nacional-socialistas mediante gás tóxico"), página 91 (citação do depoimento de Ramasan Sabitovich Chugunov, comandante de pelotão de um batalhão da polícia auxiliar local, relativamente à liquidação do gueto de Minsk em Outubro de 1943) e página 121 (depoimento do trabalhador ferroviário polaco Vladyslav Dabrovski relativamente a transportes para o campo de extermínio de Chelmno). Como veremos mais adiante neste artigo, este procedimento também foi aplicado em pelo menos uma ocasião em que os judeus foram conduzidos para um local de matança fora da localidade e lá abatidos a tiro.

As versões maiores dos camiões de gaseamento utilizados pelos Einsatzgruppen foram descritas por várias testemunhas como podendo levar 50, 60 ou até mais pessoas de cada vez (Kogon e outros, conforme supra, página 87, citação do depoimento do condutor de camião de gaseamento Erich Gnewuch; págima 91, citação do depoimento de Chugunov, acima mencionado; página 98, referência ao depoimento do condutor de camião de gaseamento Pauly; página 105, referência ao depoimento de Schiewer, membro do Einsatzkommando 11a; página 128, citação do depoimento do condutor de camião de gaseamento Gustav Laabs, Chelmno; página 141, citação de relatório escrito pelo condutor de camião de gaseamento Walter Piller). As medidas do compartimento de gaseamento de um destes camiões foram descritas como tendo sido as seguintes, pelo condutor de camião de gaseamento Burmeister, Chelmno (citação do depoimento em Kogon e outros, página 125): 4 a 5 metros de comprimento, 2,2 metros de largura e 2 metros de altura – uma área de carga de pelo menos 8,8 metros quadrados, suficiente para acomodar pelo menos 70 pessoas. Portanto, podemos partir do princípio de que, se os camiões utilizados para transportar judeus aos locais de fuzilamento eram tão grandes como as versões maiores dos camiões de gaseamento aplicados em fase posterior do processo de extermínio, cada um destes camiões podia levar no mínimo 50 judeus para o respectivo local de fuzilamento.

No que respeita ao tempo de transporte necessário, é difícil entender por que razão um percurso de 10 quilómetros incluindo carregamento e descarregamento demoraria o «tempo estimado de duas horas» que Paget considera. Sendo aplicada a pressão necessária, quinze minutos para cada uma das tarefas de carregamento no local de concentração, condução (a uma velocidade de apenas 40 quilómetros/hora), descarregamento e retorno parecem ser tempo suficiente. Portanto, os oito camiões que Paget menciona podiam, sob os meus pressupostos acima descritos, transportar 400 judeus para o local de matança cada hora e 2.800 num dia de trabalho de Inverno que se presume ter durado das 9:00 às 16:00 horas. Aumentando o número de veículos por recurso ao parque da Wehrmacht e/ou a requisições, este número podia ser facilmente duplicado ou triplicado.

No que respeita às tarefas de isolar o local da matança, ordenar às vítimas a despir-se, leva-las à vala em massa ou ravina em que seriam abatidos e abate-los a tiro lá, os destacamentos especiais das Einsatzgruppen não estavam sós, mas contavam com a assistência de outras forças, tais como a polícia de ordem e as unidades de Feldgendarmerie (polícia militar) e Geheime Feldpolizei (Polícia Secreta de Campo) da Wehrmacht. Assim, por exemplo, o massacre de Babi Yar foi executado pelo Sonderkommando 4a da Einsatzgruppe C em cooperação «com o quartel-geral da EGC e dois comandos do regimento de polícia Sul» (minha tradução). Segundo o historiador alemão Wolfram Wette ("Babij Yar 1941", em: Wolfram Wette / Gerd R. Ueberschär (editores), Kriegsverbrechen im 20. Jahrhundert ("Crimes de Guerra no Século 20"), páginas 152-164), o Sonderkommando 4a era composto por membros do Sicherheitsdienst e da Sicherheitspolizei (Polícia de Segurança), uma companhia de um batalhão da Waffen-SS e um pelotão de um batalhão de polícia, e reforçado por outros dois batalhões de polícia e unidades da polícia auxiliar ucraniana. A tarefa de supervisionar e vigiar a marcha dos judeus de Kiev para a ravina em que teve lugar a matança foi executada por tropas da Wehrmacht às ordens de Eberhard, comandante da cidade. O massacre dos judeus de Kharkov no início de Janeiro de 1942 foi efectuado conjuntamente pelo Sonderkommando 4a e o Batalhão de Polícia 314, que estava a cargo de isolar o local da matança. No massacre que será descrito em mais detalhe neste artigo, o destacamento especial do Einsatzgruppe D era reforçado por dois batalhões de reserva da polícia bem como membros do Feldgendarmerieabteilung(FGA) 683 e a unidade 647 da Geheime Feldpolizei (GFP).

Resumindo, se « cerca de 100 homens com cerca de 8 veículos» (Paget) não eram suficientes para matar o número necessário de judeus dentro do tempo necessário, era possível obter recursos humanos e materiais adicionais na medida necessária para obter o resultado desejado.

Expostas assim as falácias das objecções logísticas de Paget, vamos ver a operação particular em relação à qual Paget alega ter sido capaz de «verificar os números», a matança dos judeus de Simferopol.

Paget alega ter conseguido « provar que o fuzilamento de judeus em Simferopol tinha ocorrido num único dia, especificamente em 16 de Novembro », que «o número de vítimas não pode ter sido superior a 300», e que «esses 300 provavelmente não eram apenas judeus, mas uma colecção de diversos elementos que estavam sob suspeita de pertencer ao movimento de resistência».

Uma reconstrução detalhada dos acontecimentos em Simferopol em Novembro e Dezembro de 1941, baseada em evidência documental e em numerosos depoimentos de testemunhas oculares recolhidos no decurso de várias investigações por autoridades de justiça penal da Alemanha Federal, encontra-se nas páginas 323 e seguintes do livro Besatzungspolitk und Massenmord. Die Einsatzgruppe D in der südlichen Sowjetunion 1941-1943 ("Política de Ocupação e Assassínio em Massa. O Einsatzgruppe D no sul da União Soviética, 1941 – 1943"), do historiador Andrej Angrick. Esta reconstrução, da qual fornecerei um resumo a seguir, mostra que são falsas as alegações de Paget, acima referidas.

No início de Novembro de 1941, Otto Ohlendorf, o comandante do EinsatzgruppeD, transferiu o estado-maior da sua unidade de Nikolajev para Simferopol, a capital da Crimeia. Simferopol era uma importante base de tropas e mantimentos alemães, tendo lá os seus quartéis-gerais os estados maiores dos corpos do exército XXX e LIV e da 72ª e 22ª divisões de infantaria, o Encarregado de Logística Chefe, o Comandante da Força Aérea junto do 11º Exército e o Comando Económico competente. A administração da cidade estava a cargo do Posto de Comando Local (Ortskommandantur) I/853 sob o mando do Capitão Kleiner, que efectuou um censo da população local segundo a sua etnia e constatou que, dos 156.000 habitantes originais, 120.000 de vários grupos populacionais tinham ficado em Simferopol, entre eles 11.000 de originalmente 20.000 judeus. Relativamente aos judeus, o relatório do posto de comando local, datado de 14 de Novembro de 1941 e guardado nos Arquivos Federais/Arquivos Militares da República Federal Alemã (Bundesarchiv/Militärarchiv), indicou que seriam "executados pelo SD".

Embora este documento torne claro que havia a intenção de exterminar os judeus de Simferopol e que a Wehrmacht estava consciente deste facto, dois problemas impediram que a matança fosse efectuada em Novembro de 1941. Um desses problemas era ideológico, o outro de natureza prática.

O problema ideológico consistia em que, na península de Crimeia, havia três grupos populacionais diferentes que estavam potencialmente sujeitos às políticas nazis relativas aos judeus. Eram estes:

1. Os caraítas, um povo turco que aderia ao judaísmo;

2. Os krimchaks ou krymchaks: segundo Angrick, estes eram descendentes de judeus sefarditas espanhóis que já não aderiam à religião judaica (outra informação sobre os krimchaks pode ser encontrada aqui);

3. Judeus ashkenazi emigrados da Europa Central e os seus descendentes.

Enquanto não havia dúvida de que o terceiro destes grupos seria aniquilado, havia incerteza entre os feitores das políticas nazis sobre como tratar os outros dois. Depois de consultar os seus especialistas "científicos" sobre "assuntos judaicos", o próprio Himmler – que mantinha ser o único a quem cabia decidir quem era judeu e quem não – finalmente decidiu que os caraítas seriam poupados, uma vez que não eram judeus de "raça". Os krimchaks, pelo outro lado, seriam mortos, porque em termos "raciais" eram judeus. A decisão de Himmler deve ter sido tomada entre os dias 5 de Dezembro de 1941 (a data do Relatório de Situação 142, que ainda menciona a "questão dos krimchaks") e 9 de Dezembro de 1941, a data em que, como veremos a seguir, os Krimchaks de Simferopol foram exterminados.

