Meio século depois Hollande admite matança de argelinos em Paris |
O reconhecimento veio no 51º aniversário da manifestação de 17 de Outubro de 1961 e a pouco tempo de uma visita oficial à Argélia que o presidente francês tem agendada para o início de Dezembro. A manifestação brutalmente reprimida em 1961 fora convocada por organizações afectas ao movimento de libertação argelino FLN e dirigia-se contra o reclher obrigatório que apenas se aplicava aos argeilinos.
A manifestação terá reunido entre 20.000 e 50.000 pessoas e a maior parte dos mortos não foram vítimas de violência na rua, e sim nas esquadras, após a detenção. Um grande número foi lançado ao rio Sena, tendo os cadáveres continuado a aparecer nos dias seguintes, como denunciaram contra os desmentidos oficiais principalmente os jornais Le Monde, Libération e L'Humanité.
No lacónico comunicado do presidente Hollande, o balanço da repressão policial daquele dia é descrito como uma "tragédia" e refere-se a necessidade "não de vingança ou arrependimento, mas de do direito, por meio da verdade". O embaixador argelino em Paris, Missoum Sbih, comentou favoravelmente esta admissão do facto em si, que há muito era reivindicada pelo Governo argelino. Segundo Sbih, há no comunicado "vários sinais positivos e encorajadores".
Direita francesa furiosa com Hollande
Embora o comunicado em momento algum admita a existência de culpas da polícia francesa ou peça perdão às famílias das vítimas, os "sinais positivos" nele lidos pelo embaixador argelino já foram suficientes para desencadear um vendaval de protestos da direita francesa.
Assim, o líder parlamentar da UMP, Christian Jacob, considerou "intolerável" que o comportamento da polícia e o conjunto da República fossem postos em causa pelo comunicado. O dirigente histórico da Frente Nacional (extrema-direita) Jean-Marie Le Pen, conhecido por ter praticado a tortura em larga escala durante a Guerra da Argélia, afirmou que Hollande não tem o direito de se pronunciar sobre alegadas culpas da França.
E o ex-primeiro-ministro Fraçois Fillon, segundo citação do diário alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung, interrogou-se retoricamente: "E o que é feito dos crimes que foram cometidos na Argélia após a independência, com os massacres contra os Harkis [soldados argelinos que serviram o exército francês], o que é feito dos arquivos argelinos, que nunca foram abertos?" E logo sugeriu: "Ou bem que tudo se revela à luz do dia, ou então o melhor é esquecer todo o assunto".
Papon: primeiro genocida anti-judeu, depois anti-árabe
Seja como for, os arquivos franceses ficarão abertos e permitirão conferir os cálculos dos historiadores - geralmente entre os 50 e os 200 mortos. Um dos mais conhecidos, da autoria do historiador francês Jean-Luc Einaudi, aponta para as duas centenas.
O balanço de Einaudi, que utilizava já o termo "massacre", deu na altura origem a um processo por difamação intentado por aquele que fora o prefeito da Polícia de Paris à data da manifestação: Maurice Papon. Este viria, por sua vez, a sentar-se depois no banco dos réus, não pela repressão de 17 de Outubro, mas pela sua colaboração com os nazis com vista a organizar a deportação de judeus para os campos de extermínio.
Papon viria a ser despojado de todas as suas condecorações e condenado a dez anos de prisão em 1998, por crimes contra a humanidade cometidos ao serviço do regime colaboracionista de Vichy. Mas acabou por cumprir apenas um ano de prisão, vindo a ser libertado por razões de saúde em 2000 e morrendo em 2002.
António Louçã, RTP 18 Out, 2012, 18:15 / atualizado em 18 Out, 2012, 18:30
DR
Fonte: RTP (Portugal)
http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=596337&tm=7&layout=121&visual=49
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