REUNIÃO DA ONU. Presidente do Irã causa abandono de conferência
Ao todo, 40 diplomatas da União Européia deixaram a sala de reunião durante o discurso do líder iraniano; Israel, EUA e outros países boicotaram a conferência
REUTERS
Mahmoud Ahmadinejad acusou Israel de racismo, provocando a indignação dos diplomatas presentes
Genebra, Suíça. Dezenas de países abandonaram ontem uma conferência racial da Organização da Organização das Nações Unidas (ONU), em um gesto raro, depois de ouvirem o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, apontar Israel como um ´regime racista cruel e repressor´.
´Depois do final da Segunda Guerra Mundial, os aliados recorreram à agressão militar para tirar as terras de uma nação inteira com o pretexto do sofrimento judeu´, afirmou Ahmadinejad, o único chefe de Estado que assistiu a conferência.
´Enviaram imigrantes da Europa, dos Estados Unidos para estabelecer um governo racista na Palestina ocupada´, continuou o presidente iraniano.
Ao todo, 40 diplomatas da União Européia (UE) abandonaram a sala após o discurso de Ahmadinejad. Os representantes também ameaçaram abandonar a conferência de houvesse novos apelos a retórica anti-semita ou outras críticas igualmente discriminatórias contra Israel.
O líder iraniano criticou ainda a ordem política mundial, ao afirmar que o Conselho de Segurança da ONU sempre ´recebeu com o silêncio os crimes desse regime (israelense), como os recentes bombardeios contra civis em Gaza´.
Afeganistão
Ahmadinejad disse ainda que a intervenção internacional no Afeganistão não trouxe a paz nem a prosperidade ao país, e que a invasão americana do Iraque deixou ´um milhão de mortos e feridos e perdas milionárias para a economia desse país´.
O presidente iraniano continuou as constantes referências ao ´sionismo mundial, que personifica o racismo´, disse, e chamadas para uma reforma da ordem política internacional. As vaias de alguns grupos a Ahmadinejad começaram no momento em que ele subiu à tribuna, quando foi interrompido com gritos de ´assassino´ por dissidentes iranianos que foram a Genebra. Algumas pessoas, no entanto, aplaudiram o presidente do Irã.
Ahmadinejad continuou dizendo que ´perdoava´ os que lhe tinham insultado, aos quais qualificou de ´ignorantes´. Membros de grupos judeus e ONGs favoráveis a Israel também protestavam na entrada da sala do Palácio das Nações, onde aconteceu a conferência.
A conferência da ONU foi boicotada por Israel, Estados Unidos, Austrália, Canadá, Itália, Holanda, Polônia, Nova Zelândia, e Alemanha. Esses países alegaram que a reunião poderia ser dominada por ´críticas injustas´ a Israel.
A presença de Ahmadinejad em Genebra causou indignação de Israel, que chamou para consultas seu embaixador em Berna, em protesto contra o encontro que o presidente suíço, Hans-Rudolf Merz, manteve na noite do último domingo com o presidente iraniano.
Reações
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, deplorou o discurso de Ahmadinejad. ´Foi uma experiência muito perturbadora para mim como secretário-geral´, disse ele numa entrevista coletiva ao final do dia. ´Nunca vi nem experimentei esse tipo de procedimento perturbador da assembléia, da conferência, por parte de nenhum Estado membro. Foi uma situação totalmente inaceitável´, afirmou.
O discurso de Ahmadinejad foi ´vil e odioso´, afirmou o enviado adjunto dos Estados Unidos, Alejandro Wolff. ´Eu não posso pensar em nenhuma palavra a não ser vergonhoso´, afirmou Wolff.
´Isso provoca uma séria injustiça contra a nação iraniana e o povo iraniano, e nós conclamamos a liderança iraniana a mostrar uma retórica muito mais equilibrada, moderada, honesta e construtiva quando lidar com as questões da região´, continuou o americano. Apesar disso, a Casa Branca declarou que ainda quer dialogar com o Irã.
Vaticano
O Vaticano também criticou as posições do líder iraniano e classificou suas declarações de ´inaceitáveis e extremistas´.
´Discursos como o do presidente iraniano não vão na direção certa, já que embora não tenha negado o Holocausto ou o direito à existência de Israel, usou expressões extremistas e inaceitáveis´, disse o porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi a uma rádio.
A presença do Vaticano na conferência da ONU irritou os líderes judeus. ´Com sua participação, o Vaticano deu seu endosso ao que está sendo preparado ali (contra Israel)´, afirmou o rabino chefe de Roma, Riccardi Di Segni, ao jornal italiano La Stampa.
Shimon Samuels, diretor do escritório europeu do Centro Simon Wiesenthal, disse que o Vaticano ´está dando o selo de sua aprovação à campanha de ódio´ contra Israel. ´Não é possível ficar em cima do muro. O Vaticano é uma voz poderosa, e (um boicote) dele teria tido efeito demonstrativo poderoso´, ressaltou Samuels.
21.04.2009
Fonte: Diário do Nordeste/Reuters
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=632347
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