O problema prático que obstava ao extermínio dos judeus de Simferopol em Novembro de 1941 era que a actividade guerrilheira naquela área, grandemente exagerada em relatórios do exército alemão, fez com que o Comando Supremo do 11º Exército mandasse cada homem que tinha à sua disposição a combater os guerrilheiros, sendo o Einsatzgruppe D utilizado em missões de reconhecimento sobre movimentos guerrilheiros.

No início de Dezembro de 1941, contudo, a ameaça tinha diminuído depois de terem sido mortos ou capturados cerca de mil guerrilheiros, e com a chegada de uma brigada de tropas de montanha romenas como reforço, Ohlendorf já não tinha que utilizar os seus homens em missões de reconhecimento contra a guerrilha. Ao mesmo tempo, a transferência de Odessa para Simferopol do Sonderkommando 11b sob o comando de Werner Braune trouxe-lhe recursos adicionais para executar a sua principal tarefa, a de aniquilar os judeus. Os Quartel – Mestre Chefe da Wehrmacht, Hauck, favoreceu esta medida e até insistiu nela, uma vez que via a "acção relativa aos judeus" (Judenaktion) como forma de aliviar a dramática situação de alimentos em Simferopol, livrando-se de bocas para alimentar. O próprio comandante do 11º Exército, von Manstein, tinha dado o seu consentimento às matanças numa ordem que emitiu em 20 de Novembro de 1941, a qual continha a seguinte indicação (minha tradução de Angrick, como supra, página 338):
O soldado deverá mostrar compreensão perante a necessidade de submeter a uma dura retribuição o judaísmo, o portador espiritual do bolchevismo. Esta também é necessária para estrangular à nascença quaisquer revoltas, que são maioritariamente incitadas por judeus.

A "dura retribuição" começou em Simferopol em 9 de Dezembro de 1941, quando o Sonderkommando 11b e o estado-maior da Einsatzgruppe D exterminaram os krimchaks da cidade, provavelmente 1.500 pessoas no mínimo. Logo a matança parou durante dois dias porque Ohlendorf teve que resolver um problema de pessoal: os polícias da 4ª Companhia do Batalhão de Reserva da Polícia 9, que tinham assistido ao Einsatzgruppe D nos seus massacres desde o início da campanha da Rússia, estavam cansados de matar e tinham solicitado que lhes fosse dada outra missão. O seu pedido foi atendido, e Ohlendorf teve que esperar até que a unidade de substituição, a 3ª Companhia do Batalhão de Reserva da Polícia 3, chegasse a Simferopol.

Quando a 3ª Companhia do Batalhão de Reserva da Polícia 3 chegou a Simferopol, não houve tempo para habituar os seus homens à matança de uma forma gradual. Com a ajuda de todos os homens disponíveis de outros destacamentos da Einsatzgruppe D, os polícias e ambos batalhões de polícia e os membros destacados da FGA 683 e da GFP 647, o Sonderkommando 11b de Braune e o estado maior da Einsatzgruppe D de Ohlendorf continuaram a execução em 11 de Dezembro de 1941. Braune tinha dito aos seus homens que tinham um "grande dia de combate" (Grosskampftag) pela frente e que até os médicos teriam que participar. A matança dos judeus durou três dias. Ordenou-se aos judeus que se reunissem na área do antigo edifício do partido comunista no centro da cidade e entregassem as suas bagagens e objectos de valor, uma vez que – assim os carrascos lhes disseram – caso contrário estes poderiam ser roubados durante o transporte que os levaria ao serviço de trabalho, e os receberiam posteriormente. Camiões do Einsatzgruppe e o exército, autocarros e também veículos capturados menores foram utilizados para transportar a pessoas rapidamente para uma vala contra tanques fora de Simferopol. Os membros do Batalhão de Reserva da Polícia 3 tiveram que participar logo na chacina. Alguns tinham notado que colegas do Batalhão de Reserva da Polícia 9 estavam "pirados"; agora perceberam porque. Uma e outra vez, na presença de Ohlendorf e Braune, soou a ordem "Preparados, apontem, fogo!". 50 homens em linha disparavam em salvas. Os membros experientes da Einsatzgruppe administravam chamados golpes de misericórdia. Soldados da Wehrmacht também participaram no fuzilamento, não sendo possível estabelecer se estes eram exclusivamente polícias militares e membros da Geheime Feldpolizei. No frio gelado prisioneiros escolhidos tinham que empilhar os corpos na vala de modo a que não fosse desperdiçado espaço, enquanto outros arrastavam cadáveres deitados fora da vala e atiravam-nos para dentro desta. Quem tentava escapar ou fingia estar morto era abatido por homens da Einsatzgruppe com pistolas metralhadoras. O cinismo dos carrascos estava sempre presente, como quando foi dada instrução para não gastar outra bala numa judia ainda viva dentro da vala uma vez que um montão de terra seria atirado para cima dos cadáveres e ela então sufocaria de qualquer forma. Um judeu jovem tentou resistir, pelo que o comandante da acção ordenou que não fosse abatido a tiro mas espancado até à morte. Assim a chacina continuou nos próximos dias. Finalmente a Einsatzgruppe também estendeu a sua acção aos ciganos, tendo um pedido do exército presumivelmente sido um dos factores que conduziram à decisão de eliminar também este grupo da população.

No Relatório de Situação Operacional URSS Nº 150 de 02.01.1942, Ohlendorf reportou que, com o fim a acção em 15 de Dezembro de 1941, Simferopol, junto com outras partes da Crimeia, tinha sido livrado de judeus. Esta afirmação revelou-se como errada, uma vez que muitos judeus ainda estavam escondidos. Massacres menores em toda a Crimeia continuaram até ao fim do ano.

Termina assim o meu resumo da reconstrução por Angrick dos acontecimentos em Simferopol em Novembro de Dezembro de 1941. Como disse antes, esta reconstrução baseia-se em evidência documental e em numerosos depoimentos de testemunhas oculares. A descrição supra do massacre que começou em 11 de Dezembro de 1941, por exemplo, é baseada nos depoimentos de testemunhas oculares registados em ficheiros de investigação de autoridades de justiça penal da Alemanha Federal, referidos nas páginas 340 a 342 do livro de Angrick: Paul Zapp, Sergej Myshekov, Georg Glück, Hermann Frenser, Georg Mandt, Hans Günther, Hans Kurz, Hans Fibiger, Walter Güsfeldt, Fritz Urbach, Kurt Wehrbein, Karl Jonas, Heinz Hoffmann, Harry Pilawski, Wilhelm Ickerott, Paul Lohmann, e outros. Estas testemunhas oculares, excepto provavelmente pela testemunha soviética Myshekov, tinham participado na matança como membros de uma ou outra unidade envolvida na mesma.

Passo a traduzir uma parte da Relatório de Situação Operacional URSS Nº 150, cuja tradução para inglês pode ser lida aqui:
Simferopol, Yevpatoria, Alushta, Krasubasar, Kerch, Feodosia e outros distritos da Crimeia ocidental se encontram livres de judeus. Entre 16 de Novembro e 15 de Dezembro de 1941, 17.645 judeus, 2.504 Krimchaks, 824 ciganos, e 212 comunistas e guerrilheiros foram abatidos a tiro. Em total têm sido executadas 75.881 pessoas.

A última destas cifras refere-se ao número total de execuções pelo Einsatzgruppe D desde o início da campanha da Rússia. A maior parte dos números relativos a Crimeia correspondem provavelmente aos massacres de Simferopol, seguidos pelos massacres de Kerch nos primeiros dias de Dezembro (cerca de 2.500 Jews) e em Feodosia por volta de 10 de Dezembro de 1941 (mais de 1.000 judeus e Krimchaks), também descritos em detalhe por Angrick.

Resulta claro, portanto, que a alegação de Paget sobre uma única massacre menor em Simferopol em 16 de Novembro de 1941 não tem nada a ver com o registo histórico do destino dos judeus e krimchaks de Simferopol, a maioria dos quais foram mortos nos massacres em 9 de Dezembro e a partir de 11 de Dezembro de 1941.

Ora, o que é que isto significa no que respeita à alegação de Paget de que houve «várias testemunhas que tinham ficado junto de famílias judias no quarteirão e reportaram sobre os serviços religiosos na sinagoga bem como o mercado judeu, onde compraram ícones e velharias – até à altura em que Manstein partiu da Crimeia e depois»? Trata-se de uma alegação deliberadamente falsa, ou será que as testemunhas eram falsas testemunhas ansiosas por tirar Manstein do seu apuro?

Não necessariamente. Como vimos acima, Himmler decidiu poupar os caraítas porque não eram considerados judeus em termos "raciais". Os caraítas praticam o caraísmo, e portanto o contacto com a população caraíta de Simferopol pode ter levado as testemunhas de Paget a descreve-los como judeus e a acreditar que os judeus de Simferopol não tinham sido aniquilados.

As alegações erróneas de Paget podem ser perdoadas a um advogado de defesa no fim da década de 1940, com acesso limitado a informação sobre os acontecimentos em questão e preocupado unicamente em defender o seu cliente tão bem quanto possível.

Mas pode também ser perdoado a Mattogno & Graf, que pretendem ser historiadores ou pesquisadores de história, o terem aceite como verídicas as alegações de Paget, sem verifica-las com base em outras fontes, e transcrito estas alegações no seu livro como se da narração de factos indisputáveis se tratasse?

Vejamos o que fez Angrick: recolheu toda a informação documental e de testemunhas oculares que conseguiu encontrar em vários arquivos e juntou as peças que encontrou numa descrição dos acontecimentos tão exacta quanto possível.

É isto o que fazem os historiadores.

Mattogno & Graf, por outro lado, basearam as suas conclusões relativamente aos massacres de Simferopol numa única fonte – e nem sequer uma fonte primária – que por acaso encaixava nas suas noções preconcebidas.

Isto não é o que fazem os historiadores. Isto é o que fazem charlatães desleixados com uma agenda ideológica. Mattogno & Graf não estão revisando noções aceites sobre um acontecimento histórico ou um conjunto de acontecimentos com base em evidência anteriormente desconhecida. O que fazem é ignorar ou rejeitar toda a evidência que contradiz as suas noções preconcebidas – e que, no caso das massacres de Simferopol, é bastante abundante – e basear as suas conclusões numa fonte secundária conveniente que está tão afastada da evidência quanto as noções preconcebidas de quem nela se baseia.

E esta, mais uma vez, é a razão pela qual o "revisionismo", conforme representado por Mattogno & Graf entre outros "estudiosos", não tem nada a ver com revisionismo no sentido estrito da palavra, o de um método que faz parte da historiografia. É apenas a negação de acontecimentos inconvenientes a certas noções preconcebidas e artigos de fé, propaganda com motivação ideológica.

[Tradução adaptada do meu artigo The Simferopol Massacres no blog Holocaust Controversies]

Próximo >> Parte IX(1): "Os relatórios dos Einsatzgruppen ...

Outros artigos da série That's why it is denial, not revisionism, já traduzidos para português:

Porque é negação e não revisionismo. Parte I: negadores e o Sonderkommando 1005

Porque é negação e não revisionismo. Parte II: negadores e as valas de Marijampole

Porque é negação e não revisionismo. Parte III: negadores e o massacre de Babiy Yar (1)

Porque é negação e não revisionismo. Parte IV: negadores e o massacre de Babiy Yar (2)

Porque é negação e não revisionismo. Parte V: negadores e o massacre de Babiy Yar (3)

Porque é negação e não revisionismo. Parte VI: negadores e o massacre de Babiy Yar (4)

Porque é negação e não revisionismo. Parte VII: outras patéticas objeções aos relatórios dos Einsatzgruppen

Ver também: Técnicas dos negadores do Holocausto

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Nem os soviéticos nem os polacos encontraram valas em massa com sequer alguns poucos milhares de cadáveres …

… ou então, é isto que Mattogno & Graf contam aos seus leitores na página 226 do seu livro sobre Treblinka, onde escrevem o seguinte:

Ora, considerando que, segundo um dos estudos mais completos que existem sobre o assunto, só os Einsatzgruppen teriam abatido 2.200.000 de pessoas (judeus e não judeus), que unidades da Wehrmacht, das SS e da polícia também são acusadas de centos de milhares de assassinatos, e que – conforme já foi salientado – nem os soviéticos nem os polacos encontraram quaisquer valas em massa com sequer alguns poucos milhares de cadáveres, os 'Destacamentos Especiais 1005' devem ter exumado e queimado entre um milhão e meio e três milhões de corpos.


Questiono-me se a fonte de Mattogno, o estudo sobre os Einsatzgruppen publicado em 1981 pelos historiadores alemães H. Krausnick e Hans Heinrich Wilhelm, de facto atribuiu 2.200.000 mortes aos Einsatzgruppen, mas não é este o assunto de momento. O assunto é se a afirmação de Mattogno/Graf de que «nem os soviéticos nem os polacos encontraram valas em massa com sequer alguns poucos milhares de cadáveres» resiste à verificação.

A fim de averiguar isto, olhei para alguns relatórios de investigações soviéticas de locais de matanças que tenho à minha disposição. As partes pertinentes desses relatórios são traduzidas a seguir.

1. Extracto de O Veredicto do Povo: um relatório completo do procedimento nos julgamentos de atrocidades alemãs em Krasnodar e Kharkov– Ignatik Fedorovich Kladov; Ivan Fedorovich Kotomtsev, acusado; Reinhard Retzlaff, acusado; Wilhelm Langheld, acusado. (NY: 1943, 1944), páginas 110 – 111 (cortesia de Scott Smith, vide a minha mensagem de 20-Feb-2006 21:50 no fórum RODOH). Os destaques são meus:

Sessão da manhã, 17 de Dezembro de 1943.
Factos apurados pela Comissão de Peritos Médico-Legais:

"Em Kharkov e nas localidades circundantes os peritos médico-legais examinaram os locais dos crimes dos invasores fascistas alemães — os lugares onde estes efectuaram o extermínio de cidadãos soviéticos. Estes incluem o bloco queimado do hospital do exército, onde abateram e queimaram prisioneiros de guerra — pessoal do Exército Vermelho gravemente ferido; o local do fuzilamento em massa de pessoas saudáveis ou doentes, de crianças pequenas, adolescentes, pessoas jovens, homens e mulheres de idade no parque florestal de Sokolniki, perto da aldeia de Podvorki, na ravina de Dobritsky, e na colónia terapêutica de Strelechye. Nestes locais os peritos médico-legais examinaram as valas de sepultura e exumaram corpos de cidadãos soviéticos abatidos a tiro, envenenados, queimados ou de outra forma brutalmente exterminados.

"Os peritos médico-legais examinaram os lugares onde os invasores fascistas alemães queimaram corpos para destruir a evidência dos seus crimes — o envenenamento com monóxido de carbono. Este é o sítio da conflagração no terreno das barracas da fábrica de tractores de Kharkov. O exame dos terrenos onde os corpos foram queimados ou enterrados, o exame das valas de sepultura e das posições dos corpos dentro destas, e a comparação do material assim obtido com os dados do procedimento do Tribunal, dão razões para considerar que o número de corpos de cidadãos soviéticos chacinados em Kharkov e arredores chega às várias dezenas de milhares, enquanto o número de 33.000 cidadãos soviéticos indicado pelos acusados e algumas testemunhas é apenas uma aproximação e sem dúvida demasiado baixo.

"Nas 13 valas de sepultura abertas em Kharkov e na sua vizinhança imediata foi encontrado um grande número de cadáveres. Na maioria das valas os corpos estavam deitados de forma extremamente desordenada, entrelaçados uns com os outros de maneira fantástica, emaranhados de forma indescritível. Os corpos estavam deitados de tal forma que se pode afirmar que não foram enterrados nas valas comuns, mas amontoados ou arremessados para dentro das valas. Em duas valas no parque florestal de Sokolniki os corpos foram encontrados deitados em filas rectas, com os braços dobrados no cotovelo e as mãos apertadas contra as faces ou os pescoços. Todos os corpos tinham feridas de bala nas suas cabeças. A posição dos corpos não era acidental. Prova que as vítimas foram forçadas a deitar-se com a cara para baixo e abatidas nessa posição.
Nas valas em que os corpos se encontravam e nos lugares onde os corpos tinham sido queimados, os peritos médico-legais encontraram artigos de uso diário e efeitos pessoais, tais como malas, sacos, facas, tachos, canecas, óculos, fitas para sujeitar malas de mão de senhora, etc. O facto revelado pela investigação — nomeadamente, que antes de serem assassinados os cidadãos soviéticos foram privados do seu calçado — é plenamente confirmado pelos exame médico-legal: durante as exumações os peritos, na maior parte dos casos, descobriram corpos nus ou seminus.

"A fim de certificar quais os cidadãos soviéticos exterminados e de que forma, os peritos exumaram e examinaram 1.047 corpos em Kharkov e arredores, incluindo os corpos de 19 crianças e adolescentes, 429 mulheres e 599 homens. A idade dos mortos ia dos dois até aos 70 anos. O facto de terem sido descobertos os corpos de crianças, adolescentes, mulheres e homens de idade nas valas de sepultura, bem como artigos de uso doméstico e efeitos pessoais nos corpos ou perto destes, prova que as autoridades fascistas alemãs exterminaram cidadãos soviéticos independentemente do sexo ou da idade. Por outro lado, o facto de nos corpos de homens jovens e de meia idade terem sido encontradas vestimentas de corte militar utilizadas no Exército Vermelho, bem como artigos de equipamento militar (tachos, canecas, cintos, etc.) é evidência de que se trata de prisioneiros de guerra soviéticos.
[…]
"Com base em todos os dados dos seus procedimentos no seu conjunto, os peritos médico-legais estabeleceram o seguinte:

"(a) Um grande número de locais de sepultura na cidade de Kharkov e nas suas imediações.

"(b) Um grande número de corpos nas valas de sepultura.

"(c) Que em várias valas os corpos foram enterrados em alturas diferentes.

"(d) Vários graus de preservação dos corpos nas mesmas valas.

"(e) Distinção dos corpos por sexo e idade.

"(f) Uniformidade dos métodos de extermínio de seres humanos.

"Consideramos o acima exposto como prova do extermínio em massa sistemático, metodicamente organizado, de civis e prisioneiros de guerra soviéticos.

"Perito médico-legal chefe do Comissariado do Povo para Protecção da Saúde da U.R.S.S., Director do Instituto Estatal de Pesquisa de Medicina Forense do Comissariado do Povo para Protecção da Saúde da U.R.S.S., Prozorovsky.

"Professor de Medicina Forense do Segundo Instituto Médico de Moscovo, Doutor de Ciências Médicas Smolyaninov.

"Cientista sénior do quadro do departamento tanatológico do Instituto Estatal de Pesquisa de Medicina Forense do Comissariado do Povo para Protecção da Saúde da U.R.S.S., Dr. Semenovsky.

"Perito médico-legal chefe do 69º Exército, major do Serviço Médico Gorodnichenko.

"Anatomista – patologista Major do Serviço Médico Yakusha.

"Após tradução do relatório dos factos apurados pelos peritos médico-legais para a língua alemã, o Presidente, Juiz Major-General Miasnikov, declarou concluídos os procedimentos do Tribunal."


2. Extracto do relatório de uma comissão investigadora soviética em Zhitomir, 5 a 16.02.1944
Fonte: Ernst Klee/ Willi Dreßen, »Gott mit uns« Der deutsche Vernichtungskrieg im Osten 1939-1945 (»Deus está connosco« A guerra de extermínio alemã no leste 1939-1945), páginas 31 e seguintes. Referência: processo de julgamento criminal da Alemanha Federal Js 4/65 GstA Frankfurt/Main, ficheiros russos, Volume 1. Segue-se a minha tradução do texto alemão, que por sua vez é uma tradução do original em língua russa.


[…]A comissão de peritos em medicina forense, composta pelo professor Voronyj Ju. e os médicos Stoliza, B., Iskra F.I., Skalkij M.N., na presença do Representante da Comissão Estatal Extraordinária, Candidato em Direito Vjel’nikov D.G, dos membros do Comité de Apoio Regional de Zhitomir, Reverendo Padre Feodot Tysljukjevich, Kharchenko, K.S., Coronel Shapovalov, Roshanchuk N.M., e um grande número de habitantes locais, estabeleceram que os ocupadores alemães fascistas e os seus ajudantes abateram a tiro habitantes locais nos seguintes lugares:
1) 500 metros a sul da fábrica de Dovshik, que se encontra na floresta a 10 quilómetros da cidade de Zhitomir, foram encontrados dois locais de fuzilamento e enterramento de cadáveres. Primeiro foram encontrados dois locais ao longo do caminho que conduz da estrada N.-Volynsk ao quilómetro 9 a partir da fábrica Dovshik. Foram encontradas seis sepulturas, das quais foram desenterrados 962 cadáveres humanos de ambos os sexos e várias idades. Logo, no caminho que conduz da fábrica até à estrada no quilómetro 8, foi encontrada uma área de dois hectares que estava vedada por arame com uma altura de três metros que tinha sido entrelaçado com grossos ramos de carvalho para impedir a vista de fora. Nesta área foram encontradas 13 sepulturas, com as medidas de 16 x 2 x 2,5 metros. Quando as sepulturas foram abertas encontrou-se um cadáver masculino, os restos de um cadáver parcialmente devorado pelo fogo e grande número de ossos humanos. Durante a exumação notava-se um forte cheiro a cadáveres.
As testemunhas presentes na exumação afirmaram que no local vistoriado cidadãos civis tinham sido abatidos e também enterrados no decurso dos anos 1941/42. Em Julho de 1943 esta área tinha sido vedada, e tinham sido colocados guardas. As testemunhas tinham observado que durante um mês tinha saído fumo do local vedado, que tinha um cheiro extremamente desagradável e se tinha espalhado de tal forma que ainda se lhe podia sentir nas casas da fábrica de Dovshik, a 500 – 600 metros do local.
A comissão de peritos em medicina forense chegou à conclusão de que na referida área tinham sido enterrados e logo desenterrados e queimados cadáveres humanos, em número não inferior a 20.000.
2) A sul da estrada de N.-Volynsk, a 8 quilómetros de Zhitomir, na floresta ao longo do caminho que conduz à aldeia de Barachevka, foram encontradas 28 sepulturas e duas valas descobertas. Quando se abriu as sepulturas foram encontrados 14.110 cadáveres. Foi encontrada uma sepultura inteira cheia de corpos que estavam completamente despidos. Numa das sepulturas foi encontrado o cadáver de uma mulher que tinha uma liga com uma grande cruz vermelha no seu braço. Uma grande parte dos corpos tinha as suas mãos atadas com arame ou tiras.[meu ênfase – RM] Numa das valas descobertas foram encontrados quatro cadáveres bem conservados, 3 homens e uma mulher. Nas roupas do cadáver masculino foram encontrados papéis com o nome de Vlassov, F.I., residente em Zhitomir, Proviantskaja 13/14. A esposa do homem morto, Sra. Vlassova A.C., afirmou que ele tinha sido detido pela Gestapo em Dezembro de 1943 sob suspeita de ter escondido judeus e guardado uma espingarda no seu apartamento.[…]


3. Extracto de um Comunicado da Comissão Estatal Extraordinária Soviética sobre a Liquidação de Prisioneiros de Guerra e Civis em Smolensk e Arredores de Julho de 1941 a Setembro de 1943 (minha tradução da tradução alemã do russo, que se encontra no livro de Paul Kohl, Der Krieg der deutschen Wehrmacht und der Polizei 1941 – 1944 (A guerra da Wehrmacht e da polícia alemãs 1941 – 1944), páginas 269 e seguintes)

[…]O material examinado, o número de cadáveres nas valas em massa abertas e o exame dos locais de valas em massa levam à conclusão de que nos locais examinados da cidade de Smolensk e seus arredores o número de cidadãos soviéticos que foram assassinados ou morreram durante a ocupação temporária alemã excede os 135.000. Este número distribui-se pelos vários locais como segue:

1. Na área da antiga estação de rádio de Smolensk junto à vila de
Gedeonowka cerca de 5 000 cadáveres
2. Na área das aldeias de Magalenchina e Vjasowenka 3 500 "
3. Na área do jardim de frutos e vegetais junto à aldeia de Readowka 3 000 "
4. Na área do jardim (de pinheiros) Pionerski 500 "
5. Na área da Casa do Exército Vermelho 1 500 "
6. Na área do grande campo de concentração 126 45 000 "
7. Na área do pequeno campo de concentração 126 15 000 "
8. Na área de Medgorodka 1 500 "
9. Na área da aldeia de Jassenaja 1 000 "
10. Na área do antigo hospital alemão para prisioneiros de guerra e da residência de estudantes da Universidade de Medicina, Avenida Roslawl 30 000 "
11. Na área da serralharia e da fábrica de licores 500 "
12. Na área do campo de concentração junto à aldeia de Petcherskaja 16 000 "
13. Na área da aldeia de Rakitnja 2 500 "
14. Na área da fábrica de aviões 35 à volta da estação ferroviária de Krasny
Bor, do terreno estatal Passowa, da aldeia de Alexandrovskaja, do aqueduto, dos estabelecimentos de Serebrjanka e Dubrovenka 12 000 cadáveres


São estes apenas três de entre os muitos locais de matança investigados pelos soviéticos (segundo o livro de Alan Bullock Hitler and Stalin. Parallel Lives., Londres 1993, página 818 e seguintes, os documentos reunidos pela Comissão Soviética para Investigação dos Crimes Alemães abrangem cerca de dois milhões de páginas), e o relatório soviético sobre cada um destes locais desmente a afirmação de Mattogno/Graf de que «nem os soviéticos nem os polacos encontraram valas em massa com sequer alguns poucos milhares de cadáveres», uma vez que a primeira fonte aponta para, no mínimo, 33.000 corpos na área de Kharkov, a segunda para 14.110 corpos «a sul da estrada N.-Volynsk, a 8 quilómetros de Zhitomir» e a terceira para mais de 135.000 corpos encontrados em valas em massa na área de Smolensk.

É certo que os relatórios soviéticos acima citados podem estar afectados por exageros, tais como os que salienta o historiador alemão Christian Gerlach, a respeito de valas em massa na área de Minsk na Bielorússia, no seu livro Kalkulierte Morde, do qual foram tirados os seguintes extractos.

Nota de rodapé 1471 na página 770 (minha tradução)
O número e o tamanho das valas em massa não é bem claro; apenas algumas foram abertas. Geralmente o seu número em Blagovshchina é dado como sendo de 34 (Rübe e Heuser falaram em 15-18, vide interrogatório referido na nota anterior), das quais, contudo, e contrariamente à descrição de Kohl, página 97, apenas algumas tinham até 50 metros de comprimento, em vez de todas terem tido um comprimento de 60 metros. O seu volume, portanto, era consideravelmente inferior do que 25.000 metros cúbicos (os quais, considerando um máximo de 6 corpos por metro cúbico, teriam correspondido a até 150.000 pessoas chacinadas), mas não pode ser indicado exactamente. Até o tamanho original das valas em massa dificilmente podia ser determinado já em 1944, uma vez que o Destacamento Especial 1005 tinha efectuado trabalhos de terra com máquinas de construção. Vide "A Evidência Recolhida em Minsk", Documento de Nuremberga USSR-38, Arquivos Federais em Freiburg 16030; dados sobre Trostinets no Arquivo Central do Estado em Minsk 845-I-62, páginas 1-48, especialmente página 1, e interrogatório sem data de W.A. Buzewich, páginas 27-32; Acta da Cidade de Minsk datada de 13.08.1944, Arquivos Especiais Moscovo 1525-1-1473, páginas 309-316, ver também: Beluga (editor), páginas 224-226.


Nota de rodapé 1472 nas páginas 770/771 (minha tradução)
Havia um número de outros locais de extermínio nas redondezas de Minsk. Além das sepulturas de Glinishchi no noroeste com cerca de 66.000 e em Urechye com cerca de 12.500 (oficialmente 30.000) prisioneiros de guerra destruídos havia a vala de Drosdy (10.000 mortos civis) e as sepulturas de Petrashkevichi (14.000 a 20.000 mortos civis; oficialmente 25.000 segundo uma fonte, 54.000 segundo outra) e em Tuchinka, no cemitério judaico, no parque cultural, etc. Vide supra e Kohl, nota 132, páginas 264 e seguintes. As referidas diferenças entre a minha estimativa e as cifras oficiais resultam parcialmente – não sempre – das medidas das valas em massa, desde que conhecidas. Relativamente a outros locais de matança em Minsk vide Kohl, páginas 77-90; Schlootz, página 75; interrogatório de Eberhard Herf em 26.12.1945, ZStl 202 AR-Z 184/67, Volume 1, página 67.


Páginas 852 e seguintes (minha tradução)
Na área de Minsk o maior fuzilamento de prisioneiros de guerra soviéticos em solo bielorusso teve lugar em Janeiro de 1943. Segundo os depoimentos de várias testemunhas, especialmente o executor alemão Alois Heterich, o 3º Batalhão do Regimento de Infantaria 595 foi descarregado em Minsk em Janeiro de 1943 durante o transporte da 327ª Divisão de Infantaria para Krasnodar, e tinha ordem para abater 10.000 pessoas, na sua maioria prisioneiros de guerra do campo na estação de comboios de mercadoria, a alguns quilómetros de distância, durante três noites no fim de Janeiro e início de Fevereiro de 1943. Só o pelotão de Heterich terá executado 1.500 pessoas. Alegadamente houve mais chacinas em massa com camiões de gaseamento nos próximos dias. As vítimas (entre elas, segundo o resultado da exumação, também um número reduzido de civis, incluindo mulheres) foram abatidas com um tiro na nuca e portavam uniformes das forças blindadas soviéticas. O número de mortos na vala em massa de Urechye, 6 quilómetros a leste de Minsk, que as autoridades soviéticas estimaram em 30.000 tendo em conta os depoimentos de testemunhas, era de 12.500 segundo a descrição das valas em massa. [Nota de rodapé: Havia 10 valas em massa com uma área de 24 por 5 metros, onde os corpos foram encontrados em três filas e sete camadas uns encima dos outros. Vide Acta de 13.8.1944, Cidade de Minsk, Arquivo Especial Moscovo 1525-I-473, páginas 309-316; "A Evidência Recolhida em Minsk", Documento de Nuremberga USSR-38, Arquivos Federais em Freiburg 16030.


No entanto, mesmo as estimativas mais baixas que Gerlach faz do conteúdo das valas em massa que menciona ainda apontam para muito mais do que apenas alguns poucos milhares de corpos em cada uma destas valas.

Portanto, será que os relatórios de investigação soviéticos são necessariamente tão inexactos, ou até fraudulentos, como Mattogno/Graf gostariam que fossem?

Uma forma de estabelecer isto consiste em comparar os relatórios soviéticos sobre um dado local de chacina em massa com outra evidência relativa às matanças naquele local, à qual os soviéticos não tinham acesso ou sobre a qual não tinham influência.

Considere-se, por exemplo, a descrição dos corpos nas valas em massa de Kharkov, na primeira das fontes acima citadas:

Nas 13 valas de sepultura abertas em Kharkov e na sua vizinhança imediata foi encontrado um grande número de cadáveres. Na maioria das valas os corpos estavam deitados de forma extremamente desordenada, entrelaçados uns com os outros de maneira fantástica, emaranhados de forma indescritível. Os corpos estavam deitados de tal forma que se pode afirmar que não foram enterrados nas valas comuns, mas amontoados ou arremessados para dentro das valas. Em duas valas no parque florestal de Sokolniki os corpos foram encontrados deitados em filas rectas, com os braços dobrados no cotovelo e as mãos apertadas contra as faces ou os pescoços. Todos os corpos tinham feridas de bala nas suas cabeças. A posição dos corpos não era acidental. Prova que as vítimas foram forçadas a deitar-se com a cara para baixo e abatidas nessa posição.


Aquilo que a comissão considerou provado dada à posição dos corpos, i.e. que as vítimas tinham sido forçadas a deitar-se face abaixo e abatidas nessa posição, também resulta aparente dos depoimentos de dois participantes nas execuções à volta de Kharkov (Karl G., antigo membro do batalhão de polícia 314, e Viktor T., antigo membro do destacamento especial Sonderkommando 4 a) perante autoridades de justiça penal da República Federal Alemã na década de 1960, cuja transcrição e tradução para inglês se encontram na minha mensagem de 25-Jul-2005 11:01 no fórum RODOH. Segue-se a tradução para português:

Karl G.
Os judeus tiveram que se despir e deitar-se junto à aberturas no solo ou dentro das mesmas. As aberturas eram naturais e não valas contra tanques ou outras escavações. Nestas valas of judeus foram abatidos a tiro pelo SD [Sicherheitsdienst – Serviço de Segurança, n.d.t.].


Viktor T.
Recebi ordens de juntar-me ao destacamento de execução. O destacamento de execução, composto por 10 homens, entrou na abertura que ia cerca de 20 metros para dentro da montanha. Os judeus foram conduzidos para dentro em grupos de 20-25 pessoas e tiveram que deitar-se no solo. Foram abatidos com disparos na nuca de pistolas–metralhadoras.


Outra convergência existe entre o número de judeus executado na chamada "Ravina Drobizk" perto de Kharkov segundo a Acta da Comissão Estatal Extraordinária Para A Cidade de Kharkov Para Investigar os Crimes Lá Cometidos, e o número que resulta do depoimento de Phillip F., antigo membro da 297ª Divisão de Infantaria, em 23 de Marco de 1961 perante a Procuradoria da Cidade de Hamburgo. Ambas fontes também são citadas na minha mensagem no fórum RODOH atrás referida. Segue-se a tradução para português:

Acta da Comissão Estatal Extraordinária Para A Cidade de Kharkov Para Investigar os Crimes Lá Cometidos
[...]Segundo dados incompletos, nos meses de Dezembro de 1941 e Janeiro de 1942, perto das fábricas de Rogan, a 8 quilómetros de Kharkov, na chamada "Ravina Drobizk", foram abatidos a tiro mais de 15.000 judeus, habitantes da cidade de Kharkov. Estes crimes monstruosos contra a população pacífica são confirmados pelos depoimentos de testemunhas, o relatório de medicina forense e outro material documental. [...]
Em 14 de Dezembro de 1941 o comandante militar alemão da cidade de Kharkov emitiu uma ordem segundo a qual toda a população judaica devia trasladar-se para a periferia da cidade dentro de dois dias, para as barracas das instalações de uma fábrica de máquinas. Na ordem constava que as pessoas que não obedecessem esta ordem seriam abatidas. Assim, alguns dias depois uma multidão de muitos milhares de pessoas idosas, mulheres e crianças se deslocava através das ruas da cidade em direcção ao local de realojamento. Uma vez que era proibido andar pela cidade depois das 16ºº horas, mas muitos daqueles a serem realojados ainda estavam a caminho nessa altura, o movimento parou. Estas pessoas passaram a noite na rua, sob o frio glacial. Devido a isto muitos morreram já no caminho. [...]


Depoimento de Phillip F.
[...] Foi em meados de Dezembro de 1941, quando passei várias semanas em Kharkov. Ainda me lembro exactamente que foi no dia 15.12.1941 que vi em Kharkov como uma procissão de vários quilómetros de comprimento, de judeus em longas filas com carros de mão e bagagem, se movia da cidade para leste em direcção à fábrica de tractores. A fábrica de tractores se encontra a cerca de 15 quilómetros do centro da cidade. Entre os judeus havia homens, mulheres e crianças. Alguns carros eram puxados por pequenos cavalos que às vezes caíam sob o peso. Encima dos carros havia às vezes crianças pequenas, mulheres e pessoas doentes, sentados na bagagem. O frio era de cerca de 15 graus (centígrados) abaixo de zero. Vi os judeus a passar durante uma hora inteira, e ainda a procissão não terminava. Estimo o número de judeus que nesse dias foram conduzidos de Kharkov para a fábrica de tractores em cerca de 15.000 pessoas.
Ainda me lembro que a procissão estava segredada e guardada por homens de uniforme. Já não consigo lembrar-me, contudo, se estes eram membros das SS ou polícias auxiliares ucranianos de uniforme. Não observei nenhuns maus tratos aos judeus durante este processo. Quando no próxima dia conduzi com o meu carro de Kharkov para Tshugev, utilizei a mesma estrada que os judeus tinham utilizado no dia anterior. À direita e à esquerda da estrada vi várias vezes cadáveres que eram da procissão dos judeus. Não posso dizer se estes judeus tinham morrido de maus tratos ou sido abatidos a tiro, ou se tinham sucumbido à exaustão. Os cadáveres estavam lá abandonados e ninguém se preocupava com eles.
A razão pela qual sei exactamente que os judeus foram conduzidos à fábrica de tractores em 15.12.41 é que naquela altura havia cartazes em língua alemã e russa pendurados em todo lado na cidade, em que os judeus eram chamados a reunir-se num certo local da cidade a fim de serem levados para fora. Já não me lembro qual foi o serviço que colocou esses cartazes. Mas ainda lembro exactamente que os cartazes referiam o dia 15.12.1941 como sendo o dia da congregação. [...]


As ênfases nas citações supra são minhas e destacam as semelhanças entre a informação contida nestas duas fontes, que são tão independentes uma da outra como os depoimentos de Karl G. e Viktor T. são independentes do relatório dos Factos apurados pela Comissão de Peritos Médico-Legais, acima citado, relativamente às valas em massa na área de Kharkov. Estas convergências tornam improvável a hipótese de que as comissões de investigação soviéticas tenham manipulado os seus relatórios, e as duas fotografias relativas à "Drobitski Yar perto de Kharkov" mostradas na minha mensagem de 25-Jul-2005 11:01 no fórum RODOH reforçam a conclusão de que, ao menos neste caso, os soviéticos não recorreram a uma alegada prática manipulativa da qual Mattogno/Graf os acusam nas páginas 218 e seguintes do seu livro, a de fotografar um número relativamente reduzido de corpos encontrados num local de matança desde vários ângulos por forma a criar a impressão de que o número de corpos encontrados era muito maior. (Não faz sentido, por acaso, tomar o número de corpos fotografados como indicação do número de corpos encontrados. É difícil ter havido uma investigação de chacina em massa mais publicitada e utilizada para efeitos de propaganda do que a investigação alemã da massacre soviética de prisioneiros de guerra polacos em Katyn, e no entanto estas fotografias, que parecem ser a maior parte das 80 fotografias que, segundo Mattogno, acompanhavam o relatório de investigação dos nazis, parecem mostrar no máximo algumas poucas centenas dos cerca de 4.000 corpos encontrados.)

No que respeita às valas em massa na área de Minsk mencionadas por Gerlach, quem duvidar que houve matanças com dezenas de milhares de vítimas naquela área durante a ocupação alemã apenas precisa de ler o memorando secreto datado de 31 de Julho de 1942, enviado por Kube, o governador comissionado da Ruténia Branca, para o Gauleiter Hinrich Lohse, governador comissionado dos Territórios Orientais, ou a tradução daquele documento apresentada, junto com outra evidência, no julgamento das Einsatzgruppen em Nuremberga. As chacinas em massa na área de Minsk não estavam de forma alguma concluídas quando aquele memorando foi escrito.

No que respeita ao relatório da comissão de investigação soviética na área de Zhitomir, a evidência independente corroborativa de que tenho conhecimento – e que abrange apenas uma parte do período de ocupação nazi naquela área – provém dos Relatórios de Situação Operacional URSS dos Einsatzgruppen, em que se basearam as alegações adiante traduzidas, incluídas na acusação do "Caso dos Einsatzgruppen" em Nuremberga:

(A) Durante o período de 22 de Junho de 1941 a 3 de Novembro de 1941, nos arredores de Zhitomir, Novo Ukrainka e Kiev, o Einsatzgruppe C assassinou mais de 75.000 judeus.

(B) Em 19 de Setembro de 1941, em Zhitomir, o Einsatzgruppe C assassinou 3.145 judeus e confiscou a sua roupa e objectos de valor.

(C) Durante o período de 22 de Junho de 1941 a 29 de Julho de 1941, nos arredores de Zhitomir, o Sonderkommando 4a assassinou 2.531 pessoas.


Relativamente às valas em massa na área de Smolensk, mencionadas pela Comissão Estatal Extraordinária soviética, desafortunadamente não tenho à minha disposição evidência independente das investigações soviéticas que permita sequer a verificação por alto da exactidão dos dados soviéticos que fiz nos outros casos, fora do que sei em geral, principalmente através de fontes alemãs utilizadas pelos historiadores Christian Streit e Christian Gerlach, sobre o tratamento que os nazis deram aos prisioneiros de guerra soviéticos, que perfaziam uma grande parte das vítimas encontradas na área de Smolensk.

Penso que, a fim de fazer uma avaliação mais ou menos fiável do grau em que os relatórios das comissões soviéticas sobre a investigação de locais de matança nazis podem ser considerados fiáveis, seria necessário comparar os respectivos relatórios de investigação soviéticos com evidência independente dos mesmos relativamente ao maior número possível de locais de matança nazis. Este tipo de trabalho de pesquisa histórica – do qual o artigo de Nick Terry, Mass Graves in the Polesie [tradução para português], é um brilhante exemplo – não é, desde logo, o que se pode esperar de pessoas como Mattogno & Graf, que parecem felizes em concluir, com base num um único alegado exemplo (o do campo de Osarichi, discutido nas páginas 218 e seguintes do seu livro; no que respeita a Babi Yar fazem uma barafunda ridícula, seguida por uma conclusão non-sequitur do tipo "poderiam ter feito, deveriam ter feito, portanto teriam feito" derivada do facto de os soviéticos terem publicado fotografias da escassa evidência física que sobreviveu à operação de encobrimento dos nazis), que os relatórios de investigação soviéticos em geral tendem a enfermar de manipulações e conter cifras e outras conclusões baseadas em pouca ou nenhuma evidência.

Como era de esperar neste contexto, Mattogno/Graf vêem manipulações não apenas do lado soviético, mas também do lado dos próprios assassinos nazis, que supostamente exageraram desmedidamente o tamanho das suas massacres e até inventaram algumas. Mattogno/Graf fazem tais alegações não apenas em relação a Babi Yar (vide os artigos de Sergey Romanov a este respeito ou as respectivas traduções para português: Porque é negação e não revisionismo, Partes III a IV: negadores e o massacre de Babiy Yar III(1), IV (2), V (3), VI (4) ), mas também (páginas 223 e seguintes) no que respeita ao massacre de 5.090 judeus pelo Einsatzkommando 3 em Marijampole em 1 de Setembro de 1941 (partilhando assim a vergonha da pesquisa desleixada de Germar Rudolf, salientada no artigo de Sergey Romanov Deniers and the graves of Marijampole (tradução para português: Porque é negação e não revisionismo. Parte II: negadores e as valas de Marijampole)) e o massacre de 10.000 a 12.000 judeus em Simferopol (páginas 210 e seguintes). A última destas alegações, em relação à qual Mattogno cita o advogado de defesa de Manstein, Reginald T. Paget, é abordada no meu artigo The Simferopol Massacres [versão em português].

[Tradução adaptada do meu artigo Neither the Soviets nor the Poles have found any mass graves with even only a few thousand bodies … no blog Holocaust Controversies]

sábado, 20 de dezembro de 2008

Porque é negação e não revisionismo. Parte VI: negadores e o massacre de Babiy Yar (4)

Porque é negação e não revisionismo. Parte VI: negadores e o massacre de Babiy Yar (4)

O argumento de John Ball tem sido aceito sem críticas por muitos negadores. Aqui estão apenas algumas fontes "revisionistas" do feliz trago de bobagens de Ball: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8. Etc. Tolices.

Uma fonte deve nos interessar em particular - o livro sobre Treblinka de nossas vítimas favoritas, Mattogno e Graf. Numa resenha deste livro Graf escreve:

Treblinka: Extermination Camp or Transfer Camp?(Treblinka: campo de extermínio ou de transferência?) é quase todo trabalho de Carlo Mattogno, desde que ele editou sete dos nove capítulos. Eu sou o autor do primeiro e do quinto capítulo, e da introdução e conclusão...
I.e. o autor do capítulo, que estivemos discutindo nestas séries, é Carlo Mattogno. Claro, Graf sozinho também escreveu sobre Babiy Yar em The Giant with Feet of Clay(O gigante com pés de barro) e Holocaust or Hoax?(Holocausto ou Fraude?) afirmando que o "caso de Babi Yar fornece uma prova irrefutável da falsidade destes relatórios operacionais", repetindo argumentos de Tiedemann e Ball, e geralmente soltando o usual nonsense sem inspiração. Mas Graf é
muito menos da metade da dupla, Mattogno é o principal pesquisador e um "mentor". Então alguém poderia esperar uma análise um pouco mais refinada dele. Cara, isto faria alguém ter uma decepção!

Suponho que deveria ser mencionada apenas a passagem em que Mattogno acha Ball e Tiedemann confiáveis:

"e. Babi Yar
No “Relatório de atividade e situação no. 6 dos Einsatzgruppen da polícia de segurança e da SD na URSS,” lemos isto a respeito do período de tempo de 1 a 31 de outubro de 1941:595 “Em Kiev todos os judeus foram presos e, em 29 e 30 de setembro, um total de 33.771 judeus foram executados.” Isto procede com o (in)fame ‘Massacre de Babi Yar.’ Entretanto, como Udo Walendy e Herbert Tiedemann provaram, isto não aconteceu, pelo menos não remotamente no escopo alegado. 596 Provavelmente próximo à Kiev, como em Simferopol, várias centenas de pessoas foram mortas. Retornaremos ao caso de Babi Yar.
595 102-R. IMT, Vol. XXXVIII, pp. 292f.
596 Udo Walendy, “Babi Jar - Die Schlucht ‘mit 33.771 murdered Jews’?”, em:
Historische Tatsachen
no. 51, Verlag für Volkstum und Zeitgeschichtsforschung, Vlotho 1992. Herbert
Tiedemann, “Babi Jar: Critical Questions and Comments”, em: Germar Rudolf (ed.), op. cit. (nota 81), pp. 501-528."


Em 26 de setembro, a Luftwaffe tirou uma fotografia aérea de área na qual Babi Yar estava localizada. John Ball publicou isto com o seguinte comentário:[...]
Com respeito a uma secção ampliada da mesma fotografia, Ball diz:[...]
Ball deduz disto:[...]
Estes achados têm o maior valor desde, de acordo com a única testemunha, supõe-se que a cremação dos corpos em Babi Yar tenha sido completada em 25 ou 26 de setembro, correspondendo ao mesmo dia ou o dia anterior em que as fotos aéreas foram tiradas.

Então começa a idiotice pura:

Este Vladirmir K. Davidov é aparentemente a única testemunha que afirma ter participado da cremação dos corpos de Babi Yar. Seu conto é totalmente inacreditável. O número de corpos - 70.000 - é mais que o dobro do número de mortos de acordo com o relatório do evento, que por si só já é muito alto.
"Aparentemente a única testemunha". Isto sozinho desqualifica Mattogno de ser um sério pesquisador. Isto quer dizer que ele não se esforça para estudar a literatura disponível do massacre e dos seguintes eventos. Aqui está uma (provavelmente incompleta) lista da literatura disponível no período que Mattogno escreveu esta frase que contém outros testemunhos de Sonderkommandos além de Davydov:

  • O livro de 1993 com as versões em russo, inglês e alemão dos testemunhos dos Sonderkommandos de Babiy Yar, Jakov Kaper e David Budnik, editado por um pesquisador de Babiy Yar, Erhard Roy Wiehn, e publicado por Hartung-Gorre Publishers, D-78465 Konstanz/Alemanha (Hartung.Gorre@t-online.de) com o ISBN 3-89191-666-3 (da última vez que verifiquei ainda estava disponível);
  • O excelente Babi Yar: A Document de Anatolij Kuznetsov no formato de uma novela, no qual Mattogno poderia aprender que quando Kuznetsov estava escrevendo o livro, pelo menos nove Sonderkommandos ainda estavam vivos: Jakov Stejuk, Vladimir Davydov, Vladislav Kuklya, Jakov Kaper, Zakhar Trubakov, David Budnik, Semyon Berlyand, Leonid Ostrovskij and Grigorij Iovenko;
  • protocolos de interrogações de Berlyant, Stejuk e Davydov publicados em 1991 (Babij Jar. K pyatidesyatiletiju tragedii 29, 30 sentyabrya 1941 goda, Jerusalém, 1991; "Babyn Jar (veresen' 1941 - veresen' 1943)", Ukrainskij istorychnyj zhurnal, 1991, no. 12).
Mais, testemunhos de Sonderkommandos foram usados em diferentes tribunais de crimes de guerra, tal como o julgamento do SK1005 em Stuttgart em 1969; eles também deram testemunhos à Comissão Extraordinária. (para completar eu mencionarei que os Sonderkommandos e outras testemunhas também foram interrogadas muitas vezes desde 1943, mas a maioria desdes documentos foram publicados apenas recentemente, no volume de 2004 citado anteriormente).

Por fim, mas não finalmente, o Relatório de 1944 da Comissão Soviética Extraordinária (cortesia de David Thompson), que declara (p. 201, Eng. edn.):
As testemunhas L. K. Ostrovsky, S. B. Berlyand, V. Yu. Davydov, Ya. A. Steyuk e I. M. Brodsky que escapou do fuzilamento em Babi Yar em 29 de setembro de 1943 atestaram o seguinte: "Como prisioneiros de guerra fomos mantidos no campo de Syrets nos arredores de Kiev. Em 18 de agosto, 100 de nós foram enviados para Babi Yar. Lá fomos presos em algemas e forçados a escavar e queimar os corpos de cidadãos soviéticos exterminados por alemães [...]"
A descrição detalhada do processo segue abaixo.

Como Mattogno não veio a examinar este relatório?

"O número de corpos - 70.000 - é mais que o dobro do número de mortos de acordo com o relatório do evento, que por si só já é muito alto." A ignorância de Mattogno revela-se de novo. Ele não mostra que o número nos documentos alemães do período de guerra é "excessivamente alto". E está claro que ele não entende que de acordo com numerosas testemunhas, a ravina serviu como um local de execução por dois anos desde o início do massacre. Então o número de corpos na ravina não deveria corresponder ao número de vítimas dos relatórios alemães, e nem todas as vítimas eram judias.



O número real de vítimas nunca será conhecido. Sabemos de muitos testemunhos (e.g. aqueles publicados no livro Babij Jar citado na postagem anterior) que fuzilamentos continuaram por vários dias depois da ação inicial. Quantos foram mortos é desconhecido. Sabemos por testemunhos que as execuções continuaram depois, por dois anos - muitos milhares (possivelmente, 20.000-25.000) de prisioneiros de guerra soviéticos foram mortos e enterrados nas proximidades do canal; ciganos, partisans, nacionalistas ucranianos e outros foram mortos na ravina. Vans com gás também foram usadas.

Temos numerosos testemunhos de sobreviventes judeus que trabalharam na ravina e enterraram os corpos. Eu calculei o número total por seus testemunhos sobre o número de corpos aqui. Como é o único a ser aguardado, há diferentes estimativas e detalhes. Penso que será razoável estimar o número mínimo de vítimas como 70.000. Possivelmente, o número real é de cerca de 100.000. Não é sabido quantas das vítimas eram judias e quantas muitas eram não-judias. Provavelmente, se aceitarmos a mais baixa estimativa, a proporção certa é de 1:1, enquanto que com as estimativas maiores temos mais vítimas não-judias que vítimas judias.

Mais tarde Mattogno reafirma a sua ignorância:
Assim, eis a mais importante evidência material sobre o fuzilamento de 33.771 (ou 70.000) judeus...
-----------------------------------------------------------------------------------------
Adiante, Mattogno explora a questão da evidência física. Primeiramente, o que deveria ser relembrado:
Com a data especificada no quarto capítulo, a cremação de 33.771 corpos deveria requerer aproximadamente 4.500 toneladas de lenha e aproximadamente 430 toneladas de freixo de madeira e cerca de 190 toneladas de cinzas humanas teriam sido geradas no processo.

Vamos tomar a data da postagem do Roberto sobre Mattogno e Belzec (mantendo em mente que poderá ser corrigido no futuro, se uma nova data aparecer), e assumir que 100.000 corpos com uma média de peso de 45 kg (havia muitos de crianças e mulheres entre as vítimas, embora provavelmente não tanto quanto em Belzec). Isto é cerca de 4.500 toneladas de corpos. 5% disto são 225 toneladas (se seguirmos as regras de Mattogno). Novamente, aceitando as generosas hipóteses de Roberto (i.e. sem considerar a decomposição dos corpos), o freixo de madeira constituiria cerca de 360 toneladas. Juntos - 585 toneladas. SKs atestam que estavam misturando as lenhas com areia e terra dentro e ao redor da ravina, e escavando isso nas proximidades dos hortos, campos, etc. Eles estiveram trabalhando por cerca de 40 dias. I.e. em média teriam que transportar e dissipar algo em torno de 14.6 toneladas de lenha por dia. Estiveram trabalhando entre 12-15 horas, de acordo com seus testemunhos. Assumindo 12 horas de trabalho diário, eles tinham que gastar 1.2 toneladas de lenha por hora. Assumindo 30 kg por pessoa, eles precisariam de cerca de 40 SKs cheios de lenha pra consumir - cada um tendo que gastar 30 kg por hora. E eles tinham que pelo menos ter 300 pessoas trabalhando na ravina. Esses números são muito aproximados, e possivelmente a situação era muito melhor do ponto de vista logístico, e a flexibilidade é bem grande. Suponha que eles estavam sempre trabalhando 15 horas. Então precisariam de apenas 32 homens. Suponha que não precisavam de uma hora para consumir 30 kg de lenha... Etc., etc., etc. Então sim, era possível dispersar lenha e ossos ao redor da área.

Não, não seria possível destruir as lenhas e pedaços de bones completamente, mas ninguém afirma que isto foi feito.

E.g. em seu livro Anatolij Kuznetsov descreve sua viagem à ravina com seu amigo não muito depois da incineração ter parado:
Sabíamos deste riacho perfeitamente... continha areia de textura granulada, mas agora por alguma razão foi cheio com seixos brancos.

Eu parei e me aproximei para dar uma olhada de perto. Era um pedaço queimado de um osso, tamanho de um cravo, branco de um lado, escuro do outro lado. O riacho os carregou para algum lugar. [...]

Então andamos por um longo tempo ao redor destes ossos, até alcançarmos o início da ravina, onde o riacho desaparecia - isto é originado de muitas fontes filtradas de camadas arenosas, e isto é de onde os ossos vieram.

A ravina tornou-se estreita... e o local da areia tornou-se cinza. De repente nós compreendíamos que estávamos andando sobre cinzas humanas.

[...]

Nós andamos ao redor um pouco, encontramos muitos ossos inteiros, crânio fresco(ainda molhado) e novamente pedaços de cinzas negras entre a areia cinza.

Eu apanhei um pedaço, de cerca de dois quilogramas, levei isso comigo e o mantive. Isto são as cinzas de muita gente, tudo está misturado neles - cinzas internacionais, por assim dizer.

(JFYI, Kuznetsov não era judeu, ele era meio-ucraniano, meio-russo; ele escapou da URSS em 1969, levando uma versão não censurada de Babij Jar com ele. A versão completa é extremamente crítica ao regime stalinista, então, claro, não poderia ser publicada na URSS por completo. Numa carta de 1965 a Shlomo Even - Shoshan Kuznetsov escreveu:
Eu não me identifico nem com os sionistas, e nem com os anti-semitas - ambas [ideologias] são igualmente repulsivas para mim, e eu estou escrevendo minha história do que penso ser a única posição correta - a internacionalista).
Agora, considere os disparates de Mattogno sobre as fotos feitas pela comissão soviética:
Depois dos soviéticos terem reconquistado Kiev, uma comissão de investigação feita a sua maneira foi para Babi Yar e tirou algumas fotografias, que foram imortalizadas num álbum. Três das fotos supostamente exibidas numa primeira e segunda "zona onde os corpos foram queimados."[643] Em outra, os "fragmentos dos fornos e da gruta dentro da qual os prisioneiros que tinha cremado os corpos conseguiram escapar" são alegadamente mostrados.[644] Os títulos destas fotos são absurdos; a única atual, onde os objetos que são claramente reconhecíveis são uns poucos sapatos podres e alguns farrapos, que foram detalhadamente fotogrados pelos soviéticos e foram descritas como se segue:[643]

"Fragmentos de sapatos e pedaços de roupas dos cidadãos soviéticos mortos pelos alemães."
Por que os títulos são "absurdas"? Fotos por si só não são suficientes, e os títulos fornenecem o contexto. Certamente, e exatamente porque não são muito "reconhecíveis" nas fotos, os títulos são necessárias.
Dessa forma, o material de evidência mais importante para o fuzilamento de 33.771 (ou 70.000) judeus e posterior escavação e cremação de seus corpos, que foram descobertos na cena do crime pelos soviéticos, consiste de poucos sapatos e alguns farrapos! Se, entretanto, os soviéticos tivessem se esforçado para documentar as coisas, que não tinham nenhuma conexão com as acusações, que circo propagandístico teriam apresentado se eles tivesem realmente descoberto as valas em massa com com um total de mais de um milhão judeus assassinados (assim como o incontável número de não-judeus)? Já aquele circo propagandístico fracassou em acontecer, desde que os soviétivos não encontraram nada que pudessem ser comparáveis às descobertas feitas por alemães em Katyn e Vinnitsa!
De repente Mattogno salta do tema de Babiy Yar para o tema das valas em massa em geral, com as quais nós tratamos aqui e aqui. No que especificamente diz respeito à Babyi Yar, não já existem mais valas em massa lá, nada para o "circo propagandístico".

O foco, portanto, foi sobre a investigação das proximidades do campo de Syretsky, na qual muitos corpos não queimados foram encontrados.

E que eu saiba não há qualquer "circo propagandístico" associado com estes horríveis achados.

O circo real aqui é o tratamento dos negadores ao massacre de Babiy Yar, que se espelha em seu tratamento do Holocausto no geral.

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Fonte: Holocaust Controversies
Texto: Sergey Romanov
http://holocaustcontroversies.blogspot.com/2006/08/thats-why-it-is-denial-not-revisionism_06.html
Tradução: Roberto Lucena

Ver também: Técnicas dos negadores do Holocausto

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